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As Soluções
A teoria dos “estádios económicos”
A análise dos estádios de evolução constitui a preocupação fundamental dos autores que
integram a Escola Histórica Alemã. Os autores da Escola Histórica recusaram à Economia Política a natureza da
ciência teórica, reduzindo-a a uma ciência histórica. Passaram, por isso, a operar com base em critérios históricos,
pressupondo uma sucessão regular dos vários sistemas ao longo dos séculos, em conformidade com a sua
concepção evolucionista.
Várias fases que passariam, mais ou menos, obrigatoriamente, todas as sociedades humanas:
a) Friedrich List propôs o critério da actividade dominante. A vida económica desenvolver-se-ia,
historicamente, ao longo de quatro fases: agricultura; agricultura e indústria; agricultura,
indústria e comércio. Para esta última, correspondente à nação normal, tenderiam as
economias de todos os povos.
b) Bruno hildebrandt atende aos sucessivos instrumentos de troca como critério distintivo das
três etapas que distingue com base nele: a da economia natural (caracterizada por um
sistema de trocas directas); a da economia monetária (moeda como intermediário das
trocas); a da economia creditícia (vendas a crédito e ao empréstimo).
c) Karl Bucher, por sua vez, critério distintivo das várias fases da evolução histórica seria o
âmbito territorial dentro do qual se circunscreve a actividade económica. Nas palavras de
Bucher, o critério essencial é “a extensão do caminho que os bens percorrem, na passagem
do produtor ao consumidor”.
De acordo com este critério, a humanidade passaria por três fases na sua evolução: a
economia doméstica; a economia urbana; a economia nacional.
d) Gustav Schmoller acrescentou às anteriores a fase da economia mundial, que
corresponderia a um novo período de relações económicas estabelecidas entre as várias
comunidades nacionais.
A concepção de Marx
O materialismo dialéctico ganha, em Marx, um sentido diferente do da dialéctica hegeliana.
Marx explica o processo histórico a partir do desenvolvimento das forças produtivas, ele mesmo fruto da
acção consciente dos homens para dominar a natureza, afeiçoando-a à satisfação das suas necessidades. E a
evolução histórica dos modos de produção assenta no facto de o desenvolvimento das forças produtivas conduzir,
a certa altura, a uma contradição entre estas e as relações sociais de produção, por tal forma que estas passam a
constituir obstáculos ao pleno desenvolvimento daquelas.
Para que um determinado sistema de organização económica e social seja um todo coerente, para que
um dado modo de produção, enquanto conjunto das relações de produção e das forças produtivas, possa
assegurar o livre desenvolvimento e o pleno aproveitamento da técnica e dos meios de produção, é necessário que
as relações sociais de produção estejam em correspondência com as forças produtivas. Se esta correspondência
deixar de se verificar, isto significa, nos quadros da teoria de Marx, que o sistema económico, essencialmente
caracterizado pelo modo de produção está prestes a desagregar-se, para dar lugar a um outro sistema económico.
É esta uma das leis fundamentais da teoria económica marxista: a lei da necessária correspondência entre as
relações de produção e o carácter das forças produtivas.
Meios de produção – conjunto dos objectos de trabalho e dos meios de trabalho.
Objectos de trabalho – tudo aquilo que vai incidir a força de trabalho do homem.
Meios de trabalho – todos os objectos de que os homens se servem para transformar a realidade física
sobre a qual actuam. Os mais importantes de entre eles são os instrumentos de produção, dos quais hoje depende,
fundamentalmente, o domínio do homem sobre a natureza.
Forças produtivas – conjunto dos instrumentos de produção, dos objectos de trabalho e ainda o próprio
homem, com a sua força de trabalho, os seus conhecimentos e a sua técnica.
Para o marxismo, as forças produtivas são o elemento mais dinâmico e revolucionário da produção,
embora reconhecendo que as relações de produção entre os homens, desenvolvendo-se em resultado do
progresso das forças produtivas, exercem, por sua vez, influência activa sobre estas.
Relações de produção – relações que os homens matem entre si no quadro do processo produtivo, as
quais se manifestam na relação entre os “sujeitos” ou “agentes” económicos e os meios de produção, e que têm a
sua expressão jurídica nas formas de propriedade sobre os meios de produção.
Segundo o entendimento de Marx, é a natureza da propriedade sobre os meios de produção que
determina a posição relativa dos homens no sistema de produção social, que marca a divisão da sociedade em
classes e define a natureza da relação entre elas.
A natureza das relações sociais de produção é que determina a titularidade do poder de direcção do
processo produtivo e explica o critério que preside a essa direcção, o móbil que orienta a actividade social de
produção e o critério segundo o qual se opera a distribuição do produto social, entendendo-se que produção,
distribuição, troca e consumo formam uma unidade cujo factor determinante é a produção.
Toda a produção pressupõe uma qualquer forma de propriedade, ou seja, uma forma social e
historicamente determinada de apropriação dos meios de produção. E a distribuição do produto social depende
exactamente da forma por que se apresenta essa apropriação dos meios de produção, embora se reconheças que
as formas de distribuição, troca e consumo actuam, por sua vez, sobre a produção, estimulando ou entravando o
seu desenvolvimento.
Assim se explica que Marx caracterize os sistemas económicos pelo modo de produção e distinga os
modos de produção pela natureza das relações de produção.
Visão económica da história, o marxismo é também uma visão histórica da economia, visão que faz da
luta de classes o motor do processo histórico, do processo de evolução das várias formações económicas e sociais
que a humanidade tem conhecido. Ao contrário dos autores da Escola Histórica Alemã que renunciam a explicar o
desenvolvimento histórico, Marx faz da histoire raisonée e traz a história para o seio da teoria económica,
convertendo a teoria económica em análise histórica.
Marx rejeita o carácter natural e a-histórico das categorias económicas e das leis da Economia Política
clássica, pondo em evidência o seu carácter de categorias históricas e das leis históricas, que só ganham significado
em relação a um determinado sistema económico e social, historicamente localizado.
A construção teórica de Marx pretende, acima de tudo, explicar o processo global da evolução social,
evolução que, a seu ver, resulta de uma interacção dialéctica de factores de vária ordem, e que se traduz num
movimento dialéctico, em que cada estádio do processo evolutivo é superior ao estádio que o antecede, e em que
cada novo modo de produção encontra o seu fundamento e a sua “explicação” no desenvolvimento histórico das
contradições imanentes ao anterior.
À luz da teoria marxista, a estrutura política faz parte da superestrutura, sendo esta determinada pela
base económica, a infraestrutura.
O que constitui o problema é a questão de saber em que consiste essa determinação e em que medida a
superestrutura é determinada pela base económica ou dela depende. Os estudos de Marx pressupõem a ideia de
que a estrutura política goza de uma autonomia relativa.
À visão economicista estreita opõe-se a concepção voluntarista, que atribui a autonomia e eficácia
absolutas à acção política e à luta de classes. Estes são os dois pólos extremos dentro dos quais se tem
desenvolvido a discussão no quadro do pensamento marxista.
A concepção de Sombart
Sombart propõe outro critério histórico, fazendo apelo a três elementos que, a seu ver, distinguiriam os
vários sistemas económicos:
1) O espírito (objectivo fundamental da produção);
2) A forma (ou seja, o conjunto dos elementos sociais, jurídicos e institucionais, que constituem o
quadro dentro do qual se desenvolve a actividade económica, as relações entre sujeitos
económicos);
3) A substância (que fundamentalmente se refere à técnica utilizada).
Com base neste critério, distingue Sombart três sistemas económicos: o sistema de economia
Fechada, o sistema de economia artesana e o sistema de economia capitalista.
“A ideia fundamental da minha obra é a de que nas várias épocas históricas tem predominado um espírito
económico diferente, sendo este espírito que dá uma forma apropriada e modela em conformidade a organização
económica”. A passagem da economia feudal-corporativa para a economia capitalista explicar-se-ia pela acção de
um conjunto complexo de factores que provocou a mudança do espírito da época e não pelas contradições entre o
desenvolvimento das forças produtivas e as relações de produção feudais.
No caso concreto do capitalismo, Sombart não procurou o elemento caracterizador fundamental em
qualquer dos aspectos da estrutura económica ou do funcionamento, nem considerou que a essência do
capitalismo reside na natureza das relações de produção que lhe são próprias. Na óptica de Sombart, o capitalismo
distingue-se essencialmente pelo seu espírito de busca do lucro.
Apreciação Crítica
Escola Histórica
Segundo os autores da Escola Clássica, a maximização dos ganhos configurava uma fuga à realidade, uma
vez que os homens de carne e osso actuam não apenas em função do objectivo de maximizar racionalmente os
ganhos, mas também em função de sentimentos diversos, como o desejo de glória, o sentimento do dever, o amor
do próximo, o costume, etc.
Estes autores puseram em causa o carácter das leis absolutas, eternas e universais, que a Escola Clássica
atribuía às leis naturais reguladoras da vida económica e terem vindo defender que os estudos económicos devem
ser encarados numa perspectiva histórica: todas as instituições económicas e sociais são consideradas categorias
históricas, inscritas num certo tempo e num certo espaço, em permanente devir, que só podem compreender-se
se analisadas enquanto produtos históricos da evolução das sociedades humanas, variáveis conforme o tempo e o
espaço.
Os autores da Primeira Escola Histórica embora divirjam quanto à determinação do elemento definidor
dos vários estádios de evolução, eles partilham a ideia de que todas as economias passam por um processo
evolutivo de algum modo idêntico ao processo de crescimento de um corpo orgânico, podendo distinguir-se várias
fases nesse processo produtivo, apresentando-se cada um desses estádios como um novo marco do crescimento
orgânico, linear, da economia.
Tais critérios admitem uma evolução histórica, mas cortam essa evolução em fases, em secções,
esperando os autores que os propõem descobrir, para cada uma das fases, uniformidades ou “leis” que não seriam
válidas para as fases anteriores ou posteriores. Não podem servir, portanto, como método de abordagem da
evolução das sociedades humanas, uma vez que não fornecem qualquer explicação para a própria evolução
histórica. São critérios meramente descritivos, exteriores ao próprio processo evolutivo, incapazes de
compreender os factores que explicam a passagem de um sistema a outro e o sentido da linha evolutiva que a
história regista.
Os critérios de List, Hildebrandt e Bucher atendo-se apenas a elementos da estrutura económica da
sociedade, somente dão conta da evolução das forças produtivas, mas não podem apreencher o processo de
evolução da economia nem explicar a sua dinâmica.
Esta só resulta inteligível quando se tem em conta a relação dialéctica entre o desenvolvimento das forças
produtivas e a natureza das relações sociais de produção no seio das quais aquelas se desenvolvem e com as quais
entram em contradição. E é esta contradição que, acentuando-se, abre uma “época de revolução social”, no termo
da qual surgirá, a partir do anterior, um novo estádio superior de desenvolvimento.
Com efeito, o método histórico-genético praticado pela Escola Histórica renuncia à elaboração teórica,
limitando-se os seus autores à reunião, descrição e sistematização dos factos da vida económica e sua sequência
histórica, sem capacidade para apreender as mudanças qualitativas das formas de organização económico-social
ao longo do processo histórico. Cada autor propõe um esquema das várias fases pelas quais passariam mais ou
menos obrigatoriamente todas as sociedades. E cada uma dessas fases é considerada independente das outras, na
medida em que cada fase substitui inteiramente a fase anterior, sem consideração por aquilo que, em cada
“sistema”, permanece do “sistema” anterior e por aquilo que, em cada “sistema”, prenuncia elementos do
“sistema” futuro. Neste quadro, resulta impossível explicação do processo de passagem de um estádio a outro e a
compreensão das causas da evolução histórica.
Os adeptos da Escola Histórica limitam-se a uma história dos factos económicos.
Critério de Sombart
Ao incluir na forma certos elementos institucionais que não se confinam à simples estrutura económica,
ultrapassa algumas das dificuldades que se apontaram aos autores da Primeira Escola Histórica.
O problema da transição dos sistemas é por ele encarado numa perspectiva culturalista e explicado,
portanto, não a partir de factores económicos, mas de factores de ordem cultural ou espiritual: o que,
essencialmente, mudaria era o espírito da época, dentro de um processo de evolução cultural global. A ideia
fundamental da sua obra é a de que, “em épocas diferentes vigoraram sempre atitudes económicas diferentes, e
que esse espírito é que tem criado a forma adequada para si próprio e com ela uma organização económica”.
Assim como o homo oeconomicus deriva os princípios do seu comportamento da natureza humana, assim
também o homem feudal ou o homem capitalista extraem os seus princípios do seu “comportamento” do espírito
da época.
A esterilidade de tal debate é um pouco a imagem da esterilidade do critério de Sombart, ao sobrestimar
os elementos “espirituais” e ao subestimar os elementos materiais, os elementos económicos, que
verdadeiramente imprimem carácter aos vários sistemas. Ele revela-se, por isso mesmo, incapaz de detectar os
aspectos essenciais que verdadeiramente distinguem os sistemas económicos uns dos outros e as leis históricas
que regulam o processo social de produção e distribuição dos bens necessários à satisfação das necessidades
humanas, e incapaz de compreender a dialéctica da evolução das várias formações sociais e as leis que explicam o
processo histórico de passagem de uma forma de sociedade a outra.
Por nós, acompanhamos Teixeira Ribeiro quando defende que, mesmo que o socialismo aspirasse à
normalização de toda a vida social, não podem “confundir-se sob o mesmo nome doutrinas, movimentos e
sistemas que têm um sentido histórico muito diverso e cujas finalidades são muito diferentes”. A normalização de
toda a vida social foi sem dúvida uma aspiração do nazismo. Mas a verificação disto mesmo não pode autorizar a
conclusão de que, afirmando-se essa normalização como a característica essencial do socialismo, o nazismo podia
considerar-se também como socialismo.
O comunismo primitivo
A qualidade de produtor distingue o homem dos outros animais, na medida em que só o homem é capaz
de fabricar instrumentos que utiliza na actividade de produção, actividade inteligente que visa colocar a natureza
ao serviço das suas necessidades e dos seus objectivos.
Durante séculos, as forças produtivas foram muito rudimentares e as condições materiais de vida muito
precárias, pois os frutos do trabalho do homem mal bastavam para garantir a sobrevivência diária. O homem
começou por utilizar as pedras e os paus para procurar os seus meios de subsistência; só mais tarde passou a
confeccionar instrumentos muito simples, com a ajuda dos quais caçava e colhia os alimentos de origem vegetal, a
tanto se resumindo a actividade económica, neste período em que o homem era simples colector.
Nesses primeiros tempos do processo de domínio e adaptação da natureza, os homens viviam e
trabalhavam juntos, em comunidades que caçavam em grupo e partilhavam em conjunto os resultados da caça.
Esta forma comunitária de vida explica-se, aliás, facilmente, se tivermos presente que os homens primitivos
precisavam de se unir e de actuar em grupo, quer para se defenderem dos animais selvagens quer para poderem
prover à sua alimentação, tarefas que tinham de levar a cabo com instrumentos mais rudimentares.
Não fazia sentido, então, falar-se de propriedade dos meios de produção, que eram utilizados, bem como
as terras, por toda a colectividade, para satisfazer as necessidades de todos. Não havia, portanto, diferenciação
social, nem divisão da sociedade em classes, nem exploração de uma classe de homens por outra. Nestas
sociedades primitivas, em que a organização colectiva e a disciplina do trabalho resultavam da força do costume,
do prestígio e do poder que gozavam certos elementos da comunidade, que não raras as vezes eram mulheres.
Não havia, por isso, necessidade de qualquer aparelho de coerção destinado a garantir a “exploração do homem
pelo homem”, o domínio de uma classe social sobre outra classe social. Não havia lugar para o estado enquanto
aparelho de poder.
No período colector, a única divisão do trabalho conhecida era a que se fazia em função do sexo: os
homens, mais virados para o fabrico de armas e para a caça; as mulheres, encarregadas da defesa das habitações e
da colheita e confecção de alimentos vegetais.
Entretanto, a lenta acumulação de invenções foi aumentando a produtividade do trabalho. A invenção do
arco e da flecha como instrumentos de caça vieram permitir maior regularidade e maior abundância no
abastecimento de géneros, reduzindo-se a importância da simples colheita de frutos, que passou a ser uma
actividade meramente suplementar das demais.
Assim se foram criando as condições para que as comunidades primitivas produzissem, além do
necessário à sobrevivência, um excedente. Assim se puderam constituir reservas de alimentos, reduzindo o risco da
ocorrência de períodos de fome. Assim foi possível uma divisão do trabalho mais avançada e o consequente
aumento da população. Este aumento da população abre, por sua vez, novas possibilidades de especialização e de
divisão do trabalho, ampliando a quantidade e a eficiência das forças produtivas à disposição da humanidade.
A existência de um excedente regular e permanente de alimentos foi a base material necessária para que
pudesse acontecer a grande revolução económica e social do período neolítico. Foi o início da agricultura, da
domesticação e da criação de animais, actividades que pressupõem necessariamente a existência de uma certa
reserva de alimentos.
Em primeiro lugar, porque é preciso dispor de alimentos para se lançarem à terra e de animais para criar
com vista à reprodução, ou seja, é preciso dispor de alimentos que possam não ser consumidos no presente com
vista à obtenção de maiores quantidades de alimentos no futuro.
Em segundo lugar, porque são necessários alimentos para a comunidade subsistir no intervalo de tempo
que medeia entre as sementeiras e as colheitas. Daí que estas formas de actividade produtiva só progressivamente
fossem sendo adoptadas pelos povos, primeiro como actividades secundárias, em relação à caça e à colheita de
frutos, mais tarde como actividades principais.
A existência de um excedente agrícola e a capacidade de produzir esse excedente de forma regular e
permanente permitiram ao homem do neolítico iniciar a prática da agricultura, da domesticação e da criação de
animais, potenciando deste modo a capacidade de produção dos alimentos e, por isso mesmo, lançando as bases
da civilização.
Se as comunidades humanas fossem obrigadas a consagrar todo o seu tempo à obtenção dos meios de
subsistência dos seus elementos, seria impossível o desenvolvimento de qualquer outra actividade, uma vez que
todo o tempo de todas as pessoas tinha de ser dedicado à obtenção dos alimentos necessários à subsistência. Sem
a possibilidade de dispor regularmente de um excedente agrícola não seria possível a nenhuma sociedade garantir
a subsistência das pessoas que não produzissem elas próprias os seus alimentos.
O desenvolvimento implica, com efeito, a criação de um excedente social, ou seja, exige que a sociedade
produza mais do que aquilo que necessita para estar em condições de renovar a produção em períodos seguintes.
Quando esse excedente atinge proporções consideráveis, há saltos no desenvolvimento. Foi o que aconteceu com
a passagem do comunismo primitivo para o esclavagismo; foi o que significou, mais tarde, a revolução industrial.
Em certas condições históricas, o crescimento do excedente pode não resultar directamente do aumento
da produtividade. Ela pode verificar-se porque se sujeitam as populações a esquemas de acentuada poupança
forçada, recorrendo a formas de trabalho escravo ou de trabalho forçado, a políticas deliberadas de inflação, de
salários baixos e de congelamento de salários, ao pedido de sacrifícios por razões patrióticas ou por razões
revolucionárias.
Regressando à revolução neolítica. Ela trouxe pela primeira vez ao homem a possibilidade de controlar a
produção dos seus meios de subsistência, ao mesmo tempo que veio abrir novas perspectivas de desenvolvimento
do artesanato profissional, com o consequente aperfeiçoamento dos instrumentos de produção, acarretando
profundas modificações no modo de vida e nas relações entre os homens.
Então surgiu uma grande diferenciação entre as tribos que continuaram uma vida nómada, vivendo
essencialmente da caça, e aquelas que adoptaram uma actividade económica que permitiu a sedentarização, ao
mesmo tempo que surgiu a primeira importante divisão social do trabalho entre as tribos que se dedicaram à
pastorícia e as que se dedicaram à cultura da terra.
Com a sedentarização, começaram as famílias a reservar normalmente as mesmas terras para a sua
agricultura, assim se generalizando a utilização particular das terras na pose de cada família, embora, durante
muito tempo, esta pose continuasse a ter como pressuposto a existência da comunidade e a propriedade colectiva
da terra.
Mas, se cada homem pode produzir, com o seu trabalho, mais que o necessário para a sua subsistência,
ganha sentido a exploração do homem pelo homem.
O modo de produção e a organização social próprios do comunismo primitivo deram lugar a um novo
modo de produção e a uma diferente organização social: o esclavagismo.
O esclavagismo
O esclavagismo, enquanto modo de produção, assenta na exploração do trabalho forçado da mão-de-obra
escrava: os senhores alimentam os seus escravos e apropriam-se do produto do trabalho destes.
Com esta divisão da sociedade em classes surge o estado como aparelho permanente de coerção e de
domínio: sem ele não teria sido possível obrigar a maioria dos membros da sociedade a trabalhar
sistematicamente em benefício da classe minoritária dos donos de escravos e titulares dos outros meios de
produção.
A exploração do trabalho escravo tornou possível a produção de grandes excedentes e de uma enorme
acumulação de riquezas, estando, assim, na base do desenvolvimento económico e cultural que a humanidade
então conheceu.
Nas civilizações esclavagistas, não era pela via do aperfeiçoamento dos métodos de produção que os
senhores de escravos procuravam aumentar a sua riqueza; e os escravos, sem qualquer interesse nos resultados
do seu trabalho, não se empenhavam na descoberta de técnicas mais produtivas.
O aumento da riqueza realizava-se mediante a conquista de novos territórios, capazes de fornecer
escravos em maior número e mais impostos ao fisco.
O feudalismo
Caracterização geral
Na sociedade feudal toda a vida social era marcada por um elemento comum, a subordinação de
indivíduo a indivíduo, a relação de dependência pessoal, a circunstância de cada um “ser o homem de outro
homem”. Esta relação de dependência pessoal caracterizava todo o tecido da sociedade feudal,
independentemente da natureza jurídica exacta do vínculo e sem distinção de classes: o conde era o “homem” do
rei, do mesmo que o servo era o “homem” do senhor da terra onde vivia e trabalhava.
As formas deste laço humano apresentavam, porém, algumas singularidades, conforme os níveis sociais
em que se verificavam. No grau inferior, as relações de dependência encontraram o seu enquadramento natural
no senhorio rural, que é, fundamentalmente, uma terra habitada e os seus súbditos. No âmbito do senhorio, o
vínculo de dependência pessoal tinha no aspecto económico o seu campo de iniciativa primordial: o objectivo do
senhor era, preponderantemente, o de obter rendimentos, através da apropriação dos frutos do trabalho gratuito
dos servos.
Utilizaremos a designação de feudalismo no sentido de modo de produção feudal ou sistema económico-
social feudal, no qual a actividade económica assenta na agricultura e o poder político é exercido directamente
pela classe dos proprietários de terra.
No início da Idade Média as terras, na Europa Ocidental, encontravam-se divididas em três partes:
1) As terras que o senhor reservava para si e que explorava utilizando o trabalho não pago dos
servos e colonos obrigados à corveia;
2) As terras que os senhores colocavam à disposição dos camponeses para eles cultivarem com
vista à satisfação das suas próprias necessidades;
3) As terras comunais, utilizáveis livremente pelos camponeses e pelo senhor, que forneciam
essencialmente lenha, madeira para as construções e pastos para os gados.
