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DECISÃO/MANDADO DE CITAÇÃO
Trata-se de Ação Civil Pública de Preceito Cominatório c/c Indenização por Danos Morais Coletivos com
pedido liminar, movida pelo Ministério Público do Estado do Espírito Santo, em face de Primeira Igreja
Batista de Aracruz – PIBARA, já qualificados em inicial, por meio da qual sustenta, em suma, que:
A Primeira Igreja Batista de Aracruz – PIBARA, encontra-se estabelecida em local estratégico do Município
de Aracruz, situada ao lado da Câmara de Vereadores e há poucos metros do centro comercial mais
movimentado da cidade (Shopping Oriundi), sendo que a mensagem divulgada no aludido outdoor teve
alcance amplo junto à população aracruzense; Se isso não bastasse, a polêmica gerada com a mensagem
ofensiva à população LGBTQIA+ veio a ser divulgada por diversos meios de comunicação, dentre os quais
a versão online do Jornal A Gazeta, com milhares de visualizações, e o site Catraca Livre; É fato que na
data de 08.07.2022, fez-se constar do outdoor pertencente à demandada imagem com as seguintes
características: - na parte superior, as cores do arco-íris identificada como o símbolo do movimento
LGBTQIA+, escorrendo de cima para baixo; - abaixo do arco-íris com as cores escorrendo para baixo,
desenhos singelos de seres humanos, com silhuetas que permitem identificar uma família no padrão
heteronormativo (casal formado por homem e mulher) e com 02 (dois) filhos crianças (um menino e uma
menina); - a família está abrigada abaixo de um grande guarda-chuva, no qual consta a inscrição “Bíblia
Sagrada”; - ao lado, a seguinte mensagem em cor laranja: “A Bíblia é a única proteção contra o ativismo
LGBTQIA+”; Salienta-se que referido outdoor se encontra exposto há quase 02 (duas) semanas, sem que
o clamor popular tenha sensibilizado a demandada a fim de retirar a mensagem.
Assim, puna pela concessão de liminar, inaudita altera pars, para que a requerida seja determinada a
retirar a mensagem do outdoor, no prazo de 24 (vinte e quatro) horas, sob pena de multa diária de R$
2.000,00 (dois mil reais), bem como que seja determinado que a requerida se abstenha de inserir
mensagens de caráter preconceituoso ou discriminatório à comunidade LGBTQIA+, também sob pena de
multa diária de R$ 2.000,00 (dois mil reais).
A princípio, no que tange ao manejo da presente ação pelo Parquet, na forma dos artigos 1°, IV, c/c 4°,
ambos da Lei 7.347/1985, não há qualquer vício quanto a legitimidade ativa da demanda, motivo pelo
qual passo ao mérito da liminar.
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qualquer limitação ou com desrespeito a direitos assegurados a outro(s) cidadão(s), sob pena de violação
a dignidade da pessoa humana, e até aos próprios direitos de liberdade de expressão e crença daqueles.
Nesse sentido, insta importante destacar as seguintes previsões do artigo 5°, senão vejamos:
Especificamente no caso em concreto, é possível verificar que a requerida expôs em outdoor localizado
próximo ao centro da cidade, sua ideia religiosa sobre o tema da homossexualidade, constando a
seguinte frase: “A Bíblia é a única proteção contra o ativismo LGBTQIA+”. Ou seja, ao exercer seu direito
constitucional, a requerida acaba por violar direitos constitucionais de terceiros, cabendo, portanto,
análise por meio da ponderação.
Ainda que efetivamente esta seja a crença religiosa e social da requerida e daqueles que nela
congregam, o direito constitucional não lhes concede um “cheque em branco” para que exponham sua(s)
opinião(ões) de forma absoluta, devendo ser respeito o pluralismo de ideias e a livre manifestação de
cada cidadão brasileiro.
