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As proposições centrais [da ideologia] do marxismo foram: “(1) uma declaração sobre o
presente: “a ordem social é injusta”; (2) uma declaração sobre o futuro: “A ordem social
existente pode ser alterada “; (3) uma mensagem estratégica sobre a forma de transição de (1)
para (2): “O destino por si só não vai trazer essa transição, temos nós organizar e agir “
Sassoon [2014, p 6.]
Uma ideologia é um sistema coerente de ideias religiosos ou seculares sobre o mundo
(“Weltanschauung”) que fornece sentido a vida das pessoas, estabelece normas e valores e
praticas rituais. Com isto a ideologia explica o funcionamento do mundo, reduz a complexidade
do mundo, e mostra estratégias para a transformação social. Diferente de uma teoria cientifica a
ideologia é um conjunto de crenças normativas e estratégicas envolvendo emoções, otimismo e
o espirito romântico.
Nas lutas políticos pelo poder e pelo reconhecimento e nas lutas econômicas por recursos
econômicos as ideologias são as armas intelectuais para legitimar a distribuição de poder,
riqueza, renda e status e as mudanças nestas estruturas. A importância das ideias e ideologias
na transformação social não pode ser subestimada como mostram as ideias das iluministas e de
Rousseau antes da Revolução Francesa, as ideias marxistas, socialistas e anarquistas antes de
Revolução Russa, mas também de forma inversa, algumas vezes vista como contraofensiva do
capital ao intervencionismo keynesiano e ao Estado de bem-estar social, a ascensão da ideologia
do neoliberalismo nas décadas de 1970 e 1980.
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A fração c/v aumenta quando q a composição orgânica do capital aumenta, então quando a c/v
aumenta com a taxa de mais valor constante a taxa de lucro p diminui. Como historicamente a
composição orgânica do capital aumenta a taxa de lucro tem a tendência de diminuir, embora Marx
mostra também muitos fatores que impactam em direção contrária, por exemplo uma queda no
valor de maquinário c (Para computadores, por exemplo, os preços baixavam enquanto sua
produtividade aumentava).
O exercito industrial de reserva e sua influência sobre os salários
O exército industrial de reserva representa os desempregados e os pobres que com sua
concorrência por empregos forçam o nível salarial para o nível de subsistência. Marx reconhece que
com o desenvolvimento econômico na história o nível de subsistência também aumenta.
Consequências da exploração: conflitos trabalhistas
Formação da classe trabalhadora, consciência de classe e luta de classes: Obviamente encontram-se
na empresa interesses conflitantes. O capitalista quer maximizar seus lucros, enquanto os
trabalhadores querem aumentar seus salários, diminuir as horas de trabalho, melhorar as condições
de trabalho e diminuir o controle e o poder do capitalista e seus capatazes através de demandas por
co-determinação. Obviamente estas linhas de conflito também aumentam a consciência de classe
nos capitalistas e nos trabalhadores e força eles de se organizar em sindicatos e partidos políticos.
Mann [2012] mostra as estratégias alternativas nos conflitos para a classe trabalhadora
Fonte: MANN, Michael, The sources of social power, Volume II, The rise of classes and
Nation-States 1760 – 1914, New York: Cambridge University Press, 2012, p. 514]
O primeiro par das alternativas são estratégias mais moderadas, não transformando o capitalismo, mas fornecendo
oportunidades para os trabalhadores para melhor competir dentro de capitalismo. Mann chama isto para o ambiente
econômico de protecionismo, como cooperativas, as fábricas modelo de Owen, o plano de terras dos chartists (no Reino
Unido antes de 1848), e os fundos de seguros dos sindicatos, todas alternativas econômicas coletivistas, mas trabalhando
dentro de uma economia de mercado. Mas muitas vezes estas formas do protecionismo necessitam da cobertura por direitos
legais civis e políticos do Estado, por exemplo, do reconhecimento legal dos sindicatos ou da legislação para facilitar o acesso
ao crédito e ao capital para as cooperativas, mutualismo, como defendido por Proudhon. Esta estratégia focada no Estado e
suas instituições chama Mann de mutualismo.
Se o os capitalistas e o Estado resistam da organização e das atividades dos trabalhadores, os trabalhadores possivelmente
mudassem suas estratégias para as alternativas reformistas ou revolucionarias.
