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O que são ações afirmativas?

ex-Ministro brasileiro Joaquim Barbosa Gomes, conceitua as ações afirmativas


da seguinte forma:

“As ações afirmativas se definem como políticas públicas (e privadas)


voltadas à concretização do princípio constitucional da igualdade
material e à neutralização dos efeitos da discriminação racial, de
gênero, de idade, de origem nacional e de compleição
física. Impostas ou sugeridas pelo Estado, por seus entes vinculados e
até mesmo por entidades puramente privadas, elas visam a combater
não somente as manifestações flagrantes de discriminação, mas
também a discriminação de fato, de fundo cultural, estrutural,
enraizada na sociedade” (2001).

podemos entendê-las como um conjunto de ações que visam combater e


diminuir as desigualdades historicamente acumuladas em nossa
sociedade, buscando a partir delas, garantir a igualdade de oportunidade a
todos bem como corrigir injustiças provocadas pela discriminação racial, étnica,
religiosa ou de gênero.

A expressão “ação afirmativa” teve origem nos Estados Unidos, sendo este, o
primeiro país a adotar efetivamente esse tipo de política ainda nos anos 60,
momento em que os norte-americanos viviam um clima de reivindicações
democráticas internas, cuja bandeira central era a igualdade de oportunidades
a todos.

Qual o objetivo dessas ações?


Flávia Piovesan, jurista, advogada, professora e autora brasileira de inúmeras
obras voltadas aos Direitos Humanos e ao Direito Internacional, as ações
afirmativas representam um poderoso instrumento de inclusão social,
porque:

“as ações afirmativas, como políticas compensatórias adotadas para


aliviar e remediar as condições resultantes de um passado de
discriminação, cumprem uma finalidade pública decisiva para o
projeto democrático: assegurar a diversidade e a pluralidade social.
ações afirmativas se baseiam em uma reparação histórica de desigualdades e
desvantagens acumuladas e vivenciadas por determinado grupo racial ou
étnico.
Essa reparação tem como base medidas de combate a todo tipo de
discriminações, sejam elas, étnicas, raciais, religiosas, de gênero, de
classe, físicas, de idade ou quaisquer outras.

De maneira geral, essas ações buscam eliminar as desigualdades e


segregações a fim de aumentar a participação de minorias no processo
político, no acesso à educação, saúde, emprego, bens materiais, redes de
proteção social, no reconhecimento cultural e principalmente situá-las em
condições de igualdade de oportunidades na sociedade.

A relação entre ações afirmativas e direitos


humanos
Em 1948, a Declaração Universal dos Direitos Humanos inovou
extraordinariamente a gramática dos direitos humanos ao combinar o
valor de liberdade ao valor da igualdade.

Mediante a adoção de inúmeros instrumentos internacionais de proteção, foi


criado um sistema internacional de proteção e valorização da dignidade da
pessoa humana e, a partir disso, as primeiras ações afirmativas passaram a
existir.

É importante lembrar que essa primeira fase de proteção dos direitos humanos
foi profundamente marcada por uma ideia de proteção geral, baseada em uma
igualdade formal de que “todos são iguais perante a lei”, principalmente pelo
temor da diferença que o nazismo havia levantado, o qual se orientou para
um extermínio de milhões de judeus.

Contudo, aos poucos foi verificado que seria insuficiente tratar o indivíduo de
forma genérica, geral e abstrata.

Assim, em um segundo momento de defesa dos direitos humanos se fez


necessário o reconhecimento das particularidades dos indivíduos e,
principalmente, da necessidade de conferir a determinados grupos uma
proteção especial e individualizada em face de sua própria vulnerabilidade.

Nesse cenário, as populações afrodescendentes, as mulheres, as crianças e


demais grupos passaram a ser vistos nas especificidades e peculiaridades de
sua condição social e, no sistema internacional, a defesa dos direitos humanos
foi fortalecida por vários Tratados e Convenções que consequentemente
cederam grandes contribuições as ações afirmativas.
Vejamos alguns exemplos:

 a Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de


Discriminação Racial em 1965;
 a Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de
Discriminação contra a Mulher em 1979;
 o Programa de Ação Mundial Para as Pessoas Deficientes de
1982;
 o Protocolo de San Salvador de 1988.

ideia da igualdade material que correspondente ao ideal de justiça social pois


reconhece às variadas identidades (sejam elas de gênero, orientação sexual,
idade, raça, etnia e demais critérios) a igualdade de oportunidades.

