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Ideologia econômica do marxismo/socialismo

As proposições centrais [da ideologia] do marxismo foram: “(1) uma declaração sobre o
presente: “a ordem social é injusta”; (2) uma declaração sobre o futuro: “A ordem social
existente pode ser alterada “; (3) uma mensagem estratégica sobre a forma de transição de (1)
para (2): “O destino por si só não vai trazer essa transição, temos nós organizar e agir “
Sassoon [2014, p 6.]
Uma ideologia é um sistema coerente de ideias religiosos ou seculares sobre o mundo
(“Weltanschauung”) que fornece sentido a vida das pessoas, estabelece normas e valores e
praticas rituais. Com isto a ideologia explica o funcionamento do mundo, reduz a complexidade
do mundo, e mostra estratégias para a transformação social. Diferente de uma teoria cientifica a
ideologia é um conjunto de crenças normativas e estratégicas envolvendo emoções, otimismo e
o espirito romântico.
Nas lutas políticos pelo poder e pelo reconhecimento e nas lutas econômicas por recursos
econômicos as ideologias são as armas intelectuais para legitimar a distribuição de poder,
riqueza, renda e status e as mudanças nestas estruturas. A importância das ideias e ideologias
na transformação social não pode ser subestimada como mostram as ideias das iluministas e de
Rousseau antes da Revolução Francesa, as ideias marxistas, socialistas e anarquistas antes de
Revolução Russa, mas também de forma inversa, algumas vezes vista como contraofensiva do
capital ao intervencionismo keynesiano e ao Estado de bem-estar social, a ascensão da ideologia
do neoliberalismo nas décadas de 1970 e 1980.
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• Cole - A History of Socialist Thought (5 Volumes)


• Eley - The History Of The Left In Europe
• Howard e King - A History of Marxian Economics (2 Volumes)
• Ingham – Capitalism [Usado frequentemente na primeira aula]
• Kolakowski - Main Currents of Marxism (3 Volumes)
• Marx, Engels, Gramsci, Lenin etc. Em Inglês e português:
https://www.marxists.org/
• Priestland - The-red-flag (também em português)
• Sassoon - one-hundred-years-of-socialism
• Ideias básicas da ideologia econômica marxista
• O esquema da reprodução e acumulação do capital
• Teoria do valor e de mais-valor e sua influência sobre a luta de classes
• A hipótese da queda tendencial da taxa de lucro
• O exercito industrial de reserva e sua influência sobre os salários
• Consequências da exploração: conflitos trabalhistas
• A tendência do capitalismo de tornar se global (Imperialismo – Globalização)
• A tendência do capitalismo de tentar introduzir sua lógica em todas esferas da vida
• Críticas ao pensamento marxista
• O capitalismo na história e seus reflexos na ideologia marxista
• Os primeiros passos do capitalismo mercantil, agrário e financeiro (século XV até metade do
século XVIII)
• Industrialização e liberalismo – Do capitalismo concorrencial para o capitalismo oligopolizado
• Do capitalismo competitivo para o capitalismo organizado
• O período entre as guerras – entre laissez faire e intervenção do Estado
• O capitalismo fordista e keynesiano na era do ouro depois da II Guerra Mundial
• O capitalismo global na era neoliberal
• A Agenda neoliberal e suas reformas no Brasil
O esquema da reprodução e a acumulação do capital
O modo de produção da vida material determina o processo da vida social, política e intelectual em
geral. Não é a consciência das pessoas que determina o seu ser, mas sim o seu ser social que
determina a sua consciência. (MEW 13, p. 8 f.)
Desde que o desenvolvimento da força produtiva do trabalho possibilitou um excedente que
ultrapassou a sobrevivência (...) surgiram classes, e desde então a história humana tem sido de lutas
de classes pela produção e distribuição desse excedente e moldado pela estrutura social resultante.
Se as características mais importantes do sistema capitalista são a procura do lucro pelos capitalistas
e a acumulação do capital (moeda pronta para ser investida na produção, distribuição e nas finanças
para criar mais valor, e com isto, lucros), a formula da reprodução simples de Marx [MEW 24, 1963
p. 69]
G – W – G´
[Capital em forma de moeda ou crédito – insumos, maquinas, e trabalho – Mais capital em forma
de moeda] para descrever o processo de exploração do trabalhador na produção capitalista.
G’ é novamente investido para criar ainda mais lucro (acumulação de capital). Obviamente para
realizar mais-valor e lucro as mercadorias produzidas neste processo precisam ser vendidos, se não
é possível vender as mercadorias o processo cessa e uma crise se inicia. Nesta crise algumas
empresas vão para bancarrota (destruição de capital) e os excessos anteriores são corrigidos, a crise
funciona como um mecanismo de limpeza do sistema econômico.
Teoria do valor e de mais-valor e sua influência sobre a luta de classes
Valor total (de qualquer mercadoria) = c + v +m, Marx suponha que as mercadorias/os produtos são
trocados em relação do tempo de trabalho que elas representam.
Capital constante c: valor de insumos de materiais e de maquinaria usada relacionado ao produto [é
transferido para o valor do produto sem qualquer alteração quantitativa de valor]
Capital variável v: Valor da força de trabalho, salários para produzir a mercadoria/produto, acrescenta
valor.
Marx assume aqui que o salário do trabalhador somente repõe os custos de subsistência do trabalhador
que dependem do desenvolvimento da economia no tempo. Se o dia do trabalho tem 8 horas e os custos
para a subsistência do trabalhador representam quatro horas de trabalho, nas últimas 4 horas o
trabalhador trabalha para o mais valor do capitalista,
A taxa de mais valor é m/v = 100%]. Este é a exploração do trabalhador no sentido de Marx.
Mais-valor m: renda disponível para juros e dividendos ou para acumulação de capital (investimento), a
taxa de lucro em Marx é p = m/(c + v), enquanto hoje a taxa do lucro é calculado sobre o valor/preço total
[Aumento/Diminuição do] Mais valor absoluto [através do aumento/diminuição do tempo de trabalho
diário, semanal ou anual]
[Aumento/Diminuição do] Mais valor relativo: diminuição/aumento do salário de subsistência ou
aumento/diminuição da produtividade do trabalhador [por exemplo inovações de processo de produção]
A hipótese da queda tendencial da taxa de lucro
Composição orgânica do capital que representa o papel que os custos de materiais e maquinário
tem no valor de produção (sem mais valor) q = c/(c+v).
Com o desenvolvimento capitalista a produção torna se mais intensivo em capital, q aumenta.
Como no sentido de Marx somente o trabalho cria mais valor m, este fato cria implicações para a
taxa de lucro p

A fração c/v aumenta quando q a composição orgânica do capital aumenta, então quando a c/v
aumenta com a taxa de mais valor constante a taxa de lucro p diminui. Como historicamente a
composição orgânica do capital aumenta a taxa de lucro tem a tendência de diminuir, embora Marx
mostra também muitos fatores que impactam em direção contrária, por exemplo uma queda no
valor de maquinário c (Para computadores, por exemplo, os preços baixavam enquanto sua
produtividade aumentava).
O exercito industrial de reserva e sua influência sobre os salários
O exército industrial de reserva representa os desempregados e os pobres que com sua
concorrência por empregos forçam o nível salarial para o nível de subsistência. Marx reconhece que
com o desenvolvimento econômico na história o nível de subsistência também aumenta.
Consequências da exploração: conflitos trabalhistas
Formação da classe trabalhadora, consciência de classe e luta de classes: Obviamente encontram-se
na empresa interesses conflitantes. O capitalista quer maximizar seus lucros, enquanto os
trabalhadores querem aumentar seus salários, diminuir as horas de trabalho, melhorar as condições
de trabalho e diminuir o controle e o poder do capitalista e seus capatazes através de demandas por
co-determinação. Obviamente estas linhas de conflito também aumentam a consciência de classe
nos capitalistas e nos trabalhadores e força eles de se organizar em sindicatos e partidos políticos.
Mann [2012] mostra as estratégias alternativas nos conflitos para a classe trabalhadora

