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SEMINÁRIO TANG – APRESENTAÇÃO

65 – As aplicantes alegaram que elas sofreram discriminação nos


procedimentos dentro dos tribunais austríacos. Nesses tribunais, elas
haviam alegado que a recusa do pai adotivo em conceder à adoção à
companheira (PROCURAR LEI INTERNA ESPECÍFICA) não era justificável na
medida em que ele agia contra os interesses da criança.
Consequentemente, o interesse do segundo aplicante na adoção
sobrepunha-se à rejeição do pai. Portanto, elas alegaram que as cortes
deveriam rejeitar a objeção do pai de acordo com o Artigo 181 parágrafo 3
do Código Civil (procurar). No caso de um casal de sexo oposto, a Corte
Distrital teria realizado uma cuidadosa examinação das alegações em
relação ao pai e teriam que entregar uma avaliação separada nesse
assunto específico. Porém, no caso das aplicantes foi negado qualquer
tipo de inquérito das alegações com o argumento de que a adoção
requisitada pelas aplicantes não era possível, de qualquer maneira,
segunda a lei austríaca (procurar isso). Essa posição foi explicitamente
confirmada pela Corte (procurar isso).
66 – As aplicantes enfatizaram que a essência de sua reclamação era a de
que elas foram automaticamente excluídas de qualquer chance de
concretizar a adoção. O caso era, portanto, similar à “E.B. v. França”
(procurar), no sentido de que elas foram excluídas de qualquer
possibilidade significativa de adoção por conta da orientação sexual da
primeira e terceira aplicantes.

 Passos para a adoção e a recusa do pai em concedê-la


A fim de autorizar um processo de adoção, o Código Civil austríaco exige o
seguinte:
- O artigo 179 do Código Civil diz que:
“(1) Pessoas com idade legal e plena capacidade... podem adotar. A
adoção cria uma relação de pai e filho.
(2) A adoção de uma criança por parte mais de uma pessoa,
simultaneamente ou [...] consecutivamente, será permitida no caso de as
duas pessoas estiverem unidas sob o matrimônio. Via de regra, os esposos
só podem adotar uma criança de forma conjunta. Exceções podem ser
feitas no caso de [...] os cônjuges não vivem em matrimônio por ao menos
três anos [...]”.
- Nos termos do Artigo 179a do Código Civil, a adoção requer um acordo
escrito entre os pais adotivos e a criança a ser adotada e a aprovação da
adoção por uma corte competente.
- A corte competente tem de analisar se o acordo serve aos interesses da
criança e se uma relação correspondente àquela entre a criança e os pais
biológicos já existe entre a criança e os candidatos a pais adotivos ou se se
pretende criar tal relação.
- O artigo 181 do Código Civil austríaco, por fim, diz que:
(1) A aprovação pode ser concedida se uma das seguintes pessoas
concordar com a adoção:
1. Os pais do menor adotado;
2. O(a) esposo(a) do pai(mãe) adotivo(a);
3. O(a) esposo(a) da criança adotada
4. A criança adotada com a idade de 14 anos.
...
(3) Quando uma das pessoas referidas nos pontos de 1 a 3 recusarem
a adoção sem razões justificáveis, a corte pode ignorar a recusa de
uma das partes.

De acordo com a jurisprudência das cortes austríacas, ignorar a


recusa de uma das partes de acordo com o Artigo 181 (3) do Código
Civil é uma medida extraordinária que só será prevista no caso do
interesse da criança sobrepuser o interesse do progenitor, em por
exemplo ter contato com a criança. É um artigo que também pode
ser usado no caso da recusa de um dos pais não for justificável em
termos morais, quando por exemplo um dos progenitores mostra
um constante e extremo hostilidade em relação à família, ou se for
negligente em relação à criança, etc.

 O tratamento perante as cortes nacionais


As demandantes alegam que sofreram discriminação nas cortes
domésticas porque a adoção nunca seria efetivada por conta do tipo de
relacionamento que a primeira e a terceira aplicante tem, que se constitui
em uma união homoafetiva, proibida, na Áustria, de ser uma relação em
que se pode legalmente ter filhos.
Isso fica claro quando analisamos os argumentos utilizados por cada uma
das instâncias percorridas pelas aplicantes.
Na primeira delas, a Corte Distrital escreveu na sentença que:
“A demandas das aplicantes, que objetiva garantir à mãe biológica e sua
companheira a guarda conjunta da criança, não tem fundamentos
jurídicos. [...]
O artigo 182 do Código Civil [...] prevê que quando uma criança é adotado
por uma pessoa, a relação legal que ela possui com o pai (mãe) biológico
(a) do mesmo sexo do pai (mãe) adotivo (a) deixa de existir [...].
[Portanto], o arranjo familiar proposto pelas aplicantes [...] é incompatível
com a lei”.
A Corte nem ao menos se deu ao trabalho de analisar a justificativa de que
a os direitos legais que o pai possuía deveriam ser ignorados pela corte
por conta do tipo de família que formavam.
Já a Corte regional rejeita a apelação das demandantes alegando que “[...]
o direito familiar da Áustria é claro em dizer que um casal de pais deve se
constituir de duas pessoas do sexo oposto”. Quanto ao pedido das
demandantes em analisar a relação do pai com a criança, a Corte limitou-
se a registrar que o pai biológico da criança tinha contato regular com ela.
Por sua vez, a Suprema Corte austríaca rejeitou as apelações feitas pelas
demandantes, de novo levantando o artigo 182 do Código Civil como uma
impossibilidade para a adoção de crianças por casais do mesmo sexo e
argumentando, ainda, que o principal objetivo de uma adoção era garantir
que uma criança se tornasse um indivíduo responsável no futuro, o que só
seria garantido quando a adoção permitisse a recriação a mais próxima o
possível de uma família em sentido biológico.

 Caso E.B. v. França


As demandantes dizem que o centro de sua reclamação perante a CEDH é
o fato de terem sido excluídas da possibilidade de adotar pelas cortes
austríacas por conta de sua orientação sexual. Elas alegam que a CEDH já
julgou que negar a alguém a possibilidade de embarcar num processo de
adoção baseado unicamente em sua sexualidade é discriminatório, como
comprova o caso E.B. v. França.
E. B. é uma mulher lésbica que vive com sua companheira na França e que
teve seu pedido de autorização para adotar negado pelas autoridades
competentes do país por dois principais motivos, na avaliação da Corte
Europeia: a falta de uma referência paternal existente na casa em que a
criança a ser adotaria viveria e a falta de motivação da companheira de E.
B. com a vontade desta em adotar. A CEDH considerou que se por um lado
era justificável levar em conta o suposto desinteresse da companheira da
aplicante em levar adiante o processo de autorização para adoção, por
outro o governo da França não conseguiu explicar porque a existência de
uma referência paterna na criação da criança era necessária para autorizar
o processo de adoção. Então, como a França havia estendido o direito de
adoção para todos os indivíduos solteiros, não poderia negar a alguns
deles esse direito com base em discriminações que não eram justificáveis
nem razoáveis. Nesse caso, a CEDH considerou que a França havia violado
os artigos 8 e 14 da Convenção.
Da mesma forma, as demandantes do presente caso alegam que não
tinham a possibilidade de entrar com um pedido de adoção na Áustria por
conta de sua orientação sexual, já que a lei austríaca proibia o arranjo
familiar pretendido pelas demandantes ao dizer que um indivíduo não
poderia ter, legalmente, dois pais do mesmo sexo. Para as demandantes,
então, esse caso é similar a E. B. v França.

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