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ARTIGO CIENTÍFICO
DISCIPLINA: INDÚSTRIA DE DEFESA
ALUNO: JOEL HENRIQUE FONSECA DE ÁVILA
RESUMO
O trabalho buscará descrever o fluxo do comércio de armas no Sudão e Sudão
do Sul e suas consequências para a segurança interna, com os reflexos para a
população civil e para os peacekeepers da ONU e agentes humanitários diversos que
atuam nos países, desde o processo de independência até o início da Guerra Civil de
2013. Tal estudo é importante para compreender como a indústria armamentista
influencia o ambiente político e psicossocial, especialmente de Estados frágeis como
os sudaneses. Dessa forma, a pesquisa conduzirá a uma conclusão sobre a
necessidade de maior controle e regulamentação de tal comércio, para que não
continue a alimentar a insegurança e violações frequentes aos direitos humanos, no
Sudão e Sudão do Sul. A pesquisa, além da introdução, se dividirá em uma segunda
seção que tratará do processo do comércio internacional de armas no continente
africano, onde abordará o fluxo legal, o tráfico ilegal e também acordos velados de
fornecimento de armas, entre nações. A terceira seção irá expor o fluxo de armas para
o Sudão e para o Sudão do Sul, a fim de ilustrar a influência que tal comércio causa
para na instabilidade da região. A quarta seção irá analisar as consequências que tais
atividades geram para a vida dos civis e para as operações de paz e de agentes
humanitários, que atuam nos países. Por fim, serão tecidas considerações finais que
concluirão a necessidade de políticas públicas e acordos internacionais mais
assertivos para amenizar tal óbice.
1 INTRODUÇÃO
O mundo vive atualmente uma ordem mundial menos estável do que a vivida
na época da Guerra Fria. Enquanto havia a bipolaridade entre Estados Unidos e União
Soviética, a maior preocupação consistia na manutenção da paz e estabilidade
internacional entre os estados, por meio de alianças ideológicas. No entanto, com o
fim da União Soviética, houve a quebra de alianças e o fim de grande parte do apoio
regional sustentado pelas potências hegemônicas, principalmente no bloco soviético.
Com isso, surgiram diversos Estados Frágeis na arena internacional. Esses estados
são caracterizados como suscetíveis a conflitos étnicos, secessão e aumento da
criminalidade. Tal contexto os levou a conflitos intra-estatais, com altíssimos custos
humanitários (SMITH; BATCHELOR; POTGIETER, 1996).
O fim da Guerra Fria criou também um grande afluxo de armas no mercado,
que foram usadas para alimentar conflitos e a corrida armamentista em diversas
regiões do globo, como por exemplo a região do Chifre Africano. Esta região localiza-
se a Leste do continente africano e contém uma quantidade significativa de estados
frágeis, como Somália, Sudão e Sudão do Sul.
A queda da União Soviética deixou estoques de armamentos disponíveis nos
antigos estados satélite soviéticos, fruto do acúmulo de arsenais derivado da corrida
armamentista. Estas armas se tornaram obsoletas, uma vez que as novas alianças
geopolíticas entre os antigos países do Pacto de Varsóvia e a Organização do Tratado
do Atlântico Norte (OTAN) conduziram à necessidade de um incremento tecnológico
no armamento desses países, para que atingissem os padrões mínimos requeridos
pela OTAN (STOHL; GRILLOT, 2009).
Com o declínio da possibilidade de conflitos interestatais e também com uma
grave crise econômica nos países do bloco soviético, o comércio de armas caiu e fez
com que as indústrias de defesa se ajustassem à nova realidade. Além disso, os
comerciantes estatais de armas precisaram lidar com a concorrência dos
exportadores de armas, que estavam ansiosos para se inserir no mercado global
(STOHL; GRILLOT, 2009).
O fim da Guerra Fria trouxe, em seu contexto, a emergência de guerras civis.
Estes conflitos, na sua grande parte ocorrendo em estados frágeis, dependem
principalmente de armamento convencional. Em muitos casos, armas individuais e
leves são as únicas usadas pelos oponentes, incluindo-se neste contexto os exércitos
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de 2013. Para que esse objetivo fosse atingido, os seguintes objetivos específicos
foram traçados:
- Estudar o comércio internacional de armas na região do Chifre Africano.