A estratégia reformista tenta modificar o capitalismo com reformas dentro do sistema capitalista. No ambiente econômico
este pode ser a tentativa dos sindicatos de conseguir melhores salários e/ou condições de trabalho e uma participação
institucional nas decisões da empresa. Partidos socialdemocratas são exemplos para o reformismo político lutando por leis
trabalhistas e direitos sociais de um Estado de bem-estar social, embora a maioria dos partidos socialdemocratas tivesse
ainda uma programática revolucionária até as décadas de 1950 e 1960, mas acompanhada por uma política reformista.
A alternativa revolucionária se apoiou em primeiro lugar nos movimentos anarquistas e comunistas (partidos comunistas
foram criados depois da revolução russa, coordenados pela terceira Internacional desde 1919). Trabalhadores buscando
derrubar o capitalismo através de medidas econômicas – insurreição industrial e greve de massas – são chamados
sindicalistas (ou anarco-sindicalistas). Mann chama de Marxistas aqueles que procuram capturar o Estado e derrubar as elites
governantes, procurando estabelecer um socialismo de Estado (‘statist socialism’) através de luta política.
Mann adverte que isto são tipos ideais, na realidade os trabalhadores combinavam elementos de todas as estratégias,
subsumidos sob o conceito de socialismo. Quando os trabalhadores focavam alternativas políticas, a luta (por exemplo, dos
chartists) foi uma luta também pelos direitos democráticos, quebrando o controle do Estado pelas classes dominantes.
A tendência do capitalismo de tornar se global (Imperialismo – Globalização)
Braudel [1997, p 15] descreve a propagação das estruturas capitalistas como uma expansão de manchas de petróleo que se espalham
geograficamente e culturalmente.
O mercantilismo era – por esta razão – a primeira ideologia hegemônica no desenvolvimento do capitalismo global. O conceito do
capitalismo global [Frieden] apoia se nas ideias de Wallerstein [2007] sobre uma análise sistêmica global, defendendo a ideia de que a
evolução do capitalismo somente pode ser compreendida como um sistema entrelaçado da economia capitalista global de relações entre
centro, semiperiferia e periferia, onde poder e liderança mudavam na história. O desenvolvimento do capitalismo sempre precisava e
precisa ainda hoje um clima de confiança entre os agentes econômicos e precisa de instituições fortes para criar inovações, mercados,
trocas e riqueza. Estas instituições são em primeiro lugar a empresa familiar ou mais tarde a corporação e as instituições do Estado
nacional e desde a Segunda Guerra Mundial com importância crescente instituições internacionais como o Fundo Monetário
Internacional (FMI), o Banco Mundial, a Organização Mundial de Comércio (OMC, antes GATT), a OCDE e as reuniões do G7, G8 e G20.
A grande indústria criou o mercado mundial para o qual a descoberta da América o preparou. O mercado mundial deu um
desenvolvimento imensurável ao comércio, à navegação, às comunicações terrestres. Isso também teve um efeito sobre a expansão da
indústria e, na mesma medida em que a indústria, o comércio, a navegação e as ferrovias se expandiram, a burguesia se desenvolveu,
aumentou seu capital e empurrou para segundo plano todas as classes herdadas da Idade Média. Marx, Manifesto
A burguesia não pode existir sem revolucionar permanentemente os instrumentos de produção, ou seja, as relações de produção (...). A
necessidade de um mercado em constante expansão para os seus produtos leva a burguesia por todo o globo. Ela se aninha em todos os
lugares, cresce em todos os lugares, e estabelece conexões em todos os lugares. (P. 465). Os baixos preços de seus produtos são a
artilharia pesada que derrube todas as muralhas da China, com a qual obriga o ódio dos bárbaros aos estrangeiros a capitular. Ela obriga
todas as nações de implantar o modo de produção da burguesia (...) e as obriga a apresentar o que se chama de civilização deles, ou seja,
para se tornarem burguesas. Em uma palavra, cria um mundo à sua própria imagem. (P. 466) Marx, Manifesto
Ironicamente, hoje nos tempos da globalização, são os preços baixos da produção chinesa que derrubam a indústria nos
países ricos.
