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PEDIDOS
ATENÇÃO: os princípios aplicados à petição inicial são aplicáveis a todos os atos postulatórios.
Núcleo da petição inicial – pretensão, providência que se pede ao Judiciário, consequência
jurídica que se pretende ver realizada pela atividade jurisdicional. É o motivo da discórdia que
o juiz vai desfazer.
O pedido delimita a prestação jurisdicional – a providência tomada pelo Judiciário não pode
ser extra, ultra nem infra/citra petita (arts. 141 e 492) –; identifica a demanda (permite
verificar se há litispendência, coisa julgada ou conexão); é parâmetro de fixação do valor da
causa (art. 292).
Pedido imediato = providência judiciária desejada: expedição de ordem, condenação etc.
Sempre determinado.
Pedido mediato = bem, resultado prático que se espera conseguir com a providência
judiciária. Pode ser relativamente indeterminado – pedido genérico (art. 324, §1º e incisos).
REQUISITOS
O pedido deve ser:
- Certo = pedido expresso. Não se admite pedido obscuro, dúbio, vago, substituído por
expressões como “condenar o réu no que couber” ou “no que reputar justo”.
Art. 322. O pedido deve ser certo.
§ 1o Compreendem-se no principal os juros legais, a correção monetária e as verbas de
sucumbência, inclusive os honorários advocatícios.
§ 2o A interpretação do pedido considerará o conjunto da postulação e observará o princípio
da boa-fé.
A regra do parágrafo acima é importante porque, no CPC 73, o princípio hermenêutico era o da
interpretação restritiva. No CPC 2015 essa não é mais a regra hermenêutica, é a de que o
pedido deve ser interpretado pelo conjunto da postulação e pela boa-fé.
Ex.: se o pedido é formulado no bojo da petição inicial, mas não diretamente no capítulo dos
pedidos – é possível concluir que o pedido foi formulado de forma expresso.
O §2º não mitiga a exigência do caput, o pedido continua tendo que ser formulado de forma
expressa, ele só diz que o pedido vai ser interpretado conforme o conjunto da postulação, se
sobrepõe ao formalismo da expressão do caput. Mas atenção: o pedido não pode ser inferido,
implícito, ele tem que estar expresso em algum lugar da petição. As exceções são as previstas
expressamente na lei - §1º aponta a autorização pra pedido implícito.
Na aula:
Art. 323. Na ação que tiver por objeto cumprimento de obrigação em prestações sucessivas,
essas serão consideradas incluídas no pedido, independentemente de declaração expressa
do autor, e serão incluídas na condenação, enquanto durar a obrigação, se o devedor, no
curso do processo, deixar de pagá-las ou de consigná-las.
São incluídas as prestações vencidas e vincendas, independentemente de pedido expresso.
- Determinado = delimitado em relação à qualidade e à quantidade.
Art. 324. O pedido deve ser determinado.
§ 1o É lícito, porém, formular pedido genérico:
I - nas ações universais, se o autor não puder individuar os bens demandados;
II - quando não for possível determinar, desde logo, as consequências do ato ou do fato;
III - quando a determinação do objeto ou do valor da condenação depender de ato que deva
ser praticado pelo réu.
§ 2o O disposto neste artigo aplica-se à reconvenção.
Admite exceções previstas em lei – como o §1º - para a determinação do pedido => pedido
genérico admitido por lei.
Se o pedido for de questão pecuniária, o que deve ser determinado é o valor, se for de
obrigação de fazer, deve determinar o fazer/não fazer, se for de indenização por dano moral, a
parte deve determinar o valor.
Sobre o §2º: porque a reconvenção é o “pedido do réu”.
- Claro = se não tiver clareza enseja inépcia da petição inicial.
Art. 330, § 1o Considera-se inepta a petição inicial quando:
II - o pedido for indeterminado, ressalvadas as hipóteses legais em que se permite o pedido
genérico;
- Coerente = deve ser consequência jurídica prevista pra causa de pedir aduzida, também sob
pena de inépcia da petição inicial.