Os proprietários da terra controlam, portanto, o processo produtivo, na medida em que
dispõem do poder de decidir qual a porção de terra a atribuir aos produtores directos e do poder de revogar esta
atribuição, bem como o poder de exigir uma renda pelo uso da terra, e ainda outros poderes, como o de impor ou
proibir certas culturas ou de reservar para si o monopólio dos moinhos e dos lagares para a produção de azeite ou
de vinho. Aos servos cabia apenas o domínio útil das terras que cultivavam, de acordo com a decisão do respectivo
senhor (domínio directo).
Enquanto os colonos podem abandonar as terras para ir servir outros senhores, os servos encontram-se
hereditariamente ligados às terras do seu senhor, não podendo abandoná-las. Mas estes deveres de servidão têm
como contrapartida o direito dos servos de permanecer nas terras do senhor e de cultivar uma parcela delas, para
aí proverem à satisfação das suas necessidades.
Este “direito” hereditário das famílias servas constitui um limite ao direito de propriedade do senhor. Por
isso se diz que a propriedade feudal é uma propriedade imperfeita: os proprietários da raiz não podem expulsar os
servos das terras que eles habitam e que lhes garantem o sustento. A relação de servidão pessoal é, sem dúvida, a
característica fundamental do modo de produção feudal.
Os poderes inerentes à propriedade da terra garantem aos senhores feudais a organização e o controlo do
processo produtivo e de todo o processo da vida social. Mas esta realidade não apaga esta outra: os servos não
estão separados dos meios de produção, uma vez que têm garantido o usufruto de uma certa porção de terra,
situação que lhes permite viver do seu trabalho utilizando os instrumentos de produção que lhes pertencem: eles
estão em condições de conseguir, por si próprios, os meios materiais necessários à sua existência. O que significa
que eles não são economicamente obrigados a trabalhar nas terras do senhor. São as várias coerções extra-
económicas decorrentes do estatuto jurídico-político da servidão que os obrigam a trabalhar gratuitamente nas
terras do senhor, limitando a sua liberdade e a sua propriedade de tal forma que nem a sua força de trabalho nem
o produto do seu trabalho são ainda mercadorias, porque não podem ser por eles trocadas ou vendidas.
Neste sentido, pode dizer-se que as relações de produção são, no quadro do feudalismo, relações entre os
produtores directos e o seu suserano, verificando-se a exploração dos produtores através de uma compulsão
político-legal directa: a apropriação do trabalho excedente pelos senhores feudais efectua-se directamente, por
coerção extra-económica, sem a mediação das leis económicas de troca de mercadorias.
Nos tempos feudais, a propriedade da terra era a fonte do poder económico e era também a origem e o
fundamento do poder político. O poder político era um poder descentralizado e fragmentado, disperso por uma
pluralidade de titulares, dando a ideia do desaparecimento do estado. Mas o poder político existe, exercendo-se a
sua autoridade de pessoa para pessoa.
A natureza de classe do estado aparece, nestas condições, sem qualquer dúvida nem disfarce: o poder
político e a violência que ele representa são exercidos pela classe dominante para garantir a apropriação do
sobreproduto criado pelos trabalhadores servos e, em último termo, para defesa dos seus interesses de classe, que
exige a manutenção do estatuto de servidão e das relações de produção servis.
Durante uma grande parte da Idade Média a produção era essencialmente produção para uso e não para
venda. As trocas eram essencialmente trocas internas, trocas directas de produtos e serviços entre os produtores.
Daí que a agricultura fosse a actividade dominante da economia feudal. Daí que a economia feudal fosse uma
economia fechada, em que o domínio senhorial era unidade de produção e de consumo, produzindo-se no seu seio
tudo o que se consumia e consumindo-se tudo o que se produzia.
Por outro lado, o modo de produção feudal criou as condições propícias à estagnação da técnica, que se
manteve rudimentar e rotineira.
Na óptica da classe senhorial, os senhores não têm interesse em promover o desenvolvimento da
produção nas suas terras para além do limite resultante da sua própria capacidade de consumo. Em virtude da
quase inexistência de mercado, os bens tinham apenas valor de uso e a acumulação teria de ser acumulação de
valores de uso ou assumir formas “irracionais”, improdutivas, do ponto de vista da sua utilização para aumentar a
capacidade de produção. Daqui deriva a ausência de incentivo ao desenvolvimento das forças produtivas. Daqui
deriva também o móbil da actividade produtiva, imposto pelo senhor, consistisse na satisfação das necessidades
elementares de consumo do senhor do domínio, dos que viviam na sua roda e dos que trabalhavam as terras do
senhor.
Síntese
A fuga dos servos não significou apenas mudança na condição dos que partiam, acelerou também o fim da
condição servil dos que ficavam nos domínios. Sob a pressão das dificuldades, o senhores foram obrigados a
conceder maior liberdade aos servos e a transformar em rendas em dinheiro as prestações de trabalho directo e as
rendas em espécie.
Com a maior liberdade, vinha também a separação dos produtores directos dos meios de produção. Os
servos, ao ganharem o direito de deixar as terras do seu senhor, perdiam, ao mesmo tempo, o direito de nelas
permanecer, começando assim a alterar-se a forma social de existência e de reprodução da força de trabalho típica
do feudalismo. Tendo agora perante si homens livres não adstritos à terra, os senhores começaram a poder dispor
desta última, recorrendo a contratos de arrendamento de duração relativamente curta, o que lhes permitia
aumentar a respectiva renda.
A renda em dinheiro continua a ser uma renda feudal, ou seja, o trabalho excedente é obrigatoriamente
entregue ao senhor, agora sob a forma de dinheiro obtido pela venda do produto excedente. Por outro lado,
conhecida que era a pouca produtividade do trabalho obrigatório prestado ao senhor, em comparação com o
trabalho efectuado pelos servos nas terras cujo domínio útil lhes era confinado, o sistema da renda em dinheiro
permitiu aos senhores beneficiar da maior produtividade do trabalho não compulsório, através do aumento das
rendas no momento da renovação dos contratos de arrendamento.
O pagamento das rendas em dinheiro trouxe consigo, porém, a necessidade de os camponeses venderem
os seus produtos no mercado, assim entrando a economia fechada dos domínios rurais na roda das relações de
comércio. A produção agrícola para uso começa a dar lugar a uma produção para venda. E o desenvolvimento do
comércio, melhorando as possibilidades de venda dos produtos agrícolas nos mercados locais, provocou um
processo de diferenciação social entre os pequenos produtores.
A exploração agrícola assente no trabalho servil foi substituída pela exploração feita pelo rendeiro, que
progressivamente iria recorrendo ao trabalho assalariado dos seus vizinhos mais pobres.
O desenvolvimento do comércio e das actividades artesanais nas cidades teve ainda a consequência de
trazer consigo uma quantidade e variedade cada vez maior de bens, despertando nas classes dominantes o desejo
de os adquirir.
O pagamento das rendas em dinheiro, para além de ter permitido o aumento das rendas, tornou mais
fácil o acesso ao mercado e a realização de grandes despesas em consumos sumptuários e improdutivos, que não
poderiam ter tido outra consequência que não fosse o empobrecimento da classe dos produtores e, porventura, a
acumulação de valores de uso, perfeitamente inúteis do ponto de vista do desenvolvimento das forças produtivas.
O agravamento das suas condições internas estimulou a fuga dos servos. Esta conduziu, por um lado, ao
desaparecimento da servidão, forma específica de relações sociais que assegurava a manutenção do feudalismo
como modo de produção e dos senhores feudais como classe dominante nas condições do feudalismo. E conduziu,
por outro lado, à separação dos produtores da terra a que estavam ligados, criando deste modo o embrião de uma
classe de trabalhadores livres, que não têm outro meio de prover à própria subsistência que não seja a venda da
sua força de trabalho.
Por outra via, o desenvolvimento do comércio e a expansão e consolidação das cidades, além de
agravarem os conflitos internos da sociedade feudal, permitiram a acumulação de capitais que mais tarde seriam
aplicados na produção, mediante a contratação de trabalhadores assalariados. Quando isto se verifica, estamos
perante um novo tipo de relações de produção, as relações de produção própria do modo de produção capitalista.
Factores vários geraram no século XV um poderoso surto de progresso científico e de invenções
tecnológicas, pondo em marcha o processo que havia de levar a indústria ao primeiro plano das actividades
produtivas, deixando para trás a economia de base rural.
Síntese
O processo que tínhamos surpreendido no início da desagregação do feudalismo continuou o seu curso,
proporcionando a concretização das duas condições sem as quais não teria sido possível a emergência das relações
de produção capitalistas:
a) Por um lado, verificou-se uma grande acumulação de capitais por parte da nova
burguesia comercial;
b) Por outro lado, a rotura do vínculo de servidão pessoal deu origem a uma nova
classe de trabalhadores livres, sujeitos de direito, com capacidade para contratar, com capacidade para contratar,
com capacidade para comprar e vender. Estes trabalhadores livre constituíram grandes reservas de mão-de-obra
disponível para ser contratada em regime de salariato, uma vez que não dispunham de outro meio de subsistência.
A essência das relações de produção capitalistas reside na “separação radical do produtores relativamente
aos meios de produção”, e foi este, precisamente, o papel histórico do processo de acumulação primitiva do
capital: “separar o trabalho das suas condições exteriores”.
Só que “a acumulação primitiva do capital provoca a sua própria destruição”. Numa primeira fase, a
subida dos preços, o aumento dos impostos reais, os empréstimos vultuosos a que recorriam os reis e os grandes
senhores da nobreza, asseguraram ganhos fartos a usuários e especuladores. Depois, as perspectivas de
acumulação por via da usura esgotaram-se: quando o dinheiro circula em abundância é mais difícil exigir juros
elevados. Por fim, a realidade do mercado mundial saído da descoberta das rotas atlânticas reduziu as ocasiões de
grande especulação comercial: as taxas médias de juro e de lucro tendem a igualar-se e a diminuir.
Torna-se necessário encontrar novas vias de reprodução do capital, o que só virá a alcançar-se quando a
nova classe burguesa assegurar, a par do controlo da produção, o controlo do poder político.
A Revolução Francesa
O seu carácter exemplar como revolução burguesa
A Grande Revolução Francesa apresenta um carácter exemplar que explica a sua universalidade e a
distingue do jogo de compromissos que levaram a burguesia a partilhar o poder, em outros países.
No entanto, mesmo no caso da Revolução Francesa, a tomada das estruturas do poder político
representou apenas a conquista pela burguesia da única esfera do poder que ainda lhe escapava. Na verdade, a
burguesia era já a força económica dominante, era a classe mais rica e mais culta, as relações capitalistas e a
ideologia burguesa já eram dominantes no seio das sociedades feudais em profunda desagregação.
Diversa era a situação na França no Ancien Régime:
1) O desenvolvimento do comércio e da indústria artesana, a partir dos séculos X e XI,
Conferiram importância à riqueza mobiliária e esta veio promover socialmente a burguesia, que no século XIV seria
admitida por Estados Gerais. Em 1789, a burguesia era, em grande parte, constituída por grandes comerciantes
estabelecidos sobretudo nas cidades portuárias, pelos banqueiros e financeiros e pela elite culta dos membros das
profissões liberais. Menos importante era a burguesia industrial, num país onde a indústria principal era a indústria
têxtil e onde as modernas técnicas de produção nas minas e na metalurgia davam apenas os primeiros passos.
2) A propriedade das melhores terras encontrava-se fortemente concentrada nas mãos
da pequena minoria do clero e da nobreza, cabendo apenas 35% das terras aos 22 ou 23 milhões de camponeses
que viviam em condições particularmente duras, obrigados a pagar rendas em dinheiro e em géneros e a pagar
pela utilização dos fornos, moinhos e lagares, que permaneciam monopólio dos senhores.
3) A miséria desta grande massa de pessoas agravou-se ainda pelo aumento da
população que marcou o século XVIII francês e pela acentuada subida do custo de vida que então se verificou e
que provocou uma baixa de 25% no poder de compra das camadas populares.
4) Por sua vez, a nobreza, perante a crise que afectou a agricultura francesa durante toda
a década de 70 do século XVIII e perante a subida do custo de vida, aumentou as suas exigências junto dos
camponeses, muitos dos quais, arruinados e miseráveis, abandonaram os campos, constituindo grandes grupos de
vagabundos, que frequentemente se revoltaram, incendiando e saqueando os castelos senhoriais e executando
mesmo, em alguns casos, os senhores dos respectivos domínios.
5) Ao mesmo tempo, nas vésperas da Revolução de 1789, a burguesia dominava a
finança, o comércio e a indústria, fornecendo ao estado os quadros administrativos e os recursos financeiros de
que este carecia.
6) Entretanto, o comércio tinha-se desenvolvido, ocupando o comércio com as colónias
uma posição importante.
7) A indústria francesa adquiria também um certo relevo. Em 1785, os produtos
Industriais representavam metade do valor das exportações francesas. Nas vésperas da Revolução, Paris tinha mais
de 500 mil habitantes, dos quais cerca de 20% seriam operários assalariados.
8) Contudo, o sistema das corporações medievais mantinha-se de pé, com as suas
tradições conservadoras e técnicas rotineiras. Apesar do razoável desenvolvimento das manufacturas, estas eram
em geral de pequena dimensão e nelas predominava o trabalho manual. O tipo de organização mais corrente era
ainda o da indústria assalariada no domicilio, com centros de produção dispersos, utilizando trabalhadores que
muitas vezes não estavam ainda totalmente separados dos seus instrumentos de produção e que frequentemente
conservavam a posse de uma pequena porção de terra, situação que não tornava possível ao capitalista exercer
um controlo directo sobre a produção nem impor aos trabalhadores a sua própria disciplina.
Em conclusão. Com o desenvolvimento do comércio e da indústria, a agricultura tinha perdido
importância como fonte de riqueza e de poderio económico, que agora eram apanágio, não da nobreza rural, mas
da burguesia comerciante e industrial. A nobreza e o clero ocupavam o aparelho de estado e mantiveram até mais
tarde os seus privilégios, resistindo a todas as tentativas de os diminuir.
Durante muito tempo, a grande aspiração da burguesia francesa consistiu em alcançar um título de
nobreza, aspiração que, a partir do século VXI, muitos dos seus membros conseguiram concretizar, adquirindo os
cargos públicos que a monarquia vendia, atribuindo-lhes privilégios corporativos ou títulos de nobreza pessoais ou
hereditários.
Enquanto a nobreza feudal invocava os seus direitos históricos para reclamar, perante o absolutismo
monárquico, maior dose de poder e de liberdade, a fim de aumentar e consolidar os seus privilégios feudais, a
burguesia culta do século XVIII, inspirada na filosofia de John Locke, invocava a razão e o direito natural para
reclamar a abolição dos privilégios e a igualdade de direitos.
Perante a obstinada resistência das classes privilegiadas a qualquer compromisso que admitisse a
burguesia como sua associada no poder, à burguesia só restava, para sair vitoriosa, a aliança com as camadas
populares, predominantemente camponesas, unidas na sua miséria e no seu ódio à feudalidade.
Pois foi contra os privilégios da nobreza e do clero que se fez a revolução Francesa, esse “oceano
popular”, fruto do descontentamento da burguesia rica e culta e da revolta das camadas populares, obra do
Terceiro Estado, à frente do qual se colocou a burguesia revolucionária, a única classe que então estava em
condições de dirigir a luta contra a ordem feudal.
Anti-feudal, a Grande Revolução Francesa é, porém, essencialmente, uma revolução burguesa, levada a
efeito sob a liderança da burguesia revolucionária, um momento importante no longo processo que permitiu à
nova burguesia abolir os privilégios das antigas classes feudais, ocupar o poder e realizar, através do controlo do
poder de estado, as mudanças institucionais capazes de assegurar as condições favoráveis ao livre
desenvolvimento do capitalismo.
Na transição do feudalismo para o capitalismo, e comparadas com as demais revoluções burguesas dos
séculos XVIII e XIX, a Revolução Francesa representa a via realmente revolucionária, centrada no terreno
abertamente político da luta pela tomada do poder, luta que se arrastou até à derrota de um dos contendores e à
vitória do outro, que destruiu a base económica do poder dos senhores feudais e liquidou fisicamente uma boa
parte dos membros da velha classe dominante.
A revolução destruiu a propriedade feudal sobre a terra e libertou os camponeses de todas as sujeições,
abrindo o caminho da liberdade aos pequenos produtores e criando as condições para a divisão das massas
camponesas em proprietários capitalistas e trabalhadores assalariados. A liberdade pessoal é, com efeito, condição
do salariato. Só quando os trabalhadores adquiriram o estatuto de homens livre ficaram em condições de poder
contratar, podendo então vender a sua força de trabalho. A emergência de trabalhadores livres permitiu o
aparecimento da força de trabalho como mercadoria autónoma.
A Revolução Francesa foi favorável ao desenvolvimento de novas relações sociais de tipo capitalista.
O capitalismo monopolista
No último quartel do século XIX, começa a ser notório o fenómeno da concentração capitalista e à
consequente monopolização da economia, que marca uma nova fase do capitalismo, o capitalismo monopolista,
que se prolongará até à Primeira Guerra Mundial.
A expressão capitalismo monopolista e o significado que em geral se lhe associa são originários da teoria
económica marxista. Esta nova fase do capitalismo assinala uma alteração nas estruturas económicas do sistema,
agora caracterizadas pelo domínio de um pequeno número de grandes empresas, à volta das quais, em posição de
subordinação, vai crescendo um grande número de pequenas empresas sem qualquer capacidade de influenciar o
mercado, substituído pela “mão invisível” das “empresas monopolistas”.
Ao falarmos aqui de monopólio ou de concentração monopolista não queremos significar que os sectores
onde a concentração se verifica venham necessariamente a ficar confiados a uma única empresa. Pretendemos
qualificar as situações em que estão em condições de impor os seus preços aos consumidores, em termos tais que
o mercado deixa de ser o instrumento de orientação e de controlo das empresas para passar a ser dirigido por
elas. As “empresas monopolistas”, exactamente por serem muito grandes, nem sequer terão que recear que a sua
situação se altere em virtude do aparecimento de eventuais novas concorrentes: a existência de situações
monopolistas significa, desde logo, que os de fora não têm liberdade de (ou têm muita dificuldade em) entrar na
indústria.
Estas grandes empresas, além de virem acentuar o carácter social do processo produtivo, vêm também
conferir carácter social à propriedade dos meios de produção.
Com efeito, as novas técnicas implicam a utilização de equipamentos muito caros e as grandes empresas
exigem investimentos que envolvem somas elevadíssimas, fora do alcance de um único indivíduo, o que obriga à
reunião de capitais de várias pessoas. Esta exigência está na base da enorme expansão que de então para cá têm
conhecido as sociedade por acções, especialmente aptas para mobilizar capitais tanto de grandes como de
pequenos aforradores. As empresas individuais dão lugar à sociedade. E a sociedade por acções é a sociedade
comercial capitalista por excelência. O capital deixa de estar individualmente apropriado para passar a ser objecto
de propriedade social, corporativa.
A concentração capitalista
Que factores poderão explicar o processo de concentração que se verificou a partir dos anos 70 do
século XIX?
a) A concentração é, pode dizer-se, a consequência directa da concorrência. Esta
centra-se na busca incessante de novas condições de produção, capazes de permitir custos de produção mais
baixos, única maneira de poderem aumentar os seus lucros as pequenas empresas impossibilitadas de exercer
qualquer acção relevante sobre as condições globais do mercado ou directamente sobre os preços. Exactamente
por isso, a concorrência era incompatível com a ineficiência, e as empresas que não acompanhassem os progressos
técnicos estavam condenadas a desaparecer, fechando as portas ou sendo absorvidas por outras, que iam
engrandecendo progressivamente, assim ganhando, por força do seu próprio crescimento, mais amplas
possibilidades de desenvolvimento da sua capacidade de produção e do seu poderio, num processo de efeitos
cumulativos, as leis próprias do modo de produção capitalista conduzem, pois, à concentração do capital.
b) O progresso técnico aparece como pano de fundo no qual se enquadra o
fenómeno da concentração capitalista. As novas tecnologias, não rentáveis a não ser em unidades de grande
dimensão, capazes de produzir em muito larga escala, exigiam capitais cada vez mais vultuosos.
Por outro lado, o progresso técnico favoreceu a concentração na medida em que se traduziu no
alargamento do mercado: quer porque favoreceu o crescimento demográfico, quer porque os novos meios de
comunicação e de transporte possibilitaram o seu alargamento geográfico, consagrando definitivamente o
capitalismo como um sistema mundial.
c) As crises cíclicas, que começaram a verificar-se nas economias capitalistas a partir
do primeiro quartel do século XIX, provocam o desaparecimento de muitas empresas e estimulam a cartelização
das empresas maiores, constituindo assim outro factor importante da concentração.
d) O capital bancário desempenhou neste processo um papel importante. Dada a sua
natureza de instituições de centralização de capitais, os grandes bancos de investimento puderam fornecer à
indústria os capitais de que esta carecia.
Neste contexto, o capital bancário desempenhou um papel decisivo. Ele actuou como instrumento de
“extermínio” das pequenas e médias empresas, “asfixiadas” nos mecanismos do crédito; ele promoveu a
constituição de poderosos grupos financeiros, associando a actividade bancária à actividade industrial e comercial;
ele permitiu a concentração e centralização dos meios financeiros indispensáveis à definição e execução da
estratégia imperialista do capitalismo.
A acção do capitalismo bancário foi particularmente importante na criação e na expansão das grandes
empresas ferroviárias, que conheceram, neste período, uma expansão extraordinária. A presença do capital
bancário foi também de muito destaque na constituição de empresas coloniais.
Ficou claro e acelerou-se neste período o processo de “expropriação” de grande número de pequenos
empresários pelo número das grandes empresas que foram chamando a sai a parte de leão do excedente social.
e) O facto de vários países se terem industrializado na segunda metade do século
XIX, quando outros conheciam já algumas décadas de industrialização, não deixou de ter importância ao alastrar
da concentração a todo o mundo capitalista.
Nos países que primeiro conheceram a revolução industrial, o grande número de pequenas empresas que
entretanto se desenvolveram constituiu a base de uma pequena e média burguesia que procurou resistir e que
entravou enquanto pôde a marcha da concentração, ao mesmo tempo que a existência de um grande número de
pequenos proprietários rurais não favorecia a centralização do capital.
Diversamente, os países que só mais tarde se industrializaram não conheciam uma classe burguesa antiga,
numerosa e mais ou menos organizada como existia nos outros países da Europa ocidental. Não havia, pois, uma
classe de pequenos proprietários que remassem contra a constituição de grandes unidades capazes de criar
situações de tipo monopolista. Por outro lado, os países recém-chegados à industrialização, para poderem
competir com as indústrias dos países mais avançados, foram naturalmente levados a lançar mão das técnicas mais
modernas e a alicerçar a sua industrialização em unidades de grande dimensão, para poderem colher as vantagens
inerentes à produção em grande escala.
A industrialização iniciou-se logo a seguir à liquidação do feudalismo. Na ausência de uma classe burguesa
digna desse nome, foi o próprio estado, dominado pela grande burguesia de ricos comerciantes e privilegiados,
que tomou a iniciativa da implantação dos enormes estabelecimentos industriais, que mais tarde passariam para
as mãos do pequeno número de famílias que continuam a controlar os grandes grupos industriais e financeiros
japoneses.
