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Nome: Thayná Maldonado Marques

Curso: Sociologia
Disciplina: Sociologia Clássica I
Professor: Daniel Henrique da Mota Ferreira

Tema: Uberização na visão marxiana

Resumo: Este trabalho tem como objetivo fazer uma discussão acerca das questões
trabalhistas na atualidade ao analisar em um panorama histórico e social o assunto com foco
no estudo marxiano, e a partir disso trazer à tona os efeitos deste nos indivíduos e os seus
impactos, devido principalmente ao neoliberalismo e a concentração de renda, tão pertinentes
no Brasil e no Mundo.

Palavras-Chave: Exploração, Neoliberalismo, Karl Marx, Uberização

Introdução
Ao analisar uma de suas obras, como o Capital, Marx elenca com muita clareza os
dilemas do capitalismo, as suas origens, manutenção e contradições presentes nesse sistema.
Segundo o autor, a luta de classes sempre foi um tema pertinente na história do mundo, em
que ele aborda no manifesto comunista, junto a Engels.
A história de todas as sociedades até hoje existentes é a história das lutas de classes.
Homem livre e escravo, patrício e plebeu, senhor feudal e servo, mestre de
corporação e companheiro, em resumo, opressores e oprimidos, em constante
oposição, têm vivido numa guerra ininterrupta, ora franca, ora disfarçada; uma
guerra que terminou sempre ou por uma transformação revolucionária da sociedade
inteira, ou pela destruição das suas classes em conflito. (p.40)

Um de seus estudos mais significativos foi o de compreender a sociedade presente na


época, mas além disso e principalmente a de transformá-la. Marx comentava acerca da
revolução comunista, uma das formas necessárias para mudar a sociedade capitalista e com
isso exterminar a exploração advindo dela. Nos estudos marxianos, uma das formas do
capitalismo se perpetuar é a exploração, mas que advém do campo trabalhista, em que em
muitos casos os trabalhadores possuem o mínimo para viver mas a jornada de trabalho não
condiz com o salário que se possui.
Para compreender todas essas questões presentes no estudo de Marx é importante fazer
uma análise histórica acerca dos fatos para além disso entender os impactos deste na
sociedade atual, principalmente com o aspecto neoliberal e a influência do mesmo para as
questões trabalhistas, como o aspecto da uberização. Com isso, é possível evidenciar o quanto
as análises marxianas são atuais e necessárias para compreender a sociedade que vivemos e
perpetuamos.

Questões Trabalhistas no século XIX: Panorama Histórico

Durante o século XIX, ocorria na Inglaterra o fenômeno denominado Revolução


Industrial. Com o crescimento das cidades, ou seja com a industrialização, a população se viu
na necessidade de sair do campo em busca de trabalho. Entretanto, as condições trabalhistas
na época eram precárias, com a demanda das fábricas em precisar de trabalhadores veio junto
a isso a exploração presente no meio industrial.

A utilização da força de trabalho é o próprio trabalho. O comprador da força de


trabalho a consome fazendo com que seu vendedor trabalhe. Desse modo, este
último se torna actu [em ato] aquilo que antes ele era apenas potentia [em potência],
saber, força de trabalho em ação, trabalhador. (MARX, p. 326)

Com a demanda de trabalhadores nas grandes cidades, Marx enfatiza o efeito disso na
vida deles. Com as condições insalubres e os salários precários, ele faz um estudo acerca da
sociedade capitalista da época, no livro O capital, ele explicita como se dá o lucro dos donos
de produção e o funcionamento da engrenagem capitalista. Uma das formas utilizadas por
Marx para explicar o lucro dos donos de produção foi a partir da exploração perante os
trabalhadores, conceito denominado de mais-valor.

Vimos que o trabalhador, durante uma parte do processo de trabalho, produz apenas
o valor de sua força de trabalho, isto é, o valor dos meios necessários à sua
subsistência. Produzindo sob condições baseadas na divisão social do trabalho, ele
produz seus meios de subsistência não diretamente, mas na forma de uma
mercadoria particular…A parte de sua jornada de trabalho que ele precisa para isso
pode ser maior ou menor a depender do valor de seus meios de subsistência diários
médios ou, o que é o mesmo, do tempo médio de trabalho diário requerido para sua
produção. (MARX, P. 373)