O conceito do imperialismo nas últimas duas décadas do século XIX e nos anos antes de Primeira Guerra Mundial descreve a
corrida geopolítica dos países centrais para dividir o mundo entre si na forma de colônias, países forçados a abrir suas
economias para os países centrais (China, Egito , Turquia, Pérsia etc.), e esferas de interesse. Diferentes autores (por exemplo,
Hobson, Lenin, Hilferding) enfatizam fatores ideológicos e políticos e/ou fatores econômicas na evolução das políticas
imperialistas nos países centrais que – em última instância – levavam para a Primeira Guerra Mundial em 1914. Estudos
posteriores mostravam que os benefícios econômicos estavam limitados para os países centrais, embora provavelmente
lucrativos para certos empreendedores globais. Um exemplo especialmente sombrio do imperialismo e colonialismo das
ultimas décadas do século XIX é o Congo do rei Leopoldo II de Bélgica com seu trabalho forcado, torturas, e matanças, que
Conrad descreve em sua novela 'The heart of darkness' que deixa a ideologia colonialista de Kipling 'The white man's burden'
exposta em toda sua fraqueza. Estima se que milhões de congoleses pereciam sob o regime colonialista do rei Leopoldo II.
Tabela 1 Colônias (incluindo os domínios do Reino Unido) dos poderes centrais (Área em
quilômetros quadrados (milhões) e população (milhões) em 1876 e 1914)
Total em % do
Colônias Países Centrais Total
Mundo
1876 1914 1914 1914 1914
Área População Área População Área População Área População Área População
Inglaterra 22,5 251,9 33,5 395,5 0,3 46,5 33,8 440,0 25,2% 26,6%
Rússia 17,0 15,9 17,4 33,2 5,4 136,2 22,8 169,4 17,0% 10,2%
França 0,9 6,0 10,6 55,5 0,5 39,6 11,1 95,1 8,3% 5,7%
Alemanha - - 2,9 12,3 0,5 64,9 3,4 77,2 2,5% 4,7%
Estados
- - 0,3 9,7 9,4 97,0 9,7 106,7 7,2% 6,4%
Unidos
Japão - - 0,3 19,2 0,4 53,0 0,7 72,2 0,5% 4,4%
06
poderes 40,4 273,8 65,0 523,4 16,5 437,2 81,5 960,6 60,9% 58,0%
centrais
Colônias de outros países (Bélgica, Países Baixos, Portugal etc.) 9,9 45,3 7,4% 2,7%
Países dependentes (China, Pérsia, Turquia etc.) 14,5 361,2 10,8% 21,8%
Outros países 28,0 289,9 20,9% 17,5%
O Mundo 133,9 1.657,0 100,0% 100,0%
Tabela 46 Grande Depressão Estados Unidos: Variação percentual do PIB real e seus componentes e do deflator do PIB e dos componentes (Contas Nacionais trimestrais)
3. tr. 1929/ 1. Tr. 3. tr. 1929/ 1. Tr. 3. tr. 1929/ 3. Tr.
3. tr. 1929/ 3. Tr. 1926 1. tr. 1933/ 3. Tr. 1929 1. tr. 1940/ 1. Tr. 1933 1. tr. 1940/ 3. Tr. 1929
1913 1919 1925
PIB Real 58,6% 41,3% 16,1% 9,7% -36,2% 60,0% 2,0%
Deflator PIB 69,6% -3,2% -2,6% -0,7% -26,9% 20,0% -12,3%
Investimento equipamentos n.d. 39,1% 23,7% 12,4% -79,0% 306,0% -14,6%
Consumo Duráveis n.d. 68,0% 13,8% 9,0% -55,0% 113,7% -3,8%
Consumo Não Duráveis n.d. 38,7% 18,2% 6,2% -22,0% 33,9% 4,5%
Exportações n.d. 5,0% 16,7% 9,3% -44,2% 68,8% -5,8%
Importações n.d. 91,1% 25,5% 21,8% -37,7% 34,5% -16,2%
Gastos Governo n.d. -19,1% 14,2% 17,2% 2,9% 47,3% 51,6%
Fonte: NBER, Cálculos próprios
We had to struggle with the old enemies of peace--business and financial monopoly, speculation, reckless banking, class antagonism, sectionalism, war
profiteering. They had begun to consider the Government of the United States as a mere appendage to their own affairs. We know now that Government by
organized money is just as dangerous as Government by organized mob. F.D. Roosevelt, liberal president about the NEW DEAL
Gráfico: Índice composto de crises financeiras (Reinhart e
Rogoff (2009)) e Índice de crises reais, 1900 - 2014
O capitalismo fordista e keynesiano na era do ouro depois da II Guerra Mundial
O período depois da Segunda Guerra Mundial até a quebra da União Soviética em 1991 é determinado pelo conflito (guerra fria) entre os
países centrais capitalistas liderados pelos Estados Unidos num lado e os países do socialismo burocrático liderados pela União Soviética
noutro lado e como poder terceiro os países do terceiro mundo, muitos deles criados no processo de descolonização depois da II Guerra
Mundial, que tentavam assumir uma posição independente no conflito da guerra fria.
