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Os impactos da crise financeira global de 2008/09 sobre as exportações brasileiras


de commodities agrícolas
Resumo
Os impactos da crise financeira global dos anos 2008/09 sobre as exportações
brasileiras de commodities agrícolas são o objetivo deste artigo. A hipótese básica é que
crises internacionais impactam negativamente sobre as exportações brasileiras através
do comercio internacional, através dos fluxos internacionais de capitais e através do
contágio das expectativas. Mas o impacto é de forma diferenciada porque o Brasil está
conseguindo abrir novos mercados na Ásia e no Oriente Médio e os mercados de
commodities refletiam diferentemente os efeitos da crise. A análise empírica confirma a
hipótese da influencia negativa da crise, mostrando também que as exportações de
commodities agrícolas brasileiras foram - de forma geral - menos atingidas do que as
exportações de commodities como petróleo e minérios de ferro e muito menos do que
certos produtos industrializados. O açúcar e o fumo foram pouco atingidos. Entre os
produtos do complexo soja, do complexo carne, do café e do suco de laranja alguns
foram atingidos de forma expressiva, outros menos. Não é possível afirmar que a crise
global dos anos 2008/09 houve efeitos desastrosos sobre as exportações de commodities
agrícolas brasileiras, mas óleo de soja, suco de laranja, carnes e café tinham efeitos
negativos expressivos em 2009. Prevê-se que a crise da área de euro provavelmente não
vai ter consequências desastrosas sobre as exportações de commodities agrícolas
brasileiras, porque provavelmente a crise vai ser menos profunda do que a crise
financeira global de 2008/09 e porque a diversificação dos países de destino para as
exportações de commodities agrícolas é um ponto positivo importante para o Brasil.
Também as previsões para a demanda geral de commodities no nível geral apontam
para um cenário positivo, porque três bilhões de novos consumidores da classe média
nos países emergentes garantem certa segurança contra impactos da crise na área de
euro.
Abstract
The impacts of the global financial crisis 2008/09 for the Brazilian exportations of
agricultural commodities are the central objective of this article. The basic hypothesis is
that the crisis had a negative effect for Brazilian exportations, but differentiated impacts,
because Brazil has opened new markets and the commodity markets are also driven by
other factors. The empirical analysis affirms the negative effects, but the effects for
Brazilian agricultural commodities was differentiated and they were less affected than
commodities like oil and iron ore and especially than certain industrialized products.
Sugar and tobacco were not so much affected, while in the soy complex, the meat
complex, coffee and orange juice the impact was negative, but differentiated. The
impacts of the crisis never were disastrous, but soy oil, orange juice, coffee and meat
showed expressive losses. The euro area sovereign debt crisis probably shall not have
disastrous impacts on Brazilian agricultural commodity exportations, because the crisis
probably will be less serious than the crisis 2008/09 and because Brazil diversified in
new markets. Also general predictions of demand for commodities support the
hypothesis of a positive scenario for commodities, especially because three billions of
new medium class consumers in the emerging economies are a certain protection
against the impacts of the euro area sovereign debt crisis.
Introdução
O objetivo deste artigo é descrever a analisar os impactos da crise financeira global dos
anos 2008/09 sobre as exportações brasileiras de commodities agrícolas. A hipótese
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básica do artigo é que crises internacionais mostram impactos globais através do


comercio internacional, através dos fluxos internacionais de capitais e através do
contágio das expectativas e influenciam com isto negativamente as exportações
brasileiras de commodities agrícolas. Crises também influenciam de forma diferenciada
as exportações de commodities agrícolas do Brasil, de forma diferenciada porque o
Brasil está conseguindo abrir novos mercados na Ásia e no Oriente Médio e os
mercados de commodities refletiam diferentemente os efeitos da crise. A análise da
crise de 2008/09 tem importância não somente histórica, mas também está abrindo
espaço para discutir os impactos possíveis da crise da dívida soberana na área de euro
com inicio em 2010 sobre o Brasil e suas exportações de commodities agrícolas. A crise
começou nos mercados imobiliários e financeiros dos Estados Unidos em 2007 e
tornou-se global em 2008, com a quebra do banco de investimento Lehman Brothers em
15 de setembro de 2008. A crise teve também impactos sobre a economia brasileira,
especialmente sobre as exportações brasileiras e a entrada de capital e com isto sobre a
atividade econômica e o desemprego no Brasil. No capítulo seguinte uma curta
descrição da crise financeira global de 2008/09 mostra causas e efeitos da crise. A
discussão controversa sobre suas causas, o contágio da crise para o mundo e suas
consequências para a economia real de Estados Unidos, China, Japão e Alemanha são,
de forma curta, abordados. Discutem-se também aqui as intervenções dos governos e
dos bancos centrais para estabilizar o sistema financeiro internacional, os bancos,
seguradoras e o sistema financeiro sombra1. As consequências de longo prazo dos
programas fiscais expansionistas dos governos e das políticas de monetary easing
(quantitativamente e qualitativamente) dos bancos centrais são problemas de dívidas
públicas insustentavelmente elevadas, desequilíbrios globais entre países devedores e
países credores, e problemas de inflação acelerada no futuro, bem como o problema do
risco moral como consequência da salvação das instituições mais importantes do
sistema financeiro. No capítulo a seguir discutem se as consequências da crise sobre a
economia brasileira, queda da atividade econômica, queda dos volumes e dos preços das
exportações e, no lado financeiro, um aperto da liquidez do sistema financeiro nacional
e da entrada de capital estrangeiro no segmento dos investimentos de carteira e dos
empréstimos. A parte central do artigo no próximo capítulo são os impactos da crise
sobre as exportações brasileiras de commodities agrícolas, visando valores, volumes e
preços e analisando os impactos com vista aos países importadores de commodities
agrícolas brasileiras e da situação no mercado global. Na última parte é feita uma
avaliação dos efeitos possíveis da crise da dívida soberana na área do euro começando
em 2010 (especialmente nos países PIIGS (Portugal, Ireland, Italy, Greece and Spain))
sobre a economia brasileira e as exportações de commodities agrícolas brasileiras. Um
capítulo mostrando as conclusões mais importantes fecha o artigo.
A crise financeira global dos anos 2008/09
A crise começou nos Estados Unidos em 2007 com a quebra do mercado imobiliário e
do mercado hipotecário com a consequência de falência de bancos agindo no mercado
hipotecário e a incerteza sobre o valor, do risco e da liquidez dos títulos lastreados por
hipotecas (MBA, CDO). Em setembro de 2008 a crise financeira mostrou nos Estados
Unidos sua face mais dramática: Uma corrida aos fundos monetários e a seca nos
mercados de commercial papers, a falta de liquidez no mercado interbancário por causa
da desconfiança dos bancos sobre a solvência e liquidez de suas contrapartidas elevando

