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Para motivar e tornar verosímil uma descrição centrada Em qualquer caso, o narrador-cicerone ou a personagem
quma
e
personagem, o romancista pode utilizar diversos pretextos
artificios: mudanças de luminosidade (uma luz que se acende,
são o centro em relação ao qual se estabelece a perspectiva da
descrição e ao qual se encontram referidos os shifters, ou delc
o dia que desponta, o cair do crepisculo, etc.) que obrigam ou ticos (32), que habitualmente ocorrem nas descrições (à direita,
convidam a personagem a reparar nos seres, nos objectos e nas ao fundo, mais longe, etc.).
da personagem,
paisagens; deambulação
crição do que vê durante
com consequente des-
a deambulação; situação da personagem 5.2-Adiegese 6 inconcebfvel fora do ffuxo do tempo.
ou na proximidade de uma janela que lhe permite ver o mundo
A narrativa, ou discurso, que institui o universo diegético, existe
exterior, ou num lugar morfologicamente adequado à visão de
também, como sucessão que é de palavras e de frases, no plano
um grande espaço (alto de um monte, cimo de um edificio), da. temporalidade (aliás, como qualquer texto literário).
etc. ( ) .
O tempo da diegese está delimitado e caracterizado por indi
cações estritamente cronológicas relativas ao calendário do ano
civil-anos, meses, dias, horas (8 3) por informações liga-
(1)-Salientamos, pela frequência com que ocorre em romances de
várias épocas e caracteristicas, o artifício da localização da personagem junto
de uma janela, através da qual oontempla o mundo exierior. Vejam-se alguns de par em par, alargava-se uma paisagem a um tempo suave e agreste. O vento
exempios, colhidos ao acaso: «Olhou os anúnciqs, bebeu um gole de chá, fresco da tarde agitava vagarosas e largas ondas pelas searas, plancie fora.
levantou-e, foi abrir uma das portadas da janela [...] A sala, nas traseiras No poente, nuvens finas vermelhas corriam
da casa, dava para um terreno vago, cercado dum tabuado baixo, cheio |...» (Manuel da Fonseca, Cerro
maior, 3. ed., Lisboa, Portugália Editora, s.d., p. 62); «Ouhei pela janela
de ervas altas e de uma vegetação de acaso [...]» Eça de Queirós, O primo o sol arrefecido. Chovera momentos antes: o bafo da terra
húmida fumegava
Baslio, Porto, Lello & Irmão, s.d., p. 10); «Ao outro dia, ao erguer-se, foi à superficie da erva tenra. Lá estavam oa perfis espessos e graves das
abrir a janela Era uma manh resplandecente. Em baixo, estendia-se toda colinas
. . (Fernando Namora, Domingo d tarde, 8 ed., Lisboa, Publicações
uma verdura de pomares e hortas, com tanques aqui e além..J» (id., A Capi
Europa-América, 1971, p. 190).
1al, Porto, Lelo & Irmão, s.d., p. 86); «A janela constitusa um refrigério
(82) Os deicticossão «expressões .cujo referente só pode ser deter
e cle encostou-se ao peitoril, procurando adivinhar, entre os muitos vapores
que dali se viam, aquele que o levaria. Debruada, ao fundo, pela linha verde
minado em relação aos interlocutores» (Oswald Ducrot e Tzvetan Todorov,
Dictionnaire encyclopédique des sciences du angage, Paris, Editions du Seuil,
e irregular da foresta, a baia do Guajará mostrava-se cbeia de «gaiolas»,
1972, p. 323).
uns de cano fumando os últimos carvões da viagem, outros de bandeira
(83)-B frequente, tanto no romance do século XIX como no romance
desfraidada [.. ]» (Ferreira de Castro, A seva, 25. ed., Lisboa, Guimarães do século XX, figurar na abertura do capítulo inicial uma
Editores, sd., p. 41); «E, largando a caneta, movido pela curiosidade, um indicação de tempo.
