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O ENFRENTAMENTO ÀS

DESIGUALDADES SOCIAIS
FREITAS, Veronica Tavares de

SST O enfrentamento às desigualdades sociais / Veronica


Tavares de Freitas

Ano: 2020

nº de p. 10

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O ENFRENTAMENTO ÀS
DESIGUALDADES SOCIAIS

Apresentação
Neste momento, trataremos de um assunto relacionado ao enfrentamento
às desigualdades sociais. Estudaremos sobre o breve contexto histórico da
desigualdade no Brasil, apresentando alguns destaques para os agravos dessa
situação de desigualdade, e conhecendo alguns conceitos fundamentais.

Também estudaremos a respeito do breve histórico de ações afirmativas em várias


partes do mundo, como uma forma de enfrentar as disparidades sociais e promover
a inclusão social. E, por fim, iremos conhecer algumas ações afirmativas que o
Estado brasileiro tem promovido para os cidadãos brasileiros que fazem parte dos
grupos socialmente discriminados e excluídos.

Bons estudos.

BREVE CONTEXTO HISTÓRICO DA


DESIGUALDADE SOCIAL NO BRASIL
Apesar de contarmos com um ordenamento jurídico que prevê a garantia de uma
série de direitos para a população, a realidade nacional é ainda de sistemáticas
violações de direitos e perpetuação de elevados índices de desigualdade social.
A persistência desse quadro advém do fato de que a história nacional foi
baseada em relações profundamente desiguais, o que ainda não foi superado
pela nossa sociedade.

O passado escravocrata, com quatro séculos de dominação dessa forma de


exploração, bem como a existência de dois períodos ditatoriais no século XX
enraizaram em nossa estrutura social relações baseadas na desigualdade.

Ressalta-se que, imediatamente antes do estabelecimento da ditadura civil-militar


de 1964, houve uma grande mobilização nacional em torno do programa das
“reformas de base”, com adesão da presidência de João Goulart. No entanto, com
a ocorrência do golpe cívico-militar, houve uma interrupção desse processo, que
nunca foi resgatado.

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Saiba mais
A desigualdade social no Brasil é um problema grave e
profundamente enraizado em nossa sociedade. Existem muitas
produções a respeito da temática.
Como recomendação, aconselhamos o documentário “Brasileiros
Guerreiros, a desigualdade social no Brasil”. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=buw69MKzTQc>. Acesso
em 23 de set. de 2020.
Também deixamos como uma segunda opção a matéria jornalística
da TV Cultura que tem por tema: A desigualdade social no Brasil
veiculado em 28/11/2018. Disponível em: <https://www.youtube.
com/watch?v=Acw66g3bMW0>. Acesso em 23 de set. de 2020.

As reformas de base apresentavam como objetivo justamente proporcionar


mudanças estruturais na sociedade, buscando a ruptura de estruturas de
reprodução de desigualdade.

O acesso à terra, por meio da reforma agrária, era uma das agendas presentes
nesse processo. Ao contrário do que ocorreu em grande parte dos países
desenvolvidos do mundo, a reforma agrária no Brasil nunca ocorreu, perpetuando a
grande concentração de terras no país (CARVALHO et al., 2013).

Desigualdade social:

É a diferença existente na sociedade a partir das distinções que há entre as


classes sociais, considera-se como fatores que geram desigualdades, os
fatores culturais, educacionais e econômicos; e não há distribuição justa e
igualitária do que se arrecada e ganha em termos de lucros.

Igualdade social:

Princípio fundamental para as sociedades democráticas, pois possibilita a


todos a equiparação no que diz respeito ao desfrute e proveito de seus direitos.

Com o fim do Regime Militar no ano de 1985 e a consolidação da Constituição


Federal de 1988, a promoção da igualdade e garantia de direitos retomou com
fôlego o debate público. Tanto que em seu texto constitucional se coloca a questão

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dos direitos sociais, igualdade entre os seres humanos, entre outros aspectos,
prevalecendo a liberdade, igualdade e a democracia.

A constituição Federal assegura que deve ser dever do Estado a responsabilidade


de ofertar atendimento a indivíduos e grupos no que tange a proteção social de
acordo com os direitos sociais avalizados em seu artigo 6º, sendo todos eles
direitos, então deve ser ofertado de maneira igualitária, respeitando a equidade para
que todos tenho acesso ao que lhe cabe enquanto direito e de modo universal.

Entretanto, precisamos ressaltar que mesmo tendo sido promulgada a Carta


Magna que assegura os direitos sociais e se compromete com a integralidade e
universalidade do acesso a esses direitos, no Brasil, torna-se um desafio materializar
esse direito e viabilizá-lo, tendo em vista esse rastro de desigualdades em que a
sociedade brasileira se formou. Contudo, cabe aos trabalhadores e trabalhadoras que
atuam na promoção e viabilização desses direitos, que busquem se comprometer
ética e politicamente para que as barreiras de acesso que se levantam cotidianamente
para a não efetivação dos direitos, possam ser derrubadas e assim, concretizando a
viabilidade e garantia desse direito inerente a população do território brasileiro.

