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Apontamentos de Processo

Princípios do processo civil


-Prof MTS distingue entre uma conceção pragmática e uma conceção programática do
processo civil, em que a conceção pragmática mais liberal apenas se preocupa em garantir que
os litígios entrem nos tribunais e a conceção programática (atual), é mais preocupada em
garantir uma decisão justa resultante do processo jurisdicional.
-Assim existem determinados princípios que traduzem os valores basilares desta área do
direito e procuram permitir que se tome a decisão mais justa, com a maior celeridade e a
menor complexidade possível no caso concreto.
A-Princípio do acesso à justiça-
-este está vertido na DUDH e na CRP (art 20), sendo a ideia que dele subjaz a de que todos
devem ter acesso aos tribunais para fazer valer os seus direitos e interesses legalmente
protegidos.
-a efetividade deste principio, exige concretizações e garantias, nomeadamente não colocar
excessivos entraves económicos para o acesso aos tribunais.
B-princípio da equidade-ainda do art 20 da CRP (nº4), o prof retira um princípio que para si
merece autonomia.
-de nada serviria concretizar de forma universal o acesso aos tribunais para a defesa dos
direitos dos cidadãos se não se garantisse que estes decidem as causas de forma equitativa.
-é assim em nome da isenção e imparcialidade (enquanto necessidades de um procedimento
jurisdicional equitativo), que existem por exemplo regras sobre impedimentos (art 115 e ss ) e
suspeições (art 119 e ss).
C-Princípio da instrumentalidade-também designado por princípio do respeito aos limites
substantivos, que no fundo impõe que se às partes no direito substantivo lhes está vedada a
produção de um determinado efeito jurídico, também não pode o direito processual permitir
que se produza esse efeito (o que se justifica pelo papel instrumental deste direito).
-Assim quando estejam em causa: A-direitos indisponíveis; B-relações jurídicas indisponíveis; C-
matéria excluída da disponibilidade das partes; são proibidos negócios processuais de
desistência e confissão do pedido (art 283 nº1 e 289 nº1).
-Ex: direito a alimentos não pode ser renunciado (art 2008 nº1 do CC), pelo que quando
proposta uma ação de alimentos, não se pode desistir da mesma (art 285 do CPC), sob pena de
através do DPC se obter o resultado vedado pelo direito substantivo, pelo que a desistência
seria nula (art 289).
D-Princípio do dispositivo- concretizado no art 5 do CPC.
Generalidades-de uma forma genérica determina que a vontade relevante no processo é a
vontade das partes, este é um princípio multifacetado que engloba não só a disponibilidade
sobre o processo, como á delimitação do seu objeto.
Sentido operativo
-este já não é principio constitutivo do processo civil, mas sim operativo, o processo estará na
disponibilidade das partes na medida em que o interesse público não seja afetado pelo “se”, o
”quando” e o “como” da tutela das situações subjetivas (este pode comportar exceções).
Disponibilidade do processo
-é sempre uma parte que têm de iniciar o processo, não pode o tribunal fazê-lo (principio da
disposição sobre o inicio do processo ou impulso processual)
-também a estas cabe o impulso subsequente, cuja falta pode levar à deserção na instância (art
281nº1 do CPC), podendo também as partes por norma por termo ao processo através de um
negócio processual concluído numa causa (excetuando direitos indisponíveis -art 289)
Delimitação do objeto-também ás partes cabe a delimitação do objeto, sendo esta uma
consequência da sua autonomia privada e da liberdade de disposição e exercício dos direitos.
Relevância do pedido
-Relativamente à delimitação do objeto do processo, cabe distinguir entre a formulação do
pedido e a alegação dos factos necessários à decisão do tribunal.
-Em relação ao pedido devem ser as partes (o autor e o réu quando haja reconversão) que o
delimitam e fixam livremente art 552nº1 al)e e 724 nº1 al)f, é por isso que a sentença não pode
condenar em quantidade superior (plus) ou em objeto diverso (aliud) do que for pedido pela
parte (art 609 nº1), sob pena de ser uma decisão nula (art 615 nº1 al)e.
a-permissão de minus-por outro lado em principio a vinculação do tribunal ao pedido, não
impede que este profira uma decisão em que atribui menos do que a parte pediu, salvo nas
raras exceções onde da interpretação do pedido resulte que a parte só está interessada no
“tudo ou nada”, este será assim sempre possível em relação a pedidos quantitativos (que
respeitem a montantes pecuniários por exemplo)
-Também se admite o “minus qualitativo”, quando o autor tenha formulado um pedido de
condenação (art 10 nº3al)b e o tribunal embora não possa condenar o réu a realizar a
prestação (por esta por exemplo ainda não se ter vencido), possa reconhecer o direito alegado
pelo autor (art 10nº3al)a.
Fora esta situação o “minus qualitativo” só se admite quando existe base legal, ou quando seja
consequência de um pedido da contraparte (quando este pedido não exista o minus torna-se
num aliud e a sentença é nula).
b-permissão de aliud -a regra da vinculação do tribunal ao pedido do autor comporta poucas
exceções, não obstante a lei prevê algumas exceções, nomeadamente no âmbito das
providências cautelares (o tribunal não está adstrito á providência requerida -art 376 nº3.
Relevância dos factos
Aquisição processual-tribunal deve conhecer de todos os factos alegados pelas partes no
momento processual adequado, sejam estes principais (os factos que fundamentam a causa do
pedir ou que fundamentam a exceção) ou factos complementares (que complementam ou
concretizam os principais), independentemente de estes serem ou não favoráveis à parte que
os alegou em juízo.
Factos principais-É as partes que cabe alegar os factos essenciais que constituam a causa do
pedido, ou em que se baseiam as exceções invocadas (art 5nº1), sem os quais a petição é
inepta (art 186 nº2al)a.
-Existe um “ónus de alegação subjetivo” que recai sobre o autor -art 5nº1, se este não alegar
então funciona um ónus de alegação objetivo que faz recair sobre si o risco inerente à causa
petendi.
-É-lhe imposto ainda que este indique o facto/factos em que se baseia a situação subjetiva que
alega, sendo que se o tribunal entender que esses factos não se verificam nega o direito do
autor (pelo menos em relação aquela causa de pedir), podendo depois o autor pedir a mesma
ação com outra causa de pedir (art 580 e 581)
-desta limitação resulta que o juiz só pode servir-se em regra dos factos articulados pelas
partes como causa do pedir ou como fundamento da exceção.
-são as partes que decidem sobre a delimitação da matéria a resolver e portanto sobre a
matéria resolvida (abrangida pelo caso julgado da decisão).
Factos complementares-estes são aqueles que concretizam os factos principais alegados pelas
partes e que não constituindo a causa do pedir são fundamentais para a procedência da ação
(art 5nº2 al)b.
-a sua não alegação não têm efeito preclusivo e justifica que o juiz convide a parte a
aperfeiçoar o seu articulado (art 590 nº2 al)b e nº4 e o tribunal pode conhecer de factos
complementares que resultem da instrução da causa, desde que as partes nomeadamente
para exercício de contraditório se tenham podido pronunciar sobre eles (art 5nº2 al)b.
Ónus das partes-o principio dispositivo impõe importantes ónus na conformação do objeto do
processo, podendo falar-se de:
A-ónus de alegação subjetivo, competindo ao autor invocar os factos que integram causa do
pedir e ao réu os factos que fundamentam as exceções (arts 5nº1; 555nº1 al)d e 571nº1,
existindo também um ónus de alegação objetivo que faz recair sobre a parte que não alegou os
factos que lhe são favoráveis, o risco desta omissão.
B-ónus de impugnação subjetivo-cabe ao réu impugnar os factos invocados pelo autor na PI
(art 571), uma vez que se consideram admitidos os factos invocados por uma das partes e que
não forem impugnados pela contraparte (art 574nº2).
E-Princípio do inquisitório
-concretizado no art 411 do CPC “incumbe ao juiz realizar, ordenar mesmo oficiosamente todas
as diligências necessárias ao apuramento da verdade”
-Analisando a história do processo civil os poderes do juiz são crescentes (assim este principio é
cada vez mais importante)
O princípio do inquisitório e o princípio do dispositivo acabam assim por conflituar um pouco
entre si, na medida em que uma opção por uma proteção mais intensa acabará por condicionar
necessariamente o outro.
Inquisitoriedade do tribunal-esta têm alguma expressão naquilo que é a matéria de facto,
permitindo-se que o tribunal considere factos não alegados pelas partes, não obstante no
âmbito do processo civil não são comuns os processos submetidos à inquisitoriedade, sendo
no entanto os processos de jurisdição voluntária (art 986 nº2 e ss disso exemplo).
Conhecimento oficioso-o tribunal conhece oficiosamente do direito aplicável, tanto no que diz
respeito à admissibilidade do processo, a admissibilidade e validade dos atos processuais e
apreciação do mérito da causa.
Factos acessórios-contariamente aos factos principais sujeitos aos principio da disponibilidade
(art 5nº1), os factos complementares podem ser considerados se forem alegados pelas partes
ou se tiverem surgido na instrução e as partes se tenham podido pronunciar.
Oficiosidade e inquisitoriedade-estes não se confundem, o tribunal pode conhecer
oficiosamente determinadas matérias (independentemente de ter poderes para as investigar)
ex:tribunal pode conhecer oficiosamente a incompetência absoluta, já a inquisitoriedade
prende-se com a possibilidade de o tribunal conhecer por si só matéria de facto relevante.
F-Princípio da gestão processual-juiz têm o dever de dirigir ativamente o processo e
providenciar pelo seu andamento célere, promovendo assim as diligências necessárias ao
normal prosseguimento da ação.
-visa-se diminuir os custos, o tempo e complexidade do procedimento.