Eis alguns exemplos, extraldos da literatura
pouco tembén ao desenfado, postou-se à janela, a que uma videira ferral, portuguesa: «Aos vinte e um
de março do corrente ano de mil oitocentos e
caindo de alto, se ajeitara em gelosia de forma a comodamente deixar ver cinquenta seis, pelas onze
e
horas e meia da noite, fez justamente quarenta e sete anos que o snr. João
sem ser visto. Devassava-se dali o longe e o perto, as abas do povo, farfa-
Antunes da Mota, morador na rua dos Arménios, desta sempre leal cidade
Ihudas de primavera [..]» Aquilino Ribeiro, Andam faunos pelos
bosques, do Porto, estava em sua casa» (Camilo Castelo Branco, Onde estd a
felich-
Lisboa, Bertrand, 1962, p. 16); ««Margarida acordou às oito horas. ( ] dade?, 11. ed., Lisboa, Parceria A. M. Pereira, 1965, p. 23); «Em um fri
Chegou à janela. A quinta parecia lavrada por arados fantásticos, de relha
gidissimo dia de janeiro de 1847, por volta das nove horas da manha, o sr. Her
à mostra Os codros estavam descabeçados, dois ou tres partidos, mostrando
menegildo Fialho Barrosas, brasileiro grado e dos mais gordos da cidade
o vermelbo com inchadas de água. Aqui e além, nos currais,
cerne as fibras eterna, estava a
suar, na rua das Flores, encostado ao balcão da ourivesaria
nadavam ramos de faia [.» (Vitorino Nemésio, Mau tempo no canal, 3, ed.,
Lisboa, Bertrand, s.d., p. 29); «Em frente da mesa, para lá da janela aberta dos srs. Mourdes» (id., Os brilhuntes do brasileiro, &. ed., Lisboa, Parceria
A. M. Pereira, 1965, p. 33); «A casa que os Maias vieram babitar em Lisbos
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das ainda a este calendário, mas apresentando. sobretudo .um como em Luto no Paralso de Juan Goytisolo. Quer seja extenso
signiicado cósmico ritmo das estações, ritmo dos diase das quer seja curto, é possfvel, em geral, medir com suficiente rigor
noites (84)~ por dados concernentes a uma determinada época o tempo diegético (*0).
Pelo contrário, o tempo da narrativa, ou do discurso, é de
histórica (85), etc.
dificil medição. Poder-se-á medir este tempo por meio da pagi-
O tempo diegético pode ser muito extenso-como n'Os Mas a página é uma unidade variável, em função da
Buddenbrook de Thomas Mann- ou relativamente curto- nação?
mancha tipográfica e em função do tipo de letra; a página
ou pode apresentar
pode estar compactamente ocupada com frases
numerosos espaços em branco. Poder-se-á fazer coincidir o tempo
no Outono de 1875, era conhecida na vizinhança da Rua e S. Francisco da narrativa com o tempo que é necessário dispender para a
de Paula, e em todo o bairro das Janelas Verdes, pela Casa do Ramalhete, sua leitura? O tempo exigido pela leitura de um texto, porém,
ou simplesmente o Ramalhete» (Eça de Queirós, Os Maias, Lisboa, Livros
é igualmente um critório variável e aleatório. A velocidade da
do Brasil, s. d., p. 5); «Desde as quatro horas no calor e
do domingo de Junho, o Fidalgo da Torre, em chinelos, com uma quinzena
da tarde, silêncio leitura modifica-se de leitor para leitor, e nem sequer é constante
de linho envergada sobre a camisa de chita cor-de-rosa, trabalhava» (id., no mesmo leitor, de modo que é impossível estabelecer um padräo
A lustre Casa de Ramires, Lisboa, Livros do Brasil, s. d., p. 5); «D. António ideal susceptivel de normalizar, digamos assim, essa velocidade
de Vasconccllos e Menezes, senhor dos morgadios e bonra do
Sepúlveda da leitura (87).
Corgo e Torgucda, festejava nesse dia plácido e soalheiro de Outubro, em

