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UNIDADE II

Relações Étnico-Raciais
no Brasil
Profa. Dra. Neusa Meirelles
Medidas legais necessárias:

 Contra atitudes racistas que, embora mal dissimuladas, estão presentes no


cotidiano da vida social brasileira, portanto, são necessárias leis que coíbam e
punam tais atitudes.

 Na defesa de direitos fundamentais das crianças, visto que lhes são negados
direitos básicos, como educação, alimentação e o direito a brincar.

 Proteção aos idosos, aos indígenas e às mulheres, porque são segmentos sociais
alvos de violência sistemática, quase diária, em números alarmantes.
Artificialismo legal

 Embora o legislador brasileiro vise corrigir, com a lei, a realidade social desigual,
violenta e injusta, trata-se de um recurso artificial, visto que “a força da lei” é
ineficiente (ou ineficaz) para mudar comportamentos e mentalidades. Todavia, se
leis já existem, é preciso ampliar a discussão popular sobre o tema, de tal forma
que novas e adequadas atitudes em relação aos idosos, crianças, negros e
indígenas sejam incorporadas à cultura brasileira.
A Constituição de 1988

 Promulgada após um amplo processo de mobilização popular, em meio à abertura


democrática experienciada a partir de 1985, a Constituição apresenta grandes
avanços no que tange ao campo dos direitos das chamadas “minorias sociais”,
como índios, negros, crianças, idosos, dentre outros; por exemplo, todo o capítulo
VIII é dedicado aos povos indígenas, reconhecendo seus direitos, em especial, à
posse da terra.
Crime de racismo e outras providências

 A prática de racismo, desde outubro de 1988, é considerada crime: A prática do


racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão,
nos termos da lei (CF 88, Art. 5º, inciso XLII). Em 1989, a Lei nº 7.716/89 trata dos
crimes resultantes de preconceito de raça ou cor, mas, em 1997, essa lei foi
modificada em alguns artigos contidos na Lei nº 9.459/97. A injúria qualificada
também foi tipificada, especificamente no art. 140, § 3º, do Código Penal brasileiro;
aliás, o Brasil foi o primeiro país em todo o continente americano a proibir práticas
racistas por meio de legislação específica.
Amplitude da proibição legal

 Segundo Guimarães (2004, p. 19), a legislação brasileira abrange:

 (a) o preconceito racial, expresso verbalmente por meio de ofensas pessoais;

 (b) a discriminação racial, ou o tratamento desigual a pessoas, nos diversos


âmbitos da vida social, baseado na ideia de raça, restringindo o seu amplo e
líquido direito constitucional e legal à isonomia de tratamento;

 (c) a expressão doutrinária do racismo ou a incitação pública do preconceito.


Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), Lei nº 8.069/90

 Após a promulgação da Constituição em 1988, o ECA foi a legislação mais


importante para crianças e adolescentes no Brasil, com reflexos sobre as políticas
de assistência social e educacional a partir de então.
Crianças, proteção para assegurar direitos

 “Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência,


discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, será punido na forma
da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais”
(BRASIL, 1990).
Instrumentos legais internacionais de proteção aos direitos

 Declaração de Genebra de 1924,

 Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948,

 Declaração dos Direitos da Criança de 1959 (ONU),

 Convenção Internacional dos Direitos da Criança de 1989 (ONU).


ECA, LDB e outros documentos oficiais sobre educação

 Há estreita relação entre o ECA, aprovado em 1990, e a Lei de Diretrizes e Bases


(LDB), aprovada em 1996. Nesse sentido, os debates desencadeados por
influência do ECA acabaram norteando as diretrizes adotadas pelas políticas
educacionais brasileiras a partir de então.
Estatuto da Igualdade Racial, Lei nº 12.288/2010

 Em maio de 2003, o Senador Paulo Paim (PT-RS) apresentou o projeto de lei no


Senado que instituía o Estatuto da Igualdade Racial. Desde então, o projeto
tramitou na Câmara e no Senado, até ser finalmente aprovado com emendas no
dia 20 de julho de 2010, validando, por meio da Lei nº 12.288, o Estatuto da
Igualdade Racial.
O Estatuto se propõe

 (a) combater a discriminação racial ou étnico-racial;

 (b) promover a igualdade racial, nos campos político, econômico, social, cultural e
outros da vida pública ou privada;

 (c) combater as assimetrias de gênero e raça, dando condições de inclusão às


mulheres negras;
O Estatuto se propõe (continuação)

