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“2. Esta mutação foi acompanhada e ao mesmo tempo traduzida por uma
história radicalmente “revista”, incompatível com a que vigorava até então. Gesta Dei,
Providência e Graça deixaram o palco, que passa a ser ocupado pelo longo e heroico
combate da burguesia contra a obscurantismo;” P. 439
“No verão de 1789, a abolição dos direitos feudais visou antes de tudo firmar
o movimento de transformação dos senhores em proprietários.” P. 439
“Os juristas haviam ganho a batalha e, pode-se dizer, Adam Smith com eles.
E neste movimento nasceu a economia no sentido que lhe damos, isto é, um mecanismo
social onde o conjunto das operações de produção e de trocas é governado por uma forma
específica de relações sociais que chamamos mercado.” P. 440
“As batalhas do liberalismo engajadas desde o século XVII não eram torneios
contra moinhos de vento: tratava-se de derrubar um sistema social fundado sobre a
dominação e a exploração das massas rurais presas ao solo por uma aristocracia fundiária
hereditária, sistema que reservava ao comércio uma posição lateral e subordinada,
proibindo por consequência qualquer mercado que não fosse setorial e fortemente
controlado. Tentar descobrir neste sistema uma “lógica econômica” no sentido que lhe
damos é uma ilusão ridícula, na medida em que toda a estrutura social estava organizada
precisamente para evitar deixar qualquer autonomia aos mecanismos de “mercado” [...]
se tratava do que podemos chamar de uma lógica do dominium, forma especifica de
dominação bífida, concernindo ao mesmo tempo os homens e as terras, lógica que não
deixou sem combate seu lugar à lógica do mercado [...]” P. 440
“Na segunda metade do século XIX, dos debates sobre a propriedade giravam
em torno do mito da primitiva propriedade coletiva, provocando associações
surpreendentes. Esse mito obscuro possuía a vantagem de oferecer uma base à
contestação do mito contrário, o da eternidade da propriedade individual; ele atraiu
consequentemente alguns pensadores progressistas e uma plêiade de nostálgicos de uma
ordem passada que viram nele um meio de solapar sem muito esforço as pretensões
ingênuas e conquistadoras da ordem burguesa.” P. 442
“Em suma, Marx não produziu nada que poderia ser considerado uma “teoria”
da relação de produção feudal.” P. 443
“Na maior parte da Europa até o século XVII, a produção era essencialmente
agrária e a riqueza provinha de uma expropriação direta sobre os agricultores. Ao
contrário da sociedade antiga, a sociedade medieval europeia estava organizada para
limitar a amplitude do artesanato, restringir a intensidade das trocas e proibir qualquer
interferência entre o comercio e a organização social [...]” P. 446
“A ecclesia dispunha por outro lado de uma vasta base fundiária, entre um
quinto e um terço das terras que, subtraídas das heranças e outas transmissão, reforçavam
a permanência das estruturas fundiárias, sistema de estabilidade cujas rendas
asseguravam à instituição e ao culto um fausto material e recursos intelectuais que os
sustentavam com muita eficiência.” P. 449
“[...] a noção de feudalismo soa antes de tudo como o apelo a uma escolha da
qual é inútil pretender se esquivar: ou nos acomodamos ao espírito da síntese mais
difundido, o do senso comum [...] ou então percebemos a necessidade prévia de esclarecer
a lógica geral de uma civilização para poder compreender o sentido de seus elementos e
procuramos construir noções e hipóteses que permitem, lenta e laboriosamente, apreender
fragmentos de coerência nesta civilização, evitando, desta forma, atribuir relações que lhe
são alheias.” P. 454