1807, os vinte anos viçosos e amancirados da linda Maria do Céw» (Carlos


Malheiro Dias, Paixão de Maria do Céu, Lisboa, Tavares Cardoso & Irmão,

1902, p. 7); «Pelas cinco horas duma tarde invernosa de outubro, certo via- (86)-Tomemos como exemplo Luo no Paraiso de Goytisolo (tra-
da
jante entrou emCorgos, a pé, depois da árdua jornada que o trouxera dução portuguesa, Lisboa, Portugália Editora, 1964). Quando se inicia a

Montouro, por maus caminhos, ao pavimento calcetado seguro


e
aldeia do narrativa, so cerca de dez horas da manh: o camiäo com os companheiros
«Pelas nove
da vila» (Carlos de Oliveira, Uma abelha na chuva, ed. cit., p. 7); de Elósegui partira às oito horas («0 camião partiu às oito com o sargento
de Evora» (Vergílio
da manh desse dia de Setembro cheguei enfim à estação e os andaluzes», p. 8) e logo nas primeiras linha_ do romance se informa de
Abril de 1957, pela hora
Ferreira, Aparição, ed. cit., p. 13); «Num dia de que tinham passado duas horas sobre este facto («Havia somente duas horas
automóvel aberto, rápido
da tarde, apareceu em certa aldeola da costa um que deixara os companheiros», p. 7). Pouco depois, ouve-se uma explosão:
como o pensamento» (José Cardoso Pires, 0 anjo
ancorado, 3. ed., Lisboa,
Eram dez e meia justas quando a explosão de dinamite Ihe anunciou que a
Moraes, s. d., p. 9). retaguarda fizera voar a ponte» (p. 14). Quando os soldados se dirigem àa
universo diegético dos Esteiros
(84)-0 ritmo temporal que preside ao herdade do Paraiso para comunicarem a morte de Abel, «o relógio de sol
de Soeiro Pereira Gomes é o ritmo das estações
do ano: Outono, Inverno, marcava uma e um quarto» (p. 70). Cerca de quinze minutos depois, uma
neste romance um círculo
Primavera, Verão.. 0 tempo diegético forma patrulha de cinco ou seis soldados detém-se para uma ligeira refeição (p. 179).
de Outono, as primeiras
perfeito: se no início se lê que «Com os prenúncios Durante a tarde, desenrolam-se outros acontecimentos, até que o dia finda:
e o vento agreste
chuvas encheram de frémitos o lodaçal negro dos esteiros, «Pusera-se o Sol e a mata estava cheia de sussurros» (p. 210). Quando um
indica-se que «o Outono
abriu buraços trapos dos garotos», quase nó fim
nos sacerdote veio benzer os cadáveres de algumas vítimas da guerra, a noite
no seu ritmo imemorial
chega, cavalgando o vento». A Natureza repete-se, caía já: «Está a anoítecer já, senhor padre..» (p. 256). O romance termina
mas a situação dos homens modi-
- «rolam dias a todos os dias»
iguais quando a luz do luar inunda a paisagem, às primeiras horas da noite (cf.
fica-se: Gineto, garoto dos esteiros, que no Outono inicial se prepara para
cela
pp. 278-279).
prazeres da feira, vê chegar esse Outono conclusivo metido na
texto do romance pode ainda conter referências a outro tempo
gozar os (87)-0
tempo da instância narrativa, o tempo em que se situa
e se processa a
de uma prisão.. -o
capítulo inicial de A cartuxa de Parma muito impor
(85)-Veja-se, como exemplo, o
própria escrita do romance. Este tempo pode manter relações
de Stendhal.
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As relações entre o tempo dicgético e o tempo narrativo Deste modo, o começo do discurso corresponde
in medias res.
assumem uma importância capital na organizaçäão do, romançe. a um momento já adiantado da diegese, obrigando tal técnica,
A coincidência perfeita entre o desenvolvimento crono como é óbvio, a narrar depois no discurso o que acontecera
lógico da diegese e a sucessão, no discurso, dos acontecimentos antes na diegese.
diegéticos, não se encontra possivelmente em nenhum romançe. res é frequente no romance
O começo da narrativa in medias
Aos desencontros entre a ordem dos acontecimentos no plano elucidativo exemplo desta técnica no romance
(encontra-se um
da diegesee a ordem por que aparecem narrados no discurso, Ana Paula, da autoria de Joaquim Paço d'Arcos). Pode mesmo
daremos a designação de anacronias (38). acontecer que o romancista principie o discurso in ultimas res,
A tradição épica greco-latina oferece um cxemplo famoso
digamos assim, de maneira que as páginas iniciais narram, even-
de anacronia, ao preceituar que o poema épico deve ser iniciado tualmente com ligeiras modulaçöes, a situação com que se encerra
a sintagmática diegética. Manuel da Fonseca construiu o seu
romance Cerromaior segundo este modelo, que se revela parti-
cularmente apto a suscitar a curiosidade do leitor--o romance
tanies com o tempo diegético e com o tempo do discurso, como se pode de
policial adopta, nas suas linhas fundameatais, este tipo de aber-
preender dos exemplos que a seguir registamos: «Tenho neste mês mais
um ano de idade do que tinha doze meses atrás; e tendo chegado, como com- tura narrativa, mas que também, e um pouco paradoxal-
preendem, quase ao meio do meu quarto volume-e não passado do pri- mente, informa logo ab initio o leitor do destino final da perso-
meiro dia da minha vida-,é bem claro que tenho agora para narrar mais nagem (no caso de Cerromaior, o leitor sabe, ao longo de todo
trezentos e sessenta e quatro dias de vida do que quando comecei, de modo
o romance, que Adriano acabará na prisão) (3 9).
que. em vez de avançar na minha obra comoque nela ia trabalhando, como
Tanto o início da narrativa in medias res como in ultimas res
acontece a um escritor vulgar, estou, pelo contrário, a deixar tantos volumes
para trás-e para tanto basta que cada dia da minha vida seja ão ocupado obriga o romancista a narrar posteriormente os antecedentes
como aquele (e porque não?) e que o seus sucessos e os juízos sobre cle rece diegéticos dos episódios e das situações que figuram na abertura
bam descrição semelhante (e por que razão deveriam ser encurtados? Assim, do romance. Quer dizer, em relação à temporalidade do
segundo esta proporção, eu leria de viver 364 vezes mais depressa do que
seg-
mento diegético primeiramente narrado, o romancista institui
teria de escrever) » (Laurence Sterne, The life and opinions of Tristam Shandy,
uma temporalidade segunda, dando assim lugar a uma anacro-
Penguin Books, 1967, p. 286); «Como tem mudado o tom desta narrativa!
Perco as rédeas dos meus nervos. A unidade do que somos-é tão fácil nia. No caso de início in medias res, a anacronia, depois de ocupar
perd&-la! Dá-me a ideia de que me pegaram pela mão, arrastando-me para uma extensão maior ou menor da sintagmática do discurso, é
de surpresas.
uma feira alucinante Quem entra na roda, subindo, descendo
e cabriolando sem o querer, só poderá parar, recuperar-se, quando a roda
reabsorvida pela primeiranarrativa, que continua a desenvolver-se
parar também. B a desconexão dos factos? Sinto-a, mesmo sem a îr aver1guar
após aquela interrupço; no caso do infcio in ultimas res, a ana-
cTonia apresenta-se como a narrativa de base, ocupando a quase
no que fica cscrito. As vozes da coerència ensurdecem nestas malhas de