Estratégia para enfrentar o capitalismo


Competitiva Reformista Revolucionária
Local e Economia Protecionismo Economismo Sindicalismo
tática da
luta Estado Mutualismo Socialdemocracia Marxismo

Fonte: MANN, Michael, The sources of social power, Volume II, The rise of classes and
Nation-States 1760 – 1914, New York: Cambridge University Press, 2012, p. 514]
O primeiro par das alternativas são estratégias mais moderadas, não transformando o capitalismo, mas fornecendo
oportunidades para os trabalhadores para melhor competir dentro de capitalismo. Mann chama isto para o ambiente
econômico de protecionismo, como cooperativas, as fábricas modelo de Owen, o plano de terras dos chartists (no Reino
Unido antes de 1848), e os fundos de seguros dos sindicatos, todas alternativas econômicas coletivistas, mas trabalhando
dentro de uma economia de mercado. Mas muitas vezes estas formas do protecionismo necessitam da cobertura por direitos
legais civis e políticos do Estado, por exemplo, do reconhecimento legal dos sindicatos ou da legislação para facilitar o acesso
ao crédito e ao capital para as cooperativas, mutualismo, como defendido por Proudhon. Esta estratégia focada no Estado e
suas instituições chama Mann de mutualismo.
Se o os capitalistas e o Estado resistam da organização e das atividades dos trabalhadores, os trabalhadores possivelmente
mudassem suas estratégias para as alternativas reformistas ou revolucionarias.
A estratégia reformista tenta modificar o capitalismo com reformas dentro do sistema capitalista. No ambiente econômico
este pode ser a tentativa dos sindicatos de conseguir melhores salários e/ou condições de trabalho e uma participação
institucional nas decisões da empresa. Partidos socialdemocratas são exemplos para o reformismo político lutando por leis
trabalhistas e direitos sociais de um Estado de bem-estar social, embora a maioria dos partidos socialdemocratas tivesse
ainda uma programática revolucionária até as décadas de 1950 e 1960, mas acompanhada por uma política reformista.
A alternativa revolucionária se apoiou em primeiro lugar nos movimentos anarquistas e comunistas (partidos comunistas
foram criados depois da revolução russa, coordenados pela terceira Internacional desde 1919). Trabalhadores buscando
derrubar o capitalismo através de medidas econômicas – insurreição industrial e greve de massas – são chamados
sindicalistas (ou anarco-sindicalistas). Mann chama de Marxistas aqueles que procuram capturar o Estado e derrubar as elites
governantes, procurando estabelecer um socialismo de Estado (‘statist socialism’) através de luta política.
Mann adverte que isto são tipos ideais, na realidade os trabalhadores combinavam elementos de todas as estratégias,
subsumidos sob o conceito de socialismo. Quando os trabalhadores focavam alternativas políticas, a luta (por exemplo, dos
chartists) foi uma luta também pelos direitos democráticos, quebrando o controle do Estado pelas classes dominantes.
A tendência do capitalismo de tornar se global (Imperialismo – Globalização)
Braudel [1997, p 15] descreve a propagação das estruturas capitalistas como uma expansão de manchas de petróleo que se espalham
geograficamente e culturalmente.
O mercantilismo era – por esta razão – a primeira ideologia hegemônica no desenvolvimento do capitalismo global. O conceito do
capitalismo global [Frieden] apoia se nas ideias de Wallerstein [2007] sobre uma análise sistêmica global, defendendo a ideia de que a
evolução do capitalismo somente pode ser compreendida como um sistema entrelaçado da economia capitalista global de relações entre
centro, semiperiferia e periferia, onde poder e liderança mudavam na história. O desenvolvimento do capitalismo sempre precisava e
precisa ainda hoje um clima de confiança entre os agentes econômicos e precisa de instituições fortes para criar inovações, mercados,
trocas e riqueza. Estas instituições são em primeiro lugar a empresa familiar ou mais tarde a corporação e as instituições do Estado
nacional e desde a Segunda Guerra Mundial com importância crescente instituições internacionais como o Fundo Monetário
Internacional (FMI), o Banco Mundial, a Organização Mundial de Comércio (OMC, antes GATT), a OCDE e as reuniões do G7, G8 e G20.
A grande indústria criou o mercado mundial para o qual a descoberta da América o preparou. O mercado mundial deu um
desenvolvimento imensurável ao comércio, à navegação, às comunicações terrestres. Isso também teve um efeito sobre a expansão da
indústria e, na mesma medida em que a indústria, o comércio, a navegação e as ferrovias se expandiram, a burguesia se desenvolveu,
aumentou seu capital e empurrou para segundo plano todas as classes herdadas da Idade Média. Marx, Manifesto
A burguesia não pode existir sem revolucionar permanentemente os instrumentos de produção, ou seja, as relações de produção (...). A
necessidade de um mercado em constante expansão para os seus produtos leva a burguesia por todo o globo. Ela se aninha em todos os
lugares, cresce em todos os lugares, e estabelece conexões em todos os lugares. (P. 465). Os baixos preços de seus produtos são a
artilharia pesada que derrube todas as muralhas da China, com a qual obriga o ódio dos bárbaros aos estrangeiros a capitular. Ela obriga
todas as nações de implantar o modo de produção da burguesia (...) e as obriga a apresentar o que se chama de civilização deles, ou seja,
para se tornarem burguesas. Em uma palavra, cria um mundo à sua própria imagem. (P. 466) Marx, Manifesto
Ironicamente, hoje nos tempos da globalização, são os preços baixos da produção chinesa que derrubam a indústria nos
países ricos.
O conceito do imperialismo nas últimas duas décadas do século XIX e nos anos antes de Primeira Guerra Mundial descreve a
corrida geopolítica dos países centrais para dividir o mundo entre si na forma de colônias, países forçados a abrir suas
economias para os países centrais (China, Egito , Turquia, Pérsia etc.), e esferas de interesse. Diferentes autores (por exemplo,
Hobson, Lenin, Hilferding) enfatizam fatores ideológicos e políticos e/ou fatores econômicas na evolução das políticas
imperialistas nos países centrais que – em última instância – levavam para a Primeira Guerra Mundial em 1914. Estudos
posteriores mostravam que os benefícios econômicos estavam limitados para os países centrais, embora provavelmente
lucrativos para certos empreendedores globais. Um exemplo especialmente sombrio do imperialismo e colonialismo das
ultimas décadas do século XIX é o Congo do rei Leopoldo II de Bélgica com seu trabalho forcado, torturas, e matanças, que
Conrad descreve em sua novela 'The heart of darkness' que deixa a ideologia colonialista de Kipling 'The white man's burden'
exposta em toda sua fraqueza. Estima se que milhões de congoleses pereciam sob o regime colonialista do rei Leopoldo II.
Tabela 1 Colônias (incluindo os domínios do Reino Unido) dos poderes centrais (Área em
quilômetros quadrados (milhões) e população (milhões) em 1876 e 1914)