 (d) valorizar a identificação de cor ou de raça das pessoas que se autodeclararem


pretas e pardas, conforme critérios definidos pelo IBGE;

 (e) abrir caminhos para a implantação de políticas públicas adotadas pelo Estado
com o objetivo da promoção da igualdade racial;

 (f) incentivar as ações afirmativas, adotadas pelo Estado ou pela iniciativa privada,
para a promoção da igualdade de oportunidades.
Interatividade

Qual das alternativas abaixo não constitui objetivo ou finalidade do Estatuto do


Índio?
a) Valorizar a identificação de cor ou de raça das pessoas que se autodeclararem
pretas e pardas, conforme critérios definidos pelo IBGE.
b) Incentivar as ações afirmativas, adotadas pelo Estado ou pela iniciativa privada,
para a promoção da igualdade de oportunidades.
c) Promover a igualdade racial, nos campos político, econômico, social, cultural e
outros da vida pública ou privada.
d) Abrir caminhos para implantação de políticas públicas e
privadas, adotadas pelo Estado e missões religiosas
com vistas à valorização racial.
e) Combater a discriminação racial ou étnico-racial.
Resposta

Qual das alternativas abaixo não constitui objetivo ou finalidade do Estatuto do


Índio?
a) Valorizar a identificação de cor ou de raça das pessoas que se autodeclararem
pretas e pardas, conforme critérios definidos pelo IBGE.
b) Incentivar as ações afirmativas, adotadas pelo Estado ou pela iniciativa privada,
para a promoção da igualdade de oportunidades.
c) Promover a igualdade racial, nos campos político, econômico, social, cultural e
outros da vida pública ou privada.
d) Abrir caminhos para implantação de políticas públicas e
privadas, adotadas pelo Estado e missões religiosas
com vistas à valorização racial.
e) Combater a discriminação racial ou étnico-racial.
Instituição do SINAPIR

 Por fim, o Estatuto instituiu o Sistema Nacional de Promoção da Igualdade Racial


(SINAPIR), órgão criado para organizar e articular estratégias de implantação do
“conjunto de políticas e serviços destinados a superar as desigualdades étnicas
existentes no país, prestados pelo poder público federal”, Artigo 47, da lei, dentre
eles, a implantação de ouvidorias permanentes em defesa da igualdade racial e o
investimento em financiamentos de iniciativas de promoção de igualdade racial (as
cotas são o aspecto mais polêmico).
Estatuto do Índio

 Esse documento é conhecido como Lei nº 6.001. Promulgada em 1973, ela dispõe
sobre as relações do Estado e da sociedade brasileira com os índios,
considerando-os “relativamente incapazes”, devendo permanecer sob tutela por
um órgão indigenista estatal. Entre 1910 a 1967, a tutela coube ao Serviço de
Proteção ao Índio (SPI); atualmente, a Fundação Nacional do Índio (Funai), até
completa integração à sociedade. Trata-se de uma concepção integracionista,
entendendo que os índios devam ser integrados à sociedade vigente, abrindo mão
de sua organização social e cultural, vista como primitiva, e assimilar os valores
sociais dos não índios.
A Constituição e os Índios

 A Constituição Federal de 1988 rompe com essa visão, reconhece o direito dos
índios de manter e preservar a própria cultura, em uma perspectiva
multiculturalista. Apesar de não tratar de maneira expressa da capacidade civil, a
Constituição reconheceu, no seu Art. 232, a capacidade processual dos índios,
afirmando que “os índios, suas comunidades e organizações, são partes legítimas
para ingressar em juízo, em defesa dos seus direitos e interesses”.
O Código Civil e os Índios

 Significa que os índios podem, inclusive, entrar em juízo contra o Estado, o seu
suposto tutor. O novo Código Civil retira os índios da condição de “relativamente
incapazes” e estipula que sua condição específica será regulamentada em
legislação própria, o que ainda não foi realizado.
Índios e a questão da terra

 Há diversos pontos polêmicos na lei, mas o que se destaca na questão indígena é


a posse da terra, aspecto fundamental para cultura indígena, conforme reconhece
o IBGE (2012, p. 16). O processo de demarcação é complexo e difícil, mas é o
meio administrativo para explicitar os limites do território tradicionalmente ocupado
pelos povos indígenas.

