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UNIVERSIDADE DE RIBEIRÃO PRETO

CURSO: Relações Internacionais


DISCIPLINA: História das Relações Internacionais

Avaliação Parcial

Davyd Lucas Souza Código: 834.935


Juliana Aparecida Borges Código: 834.556
Ricardo Grecchi Aguiar Código: 834.803

Docente: Prof. Sandra Rita Molina

Ribeirão Preto - SP
2020
“Se o Estado Nação, como conhecemos, se mostra a partir do século XVIII, é
possível entender a Paz de Westphalia como marco do Sistema Internacional de
Estados moderno?”

Para responder à questão, é necessário primeiramente analisar todo o contexto do final


da Idade Média, passando pelo fim do Feudalismo até os tratados da Paz de Westphalia que
dão fim a Guerra dos Trinta Anos.
A transição do feudalismo para o capitalismo começou no período da Baixa Idade
Média, a partir do século XIV. O sistema feudal entrou em profunda crise no século por
diversos fatores como: A ascensão da burguesia nas cidades medievais, que passaram a ter
uma intensa movimentação comercial nesse período; a crise no campo; as revoltas
camponesas; a peste negra, entre outros.
Essa crise forçou os senhores feudais e os burgueses que estavam em ascensão a
traçarem estratégias de desenvolvimento de suas estruturas econômicas.
Um dos elementos responsáveis pela queda do sistema feudal e, consequentemente,
começo do mercantilismo foram as feiras. A partir desse momento passou a ocorrer uma
massiva circulação de informações entre os feudos. Desta forma, os câmbios informacionais
possibilitaram a criação de uma vida urbana fora dos feudos. Assim, a gêneses das cidades,
centros urbanos e da burguesia começou.
Com o fortalecimento dos burgos, é dado pelos reis a carta patente que garantia a
independência dos burgos em relação aos senhores feudais. Com isso, foi possível um grande
enriquecimento dos burgueses pelo comercio garantindo um grande poder político e
econômico. Assim sendo, os donos dos meios de produção utilizaram de seu grande poderio
econômico para financiar as monarquias nas lutas contra os senhores feudais. Tal suporte
financeiro garantiu aos burgueses enormes privilégios.
Com o sistema feudal desarticulado e perdendo força devido a peste negra (que matou
cerca de 1/3 da população) e a formação de novas rotas comerciais criadas pelas cruzadas. Os
acordos entre a burguesia e monarquia levaram ao colapso do sistema feudal culminando com
seu fim.
Com o fim do feudalismo as monarquias absolutistas entraram em cena. Com os reis,
em alguns casos, tendo uma suposta origem divina, essa figura ficou muito fortalecida. Logo,
o continente europeu antes fragmentado, agora com a junção dos reinos tem a ascensão da
figura do rei formando os Estados Absolutistas.
A formação das monarquias nacionais nos remete a uma série de mudanças que se
iniciaram durante a Baixa Idade Média. Essas mudanças aconteceram em razão da crise do
sistema feudal e da construção do sistema capitalista, adotado pela classe burguesa.
A instituição das monarquias pode ser assimilada como um processo que atendia tanto
aos interesses dos nobres como dos burgueses, contendo várias revoltas camponesas, e
implantando um processo de padronização fiscal e monetário, visando atender os interesses
econômicos da classe burguesa.
As monarquias buscavam manter algumas tradições medievais, mas buscavam
também e criar novos métodos de organização política. Por isso, o poder dos senhores feudais
fora suprimido em favor da autoridade real. Apesar disso, os nobres ainda tinham privilégios,
sendo que apenas os burgueses e os camponeses estavam sujeitos às cobranças de taxas.
Nas monarquias, o rei era a figura principal no governo, contava com auxílio dos
burgueses, da nobreza e do clero, sendo que a Igreja foi fundamental para reafirmar através da
fé cristã a nova autoridade do governo, o rei.
Esse foi um processo histórico que passou por toda a Europa, a ascensão das
autoridades monárquicas foi observada entre os séculos XII e XV.
No quadro final da crise da Idade Média, a centralização política nas mãos dos reis
surgiu como um método eficiente de restabelecer a ordem e a segurança. Os reis atuavam
como intermediários entre os senhores feudais e a burguesia, com isso os reis conseguiram
impor sua autoridade em todo o reino.
A fragmentação política que era marca no feudalismo, foi substituída pelo poder
centralizado e aos territórios unificados. Daí formaram-se na Europa monarquias
centralizadas, como as da França, Inglaterra, Portugal e Espanha, que chamamos de Estado
Moderno ou Estado Absolutista.
Os Estados Modernos Centralizados e, posteriormente, Absolutistas são característicos
da Europa Ocidental entre os séculos XVI e XVIII. Uma das bases do rei era o exército
nacional, que possibilitava o recolhimento de impostos por meio da burocracia.
O rei absolutista foi uma forma de equilibrar as forças entre a nobreza e a burguesia,
utilizando-se do amparo da Igreja. Para manter o poder em suas mãos, os reis aproximavam-
se da burguesia; concedia cargos à nobreza; centralizava a arrecadação de impostos; entre
outras formas utilizadas.
A política econômica dos Estados Nacionais Modernos Europeus é chamada de
mercantilismo. O termo foi cunhado por Adam Smith em 1776. Esse sistema tem várias
características. Dentre elas, cabe destacar o metalismo, com busca incessante por metais
preciosos, como ouro e prata, enriquecendo a nação e levando à expansão marítima, que levou
mais tarde levou ao sistema colonial. Além disso, no mercantilismo está presente a balança
comercial favorável, intervenção estatal na economia e protecionismo econômico.
A tríade formada por mercantilismo, absolutismo e a chamada sociedade de
privilégios, recebe o nome de Antigo Regime.
A Guerra dos Trinta Anos (1618-1648), ao contrário do senso comum, não se
restringiu apenas à questão religiosa, interesses relacionados ao poder e a territorialidade
também estavam inseridos no panorama da época.
Para entender os motivos que levaram à guerra, é necessário voltar ao contexto do
início do século XVI, com a chegada da reforma protestante. Em 1517, no que hoje é
conhecida como Alemanha, Martinho Lutero faz duras críticas à atuação papal, utilizando 95
teses para defender seus pontos. Um de seus primeiros atos foi a tradução da bíblia para o
alemão (até então escrita somente em latim, com o monopólio do papado), defendendo que a
população deveria ter o direito de interpretar os ensinamentos da forma como quisesse. A
partir disso, inúmeros príncipes dos reinos do Sacro Império Romano Germânico observaram
que o enfraquecimento do poder papal abria brechas para seu próprio fortalecimento, visto
que não precisariam mais seguir determinadas regras, levando assim, ao rompimento com a
Igreja Católica, com confisco de seus bens e terras.
Tal rompimento levou a uma série de posteriores conflitos entre esses reinos, que
acabaram sendo apaziguados com a chamada Paz de Augsburgo (1555), que dava tolerância
oficial do luteranismo no Sacro Império, com a política de cujus regio, ejus religio, que
determinava que a religião de cada localidade seria definida pelo soberano que a governe.
No entanto, a boa relação entre o imperador do Sacro Império e os príncipes começa a
ser quebrada quando a dinastia Habsburgo inicia um processo de imposição do catolicismo
aos pequenos reinos do império, contrariando o acordo de 1555. Até então, o imperador não
ditava rigidamente normas tão internas, e quando a autonomia dos príncipes começa a ser
ameaçada, a guerra se torna iminente, tendo início em 1618.