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Shadow banking system, incluindo as partes pouco regulamentadas do sistema financeiro, como
bancos de investimento, hedge funds, private equity funds, conduits e special investment vehicles e
partes do mercado de derivativos de balcão (OTC).
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expressivamente a taxa de juros a curto prazo (medido pelo TED spread), a


nacionalização dos gigantes no mercado hipotecário Fannie Mae e Freddy Mac, a
falência do banco de investimento Lehman Brothers e a salvação da maior seguradora
dos Estados Unidos AIG pelo governo norte-americano, custando até hoje 180 bilhões
de US$. Estes foram os ápices da crise financeira global dos anos 2008/09 que levavam
o Federal Reserve e o tesouro norte-americano a intervenções antes nunca vistas, para
salvar o sistema financeiro nacional e evitar uma nova Grande Depressão. A crise
espalhou-se pelo mundo através da interdependência dos sistemas financeiros nacionais,
através bolhas especulativas em mercados imobiliários de outros países (Reino Unido,
Espanha, Irlanda), através das expectativas, através das quedas dos preços das ações e
da queda da demanda global e forçaram governos e bancos centrais em muitas partes do
mundo a seguir as políticas intervencionistas dos Estados Unidos. A tabela 1 mostra os
efeitos da crise global sobre o crescimento do PIB e das exportações reais de bens para
os Estados Unidos, a China, o Japão e a Alemanha e o Brasil. Ela mostra efeitos
negativos expressivos sobre a economia real destes países em 2009, com exceção de
China que tinha em 2009 um crescimento positivo do PIB de 9,22%, mas enfrentou
também forte queda das exportações.

As causas da crise financeira global de 2008/09 são objeto de uma discussão


controversa entre os economistas, enfatizando mais as falhas dos mercados e dos
agentes econômicos privados como bancos e investidores ou enfatizando mais as falhas
do governo e dos bancos centrais na condução da política macroeconômica e na
regulamentação do sistema financeiro. O papel da globalização e desregulamentação
financeira para o contágio da crise é também um dos pontos em discussão.
Teoricamente a discussão focaliza a hipótese de MINSKY (2008) que os mercados
financeiros numa economia capitalista tornam a economia inerentemente instável. Na
expansão econômica empresas e consumidores (e governos) endividam se cada vez
mais (e os bancos e os mercados financeiros emprestam mais, porque os ativos tornam
se mais valorizados na expansão) e na terminologia de MINSKY o endividamento
torna-se cada vez mais especulativo (os fluxos de caixa somente garantem o pagamento
dos juros, uma rolagem da dívida é necessário, porque não há possibilidade de amortizar
a dívida) ou ainda o endividamento torna-se um esquema PONZI (onde é necessário
rolar dívida e juros, com o valor da dívida explodindo). Obviamente numa crise com
credit crunch a rolagem é impossível e as consequências são default, falência, recessão.
Mercados financeiros desregulamentados, inovações financeiras como a securitização
de hipotecas (MBA, CDO) e derivativos como os credit default swaps (CDS) que
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ocultavam os riscos verdadeiros destes ativos financeiros, avaliados em muitos casos