-Prof MTS distingue dois aspetos do principio, o seu aspeto substancial (que se prende com a
condução do processo) e o seu aspeto instrumental (a adequação formal).
Aspeto substancial-este aspeto é enunciado de forma genérica no art 6nº1 onde se diz que
“cumpre ao juiz, no âmbito do dever de gestão processual, providenciar pelo andamento
regular e célere do processo (art 6nº1).
-este têm inclusive um poder de direção do processo (que se reflete no exercício das diligências
necessárias à condução do processo) e u poder de correção que se traduz na possibilidade de
recusar o que for meramente inconveniente ou dilatório (art 6nº1).
-pode providenciar oficiosamente pelo suprimento da falta de pressupostos processuais
suscetíveis de sanação (art 6nº2) -poder de sanação da inadmissibilidade na instância.
Aspeto instrumental-este pode modificar a tramitação processual ou os atos processuais ~(case
management), adequando o procedimento à complexidade da causa -poder de adequação
formal (previsto no art 547) -assim o conteúdo dos atos processuais pode ser adequado à
causa desde que se assegure um processo equitativo.
-a adequação formal requer a prévia audição das partes (art 6nº1) sob pena de nulidade
processual (art 195nº1).
Limites legais-existem sempre limites a ser cumpridos e a simplificação e agilização processuais
não podem implicar que o processo não seja equitativo (as partes devem sempre poder alegar
as suas razões e fazer prova dos factos controvertidos) -este standard mínimo têm de ser
respeitado.
G-Princípio da cooperação
-Concretizado de forma genérica no art 7 do CPC impõe que devem o tribunal e as partes
colaborar entre si na resolução do conflito de interesses subjacente à ação.
Posição das partes
-MTS fala de um dever de atuação orientado pela eficiência e proporcionalidade, significando
em concreto: A-o dever de litigância de boa-fé; B-dever de fornecer esclarecimentos de
matéria de facto ou de direito que se afigure relevante.
-O art 417 dispõe que todas as pessoas, sendo ou não partes na causa, têm o dever de prestar
a sua colaboração para a descoberta da verdade, é também este dever que justifica que uma
das partes possa requerer a entrega de documentos que estejam na posse da contraparte.
-Dever de esclarecimento é consequência quer dos deveres de verdade e completude que
recaem sobre as partes na alegação da matéria de facto (art 542 nº2al)b, quer da obrigação de
informação de quem esteja em condições de prestar informações necessários sobre a
existência ou conteúdo de um direito.
-o art 417 nº3 impõe limites a este principio para as partes ex: violação da integridade moral.
-violação deste dever implica a litigância de má-fé (art 8 e art 542nº2 al)c.
Posição do tribunal
-este têm vários objetivos como o incrementar da eficiência do processo, assegurar a igualdade
das partes, promover a descoberta da verdade e garantir um processo equitativo, sendo esta
uma forma de expressão do chamado “processo civil dialógico”.
-Limitado pelo principio do dispositivo, isto é não caberá certamente ao tribunal levantar
questões de direito substantivo, mas já poderá caber a este suscitar questões que se
relacionem com algo suscitado pela parte mas de forma deficiente (não lhe cabe cuidar de
deficiências substantivas, mas sim de insuficiências processuais).
Deveres do tribunal
-este principio implica diversos deveres para o tribunal, nomeadamente:
A-dever de prevenir a falta de pressupostos processuais sanáveis (art 6nº2 e 590nº1al)a, assim
como de irregularidades ou insuficiências das suas peças e alegações (art 590 nº2 al)b etc.
B-dever de esclarecimento: este deve-se esclarecer junto das partes das dúvidas que tenha em
relação às suas alegações, pedidos e posições em juízo (art 7nº2 e 452nº1); este deve auxiliar
as partes, removendo as dificuldades que estas tenham no exercício dos seus direitos/
faculdades e auxiliando o cumprimento dos seus ónus ou deveres processuais (art 7nº4).
C-dever de consulta das partes: sempre que pretenda conhecer oficiosamente de matéria de
facto ou direito sobre a qual estas não tenham tido a possibilidade de se pronunciarem (art
3nº3 do CPC), com o cumprimento deste dever visa-se evitar as “decisões-surpresa”, isto é
decisões com fundamentos de facto ou direito inesperadas.
Poderes funcionais-MTS observa que este dever de cooperação acaba por transformar poderes
discricionários, em poderes com uma natureza vinculativa (mesmo quando constem em
normas com um operador permissivo), o tribunal não têm margem de discricionariedade no
seu exercício quando estes correspondam ao dever de cooperação, cometendo uma nulidade
processual se os omitir (art 195), por ter deixado de praticar um ato que não pode omitir.
-Esta nulidade só se torna patente quando o tribunal profere a decisão p.ex -aponta a falta de
um pressuposto processual sanável que não convidou a parte a sanar, ou decide uma questão
de direito que as partes não discutiram, nestes casos a decisão é nula por excesso de pronúncia
na medida em que conhece de matéria que não podia conhecer naquelas condições.
H-Princípio da igualdade
Generalidades-este é uma faceta do princípio do processo equitativo (art 20nº4) e corolário da
igualdade perante a lei e imparcialidade dos tribunais.
-Em processo fala-se de um “principio de igualdade de armas” em que numa conceção
duelística do processo, ambos devem ter a mesma capacidade de influenciar o seu resultado.
-A paridade vai além de uma “igualdade formal”, num litigio as partes devem ter as mesmas
armas (todos devem dispor dos mesmos meios processuais etc).
Ónus das partes-a igualdade formal que se impõe não obsta a que as partes possam através do
seu comportamento em juízo criar situações de desigualdade (esta possibilidade é um
corolário do ónus que recai sobre cada parte e das consequências do não cumprimento destes
ónus), p.ex: se o autor não provar os factos que alega o réu é absolvido do pedido (art 414); se
o réu não contestar o autor é dispensado de provar os factos que alega (art 567nº1), assim os
ónus criam assimetrias entre as partes.
Relevância na dupla dimensão-MTS fala de ums “duplo dever para o tribunal”
a-igualdade de tratamento- tribunal deve tratar o que é igual de forma igual, sendo que esta
ideia pode ceder quando existam duas situações manifestamente desiguais
b-correção de desigualdades- esta é realizada através da função assistencial do juiz que
permite que se alcance a igualdade das partes, p.ex -art 590 nº2 al)b permite que o juiz
convide uma das partes a aperfeiçoar o seu articulado (MTS entende que quando o tribunal
não o faça estará a violar o principio da igualdade nesta vertente.
I-Princípio do contraditório
Generalidades-este implica que sendo formulado um pedido ou oposto um argumento contra
uma das partes, esta dever poder pronunciar-se.
Partes e contraditório-daqui decorre um direito de resposta à outra parte, dado que ambas as
partes se podem pronunciar sobre as alegações da parte contrária (art 3nº1), quer um direito á
audição prévia da parte do tribunal, que antes de decidir deve ouvir ambas as partes.
Audição prévia-este têm dois corolários: A-quando levantada uma questão o juiz deve ouvir a
parte contrária antes de decidir (art 3nº3); B-não decidir questões de facto ou direito que as
partes não se tenham pronunciado (mesmo que de conhecimento oficioso).
A não audição prévia implica a nulidade da decisão por excesso de pronúncia (art 615 nº1 al)d.
Contraditório deferido-este na sua vertente de audição prévia não é absoluto, podendo ser
diferido para momento posterior ao proferimento da decisão (como no caso das providências
cautelares) -aqui procura-se acautelar o efeito útil de uma tutela definitiva.
-este só pode ser afastado pela lei e não pela vontade das partes, sendo nulo o pacto pelo qual
alguém se comprometa a não se defender numa ação futura (art 294 CC).
-Em relação a terceiros significa que ninguém pode ver os seus direitos afetados numa ação em
que podendo ter sido chamado não o foi.
J-Princípio da boa-fé
Generalidades-como resulta do art 8 as partes devem atuar em juízo da boa-fé , sendo que este
dever constitui um limite ao domínio das partes e implica a proibição de litigância de má-fé.
Tipologia da litigância de má-fé-é possível conceber várias situações, nomeadamente:
A-autor demanda sem razão mas de boa-fé e sem culpa (essa parte irá decair na ação e pagar
as custas -art 527nº1 e 2 mas não há lugar ao pagamento de indemnização).
B-autor demanda sem razão e de boa-fé mas com culpa (por regra a lei apenas sanciona a
atuação com dolo ou negligência grave pelo que não há indemnização).
C-autor demanda sem razão e de má-fé (já está sujeito à possibilidade do art 542 nº1 de pagar
uma multa como litigante de má-fé.
Má fé unilateral
a parte atua de má-fé quando com dolo ou negligência grave altera a verdade dos factos ou
omite factos relevantes para a decisão da causa (art 542nº2 al)b.
dever de verdade
-este implica que a parte não deve alegar factos que sabe que não são verdadeiros ou
impugnar factos que sabe que são verdadeiros (proíbe-se a mentira consciente) -falando o
542nº2 em mentira dolosa ou gravemente negligente.
-Assim este é para MTS um dever de veracidade subjetiva, mais do que de verdade objetiva.
Dever de completude
-este impõe que a parte tem o dever de alegar todos os factos que são relevantes para a
apreciação da causa tanto os que lhe são favoráveis como os desfavoráveis.
Comportamento contraditório
-atua de má-fé quem com dolo ou negligência grave, deduzir pretensão ou oposição cuja falta
de fundamento não devesse ignorar, assim como quem atua em “venire contra factum
proprium” (réu que anteriormente invocara a preterição do tribunal arbitral agora invoca a
incompetência do tribunal estadual).
Omissão de cooperação
-atua também de má-fé quem omite de forma grave o dever de cooperação com o tribunal e a
contraparte (art 542nº2al)c e art 7.
Abuso de faculdades processuais
-este encontra-se previsto no art 542nº2 al)d, sendo que atua de má-fé quem faça do processo
ou dos meios processuais um uso manifestamente reprovável com o fim de conseguir um
objetivo ilegal, impedir a descoberta da verdade, entorpecer a ação de justiça ou proletar sem
fundamento sério o trânsito em julgado de uma decisão.
Consequências legais-a parte que litiga de má-fé é sancionada com condenação em multa e
numa indemnização à parte contrária se esta pedir, sendo que o ato praticado pela parte
contra os ditames da boa-fé também não pode produzir nenhum efeito em juízo.
Má-fé bilateral
-esta dá-se quando ambas as partes com o intuito de enganar terceiro agem de má-fé,
verificando-se então a simulação processual (art 612)
Abuso do processo
-esta verifica-se sempre que o autor da ação, faz com que esta desempenhe uma função
diferente da tutela jurisdicional, não sendo certo se esta figura têm autonomia face à litigância
de má-fé.
Abuso do direito à ação -verifica-se quando ocorre um uso reprovável do processo ou dos atos
processuais (credor que pede a divida que lhe é devida em várias ações).
Abuso do direito de ação -quando o tribunal entender que aquilo que o autor pede é abusivo
(por aplicação do art 334) -o exercicio do direito substantivo invocado é abusivo e não o
próprio direito de ação.
K-Princípio da economia processual
MTS distingue para este um plano institucional e um plano individual
Plano institucional-ideia de que o processo não deve implicar custos desnecessários e não
proporcionais à sua finalidade (meios devem otimizar o fim do processo), evitando perdas de
tempo e custos evitáveis.
-Orienta-se por um critério de eficiência, fazendo o difícil equilíbrio entre a garantia do direito à
ação e a resposta fornecida pelo ordenamento processual.
-alguns institutos processuais são uma decorrência deste principio Ex: exceção de
litispendência e de caso julgado -art 580nº1 e 581nº1.
Plano individual
-no plano de cada ato processual, este principio proíbe a prática de atos inúteis (art 130) ou
supérfluos (art 534nº1).
Organização Judiciária e competência
Âmbito de competência
-Poder jurisdicional reparte-se entre todos os países, sendo que Portugal se ocupa apenas de
uma extensão (competência internacional), sendo que nem sempre a sua distribuição é
harmonizada.
Se não for (e cada legislador definir de forma unilateral) a sua competência internacional, pode
acontecer que para a mesma ação haja vários tribunais competentes.
Competência dos tribunais comuns
A competência poderá ser definida como a adstrição a um certo tribunal de uma certa
categoria de processos, no angulo do tribunal, a competência pertence à organização judiciária
sendo regulada pela LOSJ nos seus artigos 37º/1, 40º, 41º e 42º/1 e 2, e, de um angulo do
processo, a competência pertence ao processo stricto sensu, sendo remetida para o CPC nos
seus artigos 65º e 66º.
Competência interna-a competência dos tribunais judiciais divide-se na ordem interna pela
matéria, valor (e forma do processo), hierarquia e território (37º/1 da LOSJ e 60º/2).
Há que distinguir várias hipóteses na aferição da competência material:
A-Casos sic-non – casos em que os fatos alegados pelo autor só permitem uma qualificação
jurídica e em que o tribunal só é competente para se pronunciar sobre o mérito se essa
qualificação couber no âmbito da sua competência material;
B-Casos aut-aut (alternatividade de qualificações mutuamente excludentes) – o autor alega
fatos de diversas qualificações jurídicas (tendo neste caso o tribunal de apreciar o mérito
segundo a qualificação para a qual seja competente);
C- Casos et-et (cumulação de qualificações compatíveis) – o autor alega fatos que permitem
simultaneamente diversas qualificações jurídicas.
Competência convencional -as partes podem determinar, através de convenção, o tribunal
competente para apreciar uma determinada causa (94º e 95º), sendo uma convenção
autónoma do contrato em que se insere, pelo que esta não é necessariamente inválida perante
a invalidade do contrato.
Divisão territorial
Tribunais judiciais-para efeitos de organização judiciária, o território nacional divide-se em 23
comarcas (33º/2 da LOSJ), exercendo um tribunal de 1º instância jurisdição em cada comarca,
tribunal a que pertence a competência residual (210º/3 da CRP e 80º/1 da LOSJ). Quanto às
Relações, a competência destas abrange várias comarcas (32º/1 e Anexo I da LOSJ), enquanto o
STJ exerce competência sobre todo o território (43º/1 da LOSJ).
-Os Julgados da Paz podem ter como área de competência um certo concelho ou agrupamento
de concelhos (4º/1 da LJP).
Tribunais de comarca
Os tribunais de 1ª instância em regra são os tribunais de comarca (29º/2 e 79º da LOSJ),
desdobrando-se em juízos de competência especializada, competência genérica e de
proximidade (81º/1).
O artigo 81º/3 enumeram os juízos de competência especializada, que podem ser criados,
entre os quais o juízo central cível, o juízo local cível e o juízo de família e menores.
Critério material-estes em razão da matéria, têm competência residual, podendo apreciar
causas não abrangidas na competência de outros tribunais, nomeadamente dos tribunais de
competência territorial alargada ou dos tribunais administrativos e fiscais (art 80)
-Os tribunais de comarca podem ser de competência genérica ou de competência especializada
(80º/2 da LOSJ), sendo a competência diferente para juízos centrais cíveis (arts 117 a 129 da
LOSJ) e para os juízos locais cíveis (130º da LOSJ).
-Já os juízos de proximidade têm competência meramente funcional, não tendo qualquer
competência jurisdicional (82º/1 e 5 e 130º/5 e 6 da LOSJ).
Juízo central cível
-Em razão da matéria, os juízos centrais cíveis comportam juízos de competência especializada
(81º/1 e 3 da LOSJ), entre os quais:
A-Juízos de família e menores (81º/3/g), 122º e 123º da LOSJ);
B-Juízos de comércio (81º/3/i)) e 128º da LOSJ);
C-Juízos de execução (81º/3/j) e 129º da LOSJ).
-Os juízos centrais cíveis são eles próprios juízos de competência especializada, tendo uma
competência residual em relação ao juízo local cível determinada, determinada em função do
valor e da forma do processo (117º/1 e 130.º/1 da LOSJ).
Assim, compete a estes juízos:
A-Preparar e julgar ações declarativas cíveis do processo comum de valor superior a € 50 mil
(117º/1/a) da LOSJ), desde que não caibam na competência de um outro juízo ou de um
tribunal de competência territorial alargada;
B-Exercer, no âmbito das ações executivas de natureza cível de valor superior a € 50 mil, as
competências previstas no CPC em circuncisões não abrangidas pela competência de outro
juízo do tribunal (117º/1/b) da LOSJ);
C-Preparar e julgar procedimentos cautelares a que correspondam ações da sua competência
(117º/1/c)) da LOSJ), isto é, verificados os pressupostos das alíneas a) e b) do artigo 117º/1 da
LOSJ.
-De notar que o juízo central poderá tornar-se competente sempre que haja uma alteração no
valor da causa, assim como, nas comarcas em que não exista juízo de comércio, a competência
deste juízo pertence ao juízo central cível quando verificados os requisitos quanto ao valor da
causa e à forma do processo comum (117º/2 da LOSJ).
Juízo local cível
-Compete ao juízo local cível, além de preparar e julgar os processos relativos a causas não
atribuídas a outros juízos ou a tribunal de competência territorial alargada (130º/1 da LOSJ),
conhecendo apenas de processos especiais, tendo em conta que os juízos centrais cíveis só
conhecem de processos comuns.
-Possuem também competências para exercer, no âmbito do processo de execução, as
competências previstas no CPC, onde não houver juízo de execução ou outro juízo ou tribunal
de competência especializada competente (130º/2 da LOSJ).
-Os juízos locais cíveis possuem, nas matérias da competência do juízo central cível, uma
competência residual em função do valor e forma de processo (130º/1 e 2/c) da LOSJ.
Critério hierárquico
-Tribunais judiciais encontram-se hierarquizados para efeito de recurso das suas decisões (art
42 nº1 LOSJ).
-STJ conhece de recurso cujos valor exceda a alçada das Relações e estas conhecem,
igualmente das causas cujo valor exceda a alçada dos tribunais de 1ª instância (art 42 nº1).
Critério territorial
O país subdivide-se em comarcas, por cujos territórios se distribuem os processos, sendo que a
distribuição obedece a critérios baseados no território (art 70 a 84) -processo declrativo e 85 a
90 -processo executivo.
Critério territorial geral
Pessoa singular-para a ação declarativa, a regra geral é a de que é competente o tribunal do
domicilio do réu (art 80 nº1), sendo que esta é a regra que se aplica sempre que o caso não
esteja previsto noutra norma.
Se o réu não tiver residência habitual, deve ser demandado no domicílio do autor (art 80 nº2
do CPC)
Pessoa coletiva-se o réu for uma PC então será demandado no tribunal da sede da
Administração Principal ou no da sede da sucursal, agência, filial ou delegação consoante a
ação seja movida contra aquela ou contra estas (art 81 nº2 1ª parte).
O art 81 nº2 (2ª parte) estabelece a possibilidade de quanto a PC ou sociedades estrangeiras,
que tenham sucursal, agência etc (em Portugal) estas sejam propostas em Portugal (mesmo
que contra a sociedade mãe).
Pluralidade de réus -art 82
Critérios territoriais especiais
Direitos reais ou pessoais de gozo sobre imóveis (art 70) -as ações relativas a direitos reais ou
direitos pessoais de gozo sobre imóveis, devem ser propostas no tribunal da situação de bens
(art 70), sendo que as ações sobre bens móveis seguem as regras gerais do art 80 e ss.
Cumprimento de obrigações (art 71 nº1)-a ação destinada a exigir o cumprimento de
obrigações, a indemnização pelo não cumprimento ou pelo cumprimento ou a resolução por
falta de cumprimento deve em geral ser proposta no lugar de domicílio do réu, mas pode o
credor optar pelo lugar onde a obrigação devia ser cumprida, quando:
A-o réu seja uma Pessoa Coletiva ou;
B-o réu seja uma pessoa singular e o domicilio do credor seja a área metropolitana de lisboa ou
do porto e a do devedor seja a mesma área metropolitana.
Facto ilícito (art 71 nº2)-se a obrigação se destinar a efetivar a responsabilidade civil, baseada
em facto ilícito, ou fundada no risco, o tribunal competente é o correspondente ao local onde o
facto ocorreu (art 71 nº2).
Divórcio e separação (art 72)-é competente o tribunal de domicilio ou residência do autor.
Matéria sucessória (art 72-A)-é competente o lugar da abertura da sucessão 72-A nº1, que
corresponde ao último domicilio do autor da sucessão (art 2031 do CC).
A título residual: A-se no momento da sua morte, o autor da sucessão, não tiver residência
habitual em território português, é competente o tribunal do em cuja circunscrição esse autor
teve a sua última residência habitual em território nacional (art 72 -A nº2); B-se o tribunal
competente não puder ser determinado por nenhum outro critério, será competente havendo
bens imóveis o tribunal da situação dos bens, ou situando-se em circunscrições diferentes o
tribunal da situação do maior número (art 72 A nº3 al)A; e não havendo imóveis o tribunal é
lisboa (art 72-A al)B.
Impedimento do juiz (art 115 e art 84)-havendo impedimento do juiz (art 115) e não havendo
nenhum outro juiz na circunscrição em que a ação deva ser proposta (art 84 nº4), torna-se
competente o tribunal cuja circunscrição judicial esteja à menor distância (art 84 nº1).
Pacto de competência (art 95)
Regime geral-este será válido, na medida em que derrogue as regras em razão do território,
salvo nos casos em que a incompetência territorial deva ser conhecida oficiosamente (art 95
nº1 que remete para o 104), já o pacto que derrogar as regras de competência em razão da
matéria, do valor ou da hierarquia é nulo, por violação de uma regra de caráter imperativo (art
294 do CC -como indica o 95 nº1 1ªparte).
-Pacto deve satisfazer os requisitos de forma do contrato de que emerge o litigio ou litígios a
que provê, contanto que tal forma seja escrita (art 95 nº2 1ª parte).
Este deve indicar as situações a que se refere -95 nº2 (2ªparte), podendo fazê-lo por referência
ao facto jurídico suscetível de as originar (art 95 nº4) e devendo ainda referir o critério de
determinação do tribunal que fica sendo competente (art 95 nº2 2ª parte) -assim o tribunal
deve ser individualizado (p.ex o de Lamego) ou dever ser determinável através do critério
definido pelas partes) p.ex (o tribunal de domicilio do réu no momento de propositura da
ação), não pode assim ser indicado genericamente (p.ex -o tribunal que o autor quiser escolher
Verificados estes requisitos, a competência fundada na estipulação das partes, é tão
obrigatória como a que deriva da lei (art 95 nº3) e levará a incompetência relativa (art 102).
Tribunais de competência alargada
-Encontramos previstos, enquanto tribunais de competência alargada, por exemplo, o tribunal
de propriedade intelectual (83º/3/a) e 111º da LOSJ), o tribunal de concorrência (83º/3/b)) e
112º da LOSJ) e o tribunal marítimo (83º/3/c) e 113º da LOSJ), estando a sua competência
regulada nos artigos 111º e seguintes da LOSJ.
-Quanto ao tribunal de PI e ao tribunal de concorrência, esclarecem os artigos que terão
competência para os respetivos incidentes e apensos, assim como para a execução das
decisões. Já quanto ao tribunal marítimo, como já foi referido, nas circuncisões não abrangidas
pela área de competência territorial do tribunal marítimo, as competências são atribuídas ao
tribunal de comarca.
Tribunais da relação
-As Relações correspondem, na sua área de competência de tribunal de 2.ª instância, a várias
comarcas (210º/4 da CRP, 32º/1 e 67º/1 da LOSJ).
Dividem-se, em secções, em matéria penal e cível (67º/3 e 4 da LOSJ), podendo também
funcionar em plenário (67º/2 e 71º da LOSJ).
Competência
Critério material- compete às Relações julgar causas que não estejam atribuídas às demais
secções (74º/1 e 54º/1 da LOSJ) -competência material residual.
Critério do valor- em razão do valor, em regra, as decisões da 1ª instância só serão recorríveis
para a Relação quando o valor da causa exceda a alçada do tribunal recorrido (629º/1), não
tendo nenhuma restrição de competência em razão do valor diretamente estabelecida.
Critério hierárquico- as Relações são competentes para, essencialmente, três processos
(68º/1):
A-julgamento de recursos interpostos dos tribunais de 1ª instância (68º/2 e 73º/a) e f) da
LOSJ);
B-Julgamento em 1ª instância de ações propostas contra juízes de direito, juízes militares de 1ª
instância, procuradores da República e procuradores-adjuntos por causa das suas funções
(73º/b) da LOSJ);
C-Julgamento de processos de revisão e confirmação de sentença estrangeira (73º/e da LOSJ e
978º a 985º).
-As Relações em regra não têm competência para decidir questões em 1ª instância, não tendo
competência para executar as suas próprias decisões (86º e 88º) ou sentenças estrangeiras por
elas reconhecidas (90º)
Critério territorial - A competência territorial das Relações deriva da pertença do tribunal
recorrido à respetiva área de competência (83º) ou da pertença a esta área do tribunal onde o
magistrado judicial ou do MP praticou o fato ilícito (968º).
Supremo Tribunal de Justiça
O STJ tem a sua sede em Lisboa (45.º da LOSJ) e possui jurisdição sobre todo o território (43º/1
da LOSJ), compreendendo secções especializadas em matéria cível, em matéria penal e em
matéria social (47º/1 da LOSJ), acrescendo uma secção para o julgamento de recursos de
deliberações do CSM (47º/2 da LOSJ). O STJ pode funcionar em plenário, em plenário das
secções especializadas e por secções (48º/1 da LOSJ).
Critério material-compete ao STJ julgar as causas que não sejam atribuídas às demais secções
(54º/1 da LOSJ), tendo competência material residual.
Critério do valor-competência do STJ em razão do valor é limitada pela alçada da Relação, não
sendo possível recorrer ao STJ para decisões em causas cujo valor caiba na alçada da Relação
(44º/1 da LOSJ).
Critério em razão da hierarquia -na competência em razão da hierarquia:
A-Através do pleno de secções cíveis, uniformiza a jurisprudência (53º/c) da LOSJ, 69º/2,
686º/1, 688º/1 e 691º);
B-Através das respetivas secções ou do relator, julgar recursos que não sejam da competência
do pleno das secções especializadas (55º/a) e g) e 53º da LOSJ e 69º/2);
C-Através das secções competentes, julgar as ações propostas contra juízes do STJ e dos
Tribunais da Relação e magistrados do MP que exerçam funções junto destes tribunais (55º/c)
da LOSJ).
Competência em razão do território -não tem qualquer limite de competência em razão do
território, tendo competência em todo o território nacional (43º/1 da LOSJ).
Regime da competência
Nexo de competência-através da conjugação dos fatores e regras de competência, toda a causa
tem um tribunal onde deve ser proposta, havendo um nexo de competência (ou apenas
competência) entre essa causa e esse tribunal, só podendo aquele tribunal julgar esta causa e
esta causa só pode ser julgada naquele tribunal.
Perpetuatio iurisdictionis Este nexo fixa-se no momento da propositura da ação, com atenção
quer á lei nesse momento, quer á situação dos fatores atributivos de competência.
Esse nexo em principio mantém-se ainda que a lei, ou a situação de tais fatores (38º/1 da LOSJ)
É o princípio perpetuatio iurisdictionis, que evita que quem recorra aos tribunais sofra
prejuízos por alterações que venham a ocorrer depois da propositura da ação.
Modificação das situações de facto
-A modificação da situação de facto e dos fatores atributivos da competência é sempre
irrelevante, permanecendo o tribunal competente apesar da mudança. (se por exemplo o
critério atributivo da competência, foi o domicilio do réu ou do autor o tribunal permanece
competente mesmo que este mude.
Modificação da lei-a modificação da lei atributiva de competência é em princípio irrelevante,
mas o art 38 nº2 da LOSJ estabelece duas situações em que esta pode revelar:
A-supressão do órgão judiciário a que a causa estava afeta, tendo o juiz, neste caso, de ordenar
oficiosamente a remessa dos processos para o tribunal que seja competente (64º);
B-atribuição de competência ao órgão ao qual a causa estava indevidamente afeta, passando o
tribunal a ser competente.
Modificação convencional -deste princípio resulta também na ineficácia de qualquer
modificação convencional da competência, excetuando-se a atribuição de competência a um
tribunal incompetente nos casos em que a não invocação dessa competência é suscetível de
atribuir competência a esse tribunal (97º/1, 103º/1 e 104º/1 e 2).
Se é possível uma atribuição tácita de competência a um tribunal incompetente, por maioria
de razão também tem de ser possível por convenção das partes.
Alteração da competência
Extensão da competência- esta traduz-se no alargamento da competência do tribunal,
atribuída para certa questão, a outras que estão em conexão com ela (mas para as quais o
tribunal isoladamente não teria competência) sendo estes casos de extensão da competência
regulados pelos artigos 91º a 93º, 267º e 268º, assim como no artigo 311º a 350º
relativamente à intervenção de terceiros que implica a extensão da competência do tribunal
para apreciar a pretensão formulada pelo terceiro interveniente.
Extensão múltipla-o tribunal competente para a ação será em regra o tribunal competente para
conhecer incidentes que nela se levantem e questões suscitadas pelo réu como meio de defesa
(91º/1), sendo uma extensão que pode abranger qualquer critério de aferição de competência,
exceto o critério do valor que poderá levar à remessa do processo no juízo local cível para o
juízo central cível (117º/3 da LOSJ).
O tribunal competente para a ação é ainda competente para a reconvenção deduzida pelo réu
(93º/1 e 266º/1).
Competência material- O artigo 92.º/1 dispõe que se o conhecimento do objeto de uma ação
depender de uma decisão de um tribunal administrativo ou criminal, o juiz poderá sobrestar a
decisão até que o tribunal competente se pronuncie, não podendo pronunciar-se sobre
nenhuma das questões prejudiciais que não sejam da sua competência.
O artigo 92º/2 dispõe que a suspensão fica sem efeito se a ação não for exercida no espaço de
um mês ou se o processo estiver parado por negligência das partes, caso em que o juiz da ação
decide a questão prejudicial (de natureza penal ou administrativa, mas esta não produz efeitos
fora do caso).
Competência territorial-existe também uma extensão da competência quanto à competência
territorial sempre que se proponha uma ação contra vários réus, e exista um número maior de
réus domiciliados num certo local, estendendo-se a competência quanto aos outros réus
(82º/1). O mesmo acontece em caso de cumulação simples de pedidos (555º/1).
Modificações de competência
Quando a modificações de competência, estas ocorrem usualmente por alteração da situação
fática, alterando a competência fixada por lei. Estas modificações de competência são proibidas
em princípio pela proibição de desaforamento (39º da LOSJ), sendo admitidas estas
modificações em certos casos, como o do artigo 84º/2.
Falta de competência
Kompetenz-Kompetenz-pela regra Kompetenz-Kompetenz, qualquer tribunal tem competência
para apreciar a sua própria competência, sendo também o tribunal a apreciar a competência
que fixa caso se considere incompetente. Faltando a competência, há um pressuposto
processual relativo ao tribunal que falta, verificando-se a incompetência do tribunal. Existem
dois tipos de incompetência.
Incompetência absoluta -esta vem regulada nos artigos 96º a 101º.
-O artigo 96º diz-nos quando estamos perante uma incompetência absoluta:
A-infração de regras de competência em razão da matéria e hierarquia, de competência
internacional, legal ou convencional (art 96 al)A;
B-preterição do tribunal arbitral, voluntário ou necessário (art 96 al)B
A incompetência relativa é uma exceção dilatória nominada (577º/a)).
Conhecimento -o artigo 97º/1 determina que a incompetência pode ser arguida pelas partes e
pelo tribunal oficiosamente, exceto se decorrer da violação de um pacto privativo de jurisdição
ou da preterição do tribunal arbitral voluntário (578º), tendo o tribunal de se certificar, quando
ainda não o fez, no despacho saneador, da sua competência absoluta (art 595 nº1 al)A
Arguição-o artigo 97º fornece a regra geral (que o 98 particulariza) e diz-nos a única exceção a
essa regra.
-Permite-se que a questão seja levantada e decidida em qualquer estado do processo,
enquanto não houver sentença com transito em julgado proferida sobre o fundo da causa (97
nº1), apesar de o momento indicado ser o do despacho saneador (595º/1/a)).
-Quando seja manifesta constitui causa de indeferimento liminar (art 590 nº1), nas situações
em que haja despacho liminar (art 226 nº4)
O artigo 98º dispõe duas soluções: (i) se a incompetência for arguida antes de ser proferido o
despacho saneador, pode conhecer-se da mesma imediatamente ou reservar-se a sua
apreciação para aquele despacho ,( se já tiver no entanto sido suscitada não o pode voltar a ser
depois de já ter sido julgada -esgotamento do poder jurisdicional -art 613 nº1 e caso julgado
formal -art 620 nº1) ; (ii) se a incompetência for arguida posteriormente ao despacho saneador,
deve conhecer-se logo da arguição.
-Quanto à primeira solução, há que ter cuidado com o conhecimento imediato, uma vez que
terá de se esperar pelo funcionamento do contraditório (art 3 nº4)
-O artigo 97º/2 é a exceção deste regime, dizendo que a violação das regras de competência
em razão da matéria que apenas respeitem tribunais judiciais só pode ser arguida ou
oficiosamente conhecida até ser proferido o despacho saneador ou, se a tramitação da causa
não o comportar, até ao início da audiência final. P.ex: ser da competência do tribunal de
família e ter sido proposta perante o tribunal de trabalho, uma vez que ambos pertencem aos
tribunais judiciais.
Efeitos-a procedência da exceção de incompetência absoluta tem como efeitos:
A-Indeferimento liminar antes do réu ser citado (99º/1 e 590º/1) quando seja manifestada e se
reconhecer logo face à petição inicial do autor;
B-Absolvição da instância, se só for decidida depois do despacho liminar (99º/1, 278º/a),
576º/2 e 577º/a)).
-Se a incompetência for decretada depois da fase dos articulados, o autor poderá requerer a
remessa para o tribunal em que a ação deveria decorrer, o que só não é deferido caso o réu
ofereça oposição justificada (99º/2), exceto em caso de violação de pacto privativo e de
preterição do tribunal arbitral (99º/3).
-A decisão sobre a incompetência só tem valor no próprio processo em que for decretada
(100º), não vinculando outro tribunal a considerar-se competente.
Da mesma forma, a incompetência por preterição de tribunal arbitral voluntário não implica o
reconhecimento da validade da convenção arbitral e da competência dos tribunais arbitrais.
Recurso-a decisão sobre a incompetência absoluta do tribunal é sempre passível de recurso até
ao STJ (629º/2/a)), mesmo que nas duas instâncias se tenha decidido da mesma forma, por
isso, a revista não deve ser admitida segundo a regra da dupla conforme (671º/3).
Incompetência relativa
Generalidades-O artigo 102.º determina a incompetência relativa quando a infração de regras
da competência em razão do valor (117º/1 e 130º/1 da LOSJ), do território (70º a 84º) ou
provenientes de pacto de competência (95º/3), ou seja, situações em que se viole a
competência relativa do tribunal.
-Ao aferir a competência do juízo central cível, há que considerar não só o valor, mas também a
forma do processo, dado que este juízo só tem competência para apreciar processos comuns
(117º/1 a) da LOSJ), levantando o problema de o tribunal ser competente em função do valor,
mas não quanto à forma do processo. Nesta situação aplica-se por analogia o regime da
incompetência relativa, dado que a remessa do processo para o juízo local cível é a solução
mais adequada para esta situação de incompetência (104º/2 – quanto ao conhecimento
oficioso –105º/3 e 130º/1 e 2/c) da LOSJ).
Conhecimento-quanto à legitimidade para arguir a incompetência relativa, têm legitimidade o
réu (103º/1) e deve ser conhecida oficiosamente no artigo 104º/1 (incompetência em razão do
território) e no artigo 104º/2 (incompetência em razão do valor). A incompetência territorial
será de conhecimento oficioso (104º/1/a) quando:
A-Seja desrespeitado o foro da situação de bens (70.º);
B-Tendo a causa por objeto o cumprimento de obrigações pecuniárias, a indemnização pelo
não cumprimento ou cumprimento defeituoso ou a resolução do contrato, a mesma não seja
proposta no tribunal de domicilio do réu (71º/1/1ª parte);
C- Destinando-se a ação a efetivar responsabilidade civil baseada em fato ilícito ou fundando
no risco, a mesma não seja instaurada no tribunal correspondente ao lugar onde o fato ocorreu
(71º/2);
D-Haja violação das regras relativas aos processos cautelares e diligências antecipadas (78º);
E- Seja violada a regra respeitante ao tribunal competente para apreciar o recurso (83º);
F-Sendo parte o juiz ou um familiar seu, a ação não seja proposta ou remetida para o tribunal
de circunscrição judicial cuja sede esteja a menor distância do tribunal normalmente
competente (84º);
G- Numa execução de decisão proferida por tribunais portugueses, o requerimento executivo
não for apresentado no processo em que foi proferida a decisão (85º/1);
H- Numa execução para o pagamento de quantia certa baseada numa decisão estrangeira ou
num título extrajudicial, a mesma não seja instaurada no tribunal do domicilio do demandado
(89º/1/1ª parte);
I-numa execução para entrega de coisa certa ou por dívida com garantia real, a mesma não seja
proposta, respetivamente, no tribunal onde a coisa se encontra ou no tribunal da situação dos
bens onerados (89º/2);
J- Nos processos cuja decisão não seja precedida de citação do requerido (104º/1/c)) e nas
causas que, por lei, deveriam decorrer como dependência de outro processo (104º/1/c)).
Arguição- o artigo 103º/1 mostra que a incompetência tem de ser arguida dentro de um certo
prazo (sob pena de sanação), sendo esse prazo fixado para a contestação, oposição ou resposta
ou para outro meio de defesa que o réu tenha a faculdade de deduzir.
-Se a incompetência for arguida na contestação, o autor pode responder no articulado
subsequente da ação (no processo comum, a réplica), e, não havendo, em articulado próprio
(103º/2), devendo as partes indicar as provas com o articulado da arguição da incompetência
(103º/3).
-Depois de produzida a prova, o juiz decide a questão da competência relativa (105º/1),
podendo fazê-lo em despacho próprio ou no despacho saneador (595.º/1/a)). Depois de
transitada em julgado, esta decisão resolve a questão da competência (105º/2), sendo que o
tribunal considerado competente é aquele para onde se remete o processo (105º/3), e está
vinculado a aceitar essa competência (exceção da regra Kompetenz-Kompetenz).
Se a incompetência se verificar num tribunal de recurso, o prazo para a arguição é de 10 dias a
contar da primeira notificação que for feita ao recorrido ou da primeira intervenção que tiver
no processo (108º/1), sendo aplicáveis as regras aplicáveis à primeira instância com as
necessárias adaptações (108º/2).
Efeitos -os efeitos da procedência da exceção dilatória de incompetência relativa esgotam
aqueles que estão previstos no artigo 576º/2 e o processo é remetido para o tribunal
competente (105º/3).
-Da decisão que aprecie a competência relativa cabe reclamação para o presidente da respetiva
Relação (105º/4).
A decisão tem efeito sobre todos os réus em caso de pluralidade de réus (106º/1ª parte), e,
sendo deduzida apenas contra um dos réus, pode ser contestada por qualquer um (106º/2.ª
parte), aplicando-se a mesma regra da incompetência absoluta quanto ao domicilio dos réus.
-Na incompetência relativa, ao contrário da incompetência absoluta, é admissível que se
profira uma decisão de mérito favorável ao demandado (278º/3/2.ª parte), uma vez que não se
trata de um pressuposto processual absoluto.

