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Agrupamento de Escolas

Teste de Avaliação Português


11.º Ano de Escolaridade Turma ___
Nome do/a aluno/a: ______________________________________________ N.º _____

Professor/a: __________________

GRUPO I

Apresenta as tuas respostas de forma bem estruturada.

Lê, o texto seguinte.

Joaninha não era bela, talvez nem galante sequer no sentido popular e expressivo
que a palavra tem em português, mas era o tipo da gentileza, o ideal da espiritualidade.
Naquele rosto, naquele corpo de dezasseis anos, havia por dom natural e por uma
admirável simetria de proporções toda a elegância nobre, todo o desembaraço
modesto, toda a flexibilidade graciosa que a arte, o uso e a conversação da corte e da
mais escolhida companhia vêm a dar a algumas raras e privilegiadas criaturas no mundo.
Mas nesta foi a natureza que fez tudo, ou quase tudo, e a educação nada ou quase
nada.
Poucas mulheres são muito mais baixas, e ela parecia alta: tão delicada, tão élancée
era a forma airosa de seu corpo.
E não era o garbo teso e aprumado da perpendicular miss inglesa que parece fundida
de uma só peça; não, mas flexível e ondulante como a hástea jovem da árvore que é
direita mas dobradiça, forte da vida de toda a seiva com que nasceu, e tenra que a estala
qualquer vento forte.
Era branca, mas não desse branco importuno das loiras, nem do branco terso, duro,
marmóreo das ruivas – sim daquela modesta alvura da cera que se ilumina de um pálido
reflexo de rosa de Bengala.
E de outras rosas, destas rosas-rosas que denunciam toda a franqueza de um sangue
que passa livre pelo coração e corre à sua vontade por artérias em que os nervos não
dominam, dessas não as havia naquele rosto: rosto sereno como é sereno o mar em dia
de calma, porque dorme o vento… Ali dormiam as paixões.
Que se levante a mais ligeira brisa, basta o seu macio bafejo para encrespar a
superfície espelhada do mar.
Sussurre o mais ingénuo e suave movimento de alma no primeiro acordar das
paixões, e verão como se sobressaltam os músculos agora tão quietos daquela face
tranquila.
O nariz ligeiramente aquilino: a boca pequena e delgada não cortejava nem
desdenhava o sorriso, mas a sua expressão natural e habitual era uma gravidade singela
que não tinha a menor aspereza nem doutorice.

Almeida Garrett. Viagens na Minha Terra, cap. XII. Porto: Porto Editora, pp. 67-68.

1. O texto faz a descrição de uma personagem feminina – Joaninha.

1.1. Apresenta quatro traços caracterizadores da personagem descrita.

1.2. Explicita de que modo este retrato corresponde ao de uma heroína romântica,
fundamentando a tua resposta com expressões textuais.

2. Seleciona do texto duas marcas características do estilo de Almeida Garrett.

Lê o texto seguinte.

Houve aqui há anos um profundo e cavo filósofo de além-Reno, que escreveu uma
obra sobre a marcha da civilização, do intelecto – o que diríamos, para nos entenderem
todos melhor, o Progresso. Descobriu ele que há dois princípios no mundo: o
espiritualismo, que marcha sem atender à parte material e terrena desta vida, com os
olhos fitos em suas grandes e abstratas teorias, hirto, seco, duro, inflexível, e que pode
bem personalizar-se, simbolizar-se pelo famoso mito do Cavaleiro da Mancha, D.
Quixote; o materialismo, que, sem fazer caso nem cabedal dessas teorias, em que não
crê, e cujas impossíveis aplicações declara todas utopias, pode bem representar-se pela
rotunda e anafada presença do nosso amigo velho, Sancho Pança.
Mas, como na história do malicioso Cervantes, estes dois princípios tão avessos, tão
desencontrados, andam contudo juntos sempre; ora um mais atrás, ora outro mais
adiante, empecendo-se muitas vezes, coadjuvando-se poucas, mas progredindo
sempre.
E aqui está o que é possível ao progresso humano.
E eis aqui a crónica do passado, a história do presente, o programa do futuro.
Hoje o mundo é uma vasta Barataria, em que domina el-rei Sancho.