como AAA pelas agências de rating são outro ponto de partida para as causas da crise.
A procura dos investidores privados para rendimentos ligeiramente mais elevados do
que os títulos do tesouro norte-americano, mas com riscos muito mais elevados em um
ambiente de uma política monetária frouxa e de crédito farto (bolha especulativa no
mercado imobiliário causada por uma expansão descontrolada do crédito, especialmente
no segmento das hipotecas), a alavancagem elevada dos bancos (e do sistema bancário
sombra) e a concessão descontrolada de hipotecas sem avaliação do risco de crédito,
criados por incentivos equivocados (compensações focando lucros de curto prazo) são
algumas causas discutidas no aspecto das falhas do mercado.
A política monetária muito expansionista com juros baixos e crédito fácil nos Estados
Unidos desde a quebra do mercado de alta tecnologia em 2000/01 forneceu a liquidez
para a criação da bolha especulativa no mercado imobiliário dos Estados Unidos e em
outros países (como, Grã-Bretanha, Irlanda e Espanha) e para uma bolha de crédito, que
estouravam em 2007. A regulamentação frouxa do sistema financeiro, especialmente no
mercado de balcão de derivativos e na concessão de hipotecas, deixou as bolhas crescer
e a alavancagem financeira aumentar, sem intervenção das instituições do governo e
parcialmente incentivada pela política dos governos Clinton e Bush para facilitar para os
mais necessitados a propriedade de uma casa.
As consequências da crise financeira global de 2008/09 são ainda presentes em 2011,
com países entre estagnação e recessão em Europa, Japão e nos Estados Unidos, com
desemprego elevado, com dívidas públicas crescentes e sistemas financeiros instáveis.
Em 2010 começou uma crise da dívida soberana na área do euro nos países chamados
PIIGS (Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha), por causa da desconfiança dos
investidores internacionais sobre um possível default destes países sobre a dívida
pública (Dívida pública/PIB 2010: Portugal: 93%, Irlanda: 96%, Itália 119%, Grécia
143%, Espanha 60%). Como a consequência o risco país destes países subiu
expressivamente e a rolagem da dívida tornou-se impossível, forçando a ajuda de
fundos de emergência da União Europeia (EFSF/ESM) e do IMF. Alguns economistas
vejam os mecanismos de ajuda aos países em crise mais como um segundo programa de
ajuda para os bancos, porque eles estão novamente atingidos em caso default sobre as
dívidas públicas dos países em crise, que realmente aconteceu em março de 2012 com o
maior default soberano na história, o default da Grécia.
Como consequência da instabilidade econômica global o governo brasileiro introduziu
medidas fiscais para estimular o consumo interno (diminuição do IPI sobre produtos da
linha branca) e o Banco Central do Brasil esta diminuindo a meta para a taxa básica
SELIC.
As consequências da crise financeira global de 2008/09 para a economia brasileira
No contágio da crise global de 2008/09 entram diferentes canais de transmissão da crise
para os países emergentes, que tinham envolvimento mínimo nas compras de títulos
securitizadas dos Estados Unidos (CDO, MBA etc.) e no lançamento de credit default
swaps (CDS) para estes títulos. CINTRA/PRATES (p. 26) mostram os canais de
transmissão mais importantes para a economia brasileira, especialmente para o mercado
de câmbio e o balanço de pagamentos:
“i) a retração dos investimentos de portfólio num contexto de crescente aversão
ao risco e preferência pela liquidez; ii) a diminuição e, após a falência do
Lehman Brothers, a virtual interrupção dos créditos externos (empréstimos,
bônus, commercial papers etc.), inclusive daqueles direcionados ao comércio
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exterior; iii) a redução dos fluxos de investimento direto externo diante da


desaceleração nos países avançados; iv) a queda da demanda externa desses
países e dos preços das commodities; iv) o aumento das remessas de lucros pelas
filiais das empresas transnacionais e dos bancos estrangeiros; e v) a redução das
transferências unilaterais dos imigrantes.”
Eles mencionam também a deterioração das expectativas como consequência da crise
global e da previsão da contração da demanda global para a atividade econômica no
Brasil e as exportações brasileiras, mas também um aspecto nascido no ambiente
brasileiro (NOVAES, p. 239): as perdas de companhias brasileiras (especialmente
Aracruz, Sadia e Votorantim) com derivativos cambiais, chegando a US$25 bilhões
(Informação do Banco de Compensações Internacionais (BIS)), que aumentavam a
desconfiança não somente na estabilidade do sistema financeiro global, mas também na
estabilidade de empresas e bancos brasileiros.
A tabela 2 mostra os efeitos mais importantes da crise financeira global em 2008/09
sobre a atividade econômica brasileira.

