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SUMÁRIO
ASSISTÊNCIA SOCIAL ........................................................................................... 03
ORIGEM DA QUESTÃO SOCIAL ........................................................................... 04
SERVIÇO SOCIAL E A ESCOLA ............................................................................ 08
ASSISTÊNCIA SOCIAL E SAÚDE .......................................................................... 13
RESPONSABILIDADES DO ASSISTENTE SOCIAL NA SAÚDE PÚBLICA.......... 13
POR QUE A INTERSETORIALIDADE É IMPORTANTE? ...................................... 15
O HOMEM E A SOCIEDADE ................................................................................... 16
A DESIGUALDADE SOCIAL ................................................................................... 19
OS FUNDAMENTOS DAS CIÊNCIAS SOCIAIS ..................................................... 25
DIRETOS HUMANOS ............................................................................................. 27
COMO SURGIRAM OS DIREITOS HUMANOS? .................................................... 37
MITOS E VERDADES SOBRE OS DIREITOS HUMANOS......................................38
A DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS ................................ 39
OS DIREITOS HUMANOS NA CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA ............................. 46
A DECLARAÇÃO UNIVERSAL E A CONSTITUIÇÃO DE 1988 ............................ 52
REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 64

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ASSISTÊNCIA SOCIAL

A Assistência Social é uma política pública, ou seja, um


direito de todo cidadão que dela necessitar. Ela está
organizada por meio do Sistema Único de Assistência
Social (SUAS), que está presente em todo o Brasil. Seu
objetivo é garantir a proteção social aos cidadãos, por
meio de serviços, benefícios, programas e projetos que se
constituem como apoio aos indivíduos, famílias e para a
comunidade no enfrentamento de suas dificuldades.

Sistema Único de Assistência Social - SUAS


O Sistema Único de Assistência Social (SUAS) é um sistema público que organiza,
de forma descentralizada, os serviços socioassistenciais no Brasil. Com um modelo
de gestão participativa, ele articula os esforços e recursos dos três níveis de governo
para a execução e o financiamento da Política Nacional de Assistência Social
(PNAS), envolvendo diretamente as estruturas e marcos regulatórios nacionais,
estaduais, municipais e do Distrito Federal.
O SUAS organiza as ações da assistência social em dois tipos de proteção social. A
primeira é a Proteção Social Básica, destinada à prevenção de riscos sociais e
pessoais, por meio da oferta de programas, projetos, serviços e benefícios a
indivíduos e famílias em situação de vulnerabilidade social. A segunda é a Proteção
Social Especial, destinada as famílias e indivíduos que já se encontram em situação
de risco e que tiveram seus direitos violados por ocorrência de abandono, maus-
tratos, abuso sexual, uso de drogas, entre
outros.
No SUAS também há a oferta de Benefícios
Assistenciais, prestados a públicos
específicos de forma integrada aos serviços,
contribuindo para a superação de situações
de vulnerabilidade. Também gerencia a
vinculação de entidades e organizações de
assistência social ao Sistema, mantendo
atualizado o Cadastro Nacional de Entidades
e Organizações de Assistência Social e
concedendo certificação a entidades 3
beneficentes.
Criado pelo então Ministério do Desenvolvimento Social (MDS), o Sistema é
composto pelo poder público e sociedade civil, que participam diretamente do
processo de gestão compartilhada. A gestão das ações e a aplicação de recursos do
SUAS são negociadas e pactuadas nas Comissões Intergestores Bipartite (CIBs) e
na Comissão Intergestores Tripartite (CIT). Esses procedimentos são
acompanhados e aprovados pelo Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS) e
seus pares locais, que desempenham um importante trabalho de controle social.
Criado a partir das deliberações da IV Conferência Nacional de Assistência Social e
previsto na Lei Orgânica da Assistência Social (Loas), o SUAS teve suas bases de
implantação consolidadas em 2005, por meio da sua Norma Operacional Básica do
SUAS (NOB/SUAS), que apresenta claramente as competências de cada órgão
federado e os eixos de implementação e consolidação da iniciativa.

ORIGEM DA QUESTÃO SOCIAL

O aparecimento da questão social está ligado à mudança do trabalho escravo para o


trabalho livre. Tratando-se agora de uma
sociedade capitalista (com um mercado
regido por relações dominadas pelo
controle do capital), surgem como
personagens principais:
 O capitalista que exerce o domínio
nesta relação social de produção
por ser o dono dos meios de
produção; e
 O proletariado que é proprietário da sua força de trabalho, tornada agora
mercadoria que precisa ser vendida ao capitalista para que o proletário possa
garantir a sua sobrevivência.
Devido à exploração existente nesta relação, o proletariado, na sua luta por
melhores condições de vida, passa a incomodar o sossego do capitalista, sendo
necessária a intervenção do Estado para mediar esta situação, por meio da
imposição de dispositivos legais para regular a relação capital-trabalho. O Serviço
Social surge como uma resposta dos grupos dominantes.
Datas importantes para o Brasil ocasionaram mudanças em toda a sociedade
brasileira, como o ano de 1929, ano da crise do comércio internacional. É a crise da
bolsa de valores de Nova York que também afeta o Brasil, assim como o movimento
de 1930. Esses acontecimentos geram mudança na estrutura política e econômica. 4
O Brasil nesta época, principal exportador de café, e um dos principais exportadores
de açúcar, passa a investir em sua industrialização interna com o objetivo de
substituir as importações. Passa, assim, a ser alterado o meio da acumulação do
Capital, transferido da agroexportação para a área da indústria. Eram degradantes
as condições de vida e de trabalho da classe operária. Moravam em péssimas
condições, e em ambientes propícios a doenças.
Faltavam muitos itens necessários à sobrevivência e os salários eram muito baixos
por causa até da grande quantidade de pessoas desempregadas à procura de uma
oportunidade de emprego, sendo conhecido também como o grande exército
industrial de reserva.

O salário era insuficiente para possibilitar a digna sobrevivência do trabalhador e da


sua família. Embora grande parte dos componentes da família trabalhasse, incluindo
mulheres e crianças muito novas, e se esforçassem, ainda assim o salário era
insuficiente para o atendimento das suas necessidades básicas. Contavam, também,
com péssimas condições no local de trabalho, ambientes sem segurança e higiene.
Altas jornadas de trabalho, inclusive de forma igual para mulheres e crianças, sem
direitos como, por exemplo, a final de semana remunerado.
Em meio a tudo isso, surgiu a necessidade da classe trabalhadora unir-se,
organizar-se em prol de melhores condições de vida. Surgem por exemplo, mediante
esta necessidade, as Ligas Operárias que vão dar origem aos Sindicatos e as
Sociedades de Resistência. E até organizações mais avançadas como Congressos
Operários e Confederações Operárias, contando
inclusive com uma imprensa operária.
No entanto, essas entidades só tiveram o
reconhecimento dos operários quando foram
combatidos, reprimidos e seus líderes 5

perseguidos e presos. Aos poucos, a classe


trabalhadora alcançaria algumas conquistas.
O Conselho Nacional do Trabalho é criado em 1925, e em 1926 são aprovadas leis
de proteção ao trabalho, como a lei de férias, código de menores, seguro-doença,
etc. Entretanto, na primeira República é pequeno o resultado do número de
conquistas conseguidas pelo movimento operário, por meio das suas reivindicações.
A resposta do Estado às manifestações e às lutas da classe operária eram a
repressão e a violência.
A burguesia, que tem o
crescimento do seu lucro na
exploração da força de trabalho,
vai procurar impedir qualquer
inovação que possa constituir-
se como entrave à sua
possibilidade de explorar o
máximo possível o trabalho
excedente.
A classe burguesa só reconheceu a legitimidade dos Sindicatos no período ditatorial
de Getúlio Vargas e permaneceu em constantes atritos com estes. Uma das
questões interessantes levantadas pelos capitalistas e responsáveis pela
implantação do Serviço Social diz respeito às conquistas sociais adquiridas pelos
trabalhadores, com respeito à diminuição da sua jornada de trabalho e como as leis
de férias, por exemplo.

Os capitalistas argumentavam que era necessário disciplinar o tempo livre do


proletariado, pois como este não teve acesso à educação, nas horas de folga estará 6

sujeito aos vícios e coisas erradas.


Apesar de sempre aparecerem sob uma aura paternalista e benemerente,
constituiam-se numa atividade extremamente racionalizada, que buscava aliar
controle social ao incremento da produtividade e aumentar a taxa de exploração. Em
1869, foi fundada a Sociedade de Organização da Caridade em Londres, marco
para a organização da Assistência Social. Além de levantar a questão da
necessidade de haver instituições que formassem profissionais para atuar na área
da Assistência Social.
A primeira escola de Serviço Social do mundo surge em Amsterdã, em 1899. Em
1936, surge em São Paulo a primeira Escola do Serviço Social do Brasil. Para
resolver a questão do disciplinamento do tempo do operário, as Ligas das Senhoras
Católicas, em São Paulo, e a Associação das Senhoras Brasileiras, no Rio de
Janeiro, vão ficar responsáveis pela educação dos trabalhadores.
Os meios de produção são os elementos pelo qual a sociedade evolui, ou seja,
investindo, transformando, as matérias da velha produção para a produção nova. Os
meios de produção precisam ser substituídos, se faz necessário dentro do sistema
capitalista, que produza mais para obter lucros.

7
SERVIÇO SOCIAL E A ESCOLA

A seguir, falaremos das diversas expressões


da questão social que podem se manifestar no
espaço da escola. Para isso, consideraremos
as especificidades das ações dos profissionais
de Serviço Social, os assistentes sociais,
diante das demandas da área da educação.
Em outras palavras, será pressuposto que
esses profissionais podem auxiliar os
professores em sua atuação em sala de aula,
considerando os limites de atuação proporcionados pelas diferentes formações.
A escola é também o espaço e o lugar do assistente social. O espaço é um lugar
praticado, ou seja, um espaço no qual se determinam as percepções resultantes do
lugar e das relações estabelecidas nele, dando-lhe significado. Em consequência, é
a atividade que qualifica o espaço. É com base nesse conceito de compreensão de
lugar praticado que se fundamenta a discussão do cotidiano escolar e do lugar do
assistente social.
O acesso e o uso das políticas sociais ocorrem em espaços nos quais os serviços e
programas são executados. Identidades e significações são impressas por meio
daquilo que historicamente as definiu. Entretanto, a escola não é um espaço natural,
mas o segundo lugar ocupado pela criança depois da casa/família. Sendo assim,
essa instituição demandou diversos processos de transformação, de maneira que as
escolas e os princípios sobre os quais elas foram construídas abrangem histórias
que perpassam diferentes contextos sociais e culturais, diversas noções sobre
educação e as necessidades de uma pessoa ainda em desenvolvimento de sua
identidade.
A busca por uma identidade é um desafio cotidiano. Desde o momento em que
nascemos, ocupamos um espaço que
está em constante interação com
outros lugares. E o espaço forma uma
história de múltiplos sentidos,
constituída de fragmentos de
trajetórias diversas, sem autor, mas
com interações de espaços. Desse
modo, o ambiente educacional pode 8
ser um local de trocas de valores, de
pontos de vista, de culturas.
Apesar de poderem existir riscos de a escola perder sua capacidade de criar
vínculos, ela ainda é um espaço de ação social, pois oferece dados e referências
sobre a vida das crianças. Além disso, pode ser reconhecida como uma agência
social, pois prepara os alunos para a vida por meio de atividades. Inserida na
sociedade e existente desde o início da
Modernidade, a escola se constituiu à
partir das demandas econômicas,
políticas e culturais de uma classe social
emergente: a, então, burguesia. Por isso,
a educação formal e o acesso à escola
estavam profundamente ligados à
condição econômica das famílias.
No Brasil, a universalização do acesso à
escola ocorreu de forma lenta e ainda permanece incompleta em muitos sentidos.
Esse processo caracterizou-se pela ampliação das especificidades existentes no
espaço escolar, cujo contexto passou a produzir desafios que demandam soluções
cotidianas e que são fundamentais para o êxito dos professores e dos alunos nos
processos de ensino e de aprendizagem. Mesmo considerando que o objetivo da
escola seja a transmissão do conhecimento científico, artístico e filosófico
acumulado pela humanidade, devemos considerar que a escola é mais do isso. Nela
se reúnem também as mais diversas demandas do desenvolvimento dos alunos e
dos professores. Por isso, a escola é um lugar onde emergem os mais variados
conflitos, frutos da interação entre diferentes sujeitos.
Os alunos vão para a escola e levam consigo sua história de vida, sua cultura e seus
sonhos, por exemplo. Quando chegam a esse ambiente educacional, muitas vezes
deparam-se com uma realidade de descaso de seus direitos básicos: ensino de
qualidade, merenda escolar, material escolar, entre outros. Pode-se dizer que a
inserção dos alunos de população socioeconômica precária ou vulnerável altera o
contexto sociopolítico que envolve o ambiente escolar. O ensino passa a requerer
habilidades e competências diversas dos profissionais envolvidos nesse trabalho. É
necessário um profissional que estabeleça uma relação de intervenção efetiva junto
a essa realidade.