 Busca-se resgatar uma dívida histórica com esse segmento da população


brasileira e propiciar condições básicas para as sobrevivências física e cultural
desses povos.
Movimentos sociais e direitos

 Processos sociais de conquistas de direitos são lentos, graduais e integrados; de


fato, uma demanda social não surge de um momento para o outro: resulta de um
amplo e longo debate entre grupos e movimentos que se unem em defesa de seus
interesses. Processo semelhante se dá no sentido de munir o Estado de
instrumentos e dispositivos para atendimento à demanda instalada. Essa
“dialética” responde pela dinâmica das políticas públicas.
Modernidade da lei e obstáculos à prática

 O Brasil tem uma das legislações mais modernas do mundo, no que diz respeito a
vários temas da vida coletiva, mas as diretrizes para a educação nacional
merecem destaque. Em 1996, foi aprovada a Lei nº 9.394, que ficou mais
conhecida como nova LDB. Sem dúvida, um documento importante para os
brasileiros, sobretudo para a população negra do Brasil, pois fornece
pressupostos importantes para a ampliação do debate sobre relações
étnico-raciais e afrodescendência.
Ensino e matrizes culturais

 Segundo o Art. 26, da LDB, de 1996, o ensino de História do Brasil deveria levar
em conta as contribuições das diferentes culturas e etnias presentes na formação
do povo brasileiro, especialmente das matrizes indígena, africana e europeia. Mas
em 09/01/2003, a Lei 10.639 alterou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional de 1996 e incluiu no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade
da temática História e Cultura Afro-Brasileira.
Alterações legais

 As alterações introduzidas pela Lei 10.639 foram, em síntese:

a) Nos estabelecimentos públicos e privados de Ensinos Fundamental e Médio


tornou-se obrigatório o ensino de história e cultura da África e dos africanos, a
luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação
cultural, social e econômica da sociedade nacional.

b) Os conteúdos deveriam ser tratados nas áreas de educação artística e Literatura.


Mais alterações

 Em 10/03/2008, a Lei nº 11.645 modificou o texto da Lei nº 10.639/2003, passando


a vigorar a seguinte redação: “Nos estabelecimentos de Ensino Fundamental e de
Ensino Médio, públicos e privados, torna-se obrigatório o estudo da história e
cultura afro-brasileira e indígena”. Os conteúdos não foram objeto de alteração.

 Importante notar que maiores detalhes foram considerados nos documentos dos
Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN (2004) e Base Nacional Comum
Curricular (BNCC) de 2018.
Conceito de africanidades brasileiras

 Trata-se de um processo de valorização e resgate da história e cultura africana e


afro-brasileira, a fim de desfazer os estereótipos raciais construídos pelos grupos
dominantes (brancos, homens, proprietários, livres e ricos), o conceito elaborado
como paradigma da perspectiva do negro brasileiro na formação da cultura e da
sociedade brasileira.
Interatividade

 Leia o trecho e escolha a alternativa que comete contradição: “resgate da história e


cultura africana e afro-brasileira, a fim de desfazer os estereótipos raciais
construídos pelos grupos dominantes (brancos, homens, proprietários,
livres e ricos)”.
a) Não há contradição, é um estudo da história brasileira com ênfase no
protagonismo do negro.
b) Um resgate de história para valorizar o negro perde objetividade da análise.
c) Para desfazer estereótipos, o trecho comete outro: estereotipia do negro não foi
construção exclusiva de homens, nem só de proprietários, e não só de ricos.
d) Uma contradição: não há uma cultura afro-brasileira,
mas sim uma cultura brasileira.
e) Na África, grupos dominantes são formados por
negros, nem sempre ricos e proprietários.
Resposta

 Leia o trecho e escolha a alternativa que comete contradição: “resgate da história e


cultura africana e afro-brasileira, a fim de desfazer os estereótipos raciais
construídos pelos grupos dominantes (brancos, homens, proprietários,
livres e ricos)”.
a) Não há contradição, é um estudo da história brasileira com ênfase no
protagonismo do negro.
b) Um resgate de história para valorizar o negro perde objetividade da análise.
c) Para desfazer estereótipos, o trecho comete outro: estereotipia do negro não foi
construção exclusiva de homens, nem só de proprietários, e não só de ricos.
d) Uma contradição: não há uma cultura afro-brasileira,
mas sim uma cultura brasileira.
e) Na África, grupos dominantes são formados por
negros, nem sempre ricos e proprietários.
Africanidades e raízes

