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DIDIER + AULA 14/03/2019

PEDIDOS
ATENÇÃO: os princípios aplicados à petição inicial são aplicáveis a todos os atos postulatórios.
Núcleo da petição inicial – pretensão, providência que se pede ao Judiciário, consequência
jurídica que se pretende ver realizada pela atividade jurisdicional. É o motivo da discórdia que
o juiz vai desfazer.
O pedido delimita a prestação jurisdicional – a providência tomada pelo Judiciário não pode
ser extra, ultra nem infra/citra petita (arts. 141 e 492) –; identifica a demanda (permite
verificar se há litispendência, coisa julgada ou conexão); é parâmetro de fixação do valor da
causa (art. 292).
Pedido imediato = providência judiciária desejada: expedição de ordem, condenação etc.
Sempre determinado.
Pedido mediato = bem, resultado prático que se espera conseguir com a providência
judiciária. Pode ser relativamente indeterminado – pedido genérico (art. 324, §1º e incisos).
REQUISITOS
O pedido deve ser:
- Certo = pedido expresso. Não se admite pedido obscuro, dúbio, vago, substituído por
expressões como “condenar o réu no que couber” ou “no que reputar justo”.
Art. 322. O pedido deve ser certo.
§ 1o Compreendem-se no principal os juros legais, a correção monetária e as verbas de
sucumbência, inclusive os honorários advocatícios.
§ 2o A interpretação do pedido considerará o conjunto da postulação e observará o princípio
da boa-fé.
A regra do parágrafo acima é importante porque, no CPC 73, o princípio hermenêutico era o da
interpretação restritiva. No CPC 2015 essa não é mais a regra hermenêutica, é a de que o
pedido deve ser interpretado pelo conjunto da postulação e pela boa-fé.
Ex.: se o pedido é formulado no bojo da petição inicial, mas não diretamente no capítulo dos
pedidos – é possível concluir que o pedido foi formulado de forma expresso.
O §2º não mitiga a exigência do caput, o pedido continua tendo que ser formulado de forma
expressa, ele só diz que o pedido vai ser interpretado conforme o conjunto da postulação, se
sobrepõe ao formalismo da expressão do caput. Mas atenção: o pedido não pode ser inferido,
implícito, ele tem que estar expresso em algum lugar da petição. As exceções são as previstas
expressamente na lei - §1º aponta a autorização pra pedido implícito.
Na aula:
Art. 323. Na ação que tiver por objeto cumprimento de obrigação em prestações sucessivas,
essas serão consideradas incluídas no pedido, independentemente de declaração expressa
do autor, e serão incluídas na condenação, enquanto durar a obrigação, se o devedor, no
curso do processo, deixar de pagá-las ou de consigná-las.
São incluídas as prestações vencidas e vincendas, independentemente de pedido expresso.
- Determinado = delimitado em relação à qualidade e à quantidade.
Art. 324. O pedido deve ser determinado.
§ 1o É lícito, porém, formular pedido genérico:
I - nas ações universais, se o autor não puder individuar os bens demandados;
II - quando não for possível determinar, desde logo, as consequências do ato ou do fato;
III - quando a determinação do objeto ou do valor da condenação depender de ato que deva
ser praticado pelo réu.
§ 2o O disposto neste artigo aplica-se à reconvenção.
Admite exceções previstas em lei – como o §1º - para a determinação do pedido => pedido
genérico admitido por lei.
Se o pedido for de questão pecuniária, o que deve ser determinado é o valor, se for de
obrigação de fazer, deve determinar o fazer/não fazer, se for de indenização por dano moral, a
parte deve determinar o valor.
Sobre o §2º: porque a reconvenção é o “pedido do réu”.
- Claro = se não tiver clareza enseja inépcia da petição inicial.
Art. 330, § 1o Considera-se inepta a petição inicial quando:
II - o pedido for indeterminado, ressalvadas as hipóteses legais em que se permite o pedido
genérico;
- Coerente = deve ser consequência jurídica prevista pra causa de pedir aduzida, também sob
pena de inépcia da petição inicial.