9
Dessa forma, o trabalho dos assistentes sociais nas escolas não deve ser
confundido com aquele sob responsabilidade dos professores. Mesmo se consider a
dimensão socioeducativa resultante do trabalho do assistente social, sua atividade
está mais intimamente vinculada ao fortalecimento das redes de sociabilidade e à
efetivação do acesso aos serviços sociais e processos socioinstitucionais.
Assim como existe uma dimensão educativa na ação do assistente social, mesmo
não sendo o centro de sua atuação, o processo de trabalho no qual se ele se insere
não é exclusivo dele. O professor, como profissional do ensino, participa de certa
maneira dos processos que envolvem a questão social. No entanto, o espaço de
atuação do assistente social representa uma peculiaridade e existe a necessidade
da autonomia técnica desse profissional, pois sua formação se fundamenta na
intervenção direta nos problemas sociais.

A presença do assistente social no ambiente da escola deve facilitar o acesso aos


serviços socioassistenciais, por meio das informações, encaminhamentos, inserção
e atendimento em programas, sejam da própria escola, sejam dos diferentes setores 10
que compõem a rede de atendimento à família e seus sujeitos. Portanto, o assistente
social é um articulador estratégico no atendimento aos alunos e as suas famílias, por
um conjunto de ações integradas de orientações que podem contribuir para
promover melhoria no desempenho escolar dos alunos.
Ao assistente social compete o reconhecimento e o fortalecimento dos espaços de
formulação e construção coletiva em que, juntamente com outros profissionais, seja
capaz de elaborar estratégias políticas e técnicas para modificar a realidade. Esse
profissional pode produzir, por suas ações e intervenções, resultados concretos nas
condições materiais, culturais e sociais de vida dos sujeitos sobre os quais incidem
suas ações. Como agente de ligação entre a família, a sociedade e a escola, o
assistente social representa importante papel na ação educacional, criando um
conjunto de medidas de auxílio e suporte às famílias por meio do provimento de
necessidades básicas de subsistência.
Compete destacar que as ações do
assistente social, no âmbito da escola,
devem ser pensadas e efetivadas em
conjunto com a equipe escolar, na qual o
profissional do Serviço Social é um parceiro
das ações desenvolvidas pelos demais
profissionais. As ações e reações são
resultado do trabalho realizado em conjunto
por essa equipe, que tem como objetivo em comum a garantia não somente da
permanência do aluno na escola, mas principalmente da qualidade do ensino,
especialmente se considerarmos a promoção dos alunos como sujeitos inseridos na
sociedade.
Além da ação diretamente na escola, no âmbito familiar faz-se necessário um
trabalho interventivo de orientação e sensibilização para a aproximação da família à
escola, pois dessa forma se
efetivam muitas ações que
podem promover com mais
eficácia os objetivos da escola,
pois, segundo o Estatuto da
Criança e do Adolescente, ―é
direito dos pais ou responsáveis
ter ciência do processo
pedagógico‖ (Lei nº 8069/90).
No entanto, com o crescimento acelerado da sociedade e o desenvolvimento global
do sistema econômico capitalista, tornou-se comum que muitas famílias depositem 11
na escola a responsabilidade pela condução absoluta do processo educacional de
seus filhos. A construção das ações de ensino deve ser realizada em conjunto entre
a escola e a família. O desenvolvimento e o crescimento do aluno em sua vida
escolar dependerão e muito do envolvimento familiar no processo, mas o tempo para
diálogo, orientação e acompanhamento das famílias com os filhos sobre suas
responsabilidades escolares têm sido cada vez menor. Esse é um fenômeno no qual
o assistente social pode e deve atuar.
Há ainda outro desafio posto ao profissional do Serviço Social na educação:
compete a ele, no exercício de suas habilidades e competências, colaborar para o
fortalecimento de uma gestão democrática dentro da escola. Estimulando a
comunidade escolar na participação do processo educacional, sob a compreensão
de que a comunidade escolar se concretiza nas ações dos educadores, sejam
alunos, professores, responsáveis familiares, técnicos administrativos, porteiros,
entre outros que compõem a dinâmica escolar.
Entre as atribuições técnicas do assistente
social está a articulação com as
instituições assistenciais privadas e/ou
públicas em caráter estratégico no
atendimento às demandas
socioeconômicas, especificamente no
âmbito da educação. Essa atuação é
constituída pelo conjunto de ações de
orientação executadas com vista ao aprimoramento do desempenho acadêmico do
aluno e, por conseguinte, da sua qualidade de vida.
A formação educacional das crianças e adolescentes não se realiza exclusivamente
na sala de aula. Compreende um conjunto de atividades que, desempenhadas pela
escola e na sala de aula, viabiliza a qualidade de
vida (atual e futura) deles como sujeitos e cidadãos
de direito. Equidade e justiça social, na
universalização de acesso aos bens e serviços, são
os princípios fundamentais seguidos pelo assistente
social no exercício das suas funções. Nesse
contexto reside a importância de um profissional
que identifique as necessidades dos alunos como figura capaz de viabilizar a
igualdade de condições e a promoção de uma perspectiva autônoma de garantia de
direitos e cidadania plena.
A escola é um espaço apropriado para a ação do assistente social. Sua presença
nas escolas pode contribuir para a efetivação dos objetivos do sistema educacional. 12
Diversas situações que ocorrem cotidianamente nas escolas e em suas salas de
aula dificultam o ensino e a aprendizagem. Muitas delas originam-se em questões
sociais que escapam da competência profissional do professor. O assistente social
pode auxiliar a construção de uma escola que permita a identificação dos alunos
com esse ambiente, de maneira que ela se torne realmente um lugar onde se deseje
estar.

ASSISTÊNCIA SOCIAL E SAÚDE

Os trabalhadores do Sistema Único de Assistência Social precisam ter amplo


conhecimento sobre diversas áreas. Afinal, é
comum sua articulação com outras políticas
públicas. Uma das dúvidas mais frequentes
sobre esse tema é o papel do assistente
social na saúde.
É comum surgirem demandas da Saúde na
Assistência Social. Quando isso ocorre, o
assistente social encaminha o usuário, por
exemplo, a um ambulatório. Porém, pode
existir uma superlotação nesses lugares. O
atendimento pode demorar e, quando finalmente ele acontece, o paciente pode ser
encaminhado para outro profissional da Saúde.
Esse fluxo não é eficiente. Em várias etapas, pode não existir acolhimento. O
usuário, fragilizado, acaba desistindo do tratamento, por exemplo. É desgastante
para o indivíduo e caro para o poder público.
Como política garantidora do direito à proteção social, a Assistência Social,
materializada através do trabalho do assistente social e de outros profissionais, tem
papel fundamental no processo descrito acima, bem como na melhoria dele.

Responsabilidades do assistente social na saúde pública


Primeiro, os profissionais da Assistência Social precisam superar o sentimento de
subalternidade (dependência ou inferioridade) ainda
comum em muitos municípios brasileiros. É necessário
que se posicionem, já que as leis lhes garantem
autonomia e poder de decisão para o exercício de seu
trabalho.
O papel do assistente social na saúde é determinante
para melhorar o serviço de ambas as políticas 13
públicas. Afinal, o processo saúde-doença é, antes de
tudo, uma definição social. E, apenas o profissional da
Assistência Social domina os fenômenos socioculturais e econômicos de seus
usuários.
Segundo o Ministério da Saúde, as responsabilidades do assistente social na saúde
pública são:
 Através do atendimento ao usuário, compreender sua situação e realizar o
encaminhamento adequado;
 Informar e mobilizar o usuário acerca de seus direitos e de seu papel como
cidadão. Conscientizando-o de que a Assistência Social não oferece favores,
mas garante seu direito à proteção social;
 Facilitar o acesso aos serviços de saúde, cumprindo com a universalidade e
a equidade dos direitos sociais dos usuários;
 Debater sobre a situação social do usuário/paciente com os profissionais de
saúde;
 Participar, sempre que possível, de encontros interdisciplinares;
 Acompanhar e estimular o tratamento de saúde do usuário;
 Envolver os familiares e alertá-los sobre a importância de seu apoio no
tratamento.

Além das atribuições acima, o assistente social pode, de uma forma mais ampla:
 Organizar espaços, junto com os profissionais de saúde, com o objetivo de
estimular a participação popular nas decisões de ambas as políticas públicas;
 Da mesma forma, estimular a participação crítica de todos os funcionários
(tanto da Assistência Social, quanto da Saúde) nesses espaços;
 Ter uma postura de curiosidade. Estudar e se atualizar, sempre que possível,
sobre temas relacionados à área da Saúde.

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POR QUE A INTERSETORIALIDADE É IMPORTANTE?

É importante conceitualizar o que é intersetorialidade. Trata-se do trabalho conjunto


de diferentes áreas envolvendo desde compartilhamento de conhecimento, gestão e
ações com o objetivo de enfrentar de maneira articulada e eficiente problemas que
possuam em comum. Imagine cruzar dados da Assistência Social, Saúde e
Educação e gerar, de forma automática, informações ricas para embasar o trabalho
dos profissionais dessas áreas?
Seria muito mais fácil encontrar soluções para os inúmeros problemas sociais que
temos no país e que, na maioria das vezes, são multifacetados. Por exemplo, o
indivíduo pode estar constantemente doente por conta da precariedade onde vive.
Essa é uma situação que os profissionais de saúde, sozinhos, não conseguirão
resolver.
Sem contar que as ações coletivas têm maiores chances de serem efetivas. Ao
trabalhar isoladamente, informações importantes se perdem, impedindo um olhar
amplo e, em consequência, resultados expressivos.

15
O papel do assistente social no processo de intersetorialização é fundamental. Ao
realizar as ações descritas anteriormente, como debater sobre a situação social do
usuário com o profissional de saúde, estará contribuindo para a efetivação do
trabalho em conjunto com outras áreas.
A articulação entre as políticas ajuda, inclusive, na construção de novas posturas e
ações. Tomando, como base, dificuldades em comum das duas áreas. Por ser uma
política garantidora de direitos, a Assistência Social é atuante na luta pela
desfragmentação dos serviços públicos. Mas existem muitos desafios para que a
intersetorialidade se concretize. O tema é relativamente novo. Exige muito debate,
reestruturação e gestores e profissionais abertos a essas mudanças.
É preciso um olhar amplo e analítico de todos os envolvidos, pois a estrutura deve
ser repensada coletivamente. Principalmente quando se falam de áreas que
deveriam ser muito mais próximas, como a
Assistência Social e a Saúde.
O trabalho do assistente social na saúde, devido à
estrutura atual, é complexo. Ações separadas em
―caixinhas‖ já não resolvem mais.
A efetividade das ações do governo e seu impacto
social estão diretamente relacionados à articulação
de todas as políticas públicas.

O HOMEM E A SOCIEDADE

O horizonte ético é o que dá sentido a um processo de mobilização num país que


explica seu horizonte, seu projeto de nação, sua atuação e sua Constituição.
Nele, se definem suas próprias escolhas. Quando o homem na sua determinação
enquanto ser social pertencente a um Estado Democrático de Direitos, os seus
fundamentos são:
 A soberania.
 A cidadania.
 A dignidade da pessoa Humana.
 Os valores dos trabalhos e da livre iniciativa.
 O pluralismo político.