 Conforme define Silva (2003, p. 26), a expressão africanidades brasileiras se


refere às raízes da cultura brasileira que tem origem africana. Reporta ao modo de
ser, de viver, de organizar as lutas, próprios dos negros brasileiros e, de outro
lado, às marcas da cultura africana que, independentemente da origem étnica de
cada brasileiro, fazem parte do seu dia a dia.
O estudo das africanidades brasileiras implica:

 Trata-se de estudar o jeito de ver a vida, o mundo, o trabalho; o jeito de conviver e


lutar por dignidade próprios dos descendentes de africanos que, ao participar da
construção da nação brasileira, vão deixando influências nos outros grupos
étnicos com os quais convivem, mas também recebem e incorporam influências
desses grupos.
Pegando o fio da história: a África antes de 1500

A expressão “o fio da história”, presente no livro de Cunha Junior (2010), remete às


concepções deturpadas e incompletas sobre o continente africano, população e
distintas culturas alimentadas pelo pensamento conservador, em grande parte
responsável pela formulação do chamado racismo “científico” (CUNHA JUNIOR,
2010, p. 10).
Desconhecimento da África e de sua história

 Um problema que reflete na despolitização da população negra, fragilizando a


formação de identidades negras. Tais ideias convergem na construção de uma
hierarquia social, na qual nada produzido pela população negra parece ter
importância, tudo que é produzido pela população branca é bom e necessário.
Cultura material das sociedades africanas

 Salum (2005) alerta para que se entenda a história dos povos africanos
semelhante à de toda humanidade: a da sobrevivência material, mas também
espiritual, intelectual e artística. No século XVI, quando Portugal iniciou a empresa
colonial no Brasil, realizando um dos maiores genocídios culturais registrados na
história, as populações africanas já dominavam inúmeras tecnologias,
incorporadas à colonização, juntamente com a mão de obra especializada, na
condição de escrava.
Saberes e tecnologias africanas

 Conhecimentos na área têxtil, de construção, de materiais como madeira,


produção de sabão, fato que influenciaria decisivamente a economia colonial
brasileira em relação à África, além de mineração, trabalho com metais preciosos
(ourivesaria), artesanato em madeira (marcenaria, entalhe).
Guerras no continente africano

 Durante 400 anos de guerras, os europeus lutaram pela imposição da dominação


ocidental, política, cultural e econômica aos africanos, controle comercial europeu
dos produtos africanos, e do comércio de seres humanos, cativos africanos,
escravizados nas Américas, em parte na própria Europa, o que produziu maior
devastação no continente africano.
Heranças coloniais africanas e a formação de um país chamado Brasil

 De início, a colonização portuguesa no Brasil se caracterizou pela extração de


matérias-primas. Posteriormente, quando o processo de colonização promoveu a
substituição do extrativismo pela agricultura como principal atividade econômica, o
padrão de convivência entre os grupos envolvidos na colonização sofreu uma
profunda alteração: o índio passou a ser encarado pelo português como um
obstáculo à posse da terra, e uma fonte de mão de obra barata. A necessidade de
terras e de trabalhadores para a lavoura levou os portugueses a promoverem a
expulsão dos índios de seu território, bem como a sua escravização. Assim, a nova
sociedade que se erguia no Brasil impunha ao índio uma
posição subordinada e dependente.
Impacto na população indígena

 Apesar de serem aproximadamente cinco milhões no século XVI (população


reduzida para cerca de 700 mil nos dias de hoje), no início da exploração
portuguesa, os índios não foram uma boa fonte de mão de obra escrava, ao
contrário do que pretendiam os colonizadores.
Interatividade

É possível utilizar a cultura e os meios de comunicação como reforço da estereotipia


e do preconceito racial e social?
a) Talvez crianças assistindo Os Trapalhões formassem a ideia de que negros são
atrapalhados, falam errado, mas não creio que isso acontecesse.
b) Meios de comunicação servem como instrumentos para formar estereotipias e
preconceitos, assim como para combatê-los.
c) Sim, é possível, e o objetivo mais comum.
d) Meios de comunicação servem como instrumentos para
formar estereotipias e preconceitos, assim como para
combatê-los, dependendo do objetivo da campanha e
da construção do discurso.
e) Cultura é sempre algo para dar prazer, alegria, encanto;
não tem sentido utilizá-la para outros fins.
Resposta

