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Formação para

Educadores em
Liderança e Cidadania
Módulo 2
Por que garantir direitos?
Por que garantir direitos?

Tratamos, na aula anterior, dos assuntos presentes na unidade Cidadania Local e Global,
debatendo sobre o processo de formação e participação cidadã. Agora, passaremos a refletir
sobre o contexto histórico da conquista dos nossos direitos e sobre a necessidade de se
estabelecer uma cultura de respeito à Constituição e à Democracia.
Para nós, que vivemos em uma sociedade democrática, sob a luz de uma Constituição
Federal que visa “assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o
bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade
fraterna, pluralista e sem preconceitos”, pode parecer um pouco chocante questionar por que é
importante garantir “direitos”, não é mesmo? Mas você já parou para pensar nele de forma um
pouco mais minuciosa? Por que, exatamente, é tão importante garantir determinados direitos,
para que seja possível a construção de uma sociedade democrática, justa e inclusiva? Vamos
colocar uma lupa nisso.
Uma forma simples de entendermos isso, é pensando a respeito da nossa condição
enquanto seres humanos. Todos nós temos necessidades básicas, como o acesso a água potável,
a moradia digna e a uma boa alimentação, por exemplo, para nos mantermos vivos e saudáveis.
Natural, então, que sendo seres sociais e vivendo inseridos em uma sociedade, seja do nosso
interesse que todo e qualquer indivíduo tenha acesso aos recursos essenciais para uma
sobrevivência digna, garantindo-se, para tanto, direito a todo cidadão de acessar determinados
bens e serviços. Por essa linha de pensamento, cabe ao Estado garantir que todas as pessoas
acessem seus direitos.
Enquanto cidadãos e cidadãs, todos nós temos responsabilidades, direitos e deveres. Eles
são importantes para organizar as relações humanas, fazer cumprir as normas no campo da lei e
da justiça, como também resolver conflitos e propor intervenções que busquem solucionar os
problemas complexos da sociedade brasileira.
Sabemos, no entanto, que os direitos aos quais temos acesso hoje em dia, nem sempre
foram e são garantidos a todos. As conquistas de direitos acontecem por meio de um longo
processo histórico que acompanha as transformações experimentadas pelas sociedades. A
unidade Direitos e acesso à Justiça, presente no nosso Aprofundamento e Liderança e
Cidadania, inclusive, aborda não apenas a importância dessas conquistas, como também a
maneira como se desenvolveram os processos histórico-culturais que desembocaram na
consolidação de determinados direitos.
Por que garantir direitos?

O que pode assegurar o direito de acesso à Justiça e outros direitos?

Sabemos que a simples afirmação de um direito não é suficiente para que eles sejam
efetivados. Portanto, diversos mecanismos são criados para garantir que os direitos
assegurados por lei sejam de fato respeitados.
A nossa legislação atual garante o direito do acesso à Justiça para todo cidadão
brasileiro. Esse direito é o princípio para que os outros sejam cumpridos. Em linhas gerais, o
acesso à Justiça assegura que, no caso de qualquer pessoa sentir que um ou mais de seus
direitos não estão sendo garantidos, ela pode acionar o Estado por meio da Justiça, e a resolução
do conflito não pode ser negada.
Esse direito foi concretizado apenas na Constituição de 1946. Isso porque, é preciso
recordar, o Brasil passou por uma ditadura, entre 1937 a 1945, que trouxe retrocessos,
sobretudo quando consideramos a noção de democracia e de direitos humanos. A Constituição
de 1937, outorgada no regime militar carregava: fechamento do Poder Legislativo; Poder
Judiciário subordinado ao Executivo; Eliminação do direito à greve; Reintrodução da pena de
morte, entre outros.
Após inúmeras manifestações exigindo a redemocratização, novas forças políticas deram
origem à Constituição de 1946, de caráter liberal, após o período ditatorial de Vargas, a carta
magna foi similar à Constituição de 1934. Apesar de o direito ao acesso à Justiça aparecer na
Constituição de 1946, mostrando avanços na legislação, especialmente quando já previa que a
lei não poderia excluir do Poder Judiciário qualquer violação de direitos individuais, anos depois,
como resultado de crises econômicas e do sistema político brasileiro, se concretizava, no ano de
1964, a ditadura civil-militar, demonstrando que a intervenção militar no sistema político era
uma prática comum.
Durante o regime civil-militar, o acesso ao Poder Judiciário foi bastante limitado. Logo
após os militares tomarem o poder, a Constituição de 1946 começou a ser invalidada pouco a
pouco, por meio dos Atos Institucionais e decretos autoritários. Ou seja, invalidaram os
preceitos democráticos firmados em 1946, assim como legitimaram a ação do governo militar na
vida pública.
Professores e professoras, a partir de todo esse panorama apresentado até aqui, é
possível observar que tivemos um curto período democrático em nosso país. Então, como a
população fortaleceria a sua compreensão sobre os seus direitos e a necessidade de sua
Por que garantir direitos?

participação na vida política?


