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HINO À RAZÃO

     
     Razão, irmã do Amor e da Justiça,
     Mais uma vez escuta a minha prece,
     É a voz dum coração que te apetece,
     Duma alma livre, só a ti submissa.
     
     Por ti é que a poeira movediça
     De astros e sóis e mundos permanece;
     E é por ti que a virtude prevalece,
     E a flor do heroísmo medra e viça.
     
     Por ti, na arena trágica, as nações 
     Buscam a liberdade, entre clarões; 
     E os que olham o futuro e cismam, mudos, (encavalgamento)
     
     Por ti, podem sofrer e não se abatem, 
     Mãe de filhos robustos, que combatem 
     Tendo o teu nome escrito em seus escudos!

          

(1874-1880) Antero de Quental

Hino: canto em louvor de alguém ou algo. Cântico, poema de invocação ou adoração. Os


hinos são conhecidos desde os primórdios da história e constituem uma das mais antigas
formas assumidas pela poesia.
1º quadra: apóstrofe: invocação da Razão. A proximidade, irmã, da razão ao Amor e Justiça
significa que a coloca no mesmo nível; como um dos ideais que se deve atingir.
Nomeação de uma tríade – recordar o valor divino do número três, eis alguns exemplos:
 Santíssima Trindade: Filho, Pai e Espírito Santo;
 Erínias – deusas – personificações da vingança - Eram Tisífone (Castigo), Megera
(Rancor) e Alecto (Inominável);
 Moiras (Parcas) - São três deusas: Cloto (Κλωθώ; klothó) em grego significa "fiar",
segurava o fuso e tecia o fio da vida. Junto de Ilícia, Ártemis e Hécate, Cloto atuava
como deusa dos nascimentos e partos. Láquesis (Λάχεσις; láchesis) em grego significa
"sortear" puxava e enrolava o fio tecido, Láquesis atuava junto com Tique, Pluto,
Moros e outros, sorteando o quinhão de atribuições que se ganhava em vida. Átropos
(Ἄτροπος; átropos) em grego significa "afastar", ela cortava o fio da vida. Átropos,
juntamente a Tânato, Moros e as queres, determinava o fim da vida.
 Liberdade, Fraternidade e Igualdade – aqui faz sentido alguma aproximação, assim a
fraternidade liga-se ao Amor, ao respeito e afeto pelo próximo; a Igualdade à justiça e
liberdade estará ligada à razão como é sugerido ao longo do poema.
Pede que escute a sua prece (oração que se faz para louvar, agradecer, pedir) que é a
expressão do seu coração/alma. Não pede a Razão através do pensamento, do raciocínio, do
trabalho, do empenho, mas através da emoção, do sentimento, do mais subjetivo e profundo,
do que nele é mais profundamente humano. Tem sentido dentro do desenvolvimento
filosófico de Antero que caminhava para uma procura de síntese, para uma harmonização dos
elementos que o constituem – razão e sentimento.
Termina esta quadra com uma antítese alma livre/submissa; a alma é livre de escolher o seu
caminho, mas deve submeter-se à razão no seu caminhar. Mais um esforço de síntese entre o
irracional/racional.
2º quadra e tercetos temos a anáfora – Por ti – que exprimem as razões pelas quais o sujeito
poético invoca e se devota à razão.
As três primeiras razões aparecem na segunda quadra:
1. A razão permite a ordenação, o conhecimento a ciência – assim a “poeira movediça”
metáfora da realidade, frágil, imprevisível, alterável que é comum a todo o universo
(expresso na gradação “astros, sóis e mundos) – permanece – ganha estabilidade,
permitindo o conhecimento – a ciência.
2. A razão permite que as nossas ações tenham o bem como finalidade, “a virtude
prevalece” – a moral.
3. A razão torna-nos corajosos de uma forma robusta - uso da alegoria - a razão faz com
que a flor do heroísmo (metáfora de coragem) cresça, desenvolva-se (medre) e fique
vigorosa (vice) - ação
No primeiro e segundo terceto –
Refere-se que é por ação da razão que as nações procuram a liberdade. A razão e a luta pela
liberdade, transcende e dá um outro sentido à vida aqui metaforizada por “arena trágica”
(também pode ser metáfora de guerra).
Refere-se aos que lutam por um ideal, os sonhadores, os poetas, os filósofos, os que cismam,
teimam, não desistem porque sabem que têm a razão a seu lado.

Os dois últimos versos são uma espécie de conclusão: usando a personificação (Razão como
mãe), indica que aqueles que a seguem (têm-na como divisa, inscrita nos escudos) são
robustos, fortes, não desistem.
Os que são movidos pela consciência, pela racionalidade, têm a razão do seu lado, não apenas
a fé – têm a ciência e a moral do seu lado, por isso são corajosos na ação. Contudo, não
esquecer a primeira quadra: a razão será ainda mais forte se chegarmos lá com fé, com o
coração e alma, acreditando nela.

Determinante – determina um nome: Meu amigo!


Pronome: O Ambrósio não é meu amigo é teu.

Hoje, estou cansado! – advérbio de tempo


Na semana passada, vi um pintassilgo! – locução adverbial (mais do que uma palavra)
Matéria Dêixis: página 374
Exercícios – página 129

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