Em muitos países centrais uma estratégia de intervenção macroeconômica indireta do Estado nos moldes de Keynes e a organização do
trabalho nas empresas na perspectiva de Ford-Taylor garantiram empregos seguros, embora monótonos, com salários ascendentes,
conseguiam diminuir o desemprego a níveis muito baixos e garantir através da rede de segurança do Estado de bem-estar social na
perspectiva de Beveridge as necessidades básicas da vida para os desfavorecidos do desenvolvimento capitalista. Esta forma de organização
da economia e das empresas foi nomeada de capitalismo organizado, de capitalismo keynesiano fordista ou de capitalismo liberal
corporativista. Na tabela encontram-se dados de 1951 – 2021:
As três décadas depois da Segunda Guerra Mundial são vistos por muitos historiadores e economistas como um período de vigoroso
crescimento da produção, do emprego e dos salários com estabilidade social, uma era de ouro (Hobsbawm), os “les trente glorieuses”
(Fourastié). A tabela mostra a era de ouro do capitalismo de 1951 até 1973 e a queda do crescimento depois da crise na década de 1970, o
aumento do desemprego e o controle da inflação depois de 1982. Esta crise levou também ao fim do Keynesianismo intervencionista e na
ascensão da ideologia neoliberal em muitos países.
O Paradigma Keynesiano-fordista nos 30 anos pós-Guerra
O paradigma keynesiano-fordista (também chamado de capitalismo organizado, economia mista ou economia social de
mercado) pode ser caracterizado pelos seguintes traços estruturantes, que incorporam certos elementos corporativistas:
• As intervenções do Estado na economia através de uma política fiscal e monetária discricionária garantem certa
estabilidade da produção, renda e emprego no ciclo conjuntural e evitam depressões como a Grande Depressão da década de
1930. Os objetivos de crescimento econômico e de desemprego baixo são os objetivos centrais da política macroeconômica
dos governos. A inflação baixa é um objetivo importante, mas secundário em relação ao objetivo de desemprego baixo.
• Os benefícios do Estado de bem-estar social garantem uma estabilidade social protegendo a classe trabalhadora
contra os riscos da vida e da instabilidade da economia capitalista.
• A regulamentação dos mercados, com foco no mercado de trabalho e nos mercados financeiros e nas instituições
financeiras, e a regulação macroeconômica (políticas para estabilizar a demanda agregada) garantem o desenvolvimento
equilibrado nos países centrais, evitando um aumento excessivo das desigualdades de renda e riqueza e a especulação
excessiva.
• A presença de sindicatos trabalhistas fortes também representa uma forma de proteger a parte mais fraca nos
mercados de trabalho – a força de trabalho – e garante – pelo menos em teoria – um poder compensatório para a classe
trabalhadora em confronto com o capital. Mas com as intervenções do Estado este poder compensatório é visto pelas elites
como um entrave para sua posição dominante, para a liberdade individual e empresarial, para os lucros, para a inovação e
para o crescimento, focando nos custos burocráticos e fiscais.
• O sistema de Bretton Woods forneceu um sistema monetário internacional mais estável e no mesmo momento
mais flexível do que o regime de câmbio ouro no período entre as guerras e evita – através de controles dos fluxos de capitais
estrangeiros de curto prazo – os problemas de fluxos internacionais desestabilizadores de capital e da especulação cambial,
como nos últimos anos do regime câmbio ouro entre as guerras. Mas já na década de 1960 os fluxos de capital internacional
desestabilizadores se tornavam maiores e – em último lugar – levavam a quebra final do regime de Bretton Woods em 1973.
A parte fordista-taylorista do paradigma keynesiano-fordista considera em primeiro lugar a organização do processo da produção nas
empresas, enquanto a parte keynesiana representa a regulação macroeconômica e social.