Art. 330, § 1o Considera-se inepta a petição inicial quando:
IV - contiver pedidos incompatíveis entre si.
ATENÇÃO: na falta de algum requisito, o magistrado deve determinar a emenda da petição
inicial antes de partir pro indeferimento.
Os requisitos do pedido são os mesmos da sentença – a petição inicial é um projeto de
sentença.
ESPÉCIES DE PEDIDOS
1. PEDIDO GENÉRICO
Lembrando que o pedido, de modo geral, tem que ser determinado, sob risco de tornar a
petição inepta. No entanto, a lei permite que em alguns casos sejam feitos pedidos genéricos.
O pedido pode ser determinado quanto ao gênero e indeterminado quanto à
quantidade/qualidade das coisas pleiteadas – pedido relativamente indeterminado.
Art. 324, § 1o É lícito, porém, formular pedido genérico:
I - nas ações universais, se o autor não puder individuar os bens demandados;
Ações universais = quando a pretensão recai sobra uma universalidade de fato ou de direito
(arts. 90 e 91 CC). Ex.: petição de herança, inventário – se tem uma massa de bens e não tem
condições ainda de individuar o pedido porque ainda não houve a partilha dos bens.
Se até a sentença não for possível individuar, ela vai ser uma sentença genérica e deve ser
liquidada.
Não dá pra ter pedido determinado e sentença genérica => Princípio da Congruência.
Art. 90. Constitui universalidade de fato a pluralidade de bens singulares que, pertinentes à
mesma pessoa, tenham destinação unitária.
Parágrafo único. Os bens que formam essa universalidade podem ser objeto de relações
jurídicas próprias.
Art. 91. Constitui universalidade de direito o complexo de relações jurídicas, de uma pessoa,
dotadas de valor econômico.
II - quando não for possível determinar, desde logo, as consequências do ato ou do fato;
Caso de ações indenizatórias. É o mais frequente de pedidos genéricos. Quando os danos não
são determináveis de imediato – se a lesão se agrava no futuro, gera perda estética, perda de
função motora, a pessoa sofre bullying por causa disso etc.
A formulação do pedido genérico é importante por economizar a postulação de nova ação,
após a sentença genérica, pra especificar o pedido (isso é necessário se o autor não formular o
pedido genérico). Só vai precisar pedir a liquidação da sentença, provar a relação do fato que
gerou o problema e obter a providência.
*Lembrar que a indenização pode decorrer de atos lícitos e ilícitos.
ATENÇÃO: embora não precise quantificar, o autor tem que especificar o prejuízo sofrido,
descrevendo a lesão suportada pela vítima, sem se resumir em expressões como “perdas e
danos” e “lucros cessantes”.
Pedido genérico nas ações de reparação de dano moral: o autor deve ou não quantificar o
valor da indenização na petição inicial? => DEVE, pois só o autor, vítima do dano moral, tem a
noção necessária pra transformar a dor moral alegada em um valor. O autor pode pedir que o
magistrado determine o valor da indenização, mas nesse caso não pode recorrer da decisão,
mesmo que fixe a reparação em 1 real.
III - quando a determinação do objeto ou do valor da condenação depender de ato que deva
ser praticado pelo réu.
Ação de prestação de contas cumulada com o pagamento do saldo devedor. Se o réu precisa
prestar contas e eu não sei ainda quanto ele me deve – o réu tem que prestar contas pra que
eu possa individuar o pedido.
2. PEDIDO ALTERNATIVO
Art. 325. O pedido será alternativo quando, pela natureza da obrigação, o devedor puder
cumprir a prestação de mais de um modo.
O caráter instrumental do processo é tão forte que se o autor fizer pedido determinado, o juiz
manda citar o réu pra se defender – contestar – e pra determinar o seu pedido alternativo,
desconsiderando o pedido determinado do autor.
Parágrafo único. Quando, pela lei ou pelo contrato, a escolha couber ao devedor, o juiz lhe
assegurará o direito de cumprir a prestação de um ou de outro modo, ainda que o autor não
tenha formulado pedido alternativo.