Competência internacional
As fontes europeias relativas á competência interncional dos tribunais portugueses são as
seguintes:
A-Reg. 1215/2012, aplicável à generalidade das matérias civis e comerciais; B-Reg. 2210/2003,
aplicável às ações de divórcio, de separação e de anulação do casamento e às ações relativas à
atribuição, ao exercício, à delegação, à limitação ou à cessação da responsabilidade parental;
C-Reg. 4/2009, aplicável em matéria de obrigações alimentares decorrentes de relações de
família, de parentesco, de casamento ou de afinidade; D-Reg. 2016/1103; E-Reg. 650/2012; F-
Reg. 2015/848 que pouco se levantam no estudo deste semestre.
Fontes Internas
-Na falta de aplicação de uma fonte europeia ou internacional ( que prevalece sobre o direito
interno) a competência internacional dos tribunais portugueses é regulada pelo disposto nos
artigos 59º, 62º, 63º e 94º.
Regras de competência
Regras atributiva -correspondem à generalidade das regras sobre a competência internacional
atribui competência aos tribunais de um Estado – regras com uma função atributiva –, os
tribunais tornam-se competentes para apreciar uma causa, existem no entanto regras
privativas que retiram a competência internacional aos tribunais de um Estado em situações
que estes tribunais seriam institucionalmente competentes.
-Esta função privativa decorre quer da relevância atribuída a pactos privativos de jurisdição,
quer de regras que bloqueiam a propositura ou a pendência de uma ação quando há outro
tribunal internacionalmente competente para apreciar essa mesma ação.
Necessidade de conexão
Elementos de conexão- a atribuição de competência internacional aos tribunais de um Estado
pressupõe que a causa apresenta um ou vários elementos de conexão com a ordem jurídica
desse Estado, sendo elementos de conexão: lugar da situação de bens; lugar do cumprimento
da obrigação; lugar da ocorrência do dano; o domicílio do demandado e a vontade das partes. -
Estes elementos são escolhidos em função de diversos interesses, como a boa administração
da justiça; a efetividade da tutela processual: a harmonia das decisões sobre um litígio
interesse das partes/proteção das partes mais fracas e a proximidade com o litigio.
Competência exorbitante-nem sempre os legisladores nacionais observam a regra de que a
aferição da competência internacional se deve basear numa conexão razoável com o Estado de
foro (fala-se nestes casos de uma competência internacional exorbitante).
Modalidades da competência
Direta vs. Indireta
-A competência direta é a competência que, em relação a ações com elementos de
estraneidade, pertence aos tribunais de um Estado (esta competência releva para o
proferimento de decisões, pelo que constitui um pressuposto processual numa ação
declarativa ou executiva.
A competência indireta é a competência que um Estado reconhece aos tribunais de outro
Estado; releva para o reconhecimento de uma decisão estrangeira (980º c) p.e.) e releva, por
isso, na execução dessa decisão no Estado do reconhecimento.
Concorrente vs. Exclusiva
-A competência concorrente verifica-se quando, para uma mesma ação, há vários tribunais
internacionalmente competentes, pelo que o autor pode escolher qualquer dos tribunais
competentes para propor a ação, MIGUEL TEIXEIRA DE SOUSA alerta que a competência
concorrente possibilita que um dos interessados instaure uma ação de apreciação negativa
num dos tribunais competentes com a intenção de bloquear a propositura de outra ação pelo
outro interessado num outro tribunal igualmente competente: as chamadas ações torpedo.
-A competência exclusiva ocorre quando, de acordo com o direito interno, um regulamento
europeu ou uma convenção internacional, apenas um tribunal é considerado
internacionalmente competente (caso do art 63 do CPC ou quando Portugal for
internacionalmente competente pelo art 24), releva não só como pressuposto processual
numa ação, mas também como obstáculo à validade de um pacto de jurisdição (94º/3 d); e ao
reconhecimento de uma decisão estrangeira proferida por um outro tribunal (980º c).
Legal vs. Convencional
-Distinção assenta no facto de o fundamento da competência, ser um qualquer ato normativo
(regra de direito interno, regulamento europeu, convenção internacional), ou uma convenção
celebrada pelos interessados, através da qual atribuam ou privem o tribunal de um
determinado Estado da competência de apreciar uma ação (na ordem jurídica portuguesa
estes designam-se pactos de jurisdição -art 94) e serão respetivamente atributivos ou
privativos da competência
Competência convencional
-O pacto de jurisdição produz um efeito processual: a atribuição de competência ao tribunal
designado, e quando esta foi atribuída de forma exclusiva, vincula as partes a litigarem nesse
tribunal, sendo que a violação do pacto, pode originar a obrigação de indemnização da
contraparte.
-O pacto é vinculativo para as partes que o celebraram e em caso de cessão da posição
contratual, o pacto torna-se igualmente válido para o cessionário.