Almeida Garrett. Viagens na Minha Terra, Cap. II. Porto: Porto Editora, pp. 12-13.

3. Partindo do excerto transcrito, e considerando a tua experiência de leitura de Viagens


na Minha Terra, demonstra que Garrett escreveu uma obra de reconhecida interação
com o Romantismo, num texto bem estruturado de cento e trinta a cento e setenta
palavras, tendo em conta os seguintes tópicos:
✓ a deambulação geográfica;
✓ a dimensão reflexiva e crítica;
✓ as personagens românticas.

GRUPO II

Nas respostas aos itens de escolha múltipla, seleciona a opção correta.


Escreve, na folha de respostas, o número do item e a letra que identifica a opção
escolhida.

Lê o texto seguinte.

A família Garrettiana
Garrett é mais do que Garrett. Quer dizer que a sua obra, por admirável que seja no
teatro, no romance, na poesia, em títulos como Frei Luís de Sousa, Viagens na Minha
Terra, Folhas Caídas, não é uma obra fechada, mas uma obra aberta. Obra aberta
porque, não se encerrando na sua acabada perfeição como um fim em si mesma, rasgou
uma estrada na literatura portuguesa. Há na história literária como na história política
fundadores de dinastia. E na literatura portuguesa é, sem dúvida, Garrett um desses
fundadores. Depois de Garrett há toda uma literatura que dele deriva – uma literatura
que por isso mesmo se chama neogarrettiana ou neogarretista (e se designou também,
mas com menor fortuna, por novilusista).
Quem cunhou essa expressão de “neogarrettismo” foi Alberto Oliveira (1873-1940),
companheiro de geração e amigo (enquanto ele o deixou ser) do melindroso António
Nobre – o mesmo Nobre que no Só tem um poema, “Viagens na Minha Terra”, com o
seu expresso entusiasmo pelo “Garrett da minha paixão”. […]
Àquela “geração de 90” pertenciam, entre outros, Trindade Coelho (1861-1908) e
Manuel da Silva Gaio (1860-1934), nomes representativos do neogarrettismo ou do
nacionalismo literário. No artigo de apresentação da Revista Nova (novembro de 1893)
– e novo não seria só o título da publicação como o seu espírito –, trindade Coelho
aponta em Garrett um exemplo de banho lustral, qual é o de mergulhar no “fecundo
veio” da província portuguesa e das tradições populares. Convidava o editorialista os
novos a rebelarem-se “contra a assoladora invasão dos cânones estrangeiros
reguladores não só do que temos de vestir, mas do que temos de pensar”, na convicção
garrettiana, proclamada alhures, de que “as modas passam, a terra fica”. Entendia
Trindade Coelho que “ninguém mais soube sondar e seguir” os caminhos de Garrett da
“nacionalização da literatura e da arte”.
Ninguém? Não explorou Ramalho Ortigão os caminhos da pátria, ele que sem pasmo
provinciano viajou curiosamente pelo estrangeiro, não deu ele uma salutar lição de
higiene física e mental? Ramalho, ele o confessou numa bela página autobiográfica, teve
três mestres na idade da formação, que lhe temperaram o caráter e firmaram a vocação:
um frade, e o seu estilo de vida austero; um antigo soldado, e o seu gosto da disciplina;
um escritor, e o seu donaire de escrita. Quando rapaz, pôde ler em período de
convalescença as Viagens na Minha Terra. Foi como uma revelação ao mesmo tempo
da literatura, e do seu fascínio, e da vocação, e da sua inelutabilidade. Com esse livro,
descobriu que seria também escritor, como o pintor que se reconheceu tal diante de um
quadro: anche io sono pittore! Com a vocação, antevê Ramalho o seu caminho de
escritor: um escritor que quer Portugal mais português. E, desprezando a nossa habitual
retórica, irá lançar mão da crítica, que nele não será azeda porque sempre irónica. Fazer
Portugal mais civilizado (no respeito da tradição) e mais sadios os portugueses, tal foi o
espírito que animou Ramalho Ortigão ao longo do seu longo magistério. E um precursor
desse breviário de estética e de ética que é o Culto da Arte em Portugal é o Garrett das
Viagens, lá onde se dói (cap. XXVIII) do espetáculo de abandono ou de adulteração […]
de alguns espécimes da arquitetura religiosa e civil de Santarém […]. Contra a “nação de
bárbaros”, contra o “povo de iconoclastas” protesta, luta Garrett, como depois dele, e
mais sistematicamente do que ele protestou, lutou Ramalho.
Protestava ainda Garrett que, se agradassem ao “leitor benévolo” as suas Viagens,
lhes havia de dar seguimento, e sabemos que, depois do Vale de Santarém, ele pensava
peregrinar “por esse Portugal fora” para contar novas histórias e, melhor do que isso,
para divagar, erudita e agilmente, […] de tudo quanto se sabe e de alguma coisa mais.
Mas a frágil saúde, a breve vida, a tempestade amorosa que na última estação o
devastou, não lhe consentiram realizar aquele plano. Que outras Viagens não se
perderam assim…
João Bigotte Chorão. In O Tripeiro, fevereiro de 1999.