O mais-valor se baseia na situação em que o lucro advindo dos donos das fábricas é
vindo de horas extras do trabalhador, em que o lucro da hora extra não vai para o trabalhador
e sim para os proprietários em questão. Com o lucro obtido a partir do mais-valor, a
concentração de renda, ou seja, do capital, cresce abundantemente, logo as condições
trabalhistas ficam mais precárias. Além disso, a acumulação de capital influencia não apenas
os aspectos trabalhistas, mas aumenta significativamente as desigualdades sociais presentes na
sociedade, principalmente quando analisamos a engrenagem capitalista no sistema. Ao ter o
seu lucro em dada empresa com a teoria do mais-valor, este que tem detém os meios de
produção, para aumentar a sua lucratividade tende a expandir o próprio negócio e atualizando,
ou seja, modernizando a própria empresa, para que assim possa ao expandir o seu capital e se
perpetuar no topo da pirâmide hierárquica capitalista.

Questões Trabalhistas no século atual e os seus impactos

Segundo David Harvey:


“O neoliberalismo é em primeiro lugar uma teoria das práticas político- econômicas
que propõe que o bem-estar humano pode ser melhor promovido liberando-se as
liberdades e capacidades empreendedoras individuais no âmbito de uma estrutura
institucional caracterizada por sólidos direitos a propriedade privada, livres
mercados e livre comércio. O papel do Estado é criar e preservar uma estrutura
institucional apropriada a essas práticas; o Estado tem de garantir, por exemplo, a
qualidade e a integridade do dinheiro. Deve também estabelecer as estruturas e
funções militares, de defesa, da polícia e legais requeridas para garantir direitos de
propriedade individuais e para assegurar, se necessário pela força, o funcionamento
apropriado dos mercados. Além disso, se não existirem mercados (em áreas como a
terra, a água, a instrução, o cuidado de saúde, a segurança social ou a poluição
ambiental), estes devem ser criados, se necessário pela ação do Estado. Mas o
Estado não deve aventurar-se para além dessas tarefas.” ( p. 12, 2008)

Com a flexibilização, ou seja, com o aumento das privatizações, da pouca intervenção


do Estado na economia, desregulamentação do mercado e corte de gastos, estes crescem com
a ideia principal que o próprio mercado regula a si mesmo, a participação estatal diminui
consideravelmente, logo as legislações trabalhistas presentes na constituição também. Esse
modelo econômico teve a sua origem nos anos 70, tendo as suas principais manifestações no
Chile de Pinochet, Estados Unidos no governo de Ronald Reagan e no Reino Unido no
governo de Margareth Thatcher (HARVEY, 2008). O Brasil foi um dos últimos países da
América latina a aderir à política neoliberal, a partir do governo Collor (FILGUEIRAS,
2006).

Para certa ideologia hegemônica do mercado, em tese, acelerar e ampliar a


circulação das mercadorias acarretaria transformações profundas do tempo e do
espaço, mas não maiores contradições sociais…A reprodução social do trabalhador
pode vir a ser profundamente alterada em termos de espaço e tempo e, também,
profundamente dilapidada, inclusive, e justamente, por meios das próprias “leis de
mercado” ao vender a sua força-de-trabalho (CASTRO; GALDINO; SUZUKI,
p.273)

Com a política neoliberal, atualmente ganha espaço os trabalhos “autônomos”, como o


conceito da uberização, entregadores, como do ifood, delivery entre outros, que trabalham
através de aplicativos, são remunerados através do rendimento diário e não possuem as
garantias trabalhistas básicas, como férias remuneradas e licença médica. O aspecto de ser
autônomo é reforçado pela ideologia neoliberal da meritocracia e através disto cria um viés
social de ter o próprio negócio como algo positivo, tornando o indivíduo o único responsável
pelo seu sucesso ou fracasso financeiro, através da possibilidade de ascender socialmente e
não mais ser “explorado” dentro de um emprego formal, como de uma empresa. No entanto, a
exploração trabalhista não tem fim com a autonomização, pelo contrário, pois sem a garantia
das leis trabalhistas devido a carência estatal nesse setor, o trabalhador fica à mercê da sorte,
em que se ocorre uma invalidez por doença, o mesmo não será ressarcido por isso. Segundo
(FONTES, 2017), o trabalho tem a função de garantir a subsistência do próprio mercado.

Além do mais, com a noção da autonomia salarial, o próprio trabalhador terá que
trabalhar muito mais para garantir o salário que recebia anteriormente. Porém, principalmente
com crises do capitalismo, cresce junto a isso a necessidade das pessoas de se reinventarem
para poder trabalhar, entretanto as condições inseridas neste meio se tornam precárias devido
a própria flexibilização trabalhista, o que ocasiona o crescimento das denúncias sofridas pelos
indivíduos, devido principalmente ao avanço das tecnologias, como a internet.