Regulamento 1215/ 2012


Objetivos-este visa facilitar a livre circulação de decisões em matéria civil e comercial através
da unificação das regras de competência judiciária, bem como ao reconhecimento e execução
de decisões.
Âmbito de aplicação-para que se aplique o regulamento têm de se encontrar verificadas as
condições para que possamos concluir que o caso cai ainda no seu âmbito de aplicação.
A-Âmbito material
-Esta é tratada no art 1 do Regulamento que estabelece a sua delimitação positiva e negativa
Delimitação positiva-“é aplicável em matéria civil e comercial, independentemente da natureza
da jurisdição” (ou seja do tribunal que é competente na ordem interna), seja este um tribunal
civil, comercial, laboral, penal etc.
A matéria civil e comercial que delimita o âmbito de aplicação do regulamento deve ser
interpretada autonomamente, mesmo que seja contra uma autoridade pública.
-Nas situações de concurso de pretensões, pode suceder que apenas uma delas caia no âmbito
de aplicação do Reg 1215, pelo que este não deixa de ser aplicado na pretensão que caia no
seu âmbito, cabendo ao direito interno do Estado do foro, verificar se o tribunal também é
competente para as demais pretensões concorrentes (regime semelhante para os pedidos
alternativos).
Delimitação negativa- esta é feita no art 1nº1 (2ªparte) e no art 1nº2, sendo que o
Regulamento não se aplica: A-responsabilidade do Estado por atos e omissões no exercício da
autoridade (art 1nº1); B-matérias fiscais, aduaneiras e administrativas (art 1 nº1); C-o Estado e
a capacidade das pessoas singulares, os regimes de bens do casamento e as relações que de
acordo com a lei que lhes seja aplicável segundo as regras de conflito do Estado de foro
produzam efeitos semelhantes ao casamento (art 1nº2); D-as falências, concordatas e
processos análogos (art 1nº2); E-segurança social (art 1nº2); F-obrigações de alimentos
decorrentes de uma situação familiar (art 1nº2); F-testamemtos e sucessões (art 1nº2)
Processos arbitrais-o Reg 1215 também não é aplicável à arbitragem (art 1 nº2 al)d, não se
aplica assim a este tipo de ações nem a processos conexos relativos, nomeadamente a criação
de um tribunal arbitral, aos poderes do árbitro, á condução do processo arbitral, ou a
quaisquer outros aspetos desse processo, nem a ações ou decisões em matéria de anulação,
revisão, recurso, reconhecimento ou execução de sentenças arbitrais.
Isso não obsta a que os tribunais não possam conhecer sobre se a convenção é nula, ineficaz
ou insuscetível de aplicação (art 73 nº2), assim o tribunal competente segundo o regulamento
pode apreciar a convenção e segundo essa apreciação confirmar ou negar a sua competência.
B-Âmbito espacial-as regras sobre a determinação da competência presentes no Reg 1215
serão em princípio apenas aplicáveis quando o demandado tiver domicílio ou sede num EM
(regra geral do art 6nº1).
-Em regra não sendo o demandado domiciliado num EM, o Reg não é aplicável, existindo no
entanto algumas exceções, como as competências especiais -art 7 e ss e as competências
exclusivas (art 24).
-Se o demandado tiver domicílio num Estado terceiro e não se aplicar o regulamento, qualquer
pessoa domiciliada num EM pode invocar contra o requerido as regras de competência do
Estado do foro, mesmo as respeitantes a competências exorbitantes (art 6nº2).
Domicílio do demandado-a determinação deste é feita de acordo com as regras dos arts 62 e
63 do Regulamento 1215: A-o juiz da causa aplica a lei interna para saber se a parte têm ou não
domicilio no seu próprio Estado e a lei interna de um outro Estado para determinar se a parte
têm domicilio nesse EM (art 62 nº2) -esta segunda parte apenas quando não se aplique o
critério geral (de que o tribunal competente é o do domicilio do demandado).
-as sociedades e pessoas coletivas têm domicilio no lugar em que tiverem a sua sede social, a
sua administração central ou o seu estabelecimento principal (art 63nº1).
Reconhecimento e execução-o Reg1215 é aplicável ao reconhecimento e execução de
quaisquer decisões proferidas num dos EM (art 2al)a, mesmo que a decisão tenha resultado de
uma competência que não foi aferida pelo Regulamento.
C-Âmbito temporal-a generalidade das disposições é aplicável a partir de 10/01/2015 (art 81) e
as disposições relativas ao reconhecimento de decisões, a partir de ações instauradas após
essa data (art 66nº1).
Competência territorial-MTS fala-nos da “dupla funcionalidade” de algumas das normas do
Regulamento que aferem não só o tribunal internacionalmente competente, como o Tribunal
territorialmente competente (art 7; 12; 13; 18nº1 e 21 al)b.
-Não obstante a generalidade dos preceitos, limita-se a atribuir competência internacional a
um EM, sendo o que acontece por exemplo com o critério geral do art 4; com os critérios que
determinam a competência exclusiva (art 24) e com a competência convencional (art 25nº1).
Nestes casos em que o Regulamento não tem a “dupla funcionalidade”, então há que proceder
à determinação do tribunal territorialmente competente: A-em primeiro lugar pelas regras dos
arts 70 a 82 do CPC, se em função do objeto da causa, é possível atribuir a competência a um
Tribunal Português; B-determinar o tribunal competente de acordo com o critério do art 80 nº3
do CPC.
Critério geral
-No regulamento afere-se a competência de forma distinta consoante o réu tenha domicílio
num dos EM ou resida fora de qualquer um desses.
Domicílio intraeuropeu-se o demandado tiver domicílio num dos EM a competência afere-se da
seguinte forma:
A-o réu domiciliado num EM deve ser demandado nesse EM, independentemente da sua
nacionalidade e da nacionalidade do autor do (art 4nº1 e nº2)
B-a pessoa domiciliada num EM só pode ser demandada noutro EM se tal resultar de uma
competência especial ou de um pacto de jurisdição (art 5nº1), não podendo contra esses ser
aplicadas quaisquer outras regras de Direito nacional dos EM que estabeleçam competências
exorbitantes (art 5nº2).
Domicílio extraeuropeu-se o demandado não tiver domicílio num EM, observam-se as
seguintes regras:
A-Competência é regulada pela lei interna do Estado do foro, sem prejuízo das situações em
que não se exige que o demandado tenha domicílio num EM para ser aplicáveis as regras de
competência do Regulamento (art 6nº1)
B-Contra um demandado com domicílio num Estado terceiro (que não o EM), pode ser
invocadas quaisquer regras de competência vigentes nesse Estado, mesmo que sejam
consideradas exorbitantes à luz do Regulamento e não pudessem ser aplicadas contra um
demandado com domicilio num EM.
Critérios especiais
Generalidades
-Mesmo o réu domiciliado num EM pode ser demandado nos tribunais de outro EM se este for
um dos casos de competências especiais previstos no Regulamento (art 7 a 26), aqui entende-
se existir um fator de conexão ao Tribunal de outro Estado, pelo que também lhe é atribuída
competência.
-A competência que é estabelecida em critérios especiais, concorre com a que é estabelecida
no critério geral (art 4nº1), pelo que com exceção aos casos de competência exclusiva (art 24),
o autor pode escolher qualquer dos tribunais (aquele que é competente pela regra geral ou
pelas regras especiais).
Estrutura das competências especiais
A-normas avulsas sobre competências (arts 7 a 9)
B-norma remissiva quanto à competência para o proferimento de medidas provisórias e
cautelares (art 35)
C-normas que visam proteger a parte mais fraca numa determinada relação (art 10 a 23)
A-Matéria contratual -art 7 nº1 al)a
-Em matéria contratual é competente o Tribunal onde a obrigação foi ou devia ser cumprida
(art 7nº1 al)a.
-Este preceito é aplicável: A-às ações relativas ao cumprimento do contrato (mesmo que de
existência controversa), B-às ações respeitantes à validade e eficácia do contrato; C-ações
relativas à modificação e ao termo do contrato
Regime europeu-para a determinação do lugar do cumprimento da obrigação, há que atender
à obrigação contratual que constitui o fundamento da ação juidicial.
-O art 7nº1 al)b oferece-nos ainda alguns critérios para esta determinação do lugar do
cumprimento da obrigação, sendo: A-no caso de venda o lugar onde os bens foram ou deviam
ter sido entregues; B-no caso de prestação de serviços o lugar onde estes foram ou deviam ter
sido prestados.
-Na hipótese de aplicação do art 7nº1 al)b: A-na hipótese de várias prestações deverem ser
realizadas em vários EM é competente o tribunal onde dever ser realizada a prestação
principal; B-em caso de pluralidade de lugares de entrega do mesmo bem, o tribunal
competente é o do lugar da entrega principal.
-a regra que consta do 7nº1 al)b não se aplica: A-quando o contrato não for de compra e
venda, nem de prestação de serviços; B-quando apesar de o ser o lugar do cumprimento se
situar num Estado terceiro.
-nestas situações o lugar do cumprimento da obrigação é determinado pelas normas do Estado
do foro
-Esta regra de competência do art 7nº1 em matéria contratual não pode ser aplicada se o lugar
do cumprimento da obrigação que serve de fundamento à ação não puder ser determinado
(por esta consistir por exemplo numa obrigação de não fazer).
B-Matéria extracontratual -art 7nº2
-nestas situações o réu pode ser demandado no local onde ocorreu o facto danoso (art 7nº2),
sendo esta regra aplicável mesmo à “açã negativa” -aquela que declara a inexistência de
responsabilidade extracontratual, apenas é indispensável que exista um elemento de conexão
particularmente estreito entre o litigio e o tribunal do local onde ocorreu o facto danoso.
-No conceito de matéria extracontratual deve caber tudo o que não se inclua no âmbito de
matéria contratual (art 7nº1), pelo que se aplica a todas as obrigações extracontratuais, sejam
estas decorrentes de facto lícito, ilícito ou do risco.
Lugar do facto danoso
-como lugar do dano é relevante aquele em que o demandado (e não um terceiro), tenha
alegadamente praticado o facto que lhe é imputado.
-Não obstante, este pode ser muito variado consoante o facto danoso (ver pag 191 MTS)
-se o lugar do facto danoso, não coincidir com o lugar onde se produziu ou poderá produzir o
dano, a ação pode também ser instaurada neste último:
A-violação de direitos de personalidade na imprensa (este pode ser demandado no Estado de
domicilio do editor ou nos Estados onde a publicação foi difundida (neste caso apenas pelos
danos sofridos no Estado do foro).
B-violação de direitos de personalidade através da Internet-aqui a pessoa pode intentar uma
ação pela totalidade dos danos causados, quer no Tribunal do EM onde foram emitidos os
conteúdos, quer no Tribunal onde se situa o centro dos seus interesses, podendo ainda
intentar em cada EM em que os conteúdos estiveram acessíveis (mas apenas pelos danos
nesse causados).
C-violação de direitos de autor
D-violação de marca registada
E-violação de contrato de distribuição
Concurso de responsabilidades-TJ já entendeu que um Tribunal que é competente para
conhecer de uma ação que têm um fundamento extracontratual, não é competente para
conhecer de outras partes da mesma ação com base em fundamentos não extracontratuais.
-Assim em situações de concurso de responsabilidade delitual e contratual, a parte que é
competente para apreciar uma delas, pode não o ser para apreciar a outra.
C-Processo de adesão -art 7nº3
-Para apreciar ações de indemnização ou de restituição fundadas numa infração penal é
competente o tribunal onde foi intentada a ação pública, se a lei desse EM permitir conhecer
da ação cível (não afasta a aplicação do critério geral -art 4 e do critério especial -art 7nº2),
apenas acrescenta mais um tribunal competente.
D-objeto cultural -art 7nº4
-A ação destinada à recuperação de objeto cultural, fundada no direito de propriedade e
intentada pela pessoa que reclama o direito de recuperar esse objeto, pode ser proposta pelo
tribunal do lugar em que se encontrar o objeto no momento da sua instauração (art 7nº4).
E-exploração de sucursal -art 7nº5
-Em ações relativas à exploração de uma sucursal, de uma agência ou de qualquer outro
estabelecimento, o tribunal onde estes se encontram têm competência para apreciar a ação
(mesmo que proposta contra a casa-mãe) art 7nº5, o que não impede que a “casa-mãe” possa
ser demandada no EM onde têm a sua sede (fruto da aplicação do critério geral do art 4).
Elemento de conexão-esta regra é exclusiva dos litígios respeitantes à exploração da
sucursal/agência ou outro estabelecimento.
F-ação relativa a trust -art 7nº6
se a ação disser respeito às relações internas de um trustee constituído e este não respeitar a
matérias excluídas do âmbito do Regulamento 1215, então o fundador/ trustee ou beneficiário
que for demandado nessa qualidade, também o pode ser no tribunal em que o trust têm o seu
domicílio.
G-competência por conexão-art 8
-a competência de um Estado pode ser alargada através de uma conexão estabelecida em
função das partes ou do objeto da causa.
Este regime só é aplicável se os demandados tiverem todos domicilio no EM (art 6nº1) e só é
relevante se o demandado não tiver domicilio no Estado da ação, caso contrário o Tribunal já
seria competente (art 4nº1).
Pluralidade de demandados (art 8nº1)
-se a ação for proposta contra vários réus (todos domiciliados em EM), todos podem ser
demandados no tribunal do domicilio de um deles, desde que os pedidos estejam ligados entre
si por um nexo tão estreito que haja interesse em que sejam instruídos e julgados
simultaneamente para evitar soluções que poderiam ser inconciliáveis se as causas fossem
julgadas separadamente (quando por exemplo a decisão tenha de ser uniforme relativamente
a todos os demandados).
Intervenção de terceiros (art 8nº2)
-qualquer garante ou terceiro pode ser chamado a intervir numa ação pendente, no tribunal
onde esta foi intentada, salvo se a escolha do tribunal onde a ação foi proposta tiver tido o
único e exclusivo intuito de subtrair o terceiro á jurisdição do tribunal que seria competente.
Pedido reconvencional (art 8nº3)-tratando-se de um pedido reconvencional que derive do
contrato ou do facto que constitui a causa de pedir da ação principal, é competente o tribunal
no qual esta ação se encontrar pendente (nunca podendo este pedido reconvencional ser
incompatível com o próprio Regulamento, por p.ex incidir sobre matéria que é competência
exclusiva à luz do art 24 de outro EM).
-o preceito será igualmente aplicado mesmo que o autor reconvindo não tenha domicilio num
EM (apesar do art 8 apenas falar pessoa com domicilio num EM).
Este art não é aplicável à compensação quando esta constituir um mero meio de defesa.
H-medidas provisórias e cautelares (art 35)
-Dispõe o art que as medidas provisórias (incluindo cautelares), previstas na lei de um EM
podem ser requeridas no Tribunal desse Estado (se este for competente segundo as suas regras
de competência), mesmo que a ação principal já se encontre pendente no Tribunal de outro
EM, que o tribunal competente para conhecer da ação principal seja um tribunal arbitral ou
decorra de um pacto de jurisdição.
-Noção de medidas provisórias e cautelares, deve ser interpretado autonomamente e deve
entender-se que diz respeito aquelas medidas que se destinam a manter uma situação de facto
de fundo.
Condições de aplicação
-Para que se aplique a regra de competência prevista no art 35, devem verificar-se as seguintes
condições:
A-medidas cautelares devem caber no âmbito de aplicação material (definido no art 1nº1 e 2),
sendo que o que releva é a matéria a que as próprias providências respeitam e não a matéria
da ação principal.
B-o demandado deve ter domicilio num EM (exceto nos casos do art 6 em que o Reg é aplicável
havendo domicilio extra-europeu.
Opção do requerente
Art 35 permite que o requerente da providência cautelar opte por:
A-requerer a providência cautelar, junto do Tribunal competente segundo os critérios do
Regulamento 1215 -onde o tribunal poderá decretar providências cautelares, tanto quanto a
bens situados no Estado do foro quanto a bens situados noutros EM (art 2al)a 2ªparte.
B-Requerer a medida cautelar no Tribunal de um EM que não seja competente pelo
Regulamento, mas que o seja segundo o seu direito interno quanto a bens situados no seu
território.
-Apesar do requerente poder escolher, apenas as medidas decretadas pelo Tribunal que é
competente para conhecer do mérito da causa (segundo o Regulamento 1215), podem sere
executas noutros EM.
Não obstante o TJUE (de forma discutível segundo MTS), já entendeu que a apreciação de uma
medida cautelar por um Tribunal competente para apreciar do mérito da causa, não obstaria a
que os outros deixassem de ser competentes para apreciar tais medidas.
Critérios específicos
Generalidades
-Em nome da proteção devida a certas partes (consumidores, trabalhadores, segurados) o
Regulamento prevê algumas regras específicas (arts 10 a 23).
-Estas em primeiro lugar estabelecem uma competência assimétrica, na medida em que os
segurados, consumidores e os trabalhadores só podem ser demandados no Tribunal do seu
domicílio (art 14 nº1; 18 nº2 e 22 nº1), mas podem demandar quer nos tribunais do seu
domicílio, quer noutros.
-A sua proteção impõe também que se estabeleçam regras quanto à validade dos pactos de
jurisdição (arts 15, 19 a 23).
Âmbito de aplicação
-Estas regras específicas, só se aplicam se o demandado tiver domicílio num EM (como indicam
as ressalvas dos arts 10; 17 nº1 e 20 nº1), sendo que tal como decorre do 11 nº2, do 17nº2 e
do 20 nº2 o regime também se aplica se o demandado tiver uma sucursal num EM (mesmo
que não seja a parte mais fraca).
A-Matéria de seguros (arts 10 a 16)
Âmbito de aplicação
Âmbito material -aplica-se às ações cujo fundamento seja uma relação de seguro cujo objeto
respeite o domínio material do Regulamento, incluindo sempre que a lei do Estado de foro o
admita, a ação intentada diretamente contra o segurador (art 13 nº2).
Âmbito espacial -disposições em matéria de competência de seguros são aplicáveis sempre
que o segurado tenha domicílio num EM (art 11 e art 4).
Se o demandado for o segurador, mesmo que não seja domiciliado num EM, se possuir
sucursal, agência ou qualquer outro estabelecimento num EM, é considerado como
domiciliado no EM sede (da sucursal, agência ou outro estabelecimento) para os litígios que
digam respeito à sua exploração -art 11nº2.
Aferição da competência
-Quanto às ações intentadas contra o segurador:
A-Segurador domiciliado num EM pode ser demandado nos tribunais do Estado do seu
domicílio (art 11nº1 al)a, do estado em que se considerar domiciliado (nos termos do 11nº2);
B-no tribunal em que o tornador de seguro, segurado ou beneficiário tiver residência em casos
de ações propostas por estes (art 11 al)b;
C-no tribunal em que tiver sido demandado o segurador principal em casos de co-segurador
(art 11nº1 al)C.
D-se o segurador (domiciliado num EM), possuir sucursal, agência ou outro estabelecimento
num outro EM, poderá também ser demandado no tribunal do lugar em que essa sucursal,
agência ou estabelecimento se encontre, nos litígios respeitantes à sua exploração (art 7 nº5).
E-o segurador pode ainda ser demandado no local em que ocorreu o facto danoso para,
quando se trate de um seguro de responsabilidade civil, de um seguro que diga respeito a bens
imóveis ou de um seguro que incida simultaneamente sobre bens móveis e imóveis cobertos
pela mesma apólice e atingidos pelo mesmo sinistro (art 12)
-Já as ações intentadas pelo segurador
A-segurador só pode propor ações nos tribunais do EM em que o demandado tiver domicilio,
independentemente de ser o demandado o tomador de seguro, o segurado ou o beneficiário
(art 14 nº1), o que não impede que o segurador apresente um pedido reconvencional no
tribunal em que tiver sido a ação principal intentada (art 14 nº2), desde que o pedido
reconvencional seja feito nos termos do art 8nº3.
Competência convencional
A validade de um pacto de jurisdição relativamente a este tipo de litígios é limitada nos termos
do art 15, sendo que depende de: A-pacto ser posterior ao surgimento do litígio (15nº1);
B-pacto permitir ao autor da ação contra o segurador recorrer a tribunais que não os
legalmente indicados (art 15 nº2); C-contrato seja entre o tomador de seguro e segurador com
domicilio num mesmo EM, e tem por efeito atribuir competência a esse Estado, mesmo que o
facto danoso ocorra no estrangeiro, salvo se a lei desse Estado não permitir tal pacto (art 15
nº3); D-pacto concluído por um tomador de seguro que não tem domicilio num EM, salvo se
se tratar de um seguro obrigatório ou relativo a um imóvel sito num EM (art 15 nº4); E-Digam
respeito a um contrato de seguro que cubra um ou mais dos riscos previstos no art 16.
Matéria de consumo (art 17 a 20)
Âmbito material
-Diz respeito a ações relativas a contratos de consumo (art 17 nº1), isto é contratos celebrados
por uma pessoa singular, para uma finalidade que possa considerar-se estranha à sua atividade
comercial ou profissional, com outra que haja no quadro da sua atividade comercial ou
profissional.
As regras não se aplicam ao contrato de transporte, com exceção dos contratos de
fornecimento de uma combinação de transporte e alojamento por um preço global (art 17 nº3)
Âmbito espacial
-As regras sobre competência relativas a contratos de consumo apenas se aplicam quando o
demandado tiver domicilio num EM (seja este o profissional ou consumidor) -art 17 nº1; sendo
que o co-contratante do consumidor que não possua domicílio num EM mas que possua
sucursal, agência ou qualquer outro estabelecimento num daquele Estados, é considerado nos
litígios respeitantes à sua exploração domiciliado nesse EM (art 17 nº2).

