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MAI AS AVENTURAS DE UM
CONCEITO
Tudo não era feudal nos países do Extremo Oriente na Idade Média. Inversamente,
feudos ou quase-feudos podem ser encontrados em sistemas imperiais ou
monárquicos. De fato, é possível encontrar formas jurídicas feudais em diversos
sistemas de governo... O que permite falar de sistema feudal é o desenvolvimento
acentuado dessas formas e sua dominação. Várias sociedades, apesar da existência de
tais ou tais instituições mais ou menos idênticas ao feudo e à vassalagem dos séculos
XII e XIII da Europa Ocidental não podem ser consideradas como feudais pois o lugar
desses elementos feudais é secundário no funcionamento do sistemas global... Nosso
projeto, neste tomo da Histoire générale des systhèmes politiques, é o de
compreender como instituições fundadas no feudo foram desenvolvidas por tal ou tal
grupo social a ponto de pretenderem regular o conjunto de uma sociedade, de
mostrar também como, por quem e por quê eles foram combatidas e como elas
declinaram
“
Perry Anderson.
L'État absolutiste. Paris: La Découverte, 1978, v. 2, p. 238
Porém, a pré-história de todas as ideias ou conceitos de feudalismo, a meu ver, começou com
um decreto emitido pelo imperador Conrado II em 1037. Seu objetivo era resolver uma disputa
entre o arcebispo de Milão e os leigos que detinham partes das terras do arcebispado. Esse tipo
de disputa era comum, pois as grandes igrejas precisavam conceder terras a leigos úteis e
capazes, preservando, ao mesmo tempo, seus próprios direitos inalienáveis sobre elas, mas, até
então, raramente mantinham registros adequados sobre suas concessões. Como os nobres e
outros homens livres que recebiam essas concessões normalmente tinham suas próprias terras,
herdadas ou adquiridas de outras formas, e mantinham ainda menos registros, muitas vezes eles
devem ter esquecido que possuíam essas terras específicas em termos mais limitados. A
portaria de Conrado estabeleceu regras gerais sobre a herança dessas terras e disse que elas
deveriam ser confiscadas somente por julgamento dos iguais ao seu proprietário. Tudo isso
estava de acordo com as normas costumeiras existentes e deveria se aplicar a todos os milites
sob seu domínio que possuíam terras reais ou da igreja como benfeitorias. O que tornou a
ordenança importante foi o fato de ela ter sido emitida com autoridade real e registrada
justamente quando um número significativo de homens no Norte da Itália estava estudando os
textos da lei romana e lombarda e achando-os intelectualmente estimulantes.
“ Susan Reynolds. “Still Fussing about Feudalism”, p. 88
• Cândido da Silva, Marcelo. História Medieval. São Paulo: Contexto, 2019, p. 56-68.
• Fossier, Robert. La société médiévale. Paris: Armand Colin, 1994 (1a ed., 1991).
• Reynolds, Susan. Fiefs and Vassals. The medieval evidence reinterpreted. Oxford:
Oxford University Press, 1994.
• Susan Reynolds. “Still Fussing about Feudalism”. In: Ross Balzaretti, Julia Barrow,
Patricia Skinner. Italy and Early Medieval Europe: papers for Chris Wickham. Oxford:
Oxford Scholarship Online, 2018, p. 87-94.