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e práticas de poder na
Nossa América
Mara Viveres Vigoya é dou-
tora em Antropologia pela École
des Hautes Études en Sciences
Soda/es de Paris (EHESS). Pro-
fessora titular da Universidade Na-
cional da Colômbia onde ensina e
realiza pesquisas desde 1998 no
Departamento de Antropologia e na
Escola de Estudos de Gênero. Tem
sido membro da Escola de Ciência
Social do Institute for Advanced
Study em Princeton (USA), e pro-
fessora convidada no Institut des
Hautes Études sur l'Amérique La-
tine (IHEAL), na EHESS de Paris,
na Universidade da Bahia (Brasil),
na Universidade de Guadalajara e
na UAM-Xochimilco (México), na
Universidade Nacional de Córdoba
(Argentina) e no Graduate Institute
of International and Development
Studies (Suíça). Seus interesses
de pesquisa incluem as relações
entre diferenças e desigualdades
sociais e as interseções de gêne-
ro, sexualidade, classe, raça e et-
nicidade nas dinâmicas sociais na
América Latina.
papeisselvagens.com
AS CORES DA MASCULINIDADE
Experiências interseccionais e práticas
de poder na Nossa América
MARA VIVEROS VIGOYA
AS CORES DA MASCULINIDADE
Experiências interseccionais e práticas
de poder na Nossa América
PAPEIS
SELVAGENS
Copyright Q Papéis Selvagens, 2018
Copyright Q Mara Viveros Vigoya, 2018
Copyright da tradução Q Allyson de Andrade Perez
Coordenação Coleção Kalela
Maria Elvira Díaz-Benitez
Projeto gráfico
Martin Rodriguez
Imagem de Capa
Glaucus Noia
Diagramaçã o
Papéis Selvagens
Tradução
Allyson de Andrade Perez
Revisão
Brena O'Dwyer
Conselho Editorial
Alberto Giordano (UNR-Argentina)..I_Ana Cecilia Olmos (USP)
Elena Palmero González (UFRJ) 1 Gustavo Silveira Ribeiro (UFMG)
Jaime Arocha (UNAL-Colômbia) 1 Jeffrey Cedefio (PUJ-Bogotá)
Juan Pablo Villalobos (Escritor-México) 1 Luiz Fernando Dias Duarte (MN/UFRJ)
Maria Filomena Gregori (Unicamp) 1 Mônica Menezes (UFBA)
Introdução 15
Como e quando cheguei ao estudo sobre homens
e masculinidades? 18
Por que, como e para que trabalha uma mulher feminista
sobre homens e masculinidades? 21
As cores da masculinidade. Identidades interseccionais
e práticas de poder na Nossa América 24
O conteúdo deste livro 32
Primeira parte
Teorias feministas e masculinidades
Segunda parte
Masculinidades nossamericanas
Conclusão geral
Masculinidades, homens e dinâmicas sociais nossamericanas 177
Agradecimentos 187
Bibliografia 189
PREFÁCIO
Raewyn Connelll
1Raewyn Connell é uma socióloga australiana conhecida por seus trabalhos sobre
as masculinidades. Sua obra clássica Masculinities (1995) ainda não tem tradução
no Brasil. Encontram-se traduzidas pela Nversos duas obras mais recentes: Gênero:
uma perspectiva global (2015) e Gênero em tempos reais (2016). (N.T.)
10 1 Mara Viveros Vigoya
Sydney, 2017
INTRODUÇÃO
3 Diferentes traduções têm sido adotadas no Brasil para o termo inglês gendered
fenômenos humanos melhor que outros. Ele ou ela ocupa uma posição ou
localização estrutural e observa com uma perspectiva específica. [...] A noção de
posição se refere a como as experiências de vida permitem ou impedem certo tipo
de explicação" (Rosaldo, 2000, pp. 39-40).
5 0 Black Feminism não é o ponto de vista das feministas "negras", mas uma corrente
Por que, como e para que trabalha uma mulher feminista sobre
homens e masculinidades?
" Como assinalam Sébastien Chauvin e Alexandre jaunait (2015, p. 55): "Loin de
faire pléonasme avec l'idée d'intersection, à laquelle on la réduit souvent, la notion
d' intersectionnalité en est au contraire la déconstruction critique" que se poderia
traduzir assim: "Longe de ser redundante com a ideia de intersecção, à qual nós
frequentemente a reduzimos, a noção de interseccionalidade é pelo contrário a
desconstrução critica dela".
