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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA

LAILA MARIA FRANCO OLIVEIRA


(11921DIR027)

ATIVIDADE ASSÌNCRONA QUINTA SEMANA


Análise do RECURSO ESPECIAL Nº 1.164.017 - PI (2009/0213764-4)

UBERLÂNDIA/MG
2021
A atividade consiste na análise do acórdão em anexo, originário do Superior
Tribunal de Justiça, encaminhado em anexo. Deverá o aluno fazer um breve relato
sobre o acórdão, demonstrando que compreende satisfatoriamente seu conteúdo.
Deverá ainda relacionar o acórdão com o conteúdo ministrado na aula síncrona
desta semana demonstrando a distinção entre capacidade processual, capacidade
judiciária e legitimidade. Por fim, tendo em vista que o julgamento aconteceu antes
do atual CPC e foi concretizado com base nas disposições do CPC revogado, deverá
concluir informando se a solução a que chegou a Corte seria a mesma se proferida
na atualidade.

O Recurso Especial Nº 1.164.017 - PI (2009/0213764-4) apresenta situação em


que a Câmara de Vereadores do Município de Lagoa do Piauí/PI estabelece ação de
caráter previdenciário contra a Fazenda Nacional e o INSS. O caso trata de uma ação
ordinária inibitória que objetiva versar sobre os recursos orçamentários providos aos
vereadores. A partir disso, fica claro o elemento patrimonial da ação, o que ocasiona
divergência no debate acerca dos critérios a serem seguidos. Por um lado, a Câmara dos
Vereadores se considera competente para integrar o polo ativo da relação jurídica,
contudo, seu pedido é controverso ao ser constatado que o ente não possui personalidade
jurídica, mas judiciária.
Nesse sentido, ações que versem sobre a situação previdenciária dos vereadores
não podem ser aceitos, uma vez que caracterizam uma contraposição ao que se segue em
matéria de capacidade processual. Para que a medida proposta pelo órgão seja cabível,
esta deve tratar sobre questões relativas apenas ao seu funcionamento, autonomia e
independência, o que não ocorre na propositura da ação. À vista disso, é preciso frisar
que, para que uma pessoa possa postular em juízo, esta deve ter interesse processual e
legitimidade. Anteriormente, era possível verificar ainda a possibilidade jurídica do
pedido, isto é, a exigência de que aquilo que consta no pedido do autor esteja contemplado
no ordenamento, não havendo vedação do ordenamento quanto ao que o indivíduo
solicita. Este elemento não foi inserido pelo CPC/2015, pois é verificado junto ao mérito.
Ademais, o interesse de agir é uma condição de ação que se faz presente quando
aquele que apresenta a petição inicial demonstra que existe um conflito a ser solucionado.
Para que haja interesse processual, deve ser verificada a necessidade de intervenção
jurisdicional e a adequação quanto aquilo que foi pedido (deve ser apto a solucionar o
conflito). Por conseguinte, a legitimidade para agir é uma característica a ser verificada
quanto às partes que estão no polo ativo (autor) e polo passivo (réu). Em regra, é
coincidente com a titularidade do direito material controvertido e está presente quando a
pessoa que invoca o direito material está em condições de exigir algo de outrem.
Em casos excepcionais, pode ser conferida a legitimidade a pessoas que não
originalmente a possuem, ou seja, não são titulares de direito controvertido. Assim, essa
pessoa fica autorizada a entrar com ação para defender o direito de outrem a partir da
legitimação extraordinária, a qual decorre apenas de lei. Sendo assim, não se pode entrar
para defender o direito de outra pessoa se a lei não dispuser de previsão acerca do caso,
como conferem os termos do art. 18 do CPC. Não obstante, alguns órgãos podem,
mediante autorização proveniente de lei, agir em defesa do direito de outrem, como é o
caso dos Sindicatos, Ministério Público, Ordem dos Advogados do Brasil e Defensoria
Pública.
No art. 70 CPC, é mencionada a capacidade processual, a qual se define como
pressuposto processual que diz respeito às partes: “toda pessoa que se encontre no
exercício de seus direitos tem capacidade para estar em juízo”. Nesse sentido, tem
capacidade processual quem tem capacidade civil, de forma que deve haver possibilidade
de exercício de seus próprios direitos. Isto pois uma criança, por exemplo, possui direitos,
mas não está em exercício pois não possui capacidade civil e será assistido por seus pais,
tutor ou curador. Sob outra perspectiva, é propício mencionar as pessoas formais, ou seja,
pessoas que não possuem personalidade jurídica, apenas capacidade judiciária. Este tipo
de capacidade confere ao ente o poder de ser parte em um processo e deve ter sua
amplitude especificada pela lei. Visto isso, a Câmara dos Vereadores se encaixa nesta
modalidade, junta à massa falida (art. 12, III, CPC), ao espólio (art. 12, V, CPC) e entre
outros.
Quanto ao procedimento e solução adotados pela corte, o CPC/1973 carrega
aspectos a serem considerados, como é possível perscrutar no em seu art. 267: “Extingue-
se o processo, sem resolução de mérito: VI - quando não concorrer qualquer das condições
da ação, como a possibilidade jurídica, a legitimidade das partes e o interesse processual”.
Destarte, conclui-se que a interpretação deste dispositivo dispõe que o processo é excluído
sem resolução de mérito em casos de irregularidades no processo. No CPC/2015, no
entanto, o processo não é extinto de forma prematura, pois a prioridade é dada à resolução
do mérito.
Atualmente, é entendido que, caso haja impasse na capacidade processual ou
irregularidade na representação, é preciso recorrer ao art. 76 do CPC, o qual dispõe:
“Verificada a incapacidade processual ou a irregularidade da representação da parte, o
juiz suspenderá o processo e designará prazo razoável para que seja sanado o vício. § 1º
Descumprida a determinação, caso o processo esteja na instância originária: I - o processo
será extinto, se a providência couber ao autor; II - o réu será considerado revel, se a
providência lhe couber; III - o terceiro será considerado revel ou excluído do processo,
dependendo do polo em que se encontre. § 2º Descumprida a determinação em fase
recursal perante tribunal de justiça, tribunal regional federal ou tribunal superior, o
relator: I - não conhecerá do recurso, se a providência couber ao recorrente; II -
determinará o desentranhamento das contrarrazões, se a providência couber ao recorrido”.
Em resumo, o Código anterior preza pela extinção do processo sem resolução de
mérito, enquanto CPC/2015 indica um caminho diverso ao optar que o processo continue
a existir, mas com direcionamento para que os vícios sejam sanados. No caso apresentado
pelo Recurso Especial Nº 1.164.017 - PI (2009/0213764-4), deve ser apresentada a
inconsistência quanto à capacidade processual e reiterada a necessidade de substituição
do polo ativo da relação jurídica. Logo, o Município de Lagoa deve assumir o cargo e
integrar a representação da ação devido ao seu conteúdo patrimonial, legitimidade,
capacidade dos envolvidos e demais elementos controversos citados anteriormente.

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