1. O objetivo deste texto é


(A) explicar a origem da família de Garrett.
(B) expor uma opinião sobre a influência de Garrett na literatura portuguesa.
(C) apreciar criticamente as características da obra de Garrett.
(D) explicitar as características da obra de Garrett.

2. Este texto apresenta uma estrutura na qual é possível detetar


(A) a introdução, em que o autor expõe a sua opinião; o desenvolvimento com a
apresentação de argumentos e exemplos que sustentam a opinião enunciada; a
conclusão com a retoma da ideia inicial.
(B) a apresentação da tese; a enumeração de argumentos que sustentam a tese.
(C) o parágrafo inicial no qual se equaciona o problema; o desenvolvimento com a
apresentação de uma série de perguntas/respostas e dados estatísticos relativos ao
problema apresentado.
(D) uma parte inicial na qual se expõe um facto; uma segunda parte com a opinião de
diferentes intervenientes; uma síntese final.
3. Na frase “rasgou uma estrada na literatura portuguesa”, o recurso expressivo
presente é uma
(A) personificação.
(B) perífrase.
(C) metáfora.
(D) metonímia.

4. Na palavra “neogarrettismo”, o processo utilizado na sua formação foi a


(A) derivação por parassíntese.
(B) derivação não afixal.
(C) composição morfológica.
(D) composição morfossintática.

5. O uso de aspas no segmento «Entendia Trindade Coelho que “ninguém mais soube
sondar e seguir” os caminhos de Garrett da “nacionalização da literatura e da arte”
justifica-se por se tratar de uma
(A) citação.
(B) ideia que se quer realçar.
(C) frase no discurso direto.
(D) frase no discurso indireto.

6. A oração introduzida por “que” na frase «Entendia Trindade Coelho que “ninguém
mais soube sondar e seguir”» desempenha a função sintática de
(A) complemento direto.
(B) sujeito.
(C) predicativo do sujeito.
(D) modificador apositivo.

7. No segmento “Com esse livro, descobriu que seria também escritor, como o pintor
que se reconheceu tal diante de um quadro”, as palavras sublinhadas são
(A) um pronome e uma conjunção, respetivamente.
(B) uma conjunção e um pronome, respetivamente.
(C) conjunções em ambos os casos.
(D) pronomes em ambos os casos.
8. Indica a função sintática desempenhada pelo pronome pessoal sublinhado em “ele o
confessou”.

9. Identifica o antecedente do pronome pessoal “lhe” na frase “não lhe consentiram


realizar aquele plano”.
10. Indica o valor da oração subordinada adjetiva relativa presente em “Mas a frágil
saúde, a breve vida, a tempestade amorosa que na última estação o devastou, não lhe
consentiram realizar aquele plano.”

