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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ – UESC

HISTÓRIA – LICENCIATURA – NOTURNO


FCH 343 – HISTORIA ECONÔMICA GERAL
PROF. JONAS BOAMORTE
2022.1
Leslie Madureira Sá1

ECONOMIA MUNDIAL NO PÓS-SEGUNDA GUERRA

Como já é de conhecimento geral, a Segunda Guerra Mundial teria seus eventos finais por
volta de setembro de 1945, com a assinatura da rendição japonesa após as bombas de Hiroshima e
Nagasaki e a invasão do Exército Vermelho na Manchúria dominada pelo exército nipônico. Os
anos que se sucederam ao término do conflito foram de reestruturação econômica global e de início
de uma nova era, com duas potências extremamente fortalecidas e ditando o ritmo da economia
global. Se iniciava a era polarizada entre o capitalismo voraz dos Estados Unidos da América e o
projeto socialista da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas.
O período supracitado, abrange grandes avanços em diversas áreas tecnológicas, mas,
principalmente, representa o forte avanço das ideologias capitalistas no mundo ocidental, no que,
para alguns estudiosos, foi considerado como a Era de Ouro do Capitalismo, com os Estados Unidos
fortalecidos e enriquecidos após lucrarem com o mercado da guerra. A Europa vivia um processo de
reestruturação econômica após anos de conflito e os EUA também colocaram suas práticas
imperialistas em países do oriente médio e leste asiático, como o próprio Japão, que viveu sob
supervisão estadunidense durante vários anos do pós-guerra.
Como chamou atenção Eric Hobsbawm, este período de expressiva expansão capitalista foi
um fenômeno mundial, apesar de se concentrar essencialmente nos países capitalistas
desenvolvidos. (HOBSBAWM; 1995) Em 1944, o resultado da II Guerra Mundial já assinalava
sinais da derrota dos países do eixo: Alemanha, Itália e Japão. A Guerra deixaria profundas
consequências para a economia dos países envolvidos diretamente no conflito, em especial para os
principais países capitalistas da Europa, que tiveram suas economias destroçadas. Alguns dados
sobre a produção econômica dão para certificar a queda de produtividade na medida em que
comparamos os anos 30 com a produção dos anos imediatos ao pós-guerra. A comparação
demonstra uma queda de mais de 60% da produção do setor agropecuário (cereais diminuíram em
70%, carne em 66% e os outros produtos agrícolas em 75%) (PADRÓS: 2000).
A quebra da produtividade agrícola se junta a industrialização, que neste ponto havia tido
sua orientação totalmente voltada para a economia de guerra. O deficit econômico que assola a
1 Bacharela em Comunicação Social pela Universidade Estadual de Santa Cruz – UESC; Licencianda em História
pela Universidade Estadual de Santa Cruz – UESC; e-mail: lmsa.hit@uesc.br
Europa se torna alarmante em todos os lados, com o aumento da dívida externa de vários países
envolvidos no conflito. Países poderosos passaram de uma nação credora para, agora, uma nação
devedora. A geopolítica global também seria afetada em maior ou menor escala, com um processo
de descolonização pungente, que removeu territórios de nações como França e Inglaterra. A década
de 70 se tornou uma das mais importantes neste sentido.
Nenhum território de tamanho significativo continuava sob administração
direta das ex-potências coloniais ou seus regimes de colonos, a não ser no
Centro e Sul da Ásia – e, claro, no Vietnã em guerra. A era imperial
acabara. (HOBSBAWM, 1995, p. 254).

Com o processo de descolonização, EUA e URSS assumiram os novos postos de comando