• Produção de massa (tipicamente representada pela linha de montagem automatizada) e consumo de massa de bens e serviços
para os consumidores dependendo de uma organização rígida da força de trabalho, de custos altos em investimento e no controle
acirrado dos trabalhadores. O consumo de massa de produtos uniformizados começou nos Estados Unidos já na década de 1920
padronizando produção e produtos através na produção em massa usando os conceitos da administração cientifica de Taylor e as linhas
de montagem (nos fabricas de automóveis de Ford já em 1911/1913). O consumo de massa foi também facilitado para grande parte da
população pela criação e ampliação do crédito ao consumidor. O conceito de Fordismo-Taylorismo se sobrepõe com os conceitos de
racionalização (da produção) e da eficiência, mostrando a dupla face da modernização capitalista (Hachtmann e Saldern, 2010, p. 175),
num lado ganhos da eficiência da produção, noutro lado condições de trabalho mais desagradáveis para os trabalhadores no chão das
fabricas.
• A produção em massa depende da organização minuciosa do trabalho humano, para evitar os custos da ociosidade dos
trabalhadores por causa dos pesados investimentos em tecnologia. Existe uma nítida diferenciação de poder e do controle entre os
administradores da empresa e os trabalhadores. Todos trabalhos de conhecimento, planejamento, organização, decisão e controle são
executados pela administração, o trabalhador fica com o trabalho manual. As tarefas são fragmentadas, o trabalho torna-se monótono e
repetitivo e empregando em sua maioria trabalhadores sem qualificação. As tarefas pouco interessantes são consequência da visão
negativa do Taylorismo do trabalhador, visto como preguiçoso e motivado somente pelo salário. As tarefas burocratizadas necessitam de
um controle acirrado do trabalhador para manter e aumentar a produtividade.
• O modelo Fordista de produção capitalista garante neste sentido empregos estáveis com salários atraentes, pelo menos nos
tempos de prosperidade, por outro lado torna o trabalho monótono e alienante e estabelece uma organização burocrática pouco flexível.
Também a produção de bens de consumo é padronizada e pouco flexível com os desejos variados dos consumidores. É necessário
acrescentar que o modelo de Fordismo-Taylorismo começou prevalecer na produção industrial dos Estados Unidos no período entre as
guerras e depois, embora em Europa prevalecesse somente depois da Segunda Guerra Mundial, mas também nestes tempos houve
ramos de produção que foram não fordistas ou somente parcialmente fordistas. Também nos tempos de pós-Fordismo existem ainda
estruturas fordistas de produção nos países centrais e ainda mais nos países emergentes.
O capitalismo global na era neoliberal
Em retrospecto a crise na década de 1970 foi visto como o retorno aos problemas normais do capitalismo
depois de um período de reconstrução depois da guerra e de uma expansão econômica e social antes nunca
vista por quase três décadas, culpando o modelo corporativista keynesiano – fordista por sua rigidez em
regulamentando os mercados e inibindo as forças dinâmicas dos mercados e da inovação. Em esta crítica
baseava se a nova estratégia neoliberal desde a década de 1980 focando na desregulamentação dos mercados,
na privatização de empresas estatais e na crescente globalização produtiva e financeira integrando os
mercados nacionais em um mercado global.
Para os países centrais pode se resumir que a estratégia não conseguiu retornar ao crescimento vigoroso das
décadas depois da Segunda Guerra Mundial, mas as novas estratégias empresariais conseguiam aumentar a
competitividade das empresas e a inovação em um ambiente global de maior competição. A mudança da
estratégia keynesiana focada na manutenção do pleno emprego através da intervenção do Estado para uma
estratégia neoliberal focado no controle da inflação implicava custos para a classe trabalhadora: desemprego
elevado e prolongado, estagnação de salários reais, insegurança dos empregos, cortes nos benefícios do Estado
de bem estar social.
