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O objetivo do presente artigo é revisitar as reflexões de Marx sobre a chamada "acumulação primitiva",
fazendo especial ênfase na sua relação com a acumulação propriamente dita e no seu papel específico
dentro do modo de produção capitalista até os dias de hoje. De Angelis afirma que a acumulação
primitiva não pode ser reduzida a um evento histórico passado, mas que está necessariamente presente
nos sistemas capitalistas "maduros" como um processo inerente que, dada a natureza conflituosa das
relações capitalistas, assume um caráter contínuo.
De Angelis usa um método dialético ao partir da acumulação primitiva, como origem do capitalismo,
para o processo de acumulação pripriamente dita quando esse modo de pção se estabelece, e uma
necessida de retorno à acumulação primitiva toda vez que encontra uma necessidade ou uma
oportunidade de ampliar ou criar essa cisão entre produtores e meios de produção. E se ao longo da
história do capitalismo sempre houve uma espécie de fora não capitalista, a acumulação primitiva
também se faz presente naquelas áreas em que o sistema do capital segue em funcionamento mas os
processos ditos naturais, do ponto de vista do capital, como as leis e o direito, entram em cheque e os
subjugados travam uma luta pra diminuir a distancia entre os meios de produção e a si mesmos como
produtores. Nos dois exemplos a violencia é um método basico entrelaçado a acumulação primitiva.
Para além da diferenciação que ele faz entre acumulação propriamente dita e acumulação primitiva, o
elemento mais central que vai justamente fazer a passagem da acumulação propriamente dita pra
acumulação primitiva é a natureza conflitiva do capitalismo, ou seja, a luta de classes.
Ele argumenta que a acumulação primitiva, que é a separação forçada entre as pessoas e seus meios de
produção, é um processo que se perpetua e reproduz em escala ampliada através da "silenciosa
compulsão das leis econômicas".
Nessas circunstâncias, a acumulação primitiva é reativada como estratégia reativa do capital para
restabelecer o "curso ordinário das coisas", preservando e expandindo essa separação primordial. De
fato, o capital desencadeia processos de acumulação originária ex-novo que aprofundam a privatização
e mercantilização do comum, uma vez que o trabalho se torna um obstáculo para sua reprodução e gera
rigidez na dinâmica da acumulação.
Palavras chave:
Acumulação primitiva
- Capitalismo
- Cercamentos capitalistas
- Justiça social
- Meio ambiente
- Teoria de Marx
2. Acumulação primitiva (2 minutos): Explicação da teoria de Marx sobre a acumulação primitiva e sua
relação com a acumulação capitalista atual.
Nos últimos vinte anos, a ortodoxia neoliberal tornou-se predominante em todos os níveis de governo e
delineou as recomendações de política propostas pelos think tanks mais importantes do mundo.
Os países testemunharam ataques contínuos e maciços a todas as funções do Estado que foram
projetadas para compensar as deficiências e injustiças do mercado. Os cortes nos gastos sociais
assumiram muitas formas e configurações diversas. Em cada caso, depende do contexto histórico e
socioeconômico em que foram implementados, e se trata dos países "ricos" do Norte, dos países
"pobres" do Sul ou dos países do Leste em processo de "transição". Este artigo propõe que uma
reinterpretação da teoria da acumulação primitiva postulada por Marx pode nos fornecer importantes
descobertas sobre o caráter social comum do que, à primeira vista, se apresenta como um conjunto de
políticas desconectadas e engendradas por diferentes circunstâncias.
De acordo com uma das principais interpretações tradicionais, o conceito de acumulação primitiva de
Marx remete ao processo histórico que deu origem às precondições do modo de produção capitalista.
Essas precondições referem-se fundamentalmente à criação de um setor da população sem outros
meios de vida além de sua própria força de trabalho para vender no nascente mercado de trabalho, e
aos fins da acumulação de capital nas nascentes indústrias. Nessa concepção, o adjetivo "primitivo"
corresponde a uma clara dimensão temporal (o passado), que se torna a condição para um futuro
capitalista. Alternativamente, o mesmo conceito de acumulação primitiva foi interpretado como um
fenômeno contínuo dentro do modo de produção capitalista, especialmente no contexto das análises
marxistas que descrevem a subordinação do Sul em relação ao Norte na economia mundial.