Âmbito contratual
-Existe contratos a que o regime é aplicável sem mais (art 17 nº1 al)A e B, em relação aos
outros contratos este regime de competência é aplicável se o contrato tiver sido concluído com
uma pessoa que têm atividade comercial ou profissional no EM do domicilio do consumidor ou
dirige essa atividade por quaisquer meios a esse EM ou a vários EM incluindo esse e o contrato
diga respeito a essa atividade (art 17 nº1 al)c.
Regras de competência
Ações intentadas pelo consumidor
Este pode intentar ações quer nos tribunais do domicílio da outra parte, quer do seu (mesmo
que a outra parte tenha domicílio num Estado terceiro) -art 18 nº1.
Se a outra parte tiver sucursal, agência ou qualquer outro estabelecimento num EM que não
seja o seu domicílio, o consumidor pode demandá-la nesse EM (art 17nº2 e 7nº5) nos litígios
Ações intentadas pela outra parte
-Esta só pode intentar ações contra o consumidor nos Tribunais do EM em que este tiver
domicilio (art 18 nº2), o que não prejudica a possibilidade de pedido reconvencional no
tribunal em que tiver sido intentada a ação principal (art 18 nº3).
Competência convencional
A validade dos pactos de jurisdição nestes casos, é também limitada pelo art 19, apenas
valendo caso: A-sejam posteriores ao litigio (art 19 nº1); B-permita ao consumidor recorrer a
tribunais que não os indiciados no Regulamento (art 19nº2); C-ambos (consumidor e co-
contratante tenham domicilio ou residência habitual num mesmo EM e as partes atribuam
competência a esse mesmo EM (salvo se a lei desse Estado não o permitir -art 19 nº3).
Matéria laboral (arts 20 a 23)
Âmbito material -respeita às ações que têm por fundamento contratos individuais de trabalho
Âmbito espacial -normas de competência só são aplicáveis se o demandado tiver domicilio
num EM (art 20 nº1 e 4 nº1), contudo a entidade patronal que não esteja domiciliada no
território de um EM, mas que possua filial ou qualquer outro estabelecimento num daqueles
Estados, considera-se quanto aos litígios respeitantes à sua exploração como ai domiciliada (art
20nº2).
Em nome da proteção do trabalhador, aceita-se que em certas condições, possa o trabalhador
demandar nos tribunais do seu domicílio, uma entidade patronal com domicílio num Estado
terceiro (art 21 nº2) -nos termos do 20 nº1 al)b
O trabalhador pode demandar a entidade patronal:
A-nos tribunais do domicilio da entidade patronal (art 21 nº1 al)A;
B-no tribunal do local onde o trabalhador efetua habitualmente o seu trabalho ou o efetuou
mais recentemente (art 21 nº1 al)b l (aqui é importante determinar a prestação característica
do trabalho;
C-no tribunal do local onde se situava o estabelecimento que contratou o trabalhador (no caso
deste não efetuar habitualmente o seu trabalho no mesmo local) -art 21 nº1 al)b ll.
D-no local onde possua agência, sucursal ou outro estabelecimento se o litigio respeitar à sua
exploração (art 20 nº2 e 7 nº5).
MIGUEL TEIXEIRA DE SOUSA sublinha que pode um trabalhador demandar várias entidades
patronais, desde que os pedidos estejam ligados entre si por um nexo tão estreito que haja
interesse em que sejam instruídos e julgados simultaneamente para evitar decisões
incompatíveis que poderiam ser tomadas se estes fossem julgados separadamente (art 8nº1).
A entidade patronal pode demandar o trabalhador
-Apenas nos tribunais do Estado domicilio deste (art 22 nº1), sem prejuízo da admissibilidade
de pedido reconvencional (art 22 nº2)
Competência convencional
-O art 23 limita a admissibilidade dos pactos de jurisdição aos casos em que:
A-pacto seja posterior ao litigio (art 23 nº1)
B-Permita ao trabalhador recorrer a tribunais que pelo Regulamento não poderia (art 23 nº2).
Competência exclusiva
Caráter universal-o art 24 enumera os casos de competência exclusiva dos EM, sendo que esta
prevalece sobre a competência determinada por qualquer critério geral ou especial (arts 4 e 7
a 23) e impede a celebração de um pacto de jurisdição (art 25 nº4), sendo a sua violação de
conhecimento oficioso (art 27) e constitui um impedimento ao reconhecimento de uma
decisão proveniente de outro EM (art 45 nº1 al)e l e ll.
-Esta é independente do domicílio do demandado (art 24 nº1), pelo que se mantém mesmo
que o demandado não seja domiciliado num EM.
-A sua razão de ser é um juízo de que existe um nexo de ligação particularmente estreito entre
um litigio e um EM.
Caráter unilateral-esta não é bilateralizável, ou seja não é aplicável quando se verifique o
elemento de conexão (um dos previstos no art 24) em relação a um Estado terceiro (quando
um dos factos previstos no Reg atribui competência a um Estado que não é EM não se
considera por força do Regulamento que este têm competência exclusiva.
Enunciado
Ações reais
-Em matéria de direitos reais sobre imóveis e ações de arrendamento de imóveis, são
exclusivamente competente os tribunais do EM onde se encontre o imóvel (art 24 nº1 (1
parágrafo), exceto em algumas situações (art 24 nº1 (2 parágrafo)).
-Não basta que a ação diga respeito a um direito real sobre imóveis ou que a ação se prenda
com um imóvel, mas sim que esta se baseie num direito real (dotado de eficácia erga omnes)
Execução de decisões
-Em matéria de execução de decisões, é exclusivamente competente o Estado do local da
execução (art 24 nº5).
Constituição de sociedades
Em matéria de validade da constituição, de nulidade ou de dissolução das sociedades ou outras
PC que tenham a sua sede no território de um EM, bem como de validade de decisões dos seus
órgãos, são exclusivamente competentes os Tribunais desse Estado (art 24 nº2).
Inscrições em registos públicos
-Aqui são competentes os tribunais do EM em cujo território se verificarem esses registos (art
24 nº3).
Patentes, marcas, desenhos, modelos e direitos análogos
-serão competentes os Tribunais do EM, em cujo território o depósito ou o registo tiver sido
requerido, efetuado ou considerado efetuado nos termos de um instrumento europeu ou de
uma convenção internacional (art 24 nº4)
Pactos de jurisdição
Âmbito de aplicação
Regime previsto no art 25 aplica-se sempre que o acordo atribua competência ao tribunal ou
aos tribunais dos EM (art 25 nº1 1ªparte).
O TJUE já disse que basta que a convenção identifique elementos objetivos sobre as quais as
partes acordaram para escolher o tribunal competente, desde que elas sejam suficientemente
precisas para que o Tribunal possa determinar a sua competência.
Delimitação
-É irrelevante o domicilio das partes que celebraram o pacto, embora seja necessário que seja
designado o tribunal de um EM (art 25 nº1 1ªparte, distinguindo MTS consoante:
A-ambas as partes sejam domiciliadas num EM: se o pacto atribuir competência a outro EM ele
inclui-se no âmbito do 25, caso contrário (se se convencionar a competência do próprio
Estado), a convenção só se inclui no 25 se derrogar a competência de outro EM.
B-quando se convenciona a competência de um Estado terceiro, não se aplica o art 25.
Validade do pacto
-Os pactos de jurisdição (art 25) só serão válidos nas seguintes condições:
A-não derroguem nenhuma competência exclusiva (art 25 nº4);
B-não contrariar as regras mais exigentes que valem para os pactos de jurisdição em matéria
de seguros (art 15); contratos de consumo (art 19); contrato individual de (art 23).
Requisitos gerais
-Este é um contrato entre as partes que deve por isso respeitar todos os requisitos quanto á
formação dos contratos, sendo que todos os aspetos não regulados pelo 25 (todos os que se
referem a aspetos materiais do pacto) e que não sejam incompatíveis com o 25, serão
regulados pela lei interna do Estado de Foro, não se pode é nas partes reguladas pelo 25
acrescentar outros requisitos de validade (pela lei interna)
Quanto ao objeto: deve o pacto indicar a relação jurídica da qual surgiram ou poderão surgir os
litígios que serão objeto do processo (art 25 nº1 1ª parte); e indicar qual o tribunal competente
para a apreciação da causa (art 25 nº1 1ª parte).
A sua interpretação, cabe ao é da competência do tribunal da ação pelo que é realizado de
acordo com a lei do EM.

Requisitos formais
-Este vêm regulados nos arts 25 nº1 al)a; b; c e nº2.
Autonomia do pacto
-Pacto que atribui jurisdição é independente do contrato que lhe dá origem (art 25 nº5 2ª
parte), pelo que se a validade dos mesmos não pode ser contestada apenas com o fundamento
de que o contrato não é valido.
Nulidade do contrato não impede o funcionamento da cláusula se esta for válida (nos termos
do 25 e da lei do Estado designado).
-O regime previsto no art 25 atribui ao Tribunal designado a Kompetenz-Kompetenz na medida
em que é este que analisa a validade do pacto que lhe atribui competência.
Efeitos processuais
-Este produz um efeito atributivo e um efeito derrogatório.
O pacto atribui em principio, uma competência exclusiva ao tribunal designado (art 25 nº1
(2ªparte), não obstante é também possível que este atribua uma competência alternativa, que
atribui a qualquer das partes a possibilidade de escolha entre o tribunal designado no pacto e
o tribunal competente segundo o Reg 1215, ou entre dois tribunais designados no pacto
(dependendo esta hipótese de convenção das partes nesse sentido -art 25 nº1 (2ªparte).
MIGUEL TEIXEIRA DE SOUSA entende ser possível que se estabeleça que o pacto só beneficia
uma das partes (a única que goza da possibilidade de escolha).
A competência estabelecida no pacto, abrange também a competência para avaliar qualquer
reconvenção que seja deduzida pelo demandado.
Efeitos substantivos
-O pacto de jurisdição é vinculativo para as partes, podendo em alguns casos ser vinculativos
para terceiros (não parece relevante mas pag 219 do MTS).

Pacto tácito de jurisdição (art 26)


Âmbito de aplicação-art 26 nº1, prevê um pacto tácito de jurisdição: se a parte comparecer em
juízo e não arguir a incompetência do tribunal, este torna-se competente para conhecer do
litígio.
Assim esta regra aplica-se a casos em que existe uma ação intentada em violação do que
dispõe o Regulamento 1215 (ou do que está estabelecido num pacto de jurisdição) e implica
que a comparência do demandado no processo possa ser considerada uma aceitação tácita da
competência do tribunal onde foi intentada a ação e, portanto uma extensão da sua
competência.
Este pode valer nos mesmos termos que o 25 (não é necessário que nenhuma parte (autor e
réu tenha domicílio num EM).
Dever de prevenção-a celebração tácita de um pacto de jurisdição não é impedida pela
circunstância de a competência do tribunal da causa não se poder basear numa convenção
celebrada entre as partes pelo facto de o objeto da ação respeitar a matérias relativas a
seguros, ao consumo, ou a contratos individuais de trabalho (art 26 nº2) a que o REG 1215
atribui uma especial proteção.
-Em todo o caso, deve o tribunal assegurar que o demandado seja informado do seu direito de
contestar a competência do tribunal e das consequências de não comparecer em juízo.
Se este deve de prevenção não for cumprido, para Miguel Teixeira de Sousa então deve-se
entender que a falta de contestação da competência não foi eficaz e não há pacto tácito de
atribuição da competência.
Efeito atributivo-se a ação estiver pendente num EM cujos tribunais não são
internacionalmente competentes segundo o Reg 1215, o pacto tácito atribui ao tribunal no
qual a ação se encontra pendente, tanto a competência internacional, como a competência
territorial (entende MIGUEL TEIXEIRA DE SOUSA que nestes caso não se aplicam as regras
internas sobre os pactos de competência).
-Já se a ação for proposta num tribunal de um EM internacionalmente competente, mas que
não é territorialmente competente para MTS cabe distinguir duas situações:
A-competência territorial também é regulada pelo REG (através da dupla funcionalidade) e
neste caso o pacto tácito atribui competência territorial ao tribunal em causa
B-competência territorial é regulada não pelo REG, mas pela lei interna do EM, sendo que
nesta hipótese importará aferir da validade do pacto de atribuição de competência de acordo
com o Direito interno do Estado do Foro.
Exceções ao regime
-Este não se aplica se o réu comparecer em juízo para arguir a incompetência do tribunal ou se
houver um outro tribunal exclusivamente competente (art 26 nº1 (2ªparte).
MIGUEL TEIXEIRA DE SOUSA sustenta que será perfeitamente possível que o demandado
invoque a incompetência do tribunal e simultaneamente se defenda quanto ao fundo (caso em
que a defesa quanto ao mérito não retirará eficácia à contestação da competência, apesar do
art referir “exclusivamente”.
Controlo da competência
Generalidades-é o tribunal em que for intentada a ação que tem competência para apreciar a
sua competência, isto é que beneficia da regra da KOMPETNZ-KOMPENTENZ e apesar de o Reg
não se aplicar à arbitragem (art 1 nº2 al)d, tal não obsta a que o tribunal da causa, para
apreciar a sua competência, se possa pronunciar sobre a validade da convenção arbitral.
Certos factos invocados pelo demandado, podem ser relevantes para o tribunal concluir pela
sua incompetência (dada a relevância dos mesmos para as regras de competência.

Controlo oficioso-o controlo do respeito pelas regras de competência estabelecido no REG


1215, pode ser realizada oficiosamente em duas situações:
A-quando a sai incompetência provém da violação da competência exclusiva dos tribunais de
outro EM estabelecida no art 24 (art 27).
B-quando o réu, domiciliado num EM, não for demandado nos tribunais do Estado do seu
domicilio e, além disso não comparecer em juízo (art 28 nº1).
Consequências-o Regulamento não define as consequências da incompetência do tribunal,
pelo que estas devem ser procuradas no direito interno do Estado de foro.
Litispendência e conexão (art 29 a 34)
Generalidades-é indispensável evitar que estejam pendentes várias ações idênticas quanto ao
objeto e às partes e é conveniente que não sejam julgadas separadamente ações que podem
conduzir a decisões incompatíveis (o que justifica a exceção de litispendência e a apensação de
ações conexas).
-O regime da litispendência (arts 29 e 33), prevalece sobre o regime da conexão (art 30 e 34),
pelo que este só pode ser aplicado se, por falta de identidade ações, não houver motivos para
aplicar aquele primeiro.
Regras comuns
-O regime da litispendência e da conexão de ações, caracteriza-se pelas seguintes regras:
A-irrelevância do domicilio do demandado;
B-imposição de uma regra de prioridade: o tribunal da segunda ação deve considerar-se
incompetente a favor do tribunal da primeira ação (arts 29 nº3 e 30 nº2).
Considera-se que se encontra definitivamente estabelecida a competência do primeiro tribunal
quando este não tenha declarado oficiosamente a sua incompetência, nem nenhuma das
partes a tenha suscitado até ao momento em que haja pela primeira vez lugar à contestação do
mérito da ação, sendo que para MIGUEL TEIXEIRA DE SOUSA esta regra de competência acaba
por favorecer as “ações torpedo” que se destinam a impedir a propositura de ações noutro EM.
Momento da propositura
-Dada a relevância para o funcionamento da exceção de litispendência ou da conexão entre
ações, do momento em que se considera iniciada a pendência de uma ação são fornecidas as
seguintes regras:
A-nos EM em que a entrada do pedido no tribunal se verifica antes de o demandado ser citado
do documento que dá inicio da instância, o processo considera-se pendente na data de entrada
do processo em tribunal, desde que o demandante faça todas as diligências necessárias (32º/1)
1 al)A
B-nos EM em que a citação precede a entrada do processo no tribunal, o processo considera-se
pendente na data em que o processo é entregue à autoridade competente para proceder à
citação, desde que o demandante apresente o ato no tribunal logo que o deva fazer em
aplicação da lei do foro (art 32 º1 1 al)B.
Dever de informação- o artigo 29º/2 enuncia o dever de um tribunal, a pedido do outro, o
informar da data em que a ação lhe foi proposta. Os artigos 33º e 34º preveem a hipótese de
pendência de uma ação num estado terceiro, mas não lhes estende este dever.
Exceção de litispendência
A exceção de litispendência opera quando entre as mesmas partes estejam pendentes,
simultaneamente, várias ações sobre o mesmo objeto em diferentes tribunais de vários EMs.
A identidade das partes é aferida pela identidade dos seus interesses.
-Também pressupõe a identidade do objeto entre duas ações, sendo que o que releva segundo
a teoria do “núcleo essencial”, é a necessidade de evitar o proferimento de decisões
contraditórias.
O tribunal da 2ª ação deve controlar oficiosamente a verificação da exceção de litispendência,
devendo suspender a instância até que a competência do 1º seja estabelecida (29º/1 e 3).
-o tribunal da segunda ação, se não se considerar incompetente, só pode suspender o
processo, não podendo fixar a competência do tribunal da primeira causa, sendo que se a
competência deste se vier a estabelecer, o tribunal onde a mesma causa foi instalada em
segundo lugar, deve declarar-se incompetente (art 29 nº3).
-Nem sempre no controlo de litispendência será irrelevante para o tribunal da segunda ação,
uma prognose sobre o reconhecimento da decisão pendente nos tribunais de outro EM.
Antes de suspender a instância, pode observar se não está a ser violada uma competência
exclusiva (art 24), caso em que uma decisão sobre o mérito da causa não poderá ser
reconhecida nos outros EM (art 45 nº1 al)e.
-Já se ambos os tribunais (da primeira e da segunda ação), forem de competência exclusiva,
então deve o tribunal da segunda ação declarar-se incompetente em favor do tribunal
demandado em primeiro lugar (art 31 nº1).
Competência convencional
-Os tribunais dos demais EM, devem suspender a instância, até ao tribunal no qual é invocado
o pacto e que alegadamente, possui uma competência exclusiva se declarar incompetente (art
31 nº2), é assim atribuída prioridade ao tribunal designado no pacto (este não têm de aguardar
a suspensão na instância da causa o outro tribunal, enquanto o tribunal que não o designado
no pacto deve suspender na instância e só pode levantar a suspensão quando o tribunal
designado se pronuncie sobre a sua competência);
-Se o tribunal designado se considerar competente, os tribunais de outros EM devem
considerar-se incompetentes (art 31 nº3).
Exclusão do regime
-MIGUEL TEIXEIRA DE SOUSA, entende que o art 31 nº2 não se aplica se o réu tiver aceitado
(tacitamente), a competência do tribunal não designado no qual a ação se encontra pendente
(o próprio 31 nº2 ressalva o art 26).
-O regime não se aplica se o demandante for a parte mais fraca do contrato de seguro, um
consumidor ou um trabalhador (que o Regulamento atribui uma tutela mais forte) e o pacto
não for válido nos termos do art 15; 19 e 23, se a ação for proposta por um tribunal diferente
do tribunal designado (no pacto) e o demandante tiver invocado a própria invalidade do pacto.
Nestes casos deve o tribunal em que foi proposta a ação (e não é designado), poder conhecer
da validade do pacto (se a parte mais fraca tiver de esperar a decisão do tribunal designado
fica mais desprotegida) e esta solução implica apenas a aplicação da regra geral do 29.