Toda ordem de convivência é constituída. As ordens de convivência são naturais. O


que é natural é a nossa tendência a viver em sociedade.

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Quando as pessoas assumem que têm nas mãos o seu destino e descobrem que a
construção da sociedade depende de sua vontade e de suas escolhas, a
democracia pode tornar-se uma realidade. Como a ordem social é criada pelo povo,
o agir ou não agir de cada um contribui para a formação e consolidação da ordem
em que se vive.
Pode-se dizer, também, que houve uma inversão da lógica que por séculos moveu a
humanidade: ―aparecendo à necessidade se cria o produto‖. Nos dias de hoje é ao
contrário: ―crie o produto e depois estimule o desejo, a necessidade não é
importante‖.
Visto que é uma sociedade que vive do poder da informação, tendo como base as
novas tecnologias, ela
poderá ser muito
discriminatória entre países,
internamente, entre
empresas ou entre pessoas.
Até um tempo atrás, o saber
ler e interpretar textos, bem
como efetuar cálculos
matemáticos simples, era
obrigatório para se viver em
harmonia e bem estar na
sociedade, este novo
cenário mudou e as necessidades de qualificações profissionais e acadêmicas
aumentaram consideravelmente.
Agora, a escola assume um papel fundamental na Sociedade da Informação, dotar o
homem de capacidades para competir com o avanço tecnológico, condicionando-o 17
de maneira a que este avanço não seja autônomo. Possa ser controlado de modo a
corresponder as necessidades com o desenvolvimento tecnológico e não o
desenvolvimento tecnológico a moldar as necessidades.

A convivência social tem que ser ensinada, aprendida e desenvolvida todos os dias.
Essa é uma tarefa de toda a vida de uma pessoa ou de uma sociedade. São sete
tipos de convivências básicas para se conviver numa sociedade, que são:
 Aprender a não agredir o semelhante: fundamento de todo modelo de
convivência social.
 Aprender a comunicar- se: base da autoafirmação pessoal do grupo.
 Aprender a interagir: base dos modelos de relação social.
 Aprender a decidir em grupo: base da política e da economia.
 Aprender a cuidar de si mesmo: base dos modelos de saúde e seguridade
social.
 Aprender a cuidar do entorno: fundamento da sobrevivência.
 Aprender a valorizar o saber social: base da evolução social e cultural.

Nem toda ordem de convivência é realmente democrática. A monarquia é uma


ordem de convivência, mas não é democrática. Nela, um monarca, por laços de
sangue ou divindade, coloca-se fora da sociedade, diferente dos outros, cria as leis
e as normas que vão regê-la.
Numa sociedade da informação, os aspectos positivos são visíveis, tal como a
melhoria da nossa qualidade de vida. Com a introdução de máquinas e robôs nas
indústrias, tem-se aumentado a taxa de desemprego, mas a transição por vezes tem
estas consequências.

18
A taxa de desemprego continua a aumentar com o desaparecimento de algumas
profissões, entre outros fatores. A perda de postos de trabalho, a extinção de
algumas profissões, e a reconversão de outras até serem substituídas por novas,
decorre um longo período de adaptação.
A democracia supõe a construção da equidade social, economia, política e cultura.
Como a ordem democrática é uma ordem construída, não existe um modelo ideal de
democracia que se possa copiar ou imitar. Pode-se aprender com outras sociedades
que constroem sua própria ordem democrática, mas é responsabilidade das pessoas
contribuírem para uma sociedade melhor.

A DESIGUALDADE SOCIAL

A desigualdade social é a diferença existente entre as classes sociais ou castas


dominantes e as classes sociais ou castas dominadas. Ao longo dos tempos, os
sistemas econômicos e políticos das cidades foram criando mecanismos de
distinção entre as pessoas. Nas chamadas sociedades estratificadas, esses
mecanismos são as divisões de castas, como os nobres na Europa feudal e as
castas indianas, predominantes como sistema de distinção até o século XX.
Nessas sociedades, a possibilidade de mobilidade social (sair de uma casta inferior
e passar para uma superior) é nula ou
quase nula, sendo que a origem familiar
determina a casta.
O republicanismo e o capitalismo
criaram outro sistema de distinção
baseado na capacidade de acúmulo de
capital. Esse sistema tem uma 19
possibilidade maior de mobilidade, mas
ocorre uma grande desigualdade social,
que é uma barreira para o pleno desenvolvimento das sociedades capitalistas
contemporâneas.

Breve histórico sobre a desigualdade social no mundo


A desigualdade social não é um fenômeno novo, mas as formas mais avançadas do
capitalismo (industrial e financeiro) resultaram numa intensificação dela no mundo a
partir do século XIX. Outro fenômeno que a intensificou foi o colonialismo europeu
sobre os países do Hemisfério Sul.
A colonização europeia, sobretudo sobre as Américas Central e Sul, sobre a África e
sobre partes da Ásia, foi movida pelo interesse na exploração de recursos naturais.
A retirada desses recursos desses locais, a exploração da mão de obra escrava ou
de baixo custo e a ida de colonos para os territórios colonizados geraram um
sistema desigual que perdura até hoje.
Portanto, os dados sobre a desigualdade social no mundo demonstram a existência
de um verdadeiro abismo entre a minoria mais rica e a maioria mais pobre, sendo
que os países mais pobres são campeões nos rankings sobre a desigualdade social.

A desigualdade social causa uma distorção econômica que afeta negativamente a maioria pobre da população.

Como é medida a desigualdade social?


Existe um padrão de medida criado pelo matemático e estatístico italiano Conrado
Gini, chamado coeficiente de Gini (ou índice de Gini), que mede a desigualdade em
um determinado local e é comumente utilizado para medir a desigualdade de renda.
O índice de Gini é expressado por um número que variam de zero a um, sendo zero
o marco da ausência de desigualdade de renda, enquanto o numeral um representa
o máximo possível dela.
20
Dados sobre a desigualdade social no mundo
Além do coeficiente de Gini, existem dados de pesquisas variadas que mostram a
alta desigualdade social no mundo. Segundo matéria publicada, em 2015, no
periódico El País, 1% da população mundial concentrava metade de toda a riqueza
do planeta.
Na mesma matéria há uma pirâmide de renda demonstrando que 0,7% da
população mundial possui renda de mais de um milhão de dólares mensais, 7,4%
possuem renda entre 100 mil e um milhão, 21% possuem renda entre 10 mil e 100
mil dólares, e 71% possuem renda menor que 10 mil dólares mensais. O maior
problema é que grande parte desses 71% mais pobres do planeta possui rendas
extremamente baixas ou está abaixo da linha da pobreza, tendo dificuldades para
manter alimentação e moradia dignas.

21

A desigualdade social separa as camadas mais ricas e poderosas das camadas mais pobres da população.
Desigualdade social no Brasil
Segundo um estudo de 2017, divulgado pelo Pnud (Programa das Nações Unidas
para o Desenvolvimento), o Brasil era, então, o sétimo país mais desigual do mundo,
ficando atrás apenas de nações do continente africano.

A favela de Paraisópolis (São Paulo) está localizada ao lado de condomínios de luxo. A paisagem ilustra a
desigualdade social brasileira.

Outro estudo, em 2015, havia classificado o Brasil como o 10º país com maior
desigualdade social em um ranking de 140 países. A pesquisa apresentada na
matéria foi coordenada pelo ex-diretor do Ipea e professor da Fundação Getúlio
Vargas (FGV).
A matéria apontava que dados levantados pela Oxfam (uma confederação
internacional com mais de 3000 membros que estuda e luta contra a pobreza no
mundo) mostravam que os seis maiores bilionários brasileiros concentravam, juntos,
a riqueza da metade da população brasileira. Isso significa que, em um país com
aproximadamente 210 milhões de habitantes, seis deles possuíam a riqueza
equivalente a de outros 105 milhões.
O Brasil é o país que mais concentra riqueza entre o 1% mais rico na América
Latina, tendo seu coeficiente de Gini mais baixo entre os países latino americanos,
ficando atrás apenas de Colômbia e Honduras.
O distanciamento entre as camadas sociais pode ser percebido em outra
discrepância: enquanto metade da população recebia, em média, R$ 850, 1% dos
brasileiros tinha rendimento médio mensal de R$ 28.659. 22
A falta de infraestrutura e a má distribuição de renda são coisas que agravam a
situação. A PNADC (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua)
permite olhar isso no universo do Brasil como um todo. Os problemas mudam de
acordo com a região. Brasília, por exemplo, tem a maior renda, mas também a maior
desigualdade.

Como acabar com a desigualdade social?


Ao longo da história moderna, a preocupação com a desigualdade social começou a
surgir, dando lugar a teorias que visavam reduzir ou eliminar as diferenças
econômicas entre ricos e pobres. Assim tiveram origens os ideais socialistas, que
visavam uma forma de organização estatal capaz de promover a igualdade
econômica.
As primeiras formas de socialismo, hoje chamadas de socialismo utópico, não
expressaram qualquer indício de prática. O socialismo científico foi a forma mais
desenvolvida de economia socialista proposta no século XIX pelo filósofo, sociólogo
e economista alemão Karl Marx e pelo economista e escritor alemão Friedrich
Engels.
Existe também a perspectiva anarquista, embasada principalmente nos estudos do
filósofo, sociólogo e economista francês Pierre-Joseph Proudhon e do filósofo e
teórico político russo Mikhail Bakunin. Segundo a teoria anarquista, o Estado deve
ser abolido completamente e, junto a ele, abole-se o capitalismo. As entidades
estatais seriam substituídas por sistemas de assembleias e pela autogestão popular
para a tomada de decisões políticas. A economia capitalista daria lugar ao sistema
de cooperativismo.
Outras perspectivas ganharam destaque no século XX e ainda se mantêm no século 23

XXI. Trata-se do conjunto de ideias chamado de reformismo, que são perspectivas


políticas que colhem elementos socialistas e capitalistas, visando manter a economia
regida pelo sistema capitalista, mas com ideias de redução da desigualdade social e
de redistribuição de renda via atuação estatal. Uma dessas perspectivas é a social-
democracia, sistema político econômico adotado em países europeus, como
Noruega, Finlândia e Suécia.

Desigualdade social para Karl Marx


Marx e Engels fundaram uma teoria baseada na abolição do capitalismo com o
aparelhamento do Estado em favor do proletariado e na estatização de toda a
propriedade privada.

Para Marx, havia uma absurda exploração da classe trabalhadora (o proletariado)


por parte da classe dominante (a burguesia, ou seja, os donos dos meios de
produção).
A teoria marxista foi classificada como socialismo científico por apresentar, pela
primeira vez, uma base de estudos para justificar e amparar o pensamento
socialista. No século XX, várias tentativas de implantação do socialismo de viés
marxista foram postas em prática, porém críticos apontam o fracasso delas por não
acabarem com a desigualdade (em alguns casos até acirrá-la pela corrupção) ou por
criarem situações de extrema miséria.
No entanto, outros críticos rebatem essas visões alegando que as experiências
socialistas iniciadas no século XX desviaram-se dos ideais marxistas. Podem-se
elencar como os maiores exemplos de experiências de socialismo com
embasamento marxista os casos da União Soviética, da China e de Cuba.

24
OS FUNDAMENTOS DAS CIÊNCIAS SOCIAIS

A capacidade racional do homem o diferencia do animal. Sua capacidade de pensar,


articular ideias e expressá-las por meio da linguagem permite a produção do
conhecimento.

Formas de conhecimento
Têm-se como formas de adquirir conhecimento: mito, conhecimento religioso,
conhecimento filosófico, senso comum e o conhecimento científico. A seguir
veremos cada uma dessas formas.
 Mito: é a narrativa em forma de fábula. Transmite conhecimento por gerações
por meio de lendas e histórias mitológicas.
 Conhecimento religioso: conhecimento produzido a partir da fé e da religião.
Geralmente a narrativa religiosa pode garantir a salvação para aqueles que
têm fé.
 Conhecimento filosófico: traduz a busca e amor pelo conhecimento. Suas
conclusões são especulativas e não necessitam de provas materiais. Este
conhecimento orienta a atividade intelectual.
 Senso Comum: é o conhecimento produzido a partir das observações diárias,
estabelece relações de causa e efeito sem a utilização de uma metodologia
científica, suas conclusões são empíricas sem nenhum fundamento científico
e nem sempre representam a realidade. Características: assistemático,
subjetivo, empírico, parcial.
 Conhecimento científico: é o conhecimento produzido por meio do método 25

científico. As conclusões são resultado de um método específico e podem ser


reproduzidas por qualquer pessoa, em qualquer lugar, se forem respeitadas
as mesmas condições do experimento. O objeto do estudo da ciência é
delimitado e suas conclusões buscam generalidade (buscam descrever as leis
universais que regem o universo) e objetividade (regras bem definidas).
Características: metódico, objetivo, geral, imparcial.