Total em % do
Colônias Países Centrais Total
Mundo
1876 1914 1914 1914 1914
Área População Área População Área População Área População Área População
Inglaterra 22,5 251,9 33,5 395,5 0,3 46,5 33,8 440,0 25,2% 26,6%
Rússia 17,0 15,9 17,4 33,2 5,4 136,2 22,8 169,4 17,0% 10,2%
França 0,9 6,0 10,6 55,5 0,5 39,6 11,1 95,1 8,3% 5,7%
Alemanha - - 2,9 12,3 0,5 64,9 3,4 77,2 2,5% 4,7%
Estados
- - 0,3 9,7 9,4 97,0 9,7 106,7 7,2% 6,4%
Unidos
Japão - - 0,3 19,2 0,4 53,0 0,7 72,2 0,5% 4,4%
06
poderes 40,4 273,8 65,0 523,4 16,5 437,2 81,5 960,6 60,9% 58,0%
centrais
Colônias de outros países (Bélgica, Países Baixos, Portugal etc.) 9,9 45,3 7,4% 2,7%
Países dependentes (China, Pérsia, Turquia etc.) 14,5 361,2 10,8% 21,8%
Outros países 28,0 289,9 20,9% 17,5%
O Mundo 133,9 1.657,0 100,0% 100,0%

Fonte: Lenin, p. 262, citado de Hübners "Geographisch-statistischen Tabellen", cálculos próprios.