do globo, sendo o primeiro o responsável por promover conflitos em diversos países
subdesenvolvidos com a intenção de domínio e controle absoluto da produção de recursos nestes
locais. A chamada Doutrina Truman (1947), defendia a tese de que os EUA tinham o direito de
fornecer ajuda financeira e militar a qualquer nação com base no entendimento de que essa nação
estivesse sofrendo a pressão do comunismo internacional. Fato este que levou a guerras como a do
Vietnam, Coréia, Grécia e em diversos países do continente africano, bem como o financiamento de
ditaduras no Brasil, Argentina, Chile e em outros países da América Latina.
A política adotada pelos EUA para a economia internacional visava, entre outras coisas,
afastar o perigo de revoluções sociais que favorecessem a expansão do comunismo no mundo, pois
a situação de degradação social causada pela II Guerra Mundial favorecia o crescimento de
organizações de esquerda, como acontecia na França, Itália e Grécia, na Europa, e em outras
regiões, a política norte-americana procurava amenizar os movimentos de libertação nacionais que
se alastraram pelas antigas colônias europeias. Também, a política econômica internacional
americana do pós-guerra mundial foi dirigida para as formações sociais e econômicas em
desenvolvimento como Brasil, Argentina, Índia e outros.
A agressiva política de expansão internacional da sociedade estadunidense exportou o
modelo de produção em massa de Henry Ford, que perseguia o alargamento do consumo como
forma de permitir a contínua acumulação capitalista.
Bens e serviços antes restritos a minorias eram agora produzidos para o
mercado de massa. (...) O que era antes um luxo se tornou o padrão de
conforto desejado, pelo menos nos países ricos: a geladeira, a lavadora de
roupas automática, o telefone. Em 1971, havia mais de 270 milhões de
telefones no mundo, quer dizer, esmagadoramente na América do Norte e na
Europa Ocidental, (...). Em suma, era agora possível ao cidadão médio
desses países viverem como só os muitos ricos tinham vivido nos tempos de
seus pais – a não ser, claro, pela mecanização que substituíra os criados
pessoais (HOBSBAWM, 1995, p. 259).

Os EUA também realizaram uma política de recuperação econômica para alguns países
asiáticos, como foi o caso do Japão, que, a partir da década de 1950, registrou um crescimento
acelerado motivado pela política de reformas empreendidas pelo governo japonês e monitorado pelo
imperialismo dos Estados Unidos. As reformas impuseram a dissolução dos grandes trustes
(zaibatsu), que controlavam a economia japonesa e que impediam a entrada livre do capital
estrangeiro, melhor dizendo, americano.
Por outro lado, a URSS também apresentava ao mundo o seu modelo socialista em ampla
expansão. Com sua economia planificada (ou centralizada), o estado tinha o controle sobre todos os
setores de produção e ao contrário do que acontece na economia de mercado, a lei da oferta e da
procura não dita as leis do comércio, o governo toma as decisões. Assim, um produto que esteja em
falta não sofre com o aumento e, do mesmo modo, um produto que esteja acumulado não sofre
reduções. Assim, as lógicas e estratégias de mercado seguem a elaboração de planos. Esses planos,
que na União Soviética eram chamados de “planos quinquenais”, tinham a função de desvendar e
resolver os problemas e fragilidades da economia. Outro objetivo é conter o desemprego, através da
ampliação do setor produtivo. A URSS conseguiu fortes aliados também fora da Europa neste
processo, como a própria Cuba e, com um pouco mais de força, a China e a Coreia do Norte.
O modelo econômico da URSS, contudo, iniciou os anos 1980 em crise. Além das
dificuldades econômicas, o governo soviético sofreria tanto uma série de pressões internas, como
também externas. O último líder soviético, Mikhail Gorbatchev, assumiu o cargo de secretário-geral
do PCUS e tentou implantar políticas que recuperassem a URSS, como a perestroika (reconstrução
econômica) e a glasnost (transparência política).

Crise econômica durante os anos 70


O avanço capitalista e socialista, contudo, não foram tão uniformes ao longo dos anos.
Como citado anteriormente, a URSS acaba enfraquecendo economicamente no final dos 70 e início
dos anos 80, o que levaria a sua completa dissolução já no ano de 1991. Por outro lado, o
capitalismo também enfrentava problemas sérios, principalmente no que dizia respeito a produção
mundial de petróleo, com a “descoberta” do fato de que o recurso não é renovável. Havia, na época,
o pensamento de que em 70 anos, a partir dali, o recurso seria esgotado em todo o mundo.
Países do oriente médio membros da OPEP (Organização dos Países Exportadores de
Petróleo), principais produtores de petróleo do mundo, viveram períodos conflituosos e também
impuseram novas práticas ao mercado. As guerras de Yom Kippur, entre uma coalizão de países
árabes e o estado de Israel, expôs as rusgas vividas entre árabes e judeus, sendo Israel apoiado
fortemente pelos Estados Unidos, apoio este que não foi visto com bons olhos pelos países da OPEP
e também motivou a alta nos preços dos barris de petróleo como retaliação. Outros fatores, como a
revolução islâmica no Irã e a guerra vivida entre o Irã e o Iraque, também influenciaram para que o
preço do petróleo vivesse tempos de extrema instabilidade.
O período, aliás, coincide com o início e fim do chamado “milagre econômico” brasileiro,
que se encerra justamente com as diversas crises do petróleo ao redor do mundo. Em uma tentativa
da ditadura civil-militar de mitigar os danos destes períodos de recessão, o Brasil acabou utilizando
suas reservas cambiais e ainda aderiu a empréstimos internacionais que aumentaram a dívida externa
brasileira, transformando de “milagre” a “desastre” a economia do país.

