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PROCESSO DE TRANSIÇÃO DO FEUDALISMO AO CAPITALISMO

RESUMO: Do ponto de vista histórico, o artigo concentra-se no processo de


transição do feudalismo ao capitalismo para enfocar a adesão de um novo modo de
produção com características das forças produtivas e as relações de produção
concernentes com seu objetivo de maximização do excedente apropriado
privadamente pelos proprietários dos meios de produção. O estudo retrata o
pensamento social no contexto da transição do feudalismo ao capitalismo seu
emergente surgimento que coincide com o término do período feudal; perspectivas
teóricas frente ao capitalismo contemporâneo. Estas duas perspectivas refletem o
fato de que o Brasil tem tido um processo de desenvolvimento ao longo de duas
linhas diferentes. Este artigo está estruturado, a partir da origem dos aspectos
introdutórios com vistas à compreensão do estudo, acompanhado dos aspectos
metodológicos e fundamentos teóricos e por último, as considerações acerca das
observações efetuadas. O texto articula a história da pesquisa, evocando os
elementos da epistemologia científica com a literatura específica para analisar o
objeto de estudo adotado pelo pesquisador.

ABSTRACT: Of the historical point of view, the article concentrates on the transition
process of the feudalism to the capitalism to focus the adhesion in a new production
way with characteristics of the productive forces and the concerning production
relationships with your objective of maximization of the appropriate surplus privately
for the proprietors of the production means. The study portrays the social thought in
the context of the transition of the feudalism to your capitalism emergent appearance
that coincides with the end of the feudal period; perspectives theoretical front to the
contemporary capitalism. These two perspectives reflect the fact that Brazil has been
having a development process along two different lines. This article is structured,
starting from the origin of the introductory aspects with views to the understanding of
the study, accompanied of the methodological aspects and theoretical foundations
and last, the considerations concerning the made observations. The text articulates
the history of the research, evoking the elements of the scientific epistemology with
the specific literature to analyze the study object adopted by the researcher.

ORIGEM E ASPECTOS INTRODUTÓRIOS PARA A COMPREENSÃO DO


ESTUDO

O interesse em analisar o pensamento no contexto da transição do


feudalismo ao capitalismo, surgiu em virtude da solicitação do profº Marco Antônio
da disciplina de Sociologia, do curso de Administração com Habilitação em
Comércio Exterior da Universidade do Extremo Sul Catarinense.
Neste sentido identificar, descrever as implicações no processo
econômico social do regime capitalista e a forma de organização social e econômica
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feudalismo, à luz de um conjunto de literaturas especificas, com vistas a explicar


teoricamente os elementos que interferiram diretamente no objeto de estudos, foram
propósito desta investigação.
Dessa forma, para da dar conta desse intuito, adotamos o referencial
produzido por Pansani (1998), pautado nos conceitos sociais; Braverman (1977)
período pré-capitalista; Marglin (1974) mudanças tecnológicas advindas do regime
econômico; Sant’Anna (1974), transformações do processo produtivo; Gramsci
(1991), construção social, as idéias desses e de outros autores serviram como
fundamento teórico para a realização do estudo.
Na História estudamos o passado, fazendo uma comparação com o
presente e vendo as transformações que ocorreram desde os primórdios da
humanidade, na forma de organizar a sociedade, no modo de trabalhar, na maneira
de distribuir riquezas, no jeito de morar, na alimentação, nos costumes e até mesmo
na forma de pensar. A sociedade vive dentro de um todo. Nossa vida está
organizada em uma totalidade histórica, não há predominância de um ato sobre o
outro, mas sim a interação entre eles e de tal forma que nós não nos apercebemos
disso. Ao conjunto globalizante que envolve o próprio modo de organização de
nossa vida e suas partes articuladas damos o nome de modo de produção. A
maneira pela qual as partes do conjunto social se articulam, combinam e
relacionam-se entre si formam as estruturas. As mudanças mais freqüentes e
momentâneas são chamadas de conjunturas. Para se estudar a evolução humana
nós recorremos á História e suas ciências afins, isto é, aquelas que estudam os
acontecimentos específicos. Economia, sociologia, geografia e muitas outras
ciências humanas são ciências afins da história.