A tendência do capitalismo de tentar introduzir sua lógica em todas esferas da vida
“Tudo o que é sólido desmancha no ar”, escreveram Karl Marx e Friedrich Engels no Manifesto Comunista,
referindo-se ao modo como a sociedade capitalista se reformula constantemente, já que sua base econômica
se modifica de que “são varridas do mapa (...) todas as relações fixas, cristalizadas”. Jeffrey A Frieden
Com o Neoliberalismo desde a década de 1980 houve não somente a introdução de suas estratégias de
privatização, desregulamentação, abertura comercial e financeira em muitos países, no Brasil desde o
Consenso de Washington, mas a logica capitalista da maximização de lucros, da rígida contabilidade de custos
entrou em ramos da vida aonde outros princípios prevalecem: saúde, educação, cuidados para idosos e
deficientes, cultura etc. O problema começa quando, por exemplo, problemas de saúde da população são
somente avaliados pelos critérios dos custos e lucros, perdem se aqui conceitos éticos nestes ramos.
Abrem se em todo lugar possibilidades de fazer lucro, se é saudável é outra pergunta:
Para o capitalismo do presente, faminto por crescimento e retorno, o vasto mundo da economia
fundamental [agua, eletricidade, gás, transporte, etc.] aparece como um gigantesco campo de caça
inexplorado, como um reservatório de oportunidades de exploração não utilizadas, como uma oportunidade
tentadora para continuar a "acumulação original"[3] com a sua conversão de propriedade comum em
propriedade privada e de comum em centros de lucro. Aos seus olhos, as condutas de água e as habitações
sociais, as ruas e asilos, os cuidados de saúde e os seguros de pensões, os transportes ferroviários e a
administração pública estão à espera de serem finalmente totalmente capitalizados – “privatizados” – e
levados ao ápice de uma era que sofre de “estagnação secular”. Streeck, Vorwort zu: Die Ökonomie des
Alltagslebens
O pensamento marxista-socialista se organizando em sindicatos e partidos
O capitalismo, como o conhecemos, tem se beneficiado muito do surgimento de contra
movimentos desafiando a regra do lucro e do mercado. O socialismo e o sindicalismo, impedindo a
mercantilização, impediram o capitalismo de destruir suas fundações não capitalistas – confiança,
boa-fé, altruísmo, solidariedade dentro das famílias e comunidades, etc. Sob o keynesianismo e o
fordismo, a oposição mais ou menos leal ao capitalismo garantiu e ajudou de estabilizar a demanda
agregada, especialmente nas recessões. Wolfgang Streeck, How will capitalismo end? Posição
1083 p.
• 1863 Allgemeinen Deutschen Arbeitervereins» (ADAV); Ferdinand Lassalle Presidente
• 1864 –(1873) 1. Internacional Socialista - Associação Internacional dos Trabalhadores (AIT)
• 1869 Sozialdemokratischen Arbeiterpartei» (SDAP) – Eisenach
• 1875 Réunion ADAV e SDAP Sozialistischen Arbeiterpartei Deutschlands» (SAP) Gotha;
«Gothaer Programm», 1890 Sozialdemokratische Partei Deutschlands (SPD)
• 1889 (-1914) 2. Internacional Socialista
• 1919 (-1943) (3.) Internacional Comunista - Comintern - Cominform (1947 – 1956)
• 1938 Quarta Internacional (QI) – trotskista
Até a Primeira Guerra Mundial houve uma rápida ascensão dos movimentos, sindicatos e partidos
trabalhistas em relação à filiação, votação, e importância política. Por exemplo, o partido socialdemocrata na
Alemanha (SPD) chegou a mais de um milhão de membros com uma votação geral de mais de 30 por cento
em 1912 e foi o maior partido socialista no mundo.
“Antes de 1914, em nenhum lugar em Europa um socialista tinha servido em qualquer governo com o apoio
do seu partido.” Com isto os partidos socialistas ficavam fora do poder e seguiam uma política anticapitalista,
antimilitarista e anti-imperialista até a guerra mudou tudo isto e a maioria dos partidos socialistas nos países
beligerantes [com exceção de Rússia e Servia] entrou nos governos e apoiava a guerra, destruindo com isto
praticamente a II Internacional [fundada em 1889].
Com a revolução bolchevista na Rússia em 1917 e a criação da terceira Internacional [comunista] em 1919
houve uma cisão do movimento socialista em uma corrente socialista reformista (socialdemocrata) e uma
corrente revolucionária (comunista), o que dificultou no período entre as guerras na Europa a combate aos
movimentos autoritários da direita, fascistas e nacional-socialistas.
Depois da Segunda Guerra Mundial a Guerra Fria entre o bloco das democracias capitalistas, liderado pelos
Estados Unidos, e o bloco do socialismo real burocrático, liderado pela União Soviética, enfraqueceu muitos
movimentos socialistas, deixando somente partidos comunistas fortes na França, Itália e Finlândia e partidos
socialistas/socialdemocratas fortes em outros países da Europa ocidental, especialmente na Escandinávia.
Com a crise da década de 1970, com a ascensão do modelo capitalista neoliberal, com a fragmentação da
cultura trabalhista e finalmente com a queda do muro de Berlim em 1989 e a queda da União Soviética em
1991, os partidos comunistas da Europa ocidental dissolviam-se ou tornavam se forças politicas menores, e
os partidos socialdemocratas, enfraquecidos, quando chegavam novamente ao poder, como na década de
1990, foram partidos com perfil diferente do que antes da década de 1970.
Críticas ao pensamento marxista
É muito bom protestar contra a injustiça, é claro. Mas como o falecido político socialista Tony Benn costuma
dizer, a mudança social é uma combinação de duas coisas: “a chama ardente da raiva contra a injustiça e a
chama ardente de espero por um mundo melhor. Aqueles que – como eu – querem que a velha ordem seja
superada têm a responsabilidade de oferecer alternativas coerentes. Sem essas alternativas, as pessoas podem
se ressentir da ordem existente, mas permanecerão ligadas a ela” Jones, Establishment [s.a. p.
xxiv]
• O pensamento marxista tornou-se cada vez mais um pensamento dogmático abrindo pouco espaço para
discussões controversas sobre o capitalismo global, os que pensavam diferente foram denunciados como
renegados e traidores e no Grande Terror na década de 1930 na USSR assassinados ou para o GULAG.
Esquecia-se o que Rosa Luxemburg dizia: “A liberdade é sempre a liberdade de quem pensa diferente”
• Problemas em esclarecer o projeto socialista: uma sociedade mais justa, nacionalização dos meios de
produção e planejamento central da economia foi uma formulação geral de mais.
• Honneth [2016] também afirma que as ideologias socialistas e comunistas focalizavam demais que somente
com as mudanças nas estruturas econômicas seguindo uma revolução socialista uma sociedade mais justa,
igualitária e solidária poderia ser alcançada perdendo de vista os sucessos das democracias liberais em
garantir os direitos humanos das pessoas (os direitos civis, políticos e sociais) e com isto perdendo de vista
também que a luta pelo socialismo deve ser sempre uma luta por estruturas econômicas e políticas que
garantem mais liberdade, solidariedade e igualdade, mas também uma luta por reconhecimento humano e
dignidade humana.
A história humana não é um processo quase determinista do feudalismo para o capitalismo e finalmente
para o socialismo, mas contingências, retrocessos, declínios, progressos são elementos do processo
imprevisível e aberto da história.
A teoria de valor de trabalho cria mais problemas do que resolve e focaliza demais o lado de produção,
deixando de lado problemas da demanda e das finanças. A acusação da exploração do trabalhador e da
procura desenfreada do lucro no capitalismo fica valido até hoje. O papel do empresário em organizar,
inovar e assumir riscos foi pouco reconhecido no pensamento marxista.
A previsão marxista da concentração e centralização de capital é de certa forma corroborada, mas as
pequenas e médias empresas sobreviviam.
Uma tendência geral de empobrecimento da classe trabalhadora (MEW 23 p. 675) não aconteceu, em vez
disto os salários reais cresciam até a década de 1970, desde então existe uma estagnação ou um aumento
muito pequeno dos salários reais dos trabalhadores e um aumento expressivo do desemprego e dos
empregos precários.
A grande narrativa do proletariado como sujeito da mudança para o socialismo falhou, porque as
fragmentações internas (religião, etnia, profissão, etc.) tornam se fortes demais, e ainda existe uma ampla
classe média com pensamentos diferentes. Em nenhum país em nenhum período o proletariado industrial
tornou-se a maioria da população ativa.
O projeto de socialismo real (na USSR e no leste europeu) tornou se burocrático e economicamente pouco
inovativo, com pouco ênfase de satisfazer os desejos dos consumidores. A falta de liberdades politicas e
culturais levou a uma estagnação politica e cultural. A balança ecológica do socialismo burocrático foi
parcialmente pior do a dos países capitalistas
O capitalismo na história e seus reflexos na ideologia marxista
Os primeiros passos do capitalismo mercantil, agrário e financeiro (século XV até metade do século XVIII)
• Séculos XV e XVI: Renascença e humanismo, começo da revolução cientifica, a imprensa facilita uma
comunicação mais secular entre intelectuais europeus, reformação protestante incentiva a leitura e a
individualização,
• Expansão europeia para as Américas e a Ásia, expansão do comércio internacional. Fala-se nesta época
também da evolução do capitalismo mercantil na Europa, acompanhado de mudanças na gerencia das
empresas (contabilidade e de forma mais geral racionalidade de conduzir os negócios), na criação de
companhias (p.e., as companhias de das Índias Orientais na Inglaterra (1600) e na Holanda (1602)),
mudanças nas finanças privadas (bancos, letras de câmbio, diferentes formas de crédito, bolsas de valores)
e nas finanças públicas (títulos públicos e com isto criação de uma dívida pública do Estado, não mais do
monarca).
Industrialização e liberalismo - Do capitalismo concorrencial para o capitalismo oligopolizado
• Fin do século XVIII na Inglaterra: mudança profunda na agricultura com aumento significativo da
produtividade fornecendo mão de obra para industrialização. A industrialização começou com a inovação
no ramo têxtil, na mineração de carvão usando a inovação da máquina a vapor, a na infraestrutura com a
construção de canais e o melhoramento das estradas. A força animal e humana foi parcialmente substituída
por maquinas e a energia de carvão de madeira substituída pelo carvão e coque.
• Começa – primeira vez na história - o crescimento sustentado do produto per capita. O trabalho em fabricas
cria uma nova classe social o proletariado industrial. Começam os conflitos trabalhistas e no século XIX o
pensamento socialista e anarquista (Godwin, Saint-Simon, Fourier, Owen, Proudhon, Marx, Engels).
Do capitalismo competitivo para o capitalismo organizado
A civilização do século XIX assentava em quatro instituições. O primeiro foi o sistema de equilíbrio de poder que durante um
século impediu a ocorrência de qualquer longa e devastadora guerra entre as Grandes Potências. O segundo era o padrão
ouro internacional que simbolizava uma organização única da economia mundial. O terceiro era o mercado autorregulador
que produzia um bem-estar material inédito. O quarto era o Estado liberal. Classificadas de uma forma, duas dessas
instituições eram econômicas, duas políticas. Classificado de outra forma, dois delas eram nacionais, dois internacionais.
Entre eles foram determinados os traços característicos da história de nossa civilização. Karl Polanyi, The Great
Transformation, p.3
• O próximo estágio de desenvolvimento capitalista – a segunda revolução industrial na segunda metade do século XIX– teve
início com a construção de ferrovias com necessidade maior de carvão, ferro, e aço e a criação de grandes companhias.
Para financiar novos empreendimentos grandes bancos e mercados de capital foram criados. No fim de século XIX a
indústria pesada, a indústria química e eléctrica tornam-se ramos importantes da produção concentrada. As grandes
empresas criavam também um incentivo para os trabalhadores de vindicar suas demandas econômicas, políticas, e de
reconhecimento contra o capital e o Estado através da organização em sindicatos e partidos trabalhistas.
• O Estado tornou se cada vez mais importante nas áreas educação, saúde, assistência social, infraestrutura, para garantir o
desenvolvimento e a competitividade do capitalismo industrial nacional. A urbanização criou a necessidade de fornecer,
água, gás, eletricidade, transporte público através de empresas, parcialmente em propriedade dos municípios. Com a
introdução de automóveis criava se também demanda para infraestrutura rodoviária, para petróleo, e para borracha.
• Evolução de um capitalismo da empresa familiar em mercados competitivos em Inglaterra para um capitalismo organizado
nos países centrais antes da Primeira Guerra Mundial, um capitalismo de grandes corporações, aplicação de
conhecimentos científicos na produção, em mercados oligopolizados em ramos importantes da produção, e da crescente
inter-relação entre corporações e instituições do Estado.
• Na socialdemocracia alemã no fim do século XIX e no começo do século XX estas mudanças foram refletidas em diferentes
correntes dentro da SPD, centrista (Kautsky marxista na teoria, mas reformista na pratica), revisionista (Bernstein), e
esquerdista (Rosa Luxemburg, Karl Liebknecht).
O período entre as guerras – entre laissez faire e intervenção do Estado
Economicamente os países de Europa tentavam se recuperar da guerra com reconstrução da infraestrutura e do aparelho
produtivo (a destruição foi pior no norte de França, Bélgica e na Rússia – desde 1922 a USSR) e a reorientação da produção bélica
para a produção em tempos da paz. A lembrança do modelo de sucesso de padrão ouro em tempos antes da guerra teve a
consequência que os países centrais tentavam de retornar ao padrão ouro, mas sob condições diferentes.
A Grande Depressão da década de 1930 com desemprego elevado e prolongado, com crises cambiais e bancárias foi o gatilho
para destruição do sistema liberal e internacional da economia global. Para a eclosão da crise são importantes: a desestruturação
da economia global pela Primeira Guerra Mundial, inflações e hiperinflações em muitos países com dívidas públicas elevadas, o
problema das reparações e das dívidas da guerra, os problemas da volta ao padrão (câmbio) ouro na década de 1920 e os conflitos
políticos internos e externos, aprofundados pela ascensão de movimentos antiliberais de direita e de esquerda. Os fatores
econômicos mais importantes da Grande Depressão: A rigidez do padrão câmbio ouro, bolhas especulativas, fluxos voláteis de
capital internacional, politicas macroeconômicas contra produtivos orientado no equilíbrio do orçamento e de politicas monetárias
orientados para garantir o valor externo da moeda nacional.
A Grande Depressão da década de 1930 levou os governos em muitos países de mundo de tentar estratégias econômicas não
liberais, o New Deal de Roosevelt nos Estados Unidos, uma estratégia socialdemocrata corporativista na Suécia, uma estratégia
corporativista fascista na Itália (já antes da Grande Depressão) e na Alemanha, e na USSR uma estratégia stalinista de
industrialização e modernização forçada e a coletivização violenta da agricultura familiar, embora a USSR foi um dos poucos países
no mundo que apresentavam taxas de crescimento expressivos nestes tempos da depressão. A formulação teórica de uma
ideologia intervencionista do Estado foi feito somente em 1936 por Keynes com sua teoria geral de emprego, juros e moeda,
dando um estimulo teórico para uma estratégia econômica de intervenção de Estado sem destruir as instituições básicas do
capitalismo global: desemprego elevado e prolongado (combatido através do ‘deficit spending’ do Estado), pobreza, insegurança e
conflitos sociais (combatido através do Estado de bem-estar social), queda do comércio internacional e controle dos movimentos
desestabilizadores internacionais de capital (combatido através das instituições do sistema de Bretton Woods depois de 1944 e de
controles dos fluxos internacionais de capital). No período pós Segunda Guerra Mundial a ideologia keynesiana tornou-se
hegemônica em muitos países centrais, embora a União Soviética (até 1991) e os novos países socialistas no leste europeu
prosseguiam com sua estratégia de desenvolvimento socialista: socialização dos meios de produção (empresas) e planejamento
central envolvendo somente marginalmente a instituição de mercados, e muitos países em desenvolvimento, como o Brasil,
seguiam uma estratégia desenvolvimentista com forte controle do capitalismo pelo Estado (Industrialização através da substituição
de importações e empresas públicas).
A Grande Depressão da década de 1930
A Grande Depressão da década de 1930 foi nos países centrais e também na periferia a crise mais séria do capitalismo global. Com desemprego prolongada
em massa, com a queda expressiva da produção, do emprego, e do comercio internacional a legitimidade do liberalismo político e econômico foi ameaçada
por ideologias extremistas da direita e da esquerda. Os pilares do liberalismo econômico caiavam por terra, o padrão (câmbio) ouro caiu em 1931 com a saída
do Reino Unido e outros países ou finalmente em 1933 com a saída dos Estados Unidos, o comércio internacional livre foi substituído pelo protecionismo
nacional. Os conflitos internacionais e nacionais aumentavam com a depressão prolongada e cada país tentava uma solução nacional. No nível nacional os
conflitos socais aumentavam com a luta sobre a distribuição da renda em queda livre, as diferenças entre desempregados e empregados aumentavam ainda
mais as rachas entre os assalariados, e elites e classes médias experimentavam com soluções autoritárias. Os problemas criados pela Grande Depressão foram
resolvidos de formas diferentes, em Alemanha com uma ditadura sangrenta da extrema direita nazista, nos Estados Unidos com medidas socialdemocratas do
New Deal de Roosevelt, no Brasil com o regime autoritário de Vargas.
Desemprego no período entre as guerras e na Grande Depressão
Desemprego industrial (em histat)
Alemanha Reino Unido Estados Unidos Suécia França
Média 1919-1928 7,7 10,6 7,1 12,9 4,1
1929 13,3 10,4 4,7 10,2 1,0
1932 43,8 22,1 34,0 22,4 15,4
1938 3,2 12,9 26,4 10,9 7,8