Introdução 1 31
21É importante assinalar que esta periodização das três ondas do feminismo tem
sido amplamente questionada por sua pretensão de homogeneizar, em um só relato
hegemônico, as trajetórias do feminismo em diferentes contextos geopoliticos.
38 1 Mara Viveros Vigoya
22 Mais tarde, retomando suas teorias sobre a educação das(os) filhas(os), Chodorow
40 1 Mara Viveros Vigoya
24 O termo utilizado por R. Connell é cathexis, proposto por James Strachey para
traduzir o conceito freudiano Besetzung para o inglês. Na tradução das obras
completas de Freud no Brasil pela Imago, feita a partir da edição inglesa, foi adotado
o termo "catexia", o qual é atualmente considerado impróprio para significar os
investimentos libidinais de um sujeito sobre ou em direção a seus objetos. (N.T.)
25 Algumas formulações psicanalíticas associaram, de forma oposicional, a atividade
Para além do binarismo: teorias feministas, homens e masculinidades 1 43
" A partir da análise efetuada por Nicole-Claude Mathieu (1999), Léo Thiers-
Vidal (2004) resume o "masculinismo teórico" de Bourdieu da seguinte maneira:
ele ignora as contribuições do trabalho teórico fundador das teorias feministas
francófonas; privilegia a análise da dimensão simbólica da dominação masculina
em detrimento dos aspectos materiais da opressão das mulheres; apresenta, com
poucas exceções, uma visão desencarnada e despolitizada das relações sociais de
sexo; vitimiza e desresponsabiliza os homens; e, finalmente, recusa considerar
qualquer influência das circunstâncias histórico-materiais na forma pela qual os
homens pensam as relações sociais de sexo.
48 1 Mara Viveros Vigoya
31Os drag kings são, em geral, mulheres artistas que fazem performances do
gênero masculino. O termo butch (literalmente "machão —) se refere a uma mulher
lésbica que se comporta ou se veste de forma muito masculina. As garçonnes eram
mulheres que, na Paris dos anos 1920, rebelando-se contra as normas dominantes
de feminilidade, adotaram visual andrógino. As lésbicas leather (do inglês "couro")
Para além do binarismo: teorias feministas, homens e masculinidades 1 55
Les fleurs do mal [As flores do mal], jogando com a homofonia das palavras mede
[macho] e mal [mal] em francês. (N.T.)
" Como sua resistência "em converter a masculinidade no termo geral de uma
conduta associada aos homens" (Halberstam, 2008, p. 268).
" "Non seulement voyaient clairement le Hen entre la masculinité biologique et les
masculinité qu'il construisaient, mais as désiraient ce lien".
Para além do binarismo: teorias feministas, homens e masculinidades 1 57
Conclusão
" Ver a esse respeito a compilação interessante e muito detalhada que apresentam
Teresa Valdés e José Olavarria (1997) na introdução de seu livro Masculinidad-
es: poder y crisis [Masculinidade/s: poder e crise]. Igualmente, a apresentação de
Homens e masculinidades: outras palavras escrita por Margareth Arilha, Sandra
Unbehaun Ridenti e Benedito Medrado (1998).
4° Nos últimos dez anos, a produção de trabalhos sobre as masculinidades e os
homens tem crescido nas revistas acadêmicas de saúde, especialmente no Brasil,
devido, entre outras razões, ao surgimento do campo de estudos conhecido como
Saúde coletiva. Este campo, desenvolvido na América Latina, buscou superar o
determinismo biológico de muitos enfoques de saúde pública através de uma
perspectiva multidimensional da saúde que integrasse a dimensão política do
trabalho médico.
62 1 Mara Viveros Vigoya
perspectiva na América Latina antes que ela recebesse esse nome (Viveros, 2015).
46 A colonialidade denota uma ideologia advinda do colonialismo, capaz de gerar
Identidades masculinas
55 A Malinche foi uma das mulheres nahua que os indígenas tabascos entregaram
aos colonizadores espanhóis como tributo. Esta mulher, que teve uma relação com
o conquistador Hernán Cortés, desempenhou um papel de grande importância na
colonização do que hoje chamamos México, já que falava várias línguas indígenas do
território. Ela e Cortés tiveram um filho, Martín, convertido, de forma alegórica, no
iniciador do processo de mestiçagem.