O estado fascista foi anti-liberal. O indivíduo dilui-se nos corpos sociais; a concepção orgânica da
sociedade substitui a ideia de sociedade como o somatório de indivíduos isolados; o contratualismo dá lugar ao
institucionalismo: o “estatuto” definido e imposto pelo estado ou pela entidade hierarquicamente superior
substitui a solução contratual.
No que se refere à economia, esta deixa de ser considerada terreno privado, separado do estado e
regulado pelas regras da livre concorrência entre os actores privados. A economia passa a integrar a esfera da
política: as corporações foram pensadas como órgãos simultaneamente reguladores da economia e detentores do
poder político, ultrapassando assim o dogma liberal da separação entre o estado e a economia.
Mas a direcção corporativa da economia foi entregue ao grande capital, que controlava as estruturas
corporativas, sem os constrangimentos resultantes da acção dos sindicatos e dos partidos de esquerda e com o
apoio, sem limites, do aparelho repressivo do estado fascista.
Foi anti-socialista, porque congelou todos os direitos económicos e sociais entretanto conquistados pelos
trabalhadores e anulou todas as políticas públicas que pudessem acautelar ou garantir estes direitos; porque
“matou” as classes por decreto e proibiu a luta de classes, nomeadamente através da proibição dos sindicatos
livres e do direito de greve; mas não pôs em causa a propriedade privada nem a liberdade de empresa, embora
condicionadas à sua “função social” de promover o “bem comum”.
Para explicar as situações de desemprego involuntário, que considera o problema mais grave das
economias capitalistas, Keynes lança mão do conceito de procura efectiva, que foi buscar a Malthus: o montante
das despesas que se espera que a comunidade faça em consumo e em investimento novo. Se esta procura efectiva
não for suficiente para absorver toda a produção a um preço compensador, haverá desemprego de recursos
produtivos.
Este desemprego será desemprego involuntário, no sentido de que há pessoas sem emprego desejosas
de trabalhar por um salário real inferior ao praticado.
Isto significa que, ao contrário do que defendiam os “clássicos”, o nível de emprego não depende do jogo
da oferta e da procura no mercado de trabalho, antes é determinado por um factor exterior ao mercado de
trabalho, a procura efectiva.
E significa também que é o volume do emprego que determina, de modo exclusivo, o nível dos salários
reais, e não o contrário. Ou seja: não é o facto de os salários serem altos que provoca elevado nível de
desemprego, do mesmo modo que o facto de os salários serem baixos não arrasta consigo, necessariamente, um
baixo nível de desemprego. Ao invés: os salários tendem a baixar quando a taxa de desemprego é elevada, e
tendem a subir quando a taxa de desemprego é baixa.
A necessidade de ultrapassar as situações de insuficiência da procura efectiva para combater o
desemprego exigia, na óptica de Keynes, uma intervenção mais ampla e mais coordenada do estado, apoiada na
política financeira de controlo das receitas e das despesas do estado. Esta fiscal policy seria a única capaz de
influenciar as forças da economia, sendo por isso considerada o instrumento fundamental para estabilizar as
flutuações da economia, para promover o crescimento económico e para prosseguir os objectivos do pleno
emprego, da estabilidade dos preços e do equilíbrio da balança de pagamentos, a para da redistribuição do
rendimento em benefício dos mais pobres, objectivos que os governos passaram a assumir na sequência da
“revolução keynesiana”.
Nomeadamente em períodos de crise, Keynes defendeu o recurso ao deficit financing, isto é, ao
financiamento das despesas públicas mediante o recurso à dívida pública e/ou à demissão de moeda,
argumentando que a riqueza criada por essas despesas públicas permitiria depois amortizar os empréstimos
contraídos e/ou evitar a inflação.
Keynes advogou a necessidade de uma certa coordenação pelo estado do aforro e do investimento de
toda a comunidade. Por duas razões fundamentais:
1) Porque as questões relacionadas com a distribuição do aforro pelos canais
nacionais mais produtivos “não devem ser deixadas inteiramente à mercê de juízos privados e dos lucros
privados”;
2) Porque “não se pode sem inconvenientes abandonar à iniciativa privada o cuidado
de regular o fluxo corrente do investimento”.
Keynes encara as medidas que propõe como uma forma de salvaguardar e garantir as condições para a
obtenção de lucros privados e não diz qual a parte do investimento global que deve estar a cargo de entidades
públicas e que parte do investimento global poderá ser levada a cabo por empresas privadas, sob a influência de
entidades públicas. Mas estes apontamentos justificam uma leitura de Keynes que não se confine às
interpretações redutoras que procuraram fazer passar a mensagem de Keynes como “uma hábil política
orçamental e monetária” capaz de levar as economias capitalistas a libertar-se das suas contradições, continuando
a funcionar segundo os cânones do modelo liberal.
São, pois, propostas de natureza conjuntural no sentido de reforçar o estado capitalista, embora Keynes
pressuponha que o estado é uma instância política neutra, acima das classes, representando a vontade geral e
prosseguindo o interesse comum.
Na era da “sociedade de consumo”, perante uma produção em massa, o consumo dos ricos não consegue
assegurar o escoamento de toda a produção. O aumento do consumo dos pobres, o consumo de massas é uma
necessidade, resultante do próprio desenvolvimento tecnológico proporcionado pela “civilização burguesa”.
Um dos méritos de Keynes foi ter compreendido e enquadrado teoricamente esta problemática. Para
assegurar mais estabilidade às economias capitalistas, de moda a evitar sobressaltos como o da Grande Depressão,
é necessário que os desempregados não percam todo o seu poder de compra, que os doentes e inválidos recebam
algum dinheiro para gastar, que os idosos não percam o seu rendimento quando deixam de trabalhar.
Keynes identifica os dois “vícios” que considera mais marcantes das economias capitalistas: a
possibilidade da existência de desemprego involuntário, e o facto de que a “repartição da riqueza e do rendimento
é arbitrária e carece de equidade”. E defende que a correcção destes vícios constitui a principal responsabilidade
do estado.
Embora reconhecendo que a propriedade privada e o aguilhão do lucro possam ser factores estimulantes
do progresso económico, Keynes defende, por um lado, que “a sabedoria e a prudência exigirão sem dúvida aos
homens de estado autorizar a prática do jogo sob certas regras e dentro de certos limites”. E defende, por outro
lado, que a acentuada desigualdade de rendimentos contraria mas do que favorece o desenvolvimento da riqueza,
negando assim uma das principais justificações sociais da grande desigualdade de riqueza e de rendimento.
Ficava assim legitimada a intervenção do estado na busca de mais justiça social, de maior igualdade entre
as pessoas, os grupos e as classes sociais. A “equação keynesiana” foi uma tentativa de conciliar o progresso social
e a eficácia económica.
A esta necessidade respondeu a criação do estado-providência, assente na intervenção sistemática do
estado na economia, na redistribuição da riqueza e do rendimento, na regulamentação das relações sociais, no
reconhecimento de direitos económicos e sociais aos trabalhadores, na implantação de sistemas públicos de
segurança social, em nome do princípio da responsabilidade social colectiva.
As políticas que se traduzem no financiamento público dos chamados consumos sociais são um bom
exemplo da integração das políticas keynesianas na lógica do capitalismo. Com efeito, além de assegurar as
despesas com o aparelho de poder destinado à defesa da ordem estabelecida, o estado financia as despesas
necessárias ao conveniente desenvolvimento das forças produtivas sociais. Trata-se de despesas que se
enquadram na chamadas política de redistribuição do rendimento.
Esperou-se que elas reduzissem significativamente e duradouramente as desigualdades, permitindo ao
capitalismo ganhar mais resistência às crises e apagar o ferrete que o acompanha desde o início de ser a civilização
das desigualdades. A verdade, porém, é que os resultados não corresponderam às expectativas, mesmo nos países
onde essas políticas foram levadas mais a sério.
É claro que em muitos países o estado-providência nunca foi concretizado.
A verdade, porém, é que mesmo quando cobertas com receitas provenientes de impostos cobrados em
maior medida às camadas sociais de rendimentos elevados acabam por repercutir-se favoravelmente sobre o
aparelho produtivo privado.
Não há dúvida de que estas despesas irão aproveitar individualmente, em maior ou menor medida,
àquelas pessoas que consomem gratuitamente os respectivos bens ou serviços, e, entre elas, a maioria pertencerá,
porventura, a camadas de baixos rendimentos. Esse consumos irão, porém, beneficiar, por outro lado, os donos
das empresas.
Desde logo, porque o facto de esses consumos serem pagos com as receitas do estado permite que as
classes trabalhadoras vão satisfazendo as exigências históricas da sua subsistência, variáveis de país para país e de
época para época, sem ter que aumentar correspondentemente o “salário directo”: parte de que os ricos
desembolsam a título de imposto poupá-lo-ão nos salários que pagam aos que trabalham nas suas empresas, que,
assim, podem ser mais baixos.
Depois, o facto de esses consumos serem gratuitos liberta uma montante equivalente de rendimentos,
que podem ser utilizados na compra dos bens que as empresas produzem para vender no mercado, aumentando,
portanto, a procura solvável, o poder de compra efectivo das populações e, consequentemente, o volume de
vendas e os lucros globais das empresas.
Finalmente, as referidas despesas do estado, realizadas no âmbito da política de redistribuição,
aproveitam ainda, por outra via, aos proprietários dos meios de produção. Na verdade, essas despesas são
correntemente designadas como investimentos em homens, pretendendo significar-se que tais despesas vão
propiciar trabalhadores mais sãos, mais fortes, mais cultos, mais sabedores, numa palavra mão-de-obra mais
qualificada, capaz de produzir mais, de dar maior rendimento aos empregadores.
A “contra-revolução monetarista”
No início da década de 1970, as economias capitalistas geraram um fenómeno novo: situações
caracterizadas por um ritmo acentuado de subida dos preços, a par de uma taxa de desemprego relativamente
elevada e crescente e de taxas decrescentes de crescimento do PNB. Começava a era da estagflação.
Este fenómeno da estagflação veio pôr em causa alguns dos quadros teóricos do keynesianismo e veio
perturbar a solução até então utlizada com relativa facilidade, baseada no trad-off inflação/desemprego: as
políticas financeiras expansionistas aqueciam a economia, resolvendo o problema do desemprego à custa de um
pouco mais de inflação; as políticas restricionistas arrefeciam a economia, resolvendo o problema da inflação à
custa de um pouco mais do desemprego.
Os monetaristas vieram proclamar que a inflação é o caminho para o desemprego, acusando as políticas
de inspiração keynesiana de todos os males do mundo e colocando no pelourinho Keynes e o estado keynesiano.
A adopção do sistema de câmbios flutuantes, primeiro entre os EUA e os seus parceiros comerciais, e
logo de imediato aplicado em todo o mundo. Assim se entregava às “leis do mercado” um preço tão importante
como o das divisas utilizadas nos pagamentos internacionais. A “irmandade dos bancos centrais” apoiou
abertamente as teses monetaristas, começando o combate pelo reconhecimento da independência dos bancos
centrais enquanto entidades reguladoras do mercado do crédito, reivindicando-se para eles a titularidade da
política monetária e a capacidade de decisão nesta área sem qualquer interferência dos órgãos políticos
legitimados democraticamente e sem qualquer controlo por parte das instâncias do estado.
Este foi um ponto de viragem a favor das correntes neoliberais. Pode dizer-se que começa então, na
prática, a ascensão ao monetarismo. Do ponto de vista político-económico, foi o início da contra-revolução
monetarista.
Poderemos dizer que começou então a história da terceira onda de globalização.
Este quadro em que surgiu, a partir do anos 80 do século XX, o novo figurino do estado capitalista, o
estado regulador. A defesa da concorrência é entregue a agências de defesa da concorrência; a regulação
sectorial dos vários mercados regulados é confiada a agências reguladoras.
Apesar destas alterações, os defensores do estado regulador sustentam que ele não abandonou
inteiramente a sua veste de estado intervencionista, invocando que o seu propósito é exactamente o de
condicionar ou balizar a actuação dos agentes económicos, em nome da necessidade de salvaguardar o interesse
público.
Argumenta-se que não é conveniente deixar o mercado entregue a si próprio e proclama-se a necessidade
de o estado definir o estatuto jurídico do mercado. Esta responsabilidade pública de regular seria ainda, uma
forma de intervenção do estado na economia, permitindo apresentar o estado regulador como um estado activo
no domínio da economia, que passaria a ser uma economia de mercado regulada, ou uma economia social de
mercado.
Segundo este ponto de vista, apesar de prestados por empresas privadas, os serviços públicos
continuariam na esfera da responsabilidade pública. A regulação do mercado representaria, assim, o modo de o
estado assegurar a realização do interesse público e o respeito da ordem pública económica, apresentando-se o
direito da regulação como a “disciplina jurídica do mercado e da economia, como novo direito público da
economia”. Pretende-se salvar a ideia de que, com o estado regulador, os serviços públicos continuariam na
esfera da responsabilidade pública.
É diferente a nossa leitura do estado regulador: ele foi inventado para encobrir a política que visa
exactamente retirar ao estado a competência, o poder e os meios para assumir cabalmente esta responsabilidade
pública, correspondendo, basicamente, ao modelo do estado liberal, visando, em última instância, assegurar o
funcionamento de uma economia de mercado, que inclua os serviços públicos, e na qual a concorrência seja livre e
não falseada.
Com efeito, desde muito cedo o pensamento liberal impôs a ideia de que esta função de regulação,
embora justificada pela necessidade de salvaguarda do interesse público, deveria ser prosseguida, não pelo estado
enquanto tal, mas por agências reguladoras independentes.
Ao substituírem o estado no exercício desta função reguladora, esta agências concretizam uma solução
que respeita o dogma liberal da separação entre o estado e a economia: o estado deve manter-se afastado da
economia, não deve intervir na economia, deve estar separado dela, porque a economia é área privativa dos
privados. A manutenção de algumas empresas públicas só é tolerada se elas se comportarem como se fossem
empresas privadas.
“É ao princípio da separação entre política e administração que se reconduz o fenómeno da criação de
entidades administrativas independentes ”. Partindo do princípio de que as funções das entidades reguladoras são
funções meramente técnicas e não-políticas, o que se pretende é subtrair à esfera da política a acção destas
entidades ditas independentes, alegando-se que só assim se consegue a sua neutralidade.
Esta ideia de subtrair a administração à acção da política parece pressupor que a política é uma coisa
feia ou uma doença perigosa, que é preciso isolar. Ora a política é a administração da cidade.
Tal ideia traz consigo a substituição do estado democrático por um estado tecnocrático, que se pretende
fazer passar por um estado neutro, governado por pessoas competentes, que não pensam em outra coisa que não
o interesse público.
A entrega das tarefas de regulação económica às autoridades reguladoras independentes só pode
entender-se como uma cedência às teses neoliberais do esvaziamento do estado e da morte da política, em nome
da ideia de que não pode confiar-se ao estado nem sequer a tarefa de assegurar, por si próprio, a prossecução e a
proteccção do interesse público. Mesmo em áreas tradicionalmente consideradas fora do mercado.
Parece óbvio que não pode esperar-se de uma entidade neutra a definição e a execução de políticas
públicas. Esta tarefa implica escolhas políticas que comprometam o estado. Ora o chamado estado regulador
revela-se, afinal, um estado pseudo-regulador, um estado que renuncia ao exercício, por si próprio, dessa função
reguladora, inventada para responder à necessidade de, perante a privatização do próprio estado, salvaguardar o
interesse público. E, como se tal não bastasse, transfere essa função reguladora para entidades independentes,
que se querem politicamente puras, actuando apenas em função de critérios técnicos.
Os defensores deste estado regulador sublinham que as agências reguladoras independentes são
organismos técnicos, politicamente neutros, acima do estado, pondo em relevo que “o seu ethos radica na
neutralidade da actuação sobre o mercado através da promoção da eficiência”. Pretende-se deste modo justificar
o facto de elas não prestarem contas perante nenhuma entidade legitimada democraticamente nem perante o
povo soberano. Tanto esforço despendido para entender-se pela consciência que todos temos que a prestação de
contas é a pedra de toque da democracia. Sem ela, será a morte da política. E uma ameaça à democracia, tal
como a entendemos.
É um esforço inglório, porque nos parece evidente que essas agências exercem funções políticas e tomam
decisões políticas com importantes repercussões sociais. Na verdade, as autoridades reguladoras independentes
vêm chamando a si parcelas importantes da soberania, pondo em causa, no limite, a sobrevivência do próprio
estado de direito democrático, substituído por essa espécie de estado oligárquico-tecnocrático, que, em nome
dos méritos dos técnicos especialistas independentes que governam este tipo de estado, não é politicamente
responsável perante ninguém, embora tome decisões que afectam a vida, o bem-estar e os interesses de milhões
de pessoas.
Por isso contestamos a legitimidade deste poder tecnocrático, sustentando que as suas funções deveriam
ser confiadas a entidades legitimadas democraticamente e politicamente responsáveis. A política não pode ser
substituída pelo mercado, nem o estado democrático pode ser substituído por um qualquer estado tecnocrático,
em nome da velha ideia liberal de que a democracia se esgota na liberdade individual e de que a liberdade só é
garantida pelo mercado e só se realiza no mercado.
Vários argumentos têm sido invocados para justificar esta regulação “amiga do mercado” e a sua entrega
a entidades independentes. Mas não faltam razões para legitimar as múltiplas reservas que vêm sendo levantadas
a esta concepção da função reguladora e ao modo como é exercida.
Muito agitada tem sido a questão do défice democrático da solução que entrega a regulação a entidades
independentes e dos perigos que ela representa para o estado democrático e para a democracia.
Particularmente acesa tem sido, a este propósito, a discussão à volta da problemática da independência
dos bancos centrais, enquanto titulares da política monetária e autoridades reguladoras independentes do
mercado do crédito.
As políticas neoliberais foram amputando o estado democrático das competências, dos meios e dos
poderes que foi assumindo à medida que as sociedades se tornaram mais complexas e que os interesses e as
aspirações dos trabalhadores conquistaram um pequeno espaço no seio do poder político. E não falta quem
entenda que, nestas novas condições, a regulação da economia não significa mais do que a tentativa de tapar o
sol com a peneira. Porque a mão invisível do mercado deu lugar à mão invisível dos grandes conglomerados
transnacionais. O mercado são eles. E são eles que “mandam” no mercado e nas entidades que se propõem
regular os mercados.
Ideia geral
A globalização é um mundo em que “o sol nunca se põe no império da Coca-cola”. E todos entenderiam
do que se trata. Mas valerá a pena tentar ir um pouco mais fundo na compreensão deste fenómeno.
a) Uma primeira nota para adiantar que a globalização é um fenómeno complexo,
que se apresenta sob múltiplos aspectos, mas que tem no terreno da economia a chave da sua compreensão e
área estratégica da sua projecção.
b) Uma segunda nota para sublinhar que a globalização é um fenómeno cultural e
ideológico, marcado pela afirmação decisiva dos “aparelhos ideológicos” como instrumento de domínio por parte
dos produtores da ideologia dominante, a ideologia do pensamento único, a ideologia que impõe a sociedade de
consumo como paradigma de desenvolvimento, a ideologia que pretende anular as culturas e as identidades
nacionais.
c) Uma terceira nota para subscrever a tese daqueles autores para quem a
globalização neoliberal em curso é muito mais uma política de globalização do que um processo espontâneo e
inevitável. Uma política que visa essencialmente a implantação de um mercado mundial unificado, controlado pelo
capital financeiro e orientado para governar a economia mundial e impor um determinado modelo de sociedade.
d) Uma quarta nota para salientar que esta política de globalização se tornou
possível graças aos desenvolvimentos operados nos sistemas de transporte e nas tecnologias da informação, que
permitem controlar a partir do “centro” uma estrutura produtiva dispersa por várias regiões do mundo e
permitem obter informação e actuar com base nela, em tempo real, em qualquer parte do planeta, a partir de
qualquer ponto do planeta.
e) Uma outra nota para recordar que uma das características da política de
globalização em curso é a que se relaciona com o esbatimento do papel do estado na economia e com a anulação
do estado nacional.
Este está em risco de perder os tradicionais atributos da soberania e já perdeu a capacidade de controlar a
vida económica e o poder económico. Os capitalismos nacionais, que constituíram o quadro de desenvolvimento
do primeiro capitalismo, teriam sido submersos pela onda globalizadora.
f) Uma nota mais para sublinhar, porém, que não pode correr-se o risco de
interpretar a globalização como um regresso aos tempos do “capitalismo de concorrência”, agora projectado à
escala mundial. Neste nosso tempo, os protagonistas quase exclusivos são os grandes conglomerados
transnacionais, orientados por uma estratégia planetária, apoiados num poder económico que anula em absoluto
os mercados tal como as entendia a teoria da concorrência, e apostados em controlar o processo de
desenvolvimento económico à escala mundial.
g) Uma última nota para pôr em relevo que a globalização se caracteriza também
pelo domínio do capital financeiro, justificando o epíteto de capitalismo de casino para caracterizar o estádio
actual do capitalismo.
Com efeito, o processo de globalização financeira assume uma importância
fundamental no quadro da globalização, traduzindo-se, grosso modo, na criação de um mercado único de capitais
à escala mundial, que permite aos grandes conglomerados transnacionais colocar o seu dinheiro e pedir dinheiro
emprestado em qualquer parte do mundo.
A “financeirização da economia”
Os factos dão razão ao velho Keynes que advertia para os perigos de paralisação da actividade produtiva
em consequência do aumento da importância dos mercados financeiros e da finança especulativa.
Nas últimas quatro décadas, as chamadas “forças do mercado” têm dominado toda a área financeira,
sobrepondo-se, nomeadamente, às políticas nacionais de regulação das taxas de câmbio, uma vez que as
autoridades competentes da generalidade dos países não têm meios para se defender eficazmente da acção dos
especuladores. Basta recordar que o montante das reservas detidas pelos bancos centrais de todo o mundo é
sensivelmente igual ao montante das transacções diárias no mercado cambial.
A aceleração do processo de inovação financeiro, nomeadamente o desenvolvimento do mercados de
produtos derivados, tem acentuado os perigos referidos. Criados como instrumentos de gestão dos riscos
inerentes à instabilidade das taxas de juro e das taxas de câmbio, este novos “produtos financeiros” tornaram-se
rapidamente, dada a pequena percentagem do capital investido em relação aos ganhos possíveis, o objecto
preferido da actividade especulativa e um novo e poderoso factor de instabilidade dos mercados financeiros.
O recurso abusivo à emissão e comercialização destes produtos financeiros derivados conduziu
rapidamente à especulação e à manipulação dos “mercados”, através da emissão e negociação de “produtos”
criados não para cumprir qualquer função de cobertura ou compensação de riscos mas apenas para alimentar as
apostas na bolsa, o grande casino do capital financeiro. Chamam-lhe produtos para criar a ilusão de que resultam
de uma qualquer indústria ou de outra actividade produtiva, mas essa é, a todas as luzes, uma designação falsa,
enganadora e não inocente.
Os contornos e os riscos que esses “produtos” incorporam nem sempre são facilmente identificáveis,
mesmo pelos habituais frequentadores deste “casino”, que compram muitas vezes “produtos financeiros” tão
isotéricos que não sabem o que estão a comprar.