É possível utilizar a cultura e os meios de comunicação como reforço da estereotipia


e do preconceito racial e social?
a) Talvez crianças assistindo Os Trapalhões formassem a ideia de que negros são
atrapalhados, falam errado, mas não creio que isso acontecesse.
b) Meios de comunicação servem como instrumentos para formar estereotipias e
preconceitos, assim como para combatê-los.
c) Sim, é possível, e o objetivo mais comum.
d) Meios de comunicação servem como instrumentos para
formar estereotipias e preconceitos, assim como para
combatê-los, dependendo do objetivo da campanha e
da construção do discurso.
e) Cultura é sempre algo para dar prazer, alegria, encanto;
não tem sentido utilizá-la para outros fins.
Escravização de africanos

 Munanga e Gomes (2006, p. 24) levantam uma questão interessante sobre a


escravidão dos africanos: dizem que “o colonizador português foi para a África
buscar escravos que ele adquiria, os comprando pela troca de fumo da Bahia e de
outras mercadorias, graças à cumplicidade de reis e príncipes africanos, não deixa
dúvida sobre a crença na existência dos escravos como categoria natural, ou seja,
na existência de seres humanos que nasceram escravos na África”.
Ainda escravização de africanos

 Na verdade, não se trata de escravidão como categoria natural, mas como


categoria social. Ao que se tem notícia, tratava-se de uma prática de um certo rei
do Benin...

 Fundamental é a questão levantada por Munanga: Algumas pessoas podem


nascer escravas, ou todos nascem livres até que algum sistema os escravize no
decorrer de suas vidas? A resposta desvenda a engrenagem econômica, mas
permanece o questionamento moral, esse não tem resposta...
Diáspora, travessia dos escravizados e o constrangimento de seres
humanos à condição de objetos

 A partir de 1550, começam a chegar ao Brasil os primeiros africanos escravizados.


Trata-se de uma recriação da escravidão antiga, extinta na história europeia há
séculos, agora a serviço de um capitalismo moderno, baseado na exploração
colonial, na economia monopolista mercantil e no trabalho não assalariado dos
escravizados. Durante mais de três séculos, estima-se que tenham sido trazidos
para o Brasil cerca de 3,6 milhões de pessoas, provocando uma verdadeira
diáspora nos povoados africanos.
A diáspora africana

 Segundo Schwarcz (2001, p. 38-39), “no Brasil, país de larga convivência com a
escravidão, o cativeiro vigorou durante mais de três séculos, e sabe-se que a
diáspora foi de tal vulto que um terço da população africana deixou,
compulsoriamente, seu continente de origem rumo às Américas. Um deslocamento
dessa monta acabou alterando cores, costumes e a própria estrutura da sociedade
local. A escravidão, em primeiro lugar, como regime que supõe a posse de um
homem por outro, legitimou com sua vigência a hierarquia, naturalizou o arbítrio e
inibiu toda discussão sobre cidadania”.
Servidão e senhorio

 DaMatta (1987, p. 76) comenta que na formação social do Brasil os séculos de


convívio com o arbítrio, desigualdade e autoritarismo deixaram marcas que
aparecem na concepção de sociedade e vida social dos brasileiros. Daí a
facilidade de aceitar medidas autoritárias, a ideia de que “cada coisa tem um lugar
e cada lugar tem uma coisa”. O que isso significa? Numa palavra, a ausência de
valores igualitários.
Ainda Roberto Da Matta

 Num meio social como o nosso, onde “cada coisa tem um lugar demarcado e,
como corolário, cada lugar tem sua coisa”, índios e negros têm uma posição
demarcada num sistema de relações sociais concretas, sistema que é orientado de
modo vertical: para cima e para baixo, nunca para os lados.
Três aspectos da presença africana no Brasil

a) No campo econômico, os negros serviram como força de trabalho não


remunerado, ajudando a construir as riquezas que deram sustentação econômica
à empresa colonial portuguesa;
b) No campo demográfico, sem dúvida, esse elevado número de africanos agora
fazia parte da população brasileira, colaborando no trabalho de povoamento
desse novo país;
c) No campo cultural, destacam-se várias contribuições:
1- a influência linguística, inúmeras palavras africanas
incorporadas à língua portuguesa falada no Brasil,
2- as religiões de matriz africana, dentre elas o
candomblé e a umbanda, que integram o campo
religioso brasileiro, 3- nas artes, além de instrumentos,
e danças o próprio ritmo tradicional brasileiro, o samba
(MUNANGA e GOMES, 2006).
Resistência negra e o movimento abolicionista antes e depois
da Lei Áurea

