Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
N.º 1028794-78.2017.8.26.0564
(RECURSO EXTRAORDINÁRIO n.º 1.211.446)
1 DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias, 11ª Ed., São Paulo: Ed. Revista dos
Tribunais, 2016, p. 271.
centrais da construção e dimensão da entidade familiar. Com efeito, ressaltando-
se de antemão que os grifos são sempre nossos:
Art. 2º. O GADvS tem como objetivo precípuo o ativismo por meio do
Direito para enfrentar a homofobia [gayfobia], a lesbofobia, a bifobia e
a transfobia e obter a igualdade de direitos para a população LGBTI+
(Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Intersexos).
Constituem também seus objetivos sociais:
2. DO MÉRITO.
2.1. DO RECONHECIMENTO DA ENTIDADE FAMILIAR HOMOAFETIVA PELO STF
(ADI 4277 E ADPF 132) – DO STATUS DE ENTIDADE FAMILIAR E DA EXTENSÃO
DA PROTEÇÃO DESTINADA A UNIAO ESTÁVEL DO ARTIGO 226, 3º, DA CF
2SUANNES, Adauto. As Uniões Homossexuais e a Lei 9.278/96. COAD. Ed. Especial out/nov. 1999.
3DIAS, Maria Berenice. União Homossexual, o Preconceito e a Justiça. 3. ed. Porto Alegre: Livraria do
Advogado, 2005
A Constituição Federal tem como regra maior o respeito à dignidade da pessoa
humana (art. 1º, inc. III), que serve de norte ao sistema jurídico. Os princípios
da igualdade e da liberdade estão consagrados já no seu preâmbulo. O artigo
5º da Carta Constitucional, ao elencar os direitos e garantias fundamentais,
proclama: todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza.
5 LOBO, Paulo Luiz Netto. Entidades familiares constitucionalizadas: para além do numerus clausus.
Disponível em . Acesso em 26.abr.2014.
6 BOBBIO, Norberto. Teoria do Ordenamento Jurídico. Tradução de Ari Marcelo Solon, 2ª Ed., São
Paulo: Ed. Edipro, 2014, p. 129. No mesmo sentido, citando a doutrina de Maria Celina Bodin de
Moraes também em prol da teoria da norma geral inclusiva e da aplicabilidade imediata da
principiologia constitucional na solução de lacunas: TJ/RS, Apelação Cível n.o 70013801592, 7a
Câmara Cível, Relator Desembargador Luiz Felipe Brasil Santos, julgada em 05/04/2006.
Ainda neste sentido, o Ministro Roberto Barroso ensina que “o
intérprete precisa fazer a valoração de fatores objetivos e subjetivos presentes na
realidade fática, de modo a definir o sentido e o alcance da norma. Como a solução
não se encontra no enunciado normativo, sua função não poderá limitar-se à
revelação do que lá se contém: ele terá de ir além, integrando o comando normativo
com a sua própria avaliação”, inclusive à luz das regras da experiência ordinária [art.
375 do CPC], não por uma interpretação discricionária sua, mas a partir da
normatividade dos princípios, a partir de argumentação consubstanciada no dever de
fundamentação, em que reconduza sua decisão ao ordenamento jurídico, explicando
porque ela é com ele coerente, mediante fundamentos universalizáveis a casos
equiparáveis que levem em conta as consequências práticas da decisão.7
Elucida ainda:
Art. 4o Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a
analogia, os costumes e os princípios gerais de direito.
Art. 5o Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige
e às exigências do bem comum
7 BARROSO, Luís Roberto. Curso de Direito Constitucional Contemporâneo, São Paulo: Ed.
Saraiva, 2009, p. 310-314.
8 DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. 10ªed/2015
10 DEL VECCHIO, George. Lições de filosofia do direito. Coimbra: Arménio Amado. 1972, p. 140.
tornando-se capaz de compreender a personalidade alheia, graças à própria. Desta
fonte se deduzem os princípios imutáveis da justiça e do Direito Natural”.