O PIB, começando cair no quarto trimestre de 2008, alcança seu ponto mais baixo no
primeiro trimestre de 2009, o investimento e as exportações também, o PIB recupera o
nível antes da crise no quarto semestre de 2009, o investimento no segundo trimestre de
as exportações no quarto semestre de 2010. É importante alertar que a ótica das contas
nacionais (que refere se a mudanças no volume em preços em reais constantes) é outra
do que a ótica da comparação do balanço comercial brasileira em 2009 e 2008 (que se
refere a mudanças do valor das exportações em US$ em preços correntes). Uma
depreciação do real, que realmente aconteceu na crise, pode amenizar os efeitos sobre a
renda nacional.
O gráfico a seguir mostra o comportamento das variáveis mais importantes do ambiente
externo para a atividade econômica brasileira: as exportações (aqui em milhões de
US$), o investimento estrangeiro em carteira e a taxa de câmbio R$/US$.
Em setembro de 2008 com a quebra do banco do investimento norte-americano Lehman
Brothers as exportações brasileiras começam a cair por causa do desaquecimento da
demanda global (queda do volume das exportações e dos preços em US$), a queda para
os exportadores foi amenizada pela depreciação da taxa de câmbio, que estava
começando também nesta data. Os investimentos em carteira, já em queda em setembro
de 2008, tornarem se negativos em setembro de 2008 e a saída de capital estrangeiro em
investimento em carteira prevaleceu até março de 2009, diminuindo a liquidez no
Brasil.
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O investimento estrangeiro direto não foi afetado seriamente, mas a saída de capital
estrangeiro de carteira fez o IBOVESPA (em queda desde maio de 2008) cair ainda
mais até chegar a seu ponto mais baixo em outubro de 2008, acumulando desde maio
uma queda de cerca 50%.
Políticas fiscais expansionistas (diminuição do IPI para carros e produtos da linha
branca) e políticas monetárias expansionistas (diminuição da taxa SELIC, relaxamento
dos recolhimentos compulsórios, etc.) e políticas dos bancos públicos e do BNDES para
relaxar a restrição ao crédito e mudanças das expectativas dos agentes econômicos
levavam já em 2009 novamente a expansão da economia brasileira.
As consequências da crise financeira global de 2008/09 para as exportações de
commodities agrícolas brasileiras
A crise financeira global de 2008/09 tinha impactos importantes sobre a economia
brasileira e sobre as exportações brasileiras, bem como sobre as importações. Antes da
crise a economia brasileira o PIB estava crescendo de 2000 até 2008 a uma taxa média
de 4,3% e as exportações em relação ao PIB que estavam em 8,5% em 2000 cresciam
para 12,6% em 2008 (CASTILHO, p. 98). A crise interrompeu este processo
abruptamente. Houve forte queda das exportações e importações no quarto trimestre de
2008, mas já no segundo trimestre de 2009 começou a recuperação do comercio exterior
brasileiro (ver tabela 2). A queda dos preços das commodities2, depois de uma alta
acentuada no primeiro trimestre de 2008, começou em julho de 2008 e entre julho de
2008 e fevereiro de 2009 a queda das importações mundiais chegou a 40%
(CASTILHO, p. 99).
Como a queda das exportações começou já no quarto trimestre de 2008, os dados na
tabela 3, que mostra os grupos de produtos mais importantes na pauta (com mais de 1%
de expressão) das exportações brasileiras entre 2009 e 2008, subestima os efeitos da
crise. Na tabela 3 entram somente grupos de produtos na pauta brasileira de exportação.

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É importante afirmar que não todos os preços das commodities estavam em queda, quedas mais
expressivas encontram-se nos preços de petróleo e em certos metais como, por exemplo, cobre. O
açúcar, por exemplo, mostrou uma tendência ascendente dos preços em 2008 e 2009.
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Enquanto o valor das exportações caiu em 22,71% de 2008 para 2009, o volume caiu
em 2,28%. Como a tabela mostra de forma geral, os produtos industrializados e
commodities como petróleo e minérios minerais (em primeiro lugar minérios de ferro)
sofreram queda mais expressiva do que as commodities agrícolas. O grupo de produtos
com expressão maior na pauta das exportações foi o complexo soja (11,28%), seguida
por Material de transporte (10,56%), Petróleo (9,77%), Minérios Metalúrgicos (9,45%)
e carne (7,5%). Outras commodities agrícolas seguem no lugar 8, açúcar (6,35%), no
lugar 12, café (2,76%), no lugar 13, fumo (1,99%) e no lugar 18, suco de laranja
(1,06%).
É importante anotar que as commodities agrícolas tinham uma queda em valor menor
do que a queda total do valor das exportações brasileiras (-22,71%), complexo soja
(valor – 4,09%, volume +8,45%, preço – 11,57%), carne (valor – 19,69%, volume -
2,24%, preço – 17,85%), Açúcar e Álcool (valor +23,41%, volume +14,31%, preço
+7,96%), café (valor – 10,17%, volume +3,72%, preço – 11,57%), fumo e cigarros
(valor +10,68%, volume -2,44%, preço +13,57%) e suco de laranja (valor – 18,91%,
volume +0,74%, preço – 19,51%). As commodities agrícolas dentro dos grupos
descritos mostravam também desempenho diferente, discutido na próxima tabela 4.
Produtos industrializados, petróleo e minérios metalúrgicos mostravam uma queda
muito mais expressiva no período de 2008 para 2009.
A FAO [2009, de forma resumida, tradução dos autores] descreve em 2009 o
comportamento dos preços das commodities agrícolas (especialmente para alimentos),
que em junho de 2008 alcançavam o nível mais alto em 30 anos, depois – com a crise
financeira - começavam a cair, mas em 2009 estavam ainda em um nível historicamente
elevado, pelo menos em termos nominais: Os preços dos alimentos aumentavam 7% em
2006 e 27% em 2007 e com crescimento acelerado no primeiro semestre de 2008,
depois os preços começam a cair, mas ainda em níveis elevados. Mas a mudança dos
preços foi diferenciada para diferentes commodities. Existem diferentes explicações
para os aumentos dos preços: Novos fatores nos mercados de commodities: Demanda
crescente para certos produtos agrícolas (especialmente milho) como consequência da
produção crescente de etanol, preços crescentes de petróleo com impacto sobre os
custos da produção agrícola, crescimento rápido em economias emergentes,
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especialmente China e Índia, com impactos importantes sobre a demanda por alimentos.
Explicações tradicionais para os preços elevados: queda da oferta como consequência
de secas nas maiores exportadores e os níveis mais baixos em 30 anos dos estoques para
cereais. Outra explicação são os influxos de fundos especulativos nos mercados de
commodities quando a crise enfraqueceu os mercados tradicionais de bônus e ações.