O que são as Ciências Sociais?


Conjunto de saberes que abrangem a antropologia, sociologia e ciência política.
Ajudam a ―limpar a lente‖ através da qual enxergamos as diferentes realidades em
que vivemos.
Antropologia: Estuda a cultura e a sua influência no comportamento humano. Nesta
ciência o estudioso deve aprender a desconfiar de tudo aquilo que é normal e
transformar o que exótico em familiar. O antropólogo se insere em outra sociedade,
se despe de seus valores morais, éticos e culturais, e passa a conviver nessa nova
sociedade como observador.

Sociologia: Estuda as inter-relações humanas e suas influências sobre o


comportamento. O sociólogo trabalha com os fatos sociais como objeto de estudo,
verificando a influência destes fatos sobre o comportamento humano.
Ciência Política: Estuda as relações de poder na sociedade, as relações de
autoridade, relações entre governantes e governados e a política.

Diferença entre enfoque das Ciências Sociais e Naturais


As ciências sociais diferem das ciências naturais quanto ao foco de estudo, pois seu
objeto de estudo é complexo. Enquanto as ciências naturais se preocupam em
observar a realidade e descrever as leis que a descrevem, as ciências sociais
buscam uma interpretação dessa realidade. As ciências sociais não são exatas e
seu método é específico, diferente do método científico das ciências naturais. Além
disso, o observador se insere no contexto, já que seus valores interiores poderão
influenciar em sua observação.

26
Conceitos importantes
Cultura Eurocentrista: A construção científica ocidental teve seu berço na Europa.
Com o imperialismo europeu e a expansão da cultura europeia para outros
continentes, o modelo do homem branco europeu e sua sociedade se tornaram o
padrão a ser seguido por outros povos. Tudo aquilo que era estranho ou estrangeiro
era considerado mal e selvagem, devendo ser trazido, ainda que à força, ao padrão
da época.
Etnocentrismo: Achar que a cultura de determinada sociedade é superior as demais
culturas. Este posicionamento permite a imposição da cultura tida como ―superior‖ ou
mais evoluída à sociedade ―inferior‖ ou menos evoluída. Passo a observar o mundo
com os padrões e valores da cultura etnocentrista, passo a observar o mundo
através da ―minha própria lente‖.
Relativismo Cultural: É a postura de observar a cultura de uma outra sociedade
despido dos valores da sociedade ou grupo ao
qual pertenço. É estudar e entender a cultura
alheia sem pré-conceitos ou julgamentos
prévios. Colocamos-nos no lugar do outro e
passamos a compreender a sociedade dele, sob
a ótica de um indivíduo que pertence àquela
sociedade
Diversidade Cultural: É a existência de diversas culturas, hábitos, costumes, regras e
formas de expressão distintas no mundo. Com a globalização e a informática, maior
é a consciência desta diversidade cultural.
Multiculturalismo: é a interação positiva de diversas culturas, não havendo
hierarquias entre elas. Há a formação de uma sociedade multicultural.

PRINCIPAIS FILÓSOFOS

Auguste Comte

27
O Positivismo foi a matriz filosófica desenvolvida por Augusto Comte com intuito de
estabelecer o racionalismo científico em detrimento do conhecimento religioso ou
metafísico. O método científico e racional seria o caminho correto para o
esclarecimento. A razão humana prevaleceria e resultaria em leis naturais que
descreveriam o funcionamento do homem, da natureza e do universo. O Positivismo
deu a base científica à Sociologia, estabelecendo-a como uma ciência. A Sociologia
seria, analogamente à Física, uma Física Social que buscaria compreender e
descrever as leis que regem a sociedade. Assim como a Física é dividida em
Estática e Dinâmica, a Física Social é dividida em Estática Social (características
permanentes – propriedade, família, linguagem) e Dinâmica Social (evolução social).
Leis dos Três Estados: Como a ciência se preocupa em descrever as leis que regem
o universo, a Sociologia também teria suas leis. Para Comte, a lei dos Três Estados
descreveria os estágios de evolução de uma sociedade. Primeiramente, o estado
teológico, onde todas as explicações eram baseadas nas crenças religiosas, tendo
como base o divino e o profano; em um segundo patamar teríamos o estado
metafísico, onde todo o conhecimento seria baseado em princípios abstratos; em
último degrau teríamos o estado positivo, quando todo saber humano seria baseado
no método científico, no qual prevaleceria a razão.

O Darwinismo Social: surge em um cenário neocolonialista, quando os mercados


europeus, crescendo enormemente com as revoluções industriais, necessitam
buscar mercado consumir, mão-de-obra e matéria prima em outros países. Os alvos
principais do neocolonialismo foram dois continentes, o africano e o continente
asiático.
O Darwinismo Social foi uma analogia à teoria Darwinista de Charles Darwin.
28
Para Darwin existe uma lei natural que regula a sobrevivência da espécie mais
adaptada ao ambiente, analogamente, teríamos nas sociedades humanas a
dominação das nações mais desenvolvidas e adaptadas.
O Darwinismo Social justificou o neocolonialismo como uma evolução natural da
sociedade, explicando esse fenômeno social. As sociedades que já estavam no
estado Positivo, dominariam as sociedades ―inferiores‖. O Darwinismo Social
justificava também as idéias positivistas de Comte e sua Física Social.

Crítica ao Positivismo: Comte tinha as noções gerais de Estática e Dinâmica Social.


Para ele a Estática Social eram os conceitos que mantinham a sociedade coesa, e a
partir de uma unidade coesa se alcançaria a Estática Social em direção ao
progresso (amor por base, ordem por meio, progresso por fim). Neste sentido o
Positivismo torna-se antagônico, pois apesar de estar fundado nos métodos
científicos, era altamente conservador, justificando uma sociedade desigual. Além
disso, o positivismo acreditava que todas as sociedades evoluem com o tempo, e
isto não é uma verdade absoluta já que algumas sociedade se extinguiram e outras
permaneceram estáticas no decorrer da história. Outro ponto negativo aborda as
vantagens do progresso. Para os positivistas o progresso apenas gera vantagens,
sem se preocupar com os malefícios que também são gerados pelos mesmos
avanços. Ex; poluição, engarrafamentos, banditismo, violência, desordem urbana,
etc.

Durkheim

29
Durkheim e a Sociologia Científica: Apesar de ser discípulo de Comte, Durkheim foi
um crítico à metodologia de seu mestre. Para ele a Sociologia de Comte apenas
tentava explicar a Física Social de forma especulativa e vaga (tratava a sociedade
como um organismo vivo), sem se fixar no objeto real a ser observado, critica
ainda a religião da humanidade desenvolvida por Comte. A ciência positivista de
Comte é construída sob um ideal de progresso, com base em uma ordem, por vezes
autoritária. Para Durkheim a Sociologia deveria realizar uma análise criteriosa
dos fatos sociais, que seriam o objeto de estudo da Sociologia. A ciência
fundamentalista de Durkheim era construída com base em uma observação concreta
dos fatos sociais.
Lembrando que os fatos sociais são regras que regem o comportamento e as
maneiras de se conduzir em sociedade.
Características dos fatos sociais: gerais, externos e coercitivos.
Gerais: são formas de pensar ou agir coletivos de uma sociedade, são observações
individuais que se repetem no inconsciente coletivo (maneira de agir/ maneira de
ser)
Externos: são influências externas aos indivíduos, são valores, regras, normas que
se apresentam ou se impões a certo indivíduo. São internalizados pela socialização
Coercitivos: impõem uma conduta, sancionado aqueles que a desrespeitam.
Quanto à socialização: processo pelo qual os seres humanos são induzidos a adotar
posturas padrões, comportamentos socialmente esperados, normas, regras e
valores. Basicamente o processo de socialização é feito por meio da educação, leis,
costumes e relações sociais.

Diferença entre Patológico e Normal: Para Durkheim, assim como um organismo


vivo, a sociedade poderá sofre de algum mal ou doença. Diferenciamos este estado
patológico quando um comportamento está fora da média social de determinada
sociedade. Identificamos um fenômeno social normal quando um comportamento é 30
generalizado, unânime, representa a vontade coletiva, é útil à saúde social. Quando
um comportamento fica fora dos padrões normais é considerado patológico.
Anomia Social: O termo anomia foi criado por Durkheim em seu estudo sobre
suicídio e significa na acepção da palavra falta, privação, inexistência de lei. É um
estado onde os indivíduos se encontram com a inexistência de padrões normativos
ou leis, levando-os a tomar condutas por vezes violentas e que geram conflitos.
Consciência Coletiva x Consciência Individual: para Durkheim cada indivíduo possui
sua própria consciência, no entanto, é possível perceber no interior de qualquer
grupo ou sociedade, formas padronizadas de conduta e pensamento coletivos. É,
em certo sentido, a forma moral vigente na sociedade. Ela aparece como um
conjunto de regras fortes e estabelecidas que atribuem valor e delimitam os atos
individuais. É a consciência coletiva que define o que, em uma sociedade, é
considerado imoral, reprovável ou criminoso.
Solidariedade social, este último é definido por Durkheim como os laços que unem
os indivíduos entre si formando a coesão social.
Solidariedade Mecânica x Solidariedade Orgânica: Para Durkheim a solidariedade
social pode evoluir de uma forma mecânica para uma forma orgânica. Na mecânica,
a coesão social é forte, pois a consciência coletiva é mais forte do que a individual,
os indivíduos se unem, pois se identificam uns com os outros. Na orgânica há uma
coesão, no entanto a consciência coletiva é atenuada, havendo uma maior
consciência individual. Há interdependência. Nela os indivíduos visualizam a
necessidade de dividir os trabalhos, cada um depende do conhecimento específico
do outro, havendo assim um sentimento de dependência mútua.
Solidariedade Mecânica: há maior consciência coletiva, pois os indivíduos se
identificam um com os outros, gerando uma coesão social.

31

Solidariedade Orgânica: há maior consciência individual, no entanto há a relação de


interdependência entre os indivíduos, já que há maior especialização e divisão de
trabalho. Isto gera a coesão social deste tipo de sociedade.
Direito Repressivo x Direito Restitutivo: Direito repressivo está ligado às sociedades
onde a consciência coletiva é mais forte, pune-se as condutas irregulares já que elas
prejudicam o coletivo. O Direito restitutivo está ligado às sociedades onde a
consciência individual é mais forte, já que ele busca trazer, individualmente, a
conduta irregular específica ao padrão de correção, ao causador do dano cabe
apenas restituí-lo.

Comte x Durkheim – De forma resumida a diferença entre eles é a seguinte:


Comte: para ele a sociologia é uma ciência positivista, construída sob um ideal de
sociedade, ideal de progresso. Ele estudou a física social.
Durkheim: para ele a sociologia deveria ser mais fundamentalista, construída com
base nas observações concretas e empíricas dos fatos sociais.

Karl Marx

32

Karl Marx viveu em um período onde a Revolução Industrial transforma a sociedade


em função do surgimento da Economia de Mercado. Tudo que envolve
a produção se torna um fator de produção: mão de obra, tecnologia, matéria prima e
a terra, tudo se tornou de certa forma uma mercadoria para o mercado industrial
emergente, e passou a ser comercializado como tal.
A crítica de Marx era com relação ao Idealismo. Em termos sociológicos, o idealismo
consiste na alegação de que as ideias humanas, crenças e valores, moldam a
sociedade. Marx defende o Materialismo dialético, que é uma concepção filosófica
que defende que o ambiente, o organismo e fenômenos físicos tanto modelam os
animais e os seres humanos, sua sociedade e sua cultura quanto são modelados
por eles. E no Liberalismo acreditavam que apenas o mercado poderia regular o
próprio mercado, ou seja, quanto menos o governo se intrometesse na Economia,
melhor. E o Socialismo utópico para Marx se tratava dos ideais em prol de uma
sociedade mais justa, que pareciam irrealizáveis.