Estado terceiro
-Se a competência do tribunal se basear no critério geral (art 4) ou critérios especiais (art 7; 8 e
9) e já estiver pendente uma ação num estado terceiro, no momento em que é instaurada num
EM, este tribunal pode suspender a instância, se for previsível que o tribunal daquele país
profira uma decisão passível de ser reconhecida e executada no EM do foro (art 33 nº1 al)A e
estiver convencido que a suspensão na instância é necessária à correta administração da justiça
(art 33 nº1 al)B.
Aplicação do regime
-Na aplicação deste regime do 33 nº1, pode o tribunal do EM avaliar as circunstâncias do caso
concreto, que podem incluir as relações dos factos do processo e das partes com o Estado
terceiro, a fase em que se encontra o processo no país terceiro e ainda se é previsível que este
profira uma decisão em prazo razoável.
Pode na avaliação o Tribunal do EM, ponderar se o Estado terceiro, tem competência exclusiva,
nos mesmos termos em que teria pelo 24 (se fosse EM) ou a consideração de competência
exclusiva a esse EM, através de um acordo de eleição de foro (que seria válido nos termos do
25).
Fora do âmbito do art 33, os EM não podem recusar uma competência que resulte do
Regulamento com fundamento na competência exclusiva de um Estado terceiro.
Ponderação do tribunal
-O tribunal do EM pode continuar o processo a qualquer momento, se a instância no tribunal
do país terceiro tiver sido suspensa ou extinta (art 33nº2 al)a, se considerar improvável que a
ação no tribunal do país terceiro se conclua num prazo razoável (art 33 º2 al)b; ou se for
necessário dar continuação ao processo para garantir a correta administração da justiça (art 33
nº2 al)c.
Deve também extinguir a instância se a ação no tribunal do país terceiro tiver sido concluída e
resultar numa decisão passível de reconhecimento e execução (art 33 nº3).
Competência convencional
-Não consagra nenhuma regra específica para a hipótese de as partes terem atribuído
competência aos tribunais de um estado terceiro, pelo que deve avaliar a validade do pacto
com base no seu direito.
Ações conexas
-As ações considera-se conexas, quando entre elas exista um nexo de conexão tão estreito que
haja interesse em que sejam instruídas e julgadas simultaneamente, assim evitando soluções
inconciliáveis se as ações fossem julgadas separadamente (art 30 nº3) -esta conexão não exige
identidade de objeto nem de partes.
Estados membros
-O tribunal da segunda ação pode suspender a instância (art 30 nº1), ou declarar-se
incompetente se o tribunal da primeira causa for competente e a lei permitir a apensação de
ações (art 30 nº2).
Estados terceiros
-Se a competência do Tribunal do EM se basear no art 4 (critério geral) ou nos ats 7, 8 e 9
(critérios especiais) e estiver pendente uma ação no tribunal de um país terceiro no momento
em que é proposta a ação no tribunal de um EM uma ação conexa com a ação intentada nesse
EM, então pode este tribunal suspender a instância (nos termos do 34 nº1).
O tribunal do EM pode continuar o processo a qualquer momento se considerar que deixou de
haver risco de decisões inconciliáveis (art 34 nº2 al)a, se a instância no tribunal do país terceiro
tiver sido extinta ou suspensa (art 34 nº2 al)b; se considerar que a ação intentada num Estado-
terceiro se conclua num prazo razoável (art 34 nº2 al)C ou se for necessário para uma correta
administração da justiça (art 34 nº2 al)D.
Pode ainda suspender a instância se a ação intentada no tribunal do Estado terceiro tiver sido
concluída e seja passível de reconhecimento e se for caso disso execução (art 34 nº3).

Direito Interno
Regime legal
-O artigo 37º/2 da LOSJ determina que a lei do processo fixa os fatores (elementos de conexão)
de que depende a competência internacional dos tribunais, estabelecendo o artigo 59º que os
tribunais portugueses são competentes quando se verifique alguma das circunstâncias dos
artigos 62º e 63º (competência legal) ou do artigo 94º (competência convencional).
Lei aplicável
-A competência internacional é aferida independentemente da lei aplicável ao mérito da causa,
assim os tribunais portugueses podem ser internacionalmente competentes e aplicar lei
estrangeira e ser internacionalmente incompetentes mesmo que a lei aplicável seja a
Portuguesa.
Âmbito de aplicação
-Dispõe ainda o artigo 59º que o regime interno só é aplicável quando a causa não deva ceder
perante instrumentos internacionais e atos de direito europeu (quando a causa caiba dentro
do âmbito dos regulamentos, será sempre aferida a competência à luz destes, pelo que,
qualquer divergência entre estes regulamentos e o direito interno português deverá ser
resolvida através destes atos europeus)
-Deste primado das normas de atribuição de competência europeias, retiram-se as seguintes
consequências:
A-qualquer divergência entre um Regulamento e o estabelecido na lei portuguesa é resolvido
aplicando o Regulamento;
B-se for aplicável o Regulamento e dos seus preceitos não resultar a atribuição de competência
internacional aos tribunais portugueses, então a competência não pode também ser aferida
com base em direito interno.
Critérios aferidores
-Os tribunais portugueses não podem julgar toda e qualquer causa, pelo que, é necessário que
entre o litigio e a ordem jurídica portuguesa se estabeleçam os chamados elementos de
conexão, suficientemente relevantes para justificar o julgamento desse litigio.
Estes elementos de conexão, formam o conteúdo de quatro critérios que são alternativos entre
si (basta a verificação de um destes para que Portugal se possa considerar internacionalmente
competente.
Apreciação
-Atendendo aos elementos da causa e às conexões com certa ordem jurídica, caberá averiguar
quais são os tribunais que a devem apreciar (problema resolvido por cada legislador).
-Se a causa apresentar conexão com uma só ordem jurídica, deverão ser os tribunais dessa
mesma ordem jurídica competentes para apreciar a causa, enquanto se apresentar uma
conexão com várias ordens jurídicas, a solução tratar-se sempre de escolher os tribunais de
certa ordem jurídica competentes para apreciar a ação.
As regras sobre a competência internacional podem justificar-se para, em situações jurídicas
plurilocalizadas, alargar essa competência a casos não abrangidos pelas regras de competência
interna ou para excluir essa competência em relação a hipóteses que, apesar de se
encontrarem compreendidas nas regras de competência interna, apresentam conexão
relevante com outras ordens jurídicas.
Critérios de conexão-estes são alternativos entre si, bastando a verificação de um deles, e são
eles:
A-Critério da coincidência (art 62 al)A
-O artigo 62º a) estabelece que os tribunais portugueses são competentes quando a ação deva
ser proposta em Portugal pelas regras da competência territorial (70º a 84º), e, sendo o local
que se chega através da competência territorial competente, os tribunais portugueses são
competentes.
Este é o princípio da coincidência entre competência internacional e competência territorial,
não se alargando nem restringindo a competência interna a casos que apresentem elementos
de estraneidade, pelo que o sentido útil deste princípio se encontra no reenvio intrasistemático
para o artigo 63º.
Em algumas situações em que os tribunais portugueses são competentes por este critério, essa
competência é exclusiva, sendo elas (com muitas parecenças ao 24 do Regulamento:
A-em matéria de direitos reais sobre imóveis e de arrendamento de imóveis situados em
território português (al. a)), no entanto, em casos de contrato de arrendamento temporário
por um período máximo de seis meses consecutivos são também competentes os tribunais do
EM da EU onde o requerido tiver domicílio;
B-em matéria de validade da constituição ou de dissolução de sociedades ou outras pessoas
coletivas que tenham a sua sede em Portugal bem como em matéria de validade das decisões
dos seus órgãos (al. b));
C-em matéria de validade de inscrições em registos públicos conservados em Portugal (al. c));
D-em matéria de execuções sobre imóveis situados em território português (al. d));
E-em matéria de insolvência ou de revitalização de pessoas domiciliadas em Portugal ou de
pessoas coletivas ou sociedades cuja sede esteja situada em território português (al. e)).
Efeitos da competência exclusiva
-A competência exclusiva vai obstar à existência de um pacto privativo de jurisdição (94º/3/d) e
ao reconhecimento em Portugal de uma decisão proferida por um tribunal estrangeiro
(980º/c)).
Critério da causalidade (art 62 al)B
-por força deste critério, a competência internacional dos tribunais portugueses resulta de ter
sido praticado em território português o facto que serve de causa de pedir na ação ou algum
dos fatos que integram essa causa petiendi (62º/b)).
-Causa de pedir é o ato ou facto jurídico que individua a pretensão material ou o direito
alegado pelo autor, sendo que para Portugal ser competente, é necessário que um desses
factos que a integram tenha sido praticado em Portugal (a prática de um facto complementar
ou concretizador não chega a atribuir competência aos tribunais portugueses.
-Este critério é bastante discutível porque a conexão que permite estabelecer com a ordem
jurídica portuguesa está longe de ser algo que possa ser considerado, de forma incontroversa,
suficiente para justificar a competência (pode conduzir a uma competência exorbitante)
Critério da necessidade (art 62 al)C
-Os tribunais portugueses são internacionalmente competentes no caso de o direito não poder
tornar-se efetivo senão por meio de ação proposta em tribunal português ou caso constituía
para o autor dificuldade apreciável a sua propositura no estrangeiro, desde de que entre o
objeto da ação e o território português exista um elemento ponderoso de conexão pessoal ou
real (62º al)c)).
Concretização- a impossibilidade poderá ser uma impossibilidade jurídica ou uma mera
dificuldade prática.
Haverá impossibilidade jurídica quando pela conjugação das regras de competência
internacional dos vários países, o litígio fica sem tribunal competente para o dirimir (haja
conflito negativo de competências internacionais).
-Pode também ser uma mera dificuldade prática, quando, em virtude do fato, natural ou
material, resultante do corte de relações diplomáticas, da qualidade de refugiado político ou
de um fato de relevância análoga, a propositura da ação no estrangeiro constituir para o autor
uma dificuldade apreciável, sendo que esta dificuldade aliada a uma relação do objeto ou das
partes com a ordem jurídica portuguesa, torna Portugal competente

Critério da vontade das partes (competência convencional) (art 94)


-No estabelecimento da competência internacional dos tribunais portugueses, o direito interno
admite a conexão resultante da vontade das partes.
-Estes são os chamados pactos atributivos (se conceder competência) e privativos (se retirar
competência) de jurisdição (exercício da jurisdição pelos tribunais portugueses relativamente a
questões plurilocalizadas), regulados no artigo 94º.
-Este regime cede perante o artigo 25º do Reg. 1215/2012, sempre que os tribunais tenham
atribuído competência aos tribunais de um EM, sendo, nestes casos, aa aplicação do 94
residual.
Este direito é apenas aplicável quando, apesar do objeto da causa respeitar a matéria civil ou
comercial, seja atribuída competência:
-A tribunais de EM em matérias não abrangidas por nenhum instrumento europeu ou
convenção internacional;
-A tribunais de Estados que não sejam EM da EU, nem Estados contratantes da CLug II ou da
CEIForo;
-No caso em que nenhuma das partes domiciliadas num Estado contratante da CLug II, a
tribunais de um Estado contratante da CLug II (o artigo 23º só é aplicável se alguma das partes
tiver domicílio num Estado contratante).
Admissibilidade do pacto
-Se a relação controvertida tiver conexão com várias ordens jurídicas, as partes poderão
convencionar qual é a jurisdição competente para apreciar um litígio determinado ou os litígios
eventualmente decorrentes dessa relação (94º/1), sendo que podem envolver a atribuição de
competência exclusiva ou alternativa (presumindo-se em caso de dúvida exclusiva 94º/2, sendo
que o art refere-se à alternatividade de competência legal dos tribunais portugueses, mas
temos de considerar também a situação de se verificar entre competência legal e competência
convencional que pertence a outros tribunais.
Validade do pacto
O pacto de jurisdição se se verificassem as seguintes condições:
A- disponibilidade do objeto do processo pelas partes (94ºnº3 al)a));
B- respeito da competência exclusiva dos tribunais portugueses (94ºnº3 al)d));
C- aceitação da atribuição de competência pela lei do tribunal designado (94nº3/b));
D- existência de um interesse sério de ambas as partes (ou pelo menos uma das partes e a
inexistência de um inconveniente grave para a outra (94 nº3/ al)));
E- celebração através de forma escrita ou de uma confirmação por escrito (94 nº3al)e) e nº4).
O pacto de jurisdição é um negócio jurídico, pelo que se lhe aplica o regime destes quanto à
validade substantiva.
Competência territorial
-Alguns dos critérios referidos acabam por aferir também a competência territorial, como é o
caso do critério da coincidência (62º al)a)), (dado que o mesmo assenta numa coincidência
entre a competência territorial e internacional).
-Também poderá ocorrer que não se possa aferir simultaneamente a competência territorial e
internacional, o que se verifica quando os tribunais portugueses são internacionalmente
competentes por força do critério da causalidade (62 al)b)), da necessidade (62 al)c)), ou da
vontade das partes (94º).
Nestes casos, para verificar qual o tribunal territorialmente competente, a solução será aplicar
o disposto no artigo 80ºnº1 e 2, ou 81º, e, em última análise, o estabelecido no artigo 80ºnº3.
Concretização das regras do art 80
-As regras do artigo 80º são de três tipos:
A-o artigo 80º contém uma regra primária de atribuição de competência, prevista no nº 1 (é
competente o tribunal do domicilio do réu, regra que pode ser atributiva de competência
internacional aos tribunais portugueses, em conjugação com o artigo 62º al)a);
B-O artigo 80.º contém ainda regras que, falhando a conexão primária, estabelecem a conexão
secundária ( art 80 nº2 (1ª parte), sendo a regra o domicilio do autor;
-O artigo 80.º estabelece depois regras de recurso, regras que estabelece, no âmbito interno,
um forum necessitatis segundo critérios que não podem considerar de ligação ou conexão
relevante com o litígio, isto é, regras que não são dotadas de dupla funcionalidade, mas que
permitem referenciar um tribunal português territorialmente competente (lugar onde o réu se
encontrar ou Lisboa).
Forum necessitatis
Para os efeitos do artigo 62ºal)a) e do princípio da coincidência, as regras estabelecidas no nº 3
não podem contar, uma vez que estas pressupõe que os tribunais são internacionalmente
competentes e arranjam maneira de encontrar um tribunal territorialmente competente, nem
que seja o de Lisboa.
A tomar em conta, para efeitos do artigo 62º/a), haveria que concluir que os tribunais
portugueses seriam sempre competentes para qualquer ação em que o autor ou o réu
tivessem domicílio no estrangeiro, pelo que o artigo 80º/2 não pode atribuir só por si nenhuma
competência territorial e só pode ser aplicado em conjugação comas regras de competência
internacional.
Partes do processo
Noção de parte- parte é aquele que pede em juízo uma determinada forma de tutela jurídica e
aquele contra o qual essa forma de tutela é pedida, sendo as partes ativas o autor (processo
declarativo) e o exequente (processo executivo), e as partes passivas o réu (processo
declarativo) e executado (processo executivo).
Relevância-a noção de parte tem relevância para determinar o âmbito subjetivo das exceções
de litispendência (580º/1 e 581º/2), o tribunal territorialmente competente (71º/1, 72º, 80º a
82.º), o impedimento do juiz (115º/1/a) e b)), e ainda a admissibilidade do depoimento como
testemunha (496º), recaindo ainda sobre elas um dever de cooperação (art 7 nº3) e proibição
de litigância de má-fé (art 8), ónus de impulso do processo (art 3nº1 e 6 nº1), de alegação dos
factos relevantes (art 5 nº1 e de prova dos factos controvertidos (art 342 a 344 CC).
Já a qualidade de parte pertence ao autor e ao réu, e quem não é autor ou réu é terceiro
perante o processo, existindo três grupos de terceiros:
A-Partes em sentido material – terceiros que têm a mesma qualidade jurídica de qualquer das
partes, sendo o terceiro um terceiro perante o processo, mas não o ser perante algumas das
suas partes. A identidade das partes é aferida pela qualidade jurídica dos sujeitos (581º/2);
B-Terceiros legitimados – terceiros que apesar de serem terceiros perante o processo ou
qualquer uma das partes, mas não o ser perante o objeto do processo, sendo legitimados por
terem legitimidade para ser parte na causa (podendo intervir como partes principais ou
acessórias);
C-terceiros não legitimados – quando os terceiros são terceiros perante o processo, perante
qualquer das partes ainda perante o objeto do processo.
Delimitação material
Determinação da parte- Numa fase inicial a identificação das partes está na disponibilidade do
autor ou autores, ele ou eles formulam os pedidos e indicam contra quem os quer formular,
pelo que a parte é quem o é e não quem o devia ser, pelo menos enquanto não for
demandado, e sendo parte o representado e não o representante.
Inexistência da parte -pode acontecer que a ação seja proposta contra uma entidade
inexistente ou contra uma pessoa inexistente, devendo, neste caso, ser a inexistência do autor
tratada como uma insusceptibilidade de ser parte e com falta de personalidade judiciária
(11º/1), enquanto que a inexistência do réu implica também a falta de personalidade judiciária
e falta de citação da parte (188º/1/d)), uma nulidade de conhecimento oficioso (196º).
-Falta a ambas as partes a suscetibilidade de ser réu ou autor, pelo que, caso a instancia não
seja suspensa após o autor ou o réu falecerem ou serem extintos, estamos perante uma
nulidade processual (195º/1) devendo ser anulados os atos subsequentes ao falecimento ou
extinção (195º/2).
Dualidade das partes-o processo segue um princípio de dualidade das partes, exigindo-se uma
ou mais partes ativas e uma ou mais partes passivas, proibindo-se, por exemplo, processos
consigo mesmo(em que o autor e réu sejam a mesma pessoa, não se excluindo a hipótese de
ações entre órgãos da mesma pessoa coletiva).
A inobservância deste princípio implica a impossibilidade jurídica do processo, podendo ser
originário ou superveniente, constituindo fundamento para a extinção da instância (277º/e)).
Identificação das partes- nos termos do artigo 552º/1/a) as partes devem ser identificadas pelo
autor através da indicação dos seus nomes, domicílios ou sedes, e sempre que possível,
número de identificação civil e de identificação fiscal, profissões e locais de trabalho.
-Pode dar-se o caso de o réu ser corretamente identificado, mas demandar-se a pessoa errada
(por exemplo através do domicilio), devendo haver desistência do pedido (283º/1), ou o caso
do réu ser incorretamente identificado pelo autor, mas não haver qualquer dúvida quanto à
sua identidade (caso em que não há vicio, e o erro pode ser corrigido a requerimento do autor
pelo 614º/1), ou ainda o réu ser corretamente identificado pelo autor, mas é citada uma
pessoa diferente da indicada (hipótese em que a situação é inexistente pelo 188º/1/b)).
Partes incertas -as partes da ação são pessoas ou entidades determinadas, no entanto, em
certos casos, a lei permite que a ação possa ser proposta ou continue contra incertos, como é o
caso do processo de justificação judicial, aplicável à retificação do registo e a certos óbitos, em
que são citados os interessados incertos (235º/1/b) do CRC), e falecendo uma das partes, são
citados os sucessores incertos para efeito de habilitação (351º/1 e 355º/1).
-Caso ninguém apareça para assumir a posição da parte, continuando contra os incertos e
cabendo ao MP a sua representação (22º/1).
Representação voluntária-nos casos de patrocínio judiciário obrigatório (arts 40 nº1 e 58), as
partes tem de estar representadas por advogado (por imposição da lei), trata-se de um caso de
representação voluntária obrigatório.
Espécies de partes-existem partes principais (a noção que já foi formulada) e corresponde ao
conceito que normalmente nos referimos quando falamos de partes, mas existem partes
acessórias, que são os titulares de interesses conexos com os interesses em causa e que, por
isso, podem auxiliar uma das partes principais, defendendo no processo um interesse próprio,
conexo com o de uma das partes principais, auxiliando a parte principal (assumindo uma
posição de subordinação).
-Caso típico de parte acessória, é a do assistente (326º e 332º), que começa por ser um terceiro
interessado que passa a ser parte em virtude de um incidente de intervenção de terceiros,
chamado intervenção acessória.
Pressupostos processuais
-Para que seja apreciado o mérito da causa, a lei exige que as partes apresentem um certo
número de características que funcionam como pressupostos processuais: a capacidade
judiciária, sujeição à jurisdição portuguesa, a personalidade judiciária, patrocínio judiciário
obrigatório, a legitimidade e o interesse processual
Regime especial -A relação processual é considerada, em regra, na sua forma mais simples,
sendo formada por duas partes que se mantêm no decorrer de todo o processo, podendo
haver, quanto às partes especialidade de dois tipos:
A-especialidade de caráter estático, constituída pela pluralidade das partes, cumulação
subjetiva ou litisconsórcio latu sensu;
B-especialidade de caráter dinâmico, constituídas pelas modificações subjetivas da instância,
fundamentalmente a sucessão e a intervenção de terceiros.
Personalidade judiciária (art 11 a 14)
NoçãoO artigo 11º/1 determina que a personalidade jurídica é a suscetibilidade de se ser
parte.
Eficácia processual -a personalidade judiciária é limitada pela sua eficácia ou relevância: só
produz efeitos dentro do processo, o que justifica a existência de entidades dotadas de
personalidade judiciária mas não de personalidade jurídica (12º e 13º).
Eficácia casuística -A personalidade judiciária das pessoas meramente judiciárias é restrita ao
campo do processo civil, aliás, ao campo de certo processo civil, não podendo, por exemplo, A
pedir a condenação de certa agencia da sociedade B e vir mais tarde demandar noutro
processo a própria sociedade, (mas a diferenciação como duas pessoas distintas não produz
efeitos fora deste processo.)
Função-A personalidade judiciária acaba por ser o pressuposto dos pressupostos processuais
subjetivos relativos às partes, uma vez que os pressupostos como a capacidade e legitimidade
pressupõe uma parte.
Critérios de atribuição
Critério da coincidência -o artigo 11º/2 estabelece que quem tenha personalidade jurídica tem
personalidade judiciária, seja pessoa singular ou coletiva.
Estabelece-se uma outra regra, que só aquele que tem personalidade jurídica, tem
personalidade judiciária, havendo exceções a esta regra como as dos artigos 12º e 13º;
Outros critérios-A atribuição de personalidade judiciária a pessoas que não tem personalidade
jurídica decorre de dois critérios: A-critério da diferenciação patrimonial (art 12); B-critério da
afetação do ato (art 13).