Lembrar o conceito de obrigação alternativa => pode ser adimplida de mais de um modo, e a
escolha pode ser feita ora pelo devedor, ora pelo credor.
Aqui se fala de um tipo de pedido que quem tem que determinar é o réu, o autor não pode
determinar, falamos de quando o devedor for réu.
Pedido alternativo = veicula pretensão oriunda de obrigação alternativa, facultativa/com
faculdade de substituição.
Reclama prestações disjuntivas, é um pedido classificado a partir de uma relação de direito
substancial que permite a satisfação do direito por prestações autônomas e excludentes.
ATENÇÃO: não é cumulação de pedidos. Só um pedido é feito, a forma de satisfação desse
pedido é que é disjuntiva.
Se a escolha da prestação couber ao autor, não há pedido alternativo, pois ele faz sua escolha
ao formular o pedido. Ele pode deixar pra escolher na fase de execução, formulando pedido
alternativo.
3. PEDIDO RELATIVO A OBRIGAÇÃO INDIVISÍVEL AULA 15/03/2019
Art. 328. Na obrigação indivisível com pluralidade de credores, aquele que não participou do
processo receberá sua parte, deduzidas as despesas na proporção de seu crédito.
Caso de litisconsórcio facultativo, unitário, uma obrigação indivisível.
Quando um dos credores de uma obrigação indivisível pleiteia em juízo sua satisfação.
Obrigação indivisível = o objeto da prestação é uma coisa/fato que não pode ser dividido
devido à natureza, a motivos de ordem econômica ou dada a razão determinante do negócio
jurídico. Obrigações em que a prestação só pode ser cumprida por inteiro.
A pluralidade de credores de obrigação indivisível recebe o mesmo tratamento da
solidariedade ativa – arts. 264, 265, 260.
Se apenas um dos credores receber a prestação toda, os outros têm o direito de exigir dele em
dinheiro a parte que lhes cabe no total – art. 261.
“Deduzidas as despesas na proporção de seu crédito” – o credor deve arcar com as despesas
processuais da cobrança do crédito, inclusive honorários advocatícios.
CUMULAÇÃO DE PEDIDOS
Cumulação de pedidos = cumulação de ações (em uma única peça processual). Essa cumulação
de ações dentro do mesmo processo é o mais comum, é a regra. Ex.: indenização por danos
materiais cumulada com danos morais.
Art. 327. É lícita a cumulação, em um único processo, contra o mesmo réu, de vários
pedidos, ainda que entre eles não haja conexão.
*Larga flexibilidade oferecida pelo CPC – “ainda que não haja conexão entre os pedidos”.
§ 1o São requisitos de admissibilidade da cumulação que:
I - os pedidos sejam compatíveis entre si;
Não pode haver incompatibilidade entre os pedidos, eles não podem se auto excluir.
Naturalmente, esse requisito pode ser mitigado, por uma forma de cumulação de pedidos, a
alternativa (um pedido exclui o outro na escolha) ou a subsidiária (art. 326).
II - seja competente para conhecer deles o mesmo juízo;
III - seja adequado para todos os pedidos o tipo de procedimento.
Grande inovação do CPC 2015 em relação a cumulação de pedidos. Radicaliza a
instrumentalidade do processo – houve uma ordinarização dos procedimentos especiais e uma
especialização dos procedimentos comuns.
§ 2o Quando, para cada pedido, corresponder tipo diverso de procedimento, será admitida a
cumulação se o autor empregar o procedimento comum, sem prejuízo do emprego das
técnicas processuais diferenciadas previstas nos procedimentos especiais a que se sujeitam
um ou mais pedidos cumulados, que não forem incompatíveis com as disposições sobre o
procedimento comum.
§ 3o O inciso I do § 1o não se aplica às cumulações de pedidos de que trata o art. 326.
CUMULAÇÃO PRÓPRIA
Cumulação própria de pedidos => quando o objeto do processo é composto: vários pedidos
são formulados e a pretensão é pelo acolhimento de todos simultaneamente. Decisão judicial
a ser proferida em capítulos. Os pedidos se somam.