“Por vezes o juiz se depara com casos não previstos nas normas jurídicas ou
que, se estão, podem por sua vez ter alguma imperfeição parecendo claro num
primeiro momento, mas se revelando duvidoso em outro. Quando um destes
casos aparece o juiz terá que utilizar da hermenêutica, que vem a ser uma
forma de interpretação das leis, de descobrir o alcance, o sentido da
norma jurídica, trata-se de um estudo dos princípios metodológico de
interpretação e explicação. Ainda de acordo com a Maria Helena Diniz, as
funções de interpretação são: a) conferir a aplicabilidade da norma jurídica as
relações sociais que lhes deram origem; b) estender o sentido da norma a
relações novas, inéditas ao tempo de sua criação; c) temperar o alcance do
preceito normativo, para fazê-lo corresponder as necessidades reais e atuais
de caráter social, ou seja, aos seus fins sociais e aos valores que pretende
garantir11.
14 Diniz, M. H. As lacunas no direito. 3. ed. aum. e atual., São Paulo: Saraiva, 1995, p.145 e 147
e deveres inerentes e decorrentes da união estável, desde que devidamente
comprovada, tais casos poderão ser discutidos judicialmente, com aguardado
entendimento favorável nas instâncias ordinárias. Conforme ocorreu na ação
que deu origem ao inconformismo do recorrente no presente caso.
15 MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 29ª edição. São Paulo: Atlas, 2013. p. 40.
16 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº 1.183.378/RS. Quarta Turma. Rel. Min.
Luis Felipe Salomão, Julgado em: 25.10.2011.
17 BRASIL. Conselho Nacional de Justiça. Resolução n.º 175, de 14 de maio de 2013.
18 DIAS, Maria Berenice (coord). Diversidade sexual e direito homoafetivo / coordenação Maria
Berenice Dias. São Paulo. Editora Revista dos Tribunais, 2011. p. 269.
Faz-se necessário uma breve análise acerca dos princípios
constitucionais mais significativos e relevantes para o tema em questão, quais sejam,
os princípios da dignidade da pessoa humana, da igualdade e da não-discriminação.
Isso mostra como as formas de relações afetivas alternativas passaram a ser
introduzidas no ordenamento jurídico brasileiro, abandonando-se o conceito
tradicional de núcleo familiar definido por aspectos biológicos ou por aspectos
impostos pela heteronormatividade.
Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que
visem à melhoria de sua condição social: [...]
(...)
20 TAVARES, Marcelo Leonardo. Direito Previdenciário. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008, p. 160
21 JÚNIOR, Miguel Horvath. Direito Previdenciário. São Paulo: Quartier Latin, 2008, p. 283
22 TAVARES, Marcelo Leonardo. Direito Previdenciário. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008, p. 160
República. O escopo dessa licença é justamente tutelar o vínculo formado entre
mãe e filho(a), independentemente da origem biológica ou adotiva dessa
relação, consoante assentado por esta Suprema Corte, ao julgar o mérito do
RE 778.889, Rel. Min. Roberto Barroso, DJe de 10/3/2016 (Tema 782 da
Repercussão Geral). Na ocasião, prevaleceu o entendimento de que a
legislação não pode instituir prazos diferenciados de licença-maternidade entre
as servidoras gestantes e as adotantes, mercê de ambas constituírem um novo
vínculo familiar constitucionalmente protegido. A titularidade da licença-
maternidade ostenta uma dimensão plural, recaindo sobre mãe e filho(a),
de modo que o alcance do benefício não mais comporta uma exegese
individualista, fundada exclusivamente na recuperação da mulher após o
parto. Certamente, a licença também se destina à proteção de mães não
gestantes que, apesar de não vivenciarem as alterações típicas da
gravidez, arcam com todos os demais papeis e tarefas que lhe incumbem
após a formação do novo vínculo familiar. Considerando que a Constituição
alçou a proteção da maternidade a direito social (CF, art. 6º c/c art. 201),
estabelecendo como objetivos da assistência social a proteção “à família, à
maternidade, à infância, à adolescência e à velhice” (CF, art. 203, inc. I), revela-
se dever do Estado assegurar especial proteção ao vínculo maternal,
independentemente da origem da filiação ou da configuração familiar que lhe
subjaz. (grifos nossos)
Art. 392-A. À empregada que adotar ou obtiver guarda judicial para fins de
adoção de criança será concedida licença-maternidade nos termos do art. 392,
observado o disposto no seu § 5o.