 Olivier Petre-Grenouilleau (2009, p. 130) pergunta: “Os escravos contribuíram para


a sua libertação?”. A resposta do autor e bastante direta: “Sem dúvida nenhuma.
[...] Sabemos atualmente que, sempre e por toda parte, os escravos tentaram
resistir”. A resistência do africano à escravização assumiu várias formas, passivas
ou violentas, não importa, a convivência não foi acomodada, conformista.
Revoltas de negros africanos contra escravidão e opressão

 Munanga e Gomes (2006, p. 98) citam: a Revolta dos Alfaiates (Bahia, 1798), a
Cabanagem (Pará, 1835-1840), a Sabinada (Bahia, 1837-1838) e a Balaiada
(Maranhão, 1838-1841). Deve-se acrescentar a Revolta dos Malês, em Salvador,
em 1835; e a Guerra dos Palmares (Alagoas, 1695) quando, depois de muita luta e
traição, o chefe do quilombo Zumbi acabou preso e morto.
Quilombos e resistência

 Vários autores, inclusive Moura (1992, p. 24-25), reconhecem o quilombo como


unidade de base para organização de luta dos africanos contra a opressão.
Importante notar que no quilombo abrigavam-se índios perseguidos, brancos livres
e pobres, prostitutas. Era um abrigo para os que se sentiam perseguidos pelo
sistema colonial.
Abolicionismo e a “libertação”

 Mas todo esse movimento de resistência negra pouco se relaciona ao movimento


abolicionista, organizado a partir do século XIX, em prol da abolição oficial da
escravidão no Brasil. Isso porque o abolicionismo foi um movimento considerado
conservador pelos historiadores, sendo organizado pela classe política da ocasião,
que procurou trazer pouco ou nenhum prejuízo aos senhores de escravo nesse
processo de “libertação”. A preocupação da elite da época era que a abolição se
desse de forma pacífica, sem sustos nem revoluções. Daí as três grandes leis
abolicionistas – Ventre Livre (1871), Sexagenários (1885) e Áurea (1888) – terem
oferecido muito mais benefícios aos próprios senhores do que uma nova condição
à população negra.
A abolição, uma proposta ao gosto dos senhores de escravos

 Para Schwarcz (2001, p. 46), “o resultado imediato dessa versão organizada e


pretensamente cordata de nossa libertação dos escravos foi jogar uma imensa
população, despreparada e pouco instruída, num processo de competição
desigual, sobretudo com a mão de obra imigrante que afluía ao país desde os
anos de 1870. De toda maneira, atrasada ou não, o certo é que a abolição era
‘vendida’ como um presente e, enquanto tal, uma dádiva não negociada”.
Interatividade

 Para Ianni (2004), “a ideologia do branco só é inteligível como componente de uma


consciência social de dominação em que o próprio branco se representa superior
aos outros”. Então, a busca por um branqueamento (alisamento do cabelo) reforça
a dominação do branco? Escolha a alternativa que lhe parecer correta.
a) Essa busca não é valorização do branco, grupo étnico, é moda.
b) Brancos e magros controlam a moda, mas alisar os cabelos não tem relação.
c) Não, alisar cabelos é somente resolver um problema: o cabelo “ruim”.
d) Sim, mas não diretamente: cabelos devem ser lisos para vender chapinha de
alisamento, ou para fazer cabelos cacheados, enfim, a estética é branca.
e) Negativo, os brancos não dominam a estética sozinhos,
há os asiáticos (que já têm cabelos lisos).
Resposta

 Para Ianni (2004), “a ideologia do branco só é inteligível como componente de uma


consciência social de dominação em que o próprio branco se representa superior
aos outros”. Então, a busca por um branqueamento (alisamento do cabelo) reforça
a dominação do branco? Escolha a alternativa que lhe parecer correta.
a) Essa busca não é valorização do branco, grupo étnico, é moda.
b) Brancos e magros controlam a moda, mas alisar os cabelos não tem relação.
c) Não, alisar cabelos é somente resolver um problema: o cabelo “ruim”.
d) Sim, mas não diretamente: cabelos devem ser lisos para vender chapinha de
alisamento, ou para fazer cabelos cacheados, enfim, a estética é branca.
e) Negativo, os brancos não dominam a estética sozinhos,
há os asiáticos (que já têm cabelos lisos).
ATÉ A PRÓXIMA!

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