Tabela 46 Grande Depressão Estados Unidos: Variação percentual do PIB real e seus componentes e do deflator do PIB e dos componentes (Contas Nacionais trimestrais)
3. tr. 1929/ 1. Tr. 3. tr. 1929/ 1. Tr. 3. tr. 1929/ 3. Tr.
3. tr. 1929/ 3. Tr. 1926 1. tr. 1933/ 3. Tr. 1929 1. tr. 1940/ 1. Tr. 1933 1. tr. 1940/ 3. Tr. 1929
1913 1919 1925
PIB Real 58,6% 41,3% 16,1% 9,7% -36,2% 60,0% 2,0%
Deflator PIB 69,6% -3,2% -2,6% -0,7% -26,9% 20,0% -12,3%
Investimento equipamentos n.d. 39,1% 23,7% 12,4% -79,0% 306,0% -14,6%
Consumo Duráveis n.d. 68,0% 13,8% 9,0% -55,0% 113,7% -3,8%
Consumo Não Duráveis n.d. 38,7% 18,2% 6,2% -22,0% 33,9% 4,5%
Exportações n.d. 5,0% 16,7% 9,3% -44,2% 68,8% -5,8%
Importações n.d. 91,1% 25,5% 21,8% -37,7% 34,5% -16,2%
Gastos Governo n.d. -19,1% 14,2% 17,2% 2,9% 47,3% 51,6%
Fonte: NBER, Cálculos próprios

We had to struggle with the old enemies of peace--business and financial monopoly, speculation, reckless banking, class antagonism, sectionalism, war
profiteering. They had begun to consider the Government of the United States as a mere appendage to their own affairs. We know now that Government by
organized money is just as dangerous as Government by organized mob. F.D. Roosevelt, liberal president about the NEW DEAL
Gráfico: Índice composto de crises financeiras (Reinhart e
Rogoff (2009)) e Índice de crises reais, 1900 - 2014
O capitalismo fordista e keynesiano na era do ouro depois da II Guerra Mundial
O período depois da Segunda Guerra Mundial até a quebra da União Soviética em 1991 é determinado pelo conflito (guerra fria) entre os
países centrais capitalistas liderados pelos Estados Unidos num lado e os países do socialismo burocrático liderados pela União Soviética
noutro lado e como poder terceiro os países do terceiro mundo, muitos deles criados no processo de descolonização depois da II Guerra
Mundial, que tentavam assumir uma posição independente no conflito da guerra fria.
Em muitos países centrais uma estratégia de intervenção macroeconômica indireta do Estado nos moldes de Keynes e a organização do
trabalho nas empresas na perspectiva de Ford-Taylor garantiram empregos seguros, embora monótonos, com salários ascendentes,
conseguiam diminuir o desemprego a níveis muito baixos e garantir através da rede de segurança do Estado de bem-estar social na
perspectiva de Beveridge as necessidades básicas da vida para os desfavorecidos do desenvolvimento capitalista. Esta forma de organização
da economia e das empresas foi nomeada de capitalismo organizado, de capitalismo keynesiano fordista ou de capitalismo liberal
corporativista. Na tabela encontram-se dados de 1951 – 2021:

As três décadas depois da Segunda Guerra Mundial são vistos por muitos historiadores e economistas como um período de vigoroso
crescimento da produção, do emprego e dos salários com estabilidade social, uma era de ouro (Hobsbawm), os “les trente glorieuses”
(Fourastié). A tabela mostra a era de ouro do capitalismo de 1951 até 1973 e a queda do crescimento depois da crise na década de 1970, o
aumento do desemprego e o controle da inflação depois de 1982. Esta crise levou também ao fim do Keynesianismo intervencionista e na
ascensão da ideologia neoliberal em muitos países.
O Paradigma Keynesiano-fordista nos 30 anos pós-Guerra
O paradigma keynesiano-fordista (também chamado de capitalismo organizado, economia mista ou economia social de
mercado) pode ser caracterizado pelos seguintes traços estruturantes, que incorporam certos elementos corporativistas:
• As intervenções do Estado na economia através de uma política fiscal e monetária discricionária garantem certa
estabilidade da produção, renda e emprego no ciclo conjuntural e evitam depressões como a Grande Depressão da década de
1930. Os objetivos de crescimento econômico e de desemprego baixo são os objetivos centrais da política macroeconômica
dos governos. A inflação baixa é um objetivo importante, mas secundário em relação ao objetivo de desemprego baixo.
• Os benefícios do Estado de bem-estar social garantem uma estabilidade social protegendo a classe trabalhadora
contra os riscos da vida e da instabilidade da economia capitalista.
• A regulamentação dos mercados, com foco no mercado de trabalho e nos mercados financeiros e nas instituições
financeiras, e a regulação macroeconômica (políticas para estabilizar a demanda agregada) garantem o desenvolvimento
equilibrado nos países centrais, evitando um aumento excessivo das desigualdades de renda e riqueza e a especulação
excessiva.
• A presença de sindicatos trabalhistas fortes também representa uma forma de proteger a parte mais fraca nos
mercados de trabalho – a força de trabalho – e garante – pelo menos em teoria – um poder compensatório para a classe
trabalhadora em confronto com o capital. Mas com as intervenções do Estado este poder compensatório é visto pelas elites
como um entrave para sua posição dominante, para a liberdade individual e empresarial, para os lucros, para a inovação e
para o crescimento, focando nos custos burocráticos e fiscais.
• O sistema de Bretton Woods forneceu um sistema monetário internacional mais estável e no mesmo momento
mais flexível do que o regime de câmbio ouro no período entre as guerras e evita – através de controles dos fluxos de capitais
estrangeiros de curto prazo – os problemas de fluxos internacionais desestabilizadores de capital e da especulação cambial,
como nos últimos anos do regime câmbio ouro entre as guerras. Mas já na década de 1960 os fluxos de capital internacional
desestabilizadores se tornavam maiores e – em último lugar – levavam a quebra final do regime de Bretton Woods em 1973.
A parte fordista-taylorista do paradigma keynesiano-fordista considera em primeiro lugar a organização do processo da produção nas
empresas, enquanto a parte keynesiana representa a regulação macroeconômica e social.
• Produção de massa (tipicamente representada pela linha de montagem automatizada) e consumo de massa de bens e serviços
para os consumidores dependendo de uma organização rígida da força de trabalho, de custos altos em investimento e no controle
acirrado dos trabalhadores. O consumo de massa de produtos uniformizados começou nos Estados Unidos já na década de 1920
padronizando produção e produtos através na produção em massa usando os conceitos da administração cientifica de Taylor e as linhas
de montagem (nos fabricas de automóveis de Ford já em 1911/1913). O consumo de massa foi também facilitado para grande parte da
população pela criação e ampliação do crédito ao consumidor. O conceito de Fordismo-Taylorismo se sobrepõe com os conceitos de
racionalização (da produção) e da eficiência, mostrando a dupla face da modernização capitalista (Hachtmann e Saldern, 2010, p. 175),
num lado ganhos da eficiência da produção, noutro lado condições de trabalho mais desagradáveis para os trabalhadores no chão das
fabricas.
• A produção em massa depende da organização minuciosa do trabalho humano, para evitar os custos da ociosidade dos
trabalhadores por causa dos pesados investimentos em tecnologia. Existe uma nítida diferenciação de poder e do controle entre os
administradores da empresa e os trabalhadores. Todos trabalhos de conhecimento, planejamento, organização, decisão e controle são
executados pela administração, o trabalhador fica com o trabalho manual. As tarefas são fragmentadas, o trabalho torna-se monótono e
repetitivo e empregando em sua maioria trabalhadores sem qualificação. As tarefas pouco interessantes são consequência da visão
negativa do Taylorismo do trabalhador, visto como preguiçoso e motivado somente pelo salário. As tarefas burocratizadas necessitam de
um controle acirrado do trabalhador para manter e aumentar a produtividade.
• O modelo Fordista de produção capitalista garante neste sentido empregos estáveis com salários atraentes, pelo menos nos
tempos de prosperidade, por outro lado torna o trabalho monótono e alienante e estabelece uma organização burocrática pouco flexível.
Também a produção de bens de consumo é padronizada e pouco flexível com os desejos variados dos consumidores. É necessário
acrescentar que o modelo de Fordismo-Taylorismo começou prevalecer na produção industrial dos Estados Unidos no período entre as
guerras e depois, embora em Europa prevalecesse somente depois da Segunda Guerra Mundial, mas também nestes tempos houve
ramos de produção que foram não fordistas ou somente parcialmente fordistas. Também nos tempos de pós-Fordismo existem ainda
estruturas fordistas de produção nos países centrais e ainda mais nos países emergentes.
O capitalismo global na era neoliberal
Em retrospecto a crise na década de 1970 foi visto como o retorno aos problemas normais do capitalismo
depois de um período de reconstrução depois da guerra e de uma expansão econômica e social antes nunca
vista por quase três décadas, culpando o modelo corporativista keynesiano – fordista por sua rigidez em
regulamentando os mercados e inibindo as forças dinâmicas dos mercados e da inovação. Em esta crítica
baseava se a nova estratégia neoliberal desde a década de 1980 focando na desregulamentação dos mercados,
na privatização de empresas estatais e na crescente globalização produtiva e financeira integrando os
mercados nacionais em um mercado global.
Para os países centrais pode se resumir que a estratégia não conseguiu retornar ao crescimento vigoroso das
décadas depois da Segunda Guerra Mundial, mas as novas estratégias empresariais conseguiam aumentar a
competitividade das empresas e a inovação em um ambiente global de maior competição. A mudança da
estratégia keynesiana focada na manutenção do pleno emprego através da intervenção do Estado para uma
estratégia neoliberal focado no controle da inflação implicava custos para a classe trabalhadora: desemprego
elevado e prolongado, estagnação de salários reais, insegurança dos empregos, cortes nos benefícios do Estado
de bem estar social.
Os custos sociais da estratégia neoliberal foram expressivos, o desemprego alto e prolongado nos países
centrais levando a uma divisão da força de trabalho em uma parte menor em situação segura e bem
remunerada e uma parte maior em situação insegura e mal remunerada e uma parte crescente de
trabalhadores excluídos da produção capitalista. O ataque neoliberal contra o Estado de bem-estar social não
conseguiu diminuir significativamente os gastos sociais dos governos dos países centrais enfrentando
desemprego e exclusão crescente, mas conseguiu parcialmente diminuir a rede de segurança e privatizar riscos
antes cobertos pelo Estado de bem-estar social. Com isto espalhou-se um clima de incerteza, insegurança e
medo de perder o emprego e uma tendência para o aumento significativo da desigualdade na distribuição de
renda e riqueza junto com uma perda da força dos sindicatos trabalhistas.
A Agenda neoliberal e suas reformas no Brasil
É importante anotar que o conceito da ideologia neoliberal é um conceito controverso na discussão política e econômica. Poucos economistas, defendendo políticas neoliberais, usam para si a
denominação como neoliberais. Embora a ideologia neoliberal fosse desenvolvida na Sociedade de Mont Pèlerin e ampliou sua importância com a escola de Chicago e com ‘think tanks’ financiados
por parte das elites econômicas [A história pode ser acompanhada no livro ‘The road from Mont Pèlerin’, 2015], na discussão acadêmica o conceito neoliberal é -as vezes – interpretado como uma
conceituação com um viés para a esquerda política. Mas houve na realidade das últimas décadas do século XX e no novo século XXI muitas agendas políticas que podem ser resumidas sob a
conceituação de políticas neoliberais.