neblina, ficam só audiveis os gritos. totalidade do discurso.
Mas tudo deve ser da noite. À hora em que vos escrevo, as lampadas A esta espécie de anacronias, constituídas por recuos no
adormecem nas esquinas, penduradas, como enforcados, da névoa ribeirinha.
Ainda penseci em percorrer as ruas-fugindo de mim. Hoje, porém, seria
inúti. Prefiro, dai, continuar amanhã. Amanhã é dia» (Fernando Namora,
Domingo à tarde, p. 185).
(9-Sob certo angulo, todavia, esta infomação inicial funciona
(8) Adoptamos neste capítulo parte da terminologia proposta por como mais um estimulo para prender a atenção do leitor: por que razão virá
Gérard Genette na sua obra Flgues l .
Adriano a ser cacarcerado?
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tempo, dá-se em geral a
designação de flash-back
seguindo a mencionada terminologia de Gérard
e
darmos nós, ção muito relevante no romance naturalista, em estreita inter-
minação dè analepse. Genette, a yleno-
dependência com a concepção positivista do mundo que rege
A analepse-é-um Após
recurso de que
romancistas se servem
os
esse romance. a
apresentação das personagens principais,
com frequência, porquepermite comodamente esclarecer o narra- o romancista naturalista recorre logicamente a analepses mais
tário sobre os antecedentes de uma ou menos extensas para analisar, segundo óptica positivista,
determinada situação- sobre a
tudo iando essa situação se encontra no início as forças determinantes- hereditariedade, influência do meio,
da narrativa-
e sobre uma constituição fisiológica
personagem introduzida pela primeira vez no dis- e
temperamental-que modelam aquelas
curso ou neste
reintroduzida, após disparição mais ou menos personagens (91).
prolongada (90). A narrativa analéptica desempenha uma fun-
A analepse constitui uma técnica utilizada pelo romance
de todas as épocas- no século XVII, Sterne escreveu essa
obra-prima da narrativa analéptica que é Tristam Shandy-,
não podendo de modo nenhum set çonsiderada uma descoberta
(00)- Vejamos, através de alguns exemplos,
segundo o esquema referido:
as funções da analepse do romance do sksulo XX,fundado em especial na capacidade
a) No capítulo I dos Mistérios de Fafe de Camilo Castelo Branco, retrospectiva da memória (9 2). A utilização, porém, queda
Rosa manifesta primeiro relutância cm aceitar o asamento com Francisco analepse faz um romancista como Balzac ou Camilo difere subs
Roxo, vindo por fim, todavia, a aceder a tal projecto. O narrador sentiu noces tancialmente do emprego que da mesma técnica fazem, por
sidade de que o capítulo I fosse constituldo por uma analepsc, para assim, excmplo, um Joyce ou um Faulkner.
através de factos acontecidos anteriormente, poder esclareccr aqueles factos,
Quando, no capitulo XI do Livro negro do P Dinis, Camilo
situados depois no plano da diegese, mas colocados antes no plano do dis-
o próprio narrador cnuncia logo nas primciras frases do capitulo
entende ser indispensável uma narrativa analéptica, começa por
curso.
E advertir o leitor: «E necessário recua». Quer
II o objectivo da analepse: «As primeiras hesitações e a condescendêocia dize a analepse
final de Rosa explicam-se aqui em breve.
b) Noutro romance de Camilo, O regicida, ocorre uma analepse que
é claramente declarada c caracterizada como tal,
climinando-se
qualquer possibilidade de confusão da sua temporalidade com a
tem por função caracterizar uma personagem introduzida pela primcira vez
temporalidade da narrativa em relação à qual se instaura a ana-
no discurso. No final do capítulo IV, é mencionado o padre Luls da Silveira,
tido como culpado do desîoramento de uma personagem casada com o cronia. A analepse no afecta à organização logicamente orde
herói do romance. O padre Luís da Silveira já fora aludido, anonimamente,
no capítulo I11, mas só no focho daqucle capitulo, num momento nuclear
da intriga, é que o seu nome é referido. O capitulo V é uma analepse desti
nada a esclarecer o leitor acerca da personalidade e das acções do padre Silveira capltulos, estava, como facilmente se calcula, a familiarizar-se cada vez mais
c)Finalmente, um exemplo de analepse destinada a esclarcer o leitor com Mr. e Mrs. Garland, Mr. Abel, o potro e Bárbara [..p.
sobre os acontecimentos ocorridos a uma personagem ausente da narrativa (1)-Encontra-se um exemplo tipico destas analepses nos capl
há já algum tempo. Limitar-nos-emos a transcrever o inicio do capi tulos IlI e V de O crime do Pe Amaro de Eça.
tulo XXXVII de A loja de antiguidades de Charles Dickens (tradução por- (92) Michel Butor obscrva justamente que uma narrativa privada
tuguesa, Lisboa, Portugália Editora, s. d., p. 272): «Falemos agora de Kit, de qualquer recuo no tempo tornaria necessariamente impossivel qualquer
pois não só há tempo para recordar o que se tem passado com ele, mas, referencia à história universal, ao passado das personagens, à memória e,
muito principalmente, porque o decorrer da història nos obriga a aproveitar por conseguinte, à interioridade dessas mesmas personagens, transformadas
esta oportunidade para Ihe procurar o rasto e segui-lo desse modo em coisas (cf.. Michel Butor, Essais sur le roman, Paris, Gallimard,
durante
certo
Kit, enquanto se passavam os suoessos narrados nos últimos quinze
tempo.
i972, p. 114).
1 3 7 . 7 E A