ASPECTOS METODOLÓGICOS E FUNDAMENTOS TEÓRICOS

O tipo de estudo realizado foi básico e, de acordo com Luciano (2001, pg.
12), “tem por objetivo produzir novos conhecimentos para o avanço da ciência
embora sem aplicação e a verdade dos interesses universais”.
De natureza, descritiva analítica inicia pela abordagem da questão em
termos jurídicos, identifica o período histórico identifica o período histórico, bem
como etapas de desenvolvimento, transformações e econômicas.
Conforme Pansani (1998, p.67, 68) feudalismo é:
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Organização social e econômica característica do período conhecido como


da Idade Media. Apresentava um sistema de feudos (extensas propriedades
rurais) pertencentes a nobreza e ao clero e trabalhadas por servos,
formando uma economia auto-suficiente. Alem de trabalharem
gratuitamente nas terras do senhor em determinado sistema (conhecido
como corvéia), os servos tinham que destinar uma parte de suas próprias
colheitas ao senhor. Os habitantes das cidades também pagavam impostos
ao senhor feudal.

O autor acima cita Sweczy (1998, p.25) definindo capitalismo como:

Regime de empresa privada, de composição ou ocorrência, de livre


empreendimento, de economia de mercado ou sistema de preços. Desse
regime a produção organiza-se através do mercado, produzindo-se para a
venda as espécies e quantidades de mercadorias que assegurarão aos
seus proprietário um lucro Maximo sobre o custo dos materiais e da mão-
de-obra. Sistema que, opera de acordo com as leis de mercado.
Caracteriza-se pela propriedade privada dos meios de produção, pela
existência de trabalhadores assalariados e pela regulamentação de todas as
atividades econômicas pelo principio de calculados lucros máximos.

O capitalismo se opõe ao feudalismo. Neste sistema preponderam as


relações servis de produção, nas quais os servos devem a seu senhores obrigações
compulsórias. No capitalismo definem-se relações assalariados de produção, a
nítida separação entre os detentores dos meios de produção – capital, e os que
possuem apenas o trabalho. O capitalismo vai se caracterizar pela produção para o
mercado. Pelos focos monetário, pela organização empresarial e pelo espírito de
lucro.
Em seu desenvolvimento, o sistema capitalista passou por quatro fases
desde a Baixa Idade Média até a atualidade.
A primeira que podemos denominar de pré-capitalismo, ocorreu entre
séculos XII e XV, aproximadamente.
Nesse período, A Europa passou por um renascimento comercial e
surgiu uma nova camada social, a dos mercadores. A produção de bens, que era
destinada ao consumo imediato, foi sendo aos poucos substituído pela produção
destinada ao comercio. E as trocas, que eram feitas em espécies foram substituídas
pelas trocas monetárias. As cidades, praticamente inexistentes, voltavam a crescer.
A segunda fase do desenvolvimento do capitalismo e denominada
capitalismo comercial e ocorreu entre os séculos XVI e XVIII, nessa fase o capital se
concentrou nas mãos dos comerciantes, que compravam e vendiam as mercadorias
de quase todas as partes do mundo. Nesse período, a circulação de mercadorias
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(comércio) gerava mais lucros do que sua produção (industrial).


Os artesões trabalhavam em pequenas oficinas e cada um era dono de
sua ferramenta e da matéria – prima do produto.
A terceira fase do capitalismo é denominada capitalismo industrial e
ocorreu entre a segunda metade do século XVIII e o século XX. O capital acumulado
na fase anterior do capitalismo passou a ser aplicado na produção de mercadorias,
conseqüentemente, os industriais, donos de fábricas e máquinas ganhavam força
dentro do sistema capitalista. As mercadorias, por sua vez, deixavam de ser feitas
artesanal independente e deu origem a uma grande massa de trabalhadores
assalariados. Esse processo denominado industrialização, teve início na Inglaterra e
difundiu-se pela Europa.
O papel espiritual da igreja na idade Média sempre esteve associado a
sua atuação no campo da política . No século XII a igreja era a instituição mais rica e
poderosa da Europa.
Porém, com o fim do sistema feudal e o surgimento do capitalismo na
Baixa Idade Média, a igreja entrou em crise, a medida que a burguesia prosperava
em seus negócios, ignorando as proibições da igreja as atividades econômicas
lucrativas, e que os reis centralizavam a autoridade política, o poder do Papa e do
alto clero entrou em crise. Essa crise repercutiu no interior do próprio clero, os
bispos passaram a exigir que o Papa fizesse reformas na igreja, e muitos fiéis
aderiram a formas religiosas alternativas que procuravam recuperar a essência dos
ensinamentos de Jesus.
Gramsci (1991, p.71) nos ajuda a entender este ponto:

Na realidade, também a Ciência é uma superestrutura, uma ideologia. É


possível dizer, contudo, que no estudo das superestruturas a Ciência ocupa
um lugar privilegiado, pelo fato de que a sua reação sobre a estrutura tem
um caráter particular, de maior extensão e continuidade de
desenvolvimento, notadamente após o século XVIII, quando a Ciência torna-
se uma superestrutura, é o que é demonstrado também pelo fato de que ela
tenha tido períodos inteiros de eclipse, obscurecida que foi por uma outra
ideologia dominante, a religião, que afirmava ter absorvido a própria
Ciência; assim, a Ciência e a técnica dos árabes eram tidas pelos cristãos
como pura bruxaria.