BREVE CONTEXTO HISTÓRICO DE


AÇÕES AFIRMATIVAS
Nos últimos anos, a proposição de “ações afirmativas” ganhou bastante ênfase nas
políticas nacionais, com objetivo de combater a profunda desigualdade social no país.

Ações afirmativas consistem no conjunto de medidas voltadas a grupos atingidos e


discriminados pela exclusão social, ocorridos no passado ou contemporaneamente.
O objetivo dessas políticas é combater desigualdades e segregações, buscando o
fim de grupos elitizados em contraposição aos marginalizados.

Todos são iguais perante a lei e diferente em suas subjetividades

Fonte: Plataforma Deduca (2020)

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Ações afirmativas são políticas enfocais que proporciona oportunidades a
indivíduos pertencentes a grupos discriminados e vitimados pela exclusão social
racial, de gênero e econômica.

Refere-se a medidas que têm como desígnio o combate as discriminações sociais,


raciais, de gênero étnicas, religiosas, promovendo assim, a inclusão dessas
pessoas que historicamente foram excluídas de diversos processos na sociedade,
como o acesso à educação, saúde, emprego, bens materiais, redes de proteção
social e/ou no reconhecimento cultural.

As políticas de ação afirmativa afloraram em conjunto com as lutas pela


descolonização após a Segunda Guerra Mundial, aplicadas com a denominação de
indigenização ou nativização (CARVALHO et al., 2013).

Ações afirmativas geram equiparações no acesso a direitos sociais

AÇÕES AFIRMATIVAS GERA OPORTUNIDADES


DE ACESSO PARA AS
PESSOAS SOCIALMENTE
DISCRIMINADAS

Fonte: Elaborada pela autora (2020)

Assim, com a independência da Índia e do Paquistão, em 1947, da Indonésia, em


1949, seguidas pelos processos de emancipação de muitos países africanos e
asiáticos, houve uma demanda de substituir os brancos, de origem europeia, que
durante os respectivos regimes coloniais se apropriaram dos postos de comando
dessas sociedades inclusive as estruturas de ensino.
Cotas para ocupação de cargos públicos ou do acesso à educação e diversas
outras medidas foram adotadas para que essas populações protagonizassem os
governos de suas nações.

No caso ocidental, diante da luta dos negros nos Estados Unidos, com a marca
da busca dos direitos civis, desencadeada em 1950, o país incorporou, na década
seguinte, à sua legislação e costumes mecanismos de busca pela igualdade
inspirados nos avanços de descolonização do mundo afro-asiático.

Por fim, a partir da tônica inicial mais forte acerca da questão racial, outros avanços
foram agregados no sentido da busca da dissolução de estruturas de reprodução
da desigualdade social, buscando direitos aos nativos estadunidenses, às mulheres,
idosos, deficientes físicos, à comunidade LGBTQIA+, aos imigrantes, entre outros.

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AÇÕES AFIRMATIVAS COMO
POSSIBILIDADE AO ENFRENTAMENTO
DAS DESIGUALDADES SOCIAIS NO
BRASIL
Existe um conjunto de ações afirmativas em âmbito federal voltadas para os
grupos socialmente discriminados no Brasil. Iniciamos mencionando sobre a
população negra e parda, é o caso da Lei n. 10.639/03, que torna obrigatório
o ensino de história e cultura afro-brasileira e africana nas escolas de nível
fundamental e médio.

A Lei n. 11.645/08, que modificou as diretrizes e bases da educação nacional,


incluindo no currículo oficial de ensino a obrigatoriedade da temática “História e
cultura afro-brasileira e indígena.

Atenção
Os direitos dos indígenas no Brasil

Os direitos dos indígenas estão regidos pela Constituição Federal.


Além disso, muito se avançou nas últimas décadas a respeito
dessa temática. O ordenamento nacional renegou a perspectiva
“assimilacionista”, que compreendia os indígenas como categoria
transitória, com perspectiva de desaparecimento.

Ademais, houve avanços relevantes sobre a perspectiva dos seus


direitos, estabelecendo-se que as terras são direitos originários dessas
populações, isto é, anterior à própria formação do Estado Nacional.

A Lei de Cotas no Ensino Superior, que vem sendo adotada por universidades
públicas de todo o país. A Portaria Normativa n. 18, de 11 de outubro de 2012, que
dispõe sobre a reserva de vagas em instituições federais de ensino; o Decreto n.
7.824, de 11 de outubro de 2012, que dispõe sobre o ingresso nas universidades
federais e nas instituições federais de ensino técnico de nível médio  e o Estatuto da
Igualdade Racial.

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Atenção
Para enfrentar a desigualdade no topo da formação educacional,
o MEC publicou a Portaria n. 13, em 2016, com adoção de ações
afirmativas na pós-graduação. A lei prevê que as instituições
federais de ensino superior adotem medidas para inclusão de
negros (pretos e pardos), indígenas e pessoas com deficiência em
seus programas de pós-graduação.