Nesse sentido, em sede de Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão de n° 26, do Distrito
Federal, o Supremo Tribunal Federal discorreu que:
“(...) qualquer que seja a denominação confessional professada, a cujos fiéis e ministros (sacerdotes,
pastores, rabinos, mulás ou clérigos muçulmanos e líderes ou celebrantes das religiões afro-brasileiras,
entre outros) é assegurado o direito de pregar e de divulgar, livremente, pela palavra, pela imagem ou
por qualquer outro meio, o seu pensamento e de externar suas convicções de acordo com o que se
contiver em seus livros e códigos sagrados, bem assim o de ensinar segundo sua orientação doutrinária
e/ou teológica, podendo buscar e conquistar prosélitos e praticar os atos de culto e respectiva liturgia,
independentemente do espaço, público ou privado, de sua atuação individual ou coletiva, desde que tais
manifestações não configurem discurso de ódio, assim entendidas aquelas exteriorizações que incitem a
discriminação, a hostilidade ou a violência contra pessoas em razão de sua orientação sexual ou de sua
identidade de gênero. (...)” (https://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticiaNoticiaStf/anexo/tesesADO26.pdf)
Ressalvados ainda eventuais aspectos penais e eleitorais, não objetos dessa demanda, e matérias
incompetentes para este juízo, não restam dúvidas, ainda que em sede de cognição sumária, que a
conduta praticada pela requerida, mesmo sob o argumento de que combate apenas o ativismo e não
ataca as pessoas, viola os direitos constitucionais da população LGBTQIA+, e incita um discurso de ódio e
desrespeito para com o movimento, merecendo a devida repressão, o que é confirmado, inclusive, por
entendimento jurisprudencial, conforme segue, vejamos:
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Analisando-se os requisitos de tutela de urgência previstos no artigo 300 e seguintes do CPC, restam
caracterizados o periculum in mora, consubstanciado na propagação do discurso discriminatório
constante na mensagem exposta no outdoor e o fumus boni iuris, consubstanciado na interpretação e
ponderação dos direitos e garantias fundamentais já supra expostos. Ressalte-se, ainda, que sequer há
de se falar na irreversibilidade da medida, pelo contrário, a negativa da concessão da liminar é que pode
causar prejuízos irreparáveis a população LGBTQIA+.
1) No prazo máximo de 24 (vinte e quatro) horas, retire a mensagem e ilustrações do outdoor objeto da
demanda, sob pena de multa diária de R$ 2.000,00 (dois mil reais), por dia de descumprimento;
2) Se abstenha de veicular qualquer outra mensagem em outdoor que contenha caráter
preconceituoso ou discriminatório à comunidade LGBTQIA+, seu movimento ou ativismo, sob pena de
multa diária de R$ 2.000,00 (dois mil reais), por dia de descumprimento.
3) E, caso queira, no prazo legal de 15 (quinze) dias, apresente resposta a demanda, sob pena de revelia e
todos os efeitos dela decorrentes.
ANEXO(S)
O inteiro teor dos documentos anexados ao processo poderá ser consultado através da página do
Tribunal de Justiça do Estado do Espírito Santo (www.tjes.jus.br), clicando em PJe > 1º Grau > Consulta de
documentos. Ou diretamente pelo link:
https://sistemas.tjes.jus.br/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam
Os documentos e respectivos códigos de acesso (número do documento) estão descritos abaixo:
https://pje.tjes.jus.br/pje/ConsultaPublica/DetalheProcessoConsultaPublica/documentoSemLoginHTML.seam?ca=745a116786f7db852cfae811ca… 5/6
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Manifestação Pedido de
Petição (outras) 22072118381674900000015581896
redistribuição
Despacho Despacho 22072213455193300000015593809
Certidão - Conferência
Certidão - Conferência Inicial 22072214212501700000015597173
Inicial
ARACRUZ-ES, data da assinatura eletrônica.
22072216163802700000015603918
IMPRIMIR GERAR PDF
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