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a) O direito à igualdade é uma busca incessante da humanidade.

Através de
formações societárias baseadas em escravidão, discriminação, padrões sociais
desarrazoados, ainda hoje se faz necessário garantir a igualdade para todos através de
normativas internacionais (DUDH; CADH; Convenções 100, 111, 156, da OIT) e
nacionais (Lei 7716/89, Lei 14532/2023).

A ideia de igualdade, como compreendida hoje, abarca três dimensões: a


igualdade formal (art. 5º, CF; art. 7º, DUDH), a igualdade material e a igualdade como
reconhecimento.

A igualdade formal é um mandamento do legislador, é tão somente aquela


prevista em lei. Por outro lado, a igualdade material é a concretização da igualdade na
prática, é a chamada igualdade Aristotélica, de tratar os iguais de forma igual e os
desiguais de forma desigual, na medida de suas desigualdades.

A igualdade como reconhecimento parte da ideia de que precisamos do


respeito do outro, do reconhecimento do outro a respeito da nossa própria identidade.
Ela é geralmente invocada em casos em que há normas ou práticas institucionais que
têm um impacto (negativo) sobre pessoas de determinados grupos não hegemônicos.
É o caso da decisão do STF sobre a união homoafetiva, em que a Suprema Corte
entendeu que não se tratava apenas de um acesso a benefícios materiais, mas de que
as pessoas homossexuais pudessem expressar sua identidade, merecendo o mesmo
respeito e consideração das pessoas heterossexuais.

Nesse sentido é a ideia das ações afirmativas. A igualdade não pode se limitar a
um não fazer, um não discriminar, mas ela também deve estar ligada a uma ação.
Discriminar para favorecer, para dar reconhecimento, para permitir que determinado
grupo se expresse e tenha espaço na sociedade.

A igualdade como reconhecimento é um desdobramento da igualdade material,


que se reproduz também no campo cultural e de práticas simbólicas. Ela é fruto da luta
de movimentos sociais, como o movimento negro, o movimento feminista, o
movimento LGBTQIAPN+.
b) A ONU, na Agenda 2030, traz nos ODS 5 e 10 a busca pela igualdade. As
desigualdades sociais, raciais, de gênero, dentre outras, culminam em discriminação,
que precisa ser combatida. A formação da sociedade brasileira, ao longo de quase 400
anos, se deu através da escravização negra e com a adoção de um padrão social branco
e masculino. O Brasil já foi, inclusive, condenado na Corte Interamericana de Direitos
Humanos, no caso Simone Diniz, por ser uma sociedade ainda estruturalmente racista.

No contexto norte-americano, leis de segregação racial eram muito comuns até


o final da guerra civil, como a que proibia o casamento inter-racial. Entretanto, após
esse período, surgiu a primeira lei Jim Crow, no estado do Tennessee, e o resto do sul
seguiu o exemplo.

O termo Jim Crow nasceu de uma canção popular e se referia a toda lei que
seguisse o princípio “separados, mas iguais”, estabelecendo o afastamento entre
negros e brancos nos trens, estações ferroviárias, hotéis, restaurantes, teatros, escolas,
entre outros. Apenas na década de 1950 que a Suprema Corte norte-americana
derrubou a ideia de “separados, mas iguais”, após casos como Brown x Board of
Education of Topeka.

O Brasil foi o último país das Américas a emancipar seus escravos, em 1888, e,
apesar da abolição da escravidão, seguiu desinteressado em integrar os habitantes
negros, partindo para uma política de “branqueamento” da população. Nesse contexto
surgiram algumas leis semelhantes às leis Jim Crow, como legislações de imigração
restritivas para encorajar a imigração europeia e proibir ou fortemente desestimular a
imigração africana. Também, leis que ofereciam generosas concessões de terras para
imigrantes europeus e, em contrapartida, negava títulos de propriedades de terra para
quilombolas.

Foram inúmeras as legislações de segregação no Brasil, principalmente no


âmbito migratório, o que resultou na vinda de imigrantes italianos para o cultivo do
café, por exemplo, e, posteriormente, a vinda de imigrantes japoneses. As leis Jim Crow
brasileiras buscavam segregar e esconder os negros e aumentar a população branca.
c) A Lei 7716/89 é um importante instrumento normativo no combate ao racismo
e às discriminações. Em consonância com a CF, a DUDH e a Convenção 111 da OIT,
integra um sistema de proteção contra a discriminação racial e outras formas.