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nada da narrativ, que não apresenta rupturas nem sobreposições Além das anacronias, outra espécie de tensões e desencon-
cronológicas susceptiveis de perturbarem oentendimento do leitop. tros se institui entre o tempo diegético e o tempo narativo,
Pelo contrário, Joyce ou Faulkner no sinalizanm as suas dizendo respeito à duração dos acontecimentos na sucessão
analepses, de modo
a demarcarem cuidadosamente o termo de diegética e à duração da sintagmática narrativa em que tais acon
um plano temporae o início de outro. Nos seus romances, como tecimentos são relatados.
no romance contemporäneo em
geral, o discurso, abruptamente, A coincidência perfeita entre a duração da diegese e do
passa a narrar acontecimentos diegéticos.diferentes. dosque discurso será possível? Tal isocronia só será de admitir num
vinha a narrar, entrecruzam-se vectores diversos da ipntriga, caso: quando o diseurso reproduzir fielmente, sem qualquer
associam-se e confundem-se temporalidades distintas. Estas rup-
intervenção do narrador, um diálogo da diegese. No capítulo VII
turas, descontinuidades, justaposiçðes e interpenetraçes crono- de Agulha em palheiro de Camilo, após um diálogo entre Paulina
lógicas transformam com frequência o
romance numa narrativa e Eugénia, o narrador comenta: «Este diálogo, que parece esti-
caótica, de leitura árdua e de compreensão problemática (93).
rado, correu em menos de quatro minutos» (9 5). Qualquer
A anacronia pode consistir,
porém, numa antecipação, no que leia em voz alta, sem pressas nem demoras, o citado
plano do discurso, de um facto ou de uma situação que, em obe- leitor
diálogo e registe o tempo da sua leitura, verificará que esta dura
diência à cronologia diegética, só deviam ser narrados mais
A esta espécie de anacronia daremos a denominação de
tarde. um pouco mais de três minutos, coincidindo portanto esta dura-
prolepse.
A prolepse é muito menos frequente do que a analepse, sendo
ão com a temporalidade diegética indicada pelo narrador.
mesmo bastante rara a sua ocorrência no romance do século XIX.
Todavia, nem emtais casos se pode rigorosamente falar
de absoluta igualdade entre o segmento diegético e o
O romance que mais fácil e logicamente acolhe.prolepses é o segmento
romance de narrador autodiegético, pois este narrador, que narrativo, pois que, como observa pertinentemente Gérard
organiza a narrativa segundo um modelo explicitamente retros Genette, o discurso não reproduz «a velocidade coma qual aque-
não tem dificuldade de, a respeito de um acontecimento
las palavras foram pronunciadas, nem os eventuais tempos mortos
pectivo,
diegético, evocar um outro que Ihe é cronologicamente posterior. da conversação.» (95) De qualquer modo, é nos segmentos
do discurso constituídos exclusiva, ou
No romancecontemporâneo, porém, as prolepses podem abun- predominantemente, por
dar mesmo sem a existência de um narrador autodiegético, como diálogossegmentos a que a crítica anglo-americana, na esteira
de Henry James e Percy Lubbock, chama
comprova, por exemplo, Enseada amena de Augusto Abe- cenas (scenes)-que
laira (94). se verifica uma isocronia relativa- ou uma tendência para ela
entre o tempo diegético e o
tempo narrativo. Pondo de lado
-