1. Simples
As pretensões não têm relação de precedência lógica (pedido prejudicial ou preliminar) entre
si – podem ser analisadas independentemente umas das outras.
Os pedidos são autônomos – podem ser acolhidos total ou parcialmente, ou rejeitados, sem
afetar o resultado do julgamento do outro.
Não é necessário exame prévio de um dos pedidos.
2. Sucessiva
Os pedidos têm alguma ligação de precedência lógica => o acolhimento de um pressupõe o do
anterior.
Diferente da cumulação imprópria, o segundo pedido só será apreciado se o primeiro for
acolhido.
Essa dependência pode ocorrer de 2 formas: o primeiro pedido é prejudicial ao segundo, pois
o não acolhimento do primeiro implica a rejeição (e julgamento) do segundo, ou o primeiro
pedido é preliminar ao segundo, pois o não acolhimento do primeiro indica impossibilidade de
exame do segundo (não há julgamento).
CUMULAÇÃO IMPRÓPRIA
Art. 326. É lícito formular mais de um pedido em ordem subsidiária, a fim de que o juiz
conheça do posterior, quando não acolher o anterior.
Parágrafo único. É lícito formular mais de um pedido, alternativamente, para que o juiz
acolha um deles.
Cumulação imprópria de pedidos => quando vários pedidos são formulados, mas a pretensão
é de que apenas um seja atendido. O acolhimento de um implica a impossibilidade do
acolhimento do outro.
1. Eventual/Subsidiária
Art. 326. É lícito formular mais de um pedido em ordem subsidiária, a fim de que o juiz
conheça do posterior, quando não acolher o anterior.
Importa a ordem de colocação dos pedidos (exemplo do crush na balada).
Aplicação da regra da eventualidade – a formulação das pretensões e exceções deve ser feita
no momento específico da postulação.
O demandante estabelece uma ordem de preferência entre os pedidos formulados e o
segundo pedido só será analisado se o primeiro for rejeitado/não puder ser analisado e assim
por diante com os demais pedidos.
O juiz está vinculado à ordem de apresentação dos pedidos – só pode analisar um quando
terminar de analisar e rejeitar os anteriores. Até quando houver reconhecimento pelo réu da
procedência do pedido subsidiário.
Didier: se possível, o correto é fazer os pedidos de forma subsidiária/eventual.
ATENÇÃO: uma vez que os pedidos jamais serão acolhidos simultaneamente, não se aplica
aqui o requisito da compatibilidade dos pedidos formulados.
Caso prático: o autor faz o pedido principal de cumprimento de obrigação de fazer e,
subsidiariamente, o pagamento de indenização. A juíza colocou na sentença que não cabia o
cumprimento da obrigação de fazer e determinou a indenização. O autor pode recorrer
devido ao seu pedido ter sido julgado improcedente?
Resposta: por muito tempo se entendeu que não se podia recorrer dessa decisão, salvo se
tivesse sido desobedecida a ordem. A doutrina mais recente tem entendido que há interesse
recursal pro autor recorrer da decisão que rejeitou o pedido principal, mesmo que tenha sido
julgado procedente o pedido subsidiário, pra demonstrar que os motivos usados pra
justificar a rejeição do principal estão errados.
2. Alternativa
Parágrafo único. É lícito formular mais de um pedido, alternativamente, para que o juiz
acolha um deles.
Formula-se 2 pedidos, um ou outro, tanto faz a ordem.
Não tem no Código, é doutrina/jurisprudência.

ALTERAÇÃO E ADITAMENTO DO PEDIDO


Art. 329. O autor poderá:
I - até a citação, aditar ou alterar o pedido ou a causa de pedir, independentemente de
consentimento do réu;
II - até o saneamento do processo, aditar ou alterar o pedido e a causa de pedir, com
consentimento do réu, assegurado o contraditório mediante a possibilidade de manifestação
deste no prazo mínimo de 15 (quinze) dias, facultado o requerimento de prova suplementar.
