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• Nevoeiro/Canto X est.

145
Nem rei nem lei, nem paz nem guerra, Nô mais, Musa, nô mais, que a Lira tenho
Define com perfil e ser Destemperada e a voz enrouquecida,
Este fulgor baço da terra E não do canto, mas de ver que venho
Que é Portugal a entristecer — Cantar a gente surda e endurecida.
Brilho sem luz e sem arder O favor com que mais se acende o engenho
Como o que o fogo-fátuo encerra. Não no dá a pátria, não, que está metida
No gosto da cobiça e na rudeza
Ninguém sabe que coisa quer.
Düa austera, apagada e vil tristeza.
Ninguém conhece que alma tem,
Nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ânsia distante perto chora?) LUSÍADAS
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro...
É a hora!
MENSAGEM

No poema Nevoeiro…
Este poema define a atualidade portuguesa como decadência, dispersão
e névoa (fazendo lembrar a “austera, apagada e vil tristeza”). O poema aponta
para um tom geral de disforia, de tristeza e melancolia, marcado por palavras e
expressões de negatividade, caracterizando uma situação de crise a vários níveis:
crise política (v.1), crise de identidade (vv.3-6), crise de valores morais (vv.7-9)
e crise de unidade (vv.11-12)
Apelo à construção de um futuro diferente (“É a hora!”)

Na estância 145 do Canto X…


O poeta recusa continuar o seu canto, não por cansaço, mas por
desânimo, o que provêm da constatação de que a Pátria, que tanto ama e quem
tanto valoriza, está afinal metida no gosto da cobiça e na rudeza, imagem que
representa a decadência moral de Portugal do seu tempo.
Semelhanças…
• Retratação do povo português com um tom geral de negatividade: “gente surda
e endurecida” que está metido no “gosto da cobiça e na rudeza”; um povo
disperso, perdido (“és nevoeiro”) em que ninguém sabe o que quer nem
distinguir o mal do bem.
• Equivalência de versos:
➢ Os vv. 7-8 encontram correspondência com o v. 4
➢ Os vv. 4-5 encontram correspondência com os vv. 6-8
• Tanto Pessoa como Camões estão desapontados com a realidade portuguesa e
querem mudança
Sebastianismo nas obras:

• O Sebastianismo foi um mito que surgiu em meados do século XVI em Portugal,


o qual ficou conhecido por fazer referência ao desaparecimento do Rei D.
Sebastião. Acreditava-se, então, que o “Desejado” não teria morrido quando
desapareceu na batalha de Alcácer Quibir, em 1578, havendo assim, a esperança
de que regressaria um dia, numa manhã de nevoeiro, para salvar o país de todos
os seus problemas.
• Na obra Pessoana, “Mensagem” presenciamos poemas centralizados na figura
D. Sebastião como: “D. Sebastião, rei de Portugal” e “O desejado”. Desta forma
o sebastianismo é utilizado numa forma de esperança através da invocação do
mito, o mundo dos sonhos, para resgatar a glória de Portugal
• Na obra Camoniana, tal como na Mensagem, D. Sebastião apresenta-se como
elemento detentor de esperança para o renascer de um futuro melhor. Mas não
é mais um mito ou sonho, mas sim uma memória. O poeta dirige-se a D.
Sebastião, que era uma realidade viva, e incentiva-o a realizar novos feitos.
Imperio material e espiritual:
Em Lusíadas presenciamos um império material, um quinto império todo
poderoso conseguido através de batalhas e tormentas que juntamente com o apoio
dos deuses, Portugal, com as descobertas do mar, alcançou a glória eterna.
Quando a mensagem foi escrita já era impossível esse “imperialismo” que
constava no tempo dos Lusíadas, não se tratando então de um império material mas
sim de um império espiritual. Espiritual porque devemos alimentar-nos do passado
grandioso e do mito para renascemos quanto povo grande e superior que somos.
Na primeira parte da obra (Mensagem) é dada uma enorme importância aos
mitos justamente por isso: “O mito é o nada que é tudo”. Nada, porque não existe
materialmente, mas tudo porque alimenta a realidade, ou seja, inspira o real, é a
base de tudo sendo assim, necessário para a construção da nação.

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