Art. 330, § 1o Considera-se inepta a petição inicial quando:
IV - contiver pedidos incompatíveis entre si.
ATENÇÃO: na falta de algum requisito, o magistrado deve determinar a emenda da petição
inicial antes de partir pro indeferimento.
Os requisitos do pedido são os mesmos da sentença – a petição inicial é um projeto de
sentença.
ESPÉCIES DE PEDIDOS
1. PEDIDO GENÉRICO
Lembrando que o pedido, de modo geral, tem que ser determinado, sob risco de tornar a
petição inepta. No entanto, a lei permite que em alguns casos sejam feitos pedidos genéricos.
O pedido pode ser determinado quanto ao gênero e indeterminado quanto à
quantidade/qualidade das coisas pleiteadas – pedido relativamente indeterminado.
Art. 324, § 1o É lícito, porém, formular pedido genérico:
I - nas ações universais, se o autor não puder individuar os bens demandados;
Ações universais = quando a pretensão recai sobra uma universalidade de fato ou de direito
(arts. 90 e 91 CC). Ex.: petição de herança, inventário – se tem uma massa de bens e não tem
condições ainda de individuar o pedido porque ainda não houve a partilha dos bens.
Se até a sentença não for possível individuar, ela vai ser uma sentença genérica e deve ser
liquidada.
Não dá pra ter pedido determinado e sentença genérica => Princípio da Congruência.
Art. 90. Constitui universalidade de fato a pluralidade de bens singulares que, pertinentes à
mesma pessoa, tenham destinação unitária.
Parágrafo único. Os bens que formam essa universalidade podem ser objeto de relações
jurídicas próprias.
Art. 91. Constitui universalidade de direito o complexo de relações jurídicas, de uma pessoa,
dotadas de valor econômico.
II - quando não for possível determinar, desde logo, as consequências do ato ou do fato;
Caso de ações indenizatórias. É o mais frequente de pedidos genéricos. Quando os danos não
são determináveis de imediato – se a lesão se agrava no futuro, gera perda estética, perda de
função motora, a pessoa sofre bullying por causa disso etc.
A formulação do pedido genérico é importante por economizar a postulação de nova ação,
após a sentença genérica, pra especificar o pedido (isso é necessário se o autor não formular o
pedido genérico). Só vai precisar pedir a liquidação da sentença, provar a relação do fato que
gerou o problema e obter a providência.
*Lembrar que a indenização pode decorrer de atos lícitos e ilícitos.
ATENÇÃO: embora não precise quantificar, o autor tem que especificar o prejuízo sofrido,
descrevendo a lesão suportada pela vítima, sem se resumir em expressões como “perdas e
danos” e “lucros cessantes”.
Pedido genérico nas ações de reparação de dano moral: o autor deve ou não quantificar o
valor da indenização na petição inicial? => DEVE, pois só o autor, vítima do dano moral, tem a
noção necessária pra transformar a dor moral alegada em um valor. O autor pode pedir que o
magistrado determine o valor da indenização, mas nesse caso não pode recorrer da decisão,
mesmo que fixe a reparação em 1 real.
III - quando a determinação do objeto ou do valor da condenação depender de ato que deva
ser praticado pelo réu.
Ação de prestação de contas cumulada com o pagamento do saldo devedor. Se o réu precisa
prestar contas e eu não sei ainda quanto ele me deve – o réu tem que prestar contas pra que
eu possa individuar o pedido.
2. PEDIDO ALTERNATIVO
Art. 325. O pedido será alternativo quando, pela natureza da obrigação, o devedor puder
cumprir a prestação de mais de um modo.
O caráter instrumental do processo é tão forte que se o autor fizer pedido determinado, o juiz
manda citar o réu pra se defender – contestar – e pra determinar o seu pedido alternativo,
desconsiderando o pedido determinado do autor.