Herança jacente (12º/a)) – a indeterminação do titular pode resultar da indeterminação dos


sucessíveis ou da indeterminação dos sucessores-
Patrimónios autónomos – patrimónios em que há uma indeterminação do titular, sendo que
estão nesta situação, por exemplo, bens doados ou legados a nascituros e bens com que foi
dotada uma fundação ainda não constituída, uma vez que podem constituir um centro
autónomo de imputação de direitos e deveres, tendo para isso o titular ser indeterminado,
MTS diz-nos que por interpretação extensiva se incluem os patrimónios com múltiplos titulares
-Por determinação legal do art 12, terão ainda personalidade judiciária: - associações sem
personalidade jurídica, comissões especiais, sociedades civis, sociedades comerciais até à data
do seu registo, condomínio resultante de propriedade horizontal, e navios;
Sucursais ou agências (13º) – atribui-se-lhes personalidade no art 13 nº1 para os atos por ele
praticados.
-Visa-se facilitar a tutela dos interesses do demandante, pelo que nada impede a propositura
da ação contra a própria sociedade, ou mesmo adicionar a sociedade e a agencia como
litisconsortes (32º/1), sem prejuízo de se obter condenação da agencia e execução da
sociedade.
-Estas figuras têm igualmente personalidade judiciária quando situadas num país estrangeiro,
desde que a obrigação principal tenha sido contraída com a administração principal com um
português ou um estrangeiro domiciliado em Portugal (13º/2), sendo que esta regra cede
perante o artigo 7º/5 do Reg. 1215/2012 que só permite a personificação da sucursal quando o
litigo disser respeito à sua exploração.
Consequências da falta-em regra, a falta de personalidade não é sanável, mas o artigo 14º
admite a sanação no caso das sucursais, agencias, filiais, delegações ou representações
Regência: mediante a intervenção da administração principal e a ratificação ou repetição do
processado, sendo que não se trata de uma intervenção de litisconsorte do artigo 311º, mas de
substituir uma parte, sendo uma intervenção inominada.
-Se o vicio afetar a parte ativa, exige-se sempre que a administração ratifique ou repita o
processado, uma vez que não é possível manter uma ação sem petição inicial, e se isto não
acontecer, falta um pressuposto processual.
-Se o vicio afetar a parte passiva, não se exige que a administração principal repita ou ratifique
o processado, uma vez que um processo pode manter-se sem a contestação do réu e demais
atos deste, e se isto acontecer falta apenas um pressuposto de atos processuais.
Regimes especiais –
A-O artigo 351º/2 prevê o caso de instauração do processo contra uma parte falecida
(sanando-se pela habilitação dos sucessores);
B- artigo 162º/1 do CSC estabelece que as ações em que uma sociedade liquidada seja parte
continuam após a sua extinção, considerando-a substituída pela generalidade dos sócios.
C-A jurisprudência aceita a sanação da falta de personalidade judiciária ativa nos casos em que
a mesma possa ser sanada através da intervenção dos interessados em substituição da
entidade desprovida dessa personalidade.
Cessação do vicio- verifica-se a sanação do vicio, quando, persistindo este, se lança mão de
uma solução legal para possibilitar a marcha do processo e o regularize ex tunc (por exemplo,
a administração principal intervém para sanar a falta de personalidade judiciária da sucursal).
Subsistência do vício -quando a falta de personalidade judiciária for insuprível e manifesta, logo
na petição inicial, esta deve, quando haja despacho liminar (226º/4), ser objeto de diferimento
liminar (590º/1), enquanto se não for, o réu é absolvido da instância (278º/1/c)) ex officio
iudicis ou por arguição da parte (578º). Só por força do princípio da auto-suficiência é possível
falar de uma absolvição do réu da instância.
Sujeição à jurisdição Portuguesa - Para o processo se constituir e correr regularmente nos
tribunais portugueses, além da competência e personalidade das partes, é necessário que
ambas as partes estejam sujeitas à jurisdição portuguesa, sob pena de exceção dilatória que
conduz à absolvição do réu da instância (576º/2 e 278º/1/e)). Em regra, todas as pessoas
singulares e coletivas, nacionais ou estrangeiras, domiciliadas ou não em Portugal, estão
sujeitas à jurisdição portuguesa, sendo que, se o tribunal português for o tribunal competente,
é possível que um português ou estrangeiro demande um estrangeiro domiciliado no
estrangeiro, podendo o réu ser condenado e executado, caso tenha bens em Portugal.
Capacidade judiciária
Noção -esta é definida no art 15 nº1 como a suscetibilidade de estar por si em juízo
(capacidade de exercício de direitos e deveres processuais).
Patrocínio obrigatório-os casos de patrocínio obrigatório (art 40 nº1 e 58), são também em
ultima análise, fenómenos de incapacidade, na medida em que a parte não pode estar por si
em juízo, mas esta incapacidade é limitada à técnica do processo.
Representação orgânica
Pessoas coletivas -dispõe o art 25 do CPC que estas são representadas por quem a lei, os
estatutos ou o pacto social designarem.
Assim, quanto às: A-PC stricto sensu (art 163 nº1 CC); Sociedades civis (996 nº1 CC).
Representação especial-quando a PC ou sociedade não tiver representante ou quando for com
o representante que surja o litígio é atribuída a representação a um representante especial (art
25 nº2 e 3).
Pessoas judiciárias- o artigo 26º diz que, salvo disposição em contrário, no caso dos
patrimónios autónomos representam os seus administradores, e no caso de sociedades e
associações que careçam de personalidade jurídica, assim como agencias, sucursais, filiais,
delegações, são representadas pelas pessoas que atuem como diretores, gerentes, ou
administradores (195º/1 e 163º/1 do CC quanto às associações sem personalidade jurídica,
996º do CC quanto às sociedades civis, e 38º e 40º do CSC).
Representação legal
-O artigo 15º/2 determina que a capacidade judiciária tem por base a capacidade de exercício
de direitos, podendo tal significar:
A- a capacidade ou incapacidade judiciária resulta da capacidade ou incapacidade para praticar
o ato jurídico substantivo que é causa de pedir;
B-capacidade ou incapacidade decorre da capacidade ou incapacidade para, voluntariamente,
provocar efeitos jurídicos idênticos aos efeitos possíveis da ação.
Critério adotado MIGUEL TEIXEIRA DE SOUSA fala-nos dos efeitos possíveis da ação enquanto
critério (o efeito vantajoso, em caso de vencimento, e o efeito prejudicial, em caso de perda) e
enquanto interpretação do critério para a capacidade, ou seja a parte tem em regra capacidade
judiciária, quando pode em direito substantivo, por si, pessoal e livremente provocar qualquer
dos efeitos jurídicos possíveis do processo (principio da instrumentalidade)
Parte ativa- no que toca à parte ativa a regra impõe que, se uma certa pessoa não pode dispor
de um bem se não representado por certa outra ou autorizada por certa outra, não poderá
correspondentemente pôr em causa a titularidade desse bem através da propositura de uma
ação.
Podemos retirar daqui dois princípios:
Regra da representação – quem não pode celebrar negócios jurídicos se não por intermédio de
representante legal, também não pode propor ações senão através de representante legal
(16º/1);
Regra da autorização – se certa pessoa pode praticar certos atos pessoais, mas não livremente,
carecendo de autorização para a prática, então para propor qualquer processo que possa ter
efeito semelhante ao do ato, carece também de autorização (145º/2/d) do CC; 283º e 290º/3).
Parte passiva, o regime é diferente, não pudendo sujeitar-se o réu à dependência de uma
autorização, apesar de se impor a mesma regra de representação (16º/1).
Movida uma ação contra maior acompanhado quanto a atos sujeitos a autorização, pode este
estar por si e livremente como réu na ação (19º/1).
Já contra um menor ou maior acompanhado sujeito a representação, ele deve em regra ser
representado nessa ação pelo representante legal (16º/1).
Formas de suprimento
Menores – é menor quem ainda não tenha completado os 18 anos de idade (122.º do CC),
carecendo de capacidade de exercício (123º do CC), pelo que carecem de personalidade
judiciária.
-Esta incapacidade é suprida pelo exercício de responsabilidades parentais, subsidiariamente
pela tutela (124º do CC), e há ainda que considerar outras formas de administração de bens
(1922.º, 1967º e 1972.º do CC).
Representação do menor
-suprimento da incapacidade dos menores faz-se por representação (1878º/1, 1881º, 1888º e
1900.º do CC), pelo que o menor não pode estar em juízo, mas sim por intermédio dos
progenitores (art 1878 nº1 do CC), ou do tutor (1921º/1 do CC), ou, em certas circunstâncias,
do administrador de bens (1922.º do CC).
-Caso ambos os progenitores se encontrem na titularidade do poder parental, a representação
compete a ambos (16.º/2 e 3), caso assim não seja e estiverem em desacordo sobre a
conveniência de intentar a ação, devem recorrer ao tribunal competente para resolver o
diferendo (18º/1), ou, caso esteja pendente uma ação e se verifique o desacordo dos
progenitores quanto à orientação, qualquer um deles pode requerer que o juiz providencie
sobre a forma de o menor ser representado (18º/2).
-Os representantes legais, em regra, não têm liberdade para intentar ações, necessitando o
tutor de autorização (1938º/1/e)) que compete ao MP (2º/1/b) do DL 272/2001), assim como
acompanhante de maiores (1971º/1 do CC) e o administrador de bens do menor (1971º/1 do
CC).
-Já os progenitores apenas precisam de autorização nos casos do artigo 1889º/1/n), que cabe
também ao MP.

Capacidade do menor -este regime não se aplica quanto aos atos do menor aos quais a lei
atribui capacidade de exercício de direitos e deveres (nos termos do 127 do CC);
Maiores acompanhados – vêm previstos os casos que podem ser suscetíveis de
acompanhamento no artigo 138º do CC, pelo que a medida de acompanhamento é decretada
judicialmente (139º/1 do CC), podendo atribuir-se ao acompanhante funções de
representação, geral ou especial, administração total ou parcial, ou de autorização prévia para
a prática de determinados atos (145º do CC).
Regime processual
-se for proposta uma ação por maior acompanhado sujeita a representação ou administração
de bens, deve ser representado pelo acompanhante (16º/1);
-Se for instaurada ação por maior acompanhado quanto a atos sujeitos a autorização, esse
maior acompanhado pode estar por si pessoal e livremente em juízo, embora necessite de
autorização do acompanhante (19º/1);
-se for proposta ação contra maior acompanhado sujeito a representação ou administração de
bens, ele deve ser representado pelo acompanhante (16º/1);
-se for proposta ação contra um maior acompanhado quanto a atos sujeitos a autorização do
acompanhante, este pode estar por si pessoal e livremente em juízo e deve ser citado para a
ação (19º/1), embora necessite de autorização para praticar atos em juízo.
Subsuprimento
-O artigo 21º/1 determina um subsuprimento da incapacidade pelo MP quando o incapaz ou os
seus representantes não deduziram oposição, sendo necessário além de não contestar, que
não constitua mandatário judicial e que o representante legal não se oponha, com a
concordância do juiz a essa intervenção.
Este regime aplica-se também aos ausentes (art 21 nº1).
Incapacidade de facto
-a lei só se ocupa da incapacidade de facto do réu -art 20 e 234 (pressupõe que um incapaz não
vai intentar uma ação).
Incapacidade judiciária incapacidade latu sensu pode apresentar-se de duas formas:
Pressuposto processual – a falta do pressuposto capacidade judiciária, se não for sanado,
conduz à absolvição do réu da instância (27º a 29.º, 278º/1/c), 576.º/2 e 577º/c)), sendo que,
se ocorrer da parte passiva, o autor tem o ónus de indicar a incapacidade do réu e o modo do
seu suprimento (17º/4);
Pressuposto de atos – acontece quando a incapacidade atinja não a parte, mas uma extensão
maior ou menor da sua atuação, sendo neste caso vício de um certo ato processual e não de
todo o processo através de um dos seus elementos essenciais (uma das partes), sendo o ato
inválido ou inadmissível.
Também o caso de incapacidade lato sensu constituída pela falta de autorização ou
deliberação (parte está regularmente constituída no processo mas internamente exige-se
qualquer ato), verificando-se na parte passiva, dá origem a este vício.
Assim, em síntese, a incapacidade, pode dizer respeito ao processo (como um todo) ou a um
ato processual, sendo que no primeiro caso, resulta na absolvição na instância e no segundo na
inadmissibilidade do ato.
Ónus da prova-há que distinguir se a incapacidade assenta num facto duplo, isto é, se é assente
numa incapacidade de exercício que seja relevante para apreciação dessa incapacidade e do
mérito da causa.
-Se a incapacidade se basear num fato duplo, a distribuição do ónus da prova é realizada nos
termos gerais do artigo 342º/1 e 2 do CC, implicando que a incapacidade de exercício seja facto
constitutivo (341º/1 – autor) ou impeditivo (341º/2 – réu).
-Se não constituir um facto duplo, o ónus da prova cabe ao autor.
Sanação e cessação da incapacidade
-Há que distinguir também a sanação da incapacidade, quando a incapacidade viciou o
processo, mas a lei faculta um meio para a fazer cessar retroativamente os efeitos do vício, e a
cessação, quando por exemplo o menor atinge a maioridade no decorrer do processo.
-Podemos designar três tipos de vício que a lei distingue:
Incapacidade judiciária em sentido estrito -um incapaz que carece de representação está por si
em juízo, contra o estabelecido no artigo 16.nº1
-Apresenta-se como a falta de um pressuposto processual quando se verifique desde a
demanda no lado ativo, e quando o autor tenha desrespeitado o ónus de indicar o
representante legal do incapaz, ou quanto não tenha cumprido o disposto no artigo 17º quanto
ao curador especial.
-Em qualquer um dos casos:
A-ou a incapacidade é patente e manifesta em face da petição inicial, não podendo haver
indeferimento liminar da petição inicial (590.º/1), pois não é esta uma exceção dilatória
insuprível, deve o juiz ordenar a notificação de quem deva representar o autor ou ordenar a
citação do réu em quem o deva representar (27º/1 e 28º/2);
B-a incapacidade não é patente ou escapa ao juiz no momento do despacho liminar (apenas
posteriormente se percebeu o vicio), devendo aqui o juiz ordenar a citação do representante
legal, fixando-lhe um prazo para tomar uma atitude em face do sucedido.
Incapacidade ativa -após a citação, tem o representante legal do autor três possibilidades:
A-Nada faz ou recusa-se expressamente a ratificar os atos praticados pelo seu representado;
neste caso, o processo termina por absolvição do réu da instância (278°/1/c), 576.°/2, e
577º/c)), pelo que a incapacidade judiciária produz os seus efeitos de exceção dilatória;
B-Ratifica pura e simplesmente tudo quanto o seu representado ou o irregular representante
tenha praticado no processo, e o processo segue como se o vício não existisse (27 nº2 e 125
CC)
C-Nega a ratificação apenas desde certa altura do processo, neste caso, deve ser-lhe
reconhecido o direito de intervir desde esse momento, ou seja, de praticar de novo os atos
irregularmente praticado (art 584 e 587)
Incapacidade passiva- após a citação, o representante legal do réu tem três possibilidades:
A-Ratifica pura e simplesmente tudo o que foi feito e, neste caso, o processo segue como se o
vício não tivesse existido (art 27 nº2 1ªparte);
B-Pratica de novo os atos que foram irregularmente praticados ou parte deles (art 27 nº2
2ªparte);
C-Nega pura e simplesmente a ratificação do ato praticado, nesta hipótese, o processo segue à
revelia, ficando sem efeito a contestação inadmissível (e os atos, praticados pelo incapaz ou
pelo irregular representante, que se lhe seguiram).
Assim as diferenças nos regimes é que havendo incapacidade ativa, basta a citação do
representante para sanar o vício, na medida em que citado o representante, quer este decida
ratificar o articulado, renovar o processado, ou recusar a ratificação (revelia), o processo pode
seguir e haver decisão de mérito, já se a incapacidade for ativa, a mera citação do
representante não chega para sanar o vicio, tendo de haver por parte deste ratificação ou
repetição dos atos irregularmente praticados (sob pena de absolvição na instância)
Irregularidade da representação
-Esta dá-se quando está em juízo um incapaz ou pessoa coletiva representada por pessoa
diferente daquela a quem compete a representação regime é próximo da incapacidade
judiciária stricto sensu (art 27 nº1 e 2; 28 e 6nº2)
-A irregularidade de representação, no lado ativo, sendo manifesta em face da petição inicial e
havendo despacho liminar (226.º/4) dá origem a um despacho inicial de citação do verdadeiro
representante legal do autor (27º/1 e 28º/2), que pode tomar qualquer das atitudes referidas
do representante kegal, em caso de incapacidade judiciária stricto sensu
-Por sua vez, no lado passivo, manifestando-se face à petição inicial, corrige-se pura e
simplesmente ordenando o juiz a citação do verdadeiro representante legal (art 27 nº1 e 28
nº2).
-Se passar o momento do despacho liminar, o juiz manda proceder à citação do representante
legal, passando-se tudo da mesma forma que na incapacidade judiciária em sentido estrito;
-Regime da irregularidade da representação, tem como especialidade, o facto de se a
irregularidade tiver consistido na preterição de algum dos progenitores, tem-se por ratificado o
processado anterior quando o preterido, depois de notificado, nada diga dentro do prazo
fixado.
Falta de autorização
-Casos de falta de deliberação ou consentimento exigido na lei
-A falta desta pelo lado passivo só pode constituir a falta de pressuposto de ato processual,
assim, se a falta não for sanada depois de o representante ter sido notificado para obter
autorização ou deliberação, o processo segue como se o réu não tivesse deduzido oposição
(29.º/2/2.ª parte).
-A lei distingue o caso do tutor, em que o artigo 1940.º/3 do CC ordena a suspensão da
instancia até ser concedida a autorização necessária – solução que também vale para
administradores de bens – e os restantes, para os quais o tribunal fixa um prazo dentro do qual
o representante deve obter a autorização ou deliberação (29.º/1), e caso não seja obtida, o réu
é absolvido da instância (29.º/2/1ª parte). Este regime é também aplicável quando a
autorização tenha de ser obtida pela própria parte. Nota: Há que atentar ao fato de, após a
maioridade, o menor poder anular os atos que praticou enquanto menor (125.º/1/b) do CC).
Há também uma ratificação tácita dos atos irregularmente práticos antes da maioridade
quando se pratique qualquer ato no processo posteriormente à maioridade.