56 A cultura gaúcha é aquela dos trabalhadores rurais da pecuária extensiva,
salamandra que seduz os homens e os atrai para uma caverna escura na qual,
depois de superar difíceis provas, podem obter de sua mão sete dons: sorte no jogo;
talentos musicais e poéticos; conhecimentos terapêuticos; carisma; e poder sobre
os homens etc., que constituem características culturalmente prescritas para ser
Trinta anos de estudo sobre homens e masculinidades na Nossa América 1 75
Masculinidades e violências
Violências domésticas
Afetos e sexualidades
62Segundo o autor esta categoria dá conta das relações sexuais sem proteção,
especialmente o sexo anal, mas o termo também pode designar outros tipos de atos
sexuais com penetração sem uso de preservativo.
Trinta anos de estudo sobre homens e masculinidades na Nossa América 89
Reflexões epistemológicas
Conclusão
têm sido objeto de intensos debates nos âmbitos acadêmico e político. Para as (os)
militantes da organização Cimarrón, uma das primeiras e principais associações
políticas negras, o termo negro deveria ser abolido do vocabulário, pois seria uma
categoria criada para legitimar a escravização e a dominação social. Admitem seu
uso unicamente como adjetivo e não como substantivo e militam pelo uso dó termo
afro-colombiano como substantivo para definir um novo ator social, do qual se
destaca a especificidade cultural (afro) e a integração política (colombiana). Para
discussões mais amplas sobre o tema, ver Cunin (2002). No meu ponto de vista, não
se pode ignorar que em um mundo onde o negro não está validado, nem cultural nem
socialmente, assumir o termo negra(o) como um elemento de resistência cotidiana
é estratégico e político. Revalorizar o que é negro significa reivindicar como positivo
o que foi objeto de discriminação e desvalorização. A autodenominação pode
produzir um sentimento de identidade assumido positivamente e se tornar uma
forma de subverter o sistema de classificação dominante (ver Curiel, 1999; Lavou-
Zoungbo, 2001, entre outras(os)).
Garay (2010). Artigo disponível em: <http://www.revistaarcadia.com/musica/
articulo/somos-pacifico/20351>.
102 I Mara Viveros Vigoya
66Lembro que minha reflexão não adota uma posição essencialista que assimilaria
os homens à masculinidade.
104 1 Mara Viveros Vigoya
" Nos contextos coloniais, como o descrito por Fanon, a qualidade viril dos homens
sempre está posta em questão. Dai sua afirmação de que o homem negro não é um
homem e sua rejeição visceral do papel reservado para ele como homem negro
desumanizado, mesmo quando seu mais ardente desejo é ser um homem (Gordon,
2009).
Corpos negros masculinos: mais além ou mais aquém da pele 1 109
nacionais, particularmente atrativa pelo impulso dionisíaco que ela traz (Wade,
1997). Isto não significa, no entanto, que a relação que a sociedade colombiana
branca ou branco-mestiça mantém com o negro esteja desprovida de ambivalência.
Por outro lado, deve-se levar em conta que todas essas categorias - branco, branco-
mestiço, negro - são relacionais e não constituem grupos socialmente homogêneos.
Corpos negros masculinos: mais além ou mais aquém da pele 111
Resistências limitadas
70 O termo niche designa, de início, uma pessoa negra e, por extensão, uma pessoa de
condição social inferior e de comportamento vulgar ou de mau gosto.
112 1 Mara Viveros Vigoya
/ Yo soy el mismo que camina yo, de lado a lado / O que anda en carros de alta gama,
vidrios polarizados / Orgulloso de mi madre, te lo juro / Criado a punta de queso
y plátano maduro / Con ia bemba grande, bemba grande / Hijo de Elegua y con tu
misma sangre / Atrato andá, queda San Juan, Baudó / Viva la manigua, selva dei
Chocó / Como soy me siento bien / No le hago mal a nadie / Mi abuelo creyó también
/ NO VENGAS ACHICOPALARME / Si de pronto se le nega el café / Échale ia culpa ai
mismo /Si se le quema el cucayo biambe / Échale ia culpa ai mismo.
Corpos negros masculinos: mais além ou mais aquém da pele 1 121
sua necropolítica.