Na igualdade material não se admite qualquer tipo de discriminação, pelo


contrário, pensando sob o seu viés, as políticas de ações afirmativas se tornam
essenciais para a vida social. Isso ocorre porque:

A passagem do modelo de igualdade formal


para o material deriva da necessidade de
oferecer condições desiguais de acesso àqueles
que são tratados historicamente e, portanto,
estruturalmente, de forma desigual, com o
propósito de corrigir décadas de falta de
oportunidades. Por isso, as ações afirmativas
também serem denominadas de discriminação
positiva.

As ações afirmativas no Brasil


As primeiras políticas públicas voltadas a não discriminação no país, se
caracterizavam inicialmente por medidas de cunho assistencialista contra a
pobreza.

Com a promulgação da Constituição Federal de 1988, a legislação em seus


atuais moldes, passou a estabelecer o princípio da dignidade da pessoa
humana, conforme estabelece o artigo 1º, inciso III da Carta Magna bem como
o da igualdade, estabelecido no caput do artigo 5º.

Em seu artigo 3º, a Constituição da República apresentou seus objetivos


principais, sendo eles:
I – construir uma sociedade livre, justa e solidária;
II – garantir o desenvolvimento nacional;
III – erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades
sociais e regionais;
IV – promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo,
cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.

Outro ponto a ser destacado na Carta de 1988 foi a inclusão de pessoas com
deficiência no mercado de trabalho bem como a previsão da proteção do
mercado de trabalho da mulher, mediante incentivos específicos, o que podem
ser considerados como as primeiras efetivas ações governamentais voltadas
para a inclusão de minorias.

“políticas públicas (e privadas) que visam à garantia de direitos


historicamente negados a grupos minoritários, como negros,
mulheres e portadores de deficiência. Fundamentam-se no princípio de
igualdade substancial ou material”

Acesso à educação por meio de cotas


A Lei nº 12.711/2012, regulamentada pelo Decreto nº 7.824/2012, garantiu que
até 2016, no mínimo, 50% das vagas das universidades públicas brasileiras
deveriam ser reservadas para alunos cotistas que tenham cursado o ensino
médio integralmente em escolas públicas, das quais 50% (25% do total)
destinam-se aos de baixa renda (renda per capita igual ou inferior a 1,25
salário mínimo) e os 50% restantes destinados a negros, pardos e indígenas,
distribuídas proporcionalmente de acordo com o percentual populacional da
unidade federativa identificado no último censo.

Inclusão social de pessoas portadoras de deficiência ao


mercado de trabalho
As dificuldades encontradas para a inserção e manutenção da pessoa com
deficiência na sociedade são as mais diversas e o Estado representa a peça
fundamental para inserção dessas pessoas no seio social.

Pensando nisso, a Lei nº 8.213/1991, ao apresentar os benefícios da


previdência social, trouxe em seu artigo 93 a previsão legal de percentuais
mínimos a serem preenchidos por pessoas com deficiência nos quadros das
empresas

Determinação de cotas mínimas de participação na política


A política de cotas no Legislativo por critério de gênero é uma ação afirmativa
de empoderamento feminino, através de uma discriminação positiva, que foi
adotada em vários países do mundo.

Concessão de bolsas de estudo e auxílio estudantil


O Programa Universidade para Todos (PROUNI) criado pela Lei nº
11.096/2005, concede bolsas de estudo integrais ou parciais em cursos de
graduação em instituições de ensino superior privadas. Estudantes que
concluíram o ensino médio na rede pública ou em rede particular como
bolsistas integrais, com renda familiar per capita máxima de três salários
mínimos, podem se candidatar e serão selecionados pelas notas obtidas no
Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), valorizando os estudantes com
melhores desempenhos acadêmicos.2

As ações afirmativas podem ser compreendidas como uma forma de


aliviar a carga de um passado discriminatório ainda acumulada em nossa
sociedade, mas não somente isso. Essas políticas devem acima de tudo
serem entendidas como uma forma de transformação social e criação de
novas realidades onde a igualdade, a equidade e a justiça social estejam
presentes possibilitando a participação, a inclusão e o respeito as
diversidades.

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