Parágrafo único. Aplica-se o disposto neste artigo à reconvenção e à respectiva causa de
pedir.
O réu será intimado pra se manifestar sobre a mudança do pedido – “assegurando o
contraditório”. Além de consentir, o réu tem que ter a oportunidade de se defender.
Consentindo, abre-se o contraditório pra o réu se defender sobre a alteração do pedido.
Depois do saneamento, não dá mais pra mudar o pedido.
DIDIER + AULA 22/03/2019
IMPROCEDÊNCIA LIMINAR DO PEDIDO
Art. 332. Nas causas que dispensem a fase instrutória, o juiz, independentemente da citação
do réu, julgará liminarmente improcedente o pedido que contrariar:
I - enunciado de súmula do Supremo Tribunal Federal ou do Superior Tribunal de Justiça;
II - acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça em
julgamento de recursos repetitivos;
III - entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou de
assunção de competência;
IV - enunciado de súmula de tribunal de justiça sobre direito local.
§ 1o O juiz também poderá julgar liminarmente improcedente o pedido se verificar, desde
logo, a ocorrência de decadência ou de prescrição.
§ 2o Não interposta a apelação, o réu será intimado do trânsito em julgado da sentença, nos
termos do art. 241.
§ 3o Interposta a apelação, o juiz poderá retratar-se em 5 (cinco) dias.
§ 4o Se houver retratação, o juiz determinará o prosseguimento do processo, com a citação
do réu (pra contestar), e, se não houver retratação, determinará a citação do réu para
apresentar contrarrazões, no prazo de 15 (quinze) dias.
O art. 332 acima trata da chamada eficácia impeditiva dos precedentes obrigatórios
(vinculantes).
Requisito => causas que dispensem a fase instrutória (não há necessidade de produção de
provas). Cumulativamente tem-se a desnecessidade de produção de provas e precedentes
obrigatórios.
Improcedência liminar do pedido = decisão jurisdicional que julga o pedido do demandante
como improcedente antes da citação do demandado (o dispositivo também se aplica à
reconvenção). É uma decisão de mérito, definitiva, apta à coisa julgada e a ação rescisória.
ATENÇÃO: de modo procedimental, é muito parecido com indeferimento da petição inicial; de
modo conteudista, é muito diferente. No art. 330 tem juízo de admissibilidade negativo; no
art. 332 tem juízo de mérito negativo. O juiz admite a petição inicial – porque tem todos os
seus pressupostos/requisitos –, mas no mérito entende improcedente o pedido, sem nem
citar o demandado.
Serve pra acelerar o processo – ao identificar a improcedência, o legislador cancela a citação
do demandado, autorizando um julgamento favorável a ele.
Permite ao órgão jurisdicional decidir a causa sem observar a ordem cronológica de conclusão.
Pressupostos:
1. A causa deve dispensar a fase instrutória = quando a matéria fática da causa pode ser
comprovada por prova documental.
Ou seja, a improcedência liminar do pedido é um caso especial de julgamento antecipado do
mérito (art. 355, I), autorizado antes da citação do réu, se a conclusão é pela improcedência.
Antecipa ainda mais o julgamento porque dispensa a fase instrutória e a própria ouvida do réu.
2. O pedido deve se encaixar em uma das hipóteses do art. 332, §1º ou dos incisos I a IV.
A ILP pode ser aplicada a qualquer processo – tanto os de competência originária de juiz de
primeira instância quanto os de tribunal.
- Quando a improcedência liminar do pedido, ensejando extinção do processo, é dada por juízo
singular => sentença. Impugnável por apelação, permite a retratação do juiz.
- Quando ocorre improcedência liminar parcial (um/alguns dos pedidos cumulados são
julgados liminarmente improcedentes) no juízo singular => decisão interlocutória, visto que
não se extingue o processo, pois ainda serão examinados os demais pedidos. Impugnável por
agravo de instrumento (art. 1015,II), tal qual a improcedência liminar da reconvenção, que
também é uma decisão parcial.