Os produtos de commodities agrícolas brasileiras mostram comportamento diferenciado


na crise de 2008/09, como mostra tabela 4. O açúcar (bruto e refinado) mostrou um
aumento expressivo de 2008 para 2009 em valor (63,82%/30,86%), em volume
(31,57%/8,90) como no preço (24,51%/20,16%). O café mostra uma queda no valor (-
8,96%), um aumento no volume (4,62%) e uma queda mais expressiva no preço (-
12,98%). A exportação de carne de boi mostra queda no valor (-24,55%), queda no
volume (-9,46%) e queda no preço (-16,67%). Carne de frango mostra queda expressiva
no valor (-17,15%), consequência da queda no preço (-17,19%), enquanto a queda no
volume foi pouco expressiva. A carne de suíno mostra também queda expressiva no
valor (-18,49%), consequência da queda ainda mais expressiva no preço (-27,98%),
enquanto o volume das exportações aumentou (13,18%). O fumo mostra aumento em
valor (11,5%), queda no volume (-2,38%) e aumento no preço (14,22%). O complexo
de soja (soja, farelo de soja e óleo de soja) mostra desempenho diferenciado, enquanto o
valor para soja e farelo da soja aumentou (4,31%/5,25%) o valor das exportações de
óleo de soja estava fortemente em queda (-47,55%), o desempenho do volume (16,58%,
-0,28%, -22,28%) e do preço (-10,53%/5,55%/-32,52%) mostra desenvolvimento
diferenciado. O suco de laranja mostra também comportamento diferenciado. Enquanto
o suco de laranja congelado cai expressivamente no valor (-38,81%), no volume (-
26,19%) e no preço (-16,41%), o suco de laranja não congelado mostra um aumento no
valor (7,13%) e no volume (17,20%) e uma queda no preço (-8,58%).
A análise a seguir tenta identificar as causas para o comportamento diferenciado das
exportações brasileiras de commodities agrícolas de 2008 para 2009. Obviamente a
identificação da influência da crise global de 2008/09 está entre os objetivos mais
importantes do trabalho, mas o comportamento diferenciado já mostra que outros
fatores devem ser considerados (Produção e demanda no nível nacional e global
refletindo se também nos preços das commodities agrícolas, países de destino das
exportações e fatores específicos devem ser considerados).
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O International Monetary Fund (IMF) publica preços para uma grande variedade de
commodities e também fornece índices de preços para grupos de commodities.
Enquanto os índices do IMF não sempre mostram o mesmo desenvolvimento como as
mudanças dos preços na balança comercial do Brasil de 2008 para 2009, é importante
mostrar os preços do IMF para algumas commodities na pauta das exportações do
Brasil.

No gráfico 2 o complexo de soja mostra uma queda dos preços como consequência da
crise global, expressiva para óleo de soja, menos expressiva para a soja e o farelo de
soja. O açúcar mostra uma tendência ascendente: a crise parece – para este índice - não
influenciar expressivamente sobre os preços internacionais de açúcar.

No gráfico 3 o complexo carne mostra um comportamento diferenciado, carne de boi e


de suíno mostram quedas na crise global, enquanto a carne de frango não mostra
mudanças expressivas neste período de tempo (diferente do comportamento do carne de
frango para as exportações de frango na tabela 4, que mostra uma queda de 17,19% de
2008 para 2009). O café mostra uma queda expressiva dos preços na crise.
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Nas tabelas a seguir foi feito uma avaliação das exportações de commodities agrícolas
brasileiras pelo período 2006 até 2011 avaliando valor, quantidade e preço e países de
destino das exportações para avaliar os efeitos da crise 2008/09 sob uma perspectiva
mais ampla. A avaliação dos resultados da tabela 4 mostra que os efeitos da crise são
diferenciados para os produtos da pauta de exportações de commodities, alguns
produtos como açúcar e o fumo não são afeitados de forma nenhuma pela crise ou
pouco afeitados, outros produtos como carnes e o complexo soja e o suco de laranja são
afeitados de forma diferenciada na perspectiva de preço e quantidade e na perspectiva
de produtos específicos.
Tabela 5 mostra que as exportações de açúcar não foram significativamente
influenciadas pela crise financeira de 2008/09, quantidade, preço e valor estavam
crescendo em 2009, enquanto houve uma queda dos preços e do valor em 2007, que foi
superado somente em 2009. Mas é importante enfatizar que as importações da Rússia de
açúcar de cana tinham uma queda de 24,8% em 2009/2008, consequência da queda
expressiva do PIB e da renda nacional em 2009, de 7,8% [IMF, World Economic
Outlook, 9/2011]. Mas a queda das exportações para Rússia foi contrabalançada por
exportações maiores para Índia, Bangladesh e os Emirados Árabes Unidos em 2009.

As exportações de fumo mostram também um aumento do valor (12%) e dos preços


(14%) em 2009 e uma queda dos pecos em 2%, por esta razão é considerado que a
influência da crise financeira de 2008/09 teve impacto negligenciável sobre as
exportações do fumo.

