Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Seção 2.3
Diálogo aberto
Caro aluno, seja bem-vindo à Seção 2.3. Aqui discutiremos os direitos
fundamentais em sua relação com a democracia, a cidadania e o reconheci-
mento das diferenças.
Você já parou para pensar em quais são os grupos sociais do Brasil
que mais sofrem com as barreiras no acesso à cidadania e quais são essas
barreiras – visíveis, mas também muitas vezes invisíveis – por eles enfren-
tadas para a atuação política, ou seja, para a representação e a reinvindi-
cação de seus direitos?
Para refletirmos sobre essas questões no contexto nacional, tenta-
remos entender alguns problemas do funcionamento das sociedades
atualmente, em particular o aumento das desigualdades e sua relação
intrínseca com a culpabilização e a exclusão dos grupos sociais margi-
nalizados denominados pelas ciências sociais de “diferença”. No mundo
inteiro, mas no Brasil em particular, essa lógica tem crescido, apesar
de também existirem contratendências guiadas pela defesa dos direitos
fundamentais e dos direitos humanos e por políticas de inclusão e de
reconhecimento das diferenças.
O continente europeu é hoje um dos principais destinos de imigrantes
e refugiados expulsos de seus países. Sabemos que, ali, os efeitos da crise
mundial eclodida em 2007/2008 acirram conflitos já existentes e criam
novos. De fato, os imigrantes e refugiados passam a ocupar o lugar da
“diferença” nessas sociedades e, muitas vezes, são identificados como o
“bode expiatório” de todos os problemas existentes – desemprego, crimina-
lidade, terrorismo, dificuldade de acesso a serviços públicos, dentre outros.
Essa tendência está estreitamente relacionada com a reprodução e o reforço
de desigualdades, das quais esses grupos são as principais vítimas, como o
acesso a um emprego mais valorizado e protegido, à educação e a serviços
de educação e saúde.
No Brasil, a análise das diferenças deve abranger as raízes históricas, que
colocaram os negros, indígenas e outras populações marginalizadas na posição
da “diferença” e de mais atingidos pelas desigualdades. Como sabemos, essa
questão social se reproduziu nos períodos históricos posteriores.
Por que será que as mulheres pertencentes a esses grupos sociais são as
mais atingidas pelos fatores de discriminação, de desigualdade e de exclusão
Dessa forma, o autor destaca o fato de que a relação dos direitos fundamen-
tais com o exercício da cidadania – pensada de forma articulada globalmente,
para além da esfera nacional – e com a democracia é umbilical. Sem um regime
político que permita a participação cidadã democrática, não é possível se falar em
garantia dos direitos fundamentais. É por esse motivo que a nossa Constituição de
1988 (BRASIL, 1988) – a Carta Maior, que está acima de todas as outras legisla-
ções do país –, além de estabelecer os direitos fundamentais, também resguarda a
democracia e a cidadania. A Constituição de 1988 se contrapõe frontalmente ao
sistema político das duas décadas anteriores à sua instituição, do regime militar,
que interditou o exercício da cidadania, ou seja, a participação no poder político
pela população. Essa garantia da cidadania pela Constituição é uma condição sine
qua non dos direitos fundamentais e não podemos esquecer disso!
Isso não nos exime, no entanto, de fazer uma crítica a mudanças reais que
devem ocorrer nas sociedades para que os direitos fundamentais, a democracia
e a cidadania não se tornem apenas palavras vazias. Sem dúvida alguma, quanto
mais os direitos fundamentais são desrespeitados e/ou ignorados, mais haverá
uma assimetria no funcionamento do poder político. Essa perspectiva é extrema-
mente importante para a compreensão dos problemas vividos pelas sociedades na
contemporaneidade.
Reflita
Você já parou para pensar, por exemplo, na relação dos estremecimentos
dos valores democráticos – espelhados nos novos cenários políticos em
ascensão no atual contexto de crise mundial –, com o desrespeito dos
direitos fundamentais?
Pesquise mais
Assista ao curta-metragem Chegamos antes, de Cainã Correa Tavares, do
início até 1min21s que apresenta a descendência indígena. Na época da
produção, Cainã era estudante da Universidade Federal de São Carlos.
A equipe também foi formada por estudantes indígenas dessa mesma
universidade. Perceba como, logo no início do curta, são mencionados os
fatores de expulsões que produzem os deslocamentos dessas populações e
acompanham questões problemáticas relativas à forma de “acolhimento”
destinada a elas nas cidades. Disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=Cmi-9m_m42A&t=666s>. Acesso em: 21 jan. 2019.
Assimile
O pronunciamento de Luiz Felipe de Alencastro no Supremo Tribunal
Federal, em prol das políticas de cotas, mostra que o funcionamento da
democracia no Brasil passa pelo reconhecimento desse direito funda-
mental para grupos mais atingidos pelas desigualdades:
1.
“ O número de candidatas eleitas neste domingo (7) para deputada
federal aumentou. A bancada feminina, até então composta por
53 parlamentares, agora terá 77 integrantes, o que representa 15%
das 513 vagas na Câmara de Deputados, o percentual era de 10.
(BRANDINO, G. et al. Percentual de mulheres eleitas para a Câmara
cresce de 10% para 15%. Folha de São Paulo, [S.l.], 8 out. 2018)
2.
“ Tem sido tão difícil admitir, nos meios acadêmicos e entre a
denominada elite, que grupos populares, empobrecidos, negros
ou indígenas, possam fazer parte desse lugar que produz cultura
e conhecimento tão valorizados pela sociedade. É como se
empobrecidos, negros, indígenas fossem contaminar a sociedade
ou fossem incapazes de participar da produção de tão valiosos
conhecimentos. Até se admite que eles sejam capazes, desde
que aceitem esquecer sua base originária. Essa é uma questão
bastante séria, a dos critérios da meritocracia, no sentido de
decidir quem poderia ou não participar da comunidade univer-
sitária, produzir conhecimentos científicos. (SILVA, 2017, p. 17)
3.
“ Em toda a Europa aumentam as reações radicais da direita
contra a infiltração de estrangeiros. As camadas menos ricas –
ameaçadas pelo descenso ou já marginalizadas – identificam-se
claramente com a supremacia ideologizada de sua própria coleti-
vidade, rejeitando tudo o que é estrangeiro. Este é o outro lado
do chauvinismo do bem-estar, que cresce em todas as partes.
De sorte que o “problema dos refugiados” traz novamente à
tona a tensão latente entre cidadania e identidade nacional.
(HABERMAS, 1997, p. 298)
“A tensão latente entre cidadania e identidade nacional”, referida pelo autor, pode ser
aplicada no seguinte caso:
a) No acolhimento de imigrantes e refugiados que parte do princípio do reconheci-
mento de suas culturas e línguas.
b) No reconhecimento da cidadania dos imigrantes e refugiados, a despeito de terem
entrado pelas fronteiras, sem o visto.
c) No acesso à educação e aos serviços de saúde que são direitos fundamentais esten-
didos a todos os seres humanos que se encontram no território nacional.
d) No entendimento de que a democracia e a cidadania não se limitam ao território
nacional, mas articulam-se à dimensão internacional.
e) Na afirmação de que a cidadania tem base tão somente nacional e que a exclusão das
diferenças garante a efetividade dos direitos fundamentais para os próprios nacionais.