- Quando a improcedência é dada por tribunal => decisão do relator (agravo interno) ou
acórdão (recurso especial/extraordinário/ordinário constitucional/embargos de divergência).
Não parece ser possível que nas contrarrazões o demandado possa alegar incompetência
relativa. 1) O reconhecimento da incompetência relativa não implica invalidação de ato
decisório: não adiantaria alegar a incompetência relativa, neste momento, tendo em vista que
a instância já se encerrou, com a prolação de uma decisão que não poderá ser invalidada por
esse motivo. 2) Não há interesse do réu, que não pode alegar incompetência relativa de juízo
que já sentenciou a seu favor.
ATENÇÃO: no caso de a apelação do demandante incorrer em error in procedendo do juiz, se
acolhida, a sentença será dada por inválida; o processo seguirá normalmente e o demandado
vai poder oferecer resposta ampla, inclusive alegar incompetência relativa. Se for error in
iudicando (sentença válida, tese jurídica equivocada), o tribunal pode reformar a decisão, não
poderia alegar a IR.
Trânsito em julgado da decisão de improcedência liminar do pedido – o réu é informado do
resultado do julgamento, até pra ficar ciente da decisão que lhe favorece e está acobertada
pela coisa julgada:
Art. 332, § 2o Não interposta a apelação, o réu será intimado do trânsito em julgado da
sentença, nos termos do art. 241.
*Como a sentença aqui é de mérito, é quase certeza se ter apelação do autor – no caso do
indeferimento da inicial, é mais prático/econômico aceitar a sentença, corrigir o vício e propor
nova ação do que recorrer.
HIPÓTESES EXPRESSAS DE ILP
1. Pedido contrário a precedente obrigatório
O CPC preza pelo respeito aos precedentes judiciais – segurança jurídica, igualdade, duração
razoável do processo. O art. 332 autoriza o julgamento liminar de improcedência pra casos em
que o pedido contraria certos precedentes judiciais.
Nesses casos, o juiz, observando o sistema de precedentes, pode deixar de aplicar algum deles
se for o caso de superá-lo (overruling) ou distinguir a situação a ser julgada (distinguishing), de
ofício ou pela retratação.
Análise em consonância com o art. 927 – precedentes a cargo dos órgãos jurisdicionais:
Art. 927. Os juízes e os tribunais observarão:
I - as decisões do Supremo Tribunal Federal em controle concentrado de constitucionalidade;
II - os enunciados de súmula vinculante;
III - os acórdãos em incidente de assunção de competência ou de resolução de demandas
repetitivas e em julgamento de recursos extraordinário e especial repetitivos;
Está em sintonia com o 332, II e III.
IV - os enunciados das súmulas do Supremo Tribunal Federal em matéria constitucional e do
Superior Tribunal de Justiça em matéria infraconstitucional;
ATENÇÃO: observar o art. 332, I e perceber que, em interpretação conjunta do Código, só é
permitida a improcedência liminar do pedido que contrariar súmula do STF em matéria
constitucional e do STJ em matéria infraconstitucional (legislação federal).
V - a orientação do plenário ou do órgão especial aos quais estiverem vinculados.
Sobre o inciso IV do art. 332 => entendimento jurisprudencial não mencionado no 927.
2. Reconhecimento de prescrição ou decadência
Art. 332, § 1o O juiz também poderá julgar liminarmente improcedente o pedido se verificar,
desde logo, a ocorrência de decadência ou de prescrição.
O juiz reconhece ex officio a decadência/prescrição – o réu ainda não foi citado!
Decadência => o órgão jurisdicional só pode reconhecer de ofício a decadência legal, a
convencional depende de provocação da parte interessada (arts. 210 e 211 CC).
Prescrição => pela regra atual, o juiz pode, aparentemente, reconhecer de ofício qualquer
prescrição.
- Contradição com o art. 191 CC (permite a renúncia da prescrição, expressa ou tacitamente)
=> conflito entre a vontade da parte e a ação do juiz. O fato de o juiz poder reconhecer a
prescrição de ofício não a torna direito indisponível.
