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Julgamento da Câmara1
Fatos Principais
O requerente, Sinan Isik, é um cidadão turco nascido em 1962 que vive em Izmir (Turquia).
Ele é um membro da comunidade religiosa Alevi, profundamente enraizada na sociedade e
história turca. A fé dessa comunidade, que é influenciada, em particular, pelo Sufismo e por
crenças pré-islâmicas, é considerada por alguns estudiosos Alevi como uma religião
separada e, por outros, como um segmento do Islã.
Em 2004, o Sr. Isik peticionou a um tribunal requerendo que sua carteira de identidade
incluísse a palavra “Alevi” no lugar da palavra “Islã”. Até 2006, era obrigatório que a religião
do portador da carteira de identidade fosse indicada neste documento (mas, desde 2006, foi
conferido às pessoas o direito de requerer que o registro seja mantido em branco).
1 De acordo com o artigo 43 da Convenção, no período de três meses a contar do julgamento da Câmara,
qualquer parte da demanda pode, em casos excepcionais, requerer que ela seja encaminhada aos 17 membros da
Grande Câmara. Nessa situação, um colegiado com cinco juízes ponderará se o caso levanta sérias questões que
afetam a interpretação ou a aplicação da Convenção ou de seus protocolos, ou um grave questionamento de
interesse geral, casos em que a Grande Câmara dará uma decisão final. Se nenhuma dessas questões surgirem, o
júri rejeitará o pedido, momento em que o julgamento se torna definitivo. Do contrário, as sentenças da Câmara
se tornam definitivas no prazo máximo de três meses ou antes, se as partes declararem que não têm a intenção de
encaminhar um novo pedido.
Além do artigo 9º, o Sr. Isik também se baseou nos artigos 6º (direito a uma audiência justa)
e 14 (proibição da discriminação), queixando-se que foi obrigado a revelar suas crenças na
carteira de identidade, um documento público que utilizava frequentemente no dia a dia. Ele
também reclamou da recusa de seu pedido de substituir a palavra “Islã” pelo nome de sua
religião, “Alevi”, na carteira de identidade. Argumentou, por fim, que a indicação existente
não representava a realidade e que os procedimentos que levaram ao indeferimento de seu
pedido foram questionáveis, uma vez que envolveram uma análise de sua religião pelo
Estado.
O julgamento foi realizado por uma Câmara composta por sete juízes, da
seguinte maneira:
Decisão da Corte
A Corte reiterou que a liberdade de manifestar sua religião ou crença possuía um aspecto
negativo, especificamente o direito de um indivíduo não ser obrigado a revelar sua religião
ou agir de uma maneira que permita tirar conclusões sobre terem ou não essas crenças.
O Governo ainda alegou que, desde a lei de 2006, o requerente, em qualquer caso, não
mais poderia alegar ter sido vítima de violação do artigo 9º, uma vez que, a partir de então,
todos os cidadãos turcos passaram a ter o direito de requerer que a informação sobre
religião nas carteiras de identidade fosse alterada ou que o item fosse mantido em branco.
Nesse ponto, a Corte considerou que a lei não havia afetado sua avaliação da situação. O
fato de ser preciso requerer por escrito às autoridades a exclusão da religião dos registros
civis e das carteiras de identidade, e, do mesmo modo, o simples fato de ter uma carteira de
identidade com o item “religião” em branco, obrigava o cidadão a revelar, contra sua
vontade, informações sobre um aspecto de sua religião ou sobre suas convicções mais
pessoais. Isso estava, sem dúvida, em discordância com o princípio de liberdade de não
manifestar sua religião ou crença.
A Corte julgou, por seis votos a um, que teria ocorrido uma violação do artigo 9º. Decidiu,
também, pela mesma maioria, que não era necessário analisar separadamente se teria
ocorrido violação dos artigos 6º e 14.
Uma vez que o requerente não havia apresentado nenhuma reivindicação amparada pelo
artigo 41 da Convenção (justa indenização), a Corte não proferiu nenhuma compensação.
No que se refere ao artigo 46 (força vinculativa e execução das decisões), a Corte indicou
que a exclusão do item “religião” nas carteiras de identidade poderia ser uma forma
apropriada de reparação para solucionar a violação em questão.
O Juiz Cabral Barreto expressou uma opinião divergente, que foi anexada ao acórdão.
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