O burguês – homem dos tempos modernos – impôs à sociedade em


transformação a sua mentalidade dinâmica, voltada para as preocupações terrenas.
O conhecimento e a arte dos séculos XII e XIV expressaram claramente
essa mudança.
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O sistema feudal tinha chegado ao fim e o capitalismo começava a se


formar. Atém das transformações econômicas e sociais a Europa vivia também uma
grande transformação cultural, que recebeu o nome de Renascimento.
Para alguns historiadores o período que se estende do século XII ao
XVIII, deve ser classificado como pré-capitalismo. Para outros o pré-capitalismo
corresponderia ao século XII ao XV.
O mundo moderno surge da crise do sistema feudal e desenvolvimento do
sistema capitalista. Dos fins da Idade Média até hoje o capitalismo passou por
quatro fases distintas, cada uma com características próprias.
Considerando que existia dentro do feudalismo uma potencialidade
mercantil, ou seja, a possibilidade de desenvolvimento do comércio dentro dos
limites da sociedade feudal, o impacto da nova realidade econômica foi fulminante.
Estimulou muitos senhores a consumirem os novos produtos e, para tanto, eles
foram obrigados a aumentar suas rendas, produzindo para o mercado consumidor
urbano. Por isso, muitos senhores mudaram as relações servis transformando os
serviçais em homens livres que arrendavam as terras com base numa relação
contratual.
O resultado foi o surgimento de numerosas rotas de comércio,
preponderavam as rotas marítimas e fluviais, pois as comunicações terrestres
apresentavam riscos elevados, aumentava o custo dos transportes.
No sistema feudal existiam basicamente dois grupos sociais: o dos
trabalhadores da terra – os servos – e o dos proprietários das terras – os nobres e
os clérigos.
O lugar que o indivíduo ocupava na hierarquia social era dada pelo seu
nascimento, filho de servo era sevo, filho de nobre era nobre. Era praticamente
impossível um servo melhorar seu padrão de vida e ascender socialmente a
condição de nobre.
A economia desse período estava na produção agrícola para consumo
imediato. As atividades comerciais praticamente inexistiam.
O trabalho dos servos eram realizados coletivamente, todos faziam tudo.
Não havia especialização de funções. Os servos não tinham interesse em aumentar
a produção, produzir mais significava apenas que os senhores teriam mais para
explorar aumentando as obrigações servis. Por isso, não havia nenhum interesse
em melhorar as técnicas agrícolas.
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Mas a partir do século XI esse sistema entrou em crise, em grande parte,


a crise do feudalismo pode ser explicada pelo crescimento da população européia,
sobretudo da chamada senhorial, o que levou os senhores a aumentar a pressão
sobre os servos, com vistas em ampliar suas rendas.
A transformação do sistema tem início com a fuga dos servos, que
abandonam o campo e com a mudança gradativa dos feudos, que passam a
funcionar como unidades produtoras para os novos mercados urbanos que
começavam a surgir.
Os historiadores caracterizam a longa etapa de transição do feudalismo
ao capitalismo como um momento em que o trabalhador passou a perder a
propriedade dos meios de produção e conseqüentemente o controle que detinha
sobre o processo de trabalho. A reunião de vários trabalhadores operando seus
instrumentos tradicionais de trabalho no mesmo local, a sua sujeição ao controle do
primitivo capitalista, foi seguida da segmentação do processo produtivo e da
especialização de tarefas.
Embora, a divisão do trabalho e a sua hierarquização tenham nascido
com o capitalismo. A divisão social do trabalho, a especialização das tarefas, é uma
característica de todas a sociedades complexas e não um traço particular das
sociedades industrializadas. A divisão (social) do trabalho por castas, e a hierarquia
que o acompanha, na sociedade hindu tradicional é um dos inúmeros exemplos
disso. Mas tampouco a divisão técnica do trabalho é específica do capitalismo ou da
indústria moderna. A produção de tecidos, por exemplo, no sistema corporativo pré-
capitalista, já estava dividida em tarefas separadas, cada uma das quais era
controlada por “especialistas”: o artesão membro de uma corporação controlava o
produto e o processo de produção.
De fato, a divisão do trabalho na indústria capitalista pouco tem a ver com
a distribuição de tarefas, ofícios ou especialidades da produção nas sociedades pré-
capitalistas. As sociedades conhecidas tenham dividido seu trabalho em
especialidades produtivas, nenhuma sociedade antes do capitalismo subdividiu
sistematicamente o trabalho de cada especialidade produtiva em operações
limitadas. Esta forma de divisão do trabalho torna-se generalizada apenas com o
capitalismo (BRAVERMAN, 1977, p.70).
Esta transformação não parece ter sido a conseqüência senão a causa
que viabilizou posteriormente a introdução da maquinaria no processo produtivo, na
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medida em que só através da segmentação das tarefas especializadas antes