A dinâmica de mercados livres da intervenção estatal está no centro do pensamento neoliberal. Liberar os mercados dos grilhões do Estado interventor para acelerar crescimento, criação de
riqueza e inovação inclui no pensamento da ideologia neoliberal diferentes projetos:
• Diminuir o tamanho do Estado no seu alcance econômico e social sem interferir na sua força militar e repressiva. Neste sentido privatização de empresas estatais, venda de outros ativos
do Estado (por exemplo vendendo apartamentos em propriedade comunal para os inquilinos), políticas de austeridade cortando os benefícios do Estado de bem estar social e enxugando o
funcionalismo público, cortar subsídios etc.
• Ampliar o alcance dos mercados no nível internacional incentivando a globalização produtiva, comercial e financeira (abertura dos mercados nacionais para o mercado global), no nível
nacional através da introdução da lógica dos mercados nos serviços públicos, no nível da empresa enfocando a máxime do shareholder-value e do lucro a curto prazo, no nível individual
empoderando os trabalhadores para vender competências e conhecimento com o fundo da ideologia individualista de que cada um é responsável para seu próprio sucesso, renda, e riqueza, os
perdedores da corrida capitalista são depreciados como fracassados, preguiçosos e exploradores do Estado de bem estar social.
• Desregulamentação dos mercados, com foco nos mercados de trabalho para aumentar a liberdade das empresas de contratar e demitir, determinar livremente as condições de trabalho
e criar um mercado de trabalho de baixos salários, empregos inseguros e temporários. Com foco nos mercados financeiros para aumentar a liberdade de instituições financeiras de especular e criar
produtos financeiros duvidosos.
• Nas políticas macroeconômicas o paradigma keynesiano de estabilizar a economia e ajudar os desfavorecidos do sistema capitalista deve ser substituído pelo paradigma neoliberal de
que a mão invisível do mercado promove crescimento e inovação melhor do que a mão visível do Estado. O paradigma keynesiano apoiava se em políticas fiscais e monetárias ativas do governo e
do banco central em tempos de crise com a possibilidade de usar políticas de renda em moldes corporativistas para combater a inflação e políticas de comércio externo e de câmbio para garantir o
equilíbrio externo. No paradigma neoliberal o objetivo do pleno emprego perde sua importância pelo objetivo da inflação controlada, a política fiscal perde sua importância pela política monetária
do banco central. A política fiscal no mesmo momento concentra-se na queda dos impostos de renda, riqueza, herança e das empresas favorecendo mais as camadas abastadas e no mesmo
momento cortando benefícios sociais para os desfavorecidos.

As mudanças nas empresas: estratégias administrativas do novo espirito do capitalismo (Boltanski e Chiapello, 2007) no paradigma da produção enxuta e flexível (Toyotismo) que substituem o
paradigma Taylorista Fordista desde a década de 1980. Estas novas estratégias empresariais tentam estruturar o trabalho em um ambiente de incerteza e mudança continua. Estas estratégias
refletem parcialmente experiencias japonesas para motivar a força de trabalho e usar os conhecimentos do trabalhador no chão da fábrica, como qualidade total, produção enxuta, etc.,
parcialmente estratégias de motivação através de estratégias baseadas nos movimentos de relacionamento humano e da humanização das relações de trabalho, parcialmente estratégias para
coordenar o esforço trabalhista mais com as volatilidades dos mercados. Todas estas estratégias refletem perspectivas da organização de cima para baixo e com isto relações de poder entre
gerência e força de trabalho bem com o fato de que numa sociedade pós-industrial o trabalho é mais caracterizado pelo estresse do que pelo suor.
Boltanski e Chiapello [2007, p. 217] interpretam as mudanças no mundo de trabalho depois da crise da década de 1970 como uma nova agenda das elites
para “garantir a colaboração dos assalariados na realização dos lucros capitalistas”. Na era do ouro sob a pressão dos movimentos trabalhistas esta
colaboração foi garantida na visão de Boltanski e Chiapello [2007] “através da integração coletiva e política dos trabalhadores na ordem social e por uma
forma de espírito de capitalismo que uniu o progresso econômico e tecnológico ao objetivo da justiça social”, que outros autores chamam de capitalismo
organizado nos moldes do paradigma keynesiano-fordista. Eles apontam para outra forma de forçar a colaboração depois da crise, ela “agora poderia ser
alcançada desenvolvendo um projeto de autorrealização, ligando o culto do desempenho individual e o elogio da flexibilidade [mobility no original] às
concepções do vínculo social em rede. No entanto, para muitas pessoas, especialmente os recém-chegados no mercado de trabalho, em comparação aos
seus antecessores, isso foi acompanhado por uma marcada deterioração da situação econômica, estabilidade do trabalho e posição social”. Boltanski e
Chiapello [2007, p. 217 p.] afirmam que o conceito central das novas estratégias empresariais seja a flexibilidade, num lado a flexibilidade interna na
organização do trabalho dentro da empresa [autorresponsabilidade e controle, o trabalho em múltiplas tarefas, e a orientação para o lucro da empresa e dos
desejos dos consumidores, comportamento orientado para as volatilidades dos mercados], noutro lado a flexibilidade externa, o trabalho de empresas em
rede, a subcontratação, o deslocamento (‘outsourcing’) da produção, e a flexibilidade em relação ao emprego, trabalho temporário, trabalho casual, trabalho
por conta própria, trabalho em tempo parcial, horário variável, etc. Considera-se que muitas destas formas ‘flexíveis’ de trabalho – embora não todas – é
trabalho em condições precárias e de salários baixos.
A crise da produção e do consumo em massa levava as empresas para novas estratégias empresariais da produção mais flexível e enxuta, chamado por
Boltanski e Chiapello [2007] de novo espírito do capitalismo, concentrando se nas competências centrais com ‘outsourcing’ de outras atividades, criando
menores forças de trabalho centrais com a força periférica em contratos temporários e precários. Embora as estruturas menos hierarquizadas e mais
horizontais aumentavam a autonomia e o poder para uma parte dos trabalhadores qualificados em relação às estruturas fordistas-tayloristas, muitos
trabalhadores ficavam na armadilha de empregos mal remunerados, temporários e precários [muitas vezes empregos de estrangeiros e mulheres]. A força
periférica de trabalho está também sujeita a volatilidade dos mercados, na crise este trabalhadores são demitidos facilmente. Muitas vezes a força de
trabalho periférica está empregada por empresas subcontratadas, que oferecem salários e condições de trabalho piores. Obviamente este novo mundo de
trabalho mostra somente as tendências gerais, os empregos nos moldes tayloristas – fordistas ainda existem na indústria e também nos serviços.
A mudança da filosofia da produção e organização teve muitas causas diferentes. Na década de 70 o ambiente econômico tornou-se mais volátil, no nível
global na competição, no nível nacional no crescimento e no emprego e na demanda para produtos individuais. O consumidor tornou-se mais atento, ele
prefere produtos personalizados em vez de produtos massificados e observa mais a qualidade e o serviço. A tecnologia contribui para aumentar a
flexibilidade da produção e novos conceitos da administração e organização são desenvolvidos. A teoria e prática da administração (management) refletiu
estas mudanças.
Tentativas de transformação da economia brasileira em direção da agenda neoliberal