No julgamento da ADO 26, o STF entendeu que houve inércia do Congresso


Nacional ao não editar lei sobre crimes de homofobia e transfobia.

A comunidade LGBTQIAPN+ é alvo de diversos tipos de discriminação, além de


cultura de ódio e a prática de crimes. Historicamente desprestigiada, luta para
encontrar espaço/reconhecimento, enquanto vê seus direitos fundamentais serem
reiteradamente desrespeitados, de forma bárbara, cruel, com tantas mortes,
atentados, discursos de ódio.

O STF estendeu, então, o alcance interpretativo da Lei do Racismo (7716/89)


para os crimes de homofobia e transfobia, dando efetividade ao objetivo da República
de promover o bem de todos sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e
quaisquer outras formas de discriminação (art. 3º, IV, da CF).

A tese aprovada pela Suprema Corte foi formulada em três pontos: (i) até que o
Congresso Nacional edite lei específica, as condutas homofóbicas e transfóbicas, se
enquadram nos crimes previstos na Lei 7716/89; (ii) a repressão penal à homofobia e à
transfobia não restringe o exercício da liberdade religiosa, desde que tais
manifestações não configurem discurso de ódio; e (iii) o conceito de racismo ultrapassa
aspectos biológicos ou fenotípicos, alcançando a negação da dignidade e da
humanidade de grupos vulneráveis.

Nesse sentido, o entendimento da Corte Interamericana de Direitos Humanos,


no caso Villagran Morales x Guatemala, de que a vida é um direito que não se vulnera
apenas quando se subtrai, mas também quando não se a promove plenamente.

d) A 4ª Revolução Industrial, calcada na internet e troca de dados, trouxe novas


formas de trabalho que levam à necessidade da formação de um novo catálogo de
direitos mínimos dos trabalhadores da chamada “sharing economy”, como o direito à
saúde (art. 5º, XXII, da CF), à desconexão, à proteção previdenciária (art. 6º, CF) e o
direito à informação (art. 5º, XIV, CF), do qual deriva o direito à transparência
algorítmica.
Trata-se de direitos constitucionais adscritos (Robert Alexy), que são direitos
que não estão literalmente transcritos na Constituição, mas estão a ela ligados,
formados pela construção jurisprudencial dos tribunais, além do próprio legislador.

Esses direitos devem ser encontrados em relações com subordinação


algorítmica, que consiste na subordinação do trabalhador à máquina, através de
aplicativos, por comandos ou por programação, para que haja harmonia entre a
evolução tecnológica e a proteção em face da automação.

De acordo com a OIT, o direito fundamental à transparência algorítmica se dá


em três dimensões: (i) a transparência cognitiva, segundo a qual o trabalhador deve
conhecer, em linguagem humana, as condições do contrato, seja ele subordinado ou
não; (ii) a transparência informativa, segundo a qual os trabalhadores devem ser
informados sobre as avaliações negativas que recebem dos clientes (art. 5º, I, da Lei
13.709/2018); e (iii) a transparência comunicativa, que diz respeito à possibilidade de
visualizar e exportar, em qualquer momento, o histórico das tarefas executadas e da
sua reputação, em um forma humanamente legível (art. 5º, I, da Lei 13.709/2018).

O direito está sendo garantido pela LGPD e pelo inciso LXXIX acrescido ao art. 5º
da CF. Entretanto, ainda há a necessidade de formação de jurisprudência sobre um
tema tão novo e adequação das leis existentes ou criação de novas para que, não
somente os dados pessoais, mas também os direitos à dignidade, à imagem, dentre
outros, sejam garantidos frente ao algoritmo. A questão envolve uma problemática
atual que alcança principalmente os trabalhadores uberizados, em especial dos
aplicativos de “work on demand” e “crowdwork”.
Nesse sentido, também há o PL 3.748/20, bem como a necessidade de se
garantir acesso, no ato da contratação para trabalho subordinado ou não, dos limites
algorítmicos, notadamente em linguagem humana.

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