atribuídas a cada produtor direto em vias de transformar-se em operário é que o
capitalista pôde assegurar o controle da produção.
É pois com a segmentação e a hierarquização do processo de trabalho, e
a parcelização e “especialização” forçada do trabalhador que se abre caminho para
a introdução crescente da maquinaria no processo de trabalho. Isso vem aprofundar
e acelerar o fenômeno da perda de controle, uma vez que o trabalhador passa a ser
cada vez mais um apêndice das máquinas e equipamentos crescentemente
sofisticados, com ritmo de trabalho determinado por eles.
Como nos lembra Braverman (1977, p.151):

A redução do trabalhador ao nível de um instrumento no processo produtivo


não está associada exclusivamente à introdução da maquinaria. Ainda na
ausência de maquinaria ou em conjunto com máquinas operadas
individualmente, já se manifestava a tendência de reduzir os próprios
trabalhadores à condição de máquinas.

Tendência esta que se acentua mais tarde com a “gerência científica” de


Taylor. Como aponta Sant’anna (1974:75-76), aquelas duas etapas de
transformação do processo de trabalho dependeram, antes da escala de produção
do que da possibilidade da introdução da maquinaria.
Stephen Marglin com o objetivo de reforçar esse argumento, e
expressando sua visão de que as mudanças tecnológicas ocorridas desde o século
XVIII, pelo menos, foram determinadas pela necessidade de adequar a base técnica
às novas formas de organização da produção faz uma irreverente, mas aguda
paródia da célebre frase de Marx: não foi a fábrica a vapor que nos deu o
capitalismo; foi o capitalismo que produziu a fábrica a vapor (MARGLIN,1974:17).
Isso representou a passagem da economia feudal auto-suficiente para a
economia mercantilizada, que caracteriza o capitalismo. De certa forma essa
transformação continua até hoje.
CONSIDERAÇÕES FINAIS

A derivação acerca da reflexão sobre essa tendência é importante para


compreender as características que assume o capitalismo contemporâneo, entender
sua gênese e a forma como desde o início engendra as forças produtivas que lhe
são funcionais. Dessa forma, as condições que a reprodução ampliada do capital
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impõe à atividade de pesquisa, adiciona novos elementos para fundamentar o artigo


mostrando as necessidades da produção conforme o modo especifico de fazer
ciência crescentemente funcional à acumulação capitalista.
No nível da produção propriamente dita, a modificação do processo de
trabalho descrita criava condições para a introdução da maquinaria e para a
aplicação da ciência à produção, a mecanização completou o processo e colocou os
fundamentos da indústria baseada na ciência. A incorporação da ciência ao
processo produtivo consolidou sua apropriação pelos detentores dos bens de
produção, uma vez que ela própria passou a ser um – cada vez mais importante -
destes bens.
O saber que hoje chamaríamos de científico e tecnológico era produzido e
reproduzido de maneira diversa nos períodos anteriores à ascensão do capitalismo
como sistema político, econômico e social dominante. No feudalismo europeu, por
exemplo, a ciência tinha o espaço reduzido frente à religião, que manteve a sua
dominação sobre os rumos da sociedade por vários séculos. O início do processo de
consolidação do capitalismo é marcado pela disputa de hegemonia entre a igreja
católica e a classe ascendente - a burguesia - nas universidades e em outros
espaços, com a perda sistemática de poder da primeira para a segunda (HESSEN:
1985; PONCE: 1979).
Ressalta-se que analisar a construção social da tecnologia é fundamental
para a democratização das relações sociais de produção e da própria sociedade. No
entanto, é preciso que a sociedade recupere a participação e criatividade para
transformar a tecnologia do sistema em ferramenta, recuperar sua liberdade e voltar
a fazer história.

REFERÊNCIAS

BRAVERMAN, Harry. Trabalho e capital monopolista. A degradação do trabalho


no século XX. Rio de Janeiro, Guanabara, 1981.

HESSEN, Boris. Las Raices Socioeconómicas de la Mecánica de Newton.


Havana, Academia, 1985.

LUCIANO, Fábia Liliã. Metodologia científica e da pesquisa. Criciúma: ed. Líder,


2001.
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MARGLIN, S.A. Origem e funções do parcelamento das tarefas: para que servem
os patrões?, 1971.

PANSANI, Clóvis. Pequeno dicionário de sociologia. Campinas-SP: Copola


Livros, 1998.

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