Parágrafo único. Quando, pela lei ou pelo contrato, a escolha couber ao devedor, o juiz lhe
assegurará o direito de cumprir a prestação de um ou de outro modo, ainda que o autor não
tenha formulado pedido alternativo.
Lembrar o conceito de obrigação alternativa => pode ser adimplida de mais de um modo, e a
escolha pode ser feita ora pelo devedor, ora pelo credor.
Aqui se fala de um tipo de pedido que quem tem que determinar é o réu, o autor não pode
determinar, falamos de quando o devedor for réu.
Pedido alternativo = veicula pretensão oriunda de obrigação alternativa, facultativa/com
faculdade de substituição.
Reclama prestações disjuntivas, é um pedido classificado a partir de uma relação de direito
substancial que permite a satisfação do direito por prestações autônomas e excludentes.
ATENÇÃO: não é cumulação de pedidos. Só um pedido é feito, a forma de satisfação desse
pedido é que é disjuntiva.
Se a escolha da prestação couber ao autor, não há pedido alternativo, pois ele faz sua escolha
ao formular o pedido. Ele pode deixar pra escolher na fase de execução, formulando pedido
alternativo.
3. PEDIDO RELATIVO A OBRIGAÇÃO INDIVISÍVEL AULA 15/03/2019
Art. 328. Na obrigação indivisível com pluralidade de credores, aquele que não participou do
processo receberá sua parte, deduzidas as despesas na proporção de seu crédito.
Caso de litisconsórcio facultativo, unitário, uma obrigação indivisível.
Quando um dos credores de uma obrigação indivisível pleiteia em juízo sua satisfação.
Obrigação indivisível = o objeto da prestação é uma coisa/fato que não pode ser dividido
devido à natureza, a motivos de ordem econômica ou dada a razão determinante do negócio
jurídico. Obrigações em que a prestação só pode ser cumprida por inteiro.
A pluralidade de credores de obrigação indivisível recebe o mesmo tratamento da
solidariedade ativa – arts. 264, 265, 260.
Se apenas um dos credores receber a prestação toda, os outros têm o direito de exigir dele em
dinheiro a parte que lhes cabe no total – art. 261.
“Deduzidas as despesas na proporção de seu crédito” – o credor deve arcar com as despesas
processuais da cobrança do crédito, inclusive honorários advocatícios.
CUMULAÇÃO DE PEDIDOS
Cumulação de pedidos = cumulação de ações (em uma única peça processual). Essa cumulação
de ações dentro do mesmo processo é o mais comum, é a regra. Ex.: indenização por danos
materiais cumulada com danos morais.
Art. 327. É lícita a cumulação, em um único processo, contra o mesmo réu, de vários
pedidos, ainda que entre eles não haja conexão.
*Larga flexibilidade oferecida pelo CPC – “ainda que não haja conexão entre os pedidos”.
§ 1o São requisitos de admissibilidade da cumulação que:
I - os pedidos sejam compatíveis entre si;
Não pode haver incompatibilidade entre os pedidos, eles não podem se auto excluir.
Naturalmente, esse requisito pode ser mitigado, por uma forma de cumulação de pedidos, a
alternativa (um pedido exclui o outro na escolha) ou a subsidiária (art. 326).
II - seja competente para conhecer deles o mesmo juízo;
III - seja adequado para todos os pedidos o tipo de procedimento.
Grande inovação do CPC 2015 em relação a cumulação de pedidos. Radicaliza a
instrumentalidade do processo – houve uma ordinarização dos procedimentos especiais e uma
especialização dos procedimentos comuns.
§ 2o Quando, para cada pedido, corresponder tipo diverso de procedimento, será admitida a
cumulação se o autor empregar o procedimento comum, sem prejuízo do emprego das
técnicas processuais diferenciadas previstas nos procedimentos especiais a que se sujeitam
um ou mais pedidos cumulados, que não forem incompatíveis com as disposições sobre o
procedimento comum.