Forças Produtivas x Relações Sociais de Produção à Estrutura +


Superestrutura:
Para Marx as relações sociais de produção surgem do trabalho, da necessidade do
homem de sobreviver. Sendo o trabalho o modo de organização dos fatores de
produção (forças produtivas), dele surgem às relações sociais de
produção (Economia), que produzem a estrutura da sociedade.
O embate dos interesses nessa estrutura produz a superestrutura da sociedade,
cultura, política, religião, justiça, etc. A superestrutura surge como reflexo do que
acontece em sua estrutura.

―Quer entender a cultura, o direito, a religião, enfim, os fenômenos políticos e sociais 33

de uma sociedade? Olhe para a sua Economia, ou melhor, para as relações sociais
de produção vigentes nesta sociedade‖
Vamos entender o conceito de valor. Valor de Uso é valor de usabilidade de certa
mercadoria, o Valor de Troca é o valor que pode ser usado para substituir por outra
mercadoria e Mais-Valia é diferença entre o valor do produto na prateleira e a soma
dos valores dos meios de produção e trabalho utilizados.
Alienação: o homem é utilizado como um simples fator de produção, ele passa a ser
visto como uma mercadoria, já que produz seu trabalho. Ele é separado das outras
etapas de produção, não participa de todas as fases e passa a não ter relação com
aquilo que produz.

Alienação política: na visão de Marx, o Estado não era um órgão político imparcial,
como gostavam de sugerir os liberais. Na verdade, o Estado representava
principalmente os interesses da burguesia, não os do povo. O Estado era um
instrumento de dominação da classe dominante, razão pela qual os trabalhadores,
os operários explorados, estavam também separados (alienados) dos processos de
tomada de decisões política.
A noção de participação popular é importante para o argumento marxista: a
ausência de participação tornaria evidente o caráter excludente e classista da
organização do Estado.
A luta de classes cumpre uma função importante. É ela que faz as mudanças sociais
acontecerem. É, portanto o motor da história. Se a luta de classes nasce sempre do
desejo do oprimido de livrar-se da opressão, então é evidente que o proletário, a
classe explorada, é o principal agente da transformação histórica. Mas, para isso, é
preciso que tenham consciência de classe, isto é, que vejam a si próprios como
partes integrantes de um conjunto, um grupo social poderoso.
Fetichismo da mercadoria: As pessoas pagam caro por uma coisa que custa barato 34

porque acreditam que, ao vestir esta camisa de grife, estão se diferenciando. Elas
acham que a marca da grife possui um valor intrínseco, isto é, um valor que seria
dela, da grife.
A relação que aparenta ser somente entre coisas (o dinheiro e o camisa de grife) é
na verdade uma relação entre pessoas, ou seja, é uma relação entre todos os
trabalhadores envolvidos na produção e comercialização da camisa, e você, que
trabalhou para ter o dinheiro necessário para comprá-lo.
No entanto, diz Marx, as pessoas são incapazes de perceber que, em função do
trabalho que fazem, estão constituindo uma relação social. É isto que o autor chama
de fetichismo da mercadoria (transformar um atributo subjetivo em objetivo).
Crítica a ideologia burguesa: ―As ideias dominantes de uma época sempre foram as
ideias da classe dominante.‖ Aí o gesto ideológico de apresentar o que era fruto de
uma posição particular na sociedade (a posição da classe burguesa) como sendo
algo de validade universal, isto é, válido para todas as pessoas. Teoricamente a
burguesia defendia a liberdade, no entanto, a liberdade que defendiam favorecia
apenas a burguesia, pois em sua visão (ideologia), esta forma de agir era a correta
(o trabalho do
proletariado era uma
simples mercadoria).
Dessa forma, percebe-
se que a luta entre
classes é o que faz as
mudanças sociais
acontecerem, e Marx
apostava que a vitória
do proletariado levaria
ao início de uma época socialista, sem classes, exploração ou desigualdade.

Max Weber

Weber x Marx: Weber busca compreender por que a história se transforma, para 35

isso devem ser considerados outros fatores além do conflito entre dominadores e
dominados. Seria preciso observar certos aspectos da realidade social que Marx
teria ignorado. Para Weber, o cientista social deveria agir intelectualmente de acordo
com as exigências científicas, diferentes, das exigências do exercício da ação
política, ele deveria adotar a neutralidade.
Weber x Durkhein: Weber não se preocupa com coercitividade dos fatos
sociais sobre o indivíduo, mas sim em perceber que as normas sociais se tornam
concretas quando se apresentam como motivação que impulsiona o indivíduo a agir
no meio social.
Weber parte sempre da observação das ações dos indivíduos, e não de alguma
totalidade (seja um fato social ou uma estrutura) que existiria anteriormente a eles.
Ação Social: É a conduta humana dotada de um significado atribuído pelo agente (o
indivíduo que a pratica) e tem relação com a conduta de outros indivíduos. Para
Weber, o objetivo da Sociologia é compreender os sentidos (significado) das ações
sociais.

Tipos de ações:
Weber é um individualista metodológico, pois seu método de trabalho consiste em
partir do estudo das ações dos indivíduos para então buscar compreender seu
sentido, isto é, compreender o que os indivíduos pensam que estão fazendo quando
agem de uma determinada forma, e que resultados (intencionais ou imprevistos)
acabam produzindo.
Destaca-se então o estudo das relações sociais. A relação social se estabelece
quando os agentes partilham o sentido de suas ações e agem reciprocamente de
acordo com certas expectativas que possuem do outro.
Weber afirma que o cientista deve ser motivado por suas paixões, mas, ao identificar
objeto de seus estudos, deverá fazê-lo de forma objetiva. Mas como fazer a ponte, a
passagem entre a subjetividade (crenças e valores do cientista) e a objetividade (a
necessidade de deixá-los fora do trabalho)? A resposta é por meios dos Tipos
Ideais.
O Tipo ideal é instrumento puramente formal, elaborado através da intensificação
unilateral de alguma característica do fenômeno observado. Ou seja, o tipo ideal não
existe de fato, é construído pelo pesquisador com o objetivo de facilitar a
compreensão do fenômeno que ele pretende analisar.
Weber argumentou que o capitalismo foi a consequência, na esfera da Economia, de
um processo de racionalização que teve na ética do trabalho protestante, um dos
seus principais motores.
Mas o que garantiria a obediência das pessoas? Para responder a esta pergunta, 36
Weber irá distinguir três tipos de dominação:
A dominação Racional-legal: Está baseada no respeito a uma regra ou norma vista
como legítima. A obediência à Constituição do país é um exemplo de dominação
racional-legal: o indivíduo reconhece a legitimidade das leis e vive de acordo com
elas.
A dominação Tradicional: Por outro lado, está baseada no respeito a uma ordem
antiga, a uma tradição. Quando, por exemplo, um indivíduo vive de acordo com as
regras de uma religião, de uma dinastia, de um poder familiar ou historicamente
perpetuado.
A dominação Carismática: O indivíduo admira ou obedece a um chefe ou líder que
considera excepcional
Para Marx o mundo é instável e vive em um constante embate entre classes. Para
Weber há uma relativa estabilidade, onde predomina o racionalismo e a burocracia
moderna, que pode ser abalada periodicamente por fenômenos irracionais
carismáticos.

Dessa forma a obra de Weber nos ajudou a ver que as ideias, as práticas culturais e
religiosas, não eram meros reflexos das condições materiais em que os indivíduos
viviam. Ele fez distinção entre Ciência e Política, importante no contexto em que foi
formulada. Desenvolveu importantes ferramentas para a sociologia (tipos de ação,
tipo ideal e dominação).

DIRETOS HUMANOS

Direitos Humanos são uma categoria de direitos básicos assegurados a todo e


qualquer ser humano, não importando a classe social, raça, nacionalidade, religião, 37

cultura, profissão, gênero, orientação sexual ou qualquer outra variante possível que
possa diferenciar os seres humanos.
Apesar de o senso comum acreditar que Direitos Humanos são uma espécie de
entidade que dá suporte a algumas pessoas ou que são uma invenção para proteger
alguns tipos de pessoas, eles, na verdade, são muito mais do que isso. Para
entender melhor, precisamos fazer algumas distinções conceituais necessárias
antes de nos aprofundar no assunto.

MITOS E VERDADES SOBRE OS DIREITOS HUMANOS

1. Os Direitos Humanos não foram criados por alguém.


Em primeiro lugar, os Direitos Humanos não são uma invenção, e sim o
reconhecimento de que, apesar de todas as diferenças, existem aspectos básicos da
vida humana que devem ser respeitados e garantidos.
A Declaração Universal dos Direitos Humanos foi redigida a fim de resguardar os
direitos já existentes, desde que houve qualquer indício de racionalidade nos seres
humanos. Assim sendo, ela não criou ou inventou direitos em seus artigos, mas se
limitou a escrever oficialmente aquilo que, de algum modo, já existia anteriormente à
sua redação. Portanto, quando o senso comum fala que ―os Direitos Humanos foram
criados para...‖, já podemos identificar algo de errado no comentário. Os Direitos
Humanos são assegurados a toda e qualquer pessoa.

2. Os Direitos Humanos são universais


Em segundo lugar, a extensão dos Direitos Humanos é universal, aplicando-se a
todo e qualquer tipo de pessoa. Portanto, eles não servem para proteger ou
beneficiar alguém e condenar outros, mas têm aplicação geral. Então, frases
repetidas pelo senso comum, como ―Direitos Humanos servem para proteger
bandidos‖, não estão corretas, visto que os Direitos Humanos são uma proteção a
todos os humanos. 38

Alegações com base na Declaração Universal dos Direitos Humanos podem ser
feitas para evitar ações que violem os direitos de réus ou criminosos, como o cárcere
injustificado, a tortura ou o assassinato.
3. Os Direitos Humanos não são uma pessoa.
Por último, os Direitos Humanos não são uma entidade, uma ONG ou uma pessoa
que se apresenta fisicamente e tem vontade própria. Portanto, a frase repetida pelo
senso comum ―Mas quando morre um policial, os Direitos Humanos não vão dar
apoio à família.‖ está duplamente incorreta, visto que os Direitos Humanos não são
entidade ou pessoas e que eles se estendem a todos, inclusive policiais.

COMO SURGIRAM OS DIREITOS HUMANOS?

Podemos fazer uma primeira incursão na Revolução Americana, em que a carta Bill
of Rights (ou Declaração dos Direitos dos Cidadãos dos Estados Unidos) assegura
certos direitos aos nascidos no país. Entre eles, garante o direito à vida, à liberdade,
à igualdade e à propriedade. Assim, o governo não poderia atacar um desses
direitos de alguém sem o devido processo e julgamento dentro dos parâmetros da
lei.
Na mesma época em que essa emenda americana foi oficialmente aceita, estourou
a Revolução Francesa, em 1789, e foi redigida a Declaração dos Direitos do Homem
e do Cidadão. De cunho liberal e baseada nos ideais iluministas que pregavam
a igualdade, a liberdade e a fraternidade, essa declaração tinha por objetivo
assegurar que nenhum homem deveria ter mais poder ou direitos que outro, o que
representava o ideal republicano e democrata, que à época ameaçava o Antigo
Regime, no qual apenas uma pessoa concentrava poderes. 39

Nesse primeiro momento, tanto a declaração americana quanto a francesa não


asseguravam direitos amplos a todos os membros da raça humana, pois, no
período, mulheres ainda não possuíam todos os seus direitos civis garantidos e
ainda havia escravidão.

