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Comunicado de imprensa emitido pelo Escrivão

A CORTE EMITE DIVERSAS DECISÕES ACERCA DE SÍMBOLOS RELIGIOSOS


CONSPÍCUOS

A Câmara da Corte Europeia De Direitos Humanos declarou inadmissível as queixas


apresentadas nos casos de Aktas versus França (queixa nº 43563/08), Bayrak versus
França (nº 14308/08), Gamaleddyn versus França (nº 18527/08), Ghazal versus França
(nº. 29134/08), J. Singh versus França (nº 25463/08) e R. Singh versus França (nº.
27561/08), a respeito da expulsão de alunos da escola por vestirem símbolos conspícuos
de filiação religiosa. (As decisões estão disponíveis somente em francês).

Os requerentes são: Sr. Seref Bayrak, um cidadão turco residente em Flers,


representando sua filha (menor de idade); Sr. e Sra. Mahmoud Sadek Gamaleddyn,
cidadãos franceses residentes em Decines-Charpieu, representando sua filha (menor de
idade); Senhorita Sara Ghazal, uma cidadã francesa que nasceu em 1993 e mora em Le
Tholy; Senhorita Tuba Aktas, uma cidadã francesa que nasceu em 1988 e mora em
Mulhouse; Sr. Jasvir Singh, um cidadão francês nascido em 1989 residente em Bobigny; e
Sr. Ranjit Singh, um cidadão francês nascido em 1987 que reside em Drancy.

Resumo dos fatos: As senhoritas Aktas, Bayrak, Gamaleddyn, Ghazal e os senhores


Jasvir Singh e Ranjit Singh foram matriculados em várias escolas estaduais para o ano de
2004-2005. No primeiro dia de aula, as meninas, que são muçulmanas, chegaram usando
um véu ou um lenço. Os meninos estavam usando um “keski”, uma espécie de turbante
usado pelos Sikhs.

Os diretores das escolas consideraram que os acessórios em questão infringiram a


legislação que proíbe o uso de vestimentas ou outros símbolos que manifestem filiação
religiosa, não somente durante as aulas de educação física, mas em todas as aulas, de
acordo com a lei francesa de 2004. Quando os alunos se recusaram a retirar seus adereços
ofensivos, os diretores negaram a eles acesso à sala de aula. As senhoritas Bayrak,
Gamaleddyn e Aktas subsequentemente decidiram usar chapéus ao invés de seus véus.

Após um período de diálogo com as famílias, o conselho disciplinar da escola tomou a


decisão, em diferentes datas entre outubro e novembro de 2004, de expulsar os alunos por
incapacidade de cumprir as decisões do Artigo L. 141-5-1 do Código Educacional.

Os diretores da educação dos distritos escolares envolvidos confirmaram essas decisões,


as quais foram contestadas perante a Corte Administrativa. As contestações foram
dispensadas, ambas em primeira instância e em fase recursal.

Nos casos de Bayrak, Gamaleddyn e Aktas, os pedidos das requerentes de receber ajuda
legal com a intenção de recorrer sobre questões de direito para o Conseil D’Etat (Conselho
de Estado), foram rejeitados por falta de fundamentos sérios para esse recurso. A senhorita
Aktas, entretanto, recorreu ao Conseil D’Etat em 2008, todavia não obteve sucesso. Os pais
dos dois meninos fizeram o mesmo. O Conseil D’Etat dispensou seus recursos,
considerando que o “keski” de Sikh, embora fosse menor que o turbante tradicional e em
cores escuras, não poderia ser descrito como um símbolo “discreto”. Constatou que os dois
meninos, ao usarem o acessório, estavam exibindo visivelmente sua filiação religiosa,
violando a proibição legal.

Reclamações

Baseados, em particular, no Artigo 9º (liberdade de pensamento, consciência e religião)


da Convenção Europeia de Direitos Humanos, combinado com o Artigo 14 (proibição de
discriminação), os requerentes queixaram-se sobre o banimento dos acessórios imposto
pelas escolas e alegaram que foram vítimas de um tratamento diferenciado baseado em
suas religiões.

Baseadas no Artigo 6º §1º (direito a uma audiência justa em prazo razoável), as


senhoritas Aktas e Bayrak queixaram-se sobre a falta de imparcialidade nos procedimentos
disciplinares e, junto à senhorita Gamaleddyn – que também se queixou sobre prazo dos
procedimentos –, sobre a recusa dos tribunais franceses em verificar a decisão do conselho
disciplinar da escola.

Com base no Artigo 2º do Protocolo nº 1 (direito à educação), as senhoritas Aktas,


Bayrak, Ghazal e os senhores Jasvir Singh e Ranjit Singh queixaram-se que a eles havia
sido negado acesso às escolas envolvidas.

Baseado no Artigo 4º do Protocolo nº 7 (direito de não ser julgado ou punido duas


vezes), os pais da senhorita Gamaleddyn relataram que, primeiramente, havia sido negado
acesso às aulas para sua filha e, depois, puniram-na novamente por meio da expulsão.

Procedimento

As queixas foram apresentadas perante a Corte Europeia de Direitos Humanos entre março
e setembro de 2008.

Decisão da Corte1

Artigo 9º

A Corte decidiu examinar, somente sob o Artigo 9º, as diversas queixas baseadas nas
alegações sobre restrições de liberdade religiosa.