Após isso, a Lei n.º 12.010/2009, além de dispor sobre adoção,
uniformizou o prazo da licença-maternidade para 120 dias, independentemente da
idade da criança adotada. Esta mudança, no entanto, se deu somente no âmbito
trabalhista, fato que gerou controvérsias, uma vez que o artigo 71-A, da Lei n.º
8.213/199198 (Lei da Previdência Social), não foi objeto de modificação, continuando
a prever a diferenciação de prazos para o pagamento do salário-maternidade nos
casos de adoção.
Art. 5º. [...] §2º. Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não
excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados,
ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil
seja parte. §3º. Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos
que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos,
por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às
emendas constitucionais. (g.n)
26 CUNHA JÚNIOR, Dirley da. Curso de direito constitucional. 2ª Ed. Salvador: JusPodivm, 2008, p.
618.
27 SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais. 8º Ed.. Porto Alegre: Ed. Livraria
Saraiva, 2006. p. 55-57; MENDES, Gilmar Ferreira; COELHO, Inocêncio Mártires; GONET BRANCO,
Paulo Gustavo. Curso de Direito Constitucional. São Paulo: Saraiva, 2007. p. 662-663; MAZZUOLI,
Valério de Oliveira. Curso de Direito Internacional Público. 2ª Ed. São Paulo: Ed. RT, 2007. p. 685;
TAVARES, André Ramos. Curso de Direito Constitucional. 3ª Ed., São Paulo: Ed. Saraiva, 2006. p.
420; SARLET, Ingo Wolfgang. Op. cit., p. 93 et seq.
social, qualquer “denúncia” do Estado Brasileiro à Convenção Fundamental nº 111 da
OIT.
30
Caso Artavia Murillo (“Fertilização In Vitro”) v. Costa Rica, Série CN ° 257, julgamento de 28 de
novembro de 2012, parágrafos 142-3).
31
IV v. Bolívia, Série CN No. 329, sentença de 30 de Novembro de 2016, parágrafo 152).
Em suma, a Corte Interamericana de Direitos Humanos
considerou, em sua Opinião Consultiva nº 2432, que o direito à identidade envolve
aspectos subjetivos (da própria experiência e autonomia) e sociais (relacionados ao
tipo de relacionamento que se estabelece e à maneira pela qual que as pessoas
decidem entrar nesses relacionamentos) e que esses aspectos não podem ser
definidos com antecedência, mas decorre do reconhecimento do livre
desenvolvimento da personalidade e da proteção do direito à privacidade,
direito à identidade, que está intimamente relacionado à autonomia da pessoa e
que a identifica como um ser que autodetermina e autogoverna, ou seja, quem
é proprietário de si mesmo e de seus atos.
32
Opinião Consultiva OC-24/17, Identidade de Gênero e igualdade e não discriminação contra casais
do mesmo sexo, 24 de novembro de 2017, parágrafo 89).
33
ALEGRE, Silvana., HERNANDEZ, Ximena. y ROGER, Camille. El interés superior del niño.
Interpretaciones y experiencias latinoamericanas. 2014.
34
CILLERO, Miguel. “El Interés Superior del Niño en el Marco de la Convención Internacional sobre los
Derechos del Niño.” Ponencia presentada en el I Curso Latinoamericano: Derechos de la Niñez y la
Adolescencia; Defensa Jurídica y Sistema Interamericano de Protección de los Derechos Humanos.
San José de Costa Rica, 30 de agosto a 3 de septiembre de 1999.
7. DOS PEDIDOS.
Termos em que,
Pede e Espera deferimento.