Neste artigo, argumento que a teoria de Marx sobre a acumulação primitiva pode ser interpretada como
contendo, ao mesmo tempo, um argumento histórico e outro de continuidade, mas de formas que se
afastam das interpretações tradicionais.
O autor argumenta que o conceito de acumulação primitiva contém tanto um argumento histórico
quanto um de continuidade, mas em formas que divergem das interpretações tradicionais. O autor
conclui que a acumulação primitiva está necessariamente presente em sistemas capitalistas maduros e,
dada a natureza conflituosa das relações capitalistas, assume um caráter "contínuo". O artigo discute
brevemente as implicações políticas dessa análise.
De Angelis apresenta duas visões opostas sobre a acumulação primitiva dentro da teoria marxista.
A primeira visão é a de que a acumulação primitiva é um evento histórico passado que ocorreu antes do
surgimento do capitalismo e que permitiu o desenvolvimento das relações capitalistas de produção.
Essa visão é baseada na interpretação tradicional da teoria marxista, que vê a acumulação primitiva
como um processo histórico específico e limitado no tempo. O primeiro pode ser representado pelo
estudo inicial de Lenin, O Desenvolvimento do Capitalismo na Rússia (1899). Em termos gerais, essa
abordagem concebe a acumulação primitiva como a premissa histórica do modo de produção capitalista
e, portanto, enfatiza o processo de separação entre as pessoas e os meios de produção durante o
período de transição entre modos de produção
A segunda visão, defendida por De Angelis, é que a acumulação primitiva não pode ser reduzida a um
evento histórico passado, mas é uma parte fundamental do modo de produção capitalista até os dias
atuais. Ele argumenta que a separação forçada entre as pessoas e seus meios de produção continua a
ocorrer na sociedade capitalista atual através dos cercamentos capitalistas e outras formas de
expropriação.
A obra de Rosa Luxemburgo, A acumulação do capital (1913), representa uma segunda e diferente
interpretação. Embora a autora aceite formalmente que a acumulação primitiva é um fenômeno
histórico único e localizado que deu origem ao surgimento do capitalismo ( seu quadro teórico aponta
em uma direção diferente. Aqui, Luxemburgo introduz uma tese crucial que, independentemente da
validade de seu raciocínio e interpretação em relação aos esquemas de Marx, é fundamental: o
pré-requisito extraeconômico para a produção capitalista - o que chamamos de acumulação primitiva - é
um elemento inerente e contínuo das sociedades modernas, e seu campo de ação se estende a todo o
mundo. A partir daí, a autora combina sua análise teórica da acumulação com uma conjectura política:
uma vez que o mundo inteiro se torne capitalista, o sistema terá alcançado seu fim histórico. Aqui, a luta
de classes entra em cena como um deus ex machina antes que o colapso seja provocado por condições
objetivas. Como no caso de Lenin, nem para Rosa Luxemburgo a resistência e a luta são elementos
constitutivos da acumulação primitiva, mas um possível - embora importante - subproduto.
De acordo com De Angelis, Marx define a acumulação primitiva como um processo histórico específico
que ocorreu antes do surgimento do capitalismo, no qual os camponeses foram expropriados de suas
terras e outros meios de produção. No entanto, De Angelis argumenta que essa visão tradicional da
acumulação primitiva é limitada e equivocada, pois não leva em conta a continuidade desse processo na
sociedade capitalista atual.
Assim, De Angelis propõe uma interpretação alternativa da acumulação primitiva em Marx, segundo a
qual ela é um processo contínuo e inerente ao sistema capitalista. Ele argumenta que essa interpretação
mais ampla da acumulação primitiva tem implicações importantes para a justiça social e o meio
ambiente
Os cercamentos afetam não apenas a esfera econômica, mas também a esfera social e ambiental, pois
provocam a desestruturação de comunidades locais, deslocamentos forçados, perda de identidade
cultural e destruição de ecossistemas naturais. Em muitos casos, os cercamentos são acompanhados
pela violação dos direitos humanos e da legislação ambiental.