Em tais condições, as chamadas para as mobilizações e as denúncias das condições


de trabalho e subsistência dos trabalhadores uberizados no Brasil tomaram grandes
proporções, provocando uma ampla adesão social dos demais trabalhadores e das
camadas médias. Para tanto, as formas e os meios por eles utilizados para a
divulgação dessas denúncias também foram congruentes com tais condições, com o
uso da internet. (CASTRO; GALDINO; SUZUKI, p.278)

Essa perspectiva da consciência da luta de classes por parte de alguns trabalhadores


têm um impacto significativo nas organizações sindicais, por exemplo, em que a partir das
suas reivindicações é possível notar algumas mudanças advindas a isso.

Conclusão:

Com isso é possível perceber o quanto as estruturas sociais se mantêm, devido


principalmente à precarização do trabalho do século XIX até os dias atuais, como o impacto
da uberização. No início do século XIX, Marx já abordava sobre como as relações de trabalho
se davam na época, em que a base da sociedade capitalista é a partir da exploração, o lucro a
partir da denominação de mais-valor.

a exploração capitalista é medida pela diferença entre o valor produzido pelos


trabalhadores e o valor apropriado por eles; em outras palavras, os lucros totais são
qualitativamente determinados e quantitativamente limitados pela mais-valia
extraída. Mais precisamente, os trabalhadores vendem no mercado sua capacidade
de trabalho, ou força de trabalho, e são pagos pelo valor dessa força de trabalho.
Essa é uma troca de equivalentes, porque o valor da força de trabalho é, por suposto,
alto o suficiente para garantir que a classe trabalhadora possa se reproduzir (e vender
força de trabalho novamente no período seguinte), mas baixo demais para permitir
que os trabalhadores, como classe, ameacem o monopólio capitalista dos meios de
produção. (SAAD FILHO, p.31)
Na atualidade, o que se observa é que mesmo com as mudanças presentes nas
organizações feita pelos próprios trabalhadores e as mudanças decorrentes disso, as estruturas
da sociedade ainda são bastante enraizadas, em que a forma das explorações se modificam,
porém se mantêm. No início do século XIX, dava-se através do trabalho fabril, hoje, apesar de
ainda existir em empresas, construiu-se também a exploração da autonomização devido ao
impacto do neoliberalismo. As pessoas trabalham mais, têm menos garantia de direito e não
recebem integralmente por aquilo que fazem, com isso as concentrações de renda aumentam e
consequentemente as desigualdades também.

Quanto mais se expande o capitalismo, mais o trabalho assume múltiplas


configurações, recobertas por contraditórias aparências, disseminadas, enfatizadas
pela propaganda e pela atuação empresarial e estatal. Duas aparências assumem a
frente na atualidade: o trabalho reduzir-se-ia a emprego, e seria superável,
eliminável da vida social (FONTES, 2017, p. 47)

Visto isso, as análises marxianas para analisar o mundo contemporâneo são


imprescindíveis para compreender as relações que são dadas ao nosso redor. Relações sociais
que são a base das relações econômicas que influenciam diretamente a nossa forma de pensar
e de agir no âmbito capitalista. Em que nossos desejos, são implantados constantemente para
alimentar o capital e a exploração constante para fazer com que se mantenha essa relação
social entre opressor e oprimido, tão antiga e tão atual no mundo, como diz Marx ao enfatizar
que a história do mundo é a luta de classes.
Referência Bibliográfica

CASTRO, Rita de Cássia; GALDINO, Gabriel; SUZUKI, Júlio César (org). A precarização
do trabalho e as crises dos modelos produtivos na América latina no século XXI. São
Paulo, 2022

ENGELS, Friedrich, MARX, Karl. O manifesto Comunista. São Paulo, edição Boitempo,
2005

FILGUEIRAS, Luiz. Projeto político e modelo econômico neoliberal no Brasil:


Implantação, evolução, estrutura e dinâmica. Faculdade de Ciências econômicas da
UFBA, 2005

FILHO SAAD, Alfredo. Salários e exploração na teoria marxista do valor. Economia e


sociedade, Campinas, 2001

FONTES, Virgínia. Capitalismo em tempos de uberização: do emprego ao trabalho. Vol.5,


n.8, 2017

HARVEY, David. O Neoliberalismo: História e Implicações. São Paulo, Edições Loyola,


2008

MARX, Karl. O Capital. Boitempo, 2011

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