O café brasileiro em grão mostrou uma queda expressiva do valor (-8,96%), um


aumento no volume (4,62%) e uma queda mais expressiva no preço (-12,98%). Como
mostra tabela 6, o destino das exportações de café em grão é principalmente para países
desenvolvidos, os importadores mais importantes Alemanha, Estados Unidos de
América (EUA) e Itália, mas seguidos por outros países desenvolvidos como Japão,
Bélgica e Espanha. Enquanto o valor das exportações para Alemanha (2%), Estados
Unidos (2%) aumentou ainda de 2008 para 2009, o valor das exportações para Itália
diminui expressivamente (-27%), mas em relação ao crescimento anual médio anterior
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das exportações de 2006 até 2008 (Alemanha 15% Estados Unidos 14% e Itália 23%) o
crescimento foi muito menor como consequência da crise, que atingiu os países
expressivamente (Queda do PIB 2009/2009: Alemanha (-5,08%), Estados Unidos (-
3,49%), Itália (-5,2%), Queda das exportações/importações Alemanha (-16,27%/-
9,84%), Estados Unidos (-11,96%- 15,62%), Itália (-23,65%/-18,24%), IMF). Os três
importadores em seguir mostram queda das importações brasileiras em café em grão em
2009 comparado a 2008: Japão (-3%), Bélgica (-4%), Espanha (-27%), onde os países
como Japão (PIB – 6,28%, Exportações/Importações -27,55%/-16,02%), Bélgica (PIB –
2,65, Exportações/Importações -11,93%/-10,88%) e Espanha (PIB – 3,72%,
Exportações/Importações -12,45%/-19,16%) foram gravemente atingidos pela crise. As
exportações de café mostram um efeito expressivo da crise de 2008/09 em relação ao
valor e preço, não em relação ao volume, mas perdendo fortemente mercado em Itália,
Japão e Espanha, mas recuperando está perda em 2010 com taxas de crescimento do
valor entre 30 e 40% para os países em destaque.

Em tabela 7 encontram se os produtos do complexo soja: soja, farelo de soja e óleo de


soja. A soja e o farelo da soja não mostram comportamento significativo na crise, o
valor para estes produtos aumentou ligeiramente em 2009 em comparação a 2008, A
quantidade aumentou para soja, e teve uma queda muito pequena para farelo de soja, no
preço houve uma queda de 10% e para farelo de soja um aumento de 5,5%. Somente
para o óleo de soja houve uma queda significativa no valor (-43,8%), no volume (-
31,2%) e no preço (- de 2009 em comparação à 2008. Tive uma ligeira melhora em
2010 e uma melhora major em 2011, mas o nível de 2008 nem foi alcançado em 2011,
enquanto para os outros produtos do complexo soja houve um aumento expressivo
especialmente em 2011. No caso da soja e de óleo de soja a China tornou-se cada vez
mais importante como importador, enquanto no farelo de soja os países da União
Europeia são os importadores mais importantes. Mas na avaliação das mudanças de
2009 para 2008 é necessário considerar que em 2008 houve uma bolha especulativa
para muitos commodities, os preços (e com isto os valores, enquanto o volume ficava
estável) e também para o complexo soja, de 2007 para 2008 os preços de soja
aumentavam em 58%, de farelo de soja em 50% e de óleo de soja em 57%, estes
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excessos foram corrigidos na crise de 2008/09, mas é discutível que – pelo menos para
soja e farelo de soja - a crise tinha efeito algum. Mas para óleo de soja a queda no
volume (-31,1%), acompanhado de uma queda expressiva no preço(-32,1%) implicou
uma queda expressiva no valor das exportações de óleo de soja (-53,8%). O
comportamento diferente dos países destinos mais importantes, neste caso, também não
explica muito, porque em caso de soja, a China aumentou a importação, enquanto no
caso de óleo de soja a importação de China cai expressivamente em 2009, junto com os
outros países importadores.

De 2009 em comparação com 2008 o valor das exportações de carne diminui


expressivamente (Boi – 24,6 %; Frango – 17,2 %, Suíno3 – 18,5 %), a quantidade
exportada caiu ligeiramente (Boi -9,5%) ficava estagnada (Frango) ou subiu (Suíno
+13,2%), os preços estavam em queda expressiva para as carnes (Boi – 16,7 %; Frango
– 17,2 %, Suíno – 28,0 %). Os maiores exportadores para as carnes foram parcialmente
países duramente atingidos pela crise, como, por exemplo, Rússia e Japão e Ucrânia.

Para o suco de laranja houve queda do valor (-18,9%) e dos preços (-19,5%) e
quantidade estagnada em 2009, mas a queda dos preços já começou no ano anterior (-
10,8%). A maioria das exportações de suco de laranja congelado vai para os países
industrializados ricos (União Europeia, Estados Unidos e Japão), o que pode explicar a

3
Os dados para as exportações de suíno são do MDIC e ALICEWEB, os dados da ABIPECS são ligeiramente
diferentes, para os países destinos os dados da ABIPECS foram usados.
13

queda dos preços de 2009/2008, enquanto nos últimos anos a China chega como um
destino importante no quarto lugar (13% em 2011).
A tabela 10 mostra que a produção mundial dos produtos mais importantes discutidos
neste artigo cresceu entre 2000 e 2010. Quedas ligeiras entre 2008 e 2009 para os
produtos açúcar, café soja e laranjas (todos em menos do que – 4%) não podem explicar
as mudanças nas exportações brasileiras na crise, porque em relação a média de 2000/08
todos os produtos mostram crescimento positivo.