Existem diversos exemplos de cercamentos que acontecem em diferentes partes do mundo. No Brasil,
por exemplo, a expansão do agronegócio tem sido acompanhada pela expropriação de terras de
comunidades tradicionais, como quilombolas e povos indígenas, além da degradação ambiental causada
pelo uso intensivo de agrotóxicos e pela destruição de ecossistemas naturais. Na África, grandes
corporações têm se apropriado de terras férteis para a produção de alimentos destinados à exportação,
deixando populações locais sem acesso a recursos básicos para a subsistência. Na Ásia, a expropriação
de terras de comunidades locais tem sido utilizada para a construção de hidrelétricas e outras obras de
infraestrutura.
Em todos esses casos, os cercamentos têm um impacto direto na vida das pessoas, que são expulsas de
suas terras e perdem acesso aos recursos naturais necessários para a sua subsistência. Além disso, a
degradação ambiental provocada pelos cercamentos tem um impacto negativo na saúde e qualidade de
vida dessas populações, além de contribuir para o aquecimento global e outras mudanças climáticas que
afetam todo o planeta
Claro! A seção "El carácter continuo de la Acumulación Primitiva" discute a ideia de que a acumulação
primitiva é um processo contínuo e inerente ao sistema capitalista.
De Angelis então passa a discutir como a acumulação primitiva continua a ocorrer no sistema capitalista
contemporâneo. Ele argumenta que o processo de expropriação dos meios de produção dos
camponeses e trabalhadores continua até os dias atuais, através de mecanismos como as privatizações,
as políticas neoliberais e as mudanças nas leis trabalhistas.
Além disso, De Angelis destaca como a acumulação primitiva também está relacionada à exploração dos
recursos naturais e à degradação ambiental. Ele argumenta que o controle privado sobre os recursos
naturais é uma forma de expropriação dos meios de existência das comunidades locais e contribui para
a crise ambiental global.
Por fim, De Angelis destaca a importância da luta contra a acumulação primitiva e suas consequências
sociais e ambientais. Ele argumenta que essa luta deve incluir tanto estratégias defensivas (como
resistência às privatizações) quanto estratégias ofensivas (como o desenvolvimento de alternativas ao
sistema capitalista).
Em resumo, a seção "El carácter continuo de la Acumulación Primitiva" argumenta que a acumulação
primitiva é um processo contínuo e inerente ao sistema capitalista, que continua a expropriar os meios
de produção e existência dos trabalhadores e comunidades locais. A luta contra a acumulação primitiva
é vista como uma parte fundamental da luta por justiça social e ambiental.
O autor argumenta que o conceito de alienação pode ser útil para entender a acumulação primitiva de
duas maneiras. Em primeiro lugar, a alienação é vista como uma consequência da acumulação primitiva,
uma vez que a separação forçada entre as pessoas e seus meios de produção leva à alienação dos
produtores em relação ao processo de produção. Em segundo lugar, a alienação é vista como um
elemento constitutivo da acumulação primitiva, na medida em que a expropriação dos produtores de
seus meios de produção resulta na alienação desses meios em relação aos produtores. Em ambos os
casos, a alienação é vista como uma característica central da acumulação primitiva, que persiste no
modo de produção capitalista até hoje.
Outro aspecto da alienação do trabalhador é a sua relação com os produtos de seu trabalho. Sob o
capitalismo, os trabalhadores não possuem os meios de produção e, portanto, não têm controle sobre o
que produzem ou sobre o destino dos produtos de seu trabalho. Além disso, os produtos são destinados
à venda no mercado, onde seu valor é determinado pela concorrência e pela lei da oferta e da procura,
e não pelo valor que o trabalhador atribui a eles. Como resultado, o trabalhador é alienado dos
produtos de seu trabalho.
Outro aspecto da alienação do trabalhador é a sua relação com sua própria natureza humana. Marx
argumenta que o trabalho é uma atividade que faz parte da natureza humana e que é por meio do
trabalho que os seres humanos se realizam e desenvolvem sua criatividade e suas habilidades. No
entanto, sob o capitalismo, o trabalho se torna uma atividade alienada, na qual o trabalhador é forçado
a se submeter a uma divisão de trabalho mecânica e a tarefas repetitivas, o que o impede de
desenvolver suas habilidades e de se realizar como ser humano.