Trata-se de produtos virtuais, cujo valor global se calcula em cerca de biliões de dólares, mal conhecidos,
que não têm qualquer relação com a economia real e com as actividades produtivas. É capital puramente fictício,
cujo valor é fixado em função dos ganhos que os “apostadores” prevêem que podem obter, chamando a si uma
parte da riqueza criada pela economia real. Estes “produtos”, cada vez mais sofisticados, servem apenas para
ganhar dinheiro com a especulação, atraindo bancos, seguradoras, sociedades gestoras de fundos de investimento
e de fundo de pensões.
Os especialistas avisaram que este fenómeno, para além de expor as instituições financeiras aos riscos
máximos inerentes à natureza volátil destes “produtos”, tornava muito mais difícil o controlo pelas autoridades de
supervisão e a auditoria das contas daquelas instituições.
Para além dos riscos inerentes à proliferação dos produtos derivados, a liberalização dos movimentos de
capitais, ao serviço do objectivo de criar um mercado único de capitais à escala mundial, arrastou consigo um
conjunto de alterações que vieram potenciar fortemente a ameaça de risco sistémico.
Com efeito, a internacionalização dos mercados de valores imobiliários veio colocar em rede de mercados
muito diferentes, cada um com as suas regras de funcionamento e os seus riscos específicos, abrindo caminho à
propagação contagiosa dos factores de risco.
Por outro lado, a ausência de controlo dos mercados financeiros e dos movimentos de capital pelos
estados nacionais provocou uma onda sem precedentes de concentrações, de fusões e de aquisições de empresas
financeiras, com a redução acentuada do número de bancos, a concentração nos maiores deles da parte de leão
dos depósitos bancários, e a preponderância dos grandes bancos nas operações de fusão e aquisição de empresas
do sector financeiro. E este fenómeno, para além de outras consequências relevantes ao nível da prevalência do
capital financeiro sobre o capital produtivo, veio facilitar o contágio dos riscos entre os vários componentes do
mesmo grupo, propiciando a convergência e a acumulação do risco em um núcleo mais restrito de centros de
decisão.
Igualmente relevantes são as consequências da desregulação da actividade bancária, da actividade
seguradora e das actividades que decorrem nos mercados de valores mobiliários. O chamado princípio da banca
universal veio permitir aos bancos alargar a sua actividade para além das áreas tradicionais do “comércio
bancário”, tendo-se multiplicado os produtos mistos e tendo-se verificado uma integração crescente dos vários
mercados financeiros. O desenvolvimento de poderosos conglomerados financeiros veio aumentar o poder destes
gigantes e veio tornar muito mais complexas e difíceis as actividades de regulação e de supervisão de cada um dos
sectores de actividade financeira, o que constitui mais um factor a potenciar o risco sistémico.
À semelhança do que a teoria refere para os mercados de oligopólio, também neste mercado financeiro
global os operadores tendem a actuar em função daquilo que eles pensam irá ser o comportamento dos demais
operadores. A turbulência daquilo que eles pensam irá ser o comportamento dos demais operadores. A
turbulência causada pela especulação em um dado país ou região tende a propagar-se a todo o sistema financeiro
mundial graças ao comportamento mimético dos grandes especuladores. O risco sistemático é, assim, o risco
global de desmoronamento do sistema financeiro à escala mundial. A consciência disto mesmo é que dá sentido à
tese dos que entendem que tais “produtos” ameaçam transformar-se em “armas de destruição maciça”.
Mercados e preços
A produção
Noção e classificação dos bens
Como se conseguem, na verdade, os bens que se trocam, que se dão e se recebem?
Esses bens podem ser conseguidos por duas formas: ou através da apropriação das coisas que, embora
escassas, a natureza espontaneamente ofereça, ou através da produção.
Podem obter-se pelo primeiro processo, isto é, através da apropriação das coisas espontaneamente
oferecidas pela natureza, a água ou a terra, por exemplo.
Os próprios bens que a natureza ofereceu já não são permutados hoje no seu estado primitivo. São bens
parcialmente produzidos.
Pode dizer-se, portanto, que os bens actualmente permutados ou são total ou parcialmente produzidos.
A produção de que falamos é a produção de bens; por outras palavras, é a produção de coisas úteis. Mas,
admitindo que o que interessa nos bens não é a sua qualidade de coisas, e sim a sua utilidade, podemos definir
produção como a criação de utilidades.
Ora os bens são objectos do mundo externo que servem para satisfazer necessidades. No entanto,
podemos pôr em destaque as características comuns que tenham particular relevância económica. Assim:
Há bens que têm realidade física, que são coisas corpóreas, objectos do
mundo sensível. É o caso do lápis com que escrevemos, dos alimentos que ingerimos. São os bens materiais.
Há, em contrapartida, outros bens que são incorpóreos, que não fazem parte
do mundo sensível. Podemos citar, como exemplo, a lição proferida pelo professor. Os bens imateriais consistem,
afinal, em acções de homens que satisfazem imediatamente necessidades de outros homens. Dá-se-lhes o nome
de serviços.
Alguns são utilizados com vista à obtenção de outros bens. Suponhamos o
caso de uma fábrica de tecidos. Tanto o edifício como as máquinas são utilizados, não directamente em si mesmos,
mas sim para a obtenção de outros bens: os tecidos. A esses bens que utilizamos na obtenção de outros, dá-se o
nome de bens indirectos ou instrumentais. Indirectos, porque não os aplicamos directamente à satisfação das
nossas necessidades de consumo; instrumentais, visto que eles nos servem de instrumento para a obtenção de
outros bens.
Há, por outro lado, muitos bens que não se utilizam para a obtenção de coisa
alguma, que antes se destinam a satisfazer, eles mesmos, as nossas necessidades de consumo. Chamam-se, por
isso, bens directos ou bens de consumo. Pertencem a esta categoria, por exemplo, os alimentos e os vestuários.
São bens que satisfazem directamente as necessidades dos consumidores.
Esta classificação, que distingue os bens em directos e indirectos, é uma classificação funcional, pois
agrupa os bens segundo o uso que deles se faz. Por isso mesmo é que certos bens podem funcionar ora como bens
directos, ora como indirectos. Consideraremos as uvas: podemos comê-las, e neste caso funcionam como bens
directos; podemos utilizá-las no fabrico do vinho, e teremos então bens indirectos.
As matérias-primas são bens que, não tendo sofrido qualquer transformação por obra do homem, se
destinam, todavia, a ulteriores transformações: o carvão, o minério de ferro, o petróleo, etc.
Em contrapartida, as matérias subsidiárias são bens que podendo ser utilizados tais como a natureza no-
los apresenta, não se destinam a ser transformadas, mas apenas a ajudar a transformação de outros bens.
O semi-produto provém de uma transformação, mas ainda vai ser transformado.
É através dos semi-produto que se obtêm finalmente os bens que esgotaram a escala das transformações,
são produtos acabados.
Mas as transformações que as matérias-primas e os semi-produtos sofrem não são em regra completas:
deixam geralmente um resíduo. Temos um tronco de árvore; levamo-lo a uma serração, onde é transformado em
tábuas; fica, porém, um resíduo: o serrim. O serrim são os restos ou resíduos de transformações: denominam-se,
por isso, subprodutos.
Reparemos agora em que tanto os produtos acabados como os subprodutos podem ser bens directos ou
bens indirectos. O vestido, produto acabado do algodão, é um bem directo; mas a máquina, produto acabado do
ferro, é um bem indirecto. Há bens que podem ser subrogados por outros na satisfação das necessidades: são os
bens substituíveis.
Por vezes, a substituição é perfeita, completa: tanto nos interessa ter esta como aquela nota de 1000
escudos. Quando, neste caso, os bens se substituem plenamente, dizem-se bens fungíveis.
Mas, na maior parte das vezes, a substituição não é perfeita; os bens substitutos não fazem tão
completamente as necessidades como os bens substituídos. Assim: a cevada constitui o café; a margarina substitui,
para certos usos, manteiga. Mas a verdade é que nenhum destes bens – a cevada, a margarina – satisfaz tão
perfeitamente as necessidades como os bens substituídos.
Temos no café e na manteiga bens substituíveis; mas, como os que substituem não os subrogam
totalmente, dizemos que lhes sucedem: são sucedâneos.
É muito importante a existência de sucedâneos, pois eles são como que a defesa do consumidor,
permitindo atenuar em certa medida os efeitos de uma alta de preços ou de carência de certos produtos.
Os bens complementares são os que só satisfazem necessidades quando associados. Exemplos: caneta e
tinta, automóvel e gasolina. A complementaridade dos bens é muito frequente, e tem grande importância, pois
quando aumenta o consumo de um dos bens complementares, aumenta o consumo do outro.
Os elementos da produção
O homem não pode produzir bens sem se servir de outros bens.
No caso do cereal, por exemplo: não se pode produzir sem a terra, ou antes, sem os elementos naturais,
que são afinal os elementos químicos e as forças físicas da natureza. E como ele não toma iniciativa de se lavrar,
semear ou regar, não se pode obter o cereal sem trabalho. É o lavrador, precisamente, que exerce o seu esforço
sobre os elementos que lhe são oferecidos pela natureza.
Mas na produção do cereal não entram apenas a natureza com os seus elementos e as suas forças, e o
homem com o seu trabalho. Entram outros bens, ainda: na verdade, é precisa uma charrua para lavrar, necessita-
se de sementes para semear, de aquedutos para a água, de muros e socalcos que impeçam a erosão.
Ora estes bens não são elementos dados pela natureza, nem são esforço do homem. resultam, sim, do
esforço do homem exercido sobre a natureza ou combinado com ela, isto é, resultam de uma produção anterior.
Chama-se-lhes capital.
E aqui temos os três elementos da produção: a natureza, o trabalho e o capital.
Alguns autores falam ainda de outros “factores de produção”, designadamente o risco e a incerteza, as
instituições sociais e a organização ou capacidade organizativa.
A esta última referiu-se Marshall. Mas não se vê razão para não a incluir no trabalho, uma forma especial
de trabalho abrangida pelo trabalho de direcção.
Quanto às instituições sociais, sem dúvida, que elas definem o quadro dentro do qual se desenvolve a
actividade produtiva; são elementos condicionantes desta, mas não parece que devam considerar-se elementos de
produção, da mesma natureza que o trabalho ou o capital.
O risco e a incerteza que são próprios da actividade do empresário poderão fundamentar determinadas
concepções acerca da distribuição do rendimento e acerca da explicação de certas categorias de rendimento, mas
não vemos que possam considerar-se como elementos de produção.
Acontece que, actualmente, a natureza já não se apresenta, digamos, no seu estado puro. Podemos dizer
que a natureza é hoje algo que o homem “produziu”. Por outro lado, poderá dizer-se que a natureza constitui uma
condição geral da actividade produtiva, uma factor que favorece ou que complica a acção do homem enquanto
produtor, mas não um elemento da produção do mesmo género do trabalho e do capital.
Por tudo isto, quando se fala de elementos da produção, é frequente os autores referirem apenas o
trabalho e o capital.
O Trabalho - ?
O Capital
Noção
O capital de que aqui curamos é o capital enquanto elemento da produção.
Os clássicos ingleses avançaram a ideia do capital como “requisito ” da produção. E, como requisito da
produção, capital foi entendido como um fundo de bens, um stock. Mas tal estoque de bens não abrangia todos
os bens existentes em um dado momento. O entendimento que os clássicos tinham do capital levava-os a excluir
dos “produtos já existentes” os bens naturais e os bens de consumo.
Adam Smith destacava do “estoque geral de um país ou sociedade” os “fundos destinados à manutenção
do trabalho produtivo”, o “capital que fornece a semente, paga o trabalho e sustenta os animais e outros
instrumentos do trabalho”. Ricardo escreveu que “capital é a parte da riqueza de um país que se utiliza na
produção e que consiste em alimentos, vestuário, ferramentas, matérias-primas, maquinaria necessários para
realizar o trabalho”. Ao distinguir o capital constante do capital variável Marx não se afasta do entendimento
básico dos clássicos ingleses.
“A parte do capital que se converte em meios de produção, isto é, em matérias-primas, matérias
auxiliares e meios de trabalho, não altera a grandeza do seu valor no processo de produção. Chama-se, por isso,
parte constante do capital, ou, capital constante. Ao invés, a parte do capital convertida em força de trabalho
muda o seu próprio valor no processo de produção. Reproduz o seu equivalente e produz um excedente, a mais-
valia, que, por sua vez, pode variar, pode ser maior ou mais pequena. Esta parte do capital transforma-se
continuamente de grandeza constante em grandeza variável. Por isso designa-se parte variável do capital, ou,
capital variável”.
Para Marx, o capital não tem existência sem o trabalho, não pode renovar-se nem acrescentar-se sem o
trabalho. O capital não é, pois, uma coisa, nem uma relação entre coisas, mas uma relação entre homens, uma
relação entre a classe capitalista e a classe proletária.
A enxada, a charrua, a semente, são bens capitais. Como o são as máquinas, as instalações, os estoques
de bens em processo de fabricação. Ora estes bens destinam-se à produção de outros bens. Logo, são bens
indirectos. Mas nem todos os bens indirectos são capitais. Pois aqueles bens são capitais não apenas por se
destinarem à produção de outros bens, mas por provirem de produção anterior.
A terra, os elementos naturais, também são bens indirectos; todavia, não são bens capitais, visto não
resultarem de produção nenhuma. Capital, portanto, é o bem indirecto produzido, ou o bem de produção
produzido.
Ora por que será que se produzem bens com o fim de se obterem outros bens?
Estamos aqui em presença de dois processos de produção de bens, neste caso de produção de
Água: o directo, que é o da linha recta – vai-se imediatamente produzir o bem: vai-se à fonte captar a água na
palma da mão; e o indirecto, o da linha curva – vai-se à floresta, obtém-se o balde e enche-se de água; volta-se à
floresta, constrói-se o aqueduto, e faz-se correr a água por ele.
Que são este balde e este aqueduto? Não são o esforço do homem em si mesmo, nem são a água que a
natureza dá: são o resultado de uma aplicação do esforço do homem sobre os elementos da natureza. São,
portanto, bens produzidos que se destinam a uma produção ulterior, são bens de produção produzidos, isto é,
bens capitais.
São bens que aparecem de permeio entre a natureza e o homem. Para se obterem, tornou-se necessário
fazer um desvio na produção do bem directo – a água. Com efeito, em vez de se seguir simplesmente o caminho
para a fonte, foi-se à floresta e, depois de construído o balde ou o aqueduto, é que se colheu a água. Daí o
podermos concluir que os bens capitais resultam de desvios introduzidos na produção de bens directos.
Mas, para quê tudo isto? Pura e simplesmente, para aumentar o rendimento do esforço humano, do
trabalho. Este é um dos aspectos do processo indirecto de produção: aumento do rendimento do trabalho.
Aumento do rendimento, mas à custa do alongamento do processo produtivo. Mas alongou-se, se tomarmos
isoladamente o tempo de produção, se não pusermos o tempo gasto em confronto com o resultado obtido. Sim,
se nos limitarmos a observar que, para produzir água, o selvagem gastava primitivamente um quarto de hora, e
teve depois que dispender um dia para fazer um balde, e várias semanas para construir o aqueduto. Já não se
alongou, porém, se confrontarmos o tempo gasto na produção com a quantidade obtida de água. Conclui-se, pois,
que – tendo-se alongado o processo produtivo da água – não se alongou, mas diminui, o processo produtivo de
cada unidade, isto é, de cada decilitro.
O aforro e o investimento
O facto de que é necessário tempo para as coisas avançarem e se sincronizar é, em si, importante. É isso
que explica a razão por que a sociedade não substitui automaticamente todos os processos directos por processos
indirectos mais produtivos, e todos os processos indirectos por outros ainda mais indirectos.
O interesse que haveria em fazer isso é anulado pela desvantagem inicial de se ter de renunciar aos bens
de consumo imediato ao desviarem-se recursos da produção actual para utilizações que só dão rendimento algum
tempo mais tarde.
A sociedade pode consagrar recursos à formação de mais capital apenas na medida em que a população
estiver disposta a poupar ou aforrar, renunciando ao consumo imediato. E, na medida em que a população não se
preocupar com o futuro, ela pode, em qualquer altura, tentar “desaforrar” – obter satisfações no momento
presente à custa do futuro. De que maneira? Desviando os recursos da tarefa constante de substituição e
manutenção do capital para a produção adicional de bens de consumo imediato.
Pode dizer-se que uma condição necessária para a produção de bens capitais é o aforro de bens directos.
E pode dizer-se que o aforro é a parte do rendimento líquido que não se destina ao consumo corrente.
Mas isso não basta. Não bastou ao selvagem pôr de lado algumas peças de caça para que o balde e o
aqueduto aparecessem feitos. Foi necessário que destinasse esse aforro à produção de um e outro. Ora, a
aplicação do aforro à produção de bens capitais constitui o investimento.
Eis as duas condições necessárias para a produção de capitais: o aforro e o investimento.
Como o preço é o valor dos bens expresso em moeda, as centenas ou milhares de escudos que cada um
tem ou recebe servem para se adquirem bens, representando, portanto, poder de compra em bens directos. Se
não se gastam, ou na medida em que não se gastam, renuncia-se ao consumo de bens directos e aforra-se,
consequentemente.
Aforra-se voluntariamente ou por imposição externa, hipótese – esta última – que se verifica sobretudo
em três casos:
a) Na constituição das reservas das sociedades comerciais. Se a assembleia geral de
uma sociedade anónima, por exemplo, resolve por maioria não distribuir em dividendos a totalidade dos lucros,
levando parte deles a reservas, os sócios que fiquem em minoria, isto é, que discordem da constituição de reservas
ou do aumento das reservas existentes, têm de renunciar a uma parte dos lucros e são obrigados, portanto, a
aforrá-los através da sociedade;
b) No pagamento de impostos. O estado organiza serviços públicos, faz despesas, e
cobre a maior parte dessas despesas com tributos que exige aos cidadãos. Os contribuintes têm de renunciar,
portanto, à utilização do rendimento que entregam ao estado a título de impostos: eis o aforro;
c) Sempre que se verifica um processo inflacionista, ou seja, um processo de subida
continuada e notória do nível geral dos preços.
O que importa entender é que a subida do nível geral dos preços significa a subida da média dos preços e
não a subida dos preços de todos os bens e serviços. Quando há inflação, nem todos os preços sobem e os preços
que sobem não sobem todos na mesma proporção. Daqui resulta que os vendedores de mercadorias cujos preços
não sobem ou sobem em menor proporção que o nível geral dos preços sofrem necessariamente aforro forçado.
Os grupos sociais que se vêem nesta situação são aqueles cujos rendimentos monetários diminuem, não
aumentam ou aumentam menos do que o nível geral dos preços. São forçados a aforrar porque o rendimento que
recebem representa agora, em virtude da inflação, um poder de compra menor, o que os obriga a renunciar à
compra de certos bens e serviços, sacrificando uma parte do consumo que antes faziam. Os bens que,
forçadamente, deixam de consumir constituem aforro forçado.
Temos, assim, os dois destinos do aforro: entesouramento, que é a conservação do dinheiro em saldos
líquidos; investimento, que é a utilização do dinheiro poupado na produção de bens capitais.
Mas isto nada nos diz acerca das relações socias que estão por detrás do aforro e do investimento.
O que queremos pôr em destaque resulta mais nítido num país onde são muito grandes as diferenças de
rendimento entre uma pequena minoria de ricos e a grande massa dos pobres e onde se prossiga uma política que
deliberadamente sacrifique o consumo da generalidade da população para que a pequena elite dos ricos possa
aforrar e investir, criando riqueza que só mais tarde será distribuída.
Por vezes, não há coincidência entre quem aforra e quem investe. Há uma inadequação à realidade dos
países capitalistas da explicação do significado das decisões de aforro-investimento elaborada com base no
comportamento de Robinson Crusoe na sua ilha.
Verifica-se, assim, que o exemplo de Robinson só tem paralelismo com uma economia socialista, baseada
na propriedade colectiva dos meios de produção e na planificação imperativa da economia. Só neste caso se
verifica a reunião da mesma entidade das qualidades de consumidor e de aforrador-investidor.
Por capital também se entende o bem que dá ao seu possuidor rendimento sem trabalho ( capital
lucrativo).
Seja qual for o sistema económico, sempre o balde, o aqueduto, a máquina ou o edifício da fábrica hão-de
ser bens de produção produzidos e, portanto, bens capitais produtivos; e sempre o cavão ou o ferro do subsolo
hão-de ser bens de produção não produzidos e, portanto, bens naturais.
Mas, se o subsolo estiver sob propriedade privada de um indivíduo ou pessoa colectiva, e se os seus donos
conseguirem obter dele um rendimento sem trabalho, cedendo, por exemplo, a exploração mediante uma renda,
teremos a natureza que nunca é capital produtivo, a ser capital lucrativo. Da mesma forma, o dinheiro, que não é
bem de produção produzido, pode ser capital lucrativo se dado a juros.
Sucede que todos os capitais produtivos, quando individualmente apropriados, podem ser capitais
lucrativos, pois todos eles podem ser cedidos mediante remuneração. Mas, como se vê, também podem ser
capitais lucrativos bens que nunca são capitais produtivos: os elementos naturais e o dinheiro.
Finalidades da produção
O produtor autónomo é dono de todos os elementos de produção. Mas, justamente por isso, tem de ser
um produtor pequeno.
Pode, na verdade, ser muito rico, ter grandes superfícies de terreno ou avultadas somas de dinheiro. Mas,
ainda que tal suceda, ainda que disponha não só de muitos elementos naturais como de dinheiro que lhe permita
adquirir muitas máquinas e matérias-primas, há-de, pela própria força das coisas, dispor de pouco trabalho. Pois,
se o seu trabalho é apenas o que pode ser fornecido por ele próprio e pelos componentes da família, mesmo que
este seja bastante numerosa o esforço de todos tem de ser necessariamente muito limitado. Daí que o produtor
autónomo nos apareça sempre como um produtor em escala diminuta.
Daí, também, que ele tenha de contentar-se com pouco, que geralmente a nada mais ambicione do que à
satisfação das suas necessidades de consumo, e, até, das suas necessidades elementares.
Mas já não sucede, ou não tem que suceder, o mesmo com o empresário. Pois, se não é rico, pode pedir
dinheiro emprestado; se não tem terras, pode tomá-las de arrendamento; se reconhece que a sua força de
trabalho e a da família são escassas, pode assalariar operários.
E porque é, ou pelo menos tem a possibilidade de vir a ser, um produtor em grande escala, os seus
horizontes são largos, vastas as suas aspirações; quer mais, muito mais, do que o produtor autónomo. Pretende
alcançar lucros que lhe permitam desenvolver a fábrica, ultrapassar os outros empresários, assegurar uma
existência confortável a si e aos seus, adquirir prestígio e predomínio no meio social. A finalidade do empresário é,
portanto, a de obter lucros.
Mas o estado também é produtor. Ora, o estado não se propõe, nem pode propor-se, satisfazer as suas
necessidades de consumo, pois o estado não tem necessidades, não precisa de se alimentar, de se vestir, de se
alojar. E o estado também não se propõe, na maioria dos casos, obter lucros. Os serviços públicos são geralmente
explorados com prejuízo e, até, por vezes, com prejuízo total.
Qual é, nestes casos, a finalidade do estado? Não é, como se vê, nem a do produtor autónomo nem a da
empresa. É a de satisfazer as necessidades dos que querem instruir-se(escolas), dos que querem definidos os
direitos (tribunais), dos que querem defendido o seu país (forças armadas).