A adoção de medidas nesse sentido na esfera dos concursos públicos igualmente


apresenta como objetivo a desconstrução de estruturais de reprodução de
desigualdade no país. Dessa forma, as cotas nos concursos para negros e
deficientes físicos se apresenta como um avanço relevante nessa seara.

A desigualdade de gênero igualmente vem sendo combatida a partir da adoção de


ações afirmativas. Um caso relevante nacional é a baixa ocupação de mulheres nos
cargos de poder político.

Essa situação diz respeito a uma cultura patriarcal na qual foi reservado
historicamente o espaço doméstico como o mais adequado para as mulheres,
sendo o próprio direito ao voto uma conquista das últimas décadas no país.

Destarte, há um baixo investimento das lideranças partidárias em mulheres


como figuras públicas, bem como negros e indígenas, sendo esse papel ocupado
geralmente por homens brancos, condizentes com a lógica do patriarca sobre a
qual se fundou o Brasil.

A baixa ocorrência de mulheres nos espaços de poder público ajuda a perpetuar


desiguais no sentido cultural, de negar às mulheres espaço e acesso ao poder, bem
como nas medidas aprovadas.

Afinal, é fato que as prioridades políticas dos sujeitos passam pela própria
formação pessoal deles, havendo uma nítida diferença na ênfase para a igualdade
de gênero dada por mulheres nos espaços de poder, em contraposição aos homens.

Para enfrentar esse problema social, a Lei n. 9.504, de 1997, determinou que as
mulheres deveriam ocupar o percentual mínimo de 30% da lista de candidaturas.

Apesar dessa conquista, persistem muitos problemas na representação política das


mulheres. Para tentar burlar essa lei, muitos partidos colocam mulheres na chapa
que não buscam votos efetivamente, constando apenas para o enquadramento
legal, sendo conhecidas como “candidaturas laranjas”.

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Fechamento
Estudamos sobre o enfrentamento às desigualdades sociais. E aprendemos que
os desafios para relações sociais mais justas são enormes, sendo abordado aqui
apenas os principais tópicos da problemática nacional. A questão da violência, o
déficit habitacional, o acesso à informação, a inclusão digital são temas bastante
relevantes e que necessitam do engajamento da sociedade e, principalmente, dos
gestores públicos para o seu devido enfrentamento. Estudamos sobre a
importância de o Estado investir em desenvolvimento dos direitos sociais mais
básicos da população, como acesso à saúde, educação e saneamento, existindo
uma complexidade social que precisa ser encarada para o desenvolvimento das
relações sociais.

Ademais, trabalhamos a temática da desigualdade a partir das estruturas racistas


e patriarcais de nossa sociedade. Esse problema não é apenas brasileiro, sendo um
desafio global do século XXI. Porém, o nosso passado escravocrata e autoritário
consolidou no cotidiano nacional relações muito profundas de desigualdade e
reprodução de privilégios. A percepção dessa dimensão dos problemas sociais é
fundamental para a compreensão da sua complexidade.

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Referências
BRASIL. Agência IBGE. Mulher estuda mais, trabalha mais e ganha menos do que
o homem. 28 mar. 2019. Disponível em: <https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/
agencia-noticias/2012-agencia-de-noticias/noticias/20234-mulher-estuda-mais-
trabalha-mais-e-ganha-menos-do-que-o-homem>. Acesso em: 23 set. 2020.

BRASIL. Agência IBGE. Munic: mais da metade dos municípios brasileiros não
tinha plano de saneamento básico em 2017. 20 set. 2018. Disponível em: <https://
agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-sala-de-imprensa/2013-agencia-de-
noticias/releases/22611-munic-mais-da-metade-dos-municipios-brasileiros-nao-
tinha-plano-de-saneamento-basico-em-2017>. Acesso em: 23 set. 2020.

BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de


1988. Brasília, DF: Presidência da República, [2016]. Disponível em: <http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm>. Acesso em: 23 set. 2020.

BRASIL. IBGE Educa. Conheça o Brasil. Disponível em: <https://educa.ibge.gov.br/


jovens/conheca-o-brasil/populacao/18317-educacao.html>. Acesso em: 23 set. 2020.

BRASIL. Ministério da Saúde. Sistema Único de Saúde (SUS): estrutura,


princípios e como funciona. Disponível em: <http://www.saude.
gov.br/sistema-unico-de-saude#:~:text=Princ%C3%ADpios%20
Organizativos&text=Descentraliza%C3%A7%C3%A3o%20e%20Comando%20
%C3%9Anico%3A%20descentralizar,fiscaliza%C3%A7%C3%A3o%20por%20parte%20
dos%20cidad%C3%A3os>. Acesso em: 23 set. 2020.

CARVALHO, A. P. C. de et al. Desigualdades de gênero, raça e etnia. Curitiba:


InterSaberes, 2013.

CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA. Imprensa destaca pesquisa encomendada pelo


CFM ao Datafolha sobre a percepção do brasileiro sobre a saúde. 2018. Disponível
em: <https://portal.cfm.org.br/index.php?option=com_content&view=article&
id=27701:2018-06-28-15-18-26&catid=3>. Acesso em: 23 set. 2020.

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