Você está na página 1de 3

Começando por enquadrar o objeto do pedido, que é a questão jurídica sobre a qual o tribunal é

chamado a pronunciar-se no processo, existem duas teorias relativamente as partes do objeto:

A teoria substancialista defende que o essencial é o pedido, visto que se baseia no modo como a
parte qualifica juridicamente o que ela pretende levar a juízo.

Segundo o professor Manuel de Andrade, o pedido é a enunciação da forma de tutela


jurisdicional pretendida pelo autor e do conteúdo e objeto do direito a tutelar.

Este apresenta duas vertentes distintas: a vertente imediata configurada por aquilo que é
solicitado pelo particular ao juiz e a mediata, que é composta pelo direito que visa ser tutelado
no processo.

Antigamente, só se considerava a vertente imediata do pedido. A Administração não se


preocupava com a vertente mediata, visto que o particular não era titular de nenhuma situação
jurídica subjetiva relativamente à Administração. Esta visão é incompatível com o nosso
ordenamento jurídico visto que viola o disposto no art.212.3 da CRP que vem defender a
titularidade, por parte dos particulares, de direitos nas relações jurídicas administrativas.

A teoria processualista, ao contrário, defende que o essencial é a causa de pedir, isto é, os factos
que são levados a juízo, a razão jurídica e fundamento da pretensão.

A causa de pedir pode ser considerada de duas formas:

De forma objetivista, que vem estabelecer que aquilo que é levado a juízo é a legalidade do ato
administrativo e o juiz deve apreciar essa legalidade independentemente dos factos ou
qualificações jurídicas feitas pelas partes. O juiz deve procurar todas as hipóteses possíveis de
ilegalidade do ato administrativo.

De forma subjetivista, vem estabelecer que as alegações trazidas a juízo pelo autor são o
elemento mais relevante. A logica relacional entre o que deve ser levado a juízo e a lei é o
objeto do processo, no âmbito da causa de pedir.

Atualmente, segue-se esta última, uma orientação subjetivista, ao estarmos num sistema em que
os meios processuais são de plena jurisdição e há uma efetiva e plena proteção dos direitos dos
particulares, em consequência, a causa de pedir deve ser entendida de forma conexa com as
pretensões formuladas pelas partes. O nosso sistema encontra-se direcionado a defesa dos
interesses dos particulares nos termos do art.2.2 CPTA. e art.268.4 da CRP.

Cabe ainda referir o art.95.1 CPTA que vem evidenciar esta ideia subjetiva ao estabelecer que
tribunal não pode ocupar-se de outras questões que não as que sejam suscitadas pelas partes.
Desta forma, a causa de pedir será determinada pelas pretensões das partes.
Para concluir com uma comparação, o autor Mandriolli referiu-se a relação do pedido com a
causa de pedir com ‘’o verso e reverso da mesma medalha’’. Significa que o objeto do processo
é identificado pela conjugação do pedido e da causa de pedir propostos pelo autor.

Relativamente a petição inicial, esta permite a constituição da instância, no momento em que


esta é recebida pelo tribunal.

O autor apresenta um ou vários pedidos que julga necessários para tutelar os seus direitos ou
interesses. Com esta apresentação, o autor impulsiona a criação do processo e os tribunais são
chamados a atuarem e decidirem sobre o caso. A competência dos tribunais é restringida
exclusivamente ao que incorporar o pedido, não podem julgar uma questão que não esteja
prevista neste.

Para que a instância esteja corretamente constituída, é preciso que estejam verificados uma serie
de requisitos; os pressupostos processuais, que se encontram elencados no artigo 78º do CPTA

Na petição inicial, o autor deve apresentar os factos e as razões de Direito que servem de
fundamento à ação. São expostos os factos concretos, objetivos e individualizados que
constituem a causa de pedir. Devem ainda ser sustentados juridicamente os pedidos que formula
na ação. A causa de pedir é então constituída por esses factos e a consequente aplicação do
direito aos mesmos que lhe dão relevância jurídica, tornando-se factos jurídicos que formarão a
pretensão do autor.

Se não são alegados ditos factos ou estes são inteligíveis, há falta de causa de pedir, cuja
consequência é à ineptidão da petição inicial. Mas esta é antes insuficiente, quando apesar de
estarem alegados tais factos, os mesmos são insuficientes para se reconhecer o direito do autor.
Neste último caso, a petição inicial seria deficiente, devendo recorrer ao despacho de
aperfeiçoamento.

O convite de aperfeiçoamento, nos termos do artigo 508.º, n.ºs 1 a 3 do CPC, permite que o
autor explicite melhor os factos antes arguidos, mas esta impedido de trazer fatos novos.

No caso apresentado na notícia, o autor limitou-se a requerer que sejam indemnizados os


lesados, sem identificá-los individualmente. Teríamos então uma petição inicial imperfeita visto
que o autor não indicou de forma clara os interesses individuais dos lesados. Teria de se recorrer
a um despacho de aperfeiçoamento, para que sejam indicados corretamente os interessados.

Em conclusão, neste caso, não haveria contradição entre o pedido e causa de pedir, mas sim
uma insuficiência ou irregularidade na petição inicial facilmente suprível mediante um despacho
de aperfeiçoamento.

Você também pode gostar