- Descrever o fluxo de armamentos do Sudão do Sul.
- Analisar as consequências do comércio de armas do Sudão do Sul para o
ambiente de segurança do país, tanto para os civis como para os peacekeepers e
agentes humanitários.
O presente estudo buscou estudar a relação entre o processo do comércio
internacional de armas com a instabilidade e insegurança do Sudão e Sudão do Sul.
Tal abordagem é importante para compreender como a indústria armamentista
influencia o ambiente político e psicossocial, especialmente de Estados frágeis como
os sudaneses. Dessa forma, a pesquisa conduziu a uma conclusão sobre a
necessidade de maior controle e regulamentação de tal comércio, para que não se
continue a alimentar uma das raízes da insegurança e existência de violações
frequentes aos direitos humanos, em certas nações do globo.
A presente pesquisa usou como instrumento de coleta de dados a pesquisa
bibliográfica em revistas, jornais, teses, artigos e publicações que tratem sobre a
problemática do comércio internacional de armas no continente africano, mais
especificamente no Sudão e Sudão do Sul.
As referências documentais e bibliográficas desse artigo foram obtidas por
pesquisas em sites como o Google Acadêmico, Biblioteca Digital da Fundação Getúlio
Vargas e no site dos Periódicos da Capes. As palavras chaves utilizadas foram
Comércio Internacional de Armas, Comércio Ilegal de Armas e Sudão do Sul
Quanto aos critérios de inclusão, foram consideradas as fontes publicadas em
inglês, espanhol e português. Ainda, observou-se o recorte temporal do período de
1991 até os dias atuais. Tal recorte é justificado por ser o ano de 1991 o marco
temporal do cenário internacional do pós-Guerra-Fria, com o desenvolvimento de
conceitos importantes para a análise do objeto de pesquisa.
A pesquisa, além da introdução, se divide em uma seção que tratará do processo
do comércio internacional de armas no continente africano, onde abordará o fluxo
legal, o tráfico ilegal e também acordos velados de fornecimento de armas, entre
nações. A segunda seção irá expor o fluxo de armas para o Sudão e para o Sudão do
Sul, a fim de ilustrar a influência que tal comércio causa para na instabilidade da
região. A terceira seção irá analisar as consequências que tais atividades geraram
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para a vida dos civis e para as operações de paz e de agentes humanitários, que
atuaram no país. Por fim, serão tecidas considerações finais que concluirão sobre os
efeitos do comércio internacional de armas para a instabilidade regional no Sudão e
Sudão do Sul, assim como a necessidade de políticas públicas e acordos
internacionais mais assertivos para amenizar tal óbice.
em armas para a Etiópia e Eritreia, antes e durante seu conflito, de 1998 a 2000.
Outros países africanos, como Burundi, Tanzânia, Zimbábue, Nigéria e Angola
também são grandes compradores de armas chinesas, muitas das quais usadas para
alimentar insurgências e violentos conflitos (STOHL; GRILLOT, 2009).
importadores e revendedores. Deve haver penas rígidas para quem não obedecer às
normas.
A ONU deve estabelecer também uma eficiente operação de desarmamento,
desmobilização e reintegração (DDR), para estimular a entrega das armas para
destruição e uma reintegração eficiente de ex-combatentes e milícias à sociedade.
Além disso, deve também concluir a construção de capacidades do Sudão e Sudão
do Sul, para que seus governos tenham instituições fortes e legítimas, que garantam
a segurança de seus cidadãos e inibam a demanda por armas.
Por fim, a maioria das armas no Sudão e Sudão do Sul estão nas mãos de
atores não estatais (LEFF; LEBRUN, 2014, p. 106), quer seja por suprimento
deliberado, quer seja por desvio. Caso mantenha-se a falta de controle estatal e de
regulamentos rígidos, estas armas continuarão a alimentar insurgências e conflitos
intertribais no Sudão e Sudão do Sul.
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REFERÊNCIAS
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