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JUSTIÇA E IGUALDADE PARA TODOS

A Constituição Federal estabelece o acesso à justiça como direito fundamental. É


necessário explicitar que o acesso à justiça não significa somente a possibilidade de levar ao
Poder Judiciário uma determinada demanda ou o direito de recorrer à Defensoria Pública
quando não se tem dinheiro para pagar um advogado.
O direito de acesso à Justiça é essencial para a concretização do Estado
Democrático de Direito. E acesso à Justiça engloba a pessoa saber o que é o Ministério
Público, e que esta instituição existe para defender os interesses e direitos da sociedade e
entender esta sistemática toda, saber que ela pode recorrer ao Judiciário caso o direito dela seja
violado, saber que ela tem o direito de ser ouvida por um membro do Ministério Público, saber
que ela tem o direito de ir e protocolar um pedaço de papel em determinado órgão público e
saber que dentro de duas semanas quando ela chegar lá, terá o direito de saber qual foi o
destino do seu requerimento e quais providências foram tomadas.
Assim, acesso à justiça significa que o cidadão compreende e tem acesso ao
sistema de justiça como um todo, sendo certo não ser possível falarmos em uma sociedade
contemporânea realmente democrática, que não esteja baseado nisso. Todos os dias nós
ouvimos falar em cidadania, e que a pessoa é um cidadão, que tem direitos de acesso à saúde,
a educação, ao meio ambiente limpo. Nada disso é real e efetivo, sem que em contrapartida
garanta-se o acesso à justiça. Porque na hora que tais direitos não são cumpridos, a pessoa terá
que recorrer a alguém, mas ela precisa saber como fazê-lo.
Para aqueles que trabalham para o sistema de justiça, uma das grandes questões é a
"oferta" da justiça e temos que entender que o acesso à justiça, ou a "oferta" de justiça como

um problema muito amplo, que passa por toda a estrutura anteriormente mencionada. Isso
implica, por exemplo, em uma movimentação pela proximidade do Poder Judiciário e do
Ministério Público com o cidadão comum, pelo fortalecimento de uma Defensoria Pública que
realmente alcance a todos. É importantíssimo o fortalecimento da Defensoria Pública, pois
sem Defensoria Pública não dá para falar em acesso à justiça. É a Defensoria Pública que
poderá atuar em casos individuais, Porque o Ministério Público só pode atuar em defesa do
coletivo, salvo em algumas matérias, como direitos de crianças e adolescentes, em que o
interesse individual pode ser defendido pelo Ministério Público por permissão legal específica.
Contudo, o Ministério Público não pode resolver um problema de separação propriamente dito
e a pessoa tem o direito de exercer esse direito, mesmo que ela não tenha dinheiro para pagar
um advogado.
Então, é importante a existência de um Defensor Público, é importante uma
Defensoria Pública realmente forte e que, muitas vezes, vai estar advogando contra o próprio
Estado, quando este atuar em desacordo ou se omitir no cumprimento de suas atribuições
constitucionais e legais.
Normalmente, quando pensamos no acesso à justiça, pensamos muito nos aspectos
relativos ao que podemos chamar, por falta de uma expressão mais precisa, de "acesso
formal", ou seja, a pessoa ter acesso ao Ministério Público, ao Poder Judiciário, ao Advogado
Público ou Privado para que possa ter o seu direito respeitado.
Contudo, o conceito de acesso à justiça é um pouco mais amplo, engloba, por
exemplo, a idéia de que uma ação judicial seja de natureza cível ou penal tenha um tempo
razoável para o seu deslinde, ou seja, inclui a idéia de efetividade. Pois a credibilidade do
sistema de justiça como possibilidade de resolução de conflitos implica em poder garantir aos
cidadãos que as questões serão resolvidas em um espaço de tempo razoável,
independentemente de qualquer dado subjetivo que envolva as partes, sem que haja
considerações sobre o poder econômico e questões sociais. No âmbito penal, a garantia que as
ações resolvam-se em um prazo razoável implicaria em menos prescrição e maior
credibilidade por parte da sociedade no sistema institucional e legal de prevenção e repressão
dos delitos.
Essas questões extras processuais são de política pública de acesso à justiça.
Poucas pessoas pensam em uma política pública de acesso à justiça. As pessoas pensam em
saúde. Todo mundo pensa: a saúde deve ser basicamente pública ou não? Como deve ser o
sistema público de saúde? E a assistência social: como é a assistência social? Deve ser
prestada por entidades privadas, públicas ou por ambas?
Poucas pessoas fora da área jurídica, entretanto, pensam em uma política pública
de acesso à justiça, por que é um contexto muito amplo, envolve várias categorias de
profissionais e muitas vezes não só aqueles denominados de operadores do direito, das
diversas carreiras jurídicas. É hora de pensarmos um pouco nisso. O que seria uma política
publica de acesso à justiça? O Poder Judiciário nos Estados da Federação devem estar
comprometidos com o que chamamos de justiça itinerante? Como e onde devem funcionar os
Juizados Especiais Cíveis e Criminais? O Ministério Público e a Defensoria Pública devem
fazer parte da justiça itinerante? Devem existir juizados de conciliação informais
extrajudiciais? Juizados de conciliação informal garantem de fato os direitos dos cidadãos ou
constituem um a forma de justiça, que se baseia em critérios de ordem econômica?
Assim, o acesso à justiça, em um conceito mais amplo, visa garantir um princípio básico do
Estado Democrático de Direito, a isonomia, ou seja, que todos são iguais perante a lei e, assim
serão tratados por aqueles responsáveis pela administração e aplicação da justiça. E isso é
importantíssimo para cumprir um dos objetivos da República Brasileira que é diminuir a

desigualdade, mantendo e garantindo a igualdade entre todos os cidadãos.


O efetivo acesso à Justiça pressupõe uma série de ações por parte do Estado,
visando não apenas à possibilidade de acesso ao Judiciário, mas objetivando também um
provimento rápido e eficaz ao final da demanda judicial.
A Constituição Federal de 1988 assegurou a criação da Defensoria Pública,
incumbindo-lhe a orientação jurídica e a defesa dos necessitados. Além da prestação pública e
assistência jurídica judiciária, ou seja, de assistência no decorrer do processo judicial, à
Instituição cabe a assistência extrajudicial, através do aconselhamento e assessoria
preventivos.
Outra solução para facilitar o acesso da população desvalida à Justiça, é a
realização de movimentos integrados específicos, a exemplo do acontecido na I Semana da
Cidadania: Um Movimento pela Vida, realizado em cinco municípios do extremo oeste
catarinense, com a colaboração direta da própria comunidade local que, mobilizada, através de
medidas concretas, resgatou princípios básicos de cidadania e democracia.
Quantas outras soluções podem ser implementadas? O importante é arregaçar as
mangas e por em prática medidas efetivas para democratizar efetivamente os instrumentos
judiciais e extrajudiciais de acesso à Justiça.
Como é de conhecimento, a finalidade maior do Estado é o próprio cidadão. A
democratização do acesso à Justiça estimula o exercício da própria cidadania. Nas palavras do
inesquecível sociólogo Herbert de Souza: “Ninguém deve viver na miséria. Todos têm direito
à vida digna, à cidadania. A sociedade existe para isso. Ou, então, ela simplesmente não
presta para nada. O Estado só tem sentido se é um instrumento dessas garantias”.

REFERÊNCIAS
FONSECA, Cristina. Jornal o Estado. Acesso à Justiça.
BORDALLO, Galdino Augusto Coelho. Acesso à Justiça. Disponível em:
<http://www.iedc.org.br>. Acessado em 03 de Outubro de 2003.

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