Somente em 1948 foi publicada a carta oficial contendo a Declaração Universal dos
Direitos Humanos, a qual asseguraria, para todos e todas, os seus direitos básicos.
A história desse documento acompanha a história do início da Organização das
Nações Unidas (ONU), que iniciou suas atividades em fevereiro de 1945.
O que se queria naquele ano era evitar novas tragédias, como as ocorridas durante
a Segunda Guerra Mundial, por exemplo, a chamada ―solução final‖ do governo
nazista contra o povo judeu ou os atos anteriores ao início oficial da guerra, como as
prisões arbitrárias e o exílio de judeus, bem como a escravização de povos, outros
genocídios etc. Com o fim da Segunda Guerra, o cenário resultante continha milhões
de mortos, milhões em situação de miséria e fome, e milhares de civis que tiveram
algum direito violado por ataques, ações ou crimes de guerra.
Para elaborar estratégias que evitassem novas tragédias, representantes de 50
países reuniram-se para elaborar um organismo mundial que visava a garantir a paz
e o respeito entre os povos. A primeira ação elaborada foi a formação de
uma Comissão de Direitos Humanos da ONU, que
ficaria responsável pela redação de um
documento prescritivo para listar todos os direitos
fundamentais dos seres humanos. A declaração
foi concluída em 18 de junho de 1948 e aprovada
pela Assembleia Geral da ONU em 10 de
dezembro de 1948.
Hoje, 193 países são signatários da ONU. Isso significa que, entre outras coisas,
eles devem garantir em seus territórios o respeito aos direitos básicos dos cidadãos.
Não há uma maneira expressa e objetiva da organização fiscalizar e regular o 40
cumprimento dos Direitos Humanos, mas as legislações da maioria dos países
ocidentais democráticos, bem como seus sistemas judiciários, recorrem aos artigos
expressos na Declaração Universal dos Direitos Humanos para formularem seus
textos legais e aplicarem as decisões e medidas jurídicas.

Direitos humanos e a ONU


Além de ter redigido o documento central que trata dos Direitos Humanos no
mundo, a ONU tem a tarefa de garantir a
aplicação de tais direitos. Porém, a
organização não pode atuar como
uma fiscal ou central reguladora ordenando
ações dentro dos países e dos governos. O
que a ONU pode fazer é, no máximo,
recomendações para que os países
signatários sigam os preceitos estabelecidos
no documento.
Além de recomendações, são comuns ações estratégicas envolvendo os
países signatários para pressionar governos para que respeitem os Direitos
Humanos dentro de seus territórios, como embargos econômicos, cortes de
relações comerciais, restrições em zonas de livre comércio e restrições ou
cortes de relações exteriores.

Direitos Humanos no Brasil


Ao longo do tempo, as constituições foram
gradativamente adequando-se e sendo
aperfeiçoadas quanto às garantias dos Direitos
Humanos dos cidadãos brasileiros. Tomam-se,
como exemplo, os saltos qualitativos
representados pela Constituição Federal de
1934, que garantiram avanços para a classe
trabalhadora e estabeleceu o sufrágio
feminino, e pela Constituição Federal de 1988,
que está totalmente alinhada com a Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Apesar de avanços, o país teve períodos como a Ditadura Militar, ocorrida entre
1964 e 1985, quando, em seus anos mais pesados, centenas de pessoas foram
presas, exiladas, torturadas e até mortas por causas das suas orientações políticas
ou pela afronta ao governo ditatorial.
Também existem alguns problemas em relação à garantia dos Direitos Humanos em 41
território brasileiro hoje. Os principais fatores que evidenciam essas falhas são as
altas taxas de homicídios; as execuções cometidas por milícias; o falho sistema
prisional, que se encontra em crise; as ameaças aos defensores dos Direitos
Humanos; a miséria e a alta desigualdade social; a violência contra a mulher; e o
trabalho em situações análogas à escravidão.

A DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS

O documento oficial da ONU chamado Declaração Universal dos Direitos Humanos


possui 30 artigos antecedidos por um preâmbulo. O preâmbulo traz as justificativas
para a redação de tal documento e estabelece as bases sobre as quais os artigos
foram pensados. Abaixo, cada um dos artigos da Declaração Universal dos Direitos
Humanos:

Artigo 1º — trata da liberdade e da igualdade, que devem estender-se a todos os


seres humanos. 42
Artigo 2º — todas as pessoas podem requerer para si os direitos apresentados no
documento. Nenhuma discriminação, de qualquer origem, pode ser feita.
Artigo 3º — são apresentados os direitos mais
fundamentais: à vida, à liberdade e à segurança
pessoal.
Artigo 4º — diz que ninguém pode ser mantido em
regimes de escravidão ou servidão.
Artigo 5º — diz que ninguém pode ser submetido à
tortura, à crueldade ou a qualquer tipo de tratamento
degradante.
Artigo 6º — a personalidade jurídica (ou seja, o reconhecimento legal e jurídico de
todos como cidadãos) deve ser reconhecida em todo e qualquer lugar.
Artigo 7º — a lei deve ser igual para todos, deve proteger a todos, e o documento da
declaração também vale para todos, não importando as diferenças.
Artigo 8º — toda pessoa pode recorrer ao sistema de justiça contra as violações da
lei que as atingirem.
Artigo 9º — proíbe as prisões, detenções ou exílios arbitrários, ou seja, que não
foram resultados de um processo legal que comprove o ato como determinação de
uma sentença judicial ou de algum tipo de medida judicial válida.
Artigo 10º — todo mundo tem direito a um julgamento oficial, público, imparcial e
justo.

Artigo 11º — com dois incisos, o artigo afirma que alguém que é acusado de um
delito é inocente até que se prove o contrário e que não se pode condenar alguém
por uma ação que, no momento em que foi cometida, não era crime em âmbito
nacional ou internacional.
Artigo 12º — a lei deve proteger para que ninguém sofra intromissões no âmbito
privado de suas vidas.
Artigo 13º — tratando de fronteiras e territórios, os dois incisos desse artigo falam
que todo mundo tem o direito de residir onde quiser dentro de um Estado e que
todos podem abandonar ou retornar ao seu Estado de origem quando quiserem.
Artigo 14º — os dois incisos desse artigo garantem o direito à busca de asilo em 43

outros países por perseguição, salvo em caso de processo legal legítimo.


Artigo 15º — os dois incisos desse direito dizem que a nacionalidade é um direito de
todos e que ninguém pode ser privado dele.
Artigo 16º — os três incisos desse artigo dizem que: a partir da idade em que o
casamento é permitido, todos têm o direito de se casar, independente de qualquer
diferença existente entre eles, desde que haja o consentimento de ambas as partes;
e que o Estado deve garantir a proteção à família, entendendo que essa é o
elemento fundamental da sociedade.
Artigo 17º — diz que toda pessoa tem direito à propriedade e que ninguém pode ser
arbitrariamente privado dela.
Artigo 18º — trata da liberdade religiosa, garantindo o direito a todos de escolherem
e mudarem seus credos religiosos, bem como manifestá-los em âmbito público ou
privado.
Artigo 19º — diz que todos têm o direito à liberdade de expressão, ninguém pode ser
censurado ou discriminado por suas opiniões, e todos têm o direito de divulgá-las.
Artigo 20º — todo mundo pode reunir-se pacificamente, e ninguém pode ser
obrigado a participar de qualquer tipo de reunião.

Artigo 21º — todo mundo pode participar da política e da vida pública de seu país,
seja diretamente, seja por meio de representantes eleitos por votação. O terceiro
inciso desse artigo diz ainda que a vontade popular é o fundamento primeiro que
confere legitimidade aos poderes públicos.
Artigo 22º — todos têm direito à segurança e à seguridade social e podem exigir
esses direitos em suas diversas formas possíveis.
Artigo 23º — tratando do trabalho, os quatro incisos desse artigo garantem a todas
as pessoas: a possibilidade de escolha do trabalho; o trabalho digno; a remuneração
compatível, justa e digna por qualquer tipo de trabalho; a remuneração igual pelo
trabalho igual; e a possibilidade de fundação e filiação a sindicatos.
Artigo 24º — todo mundo tem direito ao descanso, ao lazer, a uma jornada de
44
trabalho compatível com o descanso e a férias remuneradas periódicas.
Artigo 25º — o primeiro inciso diz que todo mundo tem direito a condições básicas
de vida que garantam, para si e para a sua família, as condições básicas de
subsistência (saúde, bem-estar, alimentação, vestuário, moradia e serviços sociais
necessários). No caso de perda dos meios de subsistência involuntária, também é
assegurada a assistência social. O segundo inciso garante o amparo à maternidade
e à infância, que devem ser protegidas.

Artigo 26º — tratando da educação, esse artigo diz que todas as pessoas têm o
direito ao ensino elementar, universal e gratuito. Diz também que o ensino superior
deve estar aberto a todos em igualdade, que a educação deve promover o respeito e
os Direitos Humanos, e que cabe aos pais a escolha do tipo de educação que seus
filhos vão receber.
Artigo 27º — todos têm o direito de participar e usufruir da cultura, das artes e da
ciência produzidas em sua comunidade.
Artigo 28º — todos, sem distinção, têm direito à ordem e à garantia dos direitos
estabelecidos na Declaração.
Artigo 29º — todos têm deveres para com as comunidades e, seguindo o
cumprimento dos deveres, têm seus direitos garantidos.
Artigo 30º — os direitos e garantias apresentados na Declaração não podem ser
utilizados para destruir ou atacar qualquer direito fundamental.

Em resumo, os Direitos Humanos são uma categoria de direitos básicos e


inalienáveis. Garantem direitos básicos a todos os membros da espécie humana.
Seus primeiros reconhecimentos ocorreram na Revolução Americana e na
Revolução Francesa. Foram oficializados, no século XX, por meio da Declaração
Universal dos Direitos Humanos, da ONU. Possuem como objetivo garantir direitos
fundamentais, como a vida, a liberdade, a saúde e a segurança das pessoas, bem
como o direito à defesa e ao justo julgamento a quem seja acusado de um crime.
Direitos Humanos são uma categoria de direitos que se estendem a qualquer 45
membro da espécie humana, não importando qualquer tipo de classificação.
OS DIREITOS HUMANOS NA CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA

Princípio da Dignidade da Pessoa Humana


A dignidade da pessoa humana pode ser considerada como o fundamento último do
Estado brasileiro. Ela é o valor-fonte a determinar a interpretação e a aplicação da
Constituição, assim como a atuação de todos os poderes públicos que compõem a
República Federativa do Brasil. Em síntese, o Estado existe para garantir e
promover a dignidade de todas as pessoas. É nesse amplo alcance que está à
universalidade do princípio da dignidade humana e dos direitos humanos.

Como valor-fonte, é da dignidade da pessoa humana que decorrem todos os demais


direitos humanos. A origem da palavra dignidade ajuda-nos a compreender essa
idéia essencial. Dignus, em latim, é um adjetivo ligado ao verbo decet (é
conveniente, é apropriado) e ao substantivo decor (decência, decoro). Nesse
sentido, dizer que alguém teve tratamento digno significa dizer que essa pessoa teve
tratamento apropriado, adequado, decente.
Se pensarmos em dignidade da vida humana ou o que é necessário para se ter uma
vida digna, começaremos a ver com mais clareza como todos os direitos humanos
decorrem da dignidade da pessoa humana. Para que uma pessoa, desde sua
infância, possa viver, crescer e desenvolver suas potencialidades decentemente, ela
precisa de adequada saúde, alimentação, educação, moradia, afeto; precisa
também de liberdade para fazer suas opções profissionais, religiosas, políticas,
afetivas, etc. Esse conjunto de necessidades e capacidades nada mais é que o
conteúdo dos direitos humanos, reconhecidos, por essa razão, como princípios e 46

direitos fundamentais na Constituição Brasileira.


A dignidade é atributo essencial do ser humano, quaisquer que sejam suas
qualificações. Em última instância, a dignidade humana reside no fato da existência
do ser humano ser em si mesma um valor absoluto, ou como disse o filósofo alemão
Kant: ―o ser humano deve ser compreendido como um fim em si mesmo e nunca
como um meio ou um instrumento para a consecução de outros fins‖.
O Estado deve ser instrumento a serviço da dignidade humana e não o contrário.
Por essas razões, o princípio da dignidade da pessoa humana exige o firme repúdio
a toda forma de tratamento degradante (indigna) do ser humano, tais como a
escravidão, a tortura, a perseguição ou o mau trato por razões de gênero, etnia,
religião, orientação sexual ou qualquer outra.