estes casos, 0 quce o romance apresenta sãa.anisocronias, dife-


renças de duração, entre estes dois tempos.
(0)-Sobre estes problemas, veja-se Mariano Baquero Goyanes,
la
Estructuras de novela actual, Barcelona, Editorial Planeta, 1970, pp. 131 ss.
04)-Augusio Abelaira sublinha por vezes, com irónica desenvoltura,
natureza proléptica da narativa(citamos
aLisboa, Bertrand, s. d.):sua pela 2.* ed. de Erseada amena,
«Um dia, faltam mais de quatro meses, o Osório
cle, que não conhece a Maria José, a qual, aliás, há-de vir a desejar profun-
há-de dizer ao Alpoim, ao Alpoim que neste instante está lá à frente, no tempo,
damente-responderá [...]» p. 51).
(5)-Camilo Castelo Branco, Agulha em palheiro, 10. ed., Lisboa,
à espera dele [...» (p. 49); «0 Alpoim-ele ainda está neste momento foraa Parceria A. M. Pereira, 1966, p. 98.
desta história e é como se não existisse, embora já tenha trinta e oito anos,
()-Geard Genette, Figures II, p. 123.
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O narrador pode relatar velozmente, através de fragmentos mente o leitor de que eliminou da narrativa um certo número
do discurso que denominaremos resumos (na crítica de língua de factos, por irrelevantes, monótonos, maçadores, escabrosos,
inglesa, summaries), acontecimentos diegéticos ocorridos emn ctc. (100); outras vezes, porém, a elipse não é assinalada especi-
longos periodos de tempo. Fernando Namora condensa nesta ficamente no texto, devendo o leitor identificá-la pela análise
meia dúzia de linhas sucessos que se desenrolaram durante grande das sintagmáticas diegética e narrativa (101). Estas elipses im
parte da noite: «Tinham perdido a noite na ceifa dos tojos e desempenham uma função muito importante no romance
plicitas
a segurar a burra sobre as labaredas da fogueira. Aquilo acabara contemporâneo: já não se trata de aliviar o texto de pormenores
numa gritaria dos diabos, quando Alice, presa à garupa do diegéticos destituídos de interesse ou chocantes para o leitor,
mas de elidir intencionalmente do discurso elementos diegéticos
animal, viu que o pai e o compadre não escolhiam os meios de
fundamentais, que o leitor terá de reconstituir, baseando-se nas
manter a besta amarrada ão
sacrificio. Berrando uns com os
outros, lambidos pelo fogo, como danados, pareciam demóónios informações fragmentárias que o texto he oferece.
fugidos do Inferno.» (977 Oresumo. pode ser mais condensado As anisocronias podem resultar, porém, do facto de a uma
ainda, bastando escassas palavras para referir uma temporalidade temporalidade diegética curta corresponder uma temporalidade
narrativa longa. As.descrições e as anáises minuciosas de
um
diegéica muito dilatada: «E esse ano passou. Gente nasceu,
morreu. amadureceram, arvoredos murcharam.
Searas facto, de uma acção, de um gesto, de um estado de alma, podem
gente
Outros anos passaram.» (98) gerar um tempo do discurso superior ao tempo da diegese, deter-
Tais resumos extremamente condensados avizinham-se das minando, com as suas pausas, um ritmo vagaroso da narrativa.
elipses,anisocronias resultantes do facto de o narrador excluir Igual consequencia dimana das digressões que o narrador pode
inserir no discurso eque, suspendem a progressão da diegese.
do discurso determinados acontecimentos diegéticos, dando assim
origem a mais ou menos extensos vazios narrativos. A elipse
é A principal_causa, _porém, de alongamento da temporalidade
um processo fundamental da técnica narrativa, pois
nenhum narrativa em relação à temporalidade diegética consiste na pos-
narrador pode relatar com estrita fidelidade todos os pormena-
res da diegese (99). Umas vezes, o narrador informa explicita-

tura das coisas como elas acontecem. Virão cenas repetidas, monotonia, aridez,
trieza, abrimentos de boca, enfim todos os dissabores que andam apensos à
joio, 8. ed., Lisboa, Publicações vida como ela realmente é (Um homem de brios, 9. ed., Lisboa, Parceria
(7)-Fenando Namora, O trigo eo
Europa-América, 1972, p. 317. A. M. Pereira, 1967, p. 288).
(100)-Exemplos: «De propósito, saltamos por cima dos pormenores
( ) - Eça de Queirós, Os Maias, p. 689.
vários roman da partida, para não descrever o quadro lastimoso do apartamento de Calisto
( - A função da elipse tem sido posta em relevo por
cistas. Henry Fielding, por exemplo, escreve: «Quando se apresentar alguma e Teodora
não pouparemos o apartamento de Teodora e Calisto era titulo para dois capitulos de
situação extraordinária (prometemos muitas deste género),
Mas se se lágrimas» (Camilo Castelo Branco, A queda dum anjo, p. 48); «Será imper
nem esforços nem papel para a revelarmos amplamente ao leitor.
anos sem nada trazerem de importante, não recearemos deixar um tinência alongar a narrativa dos diálogos entre a baronesa e o poeta por
passarem
raríssimos inter
vazio na nossa história. Apressando-nos para chegar a relevantes aconte espaço de sete dias. Raras horas deixaram de estar juntos, e
cinentos, passaremos sob silêncio esses intervalos de esterilidade» (7om valos o barão se introduzia nessas práticas, deveras angustiosas para todosy
Jones, liv. L, cap. D. (id., Um homem de brios, p. 209).
Também Camilo sublinha a necessidade da elipse na técnica do romancé:
(1o01)- Sobre estas elipses. frequentes em A ia recherche du temps perdu,
«Háde ser por força fastidioso o romance que se csmerar em ser a fiel pin- cf. Gérard Genette, Figures Il, pp. 140-141.
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sibilidade que o narrador detém de instaurar uma espécic de cado em 1931, Dujardin caracterizou. assim omonólogo interior:
******a