Governos Collor/Franco Governos Cardoso


1990 - 1994 1995 - 2002
1990/1991 Planos Collor de 1995 Programa de Estímulo à
combate a inflação Reestruturação e ao
1994 Fundo Social de Emergência Fortalecimento do Sistema
(FSE) e criação de CPMF para Financeiro Nacional PROER
Políticas de estabilização controle fiscal 1998 Reforma (parcial) da
1994 Plano Real sob o ministro da Previdência
Fazenda Cardoso 1999 Metas de inflação
2000 Lei de Responsabilidade Fiscal
(LRF) – controle fiscal dos gastos
Privatizações principalmente nos Privatizações principalmente no
setores de siderurgia, petroquímica setor de serviços públicos de
Privatização
e de fertilizantes energia e telecomunicações,
bancos estatais (dos Estados)
Mudanças no comércio exterior, Liberação parcial do comércio
Abertura liberalização da política das exterior e da conta capital
importações 1999 Regime de câmbio flexível
Fim dos monopólios estatais nos
setores de petróleo e
telecomunicações
Desregulamentação
Desregulamentação parcial e
regulação nova de preços nos
setores privatizados
O setor formal de trabalho no Brasil (com carteira de trabalho assinada) está institucionalizado pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT),
institucionalizada no primeiro de maio de 1943 no governo Vargas no Estado Novo. Desde sua criação houve muitas tentativas de flexibilizar estas regras,
mas somente em 2017 no governo Temer houve uma reforma trabalhista com certa flexibilização da CLT seguida por reformas no governo Bolsonaro. É
importante anotar que flexibilização no mercado de trabalho pode sempre ser visto como uma perda de direitos (e de salários) para os trabalhadores no
setor formal da economia, noutro lado pode facilitar a entrada de desempregados e trabalhadores no semento informal para o segmento formal do
mercado de trabalho. O setor informal de trabalho no Brasil, incluindo trabalhadores por conta própria e empregados sem carteira de trabalho assinada é
muito amplo. Por muito tempo mais de cinquenta por cento da força de trabalho se encontravam no setor informal de trabalho, somente depois de 2010 a
percentagem cai um pouco abaixo da marca dos cinquenta por cento [dados da IPEDATA até 2014, ainda não refletindo o aumento da informalidade na
profunda crise que começou em 2014]. Aos empregos no setor informal falta a proteção das leis trabalhistas, muitas vezes eles são precários e de salários
baixos, embora não enfrentam impostos de renda e outros encargos (os encargos sociais no Brasil no setor formal são elevados, os empregadores no setor
informal enfrentam por esta razão custos trabalhistas muito menores). Não incluídas no setor informal são atividades ilegais, como, por exemplo, tráfico
de drogas, prostituição ou roubo, elas são incluídas na economia subterrânea.
A informalidade de trabalho no Brasil é descrita pela IPEA por diferentes índices, onde todos os índices mostram uma informalidade menor nas áreas
metropolitanas do que nas áreas não-metropolitanas e nas áreas rurais [IPEADATA, graus de informalidade]. O grau de informalidade geral [Definição 2
(empregados sem carteira + trabalhadores por conta própria + não-remunerados) / (trabalhadores protegidos +empregados sem carteira + trabalhadores
por conta própria + não-remunerados + empregadores)] estava caindo desde 1995 de um valor de 59,7 [%] até um valor de 45,0 [%] em 2015 depois
lentamente aumentando até um valor de 47,4 [%] em 2018. Em uma metodologia diferente do PNADC [IBGE] a proporção por ocupação informal (%)
estava seguindo a mesma tendência chegando em 2019 a um valor de 41,6 [%].
Historicamente os países de América Latina, e especificamente o Brasil, mostram altos níveis de desigualdade de renda e riqueza, bem como altos níveis
de pobreza e indigência. No Brasil os índices que medem desigualdade de renda e da pobreza mostram uma melhoria na década de 2000, em primeiro
lugar através da elevação expressiva do salário mínimo e da expansão de programas como ‘Bolsa Família’ e de criação de novos programas como ‘Minha
Casa, Minha Vida’, e outros, pelos governos Lula da Silva e Rousseff. A crise econômica começando no fim de 2014 e ainda em andamento em 2016
ameaça de certa forma estes sucessos. A tabela a seguir mostra informações sobre a evolução da desigualdade de renda e da pobreza, mostrando que a
melhoria começou, para a maioria dos índices na década de 1990 e se acelerou nas décadas de 2000/2010.
Tabela 1 Desigualdade de renda e pobreza no Brasil 1976 - 2019

Renda Renda Pobreza


Renda Pobreza Pobreza -
domiciliar - domiciliar - Pobreza - - taxa Renda -
domiciliar - - taxa número de
participação participação número de de desigualdade
participação de pessoas
dos 10% dos 50% pessoas extrema - coeficiente
do 1% mais pobreza extremamente
mais ricos - mais pobres pobres pobreza de Gini
rico - (%) - (%) pobres
(%) - (%) - (%)
1976 17,1 51,0 11,6 42,1 43.690.811 18,2 18.875.380 0,623
1981 12,7 46,4 13,1 40,8 47.848.385 17,3 20.239.527 0,584
1990 14,2 48,8 11,5 41,9 58.119.829 20,0 27.659.557 0,614
1995 13,8 47,9 12,4 35,1 51.784.426 15,2 22.430.610 0,601
2001 13,9 47,4 12,6 35,1 58.963.230 15,2 25.520.845 0,596
2005 13,0 45,3 14,1 30,8 56.032.401 11,5 20.889.220 0,570
2009 12,1 42,7 15,5 21,4 40.066.020 7,3 13.597.606 0,543
2014 11,4 40,9 17,0 13,3 25.888.565 4,2 8.191.008 0,518
2019 n.d. 42,9 15,6 Nova metodologia 0,543
Fonte; IPEADATA, IBGE PNADC

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