É em decorrência do princípio da dignidade da pessoa humana que a Constituição


de 1988, no seu Título II, ―Dos Direitos e Garantias Fundamentais‖, afirma uma
extensa relação de direitos individuais e coletivos (Capítulo I, Artigo 5º), de direitos
sociais (Capítulo II, Artigos 6º a 11º), de direitos de nacionalidade (Capítulo III,
Artigos 12º e 13º) e de direitos políticos (Capítulo IV, Artigos 14º a 16º).

Prevalência dos Direitos Humanos nas Relações Internacionais


A Constituição de 1988, em seu Artigo 4º, inciso II, é a primeira em nossa história a
estabelecer a prevalência dos direitos humanos como princípio do Estado brasileiro
em suas relações internacionais.
Se a dignidade da pessoa humana, com todos os direitos humanos dela
decorrentes, deve orientar a atuação do Estado no âmbito nacional, seria
47
contraditório renegar esses princípios no âmbito internacional. Afinal, não são
apenas os brasileiros que devem ter sua dignidade humana respeitada e promovida,
mas todas as pessoas, todos os seres humanos, pelo fato único e exclusivo de
serem pessoas. Negar a prevalência desse princípio nas relações internacionais
seria negar a humanidade dos que não são brasileiros.
Assim, ao afirmar esse princípio, o Estado brasileiro compromete-se a respeitar e a
contribuir na promoção dos direitos humanos de todos os povos,
independentemente de suas nacionalidades.
A prevalência dos direitos humanos nas relações internacionais, ganha maior
relevância no momento histórico em que vivemos, no qual, em virtude do
desenvolvimento tecnológico, as distâncias entre as nações tendem a se encurtar
cada vez mais e todas as pessoas tendem a se tornar verdadeiras cidadãs do
mundo.
Um estado regido pelo princípio fundamental da dignidade da pessoa humana não
pode desprezar as violações dos direitos humanos praticadas por ou em outros
estados. Com a adoção desse princípio, o Brasil une-se à comunidade internacional,
assumindo com ela e perante ela a responsabilidade pela dignidade de toda pessoa
humana.

A Carta de 1988 é a primeira constituição nacional a consagrar um universo de


princípios que guiam o Brasil no cenário internacional, fixando valores que orientam
a agenda internacional do País. Essa orientação internacionalista se traduz nos
princípios da prevalência dos direitos humanos, da autodeterminação dos povos, do
repúdio ao terrorismo e ao racismo e da cooperação entre os povos para o
progresso da humanidade, nos termos do artigo 4º, incisos II, III, VIII e IX. O artigo
4º, como um todo, simboliza a reinserção do Brasil na arena internacional.
Essa inovação em relação às Constituições anteriores consagra a prioridade do
respeito aos direitos humanos como a principal referência para a atuação do País no
cenário internacional. Isso implica não apenas o engajamento do Brasil no processo
de elaboração de normas internacionais de direitos humanos, mas também a busca
48
da plena incorporação de tais normas no direito interno. Implica ainda o
compromisso de adotar uma posição política contrária aos Estados em que os
direitos humanos sejam gravemente desrespeitados.
Ao reconhecer a prevalência dos direitos humanos em suas relações internacionais,
o Brasil também reconhece a existência de limites e condicionamentos à soberania
estatal. Isto é, a soberania do Estado fica submetida a regras jurídicas, tendo como
padrão obrigatório a prevalência dos direitos humanos. Rompe-se com a concepção
tradicional de soberania estatal absoluta, relativizando-a em benefício da dignidade
da pessoa humana. Esse processo condiz com o Estado Democrático de Direito
constitucionalmente pretendido.
Se para o Estado brasileiro a prevalência dos direitos humanos é princípio a reger o
Brasil no cenário internacional, está-se, conseqüentemente, admitindo a idéia de que
os direitos humanos são tema de legítima preocupação e interesse da comunidade
internacional. Nessa concepção, os direitos humanos surgem para a Carta de 1988
como tema global. Tudo isso tem levado o Brasil a adotar os mais relevantes
tratados internacionais de direitos humanos.

Também é de extrema importância o alcance da previsão do Artigo 5º, parágrafo


segundo da Carta de 1988, ao determinar que os direitos e garantias expressos na
Constituição não excluem outros decorrentes dos tratados internacionais em que o
Brasil seja parte. Isto é, ao aderir a um tratado internacional de direitos humanos, o
Brasil não apenas assume compromissos perante a comunidade internacional, mas
também amplia o catálogo de direitos humanos previstos em nossa Constituição.

49
A DECLARAÇÃO UNIVERSAL E A CONSTITUIÇÃO DE 1988

Dignidade humana
I. Todos os homens nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de
razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de
fraternidade.
Art. 5º, I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta
Constituição.

Não discriminação
II. Todo homem tem capacidade para
gozar os direitos e as liberdades
estabelecidas nesta Declaração, sem
distinção de qualquer espécie, seja de
raça, cor, sexo, língua, religião, opinião
política ou de outra natureza, origem
nacional ou social, riqueza, nascimento
ou qualquer outra condição.
Além disso, não se fará distinção
alguma baseada na condição política,
jurídica ou internacional, do país ou do território cuja jurisdição dependa uma
pessoa, quer se trate de país independente, como de território de administração
fiduciária, não autônomo ou submetido a qualquer outra limitação de soberania.
Art. 5º, XLI - a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e liberdades
fundamentais;
Art. 5º, XLII - a prática do racismo constitui crime inafiançável imprescritível, sujeito à 50
pena de reclusão, nos termos da lei;
Vida, liberdade, segurança
III. Todo homem tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.
Art. 5º - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade
do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade.

Escravidão
IV. Ninguém será mantido em escravidão ou servidão; a escravidão e o tráfico de
escravos serão proibidos em todas as suas formas.

Tortura
V. Ninguém será submetido à tortura nem a tratamento ou castigo cruel, desumano
ou degradante.
Art. 5º, III - ninguém será submetido a tortura
nem a tratamento desumano ou degradante;
Art. 5º, XLIII - a lei considerará crimes
inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia
a prática da tortura, o tráfico ilícito de
entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os
crimes definidos como hediondos, por eles
respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem;
Art. 5º, XLIX - é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral;
Art. 5º, L - às presidiárias serão asseguradas condições para que possam
permanecer com seus filhos durante o período de amamentação;

Pessoa humana
VI. Todo homem tem o direito de ser, em todos os lugares, reconhecido como
pessoa humana, perante a lei.
Art. 1º - A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos
Estados e Municípios e Distrito Federal, constituiu-se em Estado Democrático de
Direito e tem como fundamentos: ... III - a dignidade da pessoa humana.

Igualdade
VII. Todos são iguais perante a lei e têm direito, sem qualquer distinção, a igual
proteção da lei. Todos têm direito a igual proteção contra qualquer discriminação que
viole a presente Declaração e contra qualquer incitamento a tal discriminação. 51
Art. 5º, I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta
Constituição.
Acesso à justiça
VIII. Todo homem tem direito a receber, dos tribunais nacionais competentes,
remédio efetivo para os atos que violem os direitos fundamentais que lhe sejam
reconhecidos pela constituição ou pela lei.
Art. 5º, XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça
a direito;
Art. 5º, LIII - ninguém será processado nem
sentenciado senão pela autoridade competente.
Art. 5º, LXVIII - conceder-se-á habeas corpus
sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado
de sofrer violência ou coação em sua liberdade de
locomoção, pela ilegalidade ou abuso de poder for
autoridade pública ou agente de pessoa jurídica
no exercício de atribuições do Poder Público.
Art. 5º, LXIX - conceder-se-á mandato de
segurança para proteger direito líquido e certo, não amparado por habeas corpus ou
habeas data quando o responsável por ilegalidade ou abuso de poder
Art. 5º, LXXI - conceder-se-á mandato de injunção sempre que a falta da norma
regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais,
e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania.
Art. 5º, LXXII - conceder-se-á habeas data : a) para assegurar o conhecimento de
informações relativas à pessoa do impetrante... b) para a retificação de dados...
Art. 5º, LXXIV - o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que
comprovarem insuficiência de recursos.
Art. 5º, LXXVII - são gratuitas as ações de habeas corpus e habeas data e, na forma
da lei, os atos necessários ao exercício da cidadania.

Habeas corpus

IX. Ninguém será arbitrariamente preso, detido ou exilado.


52
Art. 5º, LXI - ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e
fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão
militar ou crime propriamente militar, definidos em lei;
Art. 5º, LXII - a prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontrem serão
comunicados imediatamente ao juiz competente e a família do preso ou a pessoa
por ele indicada;
Art. 5º, LXIII - o preso será informado de seus direitos, entre os quais de permanecer
calado, sendo-lhe assegurado a assistência da família e de advogado;
Art. 5º, LXIV - o preso tem direito à identificação dos responsáveis por sua prisão ou
por seu interrogatório policial;
Art. 5º, LXV - a prisão ilegal será imediatamente relaxada pela autoridade judiciária;
Art. 5º, LXVI - ninguém será levado à prisão ou nela mantido, quando a lei admitir a
liberdade provisória, com ou sem fiança.
Art. 5º, LXVII - não haverá prisão civil por dívida, salvo a do responsável pelo
inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação alimentícia e a do depositário
infiel.

Devido processo legal

X. Todo homem tem direito, em plena igualdade, a uma justa e pública audiência por
parte de um tribunal independente e imparcial, para decidir de seus direitos e
deveres ou do fundamento de qualquer acusação criminal contra ele.
Art. 5º, XXXVII - não haverá juízo ou tribunal de exceção;
Art. 5º, XXXVIII - é reconhecida a instituição do júri, com a organização que lhe der a
lei, assegurados: a) a plenitude da defesa; b) o sigilo das votações; c) a soberania
dos veredictos; d) a competência para julgamento dos crimes dolosos contra a vida;

Inocência
XI. Todo homem acusado de um ato delituoso tem o direito de ser presumido
inocente, até que sua culpabilidade tenha sido provada de acordo com a lei, em 53
julgamento público, no qual lhe tenham sido asseguradas todas as garantias
necessárias à sua defesa. Ninguém será condenado por atos ou omissões que, no
momento em que foram cometidos, não tenham sido delituosos segundo o direito
nacional ou internacional. Tampouco será imposta penalidade mais grave do que a
aplicável no momento em que foi cometido o delito.

Art. 5º, XXXIX - não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia
cominação legal;
Art. 5º, XL - a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu;
Art. 5º, XLV - nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a
obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos
da lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do
patrimônio transferido;
Art. 5º, XLVI - a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras, a
seguinte: a) privação ou restrição da liberdade; b) perda de bens; c) multa; d)
prestação social alternativa; e) suspensão ou interdição de direitos;
Art. 5º, XLVII - não haverá penas: a) de morte, salvo em caso de guerra declarada,
nos termos do art. 84, XIX; b) de caráter perpétuo; c) de trabalhos forçados; d) de
banimento; e) cruéis;
Art. 5º, LIV - ninguém será privado de liberdade ou de seus bens, sem o devido
processo legal;
Art. 5º, LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados
em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com meios e recursos a
ele inerentes;
Art. 5º, LVI - são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos;
Art. 5º, LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de
sentença penal condenatória.

Direito à intimidade 54
XII. Ninguém será sujeito a interferências na sua vida privada, na sua família, no seu
lar ou na sua correspondência, nem a ataques à sua honra e reputação. Todo
homem tem direito à proteção da lei contra tais interferências ou ataques.
Art. 5º, X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das
pessoas, assegurado o direito à indenização pelo dano material ou moral decorrente
de sua violação;
Art. 5º, XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar
sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre ou
para prestar socorro, ou durante o dia, por determinação judicial;
Art. 5º, XII - é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações
telegráficas, de dados, e das comunicações telefônicas, salvo no último caso, por
ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de
investigação criminal ou instrução processual penal;

Liberdade de ir e vir
XIII. Todo homem tem direito à liberdade de locomoção e residência dentro das
fronteiras de cada Estado. Todo homem tem direito a sair de qualquer país, inclusive
do próprio, e a ele regressar.
Art. 5º, XV - é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo
qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dela sair com seus
bens;
XIV. Todo homem, vítima de perseguição, tem o direito de procurar e de gozar asilo
em outros países. Este direito não poderá ser invocado contra uma ação judicial
realmente originada em delitos comuns ou em atos opostos aos propósitos e
princípios das Nações Unidas.
Art. 5º, XLIV - é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo
da fonte, quando necessário ao exercício profissional;
Art. 5º, LI - nenhum brasileiro será extraditado, salvo o naturalizado, em caso de
crime comum, praticado antes da naturalização ou de comprovado envolvimento em 55

tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, na forma da lei;


Art. 5º, LII - não será concedida a extradição de estrangeiro por crime político ou de
opinião;

Nacionalidade
XV. Todo homem tem direito a uma nacionalidade. Não se privará ninguém
arbitrariamente da sua nacionalidade, nem do direito de mudar de nacionalidade.
Art. 12, §2º - A lei não poderá estabelecer distinção entre brasileiros natos e
naturalizados, salvo nos casos previstos nesta Constituição.