Em todos esses casos, o banimento das vestimentas religiosas dos alunos constituía uma
restrição de suas liberdades de manifestarem suas religiões. Essa restrição está prevista na
lei de 15 de março de 2004 (e reafirmada no Artigo L. 141-5-1 do Código Educacional), a
qual visava o objetivo legítimo de proteger os direitos e liberdades de outras pessoas e da
ordem pública.

A Corte salientou que a medida de expulsão poderia ser explicada pelos requerimentos de
proteção dos direitos e liberdades de outras pessoas e da ordem pública e não por outras
objeções às crenças religiosas dos alunos.

1 Este resumo feito pelo Escrivão não é vinculado à Corte.


A Corte, novamente, destacou a importância do papel do Estado como um organizador
neutro e imparcial das práticas de várias religiões, fés e crenças. Também reiterou que o
espírito de compromisso por parte dos indivíduos era necessário a fim de manter os valores
de uma sociedade democrática.

O banimento de todos os símbolos religiosos conspícuos em todas as aulas de escolas


estaduais foi baseado no princípio constitucional de laicidade, o qual estava de acordo com
os valores protegidos pela Convenção e pela jurisprudência da Corte.

A Corte concordou com a opinião das autoridades francesas que o uso constante de
acessórios substitutos também constituía uma manifestação de filiação religiosa. Isso
indicou que a lei de 2004 deveria ser aplicada ao aparecimento de novos símbolos
religiosos e também a possíveis tentativas de burlar a lei.

Quanto à punição de expulsão definitiva, isso não foi desproporcional aos atos dos alunos,
pois eles tinham a possibilidade de continuar seus estudos por meio de educação à
distância.

Essa interferência das autoridades quanto à liberdade dos alunos de manifestar sua religião
foi, entretanto, justificada e proporcional ao objetivo pretendido. Consequentemente, as
suas queixas baseadas no Artigo 9º tiveram que ser rejeitadas por serem manifestamente
infundadas.

A respeito das queixas do Sr. e da Sra. Gamaleddyn sobre os procedimentos conduzidos


pela escola que resultaram na expulsão de sua filha, a Corte adotou o argumento de que
as autoridades, em concordância com as leis em vigor, tinham oferecido à garota
supervisão pedagógica durante o período institucional de diálogo. Tal período transacional
não tinha sido, entretanto, ilegal ou tampouco arbitrário. Essa parte da queixa de
Gamaleddyn foi, portanto, manifestamente infundada e, por conseguinte, rejeitada.

A Corte também rejeitou, como manifestamente infundada, a parte da queixa das senhoritas
Ghazal e Aktas e dos senhores Jasvir Singh e Ranjit Singh relativa ao Artigo 14 em conjunto
com o Artigo 9º, uma vez que a legislação em questão se aplicava a todo símbolo religioso
conspícuo.

Artigo 6º §1º

Já as queixas do caso de Bayrak, Gamaleddyn e Aktas de que os procedimentos foram


injustos tiveram que ser rejeitadas, pois as decisões do conselho disciplinar estavam
sujeitas à revisão pelo tribunal administrativo e pela corte administrativa de apelação e
ambos tinham o poder de lidar com todos os aspectos de um determinado caso, para o qual
os requerentes estavam aptos a submeter seus argumentos.

No caso de Gamaleddyn, a Corte estabeleceu que a recusa de conceder ajuda legal


visando um recurso perante o Conseil d’Etat não constituía violação ao Artigo 6º §1º, já que
essa recusa havia sido justificada pela legítima necessidade de alocar fundos públicos
apenas àqueles requerimentos que eram prováveis de ser bem sucedidos e que a
composição de uma seção de ajuda legal oferecia garantias substanciais de justiça. Essa
parte da queixa foi, portanto, rejeitada.
No mesmo caso, a queixa referente aos prazos dos procedimentos também teve que ser
rejeitada por falta de esgotamento dos recursos internos, uma vez que os requerentes não
apresentaram uma ação de indenização contra o Estado francês por deficiências no serviço
público de justiça.

Reclamações sob outros Artigos

Quanto às reclamações submetidas pelas senhoritas Ghazal e Aktas e pelo senhores


Bayrak, Jasvir Singh e Ranjit Singh com base no Artigo 2º do Protocolo nº 1, a Corte
considerou que nenhuma questão separada surgiu sob esse artigo e que não era preciso
examinar essas reclamações.

Quanto às reclamações do Sr. e da Sra. Gameleddyn baseadas no Artigo 4º do Protocolo nº


7, pelo fato de sua filha ter sido punida duas vezes pelo mesmo ato, a Corte rejeitou essa
parte da queixa sob o pretexto deste artigo ser aplicado somente a infrações criminais.

A Corte decidiu que todas as seis queixas teriam que ser rejeitadas.

***

As decisões estarão disponíveis hoje no site do Tribunal na internet


(http://www.echr.coe.int).

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Frédéric Dolt (telefone: 00 33 (0)3 90 21 53 39)

A Corte Europeia de Direitos Humanos foi estabelecida em Estrasburgo pelo


Conselho de Estados Membros da Europa em 1959 para lidar com as alegadas
violações de 1950 da Convenção Europeia de Direitos Humanos.

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