Impactos possíveis da crise da dívida soberana na área do euro para a economia


brasileira

A crise da dívida soberana na área de euro começando na primavera de 2010 pode ser
interpretada como um impacto defasado da crise global de 2008/09. Bancos e
investidores europeus haviam investido em títulos americanos lastreados por hipotecas e
em alguns países também houve bolhas imobiliárias na Irlanda, na Grã-Bretanha e na
Espanha. Mas o problema europeu foi também que com taxas de juros baixas e crédito
14

abundante, o endividamento excessivo de alguns países da União Europeia como


consequência de déficits permanentes na conta corrente e no resultado fiscal tornavam
estas economias vulneráveis quando a crise tornou-se global em 2008. A queda da
produção em 2009, aumento do desemprego, políticas públicas para estabilizar o
sistema financeiro e evitar uma depressão tinham como consequência uma deterioração
ainda pior da situação fiscal e o aumento da dívida pública, fatos que a tabela 11 mostra.
Especialmente Grécia e Portugal mostram déficits em conta corrente e resultados fiscais
(em relação ao PIB) insustentáveis por muitos anos. A consequência para Grécia foi
uma explosão da dívida pública (em relação ao PIB) e, em março de 2012, o maior
default soberano na história.
Na primavera de 2010 começou a crise da dívida soberana nos países chamados PIIGS
(Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha (Spain em inglês)), por causa da
desconfiança dos investidores internacionais sobre um possível default destes países
sobre a dívida pública (Dívida pública/PIB 2010: Portugal: 93%, Irlanda: 96%, Itália
119%, Grécia 143%, Espanha 60%). A consequência foi que os juros efetivos destes
títulos nos mercados secundários subiram expressivamente, como mostra a última parte
da tabela 11, e a rolagem da dívida em vencimento tornou se difícil. A União Europeia
criou um Fundo de Emergência (EFSF/ESM depois 2013) e pacotes de ajuda em
conjunto com o IMF para evitar um default sobre a dívida soberana destes países e para
evitar o contágio para outros países.
Em março de 2012houve default da dívida pública de Grécia com um prejuízo de 50%
sobre o valor nominal (valor de face) dos títulos para os detentores privados destes
títulos para aliviar a situação econômica de Grécia, que como contrapartida precisa
fazer uma política de austeridade fiscal. O prejuízo para os detentores destes títulos é
estimado de ser efetivamente cerca 80%, porque os títulos novos foram emitidos com
taxas de juros muito menores e prazos mais extensos. O problema da política de
austeridade pode piorar a recessão no país e aumentar ainda mais os problemas fiscais.
E a moeda comum (euro) e a política monetária comum (ECB) evitam que o país pode
através de uma desvalorização da moeda e de uma política monetária expansiva sair da
recessão prolongada melhorando a competitividade e sair da recessão.
O problema mais importante é que o euro é uma moeda sem Estado. Não existe uma
política fiscal unificada na União Europeia (em vez disto existem os critérios de
MAASTRICHT, - entram na área de euro somente países com dívida publica menor ou
igual de 60% do PIB e um déficit fiscal menor ou igual de 3% do PIB e certas
exigências de convergência para a taxa de inflação e a taxa de juros), mas, infelizmente,
como se mostra agora, estes critérios de MAASTRICHT foram esquecidos pelos
políticos. A discussão do MUNDELL sobre uma área monetária ótima mostra os
problemas de criação de moeda comum e, com isto, do abandono do instrumento da
taxa de câmbio nacional (e com a criação do ECB de uma política monetária
independente) como medida de ajuste para divergências na competitividade em
diferentes países. Em caso de choques assimétricos (que abalam os países de forma
diferente, como a crise financeira global de 2008/09) um país dentro de uma moeda
comum não pode usar uma política monetária expansiva para aquecer a economia, nem
uma desvalorização para ganhar novamente competitividade. Neste caso o ajuste precisa
acontecer através do ajuste dos preços e salários (para baixo), um processo
politicamente e socialmente doloroso.
O problema para as exportações de commodities do Brasil é que a economia europeia
pode entrar em recessão para um tempo prolongado (no inicio de 2012 a Grécia,
Portugal, Espanha já se encontram em recessão e provavelmente Grã-Bretanha
15