Família
XVI. Os homens e as mulheres de maior idade, sem qualquer restrição de raça,
nacionalidade ou religião, têm o direito de contrair matrimônio e fundar uma família.
Gozam de iguais direitos em relação ao casamento, sua duração e dissolução. O
casamento não será válido senão com o livre e pleno consentimento dos nubentes.
A família é o núcleo natural e fundamental da sociedade e tem direito à proteção da
sociedade e do Estado
Art. 226 - A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado.
Art. 227 - É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao
adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à
educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à
liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda
forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.

Propriedade
Art. 229 - Os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos menores, e os
filhos maiores têm o dever de ajudar e amparar na velhice, carência ou enfermidade.
XVII. Todo homem tem direito à propriedade, só ou em sociedade com outros.
Ninguém será arbitrariamente privado de sua propriedade.
Art. 5º, XXII - é garantido o direito de propriedade;
Art. 5º, XXIII - a propriedade atenderá a sua função social;
56
Art. 5º, XXIV - a lei estabelecerá o procedimento para desapropriação por
necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social, mediante justa e prévia
indenização em dinheiro, ressalvados os casos previstos na Constituição;
Art. 5º, XXV - no caso de iminente perigo público, a autoridade competente poderá
usar de propriedade particular, assegurada ao proprietário indenização ulterior, se
houver dano;
Art. 5º, XXVI - a pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que
trabalhada pela família, não será objeto de penhora para pagamento de débitos
decorrentes de sua atividade produtiva, dispondo a lei os meios de financiar o seu
desenvolvimento;
Art. 5º, XXX - é garantido o direito de herança;

Liberdade de consciência
XVIII. Todo homem tem direito à liberdade de
pensamento, consciência e religião. Este direito
inclui a liberdade de mudar de religião ou
crença e a liberdade de manifestar essa
religião ou crença pelo ensino, pela prática,
pelo culto e pela observância, isolada ou
coletivamente, em público ou em particular.
Art. 5º, VI - é inviolável a liberdade de
consciência e de crença, sendo assegurado o
livre exercício de cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção nos locais
de culto e as suas liturgias;
Art. 5º, VII - é assegurada, nos termos da lei, a prestação de assistência religiosa
nas entidades civis e militares de internação coletiva;

Livre expressão
XIX. Todo homem tem direito à liberdade de opinião e
expressão. Este direito inclui a liberdade de, sem
interferências, ter opiniões e de procurar, receber e
transmitir informações e idéias por quaisquer meios, e
independente de fronteiras.
Art. 5º, XIV - é assegurado a todos o acesso à
informação e resguardado o sigilo da fonte, quando
necessário ao exercício profissional;
Art. 5º, IX - é livre a expressão da atividade intelectual,
artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença;
57
Associação
XX. Todo homem tem direito à liberdade de reunião e associação pacíficas.
Ninguém pode ser obrigado a fazer parte de uma associação.
Art. 5º, XVI - todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ou
públicos, independente de autorização, desde que não frustrem outra reunião
anteriormente convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à
autoridade competente;
Art. 5º, XVII - é plena a liberdade de associação para fins lícitos, vedada a de caráter
paramilitar;
Art. 5º, XVIII - a criação de associações e, na forma da lei, a de cooperativas
independem de autorização, sendo vedada a interferência estatal em seu
funcionamento;
Art. 5º, XIX - as associações só poderão ser compulsoriamente dissolvidas ou ter
suas atividades suspensas por decisão judicial, exigindo-se no primeiro caso o
trânsito em julgado;
Art. 1º, § único - Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de
representantes eleitos, ou diretamente, nos termos desta Constituição.
Art. 10 - É assegurada a participação dos trabalhadores e empregadores nos
colegiados dos órgãos públicos em seus interesses profissionais ou previdenciários
sejam objeto de discussão ou deliberação.
Art. 14 - A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto
secreto, com valor igual para todos...
Art. 15 - É vedada a cassação de direitos políticos ...
Art. 16 - A lei que alterar o processo eleitoral só entrará em vigor um ano após sua
promulgação.
Art. 17 - É livre a criação, fusão, incorporação e extinção de partidos políticos,
resguardados a soberania nacional, ...os direitos fundamentais da pessoa humana ...

58
Acesso ao governo
XXI. Todo homem tem o direito de tomar parte no governo do próprio país,
diretamente ou por intermédio de representantes livremente escolhidos.
Todo homem tem o direito de acesso em condições de igualdade, às funções
públicas de seu país. A vontade do povo é a base da autoridade do poder público;
esta vontade deverá ser expressa mediante eleições autênticas que deverão se
realizar periodicamente, por sufrágio universal e igual, e por voto secreto ou outro
procedimento equivalente que garanta a liberdade do voto.
Art. 7º - São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à
melhoria de sua condição social: I - relação de emprego protegida ...; II - seguro-
desemprego; III - fundo de garantia; IV - salário mínimo ...
Art. 8º - É livre a associação profissional ou sindical ...
Art. 9º - É assegurado o direito de greve, competindo aos trabalhadores decidir
sobre a oportunidade de exercê-lo e sobre os interesses que devam por meio dele
defender.
Art. 11 - Nas empresas de mais de duzentos empregados é assegurada a eleição de
um representante destes com a finalidade exclusiva de promover-lhes o
entendimento direto com os empregadores.

Segurança social
XXII. Todo homem, como membro da
sociedade, tem direito à segurança social e à
realização, pelo esforço nacional, pela
cooperação internacional e de acordo com a
organização e recursos de cada Estado, dos
direitos econômicos, sociais e culturais
indispensáveis à sua dignidade e ao livre
desenvolvimento de sua personalidade.
Art. 5º, XXXIII - todos têm o direito a receber dos órgãos públicos informações de
seu interesse particular, coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob
pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à
segurança da sociedade ou do Estado;
Art. 5º, XXXIV - são a todos assegurados, independentemente do paga mento de
taxas: a) o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de direito ou contra
ilegalidade ou abuso de poder; b) a obtenção de certidões em repartições públicas,
para defesa de direitos e esclarecimento de situações de interesse pessoal;
XXIII. Todo homem tem direito ao trabalho, à livre escolha do emprego, a condições
justas e favoráveis de trabalho e à proteção contra o desemprego. Todo homem,
sem qualquer distinção, tem direito a igual remuneração por igual trabalho. Todo 59
homem que trabalha tem direito a uma remuneração justa e satisfatória, que lhe
assegure, assim como à sua família, uma existência compatível com a dignidade
humana e a que se acrescentarão, se necessário, outros meios de proteção social.
Todo homem tem direito a organizar sindicatos e a neles ingressar para a proteção
de seus interesses.
Art. 5º, XIII - é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas
as qualificações profissionais que a lei estabelecer;

Lazer
XXIV. Todo homem tem direito a repouso e lazer, inclusive à limitação razoável das
horas de trabalho e a férias remuneradas periódicas.
Art. 6º - São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, o lazer, a segurança, a
previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos
desamparados...

Bem-estar
XXV. Todo homem tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e a sua
família, saúde e bem-estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados
médicos e os serviços sociais indispensáveis, e direito à segurança em caso de
desemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda dos meios
de subsistência em circunstâncias fora de seu controle.
A maternidade e a infância têm direito a cuidados e assistência especiais. Todas as
crianças, nascidas de matrimônio ou fora dele, têm direito a igual proteção social..
Art. 230 - A família, a sociedade e o Estado têm o dever de amparar as pessoas
idosas, assegurando sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade e
bem-estar e garantindo-lhes o direito à vida.

Instrução
XXVI. Todo homem tem direito à instrução.
A instrução será gratuita, pelo menos nos
graus elementares e fundamentais. A
instrução elementar será obrigatória. A
instrução técnico-profissional será
acessível a todos, bem como a instrução
superior, esta baseada no mérito.
A instrução será orientada no sentido do
pleno desenvolvimento da personalidade
humana e do fortalecimento do respeito pelos direitos do homem e pelas suas 60
liberdades fundamentais. A instrução promoverá a compreensão, a tolerância e a
amizade entre todas as nações e grupos raciais ou religiosos e coadjuvará as
atividades das Nações Unidas em prol da manutenção da paz. Os pais têm
prioridade de direito na escolha do gênero de instrução que será ministrada aos
seus filhos.
Art. 205 - A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será
promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno
desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e a sua
qualificação para o trabalho.

Cultura
XXVII. Todo homem tem o direito de participar livremente da vida cultural da
comunidade, de fruir das artes e de participar do progresso científico e de seus
benefícios. Todo homem tem direito à proteção dos interesses morais e materiais
decorrentes de qualquer produção científica, literária ou artística da qual seja autor.
Art. 5º, XXVII - aos autores pertence o direito exclusivo de utilização, publicação ou
reprodução de suas obras, transmissível aos herdeiros pelo tempo que a lei fixar;
Art. 5º, XXVIII - são assegurados, nos termos da lei: a) a proteção às participações
em obras coletivas e à reprodução da imagem e voz humanas, inclusive nas
atividades desportivas; b) o direito de fiscalização do aproveitamento econômico das
obras que criarem ou de que participarem aos criadores, aos intérpretes e às
respectivas representações sindicais e associativas;
Art. 5º, XXIX - a lei assegurará aos autores de inventos industriais privilégio
temporário para sua utilização, bem como proteção às criações industriais, à
propriedade das marcas, aos nomes de empresas e a outros signos distintivos,
tendo em vista o interesse social e o desenvolvimento tecnológico e econômico do
País;
Art. 5º, XXX - é garantido o direito de herança;
Art. 215 - O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e
acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a
difusão das manifestações culturais.

Ordem social
XVIII. Todo homem tem direito a uma ordem social e internacional em que os direitos
e liberdades estabelecidos na presente Declaração possam ser plenamente
realizados.

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Art. 5º, XXXI - a sucessão de bens de estrangeiros situados no País será regulada
pela lei brasileira em benefício do cônjuge ou dos filhos brasileiros sempre que não
lhes seja mais favorável a lei pessoal do de cujus;
Art. 193 - A ordem social tem como base o primado do trabalho, e como objetivo o
bem-estar e a justiça social.

Deveres sociais
XXIX. Todo homem tem deveres para com a comunidade, na qual é possível o livre
e pleno desenvolvimento de sua personalidade. No exercício de seus direitos e
liberdades, todo homem está sujeito apenas às limitações determinadas pela lei,
exclusivamente com o fim de assegurar o devido reconhecimento e respeito dos
direitos e liberdades de outrem e de satisfazer às justas exigências da moral, da
ordem pública e do bem-estar de uma sociedade democrática. Esses direitos e
liberdades não podem, em hipótese alguma, ser exercidos contrariamente aos
objetivos e princípios das Nações Unidas.

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Garantias
XXX. Nenhuma disposição da presente Declaração pode ser interpretada como o
reconhecimento a qualquer Estado, grupo ou pessoa do direito de exercer qualquer
atividade ou praticar qualquer ato destinado à destruição de quaisquer direitos e
liberdades aqui estabelecidos.
Art. 5º, LXXVII - § 1º As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais
têm aplicação imediata. § 2º Os direitos e garantias expressos nesta Constituição
não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos
tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte.

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REFERÊNCIAS
Brasil Escola
Departamento de Diretitos Humanos e Cidadania - DEDIHC
DHnet
Educação Pública
Estudo Direito.com
Mundo Educação
Portal Educação
Secretaria Especial do Desenvolvimento Social

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