Temos, pois, uma terceira finalidade da produção: a satisfação das necessidades dos cidadãos.
Empresa capitalista, portanto, é a empresa que procede à combinação económica dos elementos da
produção, labora para o mercado e utiliza sobretudo trabalho de assalariados.
O capital da empresa. Capital fixo e circulante; a amortização do capital fixo
Pois é esta empresa que constitui a unidade de produção típica, própria, do capitalismo.
O empresário não distingue os elementos produtivos pelas suas características intrínsecas, mas pelos seus
preços; daí que os irmane a todos na mesma categoria de elementos que ou são ou têm direito a ser pagos.
Por isso é que a empresa capitalista considera capital o valor monetário dos bens destinados à produção,
e que correspondem ao dinheiro com que os adquiriu, ou se propõe adquiri-los, mais o dinheiro com que teria de
comprar os bens fornecidos pelo próprio empresário.
Capital da empresa é, portanto, o capital – dinheiro, gasto ou a gastar efectivamente, ou ficticiamente
gastado. Não é, por paradoxal que pareça, capital produtivo, mas sim capital lucrativo. Na verdade, é dinheiro que
permite a obtenção de lucros, isto é, de rendimento sem trabalho.
Simplesmente, esse capital pode ser cindido em duas categorias:
1) Capital fixo – valor monetário dos bens que entram em vários actos da produção;
2) Capital circulante – valor monetário dos bens que se consomem num único acto de produção.
O primeiro, como se vê, refere-se a bens duradouros; o segundo, a bens consumíveis.
Circulante, esse dinheiro, porque, de facto, circula: gastou-se na aquisição de matérias-primas, de semi-
produtos, de força de trabalho, mas o seu valor transfere-se integralmente para o valor do produto obtido pela
empresa. Transita, com efeito, daqueles bens para este.
Ora, já não sucede assim com o dinheiro empregado nas máquinas, edifícios ou instalações: ele não
transita integralmente para o valor de cada produto, de cada peça ou metro de fazenda. Transita, sim, mas por
parcelas, por fracções. A isso se chama amortizações.
A amortização é necessária porque é preciso reconstituir os capitais fixos. Desde logo, porque os bens em
que se encontram representados, apesar de serem duradouros, não duram sempre. Assim, as máquinas têm um
certo período de vida física: ao cabo de 10, 20, 30 anos estão inutilizadas, são ferro velho, só podem ser vendidas
como sucata. Perdem, portanto, o seu valor. E o mesmo acontece aos edifícios, que, passados 50 ou 100 anos têm
de ser reconstruídos.
Ora, é a realização do valor perdido pelos bens duradouros da empresa que constitui a amortização dos
capitais fixos. Assim:
Determinada máquina custa 100€, e tem capacidade para produzir 100.000 exemplares da mercadoria.
Nesse caso, deverá incluir-se no valor de cada unidade fabricada a quantia de 1€ do valor da máquina. Deste
modo, quando ela tiver produzido os 100.000 exemplares, está realizado o capital:
1€ x 100.000 = 100.000€00
Na prática não se faz assim, pois não se pode prever quantas unidades a máquina virá a produzir durante
os anos da sua existência. Pode ser que trabalhe a pleno em todos os dias da semana, ou que trabalhe
intermitentemente, apenas em certas horas, dias ou semanas. Tudo dependerá das condições de mercado.
Adopta-se, por isso, outro processo de amortização.
Calcula-se a duração da máquina, o número de anos que ela presumivelmente estará em laboração.
Número de anos cujo máximo é o da sua vida física, mas que, em geral, é um número inferior, visto a duração
física exceder normalmente a duração económica. Assim: ao fim de 20 anos a máquina ainda está em condições
de laborar, mas já não está em condições de laborar eficientemente, de competir com máquinas mais
aperfeiçoadas que as outras empresas utilizam. Perdura a sua vida física, mas já cessou a sua vida económica.
À empresa o que interessa manifestamente é a vida, a duração económica da máquina. E os cálculos da
amortização vão basear-se nesta duração económica, isto é, no período durante o qual se julgue que a máquina
esteja em condições de laborar em concorrência com as máquinas das outras empresas. E faz-se deste modo:
Prevê-se, por exemplo, que a máquina, comprada por 100€, dure economicamente 10 anos. Dividem-se
os 100€ por 10, atribuindo, assim, a cada ano, 10€. Estes 10€ são incluídos no valor das mercadorias fabricadas
durante o ano.
Logo se conclui que a amortização é sempre, em larga medida, arbitrária. Pois assenta numa previsão, e
toda a previsão é incerta. Nesta última hipótese, a empresa terá de substituí-la antes de realizado o seu valor. Daí
que, para obviar tal risco, se tente calcular por defeito a vida económica dos bens duradouros. Todavia, isso vai
fazer com que se transfira para o valor das mercadorias produzidas em cada ano uma quota maior de capital fixo e,
portanto, com que se sobrecarregue o custo de produção.
Formas de empresa
A finalidade da empresa capitalista é a obtenção de lucros. Para tanto, porém, ele precisa: de constituir o
capital – condição da sua organização; de se organizar – condição do seu funcionamento; de funcionar – condição
da venda e do lucro.
Ora, como se obtêm os capitais ocorrentes à produção?
1) Há empresas que têm apenas um empresário; em tal caso, é essa a única pessoa que cabe
exercer, por si ou por delegado, as funções técnica e comercial, do mesmo modo que a ela cabe correr o risco
imanente e reunir o capital necessário para a indústria viver. São as empresas individuais.
Uma empresa individual está toda na mão, na dependência, de uma só pessoa. Vive a própria vida do
empresário, reflecte-lhe as qualidades, sofre-lhe as vicissitudes. Está, pois, a empresa individual dependente das
virtudes e defeitos da pessoa que a organiza e dos seus meios de fortuna. Mas a verdade é que, por muito rico que
seja, não é natural que o empresário queira jogar numa indústria toda a sua fortuna, que queira arriscar numa só
empresa todo o seu dinheiro. É por isso que, quando se trata da constituição de grandes empresas, elas são obra
de várias pessoas associadas.
2) As empresas sob a forma de empresas colectivas, em que o número dos empresários é de
empresas colectivas, em que o número dos empresários é de mais que um. São, pois, diversos os empresários,
poucas ou muitas as pessoas que se associam. Temos as sociedades.
Mas há vários tipos de sociedades:
a) Há sociedades em que todos os sócios respondem solidária e ilimitadamente pelo passivo
social. Por este motivo, a administração da empresa, a gerência da sociedade, cabe-lhes a todos. E, de facto, quase
sempre todos a exercem. Ora, se os sócios assumem, por um lado, solidária e ilimitadamente, o risco da empresa e
se, por outro, lhes é atribuída a gestão dos negócios, não admira que eles tenham na sociedade uma importância
decisiva. Com efeito, tudo aqui se passa como se se tratasse de um prolongamento das empresas individuais, de
empresas individuais de duas, três, quatro ou cinco pessoas.
Precisamente porque o elemento predominante são as pessoas dos sócios, chama-se a estas empresas
colectivas sociedades de pessoas. Correspondem às sociedades em nome colectivo.
b) As sociedades anónimas. Nestas sociedades, o capital encontra-se dividido em fracções
mínimas. Cada sócio pode subscrever uma ou mais destas fracções, mas a sua responsabilidade fica sempre
limitada à importância das fracções, ao capital por ele subscrito.
As fracções são representadas por títulos livremente comerciáveis, que se chamam acções. Como estas
são fracções diminutas, torna-se acessível a muita gente ser sócio de uma sociedade anónima. Daí que o número
de sócios suba frequentemente a centenas ou milhares de pressoas.
Sendo assim, é claro que nem todos nem sequer a maior parte dos sócios podem administrar a empresa.
Como eles são muitos, não há outro remédio senão delegar em alguns a gestão da sociedade. Estes poucos
administradores vão constituir o conselho de administração. Estamos, perante uma responsabilidade estritamente
limitada ao capital por cada um subscrito. Nas sociedades por acções não se associam pessoas, associam-se sacos
de dinheiro. Por isso se lhes chama sociedades de capitais.
c) Nas sociedades em comandita há dois tipos de sócios: comanditários e comanditados. Os
primeiros são semelhantes aos das sociedades anónimas, pois têm a responsabilidade limitada ao valor das suas
entradas de capital; por sua vez, os comanditados assemelham-se aos sócios das sociedades em nome colectivo,
pois respondem solidária e ilimitadamente pelo passivo social. Daí que nestas sociedades a administração caiba
aos sócios comanditados.
d) Nas sociedades por quotas, a responsabilidade dos sócios é limitada, mas não tanto como
a dos sócios das sociedades anónimas ou a dos comanditários das sociedades em comandita. É limitada à
integração do capital social. Isto quer dizer que qualquer sócio responde não só pela realização da sua quota, mas
ainda pela realização das quotas dos restantes sócios. Quanto à administração, pode ela, nas sociedades por
quotas, ser exercida por todos os sócios, ser confiada a alguns deles ou, ainda, ser entregue a pessoas estranhas.
3) O capitalismo escolheu, dentro essas todas, as sociedades por acções. Foi a partir da
primeira metade do século XIX que as sociedades por acções se difundiram. Porquê, esta preferência do
capitalismo? Primeiro, porque essas sociedades o melhor processo de reunir capitas. Ora, o capitalismo precisa de
capitais para desenvolver as suas empresas em escala sempre crescente.
Compreende-se que as sociedades por acções sejam o melhor processo de centralizar capitais. É que as
acções atraem o dinheiro dos pequenos capitalistas. É que as acções são de reduzido valor, e estão, portanto, ao
alcance das pequenas bolsas, das pessoas que só podem dispor de alguns contos ou algumas dezenas de contos.
Mas essas sociedades, além de atraírem às empresas o dinheiro dos pequenos, também chama o dos
grandes capitalistas. Não só porque o risco que sofrem é limitado ao montante dos títulos subscritos, como porque
as acções são negociáveis. Deste modo, os capitalistas conseguem associar o seu dinheiro às empresas sem receio
de grandes prejuízos, ficando sempre, por outro lado, com a possibilidade de realizar quando queiram, mediante a
venda das acções na Bolsa, o capital nelas investido. Elas ainda centralizam capitais mediante a emissão de
obrigações.
As sociedades de acções têm ainda, aos olhos dos capitalistas, a virtude de poderem permitir que os
grandes disponham do dinheiro dos pequenos. São poucos os que mandam, mas são muitos, são todos os sócios,
que respondem. E mostra a experiência que os grandes capitalistas não precisam sequer da maioria das acções
para imporem a sua vontade nas assembleias gerais.
Por estes dois motivos: porque através das sociedades por acções se centralizam enormes somas de
dinheiro e porque os grandes ficam a dispor do pecúlio dos pequenos, é que, afinal, o capitalismo preferiu
decisivamente essas sociedades.
As empresas cooperativas
Origem e vocação histórica das cooperativas
O aparecimento das cooperativas anda associado ao socialismo utópico. O cooperativismo nasceu nos
meios operários e em estreita ligação com movimentos de defesa dos interesses das classes trabalhadoras,
devendo entender-se que a sua vocação histórica é a de se difundir entre os estratos de mais fracos rendimentos
da população, entre os operários e os camponeses, entre os trabalhadores em geral, vocação que a realidade,
muitas vezes, mostra não se ter realizado tão amplamente como desejariam os adeptos do cooperativismo.
As cooperativas, especialmente de produção operária, deram um indiscutível contributo à luta contra o
desemprego pela capacidade demonstrada na manutenção e criação de postos de trabalho; reanimaram
actividades em crise; participaram na construção de habitações económicas destinadas às classes de menores
recursos; estimularam o aforro e, especialmente através das caixas de crédito agrícola mútuo, diminuíram a
dependência em relação ao estado, pela geração de fundos próprios e indispensáveis para uma progressiva
autonomização do sector.
Um tão válido contributo não é devido apenas ao aumento do número de cooperativas existentes, mas
também à renovação de aspectos fundamentais dinamizadores da sua capacidade de intervenção da sociedade
portuguesa.
Público Empresas
(famílias)
As setas superiores representam a compra dos elementos produtivos: enquanto estes circulam dos seus
donos para as empresas, a moeda para pela respectiva utilização, mais os lucros dos empresários, circulam em
sentido oposto. As setas inferiores representam a compra das mercadorias: enquanto estas circulam das empresas
para os titulares dos rendimentos, a moeda paga pela sua aquisição circula em sentido contrário.
Ora, é ao conjunto destas duas circulações, fluxos ou correntes – a dos bens e a da moeda – que se chama
circuito económico.
E o rendimento é igual à despesa, porque os particulares gastam, naturalmente, o dinheiro que recebem a
só ele. Por fim, observa-se, que produto, rendimento e despesa são grandezas equivalentes.
B) Pode acontecer, além disso, que as empresas do país utilizem matérias-primas ou semi
produtos comprados a empresas de outros países. A empresa A, por exemplo, pode ter utilizado adubos que não
adquiriu a nenhuma empresa nacional, mas a uma empresa estrangeira. Ora, se a empresa A utilizou adubos que
não foram produzidos por uma empresa nacional, o valor desses adubos constitui produto bruto de uma empresa
estrangeira. Por conseguinte, não pode ser considerado no PNB, sob pena de este deixar de ser nacional.
Na verdade, se a empresa A, além de utilizar sementes que foram produzidas em período anterior,
utilizou adubos que foram obtidos no estrangeiro, é claro que temos de subtrair o valor desses adubos, tal como
fizemos para as sementes.
Produto nacional bruto é, assim, o valor dos bens finais obtidos durante determinado período, menos o
valor dos bens intermédios utilizados nesse período e provindos de períodos anteriores ou importados, e mais o
valor dos bens intermédios produzidos durante o período e existentes no fim dele.
O cálculo do PNB inicia-se, pois, multiplicando o preço de cada um dos bens finais ou acabados pela
quantidade produzida durante o período considerado, para se obter depois o valor de todos os bens finais
produzidos no país e no período considerados. Esses bens finais são bens de consumo ou são bens de produção.
Para que os bens de produção possam considerar-se bens finais ou acabados é necessário que não
tenham de sofrer mais nenhuma transformação material ou económica. Trata-se, portanto, de bens de produção
duradouros e, quanto aos bens de produção consumíveis são necessariamente bens intermédios.
Segue-se, pois, que o valor dos bens finais se divide em valor dos bens finais de consumo e valor de bens
finais de produção, obtemos o PNB.
Poderia dizer-se que, do mesmo modo que no cálculo do produto nacional não se contabiliza o valor dos
bens intermédios utilizados na produção de bens finais, também não deveria contabilizar-se o valor dos bens de
produção duradouros produzidos no período considerado.
Tais bens de capital não deveriam considerar-se produtos finais já que ninguém os quer por si mesmos,
antes se destinam a ser utilizados para produzir outros produtos finais. Nesta óptica, a utilização de máquinas na
produção de pão não difere essencialmente da utilização de farinha ou de qualquer outro produto intermédio.
Nem o facto de a máquina, ao contrário da farinha, poderá ser utilizada para produzir pão durante várias
semanas, ao longo de um certo número de anos, alteraria significativamente as coisas. Com efeito, mais cedo ou
mais tarde, dentro do período de duração da máquina, o seu valor acaba por ser incluído no valor do pão. Assim
sendo, não contabilizar este valor seria apenas não o contar duas vezes.
O ponto de vista que acabámos de expor ganharia mais peso caso ocorressem duas condições, que
normalmente não se verificam:
1) Se a “morte económica” dos bens de capital duradouros existentes ocorressem
uniformemente ao longo dos anos;
2) Se a produção de novos bens de capital acompanhasse o ritmo da “morte económica” dos
bens de capital em uso e fosse apenas o bastante para substituir os bens de capital fora de uso.
Mas este rendimento pessoal não é ainda o rendimento disponível das famílias, com base no qual elas
vão programar as suas despesas de consumo e as suas poupanças.
Recebido aquele rendimento, ele vai ser atingido por impostos directos sobre os rendimentos cobrados
em favor do estado (IRS) e ainda pelos descontos obrigatórios para a Segurança Social. Só depois de pagos estes
encargos os particulares poderão verdadeiramente dispor do rendimento que lhes resta.
O rendimento disponível é, pois, o rendimento pessoal menos o montante global dos impostos directos
sobre os rendimentos e os descontos obrigatórios para a Segurança Social.
Diga-se, ainda, que os dados do PNL terão de ser sempre confrontados com o volume da população do
país em causa. Por isso se utilizam os dados do produto per capita ou por família, grandeza que se obtém dividindo
o produto nacional pelo número de habitantes do país.
Algumas dificuldades na leitura do bem-estar a partir do PNL
O PNL é calculado e expresso em termos monetários
Apesar de o rendimento nacional ser um rendimento em bens materiais e serviços, isto é, um
rendimento real, ele só pode ser calculado em termos de preços, isto é, como rendimento monetário, dado que
não se podem adicionar quilos de cebolas a metros de fazendas, e só preços de cebolas a preços de fazendas.
a) Daqui resultam desde logo os inconvenientes derivados do facto de a estrutura dos preços
não reflectir as verdadeiras preferências dos consumidores. Os “votos monetários” destes já não representam a
soberania do consumidor, hoje reduzida a um mito desacreditado, dados os poderosos meios ao serviço dos
objectivos da “sociedade de consumo”.
b) Outro inconveniente reside no facto de se excluírem do rendimento nacional todos os bens
que não têm mercado e, portanto, não têm preço; é o que sucede, v.g., com os serviços domésticos que as pessoas
realizam em sua casa, com o trabalho voluntário não pago.
As deficiências deste tipo são particularmente relevantes nos países subdesenvolvidos e em
geral nos países com uma agricultura atrasada. Muitos dos trabalhos agrícolas são feitos em regime de entreajuda,
não se pagando salários. Por outro lado, as economias desses países são economias de subsistência, isto é, muitas
das explorações agrícolas produzem essencialmente para autoconsumo, levando ao mercado apenas uma
pequena parte dos frutos do seu trabalho.
O tipo de dificuldades que vimo referindo regista-se também em situações como as que figuramos no
exemplo seguinte. A existência da floresta só é considerada, para efeitos de cálculo do PNB, se nela forem cortadas
árvores para venda no mercado. A simples existência da floresta não tem qualquer incidência no cálculo do PNB
em um dado ano; do mesmo modo, se uma floresta arder por completo, o seu desaparecimento não se reflecte,
em si mesmo, no valor do PNB desse ano.
No entanto, a simples existência da floresta é, em si mesma, um bem. Pelo simples facto de existir, a
floresta representa uma contribuição com significado económico e repercussões em termos de bem-estar
material. Na verdade, a floresta preserva os solos, regula o clima, purifica o ar e a água…Só que estes bens não
estão no mercado e não têm preço atribuído.
c) Mas o facto de o rendimento ser expresso em termos monetário tem o contra de poder
falsear as comparações no tempo.
Na verdade, um aumento do rendimento nacional não significa necessariamente um aumento da
quantidade de bens produzidos. Pode acontecer que aquele aumento do rendimento seja provocado, no todo ou
em parte, pela subida dos preços. Para evitar o erro recorre-se à correcção dos dados do rendimento nacional pelo
coeficiente da alta ou baixa do nível dos preços, através do processo dos números-índices. Procura-se, deste
modo, evitar que a ilusão monetária conduza a uma leitura errada e enganadora da realidade.
Problemas podem resultar também da deficiente contabilização dos bens de consumo duradouros, os
quais, em regra, são inscritos na contabilidade nacional apenas no ano em que são produzidos, deixando de figurar
nos anos seguintes, embora a sua utilização e o bem-estar que dela resulta permaneçam durante o período da sua
vida útil.
Sendo certo que o sector de produção de bens de consumo duradouros é dos mais afectados pelas
oscilações conjunturais, aquela forma de os inserir na contabilidade nacional há-de traduzir-se numa instabilidade
do bem-estar muito superior à que na realidade se verifica.
Poderá dar-se também o caso de o crescimento económico gerar “deseconomias” que não são
compensadas, porque se trata de países “pobres” ou porque se trata de países dominados e semi-colonizados. Tais
“deseconomias” que não são compensadas, porque se trata de países “pobres” ou porque se trata de países
dominados e semi-colonizados. Tais “deseconomias” podem traduzir-se na poluição do ar e das águas; no
esgotamento e desertificação dos solos aráveis; na delapidação acelerada dos recursos naturais; na repressão
política, económica e social que se abate sobre as populações para tornar viáveis certas políticas, porventura
potenciadoras de determinados padrões de crescimento económico.
Já se vê que se países nestes condições apresentarem um nível de rendimento per capita idêntico ao de
outros países onde não se verificam tais “desconomias”, nem por isso poderá dizer-se que é idêntico ao nível de
bem-estar nos dois tipos de países. A inferioridade dos países referidos em primeiro lugar verifica-se não só quanto
ao bem-estar das gerações presentes afectadas pelos efeitos da poluição, do esgotamento dos solos, da
delapidação dos recursos naturais não renováveis e da degradação das capacidades físicas e psíquicas das pessoas.
As dificuldades na comparação entre vários países são ainda maiores quando se pretendem confrontar os
dados referentes a “países subdesenvolvidos” com os dados relativos a “países desenvolvidos” ou quando a
comparação é entre países capitalistas e países socialistas.
Muitos autores consideram entre os custos sociais do desenvolvimento capitalista, a ocorrência cíclica de
situações de desemprego generalizado, com as habituais sequelas. Este deverá ser, pois, nesta óptica, outro
elemento a ter em conta quando se comparam dois ou mais países.
Síntese
O rendimento nacional, ainda que rigorosamente avaliado, não permite proceder a seguras comparações
no espaço nem a seguras comparações no tempo.
Ora, a tudo isto acresce que o cálculo do rendimento nacional, dada a grande variedade das mercadorias
produzidas e a multiplicidade dos seus preços, está sujeito a muitos erros, e a tanto mais quanto mais imperfeitos
forem os serviços de notação estatística.
Sem dúvida que a problemática do bem-estar material das populações não pode ver-se desligada do
crescimento económico, embora o mero crescimento do PNL não esgote todas as dimensões do desenvolvimento
económico, enquanto caminho para a plena realização de todas as potencialidades do homem.
Mas hoje os economistas começam a ter bem presente que nem tudo o que faz aumentar o PNL pode
contabilizar-se como factor de melhoria do bem-estar material dos povos.
Regra geral, as contabilidades nacionais não descontam estes custos sociais ao valor do PNL e contabilizou
no PNL as actividades desenvolvidas, em certos casos, para tentar anular aqueles custos.
Para calcular o bem-estar económico líquido, Samuelson propõe adicionar ao PNL rubricas como o valor
dos tempos livres e dos serviços das donas de casa, deduzindo-lhe, simultaneamente, os custos da poluição que
não se costumam pagar, os inconvenientes das urbanizações modernas e outros ajustamentos deste tipo.
Mercados e preços
O novo rumo da teoria do valor
Em McCulloch aparece pela primeira vez uma concepção subjectiva do valor, defendendo o autor que o
trabalho se mede pelo “sacrifício daqueles que o realizam”.