Os custos sociais da estratégia neoliberal foram expressivos, o desemprego alto e prolongado nos países
centrais levando a uma divisão da força de trabalho em uma parte menor em situação segura e bem
remunerada e uma parte maior em situação insegura e mal remunerada e uma parte crescente de
trabalhadores excluídos da produção capitalista. O ataque neoliberal contra o Estado de bem-estar social não
conseguiu diminuir significativamente os gastos sociais dos governos dos países centrais enfrentando
desemprego e exclusão crescente, mas conseguiu parcialmente diminuir a rede de segurança e privatizar riscos
antes cobertos pelo Estado de bem-estar social. Com isto espalhou-se um clima de incerteza, insegurança e
medo de perder o emprego e uma tendência para o aumento significativo da desigualdade na distribuição de
renda e riqueza junto com uma perda da força dos sindicatos trabalhistas.
A Agenda neoliberal e suas reformas no Brasil
É importante anotar que o conceito da ideologia neoliberal é um conceito controverso na discussão política e econômica. Poucos economistas, defendendo políticas neoliberais, usam para si a
denominação como neoliberais. Embora a ideologia neoliberal fosse desenvolvida na Sociedade de Mont Pèlerin e ampliou sua importância com a escola de Chicago e com ‘think tanks’ financiados
por parte das elites econômicas [A história pode ser acompanhada no livro ‘The road from Mont Pèlerin’, 2015], na discussão acadêmica o conceito neoliberal é -as vezes – interpretado como uma
conceituação com um viés para a esquerda política. Mas houve na realidade das últimas décadas do século XX e no novo século XXI muitas agendas políticas que podem ser resumidas sob a
conceituação de políticas neoliberais.
A dinâmica de mercados livres da intervenção estatal está no centro do pensamento neoliberal. Liberar os mercados dos grilhões do Estado interventor para acelerar crescimento, criação de
riqueza e inovação inclui no pensamento da ideologia neoliberal diferentes projetos:
• Diminuir o tamanho do Estado no seu alcance econômico e social sem interferir na sua força militar e repressiva. Neste sentido privatização de empresas estatais, venda de outros ativos
do Estado (por exemplo vendendo apartamentos em propriedade comunal para os inquilinos), políticas de austeridade cortando os benefícios do Estado de bem estar social e enxugando o
funcionalismo público, cortar subsídios etc.
• Ampliar o alcance dos mercados no nível internacional incentivando a globalização produtiva, comercial e financeira (abertura dos mercados nacionais para o mercado global), no nível
nacional através da introdução da lógica dos mercados nos serviços públicos, no nível da empresa enfocando a máxime do shareholder-value e do lucro a curto prazo, no nível individual
empoderando os trabalhadores para vender competências e conhecimento com o fundo da ideologia individualista de que cada um é responsável para seu próprio sucesso, renda, e riqueza, os
perdedores da corrida capitalista são depreciados como fracassados, preguiçosos e exploradores do Estado de bem estar social.
• Desregulamentação dos mercados, com foco nos mercados de trabalho para aumentar a liberdade das empresas de contratar e demitir, determinar livremente as condições de trabalho
e criar um mercado de trabalho de baixos salários, empregos inseguros e temporários. Com foco nos mercados financeiros para aumentar a liberdade de instituições financeiras de especular e criar
produtos financeiros duvidosos.
• Nas políticas macroeconômicas o paradigma keynesiano de estabilizar a economia e ajudar os desfavorecidos do sistema capitalista deve ser substituído pelo paradigma neoliberal de
que a mão invisível do mercado promove crescimento e inovação melhor do que a mão visível do Estado. O paradigma keynesiano apoiava se em políticas fiscais e monetárias ativas do governo e
do banco central em tempos de crise com a possibilidade de usar políticas de renda em moldes corporativistas para combater a inflação e políticas de comércio externo e de câmbio para garantir o
equilíbrio externo. No paradigma neoliberal o objetivo do pleno emprego perde sua importância pelo objetivo da inflação controlada, a política fiscal perde sua importância pela política monetária
do banco central. A política fiscal no mesmo momento concentra-se na queda dos impostos de renda, riqueza, herança e das empresas favorecendo mais as camadas abastadas e no mesmo
momento cortando benefícios sociais para os desfavorecidos.