Patrocínio judiciário obrigatório


Noção -patrocínio judiciário é a representação das partes por profissionais do foro na condução
e orientação técnico-jurídica do processo, mediante a prática de atos processuais.
Obrigatoriedade-a lei por vezes impõe que a parte, se não puder litigar em nome próprio, se
faça assistir por um advogado, recusando-se assim à parte o ius postulandi.
A obrigatoriedade da representação, tem a ver com o objeto do ato a praticar, sendo que nos
restantes casos a representação não é proibida (apenas não é imposta).
-A enumeração de património obrigatório é diferente para o processo em geral, para o
processo e para o processo executivo.
Para o processo declarativo, a constituição de advogado é obrigatória:
A-causas de competência dos tribunais com alçada, em que seja admissível recurso ordinário
(art 40 nº1 al)a do CPC -sendo estas as causas com valor superior a 5000 (44 nº1 LOSJ)
B-causas em que seja sempre admissível recurso ordinário independentemente do valor da
causa (art 40 nº1 al)b
C-recursos e causas propostas nos tribunais superiores (art 40 nº1 al)c
Atos pessoais -a obrigatoriedade do patrocínio, não envolve a prática de atos eminentemente
pessoais (como os negócios processuais que extinguem total ou parcialmente a instância) p.ex
confissão, desistência do pedido, desistência da instância; transação (art 283 a 286).
Vicio do patrocínio
-Quanto ao patrocínio judiciário, podem verificar-se dois vícios:
A-falta de constituição de advogado quando fosse obrigatório (art 41 e 577 al)h.
B-haver mandatário judicial meramente aparente (porque não há mandato validamente
conferido ou a sua extensão não justifica a ação do mandatário).
Arguição dos vícios
-Art 41 a 48 permitem que o réu invoque a falta de constituição de advogado pelo autor e a
falta, insuficiência ou irregularidade do mandato atribuído por essa parte.
Sanação dos vícios
-Se o vicio consistir na falta de advogado em casos de patrocínio obrigatório, a necessidade de
suprir a falta e o prazo em que tal deve ser feito devem ser notificados às partes (consistindo a
sanação apenas na constituição de advogado).
-Se o vicio consistir na falta, insuficiência ou irregularidade do mandato do mandatário, devem
ser notificadas às partes a necessidade de sanar a falta e o prazo (art 48 nº2).
Efeitos do vicio
-Quando o vício se verifique em relação à petição inicial, não pode haver indeferimento liminar,
porque nenhum dos vícios constitui uma exceção dilatória insuprível, devendo o juiz notificar
para corrigir a falta ou constituir advogado, sendo que, não sendo sanado, o réu é absolvido da
instância (41º e 577º/h)). Já quanto a outros atos, estes determinam a invalidade desse ato
(41º e 48º/2).
Legitimidade singular
Noção-esta corresponde à possibilidade de estar em juízo quanto a certo objeto, esta em
relação é a causa é assim a possibilidade de demandar (legitimidade ativa) e a sujeição a ser
demandado (legitimidade passiva) quanto a determinado objeto.
Esta destina-se a assegurar que estão em juízo, como autor e réu sujeitos que têm uma relação
com o objeto.
A legitimidade direta é aquela que é reconhecida ao (alegado) titular da situação subjetiva e a
quem tem com ele interesse em discutir a titularidade dessa situação.
A legitimidade indireta é aquela que é atribuída a alguém para litigar em nome próprio sobre
esta.
Substituição processual
Fundamento-esta verifica-se nas situações em que a parte legitimada não é o titular do objeto
do processo (situações em que alguém faz valer em nome próprio um direito alheio), estando a
sua cobertura legal no art 30 nº3 (que faz uma ressalva à regra geral).
-Tal ressalva aponta para uma necessária previsão legal da substituição processual, sendo que
etsa pode ser muito variada p.ex :A-contiularidade de um direito litigado (art 512 nº1 do CC),
porque se tem poderes de administração ou disposição de um património alheio (art 81 nº1
CIRE etc)
-Transmissão que ocorre por cessão da coisa litigada, é uma substituição legal (art 263 nº1)
Fundamento negocial-a substituição processual pode também ter natureza voluntária (ver 338
do MTS).
Legitimidade direta
-A aferição da legitimidade direta, deve ser feita em função de dois elementos:
A-interesse em demandar e em contradizer (interesse em obter uma tutela favorável através da
decisão de procedência ou improcedência); assim a legitimidade ativa afere-se pelo interesse
em demandar e a legitimidade passiva pelo interesse em contradizer (elemento processual)
B-poder de produção dos efeitos substantivos que são consequência da procedência ou
improcedência da ação (elemento material)
Falta-esta constitui uma exceção dilatória (art 577 al)e que conduz à absolvição do réu na
instância (art 576 bº2 e 278 nº1 al)d
Elemento processual (interesse em demandar e em contradizer)
Regra da coincidência-o direito subjetivo pode me regra ser tutelado pelos tribunais, pelo que
a sua titularidade tendencialmente coincide com a titularidade do interesse em demandar (arts
30 nº1 e 30 nº3).
Impossibilidade da coincidência
-Dado que a titularidade do interesse em demandar será coincidente com a titularidade do
direito subjetivo, pelo que a maior função desse conceito de interesse será o de determinar as
partes legitimas quando estas não possam ser consideradas titulares de um direito subjetivo.
-Por exemplo a legitimidade para instaurar uma ação de declaração de nulidade ou anulação
de um negócio jurídico pertence a qualquer interessado 8286 e 287 nº1), pelo que nestes
casos será pelo interesse em obter alguma tutela com a procedência ou improcedência da ação
que permitirá aferir os titulares de interesses.
Autonomia dos interesses
-O interesse em demandar e em contradizer, são independentes entre si (porque cada parte
possui um interesse próprio numa tutela favorável).
Assim do facto do autor possuir interesse em demandar, não se retira que o réu possua
interesse em contradizer e o contrário (estes são preenchidos e aferidos com total autonomia).
Pluralidade de partes
-Há pluralidade de partes principais dá-se o nome de litisconsórcio
Modalidades de litisconsórcio
Litisconsórcio e coligação-no litisconsórcio, existe uma pluralidade de partes principais (que
pode mas não tem de coexistir) com uma pluralidade de pedidos.
-O problema de distinção em relação à coligação, coloca-se quando existe uma pluralidade de
pedidos dos litisconsortes.
Para MIGUEL TTEIXEIRA DE SOUSA
-No litisconsórcio (arts 32 a 35 e 39) pode haver ou não pluralidade de pedidos, mas quando
haja todos os litisconsortes formulam o mesmo pedido (ou o mesmo pedido é formulado
contra todos os litisconsortes).
-já ná coligação, o mesmo pedido é formulado por (ou contra) partes distintas.
Litisconsórcio inicial e sucessivo
-Consoante se verifique desde o inicio do processo, ou se verifique só a partir de um certo
ponto da marcha do processo (quando resulte de intervenção de terceiros -311, 316 e 333 nº1)
Litisconsórcio simples e recíproco
Será este simples quando não aumente o número de oposições (mantém-se bipolar)
Será recíproco quando existe mais do que uma oposição entre as partes (ver pg 347)
Litisconsórcio necessário e voluntário
Este será voluntário quando exista pluralidade de partes principais porque a lei o permite e
será necessário porque a lei, o contrato fonte da relação controvertida, ou o efeito útil da ação
assim o obriguem.
Só há litisconsórcio necessário quando a sua consequência for a absolvição na instância por
ilegitimidade (art 33 nº1; 278 nº1 al)d e 577 al)e; isto é quando a ausência de uma parte
implicar a ilegitimidade do autor ou do réu.
-Esta será, no entanto, sanável nos seguintes termos:
A-através da intervenção espontânea de terceiro (art 311);
B-intervenção de terceiro provocada por qualquer das partes até ao termo da fase dos
articulados (art 316 nº1 e 318 nº1 al)a, sendo que pode a mesma ser ainda provocada pelo
autor (ou reconvinte) até ao trânsito em julgado da decisão que tenha julgado alguma parte
ilegítima por preterição do litisconsórcio necessário (art 261 nº1).
Litisconsórcio parciário e unitário
O litisconsórcio parciário será aquele em que a decisão da causa, pode ser uniforme para cada
um dos litisconsortes e o litisconsórcio unitário é aquele em que a decisão da causa tem de ser
uniforme.
-Esta distinção não está expressamente prevista na lei processual, mas uma das modalidades
de litisconsórcio necessário, define-se pela necessidade de obter uma decisão uniforme para os
vários interessados.
Litisconsórcio voluntário
-A regra geral é a de que havendo pluralidade de interessados, existe liberdade do autor na
escolha de partes da causa (pode intentar sozinho ou com outros interessados ou contra todos
os interessados ou só alguns deles).
Regime jurídico
-O litisconsórcio voluntário é aquele que se verifica quando o que podia ter sido repartido por
várias ações é obtido numa única ação, podendo ter por base:
A-o facto do direito apreciado na ação ser divisível por vários titulares ativos ou passivos
-Neste caso se o a ação for intentada por um só ou parte dos interessados, ou contra um só ou
parte dos interessados, o tribunal deve conhecer unicamente das quotas partes do interesse
ou da responsabilidade das partes em juízo, ainda que o pedido abranja a totalidade (art 32
nº1)
B-legitimidade concorrente -aquela atribuída a cada um dos titulares do direito ou interesse
em substituição de todos os demais (ver exemplos pg 353)
C-litisconsórcio conveniente -aqui a lei impõe o litisconsórcio não como pressuposto processual
e sob pena de absolvição na instância, mas para obter uma outra vantagem.
Litisconsórcio necessário-este verifica-se quando a intervenção de todos os interessados for
imposta e o seu desrespeito implicar a ilegitimidade da parte demandante ou demandada.
Este nos termos do art 33 pode ser legal, convencional ou natural.
Litisconsórcio necessário legal
-verifica-se quando a própria lei o impõe, sob pena de ilegitimidade.
No CPC: art 34 (direitos e dividas do cônjuge); B-art 454 nº2 (incidente de habilitação); C-922
nº1 consignação em depósito); D-953 nº1 e 954 (regulação e e repartição de avarias marítimas)
-No CC: A-art 419 nº1 (exercício do direito de preferência); B-496 nº2 (titularidade do direito à
indemnização por morte da vitima); C-art 535 nº1 (exigência de obrigação indivisível); D-art
608 (ação sub-rogatória); E-art 1822 nº2 (ação de investigação da maternidade); F-art 1846 nº1
(ação de impugnação da paternidade); G-art 2091 nº1 (exercicio de direitos relativos à herança
indivisa).
Litisconsórcio conjugal ativo
-A ideia central que orienta o litisconsórcio legal entre cônjuges no processo civil é o de que a
necessidade de comparticipação no ato ou de autorização que o direito substantivo prevê para
a produção de certo efeito deve manter-se em processo civil para as ações em que seja
possível produzir efeito semelhante.
-O litisconsórcio conjugal ativo, vem assim regulado no art 34 nº1 (que traduz a ideia acima
explicada).

Bens próprios (base substantiva)-estes cada cônjuge administra (art 1678 nº1) e pode em regra
aliena-os livremente (art 1682 nº2 CC), por isso em regra o cônjuge tem legitimidade para
propor as ações que digam respeito a estes bens e podem contra ele ser propostas ações com
o mesmo objeto.
Exceções -A-art 1683 nº3 al)c (móveis utilizados conjuntamente pelos dois cônjuges na vida do
lar ou como instrumento de trabalho); B-móveis pertencentes exclusivamente a um dos
cônjuges que os não administra (art 1683 nº3 al)b; C-imóveis, salvo vigorando o regime da
separação de bens (art 1682 A nº1 al)a; D-estabelecimento comercial, salvo vigorando o
regime da separação de bens (art 1682 A nº1 al)b; E-casa da morada de família (art 1682 A
nº2 do CC).
Bens próprios regime processual -presente no art 34 nº1
Bens comuns base substantiva-deve-se distinguir entre os bens comuns administrados por um
dos cônjuges (art 1678 nº2 al)a e b e bens comuns administrados por ambos os cônjuges.
-A possibilidade de alienar vai unida à administração (art 1682 nº2), pelo que se conclui que o
regime dos bens comuns administrados por só um dos cônjuges é o regime dos bens próprios.
A administração por ambos os cônjuges é a regra
Interesse processual
Aspetos gerais
-Este pode ser definido como o interesse da parte ativa, em obter tutela jurisdicional e o
correspondente interesse da parte passiva em impedir a concessão daquela tutela, assim esta
utilidade da tutela constitui a referência do interesse processual.
-O art 20nº1 da CRP atribui a todos o direito de acesso aos tribunais, sendo que o interesse
processual (define as condições desse acesso), na medida em que o condiciona à existência de
utilidade em obter a tutela jurisdicional requerida.
Isto por razões de economia (tutela jurisdicional é um bem escasso que não deve ser exaurido
na apreciação de ações inúteis) e para impedir custos incómodos e desnecessários ao tribunal
e ao demandado.
Referência
-O interesse processual, diz respeito à utilidade da tutela processual, mas esta utilidade pode
ser aferida de duas formas:
A-utilidade da tutela, pode referir-se à necessidade de um meio processual concreto para obter
um resultado -aqui falta interesse quando a parte não necessita do meio processual concreto
para alcançar o resultado (podia alcança-lo pela via extraprocessual ou evitando a duplicação
de processos)
B-utilidade da tutela pode referir-se à utilidade do resultado a obter -aqui falta utilidade da
tutela, se o resultado que possa ser obtido desta seja em abstrato inútil.
Concretização
-O direito Português, nos arts 535 nº1 e 532 nº2 al)c enumeram duas situações em que a ação
é inútil porque o meio em concreto é inútil.
-Não obstante o 535 nº1 estatui para estas situações que se o réu não contestar, o autor fica
responsável pelas custas da ação.
Assim a desnecessidade do meio processual concretamente usado, não implica à falta de
interesse processual, logo resta referenciar o interesse à utilidade em abstrato do resultado a
obter pelo requerente da tutela.
-MIGUEL TEIXEIRA DE SOUSA, considera dogmaticamente antiquada esta solução do direito
positivo (de considerar irrelevante para aferir o interesse a necessidade concreta da tutela),
sendo a principal desvantagem da solução, permitir uma questionável duplicação de ações p.ex
a parte pode apresentar inicialmente uma ação de simples apreciação e só depois de
condenação, sendo a única consequência o facto de o autor pagar as custas da ação de
condenação se o réu não contestar (art 535 nº1).
Análise do interesse
Dualidade do interesse
-O interesse processual, desdobra-se num interesse em demandar e num interesse em
contradizer (art 30 nº2).
O interesse em demandar é o interesse na obtenção da tutela judicial e afere-se pelas
vantagens decorrentes dessa tutela para a parte ativa; autor não terá nenhum interesse
quando em abstrato não extrair nenhuma vantagem da concessão de tutela judiciária
O interesse em contradizer é o interesse de não concessão dessa tutela e avalia-se pelas
desvantagens impostas ao réu pela atribuição da tutela à contraparte (assim o réu não terá
interesse quando em abstrato a concessão dessa tutela não importe para este nenhuma
desvantagem).

Momento da aferição da utilidade


-este interesse será necessariamente aferido no momento da propositura da ação
Correlatividade dos interesses
-Vantagem do autor, será necessariamente correlativa de desvantagem do réu e vice versa, pois
só se o autor beneficiar com a tutela concedida, poderá o réu ter algum prejuízo.
Daqui resulta que se o autor tiver interesse em demandar, terá o réu interesse em contradizer,
pois têm interesse em opor-se à vantagem que o réu pretende obter com a tutela jurisdicional
requerida.
Concretização
-O próprio art 30nº2 ao definir o interesse em demandar e contradizer, lhes atribui este caráter
correspetivo.
Só quando o autor tiver interesse em demandar, terá o réu em contradizer, pois somente se o
autor obtiver alguma vantagem através da tutela jurisdicional que solicitou, poderá ser imposta
uma desvantagem ao réu.
Assim o interesse processual, apesar de ser um pressuposto aferido relativamente a cada uma
das partes, apresenta a particularidade de ser preenchido simultaneamente relativamente a
ambas as partes (ou ambas têm interesse processual ou nenhuma têm esse interesse).
Aferição do interesse
-O interesse processual é um pressuposto processual face à parte ativa e correlativamente face
ao réu, que é aferido pela posição de ambas as partes em relação à utilidade da tutela
jurisdicional, sendo que este é aferido objetivamente com base nessa utilidade.
Se objetivamente a tutela jurisdicional solicitada for útil ao requerente, então está assegurado
o interesse processual.
Utilidade da tutela
Aspeto positivo
Sempre que se possa estabelecer a correspondência entre um ius e a actio, ou seja sempre que
o autor seja titular de um direito de ação (art 2nº2), está assegurado o interesse processual.
Se o o ius invocado pela parte, não for suficiente para lhe atribuir o direito de ação, será
distinta a situação p.ex obrigação que ainda não está vencida -a mera invocação pelo credor do
direito de crédito, não será o suficiente para estar preenchida a utilidade, pelo que aqui só
analis

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