Nassau Senior veio depois sustentar a sua teoria da abstinência, apresentando a abstinência como
segundo elemento do valor. É este, simplificadamente, o seu raciocínio: todo o capital provém de dinheiro que
poderia ter sido consumido. Para poupar o seu dinheiro, o capitalista sacrifica, pois, o seu consumo imediato, e é
este sacrifício que lhe permite adquirir os instrumentos de produção. Ora este sacrifício, esta abstinência devem
ser recompensados, tal como o trabalho.
Nestes termos, o lucro deixa de ser considerado como um “excedente”, pois o valor de um bem era igual
ao trabalho necessário para o produzir mais a abstinência do detentor dos capitais.
Sendo assim, o custo monetário seria igual a salários mais lucros, o mesmo se verificando com o preço do
mercado. E assim se concluía que os valores do mercado coincidiam com o custo real.
Apareciam agora duas componentes do custo real (trabalho e abstinência), qualitativamente diferentes,
não se vendo como fundi-las para obter uma quantidade única, o custo real (valor).
Para além da dificuldade inerente a este dualismo de base, há ainda a dificuldade de definir os limites
relevantes do sacrifício: deve contar-se o sacrifício dos que se abstêm da disposição de uma riqueza herdade ou
o sacrifício de poupar um rendimento de todo em todo inesperado? “Se utilizarmos sacrifício em algum sentido
que seja fundamental, então não são os homens ricos do mundo os que fazem o sacrifício contido na acumulação
de capital. O sacrifício estará nas receitas menores e no consumo estreito duma classe que permite a outra classe
gozar as suas rendas privilegiadas”.
A nova estrutura da análise económica assenta no raciocínio marginalista.
Cournot preocupou-se fundamentalmente com a análise das condições da troca e da formação dos
preços, sistematizando os diferentes aspectos que o problema assume nos vários tipos de mercado. A Cournot
deve-se ainda a elaboração do conceito de elasticidade da procura.
A Alfred Mashall deve-se o esforço no sentido de conciliar as teorias das escola clássica com o
pensamento marginalista, especialmente no respeitante à formação dos preços e à distribuição dos rendimentos.
Na teoria da formação dos preços, Marshall distinguiu e introduziu na análise económica as noções de curto prazo
e longo prazo. No curto prazo, a oferta é considerada constante, ressaltando a influência dominante da procura, a
justificar a aceitação da teoria marginalista da formação do preço com base na utilidade dos bens; no longo prazo,
ganham relevo as variações da oferta e o andamento dos custos de produção em função das quantidades
produzidas.
A teoria da repartição de Marshall explica a formação das várias classes de rendimentos mediantes os
esquemas gerais da formação dos preços.
A lógica do marginalismo
A utilidade marginal
Na óptica dos clássicos, o valor não poderia entender-se como função da utilidade, porque alguns bens
(água) têm reduzido valor apesar da sua grande utilidade, enquanto que outros (ouro), apesar da sua pouca
utilidade, têm grande valor.
A descoberta dos marginalistas traduz-se na afirmação de que o preço, não podendo entender-se,
efectivamente como função de uma soma de utilidades, é função de um aumento de utilidade – da utilidade
adicional oferecida ao consumidor pela unidade marginal de uma oferta dada. Este aumento de utilidade é que
determinaria o valor: “O trabalho determina a oferta e a oferta determina o grau de utilidade, que comanda o
valor ou a relação de troca. O trabalho determina o valor, mas só de modo indirecto, ao variar o grau de utilidade
das mercadorias por meio de um aumento ou limitação da oferta”.
Em face da impossibilidade de exprimir quantitativamente o valor de uso, os marginalistas seguiram o
sistema de exprimir quantitativamente as necessidades que podem satisfazer-se com aquele valor de uso,
estabelecendo, para tanto, escalas individuais de necessidades. Daí que, a seu respeito, se fale da teoria
subjectiva do valor.
Os marginalistas partem do carácter individual das necessidades e consideram o valor de troca como um
vínculo subjectivo entre o indivíduo e a coisa.
A utilidade é subjectiva
Os bens são objecto do mundo externo aptos para satisfazerem necessidades. Utilidade é a aptidão das
coisas para a satisfação de necessidades.
Queremos com isto dizer aptidão que as coisas têm, ou aptidão que nós lhes atribuímos?
As necessidades são nossas; nós é que as sentimos. Logicamente, as coisas e a sua utilidade hão-de ser
vistas por cada um de nós. Daí que do nosso juízo dependa a utilidade das coisas do mundo externo. E, deste
modo, podemos definir, e agora com exactidão: utilidade é a aptidão real ou simplesmente presumida das coisas
para satisfazerem necessidades.
No fundo, a utilidade depende de dois factores:
1) Das nossas necessidades;
2) Da aptidão que, para as satisfazerem, reconhecemos às coisas.
Ora as necessidades são nossas; também somos nós, sujeitos das relações económicas, que
reconhecemos às coisas aptidão para as satisfazerem. Logo, sendo subjectivos os dois factores de que depende,
terá a utilidade, necessariamente, de ser também subjectiva.
Ela não é propriedade das coisas, mas qualidade que nela vemos. E como as necessidades são diferentes
de indivíduo para indivíduo, daí que o mesmo objecto possa ser útil para um e inútil para outro. Daí também que o
mesmo objecto, sendo hoje útil para qualquer de nós, possa amanhã deixar, por completo, de o ser.
Sob qualquer aspecto, portanto, a utilidade é sempre subjectiva: tanto encarada sob o ponto de vista da
satisfação das necessidades, que variam de indivíduo para indivíduo, como sob o aspecto da aptidão das coisas,
que pode mesmo não ser uma aptidão real mas, apenas, a que nós lhes atribuímos.
Significa isto que as necessidades são saciáveis. Mas significa que a intensidade de qualquer necessidade
diminui à medida que vamos aplicando bens a sua satisfação.
E se, de facto, a intensidade das necessidades diminui à medida que vamos aplicando bens à sua
satisfação, a utilidade de cada um desses bens há-de decrescer à medida que o seu número aumenta.
E assim chegamos à lei da utilidade decrescente: a utilidade dos bens destinados à satisfação de qualquer
necessidade decresce com o aumento da quantidade disponível desses bens, de tal modo que a utilidade de cada
uma das unidades é inferior à da unidade precedente. O que decresce não é a utilidade total mas a utilidade
marginal ou final. Por isso, quando enunciamos a lei da utilidade decrescente, estávamos a enunciar a lei do
decréscimo da utilidade marginal ou final.
Valor subjectivo
Consideraremos um sujeito que dispõe de vários exemplares de certo bem, sendo estes absolutamente
iguais. Terão todos a mesma utilidade? Não têm, ou porque satisfazem graus de intensidade diferente da mesma
necessidade, ou até porque satisfazem necessidades diferentes.
Mas deverá aferir-se a utilidade de cada um pela intensidade da necessidade que satisfaz? Por exemplo:
a água. Certo sujeito dispõe de diversas vasilhas com água, perfeitamente iguais, contendo precisamente a mesma
quantidade de líquido. A água contida em cada uma das vasilhas destina-se à satisfação de necessidades
diferentemente intensas. A primeira vasilha está afecta à satisfação da necessidade mais intensa: contém água
para beber; a segunda satisfaz uma necessidade já menos premente, pois contém água para cozinhar; e assim a
terceira, que se destina a lavar o corpo, e a quarta, que servirá para limpeza da casa.
A água contida em dada vasilha terá uma utilidade aferida pela intensidade da necessidade que visa
satisfazer? Não tem, pois as vasilhas são perfeitamente iguais, e, sendo iguais, são permutáveis.
Admitamos que o seu dono entorne a primeira, isto é, aquela que satisfazia a necessidade mais intensa.
Irá ele, por acaso, deixar de beber? Evidentemente que não: pega na última e põe-na no lugar da entornada.
Qual era, então, para ele, a utilidade da água contida na primeira vasilha? Por outras palavras: que
utilidade perdeu, entornando-a? Perdeu a utilidade da vasilha que a veio substituir, isto é, a que se destinava à
satisfação da necessidade menos intensa; no caso concreto, deixou de lavar a casa. Perdeu, pois, a utilidade
marginal ou final.
Mostra-se, assim, que a utilidade da primeira vasilha, como aliás a qualquer outra, é a utilidade marginal.
Quer dizer: à medida que se reduz número de unidades disponíveis de um bem cresce a utilidade marginal da
oferta e, portanto, o valor de cada exemplar do bem; à medida que aumenta o número de unidade diminui a
utilidade marginal da oferta e decresce o valor de cada unidade desse bem.
A utilidade de qualquer dos exemplares simultaneamente disponíveis decerto bem afere-se pela utilidade
marginal desse bem. E, dizendo isto, estamos a enunciar a lei da utilidade marginal. Mas a utilidade de um bem é
aquilo que ele vale para nós, é o valor que subjectivamente lhe atribuímos. Logo, o valor subjectivo de uma bem é
a utilidade marginal desse bem. A raridade do bem e a intensidade da necessidade que ele satisfaz é que
determinam o valor do bem.
Se as coisas valem pela sua utilidade, como se explica que, às vezes, as coisas mais úteis valham menos
do que as outras? A água é muito útil no sentido de ter uma grande utilidade inicial. Mas como em regra podemos
dispor de muitos exemplares desse bem, a sua utilidade marginal é quase nula. O ouro tem uma utilidade inicial
muito menor, mas como dispomos de objectos de ouro em muito pequena quantidade, a sua utilidade marginal é
muito elevada.
O valor de troca
Se o valor de troca dos bens é a sua utilidade marginal, então, ninguém estará disposto a trocar uma coisa
por outra que tenha utilidade marginal inferior. Com efeito, só se compreende que os bens se troquem quando o
que se dá tem menor valor subjectivo que aquilo que se recebe.
Um agricultor (A) dispõe de trigo e, suponhamos que lhe atribui a utilidade marginal de 4; mas não dispõe
de fazendas, e atribui a uma unidade delas (1 metro) a utilidade de 12. Nestas condições, é claro que A está
disposto a trocar uma unidade de trigo por uma de fazendas.
De seu lado, um industrial (B) dispõe de fazendas, mas não de trigo. Simplesmente, atribui às fazendas
uma utilidade marginal de 6, e a uma unidade de trigo a utilidade de 3. Nestas condições, é claro que B não está
disposto a trocar uma unidade de fazendas por uma de trigo.
A troca de uma unidade de trigo por uma unidade de fazendas só será possível quando, para A, a utilidade
marginal de T seja menor que a de F, e, para B, a utilidade de F seja menor que a de T.
Para haver troca, portanto, é preciso que a relação entre as utilidades marginais de T e F, para A, seja
diversa da relação entre as utilidades marginais de T e F, para B. É preciso, por outras palavras, que haja diferença
nas utilidades marginais comparadas.
Troca-se 1T por 1F. A passa a ter mais fazendas e menos trigo: diminui, para ele, a utilidade
marginal das fazendas e aumenta a do trigo. O mesmo se dá com B. Depois, troca-se uma segunda unidade de T
por uma segunda unidade de F, … até que a utilidade marginal do trigo possuído por A iguala a utilidade marginal
das fazendas por ele adquiridas, e a utilidade marginal das fazendas possuídas por B iguala a utilidade marginal do
trigo por ele obtido. Quando isso sucede, nenhum dos permutantes tem interesse em prosseguir na troca. Atinge-
se, assim, uma posição de equilíbrio, que é definida pela igualdade das utilidades marginais dos bens que cada
permutante possui – o equilíbrio da troca.
O valor de troca de um bem é a quantidade de outro bem que se permuta por uma unidade do primeiro.
O equilíbrio da troca
Com a intervenção da moeda, não se modifica a posição de equilíbrio da troca. Simplesmente, o equilíbrio
atingir-se-á, agora, quando as utilidades marginais dos bens adquiridos igualem a utilidade marginal da moeda (M)
de que se fica a dispor.
Quer dizer: o lavrador troca M por F até que se parifiquem a utilidade marginal da moeda que lhe resta; o
industrial, por seu lado, troca M por T até que se igualem a utilidade marginal de T (que compra) e a utilidade
marginal da moeda com que fica.
Simplesmente, supusemos que os valores de troca fossem de 1 (1T=1F) e, portanto, pudemos supor que
os preços fossem de 1 também (1T=1$; 1F=1$). Mas não é isso o que geralmente acontece: geralmente, os valores
de troca são diferentes de 1 e, por isso, a posição de equilíbrio, isto é, a igualdade das utilidades marginais, não se
atinge quando a utilidade das unidades adquiridas se parifica com a utilidade da unidade de moeda, e sim quando
a utilidade daquelas se parifica com a utilidade de mais de uma unidade desta. Por exemplo: 5T=1F; 1F=50$;
1T=10$
Ora, chama-se utilidade marginal ponderada à utilidade marginal de um bem dividida pelo respectivo
preço. Assim: se a utilidade marginal das fazendas for de 10, será de 2 a utilidade marginal do trigo. Ou seja:
10/50= 0,2; 2/10= 0,2
Esta utilidade de 0,2 é que se parifica com a utilidade marginal da moeda, isto é, com a utilidade de 1$.
Daqui se conclui que o equilíbrio da troca se atinge quando se igualam as utilidades ponderas de todos os bens
adquiridos.
Lei da procura
Supondo constantes as necessidades e o rendimento de um certo sujeito e o nível dos preços dos
restantes bens, a quantidade de um determinado bem que esse sujeito está disposto a procurar depende do preço
desse mesmo bem.
Exemplo: certo indivíduo dispõe de 70$ para gastar e pode utilizá-los na compra da mercadoria A, que é
aquela cuja procura pretendemos conhecer, e da mercadoria B, na qual simbolizamos todos os outros bens; o
preço de ambas as mercadorias é de 10$ e são estas as utilidades respectivas:
A B
I 9 12
II 8 11
III 7 10
IV 6 9
V 5 8
VI 4 7
Pelo princípio da igualação das utilidades marginais ponderadas, o nosso homem compras, com os 70$, 2
unidades de A e 5 de B. Com efeito, a segunda e a quinta unidades de A e B têm a mesma utilidade de 8.
Admitamos, agora, que o preço de A desça para 5$, continuando de 10$ o preço de B. O nosso homem
tem interesse em comprar agora:
Utilidade Despesa
2A 17 10$
2A 13 10$
1B 12 10$
1B 11 10$
1B 10 10$
2A 9 10$
1B 9 10$
Tem interesse, pois, em comprar 6A e 4B. Isto é: as quantidades procuradas aumentam quando o preço
baixa. Eis a lei da procura: as quantidades procuradas variam em sentido inverso ao do preço.
Lei da oferta
Oferta individual de determinado bem é a quantidade desse bem que certo sujeito está disposto a vender.
Verifica-se aqui o mesmo fenómeno que no domínio da procura: a oferta depende do preço.
Suponhamos que o preço do kg de batatas é de 20$00, e que um lavrador atribui às unidades sucessivas
de batatas e de moeda as seguintes utilidades:
Batatas Moeda
20$00 10$00
I 4 12 6
II 5 10 5
III 6 8 4
IV 7 7 3,5
V 8 6 3
É claro que o nosso lavrador está disposto a vender 4 kgrs de batatas ao preço de 20$00. Ao preço de
10$00, porém, só venderia 2 kgrs.
Quer dizer: as quantidades oferecidas variam no mesmo sentido do preço: aumentam, quando o preço
sobre; diminuem, quando o preço baixa. É a lei da oferta.
Como se justifica na lógica do marginalismo, a lei da oferta, tal como ficou explicada, se se aceita que os
bens postos à venda não têm utilidade directa para quem os oferece? Justifica-se alegando que aquelas batatas,
todos os bens de que os vendedores dispõem em quantidades tais que a sua utilidade marginal se torna nula, se é
certo que não têm para ele utilidade directa, têm-na indirecta, pois podem ser, através da venda, trocados,
transformados em dinheiro.
A Procura
Quando se fala de lei da procura, pretende-se significar, com a palavra procura, não a quantidade
procurada a certo preço, mas a série das quantidades procuradas aos vários preços possíveis, ao longo de um
período de tempo determinado.
Há, portanto, uma relação funcional entre a procura e o preço: aquelas, são a variável dependente, o
preço é a variável independente: d=f(p)
Não quer dizer que as quantidades procuradas apenas variem em função do preço. Vários factores
influenciam as quantidades procuradas de determinada mercadorias: as necessidades, os rendimentos, os preços
dos outros bens, a expectativa acerca da evolução futura dos preços e o preço dela própria. Mas é este último o
susceptível de variar mais rapidamente e, portanto, de exercer maior influência a curto prazo.
O resultado desta equação pode variar entre zero e infinito. Se o resultado for zero, diz-se que a procura
é rígida, perfeitamente inelástica ou absolutamente inelástica; se o resultado for infinito, diz-se que a procura é
infinitamente elástica ou de elasticidade perfeita. Normalmente, porém, os bens terão uma procura de
elasticidade maior do que um ou menor do que um.
Diz-se que a procura é elástica (de elasticidade maior do que um) quando o quociente obtido é maior do
que um. Considera-se que a procura é inelástica (ou de inelasticidade menor do que um) quando o quociente
obtido é menor do que um. Diz-se que a procura é de elasticidade igual a um quando o quociente obtido igual a
um.
A situação que aqui fica representada mostra que as quantidades procuradas do bem em causa
aumentam 4 unidades por cada diminuição de 1 escudo no preço do bem. Na zona em que os preços são baixos e
as quantidades procuradas são elevadas o aumento de 4 unidades da procuram resultantes da diminuição de 1
escudo no preço representa uma pequena variação percentual da quantidade procurada, enquanto que a
diminuição de um escudo no preço representa uma grande variação percentual do preço. Na zona de preços
elevados e de pequenas quantidades procuradas, verifica-se o inverso: a variação de 4 unidades da procura
representará uma grande variação percentual da quantidade procurada, enquanto que a variação de 1 escudo no
preço representará agora uma pequena variação percentual do preço.
Nas três hipóteses descritas nos gráficos o preço baixa de P1 para P2 e, consequentemente, a quantidade
procurada aumenta de Q1 para Q2. Em todos os casos, a baixa do preço provoca uma diminuição da receita (área
marcada com o sinal menos), mas o consequente aumento da procura provoca um aumento da receita (área
marcada com o sinal mais).
Podemos agora observar que, no gráfico 1, a área (+) é superior à área (-): a receita total aumenta quando
o preço baixa. Quer dizer: na zona dos preços mais elevados, a curva da procura representa uma elasticidade
maior do que um, isto é, a baixa do preço provoca um aumento das quantidades procuradas mais do que
proporcional à diminuição preço, provocando não só um aumento das quantidades procuradas mas também um
aumento da despesa ( =receita total).
No gráfico 2, a área (+) é inferior à área (-): a receita total diminui quando o preço baixa. Isto é: na zona
dos preços baixos, a curva da procura apresenta uma elasticidade menor do que um, ou seja, a baixa do preço
provoca um aumento das quantidades procuradas menos que proporcional à diminuição do preço, pelo que este
aumento das quantidades procuradas implica uma diminuição da despesa total (=receita total).
No gráfico 3, a área (+) é igual à área (-): a receita total não se altera pelo facto de o preço baixar. Ao nível
de preços considerado nesta hipótese, a curva da procura apresenta uma elasticidade igual a um: a diminuição
percentual do preço provoca um igual aumento percentual das quantidades procuradas, o que significa que este
aumento de D se limita a compensa a diminuição de P, mantendo-se a despesa total (=receita total).
A despesa total dos compradores é igual à receita total dos vendedores. E, para estes, é importante,
conhecer a elasticidade da procura, para perspectivarem os efeitos das variações do preço do bem que vendem
sobre as suas receitas globais. A despesa total atinge o valor máximo (625) quando o preço é 12,50, isto é, quando
a elasticidade do preço da procura é igual a um. A qualquer preço superior a este o vendedor pode aumentar a sua
receita total baixando o preço; a qualquer preço inferior a 12,50 o vendedor pode aumentar a receita global
aumentando o preço.
Perante uma procura inelástica, a diminuição da oferta faz subir o preço dos produtos agrícolas, enquanto
que o aumento da oferta, perante uma procura praticamente inalterada, provoca a baixa de preços.
elasticidade
Este novo conceito permite avaliar em que medida os bens são sucedâneos próximos um dos outro ou são
bens complementares estreitamente relacionados entre si.
Se os bens forem sucedâneos, o aumento do preço do bem A provocará o aumento da quantidade
procurada do bem B, dizendo-se que a elasticidade cruzada da procura é positiva. Este caso pode representar-se
por uma curva crescente ou de inclinação positiva. O valor da elasticidade cruzada será tanto mais elevado quanto
maior for o grau de sucedaneidade entre os bens considerados.
Se os bens forem complementares, o aumento do preço do bem A provocará a diminuição da quantidade
procurada do preço do bem B, dizendo-se que a elasticidade cruzada da procurada é negativa. Este caso pode
representar-se por uma curva descendente ou de inclinação negativa. O valor (negativo) da elasticidade cruzada
será tanto mais elevada quanto mais estreita for a relação entre os bens complementares considerados.
Quando os bens considerados apresentam entre si um elevado grau de sucedaneidade, a variação do
preço de um deles provocará uma variação da procura do outro, no mesmo sentido da variação do preço e em
maior medida que esta. Por exemplo: o preço do bem A aumenta 1% e a quantidade do bem B aumenta 4%. A
elasticidade cruzada é positiva e muito elevada (+4% / +1%) = 4. Diz-se que estes dois bens fazem parte do mesmo
“produto”, são produzidos pela mesma “indústria”, são oferecidos e procurados do mesmo “mercado”.
Se o grau de sucedaneidade é baixo, o aumento de 1% do preço de A provocará apenas o aumento de
0,2% da quantidade procurada de B.
A elasticidade cruzada é agora muito baixa (+0,2/+1% =0,2), tratando-se de bens muito diferenciados, que
não são o mesmo “produto”, que são oriundos de “indústrias” diferentes e que se destinam a “mercados”
diferentes.
A elasticidade-rendimento da procura
A variação do rendimento dos compradores é um dos factores que podem influenciar a procura, isto é, a
série das quantidades procuradas aos vários preços possíveis. Quando tal acontece, verifica-se uma deslocação da
curva da procura. A curva da procura desloca-se para cima e para a direita e passam a procurar-se mais
quantidades de um determinado bem aos vários preços possíveis; desloca-se para baico e para a esquerda, se
diminui a quantidade procurada desse bem aos vários preços possíveis.
Designa-se elasticidade-rendimento da procura o conceito que nos permite definir a relação entre a
variação do rendimento dos compradores de um bem e a variação da procura desse bem. Elasticidade-rendimento
da procura é a variação percentual da quantidade procurada de um bem provocada pela variação de 1% do
rendimento dos compradores.
elasticidade –rendimento
Para a generalidade dos bens, o rendimento dos compradores e a quantidade procurada variam no
mesmo sentido, dizendo-se que a elasticidade-rendimento da procura é positiva.
Para os bens de qualidade inferior dentro de cada categoria, no entanto, a sua procura, em regra,
diminuirá quando o rendimento aumenta: os consumidores procuram, neste caso, modelos que consideram de
melhor qualidade, diminuindo a procura dos “bens inferiores”. Diz-se que a elasticidade-rendimento da procura é
negativa (o rendimento dos compradores e a quantidade procurada variam em sentidos opostos).
Diz-se que a elasticidade-rendimento da procura é igual a zero quando a quantidade procurada não varia,
qualquer que seja a variação do rendimento.