As mudanças nas empresas: estratégias administrativas do novo espirito do capitalismo (Boltanski e Chiapello, 2007) no paradigma da produção enxuta e flexível (Toyotismo) que substituem o
paradigma Taylorista Fordista desde a década de 1980. Estas novas estratégias empresariais tentam estruturar o trabalho em um ambiente de incerteza e mudança continua. Estas estratégias
refletem parcialmente experiencias japonesas para motivar a força de trabalho e usar os conhecimentos do trabalhador no chão da fábrica, como qualidade total, produção enxuta, etc.,
parcialmente estratégias de motivação através de estratégias baseadas nos movimentos de relacionamento humano e da humanização das relações de trabalho, parcialmente estratégias para
coordenar o esforço trabalhista mais com as volatilidades dos mercados. Todas estas estratégias refletem perspectivas da organização de cima para baixo e com isto relações de poder entre
gerência e força de trabalho bem com o fato de que numa sociedade pós-industrial o trabalho é mais caracterizado pelo estresse do que pelo suor.
Boltanski e Chiapello [2007, p. 217] interpretam as mudanças no mundo de trabalho depois da crise da década de 1970 como uma nova agenda das elites
para “garantir a colaboração dos assalariados na realização dos lucros capitalistas”. Na era do ouro sob a pressão dos movimentos trabalhistas esta
colaboração foi garantida na visão de Boltanski e Chiapello [2007] “através da integração coletiva e política dos trabalhadores na ordem social e por uma
forma de espírito de capitalismo que uniu o progresso econômico e tecnológico ao objetivo da justiça social”, que outros autores chamam de capitalismo
organizado nos moldes do paradigma keynesiano-fordista. Eles apontam para outra forma de forçar a colaboração depois da crise, ela “agora poderia ser
alcançada desenvolvendo um projeto de autorrealização, ligando o culto do desempenho individual e o elogio da flexibilidade [mobility no original] às
concepções do vínculo social em rede. No entanto, para muitas pessoas, especialmente os recém-chegados no mercado de trabalho, em comparação aos
seus antecessores, isso foi acompanhado por uma marcada deterioração da situação econômica, estabilidade do trabalho e posição social”. Boltanski e
Chiapello [2007, p. 217 p.] afirmam que o conceito central das novas estratégias empresariais seja a flexibilidade, num lado a flexibilidade interna na
organização do trabalho dentro da empresa [autorresponsabilidade e controle, o trabalho em múltiplas tarefas, e a orientação para o lucro da empresa e dos
desejos dos consumidores, comportamento orientado para as volatilidades dos mercados], noutro lado a flexibilidade externa, o trabalho de empresas em
rede, a subcontratação, o deslocamento (‘outsourcing’) da produção, e a flexibilidade em relação ao emprego, trabalho temporário, trabalho casual, trabalho
por conta própria, trabalho em tempo parcial, horário variável, etc. Considera-se que muitas destas formas ‘flexíveis’ de trabalho – embora não todas – é
trabalho em condições precárias e de salários baixos.
A crise da produção e do consumo em massa levava as empresas para novas estratégias empresariais da produção mais flexível e enxuta, chamado por
Boltanski e Chiapello [2007] de novo espírito do capitalismo, concentrando se nas competências centrais com ‘outsourcing’ de outras atividades, criando
menores forças de trabalho centrais com a força periférica em contratos temporários e precários. Embora as estruturas menos hierarquizadas e mais
horizontais aumentavam a autonomia e o poder para uma parte dos trabalhadores qualificados em relação às estruturas fordistas-tayloristas, muitos
trabalhadores ficavam na armadilha de empregos mal remunerados, temporários e precários [muitas vezes empregos de estrangeiros e mulheres]. A força
periférica de trabalho está também sujeita a volatilidade dos mercados, na crise este trabalhadores são demitidos facilmente. Muitas vezes a força de
trabalho periférica está empregada por empresas subcontratadas, que oferecem salários e condições de trabalho piores. Obviamente este novo mundo de
trabalho mostra somente as tendências gerais, os empregos nos moldes tayloristas – fordistas ainda existem na indústria e também nos serviços.
A mudança da filosofia da produção e organização teve muitas causas diferentes. Na década de 70 o ambiente econômico tornou-se mais volátil, no nível
global na competição, no nível nacional no crescimento e no emprego e na demanda para produtos individuais. O consumidor tornou-se mais atento, ele
prefere produtos personalizados em vez de produtos massificados e observa mais a qualidade e o serviço. A tecnologia contribui para aumentar a
flexibilidade da produção e novos conceitos da administração e organização são desenvolvidos. A teoria e prática da administração (management) refletiu
estas mudanças.
Tentativas de transformação da economia brasileira em direção da agenda neoliberal