GRUPO III

Um romance nas nossas mãos pode-nos conduzir a outro mundo que nunca visitámos,
nunca vimos e nunca conhecemos.
Orhan Pamuk

Partindo da frase do Prémio Nobel da Literatura de 2006, redige um texto bem


estruturado, de duzentas a duzentas e cinquenta palavras, em que defendas o teu ponto
de vista sobre a importância de “viajar com os livros”.

CENÁRIOS DE RESPOSTA
Grupo I
A
1.1. A caracterização de Joaninha parte do aspeto físico para o perfil psicológico, para
evidenciar a perfeição e a simplicidade que definem esta personagem que tem a
naturalidade como traço principal (“havia por dom natural e por uma admirável simetria
de proporções toda a elegância nobre, todo o desembaraço modesto, toda a
flexibilidade graciosa”.
Joaninha tinha dezasseis anos. Era elegante, graciosa e de baixa estatura. A delicadeza
do seu corpo e fragilidade são outros traços da personagem. A sua pele era branca e
tinha um rosto sereno porque “Ali dormiam as paixões”.
1.2. As características de excecionalidade, a naturalidade e a espiritualidade que
sobressaem da caracterização de Joaninha fazem desta personagem um protótipo da
mulher-anjo do Romantismo. Expressões textuais: “o ideal de espiritualidade”; “vêm a
dar algumas raras e privilegiadas criaturas no mundo”.
2. A linguagem de Garrett é utilizada como um discurso novo em que a enumeração de
atributos na caracterização de Joaninha (“havia por dom natural e por uma admirável
simetria de proporções toda a elegância nobre, todo o desembaraço modesto, toda a
flexibilidade graciosa”), a presença de empréstimos – anglicismos e galicismos (“miss”,
“élancée”), o uso de pares de adjetivos sugestivos (“destas rosas-rosas”) são disso
exemplo.
B
Tópicos a considerar:
– A deambulação geográfica: a viagem como pretexto de outras viagens.
– Texto que dá voz a um momento digressivo da obra, tão ao gosto romântico,
proporcionando uma reflexão sobre a sociedade e as transformações que a definem.
– Valorização da constatação dos valores que caracterizam a sociedade da época de
Almeida Garrett e os seus projetos sociais.
– Presença da dialética Idealismo/Materialismo, simbolicamente configurada nas
figuras de D. Quixote e de Sancho Pança, dialética bem representativa das orientações
ideológicas do Romantismo, movimento marcado pelas pela presença das
preocupações sociais.
– Constatação de que é do confronto de opostos que nasce o progresso.
– Referência às personagens Carlos e Joaninha e à sua representatividade.
Grupo II
1. (B); 2. (A); 3. (C); 4. (C); 5. (A); 6. (A); 7. (B); 8. Complemento direto; 9. Garrett. 10.
Valor restritivo.
Grupo III
Sugestão
Introdução
Ler é “viajar com os livros” e é uma forma de descobrirmos novos mundos, de
sonharmos; ler é crescer, é aprender mais.
Desenvolvimento
– Com a leitura partimos para lugares desconhecidos, aprendemos coisas novas, o
longe torna-se perto.
– Ler permite a abstração: a fuga à rotina do quotidiano; a fantasia; a “viagem” por
cenários totalmente desconhecidos.
– Com a leitura tudo é possível: reavivamos memórias, inventamos vidas,
ultrapassamos desafios, reinventamo-nos.
– Ler pode ser, muitas vezes, viver antecipadamente o futuro (cf. livros de ficção
científica, por exemplo).
Conclusão
– Viajar verdadeiramente, hoje, é mais fácil do que ontem. No entanto, ontem como
hoje viaja-se facilmente através dos livros, das leituras.
– A leitura é o melhor instrumento para o desenvolvimento intelectual: estimula o
raciocínio e a imaginação, amplia o nosso horizonte, desenvolve a atitude reflexiva.
– Ler ajuda-nos a compreender melhor o mundo que nos rodeia, a sermos cidadãos mais
críticos.

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