Neoliberalismo e Globalização

A crise global que a economia vivencia nos anos 70 e o declínio do “Estado de bem-estar
social”, provocam grande rebuliço na cabeça dos economistas da época. O período, aliado ao fim da
URSS, se torna extremamente favorável para o crescimento do pensamento liberal, a partir de uma
reformulação dos seus ideais, consolidado no projeto neoliberal adotado por inúmeros países
ocidentais no final do século XX. Este projeto consiste em uma reação teórica e política contra o
Estado intervencionista, opondo-se fortemente a qualquer forma de planejamento da economia.
Condena toda ação do Estado que limite os mecanismos de mercado, denunciando-as como
ameaças à liberdade, não somente econômica, mas também política. Mais recentemente, nos anos
10 e 20 do século XXI, passou a representar também a figura do conservadorismo em diversas
esferas sociais, sendo ainda mais explícita no combate a liberdades individuais e defesa de “valores
cristãos”.
Em suma, o movimento neoliberal que surge e se fortalece no início dos anos 2000,
colocava a culpa das crises dos anos 70/80 no intervencionismo do Estado, evidenciado pela falta de
efetividade e no crescimento, além dos altos custos operacionais, do excesso de endividamento
público e da incapacidade de se adequar ao processo de globalização em curso, que teria reduzido a
autonomia e a capacidade dos estados nacionais para gerirem suas próprias políticas econômicas e
sociais. O Brasil viveu o auge do neoliberalismo durante o desastroso governo de Fernando Collor
de Melo e, posteriormente, em uma fase mais branda com Fernando Henrique Cardoso. As
consequências geradas pelo projeto neoliberal, porém, foram devastadoras e levaram anos para
serem mitigadas. A economia seguia instável, os salários baixos, a desigualdade e a fome chegaram
a níveis absurdos, que só voltaram a se repetir no Brasil após a vitória de um novo projeto
neoliberal, encabeçado pelo governo em vigência de Jair Bolsonaro. O país passou a viver de uma
extrema dependência do capital externo, sendo incapaz de se conduzir com as próprias forças e se
tornando absolutamente marionete do mercado.
O processo de globalização, vivido durante a transição dos séculos, permitiu que o
intercâmbio cultural se tornasse o grande foco da sociedade por muito tempo, sendo incentivado e
financiando pelas grandes multinacionais, que visavam maior aceitação social ao se instalar em
países subdesenvolvidos. O processo, que para alguns pode ser visto como uma vitória da
integração social, também provocou o apagamento de culturas locais, que só retomaram ao foco
através do processo compreendido como “glocalização”, com o termo “glocal” sendo o aglutinado
entre “global” e “local” (CASTELLS, 2003).
A palavra é introduzida por economistas japoneses na década de 1980 e surge num
contexto de adaptação mercadológica (FRANCO, 2008), como resposta à crescente necessidade de
customização da produção face às exigências econômicas, sociais e culturais do âmbito local. Seu
intuito mercadológico consistia e consiste em oferecer aos clientes produtos multinacionais que
atendam às necessidades específicas de cada localidade.
Ao passo que o processo de mundialização cultural é questionável em muitos aspectos e
ainda apresenta lacunas em sua teoria, a globalização econômica, ou seja, a transnacionalização da
produção e distribuição de bens matérias é algo inegável, embora não seja possível observar uma
integração homogênea entre todas as áreas do globo. Apesar de tudo, ainda buscamos tentar
compreender as diferentes relações estabelecidas entre as regiões específicas (o local) e entender a
maneira como o fluxo informacional percorre essas regiões, integrando-as e lhes oferecendo as
interpretações de mundo referentes tanto aos acontecimentos locais quanto aos globais

REFERENCIAS
CASTELLS, Manuel. A Sociedade em Rede (volume 1). Trad. Roneide Venancio Majer. 7.ed. São
Paulo: Paz e Terra, 2003.
FRANCO, Augusto de. Glocalização: Planeta e Comunidade. CONTEXTO 3/ Augusto de Franco.
Disponível em: < http://contexto3.blogspot.com/2008/05/11-glocalizaoplaneta-e-comunidade.html
>. Acesso em 02 jul. 2022.
HOBSBAWM. Eric J. A era dos extremos: o breve século XX – 1914/1991. São Paulo: Ed.
Companhia das Letras, 1995.
PADRÓS, Enrique Serra. Capitalismo, prosperidade e Estado de bemestar social. In. O século XX:
o tempo das crises – revoluções, fascismos e guerras. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira,
2000. p. 227-266.

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