Não é porque o juiz pode conhecer de ofício que a prescrição se torna direito (contradireito,
exceção substancial) indisponível. Também por tudo isso, ainda vige, plenamente, a regra que
veda o pedido de repetição do que se pagou para solver dívida prescrita (art. 882 do Código
Civil).
Admite-se, portanto, o pagamento de dívida prescrita. "Permanece íntegro o desenho material
da prescrição". Note que o Código Civil permitia o conhecimento de ofício da prescrição que
favorecesse absolutamente incapaz, exatamente pela indisponibilidade, que decorre da
incapacidade de renunciar. A relevância da tutela aos incapazes sobrepuja o princípio da
disponibilidade das vantagens da prescrição. Mesmo porque o representante não tem
disponibilidade sobre os direitos do representado.
EU: nessa lógica, só seria admissível o reconhecimento de ofício da prescrição pra direitos
indisponíveis, porque não surgiria esse conflito de a pessoa querer renunciar à prescrição e o
juiz reconhece-la assim mesmo.
É lícito concluir: o "sistema do Código Civil está todo comprometido com a livre disponibilidade
da prescrição consumada. ( ... ) A estrutura jurídica do sistema é, inquestionavelmente, a de
uma exceção de direito material, quer se mantenha ou não a disposição do art. 194 da lei
substancial". A possibilidade de conhecimento ex officio de qualquer prescrição somente seria
aceitável se o sistema das obrigações no direito privado também fosse alterado, o que não
aconteceu.
- Reconhecimento de ofício da prescrição em desfavor do
consumidor/trabalhador/idoso/índio (grupos cuja vulnerabilidade é reconhecida e
constitucionalmente tutelada pelo Estado => o Estado, enquanto protetor desses grupos, não
poderia – constitucionalmente – reconhecer uma prescrição de ofício pra prejudica-los, sem
alegação da parte adversária.
- Direitos disponíveis => não pode ser reconhecida prescrição de ofício, porque a pessoa pode
renunciar – art. 191 CC – à prescrição e se o juiz a reconhecesse haveria indevida e
inconstitucional invasão da autonomia privada.
ATENÇÃO: a possibilidade de reconhecimento ex officio da prescrição é uma opção legislativa,
não uma exigência teórica. O problema está na prescrição civil, dado seu regime jurídico.
Didier: Entendemos que a regra decorrente do §1º do art. 332 e do inciso II do art. 487, CPC,
deve ser aplicada apenas para o reconhecimento de prescrição envolvendo direitos
indisponíveis, em nenhuma hipótese em sentido desfavorável àqueles sujeitos protegidos
constitucionalmente (consumidor, índio, idoso e trabalhador).
Pra quem admitir que esse reconhecimento se aplica a direitos disponíveis, atenção: só pode
ser feito até a ouvida do réu; depois disso, o juiz tem que esperar ser provocado, visto que é
um direito do réu.
HIPÓTESE ATÍPICA DE IMPROCEDÊNCIA LIMINAR DO PEDIDO
Não está prevista no art. 332.
O juiz pode, antes de citar o réu, julgar liminarmente improcedente pedido, em situações
atípicas, consideradas de manifesta improcedência?
Ex.: demanda pelo reconhecimento de usucapião de bem público; pedir permissão pra matar
alguém; determinar que o Brasil declare guerra aos EUA.
O CPC atual não permite que o juiz rejeite liminarmente esse tipo de demanda (na verdade,
não dispõe sobre), ele teria que mandar citar o réu e, no julgamento antecipado (art. 355),
resolver o mérito da causa.
Didier: recomenda a construção dessa possibilidade a partir dos princípios da eficiência (art.
8º), boa-fé (art. 5º) e duração razoável do processo (art. 5º, LXXVIII CF e art. 4º) => não
aumentar o custo do processo, o autor ter que pagar ao advogado do réu os honorários
advocatícios, combate às demandas abusivas, não tem por que prolongar injustificadamente o
tempo do processo. Defende que o juiz possa julgar liminarmente improcedente o pedido em
situações atípicas de manifesta improcedência.

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