§ 3o O inciso I do § 1o não se aplica às cumulações de pedidos de que trata o art. 326.
CUMULAÇÃO PRÓPRIA
Cumulação própria de pedidos => quando o objeto do processo é composto: vários pedidos
são formulados e a pretensão é pelo acolhimento de todos simultaneamente. Decisão judicial
a ser proferida em capítulos. Os pedidos se somam.
1. Simples
As pretensões não têm relação de precedência lógica (pedido prejudicial ou preliminar) entre
si – podem ser analisadas independentemente umas das outras.
Os pedidos são autônomos – podem ser acolhidos total ou parcialmente, ou rejeitados, sem
afetar o resultado do julgamento do outro.
Não é necessário exame prévio de um dos pedidos.
2. Sucessiva
Os pedidos têm alguma ligação de precedência lógica => o acolhimento de um pressupõe o do
anterior.
Diferente da cumulação imprópria, o segundo pedido só será apreciado se o primeiro for
acolhido.
Essa dependência pode ocorrer de 2 formas: o primeiro pedido é prejudicial ao segundo, pois
o não acolhimento do primeiro implica a rejeição (e julgamento) do segundo, ou o primeiro
pedido é preliminar ao segundo, pois o não acolhimento do primeiro indica impossibilidade de
exame do segundo (não há julgamento).
CUMULAÇÃO IMPRÓPRIA
Art. 326. É lícito formular mais de um pedido em ordem subsidiária, a fim de que o juiz
conheça do posterior, quando não acolher o anterior.
Parágrafo único. É lícito formular mais de um pedido, alternativamente, para que o juiz
acolha um deles.
Cumulação imprópria de pedidos => quando vários pedidos são formulados, mas a pretensão
é de que apenas um seja atendido. O acolhimento de um implica a impossibilidade do
acolhimento do outro.
1. Eventual/Subsidiária
Art. 326. É lícito formular mais de um pedido em ordem subsidiária, a fim de que o juiz
conheça do posterior, quando não acolher o anterior.
Importa a ordem de colocação dos pedidos (exemplo do crush na balada).
Aplicação da regra da eventualidade – a formulação das pretensões e exceções deve ser feita
no momento específico da postulação.
O demandante estabelece uma ordem de preferência entre os pedidos formulados e o
segundo pedido só será analisado se o primeiro for rejeitado/não puder ser analisado e assim
por diante com os demais pedidos.
O juiz está vinculado à ordem de apresentação dos pedidos – só pode analisar um quando
terminar de analisar e rejeitar os anteriores. Até quando houver reconhecimento pelo réu da
procedência do pedido subsidiário.
Didier: se possível, o correto é fazer os pedidos de forma subsidiária/eventual.
ATENÇÃO: uma vez que os pedidos jamais serão acolhidos simultaneamente, não se aplica
aqui o requisito da compatibilidade dos pedidos formulados.
Caso prático: o autor faz o pedido principal de cumprimento de obrigação de fazer e,
subsidiariamente, o pagamento de indenização. A juíza colocou na sentença que não cabia o
cumprimento da obrigação de fazer e determinou a indenização. O autor pode recorrer
devido ao seu pedido ter sido julgado improcedente?
Resposta: por muito tempo se entendeu que não se podia recorrer dessa decisão, salvo se
tivesse sido desobedecida a ordem. A doutrina mais recente tem entendido que há interesse
recursal pro autor recorrer da decisão que rejeitou o pedido principal, mesmo que tenha sido
julgado procedente o pedido subsidiário, pra demonstrar que os motivos usados pra
justificar a rejeição do principal estão errados.
2. Alternativa
Parágrafo único. É lícito formular mais de um pedido, alternativamente, para que o juiz
acolha um deles.
Formula-se 2 pedidos, um ou outro, tanto faz a ordem.
Não tem no Código, é doutrina/jurisprudência.