é um discurso
narrativa segunda que se vem enxertar na diegese primária -

«omonólogo interior, comogualquer monólogo,


tem como objectivos introduzir-
ou, talvez melhor, que nasce desta diegese primária e que se desen- dapersonagem posta em cena e
vida interior dessa personagem
sem o que
volve, por vezes, dentro dela como uma espécic de metástase -nos directamente na

intervenha com explicaçðes ou comentários, e, como qual-


diegéticaCxplorando as virtualidades da memória.s.da.retkos autor
auditor e um discurso não
peccão e devassando o enredado.mundainterior.das.pesonageps. quer monólogo, é um discurso sem tradicional pelo
A utilização de taistécnicas narrativas permitiu aCaude Mauriac. pronunciado; mas _diferencia-se do monólogo
sEguinte:guanto.à sua matéria, é uma expressão do pensamento
escrever um romance de duas centenasde páginas, LAgrgndisse
ment, cuja diegeseprimária, digamos assim, tem como limites mais fntimo, mais próximo do inconsciente; quanto ao seu espf-
cronológicos os breves minutos em gueperdura uma luz yer rito, é um discurso anterior a gualquer organizaco e lógica, repro
duzindo eSse pensamento noseu estado. pascente com aspecto
melha dos sinais detrânsito..A um tempo abjectivo tão escasso de recém-vindo; quanto à suá forma, realiza-se em frases directas
corresponde portantoum tempo psicológica,czistencial, bas
tante dilatado. A extensão dotempo do discursoé gerada pela reduzidas.a0 mínimo de sintaxe» (103). Esta definição de Dujar-
oferece
dimensão deste tempa psiçológico. din pode ser com_razão criticada nalguns pontos, mas
Omondlog0 interior constitui uma dastécnicas mais tilizadas uma noção aceitável dos caracteres fundamentais do monólogo
pelos romancistas contemporäneos a fim de representarem os interior: um monólogo não. pronunciado, que se desenrola
meandros e as complicações da correnie de consciëncia de uma nainterigridads..dapersonageme há determinados estados
personagem e assin poderem analisar a urdidura do tempo psicofisiológicos. particularmente fayoráveis à eclosão do monó-
logo interior: réverie, insónias, cansaçoj etc. que não tem
interior (102).
A1écaisade monólogo interioc.foi inyentada.porEdouard outro auditor que não seja a própria personagem e que se apre

Dujardin861-1949 abscura..cScritor fancês que.publicou, senta sob uma forma desordenada c até caótica sintaxe extre
em 1887, um romance.em.que.omonólogo.interior.eraabundan mamente frouxa, pontuação escassa ou nula, grande liberdade,
temente utilizadoJes lariers sont. coupés.JamesJoycereco sob todos os pontos de vista, no uso do léxico, etc.sem qua-
nhecen em Dujardia e. inspirador da técnicados monólogos quer intervencão.do narador.c fuinde à medida,gue as ideias
interiores de_Ulisses,arrancando. assim do. olvido.o.romancista easimagens, ora insólitas ora. ttiviais, ora incongruentes ora
gaules.
Num livrinho com o título de Le monologue intérieur, publi-
(03)-Apud Michel Raimond, Le oman depuis la Révolution, Paris,
Colin, 1967, pp. 312-313. Sobre a história e a problemática do monólogo
interior, cf.: Michel Raimond, La crise du roman, pp. 257 s.; Michel Zéraffa,
(102) Diversos criticos, sobretudo de lingua inglesa, identificam
monólogo interior (interior monologue) e corrente de consciência (stream of La révolution romanesque, pp. 137 ss.; Georges Jean, Le roman, Pars,
consciousnes). Julgamos. tal como propöem Schoes e que é acon-
Éditions du Seuil, 1971, Pp. 148 ss.; Danièle Sallenave, «å propos du «mono-
Kellog,
selhável distinguir estas designações: stream of consciousness é uma expressão logue intérieum: lecture d'une théorie», in Littérature, 1972, S, pp. 69-57;
da psicologia, que se refere a um processo psicológico; interlor monologue Melvin Friedman, Stream of consciousness: a study in literary method, New
é uma expressão com que se denomina uma técnica literária (cf. Robert Haven, Yale University Press, 1955; Robert Humphrey, Stream of conscious
Scholes e Robert Kellog, The nature of narrative, New York, Ozford Uni ness in the modern novel, Berkeley- Los Angeles, University of California
versity Press, 1966, p. 177). Press, 1965; Robert Scholes Robert Kellog, op. cit. pp. 177 ss.
BLBikTECA CETRAL
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verosimeisyão aparecendo.s e vão.atraindo ou repelindg na vai-se desenvolvendo até ao perfeito esclarecimento desse enigma,
consciencia da.perSonagemQ.monologO. interior.pOisa uma, saciando-se a curiosidade do leitor com essa solução final.
técnica adequada.à representação.dos
conteúdos e. processos. da. É particularmente característico do romance fechado um
consciencia-e. n0apenas dos.conteidos.mis próximos do breve capítulo inal em que o autor, em atitude retrospectiva
inconsciente, como_afirma Djardin diferenciando-se.do.mo informa resumidamente o leitor acerca do destino das perso
nólogo tradiciona.cirecto.au.indirecto.pelo.factode captar nagens mais relevantes do romance. Sob
os rótulos elucidativos