É necessário compreendermos as crises e as mudanças institucionais que violam os
direitos e excluem a população do protagonismo e da participação na vida política, como foi o
caso da sociedade brasileira, marcada pela desigualdade e pelas injustiças sociais, para darmos
então conta da importância de se fortalecer uma cultura de valorização aos processos
democráticos.
A partir de 1970, muitas manifestações
promovidas pelos movimentos sociais e
organizações populares já tomavam as ruas
em busca de respostas, mantendo-se
resistentes em relação ao contexto
autoritário e
antidemocrático. O principal objetivo era
estabelecer ações de promoção da
igualdade, da cidadania plena, da Fonte: 30 anos da Campanha Diretas Já. Disponível em:
democracia, a concretização dos direitos https://www.flickr.com/photos/agenciasenado/1274558032
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sociais e a efetividade de acesso à Justiça.
O fim da ditadura civil-militar em 1985 e, sete meses depois, a promulgação da Constituição
Federal de 1988, significou um novo começo para um regime democrático no Brasil. Tivemos
uma mudança de horizonte nas formas como lidamos com os direitos das pessoas. Esse
horizonte representava uma expansão dos direitos civis, sociais e políticos a todos cidadãos e
cidadãs. Por isso, a Constituição de 1988 foi chamada de constituição cidadã.
Em relação ao direito de acesso à Justiça, a presente Constituição aborda em seu artigo
5°, como direito fundamental de todos os brasileiros e estrangeiros residentes no Brasil.
E vocês sabem qual impacto o acesso à Justiça tem na nossa vida?
Sem que todos tenham acesso à Justiça não existe democracia! Por isso, a sua
importância enquanto um direito fundamental para garantir o estado democrático de direito. O
que queremos dizer com isso? Para que haja democracia, o acesso à Justiça deve se efetivar no
dia a dia, isso significa que todas as pessoas estarão subordinadas à lei, ao conjunto de regras de
Por que garantir direitos?

maneira igual, para que a ordem social seja mantida em diferentes espaços da vida em
sociedade.
É através do acesso à Justiça que encontramos mecanismos para reivindicar e fazer valer
os nossos direitos. Assim, todos os cidadãos e cidadãs podem exigir a garantia dos seus direitos,
e é dever do Estado, por meio do poder judiciário buscar soluções para tais conflitos.
Mas é preciso dizer que, por mais que o acesso à Justiça seja um direito fundamental,
resguardado pela Constituição Federal, enfrentamos problemas em relação à sua efetividade na
prática. E por quais motivos?
O acesso à Justiça se torna frágil quando é garantido apenas para uma parcela dos
cidadãos. Quando não se leva em consideração a desigualdade social do nosso país que,
diretamente, influencia no acesso da população ao Poder Judiciário. Seja por problemas sociais,
econômicos, culturais, como também pela falta de conhecimento sobre o funcionamento do
sistema brasileiro de Justiça.
Pesquisas apontam que a confiança e a vontade das pessoas em procurar o Judiciário
aumenta de acordo com a sua renda e sua escolaridade. Contudo, o acesso à Justiça deve ser
gratuito e estar ao alcance de toda a população. É também, independente da realidade
identitária e socioeconômica de cada indivíduo, uma forma de proporcionar igualdade a todos
perante a lei, por isso deve ser um direito social que deve ser cumprido.
Mesmo com os diversos avanços, ainda temos um caminho pela frente para a
consolidação plena da cultura democrática. Para isso, é necessário que todos os cidadãos
conheçam e compreendam os seus direitos e deveres. Somente assim será possível a
participação na vida pública com ética e responsabilidade.
Por isso, mais uma vez destacamos o nosso papel como educadores e educadoras no
processo de engajamento das juventudes para os debates sobre democracia

.
Por que garantir direitos?

Referências Bibliográficas

Bobbio, Norberto. Igualdade e liberdade. 5. ed. Rio de Janeiro: Ediouro, 2002


BONAVIDES, Paulo. A evolução constitucional do Brasil. São Paulo: Estudos Avançados, vol.
14, n° 40, 2000.
Cappelletti, Mauro; Garth, Bryant; Northfleet, Ellen Gracie. Acesso à Justiça. Porto Alegre:
Fabris, 2002.
CARVALHO, Talita de. Ditadura Militar no Brasil. Politize! Florianópolis, 31 mar. 2017.
Disponível em: https://www.politize.com.br/ditadura-militar-no-brasil/> Acesso em 26 de
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DI LORENZO, Wambert. O que é o bem comum? Jornal Estado de Direito, ano IV, ed.26º, 2010.
Disponível em:http://estadodedireito.com.br/o-que-e-o-bem-comum. Acesso em 22 de jul. de
2021
ESTUDO da Imagem do Judiciário Brasileiro. AMB, FGV e IPESPE. Dez/2019.
IGNACIO, Julia. O que são direitos sociais. Politize! Florianópolis, 05 jul. 2021. Disponível em:
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MIRANDA, Jorge. Direitos fundamentais. 2. ed. Coimbra: Almedina, 2017

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