A elaboração do conceito de Comum, presente no texto do autor, pode ser conectada com a teoria da
acumulação primitiva de Marx por meio da compreensão de que a expropriação e a destruição de
formas de vida comuns são uma das principais estratégias utilizadas pelo capitalismo para se expandir e
se manter.
4.América Latina (2 minutos): Análise das implicações da teoria de Marx para a realidade econômica e
social da América Latina.
A teoria de Marx tem importantes implicações para a realidade econômica e social da América Latina,
especialmente em relação à exploração de recursos naturais e mão de obra. A região tem uma longa
história de expropriação de terras e recursos, que é uma continuação da acumulação primitiva descrita
por Marx. Isso tem levado a um cenário de desigualdades sociais e econômicas, onde uma minoria
detém a maioria da riqueza e do poder, enquanto a maioria da população vive em condições precárias.
Além disso, muitas empresas estrangeiras e locais na América Latina continuam a explorar mão de obra
barata e recursos naturais, sem levar em conta o impacto social e ambiental. A extração de minérios,
petróleo e gás, por exemplo, muitas vezes é feita sem a consulta ou consentimento das comunidades
locais, levando à destruição de seus meios de subsistência e do meio ambiente.
Na Bolívia, a exploração de recursos naturais como o gás natural e o lítio tem sido alvo de críticas por
parte de movimentos sociais, que denunciam a expropriação das comunidades locais e a degradação
ambiental. Em 2019, o presidente Evo Morales foi deposto em meio a protestos contra a exploração do
lítio no Salar de Uyuni, considerado uma das maiores reservas do mundo.
No Peru, a expansão da mineração tem gerado conflitos com comunidades indígenas e camponesas, que
muitas vezes são expulsas de suas terras sem compensação adequada. Um exemplo recente é o projeto
Conga, da mineradora Yanacocha, que prevê a exploração de ouro em Cajamarca e tem enfrentado
resistência por parte dos moradores da região.
Na Argentina, a exploração de hidrocarbonetos em Vaca Muerta tem sido alvo de controvérsias devido à
expropriação de terras de comunidades mapuches e aos impactos ambientais da extração de petróleo e
gás de xisto.
Nesta apresentação, discutimos a teoria da acumulação primitiva de Marx e como ela explica os
processos históricos de expropriação de recursos naturais e mão de obra que caracterizam o
capitalismo. Vimos como esses processos continuam a ocorrer na atualidade, especialmente em países
da América Latina, resultando em desigualdades sociais e problemas ambientais graves. Também
destacamos a importância de artistas que abordam essas questões em suas obras, ajudando a
sensibilizar e conscientizar as pessoas sobre esses temas.
Refletindo sobre a importância do tema, podemos afirmar que a teoria da acumulação primitiva é
essencial para compreendermos como o capitalismo funciona e como ele impacta diretamente a vida
das pessoas em todo o mundo. Ao compreendermos melhor os mecanismos que regem a acumulação
capitalista, podemos pensar em formas de resistência e transformação social, visando construir uma
sociedade mais justa e igualitária. Portanto, é fundamental continuarmos discutindo e pesquisando
sobre esse tema, a fim de contribuir para a construção de um mundo melhor para todos
O Comum é compreendido como um conjunto de recursos e práticas que são compartilhados por uma
comunidade e geridos coletivamente. Esse conceito engloba desde os recursos naturais, como água e
terra, até os bens culturais e imateriais, como a língua e a cultura local. Quando esses recursos são
expropriados e colocados sob controle privado, ocorre a perda do Comum.
Na teoria da acumulação primitiva de Marx, vemos que a expropriação é uma das principais estratégias
utilizadas pelo capitalismo para se apropriar dos meios de produção e expandir-se. Os cercamentos, por
exemplo, são uma forma de expropriação que se dá pela privatização da terra que antes era comum e
acessível a todos. Isso resulta na expulsão de camponeses e comunidades locais, que perdem seus meios
de subsistência e se tornam proletarizados.
Dessa forma, podemos entender que a expropriação do Comum é um processo fundamental para a
acumulação primitiva e a expansão do capitalismo. A elaboração do conceito de Comum pelo autor nos
ajuda a compreender a importância da luta pela sua preservação e reconstrução como uma forma de
resistência e transformação social