Os bens de primeira necessidade são, em regra, objecto de uma procura cuja elasticidade-rendimento é
positiva, mas menor do que um, isto é, a quantidade procurada destes bens aumenta à medida que o rendimento
aumenta, mas em menor proporção que o aumento do rendimento. Quer dizer: à medida que aumenta o
rendimento dos consumidores diminui a parte das despesas em bens de primeira necessidade no conjunto da
despesa total das famílias enquanto unidades de consumo – Lei de Engel.
Ao contrário, os bens de luxo são, em regra, objecto de uma procura cuja elasticidade-rendimento é
positiva e maior do que um. Verificada a condição coeteris paribus, a quantidade procurada desses bens aumenta
à medida que o rendimento aumenta, mas em maior proporção que o aumento do rendimento. Isto significa que a
parte da despesa em bens de luxo no conjunto da despesa das pessoas vai aumentando à medida que os seus
rendimentos aumentam.
A procura à empresa
A curva anterior é a curva da procura à indústria e refere-se à procura de um produto, ou à procura que
se dirige à indústria que fornece este produto. Elas diz-nos quais as diferentes quantidades deste produto que
poderão ser vendidas no mercado aos vários preços susceptiveís de ser praticados.
O seu conhecimento pode ter interesse para os vários vendedores desse mesmo produto. Cada um deles
preocupar-se-á, porém, fundamentalmente, com a curva da procura que se dirige à sua empresa, que dizer, aquela
curva que lhe mostra a produção que ele poderá vender no mercado a cada preço possível. A curva da procura à
indústria reflectirá a deslocação da procura de indústria para indústria, quando o preço se modifica. A curva da
procura à empresa reflectirá as deslocações da procura de um vendedor para outro no seio da indústria.
Dependerá, portanto, das relações concorrenciais existentes entre o vendedor e os que produzem o mesmo bem
que ele, ou bens que são substitutos próximos do seu.
A curva da procura à empresa é comandada pelas principais características da indústria, que podem ser
reduzidas a quatro:
a) O número de vendedores que pertencem à indústria: este número é importante, porque
determina a medida em que os vendedores individuais podem influenciar o comportamento global da indústria e
dos seus rivais. É claro que a situação será diferente, conforme haja um único vendedor, um pequeno número de
vendedores ou um grande número de vendedores;
b) A diferenciação do produto no seio da indústria: a importância deste factor advêm de que
ele determina a medida em que a empresa goza de uma certa independência na fixação do preço do seu produto,
assim como os meios de que dispõe para influenciar ou manter o seu volume de vendas;
c) O grau de concentração da produção entre os vendedores, quer dizer, as proporções da
produção da indústria asseguradas pelos diversos vendedores;
d) O número de compradores que se dirigem à indústria.
A curva da procura à empresa não é mais do que a curva de vendas da empresa ou a sua curva
de receita média. Distinguiremos no estudo da formação dos preços três curvas de receitas:
1 – A curva da receita total mostra o montante das receitas da empresa a diversos níveis da sua
produção ou das suas vendas. Ela é, portanto, do ponto de vista da empresa, equivalente à curva que representa
as despesas totais dos consumidores na compra do produto da empresa;
2 – A curva da receita média deduz-se da curva precedente. Indica a receita por unidade de
produto, ou o preço de unidade de produto;
3 – A curva da receita marginal mostra a adição à receita total proveniente da venda de uma
unidade suplementar (marginal) do produto.
Oferta
A noção de oferta e a curva da oferta
O interesse do indivíduo em vender pode representa-se por um quadro que indique as quantidades que
ele está disposto a vender aos vários preços possíveis – é a escala da oferta.
Também aqui se pode explicar este comportamento da oferta fazendo apelo ao efeito-substituição e ao
efeito-rendimento.
Baixando o preço de um bem (batatas)em relação ao que vinha sendo praticado, desse facto vão resultar
dois efeitos:
Um efeito-substituição: alguns dos vendedores, que estavam dispostos a transacionar
determinadas quantidades de batatas ao preço de 10$00, recusam-se a transaccioná-las por 5$00, em virtude de
não considerarem este preço suficientemente remunerador, retirando-se do mercado e estocando-as, à espera de
melhores dias;
Um efeito-rendimento: outros vendedores que transacionavam determinadas
quantidades de batatas ao preço de 10$00 para obterem certa soma de dinheiro de que necessitavam
imediatamente, vêem-se obrigados a aumentar a sua oferta ao preço de 5$00. Na verdade, só assim, só
aumentando a oferta, é que eles conseguem realizar a soma pretendida.
O efeito-substituição traduz-se na diminuição da oferta com a baixa do preço; mas o efeito-rendimento
traduz-se no seu aumento. São efeitos, pois, que actuam em sentidos contrários, diversamente do que sucede no
domínio da procura, em que o efeito-rendimento, salvo casos excepcionais, age no mesmo sentido do efeito-
substituição.
Todavia, a verdade é que o efeito-substituição tem aqui geralmente mais força que o efeito-rendimento. E
é por isso que, também geralmente, a oferta diminui quando o preço baixa e aumenta quando o preço sobe.
Esta mesma situação pode observar-se no “mercado do trabalho”, no qual os trabalhadores vendem a sua
força de trabalho, a mercadoria que constitui a única fonte de rendimento daqueles que a vendem. Neste caso, a
excepção à curva da oferta pode manifestar-se ainda pela diminuição da oferta quando o preço (do salário)
aumenta. Atentemos na curva atípica da oferta:
Para níveis baixos dos salários(na zona entre Q y e Qz), quando o preço (salário) baixa, a oferta aumenta.
Quando o salário baixa de P para P 1, a oferta aumenta de Q para Q 1: os trabalhadores, perante a exiguidade do
salário, ainda mais baixo do que já era, dispõem-se a trabalhar horas extraordinárias, nos sábados, domingos e
períodos de férias; muitos casais põem os filhos a trabalhar para outrem, mesmo antes da idade mínima prevista
na lei.
Na zona de salários elevados (entre O e O x), a oferta pode diminuir quando o salário aumenta. Perante um
aumento do salário de P 2 para P3, a oferta diminui: auferindo já rendimentos elevados, os trabalhadores, perante
um aumento do salário, podem preferir gozar um maior período de férias e recusar trabalhar horas
extraordinárias, bem como nos sábados e domingos, ao mesmo tempo que algumas mulheres casadas poderão
abandonar a sua actividade profissional.
O comportamento da oferta corresponderá ao de uma curva típica da oferta apenas na zona intermédia
(entre Ox e Oy).
A noção e o traçado da curva da oferta pressupõe certas condições:
a) Os custos de produção são dados: se estes diminuíssem, os produtores aceitariam
oferecer as mesmas quantidades que anteriormente a preços mais baixos ou oferecer mais aos preços praticados;
b) Por outro lado, os preços dos substitutos do produto são dados;
c) Admite-se, finalmente, que uma determinada variação do preço é considerada como a
única possível pelos produtores. Com efeito, se estes esperam uma variação ulterior do preço, irão restringir a sua
oferta, se previrem uma alta de preços, e irão aumentar a sua oferta, se previrem que os preços vão baixar.
Quando as condições que acabam de ser indicadas se modificam, as variações consequentes da oferta
traduzem-se numa deslocação da curva da oferta.
Se a curva da oferta se desloca para baixo e para a direita ( de S para S 1), isso significa que, nas novas
condições de mercado, os vendedores estão dispostos a vender mais quantidades do bem a cada um dos vários
preços possíveis. Se a curva da oferta se desloca de S para S 2, isto é, para cima e para a esquerda, isso significa que,
nas novas condições do mercado, os vendedores só aceitam vender, a cada um dos vários preços possíveis,
quantidades inferiores às que estavam dispostos a vender.
Mantendo-se inalteradas as condições que constituem os pressupostos de uma dada curva da oferta, isto
é, podemos enunciar a lei da oferta: as quantidades oferecidas variam, ao longo da curva da oferta estabelecida,
no mesmo sentido das variações do preço. Ou seja: o oferta é função do preço e, em regra, a oferta aumenta
quando o preço sobre e diminui quando o preço baixa.
A elasticidade da oferta
Utiliza-se o conceito de elasticidade da oferta, que podemos definir como a relação entre as variações
percentuais do preço de um bem e as variações percentuais das quantidades oferecidas desse bem, admitindo que
se mantêm constantes todos os outros factores susceptiveís de influenciar as quantidades oferecidas.
À semelhança do que vimos para a elasticidade-preço da procura, a elasticidade-preço da oferta pode
calcular-se a partir da fórmula:
Es = variação percentual da quantidade oferecida
Variação percentual do preço
Como a curva da oferta é uma curva ascendente, de inclinação positiva, a elasticidade da oferta é sempre
positiva. Diz-se que a oferta é elástica quando o quociente obtido através da fórmula acima referida é maior do
que um. A oferta é inelástica quando esse quociente é menor do que um.
Em ambos os mercados acima afigurados ocorreram alterações que provocam uma deslocação da
curva da procura de D para D’. Admitindo que as condições que influenciam a oferta se mantêm, vão verificar-se
ajustamentos do preço e das quantidades que os vendedores estão dispostos a oferecer, ao longo da curva da
oferta. A dimensão das variações do preço e das quantidades oferecidas depende do perfil da curva da oferta.
No gráfico (a),o aumento percentual da oferta é superior ao aumento percentual do preço que lhe
deu origem: dentro daquele nível de preços, a elasticidade-preço da oferta é maior do que um. No gráfico (b), o
aumento percentual da oferta é inferior ao aumento percentual do preço que lhe deu origem: dentro deste nível
de preços, a elasticidade-preço da oferta é menor do que um.
A oferta é mais sensível à variação do preço ao longo da curva Sa do que ao longo da curva Sb. Mas,
à semelhança do que acontece com a procura, a inclinação da curva da oferta não pode utilizar-se para comparar a
sensibilidade da oferta à variação do preço em mercados diferentes.
As situações de oferta elástica e de oferta inelástica são as que mais correntemente se verificam na
vida real.
A oferta será elástica quando existem recursos desempregados. Se uma dada indústria trabalha
a baixo da sua capacidade, ela pode aumentar a sua produção de imediato sem precisar de aumentar as
instalações ou os equipamentos.
A oferta tenderá a ser inelástica nas situações de pleno emprego de todos os elementos da
produção. Neste caso, a produção (oferta) só pode aumentar graças ao aumento da produtividade, o que nem
sequer é fácil de conseguir, ao menos a curto prazo.
Se tomarmos o mercado interno de um dado país, a oferta do bem considerado pode continuar
a ser elástica se for possível recorrer às solicitações do mercado. Há que ponderar, no entanto, as implicações ao
nível da balança de pagamentos.
A oferta é em geral bastante inelástica, a curto prazo, quando se trata de produtos agrícolas,
uma vez que as quantidades produzidas em um dado ano dependem da área semeada e cultivada na própria
altura.
A inelasticidade da oferta verificar-se-á durante períodos de tempo relativamente longos
quando se trata de produtos que implicam plantações que levam vários anos para dar frutos. Nestas situações, é
também difícil para os produtores reduzirem a produção para se defenderem de uma baixa do preço.
Em muitas indústrias transformadoras ou extractivas pode igualmente demorar muito tempo o
aumento da capacidade de produção, e, portanto a possibilidade de aumentar a oferta.
NOTA: nos dois pontos anteriores, a pressão da procura provoca em regra (acentuados) aumentos do preços do
bem em causa.
Em termos gerais, diremos que a possibilidade de expandir a oferta depende do período de
tempo considerado.
Mas a extensão da oferta depende também das diferentes possibilidade de tempo de que se
dispõe para aumentar a produção. Distinguem-se habitualmente diversos períodos relacionados com o aumento
da oferta.
a) Quando o período de tempo é demasiado curto para que a produção possa variar,
diz-se que se está num período de mercado. Se o vendedor dispõe de uma quantidade fixa e determinada de um
bem, tomará a sua decisão de oferta em função do preço corrente no mercado e dos preços esperados.
b) Chamar-se-á período curto aquele cuja duração já permite fazer variar a produção,
mantendo-se embora constantes os equipamentos: é apenas a taxa de utilização dos equipamentos existentes que
se modifica;
c) Chamar-se-á período longo àquele durante o qual a capacidade produtiva e os custos
da produção da empresa se podem modificar, porque pode variar a natureza, a quantidade e a dimensão dos
equipamentos, a dimensão e a organização da empresa.
Pode dizer-se que a elasticidade da oferta de um bem variará consoante o período considerado,
tendendo a ser mais elevada em período curto do que em período de mercado e mais elevada em período longo
do que em período curto.
A) Qualquer
empresa tem
custos fixos. São aqueles custos que, em período curto, são
independentes do volume de produção e que, de qualquer maneira, deverão ser suportados pela empresa, se ela
pretender permanecer em actividade. Esses custos compreendem, por exemplo, as despesas de arrendamento e
de iluminação, etc: para uma determinada dimensão da empresa, esses custos permanecem os mesmos qualquer
que seja o volume da produção.
B) Os custos variáveis são aqueles cujo montante acompanha de algum modo o volume da
produção, são os custos de todos os factores cuja quantidade pode ser modificada em período curto: salários,
matérias-primas, energia, transportes.
Faz-se a distinção entre os custos variáveis cuja variação é rigorosamente proporcional à da produção
total (ex.: matérias-primas) e os custos variáveis cuja variação não é rigorosamente proporcional (ex.: as despesas
com salários que se comportam de acordo com a lei dos rendimentos decrescentes).
Que significa dizer-se que certos custos estão sujeitos à lei dos rendimentos decrescentes?
Segundo esta lei, sendo dado um elemento da produção em quantidade fixa e pressupondo inalterada a
tecnologia, a utilização de quantidades adicionais de outros factores variáveis traduzir-se-á em aumento da
produção total, mas, para além de certo ponto, a produção adicional resultante de iguais acréscimos de factores
tornar-se-á provavelmente cada vez menor.
O elemento dado em quantidade fixa, na situação que agora nos ocupa, é o equipamento, pois centrámos
a análise no período curto, e supusemos a técnica constante.
A lei do rendimento decrescente mostra como varia a produção por unidade de custo real dispendida: o
rendimento médio por unidade de custo real começa a aumentar, para diminuir depois, o que significa que a
despesa feita com os elementos produtivos aumenta primeiro menos que proporcionalmente e depois mais que
proporcionalmente ao número de unidades.
Quer dizer: numa 1.ª fase, o rendimento aumenta mais que proporcionalmente em relação ao custo real,
verifica-se um rendimento médio crescente, fase a que corresponde uma fase de custos médios decrescentes; a
partir de certo ponto, o rendimento cresce menos que proporcionalmente em relação ao número de
trabalhadores utilizados a mais, o que significa um rendimento médio decrescente ou custos médios crescentes.
Portanto, quando nos referimos aos custos variáveis sujeitos à lei dos rendimentos decrescentes,
queremos identificar as despesas que em relação ao volume da produção começam por ser proporcionalmente
decrescentes para se tornarem depois proporcionalmente crescentes.
C) O custo global é a soma dos custos variáveis e dos custos fixos.
A diminuição dos custos, numa primeira fase, explica-se pelas economias internas de escala: maior
especialização da mão-de-obra; melhor utilização do capital técnico; produção em massa; melhoramento da
distribuição.
A posterior elevação dos custos deve-se às “deseconomias” de direcção e de administração, que se
agravam em consequência da perda de eficiência que se verifica logo que a empresa ultrapassa uma certa
dimensão.
Mas como se pode compreender que sejam registadas variações nos custos de período longo uma vez
que todos os factores são agora variáveis e que já não há, como no período curto, uma única proporção óptima
de elementos variáveis e de elementos fixos que permita atingir o custo total médio mais baixo? Pareceria,
efectivamente, que se poderia realizar, para qualquer volume de produção, a mais vantajosa combinação de
factores e que, em consequência disso, os custos unitários poderiam permanecer constantes ao nível mínimo.
Esta contradição é apenas aparente. Com efeito, se é certo que todos os elementos da produção podem
ser livremente utilizados em quantidade, eles não são, contudo, infinitamente divisíveis em pequenas unidades.
Muitos deles apresentam-se sob uma forma especializada; além disso, por vezes, apresentam-se sob uma forma
especializada; além disso, por vezes, só podem ser utilizados em grandes unidades.
A baixa do custo total médio, numa primeira fase, explica-se pelo facto de a empresa só poder utilizar
eficazmente os elementos da produção indivisíveis ou em grandes unidades no caso de a produção ser
suficientemente importante para permitir a plena utilização desses factores; se eles não puderem ser
completamente empregados, a empresa suportará custos elevados, custos que diminuirão à medida que a
produção crescer.
Numa fase posterior, o custo total médio eleva-se na razão do rápido aumento dos custos de direcção e
de administração da empresa, uma vez que a dimensão das suas operações cresce. As economias de escala são
sucessivamente compensadas e ultrapassadas pelas perdas de direcção.
A curva do custo total médio será tanto mais aberto quanto mais as perdas de direcção, de controlo e de
administração puderem ser atenuadas ou diminuídas.
É importante distinguir o significado do ponto em questão quando o consideramos em cada uma das
curvas ou como intersecção delas. Como situação de procura/oferta representa a quantidade que o conjunto dos
compradores/vendedores estaria disposto a comprar/vender se o preço fosse aquele; mas, como situação de
equilíbrio no mercado, significa que, dados os conjuntos de situações de procura e de oferta, o único par de
situações que entre si se pode conjugar, dando lugar, portanto, a uma posição realizada, efectiva, de entre todas
as possíveis unilateralmente.
Suponhamos que o preço em vigor no mercado que estudamos era P 1, superior a Pe. Ao preço P 1 a
procura é muito inferior à oferta; e o resultado disso será verem os fabricantes e comerciantes acumularem-se os
estoques nos seus armazéns – estão continuamente a produzir mais do que o mercado absorve. Um caminho
natural de solução, que algumas empresas seguirão, é baixar o preço, pois sabem da experiência anterior que a
menores preços vendem mais; e é isso mesmo que se traduz na curva de procura decrescente. Todavia, também
acontece baixar a oferta quando o preço diminui: é o que diz o andamento da curva da oferta. Tudo conjugado, e
não esquecendo que, naturalmente, atrás dessas primeiras empresas, vão baixar o preços todas as outras, temos
uma redução do desequilíbrio entre oferta e procura: a redução de P 1 para P2 mostra isso mesmo.
Mas se o preço tem de ser de equilíbrio, então, se a oferta aumenta, o preço baixa; se a oferta diminui o
preço sobe. Se a procura aumenta, o preço sobe; se a procura diminui, o preço baixa. E é este comportamento do
preço em função da variação da oferta e da procura que se exprime através da lei da oferta e da procura: os
preços variam em sentido inverso ao da oferta e no mesmo sentido da procura.
Esta lei dá-nos, pois, indicações relativas aos efeitos de uma deslocação da curva da oferta ou de uma
deslocação da curva da procura de um determinado bem sobre o preço de mercado desse bem, desde que, num
casos como no outro, se verifique a condição coeteris paribus.
Figura 6: representa duas hipóteses de deslocação da curva da oferta, a partir da posição de equilíbrio
(Pe, Qe). Se a curva da oferta se desloca para cima e para a esquerda, isso quer dizer que os vendedores estão
dispostos a vender, aos vários preços possíveis, menores quantidades do bem considerado. Se a procura se
mantiver, o preço sobe, vendendo-se menores quantidades desse bem por preço mais elevado. Deslocando-se a
oferta de S para S1, o preço aumenta de Pe para P1.
Figura 7: representa duas hipóteses de deslocação da curva da procura a partir da posição de
equilíbrio, no pressuposto de que a curva da oferta se mantém. Se assim for, o preço sobe de P para P 1 no caso de
a curva da procura se deslocar para cima e para a direita (de D para D 1); o preço baixa de Pe para P 2, ao invés, se a
curva da procura se deslocar de D para D 2.
Neste mercado, o preço tem de ser único. É o que se exprime pela lei da indiferença: no mesmo
mercado e no mesmo momento, não pode haver mais que um preço para a mesma mercadoria.
Pois, se a mercadoria é a mesma, se são iguais todas as unidades oferecidas, torna-se indiferente aos
compradores adquiri-las de qualquer dos vendedores. Por conseguinte, nenhum comprador estará disposto a dar
pela mercadorias mais do que paga qualquer dos outros compradores. Sendo assim, todos vêm a comprá-la pelo
mesmo preço.
Mas, porque preço? Pelo preço de equilíbrio entre as quantidades que os vendedores estão dispostos a
oferecer e as quantidades que os compradores estão dispostos a comprar. No nosso diagrama, pelo preço Ope, ao
qual se oferecem e procuram as mesmas quantidades OQe.
Conclui-se, pois, que em períodos infra-curtos, isto é, em cada momento, nos mercados perfeitos de
concorrência se estabelece um único preço; e que esse único preço é o preço de equilíbrio entre a oferta e a
procura.
É o preço, portanto, que traduz o equilíbrio entre a oferta e a procura feitas em cada momento; por isso
se chama preço de equilíbrio momentâneo. Ou é o preço que corre em cada momento que passa; por isso se lhe
chama também preço corrente.
Mas da circunstância de o preço ser único vai derivar o fenómeno das rendas.
Quer dizer: por virtude da unicidade do preço, os compradores economizam a diferença entre o preço
que estavam dispostos a pagar e aquele por que efectivamente compram. Chama-se a essa diferença, que é um
benefício e constitui como que um rendimento, a renda dos consumidores. Por seu turno, os vendedores ganham
a diferença entre o preço por que estavam dispostos a transaccionar as mercadorias e aquele por que
efectivamente as vendem. Chama-se a tal diferença a renda dos vendedores.
Formalmente, as duas rendas são fenómenos paralelos; mas, no fundo, há pouca semelhança entre
elas. Porque a renda do consumidor é uma renda fugaz, efémera, uma renda que, na generalidade dos casos, surge
e logo desaparece. Os consumidores fazem os seus cálculos com base em elementos subjectivos, dentro os quais
avultam as previsões de preços.
Com a renda dos vendedores não acontece o mesmo. Porque os vendedores determinam o preço
mínimo a que lhes convém vender, em face de um elemento objectivo, que é o custo de produção. Normalmente,
o mínimo preço por que se dispõem a ceder as mercadorias é o preço equivalente ao custo.
Ora, se um qualquer vendedor suporta um custo de 4 e vende a 5, a sua renda persistirá enquanto
continuar a produzir ao custo de 4 e a vender ao preço de 5. A renda dos vendedores não tem, pois, que
desparecer com a fixação do preço. Enquanto os vendedores transacionarem as mercadorias por mais do que o
seu custo, ganharão a diferença, e esse ganho será por eles geralmente considerado renda.
A renda dos vendedores é, em princípio, duradoura. Porque, tendo lucrado na venda das mercadorias a
preço superior ao custo, o natural é que os vendedores tentem aumentar o seu lucro, desenvolvendo a produção
para mais venderem e ganharem. Simplesmente, o aumento da produção e, portanto, da oferta, vai provocar – se
a procura se mantiver constante – a descida do preço. E a descida do preço fará com que diminuam, ou até
desapareçam, as rendas dos vendedores.
Daqui se conclui que o preço de equilíbrio entre a oferta e a procura realiza o equilíbrio do mercado,
mas que este equilíbrio é momentâneo, passageiro. Pois, ainda que a procura não varie nos momentos sucessivos,
é extremamente provável que varie a oferta, que aumente e diminua, e, por conseguinte, que o preço desça e
suba.