os conteúdos psíquicos no seu estado.incogtixo.na.confusão ena de «conclusão» ou «epílogo», tal capftulo abunda na obra roma-
desordem que_caracterizam 9 uxo da consciência, sem a. inter- nesca de Camilo (105).
venção disciplinadora
e
esclarecedora do narrador. No romance aberto não existe uma diegese com princípio,
meio e fim bem definidos: os episódios sucedenm-se, interpe
5.3-Consideremos, agora, a distinção entre romance fechado netram-se ou condicionam-se mutuamente, mas não fazem parte
e romance aberto, Oprimeiro_caracteriza-se-por-possuir uma de uma acção única e englobante. O romance picaresco, por
diegessclaramente. delimitada,.com. principio.meio e fim. vai
exemplo, é um romance aberto: o protagonista, o pícaro,
romancista apresenta metodicamente as personagens e descreve contando as aventuras e.as vicissitudes da sua vida, uma vida
os meios em gue clasiveme agem, narra o.uma.intriga.desde repleta de dificuldades e de maus bocados, que o pícaro enfrenta
Q seu início até ao sey.epilog, A fórmula utilizada por Lukács com astúcia, alguma maldade e um espírito cepticamente irónico;
para definir este tipo de romance é bem elucidativa acerca do os váriosepisódios acumulam-se, justapõem-se ao longo do
carácter orgânico e conclusivo do seu enredo: «Qcaminho outro elo de ligação
romance, sem que exista entre eles qualquer
começou, a viagem terminou»(04). Entre o termo a quo e o termo orgânica que não seja a presença constante do protagonista.
Estamos ante uma estrutura románesca aberta, pois que,
ad quem do romance fechado, insere-se em geral um episódio em

aventura
central,um acontecimento que constitui como que o climax princípio, o pícaro pode sempre acrescentar uma nova
de todo o enredo, e após o qual a intriga se encaminha necessa- aos eventos já narrados.
riamente para um epílogo. O termo de um romance aberto contrasta profundamente
0 primo Basílio constitui um bom exemplo de romance com o termo de um romance fechado: no caso deste, o leitor
sorte final de todas e as derra-
jechado: 0 romancista, depoisde apresentar.as.perSONALenS. e fica a conhecer a as personagens
caso do romance
decaracterizar o meio em queelassemOVem, narra, desde oSeu deiras consequências da diegese romanesca; no
ilícita entre Luísa e Basílio: aberto, pelo contrário, o autor não elucida os seus leitores acerca
1nicio, a história da ligaç0 amorosa
o adultério representa o acúmen da acção romanesca e, após
este momento fulcral, o enredo aproxima-se gradativamente de
uma conclusão inevitável. A morte de Luísa é o testemunho
(105)-Escreve Camilo no «epílogo» d'Os brilhantes do brasileiro
irrefragável de que «a viagem terminou». (8. ed., Lisboa, Parceria A. M. Percira, 1965, p. 277): «Concluído o livro,
mandámos fazer nos
O romance policial apresenta uma tipica estrutura fechada suja-se uma derradeira lauda com as escavações que
da diegese: após a exposição de um enigma inicial, a intriga pântanos desta história.
e herdeiros
Descobriu-se, através de fétidos esgotos, que os três amigos
e medram.
de Hermenegildo Fialho de Barrosas ainda respiram
Atanásio José da Siva é barão da Silva.
Pantaleão Mendes Guimares é barão de Mendes Guimarãec), etc.
a0)-Georges Luckács, La théorie du roman, p. 68,

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