“Tal guerra teve o envolvimento de potências católicas administradas pelos


Habsburgo, como a Espanha e Áustria, e também de Estados protestantes
escandinavos e da França, que, mesmo sendo católica, temia o domínio dos
Habsburgo na Europa e apoiou os protestantes no conflito.” (JESUS, 2010, p. 221)
O longo tempo de guerra e a destruição em massa levaram ao seu fim com os tratados
de Münster e Osnabrück que, em bloco, são conhecidos como Tratados de Westphalia,
colocando fim à Guerra dos Trinta Anos. Tais tratados conotam aos Estados legitimidade e
territorialidade, resultando assim na soberania, ou seja, sem intervenções externas.

“O sistema de Estados soberanos exigia instituições estatais dentro das fronteiras e o


desaparecimento de autoridades que interferissem de fora, para que a autoridade
suprema vigorasse dentro do território e tivesse independência política e integridade
territorial.” (PHILPOTT, 1999, p. 567-569)

Esse sistema de Estados moderno formado por Westphalia a partir de 1648, vigora até
hoje, mesmo com organizações internacionais como a ONU, que faz recomendações e
sugestões aos Estados sobre diversos temas, está a critério da própria entidade estatal decidir
se implementará ou não tais recomendações em seu território, dialogando diretamente com o
novo sistema criado pelos tratados de Münster e Osnabrück.
No entanto, a chamada Paz de Westphalia não preencheu todas as lacunas que deveria,
certas brechas foram encontradas pelos Estados para obtenção de seus próprios interesses, ou
seja, novas formas de “domínio” e influência. Os tratados comerciais começaram a ser usados
como ferramenta para essa busca por interesses, como por exemplo o Tratado de Methuen,
assinado entre Inglaterra e Portugal que claramente beneficiava muito mais os ingleses do que
os portugueses, dentre muitos outros acordos entre diversos outros países. Por fim, a Paz de
Westphalia revolucionou o sistema de Estados, mas não eliminou completamente os
mecanismos de coerção das potências sobre os mais fragilizados.
Voltando então, à questão inicial, Westphalia pode ser considerada como marco inicial
do sistema de Estados moderno, visto que a partir dela as ideias de soberania, territorialidade
e legitimidade tornam-se presentes, mesmo com as novas formas encontradas pelos Estados
de “imporem” de certa forma seus interesses, como tratado no parágrafo anterior.
Referências Bibliográficas

ANDERSON, Perry. Linhagens do Estado Absolutista. 3ª Edição. São Paulo: Brasiliense,


1974.

JESUS, Diego. O baile do monstro: O mito da Paz de Vestfália na história das relações
internacionais modernas. História (São Paulo), vol. 29, núm. 2, 2010, pp. 221-232,
Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho Brasil.

HOBSBAWM, Eric. Nações e Nacionalismo desde 1780. Programa, mito e realidade. Rio de
Janeiro: Paz e Terra, 1990.

MOLINA, Sandra. Slides: A paz de Westphalia. Ribeirão Preto: 2020.

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