E compreende-se que esta posição de parificação do custo marginal = preço do mercado seja aquela
que garante, a uma empresa uma concorrência perfeita, o lucro máximo.
Como a receita marginal (= preço de mercado) é superior ao custo marginal, a empresa tem interesse
em produzir mais essa unidade: da sua vende aufere um lucro adicional ou marginal, correspondente ao
segmento AB, que vai aumentar os lucros globais da empresa.
O lucro global da empresa começa a diminuir quando a posição ultrapassa Qe. Porque, para
quantidades superiores a Qe, o custo marginal de cada uma das sucessivas unidades produzidas é sempre superior
à receita marginal.
Em conclusão: a posição óptima para a empresa é a que se alcança quando a empresa produz (e vende)
as quantidades que obtêm a um custo marginal igual ao preço de mercado (=receita marginal): Qe corresponde à
intersecção da linha do preço com a curva do custo marginal. Eis a
equação de equilíbrio da empresa: P = C marg
E a oferta da empresa? Agora, a dedução é simples:
supondo diferentes valores para o preço de venda, a cada um
corresponderá uma posição de equilíbrio da empresa,
determinada pela igualdade Pe = Cmarg
Observemos, porém, que a igualação do custo marginal
ao preço só interessa às empresas quando trabalham a custos médios
crescentes. A razão do facto é perfeitamente clara. Pois, enquanto o custo médio é decrescente, o custo marginal
é sempre inferior a ele.
Ora, nenhuma empresa pretenderá igualar o custo marginal ao preço enquanto o custo marginal for
inferior ao custo médio, pois, nesta situação, venderia os artigos fabricados a preço igual ao custo marginal, mas
inferior ao custo médio, e sofreria perdas. De sorte que só se põe a qualquer empresa o problema de parificar o
custo marginal com o preço quando aquele seja superior ao custo médio. E o custo marginal torna-se superior ao
custo médio na fase dos custos médios crescentes.
Mas se toda a empresa tem interesse em produzir as quantidades de mercadorias que pode obter a
custo marginal igual ao preço, então, à medida que o preço sobe, tem interesse atingir custos marginais cada vez
mais elevados e, portanto, em aumentar cada vez mais a sua produção. Daí que a produção das empresas seja
maior a preços altos do que a preços baixos.
Por conseguinte, e generalizando: em períodos curtos as empresas oferecerão, a cada preço, aquela
quantidade de mercadorias cujo custo marginal com cada preço se parifique.
E como a subida do preço permite a produção a custos marginais cada vez mais altos, daí que, em
períodos curtos, a oferta das empresas aumente à medida que o preço suba.
Claro que há sempre um limite ao aumento da oferta: o que é posto pela capacidade de equipamento.
As máquinas existentes poderão produzir 1000, 2000 ou 5000 unidades, mas não um número ilimitado delas. De
modo que a oferta só poderá aumentar enquanto puder aumentar a produção com as fábricas que se encontram
instaladas e os maquinismos de que dispõem. Até esse limite, porém, a oferta aumentará com a subida do preço.
Mas, se as empresas têm interesse em oferecer a cada preço as quantidades que pode produzir a
idêntico custo marginal, então, a curva da oferta em períodos curtos é uma curva das quantidades produzidas aos
vários custos marginais. É, numa palavra, uma curva de custos marginais.
A figura 13-a mostra a nova posição do mercado: a oferta aumentou aos vários níveis de preços e a curva
da oferta deslocou-se, portanto, de S1 para S2; mantendo-se a procura, o preço baixou de P 1 para P2, ao qual se
oferecem as quantidades Q2. Esta é a nova posição de equilíbrio no mercado. E ao preço P 2 já não haverá lucros
anormais, nem para a empresa (1) nem para qualquer outra igualando-se em Q 2 os valores P2.
Pode dizer-se, portanto, que, nos períodos longos, os preços que acabam por se estabelecer nos
mercados de concorrência são preços de equilíbrio entre a procura e aquela oferta cujo custo marginal se parifica
não só com tais preços mas o custo médio (mínimo) da empresa marginal.
Em período longo, como não há qualquer limitação à entrada na indústria e como os factores de produção
dão móveis, as empresas entrarão na indústria ou sairão da indústria, até que esta atinja a posição de equilíbrio
total definida por duas condições:
1) Todas as empresas parificam o seu custo marginal e a sua receita marginal;
2) Desparece a tendência para a entrada na indústria ou para a saída da indústria,
porque todas as empresas realizam “lucros normais” e funcionam no ponto mínimo da sua curva do custo total
médio.
Esta situação pressupõe que os factores de produção sejam homogéneos e que os empresários tenham o
mesmo grau de eficiência, hipóteses bastante dificilmente realizáveis ou verificáveis na realidade. Como não há
homogeneidade de empresários, nem de factores de produção, é concebível que certas empresas obtenham
lucros supra-normais, enquanto as empresas marginais obtêm somente lucro normal.
Desde que a elasticidade da curva da receita média da empresa seja igual a um, a despesa total com a
compra do produto da empresa será a mesma em qualquer preço. O monopolista “puro” toma durante o tempo
todos os rendimentos dos consumidores.
O monopolista “puro”, porém, não poderá nunca fixar simultaneamente o preço e o volume da produção.
Dentro desses limites, no entanto, o poder do monopolista “puro” é completo. Cabe notar que, sendo constante a
receita total em todos os níveis de produção, a receita marginal é sempre zero. A curva da receita marginal
coincide com o eixo dos X.
b) Na realidade, não há monopólio que não esteja submetido, em maior ou menor
grau, a uma concorrência proveniente do domínio que não é coberto por esse monopólio; só se encontram,
monopolistas “isolados”.
O monopolista é portanto, aquele que controla a oferta de um produto, que não tem sucedâneos
próximos: a elasticidade cruzada da procura entre o seu produto e todos os outros produtos é muito fraca. Nestas
condições, o monopolista tomo uma decisão que diz respeito, simultaneamente, ao preço do seu produto e a
quantidade que será procurada: ele fixa o preço ou a quantidade, porque deve ter em conta as reacções da
procura.
A distinção entre empresa e indústria desaparece na situação de monopólio; a empresa que usufrui de
um monopólio abrange toda uma indústria e a sua curva de receita média, que reflecte a procura do seu produto,
é uma curva imperfeitamente elástica, inclinada sobre o eixo dos X, como a curva da procura do produto de uma
indústria.
Da mesma maneira que um vendedor pode controlar a oferta de um produto, um único comprador pode
controlar a procura de um produto: diz-se então que existe monopsónio. Os muitos compradores da hipótese da
concorrência podem reduzir-se a um só, ou a vários compradores que, por acordo, se comportam como se um só
fossem.
A procura é difícil de monopsonizar. Primeiro, porque geralmente os compradores são muitos; despois,
porque falta o estímulo profissional para se associarem; finalmente, porque se distribuem por diferentes terras,
não se conhecem, não entram todos em contacto, e não podem chegar a acordo. Daí que sejam raros os
monopsónios.
O Princípio de Cournot
A empresa monopolista dispõe da oferta total e pode, aumentando-a ou diminuindo-a, fazer baixar ou
subir o preço. Quer dizer: enquanto para uma empresa em mercado de concorrência o preço é um elemento
determinado, para a empresa monopolista ele é um elemento a determinar.
Decerto que o preço não depende apenas da oferta, mas também da procura. Simplesmente, perante a
curva da procura, a empresa monopolista pode estabelecer no mercado o preço a que corresponde uma procura
igual à sua oferta. E como ela pode fazer a oferta que quiser, pois é senhora das quantidades produzidas, ei-la que,
conhecendo a procura, fica árbitro do preço.
A empresa monopolista deseja que no mercado se estabeleça o preço de 8, de 7 ou de 6? Por outras
palavras: dentro todos os preços possíveis, isto é, dentro todos os preços a que há procura, qual é o que mais
convém à empresa monopolista, qual é para ela o preço óptimo? A empresa monopolista tem espírito de qualquer
outra empresa capitalista; por isso vai tentar conseguir o máximo lucro, vai escolher o preço que lhe deixa maior
excesso das receitas sobre as despesas totais.
Ora, o lucro (L) é igual ao produto das quantidades vendidas (q) pela diferença entre o preço (p) e o custo
total médio de cada unidade:
L = q (p-c)
Logo, o preço será óptimo quando for máximo o produto q(p-c). E como as quantidades vendidas
dependem da procura, o preço há-de ser fixado em função destes dois elementos: a procura e o custo.
Simplesmente, à medida que sobe ou baixa o preço diminuem ou aumentam as quantidades procuradas
e, por conseguinte, as quantidades vendidas. Daí que o monopolista não possa agir ao mesmo tempo sobre as
quantidades e sobre os preços. Se fixa as quantidades que quer vender, é o mercado que lhe diz o preço por que as
compra; se fixa o preço a que deseja transaccionar, é o mercado que lhe diz as quantidades que absorve.
É por via deste princípio que o preço óptimo não coincide com o preço máximo, isto é, com o mais alto
dos preços a que ainda há procura.
Moderadores do preço
O preço óptimo corresponde à quantidade óptima, ou seja, à dimensão óptima. Esta atinge-se pela
parificação do custo marginal com a receita marginal. Consequentemente, o preço óptimo corresponde, também,
a essa mesma parificação: é aquele preço ao qual o mercado absorve uma oferta cujo custo marginal iguala a
receita marginal.
Simplesmente, isto será assim quando a empresa monopolista for completamente monopolista: quando
não tiver que suportar qualquer espécie de concorrência. Ora o monopolista tem, praticamente sempre, de
suportar concorrências. Antes de mais, a concorrência dos sucedâneos.
Ora, se o preço do monopolista é muito elevado em relação ao preços dos sucedâneos, é natural que se
tente a produção destas últimas mercadorias, ou que os vendedores das já existentes baixem o seu preço, apara
atraírem a clientela da mercadoria monopolizada. E eis como, apesar de o monopolista ter na sua mão a totalidade
da oferta, lhe sai ao caminho uma concorrência: a concorrência dos bens sucedâneos.
A concorrência dos sucedâneos pode existir para todos os monopolistas, quer para os que gozam de
monopólio legal ou natural, quer para os que detêm um simples monopólio de facto. Mas o monopolista de facto
conhece, além dessa concorrência, uma outra: a concorrência potencial.
Se o monopólio é conferido pela lei ou concedido pela natureza, evidentemente que nenhuma outra
empresa poderá formar-se para produzir aquelas mercadorias. Mas, se se trata de monopólio de facto, então é
possível constituírem-se outras empresas que produzam a mesma mercadoria e entrem, assim, em concorrência
com o monopolista. A empresa monopolista está sempre sob uma ameaça: a da concorrência, que pode surgir de
um momento para o outro.
Quer dizer: a empresa monopolista é sempre, potencialmente, objecto de uma concorrência. E esta
concorrência, que existe sempre em potência, chama-se, por isso mesmo, concorrência potencial.
O monopolista pensa em fixar, por exemplo, o preço de 15, o preço que, tendo em conta a curva presente
da procura, lhe dá o máximo lucro. Mas esse grande lucro pode servir de incentivo à formação de novas empresas,
que venham partilhar do mercado e façam perder ao monopolista a qualidade de vendedor exclusivo.
Evidentemente que não lhe convém que se formem tais empresas; por isso, ele não fixa o preço de 15,
que corresponde à parificação custo marginal = receita marginal, mas sim um preço mais baixo, que, embora lhe
deixe menores lucros no presente, o ponha ao abrigo de uma concorrência que lhe pode ser fatal – um preço que,
por conseguinte, lhe assegura maiores lucros no futuro.
Por isso o monopolista procurará fixar o preço que lhe seja vantajoso e lhe permita lucros a longo prazo,
sem que esse preço favoreça o aparecimento de concorrentes. Bain chamou a este preço, inferior ao que
maximizaria os lucros da indústria, numa perspectiva imediatista, um preço-limite
A ameaça da concorrência obriga, assim, o monopolista de facto a comedir-se nas suas ambições. Mas
não a comedir-se muito, pois a eficácia da concorrência potencial é relativamente pequena: porque leva sempre
tempo, meses ou anos, a formar-se uma nova empresa; porque se exigem capitais avultados para se constituir
uma empresa concorrente da detentora do monopólio, uma vez que esta, sendo única, é geralmente uma
empresa enorme; porque a nova empresa terá de afrontar riscos consideráveis para concorrer com o monopolista,
dado que este tem a clientela nas suas mãos.
Uma outra razão que pode aconselhar ao monopolista a limitação voluntária do seu lucro consiste em
evitar que, perante o mau ambiente público criado pela prática de preços considerados de exploração do
consumidor, o estado intervenha no sentido de sanear uma situação de abuso. E o modo de a empresa se
antecipar a tais medidas e ataques consiste na fixação do preços. Trata-se, afinal, de planear segundo o princípio
do máximo lucro, mas a longo prazo, e não em cada curto prazo.
A concorrência monopolista
Os mercados que realmente mais se aproximam da concorrência perfeita são as bolsas de valores, onde
são transaccionados títulos de crédito: aí, para além da manifesta homogeneidade dos bens transaccionados, é
também manifesta a total mobilidade da oferta e da procura, assim como a publicidade, as quais são realizadas
através dos corretores da bolsa, indivíduos que estabelecem um permanente contacto entre compradores e
vendedores de títulos, dando a conhecer, a uns e a outros, e para um certo preço, as suas recíprocas disposições
de compra e venda.
Com efeito, se bem que as duas outras características se verifiquem plenamente, falha aquela que diz
respeito a uma publicidade total, pois os compradores e os vendedores só conhecem as disposições dos
vendedores e dos compradores para um certo e determinado preço e não para os vários preços possíveis.
Na prática, portanto, encontramos geralmente um tipo de mercados onde se estabelece uma
concorrência imperfeita, uma vez que não serão também muito frequentes as situações de monopólio.
Noção
Nos mercados de concorrência monopolista, e à semelhança do que encontrámos na concorrência
perfeita, é ainda bastante grande, embora menor, o número de empresas existentes no mercado; a oferta de cada
uma delas tem já, contudo, influência sensível sobre o preço, quer porque as empresas são em menor número,
quer porque, embora ainda reduzida, a sua dimensão é já algo maior do que a concorrência perfeita; quando ao
factor facilidade ou dificuldade de acesso de novas empresas à respectiva indústria, em grau bastante variável,
mas não pode falar-se da dificuldade de entrada de novas empresas como elemento característico deste tipo de
mercados.
A diferenciação do produto
Elemento característico da concorrência monopolista é a diferenciação dos produtos, com base na
inovação. Neste mercado os bens não são homogéneos como na concorrência perfeita, mas também não são
meros sucedâneos remotos uns dos outros como no monopólio. Aqui as empresas não reproduzem mercadorias
idênticas, nem artigos completamente distintos. O princípio fundamental desta política da diferenciação é o
chamado princípio da diferenciação mínima: “Tomai o vosso produto tanto quanto possível similar aos produtos
existentes, mas sem destruir as diferenças”.
Há diferenciação do produto quando, no espírito do comprador, o produto de uma empresa não é um
substituto perfeito do produto de outra empresa que se dedica à mesma actividade que a primeira.
A diferenciação poderá dizer respeito ao próprio produto ou poderá relacionar-se com as condições de
venda.
1) No primeiro caso, respeitando ao próprio produto:
Poderá tratar-se de uma diferenciação material objectiva, radicada na própria natureza do
produto;
Ou poderá ainda tratar-se de uma diferenciação jurídica, derivada da atribuição de uma
certa marca, com a especial protecção jurídica que decorre da situação de marca registada e que se traduz na
proibição legal de qualquer outra empresa colocar no mercado produtos com a mesma marca.
2) No segundo caso, de diferenciação pelas condições de venda, ela pode também
apresentar-se sob diversos aspectos, agrupáveis de acordo com o critério da verdade, da acção e da política do
empresário. Assim temos:
Diferenciação de facto, quando as condições de venda são de certa maneira
independentes da vontade ou da acção do empresário. Exemplos: localização da empresa; reputação do vendedor;
etc;
Diferenciação provocada, quando esta é resultado da acção sistemática do empresário
relativamente ao seu produto e às condições da sua venda: é o caso da publicidade, dos prémios concedidos aos
compradores, da exposições e demonstrações de produtos, etc.
Este fenómeno da diferenciação é que caracteriza o comportamento de cada uma das empresas neste
tipo de mercado. As empresas procedem assim para tentar fugir à concorrência das restantes. Com efeito, a
diferenciação existente vai originar, do ponto de vista do comprador e por parte deste, uma preferência relativa a
certo produto. Desse facto há-de resultar para cada empresa uma certa posição de monopólio para o seu produto.
Essa relativa posição de monopólio acentua-se ainda mais no caso de existir marca registada, pois então nenhuma
empresa poderá apresentar no mercado um produto com a mesma marca.
Nota-se, contudo, que esta situação não pode ser confundida com a posição da empresa monopolista.
Nos mercados de concorrência monopolista, a existência de produtos sucedâneos próximos uns dos outros
compele cada uma das empresas a moderar a sua política de preços. Isto porque, se a diferença de preços entre os
vendedores for substancial, e sendo os produtos sucedâneos próximos, os compradores deslocam a sua procura
para a empresa que praticar preços mais baixos. Quer dizer: em concorrência monopolista, sendo certo que cada
vendedor consegue em certa medida isolar o “seu mercado”, não pode ser esquecido que a curva da procura de
um produto depende da natureza e do preço dos substitutos que concorrem estreitamente com o produto da
empresa considerada. Por outras palavras: torna-se necessário que cada empresa tenha em conta não só a
elasticidade da procura relativamente ao preço do seu produto mas também a elasticidade cruzada da procura, o
que se explica pelo facto de os vários bens concorrentes pertencerem à mesma indústria, integrarem o mesmo
produto.
Sabemos que em concorrência perfeita não há diferenciação de produtos. Quer isto significar que em
concorrência perfeita a repartição das compras pelas várias empresas, num dado período, se opera de acordo com
uma simples lei das probabilidade. E também sabemos que na concorrência perfeita a procura que se dirige a cada
uma das empresas é infinitamente elástica ao preço dado.
A publicidade, como meio de desviar a procura para uma dada empresa, não tem razão de ser, como é
evidente, na concorrência perfeita nem no monopólio. Uma empresa com mercados perfeitos não terá de
suportar quaisquer custos de venda. Se o objectivo dos custos de venda é deslocar a curva de vendas, então, na
hipótese de concorrência perfeita, não há interesse em tentar aumentar a quantidade que pode ser vendida ao
preço do mercado, precisamente porque as empresas sabem que, ao preço do mercado, encontrarão procura para
todas as quantidades que produzem. Neste tipo de mercados, só se concebem custos de vendas dispendidos por
uma associação da indústria como um todo, com vista a aumentar a procura total do produto. É a chamada
publicidade institucional ou propaganda da “indústria”, foram também correntes nas hipóteses de oligopólio
perfeito.
Em monopólio concebem-se ainda custos de venda destinados a criar uma imagem favorável junto do
público, como forma de garantir a sua posição monopolista; custos derivados da diferenciação dos bens ou da
criação de várias marcas por parte do monopolista, com vista a facilitar a discriminação dos preços; custos
destinados a alargar o âmbito dos conhecedores do produto ou das suas vantagens, com vista a aumentar a
procura à indústria; custos cujo objectivo pode ser o de “controlar” os órgãos de informação, tornados
dependentes da publicidade, para que defendam os pontos de vista que convêm aos monopólios e às forças
políticas que apoiam os monopólios.
Ora, já assim se não passam as coisas no domínio da concorrência monopolista, onde cada vendedor
dispõe de uma clientela que manifesta preferência pela variante do produto por aquele apresentada e onde, além
disso, o vendedor já exerce um certo controlo sobre o preço dessa variedade do produto. Neste caso, no entanto,
o vendedor tem que prestar especial atenção às reacções daquela clientela, pois sabe que venderá mais ou menos
consoante o preço que fixar for mais baixo ou mais elevado.
Cada empresa, num mercado de concorrência monopolista, pode criar a sua clientela, que tenta
monopolizar, e sobre a qual, por diversos modos, procura exercer influência, de modo a assegurar sempre uma
certa procura para o seu produto.
Ora, é precisamente à publicidade que, neste tipo de mercados, cabe uma importante função no que
respeita à determinação da procura e, portanto, à constituição da clientela própria de cada empresa. É que a
procura não pode aqui encarar-se como elemento dado, mas antes como elemento a determinar, em função do
preço praticado pela empresa considerada e dos preços dos bens que concorrem com o seu, mas também em
função da política seguida por cada uma das empresas existentes no mercado com o objectivo de criar uma razão
de escolha dos bens por ela vendidos em vez dos bens das outras empresas, constituindo-se deste modo uma
clientela que deve procurar depois manter fiel.
É evidente que esta política das empresas, no sentido de atrair a cada uma delas uma parcela crescente
da procura global, implica despesas, despesas que acrescerão ao custo da produção do produto, despesas que
serão tanto mais pesadas, para cada empresa, quanto maior for o grau de sucedaneidade entre os bens vendidos
pelas empresas concorrentes da mesma indústria.
Oligopólio
Noção
O caso mais simples de oligopólio é o do duopólio, situação em que toda a oferta é feita apenas por duas
empresas. Simplesmente, apesar de só serem duas, a sua conduta estrutura-se, fundamentalmente, como a
conduta de quaisquer outros oligopolistas. A análise do duopólio não se difere, portanto, da análise de todos os
restantes oligopólios.
Característica do oligopólio é, portanto, a concorrência entre um pequeno número de grandes empresas,
embora ao lado destas grandes possam coexistir algumas empresas menores. Elementos importantes na
caracterização das situações oligopolistas são ainda a dificuldade de entrada de novas empresas no mercado e o
comportamento de cada uma das empresas, com a consequente indeterminação da procura com que pode contar
cada empresa.
Se estes diversos factores permitem explicar as dificuldades de entrada de empresas novas, eles
permitem também compreender o desenvolvimento de formas especiais de entrada: nas indústrias novas, as
grandes empresas que já operam noutras indústrias estendem a sua esfera de actuação; nas indústrias já
estabelecidas, as grandes empresas diversificam ao mesmo tempo os seus produtos e os seus preços. Elas têm,
com efeito, os meios necessários para desenvolver os laboratórios e pôr em prática ideias novas.
De qualquer modo, nestes mercados, concorrem entre si um pequeno número de grandes empresas que
pertencem à mesma indústria, que vendem o mesmo produto. Ora este facto obriga cada uma das empresas a ter
sempre em conta o efeito da sua acção sobre o comportamento das outras empresas, uma vez que a sua própria
situação e actuação serão influenciadas pelo comportamento das suas concorrentes.
O estado de espírito, a atitude, o comportamento de cada um dos poucos grandes vendedores neste
mercado é talvez mais determinante das respectivas características do que o pequeno número de empresas em
concorrência.
Em oligopólio, a curva de vendas de uma empresa não pode ser dada, isto é, cada empresa, em face de
uma pretendida variação do preço dos bens que ela vende, não pode contar apenas com a reacção dos
compradores perante aquela variação do preço, pois ela depende do que as outras empresas fizerem,
especialmente das suas políticas de vendas, sendo certo que a reacção das outras empresas tem, neste tipo de
mercado, considerável influência sobre o preço.