também). Isto pode ter consequências negativas sobre outros países no mundo, como
Estados Unidos e os BRICS. Possivelmente isto pode ter consequências negativas sobre
as exportações das commodities na pauta brasileira.
Importante para as perspectivas das exportações de commodities brasileiras agrícolas
em caso de uma crise desencadeada pela crise na área de euro e da União Europeia são
os seguintes fatos. Em primeiro lugar, a pergunta em quanto os efeitos da crise dos
países PIIGS (e aqui especialmente os efeitos do país com problemas mais sérios (a
Grécia)) espalham-se para a União Europeia. Por exemplo, o país economicamente mais
importante na União (a Alemanha) encontra-se ainda em plena expansão no inicio de
2012. Esta pergunta pode ainda não ser respondida definitivamente, porque
especialmente sobre os efeitos políticos de um default de Grécia e de uma possível
reestruturação da área de euro e do futuro da moeda do euro existe incerteza total. Em
segundo lugar é importante avaliar os efeitos de um desaquecimento da economia
europeia sobre as exportações do Brasil. Aqui a União Europeia em 2011 é destino de
21,4% das exportações brasileiras, um parceiro muito menos importante do que a Ásia
(exclusive Oriente Médio, incluindo China com 15,3%) com 27,9%, União Europeia
(21,4%) seguida pelo ALADI com 20,4%% (incluindo o MERCOSUL com 11,2%) e os
Estados Unidos com 9,6% em terceiro lugar e o Oriente Médio com 5,2% (MDIC,
2012). Importante é também que a Ásia é um parceiro muito importante para as
exportações de commodities agrícolas brasileiras, somente na exportação de café a
União Europeia (junto com os Estados Unidos) exibe um papel importante, bem como
no suco de laranja (também em conjunto com os Estados Unidos), no farelo de soja, no
óleo de soja a União Europeia exibe uma posição importante, mas somente depois da
China. Importante é por esta razão deliberar que efeitos uma possível crise na Europa
pode ter sobre as economias mais importantes de Estados Unidos e China (ou mais geral
sobre a Ásia como um todo) especialmente sobre as importações da União Europeia. A
União Europeia importa em 2010 (na importação extra União Europeia) da China
18,7%, depois dos Estados Unidos com 11,3%, Brasil no décimo lugar com 2,2%)
(EUROSTAT). Uma crise do euro e com isto uma crise econômica na União Europeia
com queda da demanda por exportações pode influenciar a atividade econômica no
China e pode ter efeitos negativos sobre a exportação de commodities agrícolas
brasileiras. Mas é necessário enfatizar que um default de Grécia (e possivelmente de
Portugal) não necessariamente acaba com uma queda expressiva da demanda global
como na crise financeira de 2008/09, porque as duas economias são relativamente
pequenas e sob a segurança do Fundo de Emergência (ESM) um contágio para outros
países parece improvável. Parece por esta razão que uma crise prolongada do euro vai
ter poucos efeitos negativos sobre a exportação de commodities brasileiras agrícolas,
especialmente porque o Brasil conseguiu a diversificação dos países de destino para as
exportações de commodities agrícolas.
Esta previsão, como toda previsão econômica feita sob um ambiente de incerteza, é
sustentada também por análises da OECD-FAO e do McKinsey Global Institute sobre
as tendências de longo prazo para os mercados de commodities, que enfatizam a
importância do crescimento da classe média nos BRICs para os mercados de
commodities agrícolas. A OECD-FAO [2010, tradução dos autores] enfatiza que: O
retorno para o crescimento global, a população crescente, os mercados de etanol
emergentes, mas também uma estrutura de custos mais elevados são importantes para os
mercados de commodities e a previsão é que os preços no período de 2010-2019
ficando no nível elevado, mas mais baixo do que os preços de pico de 2007/08. Para
algumas commodities, como açúcar, carne de boi e de porco, que não tinham
16

crescimento expressivo dos preços em 2007/08 os preços nominais médios tem a


previsão de serem 10-20% mais elevados do que em 2007/08.
Esta argumentação é sustentada também para uma análise e previsão para os mercados
das commodities do McKinsey Global Institute [2011, tradução dos autores, resumo]: A
economia global esta entrando numa época de níveis elevados dos preços de
commodities com volatilidade expressiva? A volatilidade é maior do que na década de
1970, mas nos oito anos anteriores eles cresciam para níveis mais elevados do que na
década 1900. Nossa análise que o nível e a volatilidade vão ficar elevados pelo menos
para os próximos 20 anos, com exceção de um choque macroeconômico adverso maior,
consequência da demanda crescente e da oferta inelástica. Demanda por energia,
alimentos e metais devem crescer com a emergente classe média de consumidores de
três bilhões nos duas décadas futuras.

Estas tendências globais parecem diminuir os efeitos possíveis de uma crise na área do
euro sobre as exportações de commodities brasileiras agrícolas, enquanto numa
economia globalizada crises e seus possíveis contágios tornam-se imprevisíveis como a
crise de 2008/09 mostrou.

Conclusões
O artigo analisa os impactos da crise financeira global 2008/09 sobre as exportações
brasileiras de commodities agrícolas. A hipótese de que a crise influenciou
negativamente as exportações destes produtos (com mais de 1% de expressão na pauta
das exportações do Brasil), mas de forma diferenciada, foi confirmada pelos dados
estatísticos. As exportações de commodities agrícolas brasileiras foram - de forma geral
- menos atingidas do que as exportações de commodities como petróleo e minérios de
ferro e muito menos do que certos produtos industrializados. Dentro da pauta das
exportações de commodities agrícolas brasileiras o açúcar e o fumo foram de forma
nenhuma ou pouco atingidos. Nos produtos do complexo soja, do complexo carne, do
café e do suco de laranja alguns produtos foram atingidos de forma expressiva, outros
menos. Não é possível afirmar que a crise global dos anos 2008/09 houve efeitos
desastrosos sobre as exportações de commodities agrícolas brasileiras. Óleo de soja,
suco de laranja, carnes e café tinham efeitos negativos expressivos em tempos da crise.
Alguns efeitos podem ser explicados pelas destinações das exportações e pela
profundidade com que estes países foram castigados pela crise, resumindo em geral que
o Brasil nos últimos conseguiu abrir novos mercados e aumentar as exportações
expressivamente para mercados em plena expansão como a China.
Prevê-se também que a crise da área de euro provavelmente não vai ter consequências
desastrosas sobre as exportações de commodities agrícolas brasileiras, porque não pode
se prever uma crise tão profunda como a crise financeira global de 2008/09 e porque a
diversificação dos países de destino para as exportações de commodities agrícolas é um
ponto positivo importante para o Brasil. Também as previsões para a demanda geral de
commodities no nível geral apontam para um cenário positivo, porque três bilhões de
novos consumidores da classe média nos países emergentes garantem certa segurança
contra impactos da crise na área de euro.
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