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ISCED- HUÍLA
Por seu turno, o governo da RDC nega tais afirmações e acusa o Ruanda de
apoiar a milícia armada M23 (Movimento 23 de Março) nas suas incursões em
território congolês com vista a desistabilização política daquele país. A actual
escalada da tensão deve-se ao ressurgimento do grupo M23, que em 2012 fez
oposição ao Governo congolês e gerou um violento conflito que forçou o
deslocamento de milhares de pessoas na província do Kivu Norte.
Palavras: 6.062
1
Este ensaio foi elaborado sob orientação do Professor Ricardo Real Pedrosa de Sousa, no âmbito do
Módulo 12: História das Relações Internacionais Africanas, do curso de mestrado em Ensino da História de
África, do Instituto Superior de Ciências da Educação da Huíla (ISCED-Huíla), edição 2021-2022.
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Mestrando em Ensino da História de África pelo Instituto Superior de Ciências da Educação da Huíla
(ISCED-Huíla). Frequentou o Curso de Formação Avançada “Desarmar as opressões actuais a partir das
epistemologias do Sul: o capitalismo, o colonialismo e o patriarcado”, que resulta de uma colaboração
estreita da Universidade de Sevilha, do Programa em Epistemologias do Sul, do Centro de Estudos Sociais
da Universidade de Coimbra, do Grupo de Trabalho em Epistemologias do Sul e do Programa Sur-Sur do
Conselho Latino Americano de Ciências Sociais (CLACSO), no âmbito das suas actividades de extensão e
disseminação em torno às epistemologias do Sul. É Professor de História do II Ciclo do Ensino Secundário
desde 2006. Email: felisbertoluciano9@gmail.com.
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ÍNDICE
0. Introdução …………………………………………………………………….…. 3
1. As Dinâmicas da Política Externa de Angola ……………………………..… 4
2. Paz e Conflito em África ………………………………………………….……. 8
2.1. O Mecanismo da União Africana para a Prevenção, Gestão e
Resolução de Conflitos ………………………………………..……… 12
2.2. O Papel de Angola na Prevenção, Gestão e Resolução do Conflito
entre a RDC e o Ruanda ……………………………………...……… 14
3. Conclusão ………………………………………………………………...……. 18
4. Referências Bibliográficas ……………………………………………….…… 19
- Anexos ………………………………………………………………………….…. 21
2
0. Introdução
Nos últimos dez anos, Angola vem se firmando como um importante player no
xadrez geopolítico, económico e militar da África Austral e Central,
fundamentalmente desde a assumpção da presidência rotativa da Conferência
Internacional para Região dos Grandes Lagos (CIRGL), onde tem levado à cabo
uma série de acções diplomáticas com o fito de ajudar na prevenção, gestão e
resolução de conflitos entre alguns e nalguns países, desde logo, o conflito
diplomático entre o Ruanda e Uganda, a instabilidade política na República
Centro-Africana e a crise política prevalecente entre a RDC e o Ruanda.
3
1. As Dinâmicas da Política Externa de Angola
3
Além de ter posto fim a guerra dos trinta anos, os acordos de Vestefália em 1648 criaram o sistema
internacional. A partir desta data as relações entre os Estados começaram a ser classificadas de nacionais,
quando ocorriam dentro do território sob jurisdição do Estado, e internacionais, quando ultrapassavam as
fronteiras nacionais (Gamba, 2012, pp. 19-20).
4
Diante desta realidade, foi institucionalizada a cooperação-coordenação entre os
diferentes Estados e demais sujeitos das relações internacionais, como são os
casos das organizações internacionais ou intergovernamentais, enquanto
expressão da vontade dos povos em estabelecer relações de cooperação regular
nos domínios económicos, militar, diplomático, técnico e outros, visando a defesa
contra perigos externos ou internos, bem como o desenvolvimento económico e
social dos países membros. Ao nível de África destacamos as seguintes
Organizações sub-regionais: a SADC (Comunidade de Desenvolvimento da África
Austral), CEEAC (Comunidade Económica dos Estados da África Central),
CEDEAO (Comunidade Económica da África do Oeste), CAE (Comunidade da
África Oriental), UMA (União do Magreb Árabe) e CEN-SAD (Comunidade dos
Estados Sahelo-Saharianos).
5
autoridades coloniais, e por esta razão, a região é constituída por um grande
número de pequenos países que tentam desestabilizar os Estados com alguma
viabilidade, entre os quais este Van-Dúnem destaca o Ruanda, Burundi e
Uganda.
6
segundo a qual é com João Lourenço que Angola passa a assumir um papel
activo na pacificação da região dos Grandes Lagos, e não só. Neste sentido, Van-
Dúnem (2014), assevera que:
Aliás, vale lembrar que José Eduardo dos Santos foi o primeiro Ministro das
Relações Exteriores de Angola, após a independência, e foi através dele que o
Estado angolano ingressou, em Dezembro de 1976, na maior tribuna política
mundial, tendo sido o primeiro angolano, em nome do Estado, a discursar na
Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU). E foi durante o seu
longevo consulado que Angola aderiu e participou, da criação de várias
organizações sub-regionais, ao nível de África, criando assim bases efectivas
para a sua afirmação no concerto das nações. Pelas razões já evocadas, não é,
exagero algum afirmar que, o antigo presidente angolano, José Eduardo dos
Santos foi um pivot incontornável da política externa angolana, cujo percurso é
quase impossível de obliterar.
4
https://mirex.gov.ao/PortalMIREX/#!/politica-externa/politica-externa
7
independência; a solução pacífica dos conflitos; não ingerência nos assuntos
internos dos outros Estados, etc.
Vale destacar que, não foi por acaso que na última Cimeira de Chefes de Estados
e de Governos da UA, realizada em Malabo, João Lourenço foi distinguido pelos
seus pares como “Campeão para paz em África”, num claro reconhecimento do
papel que o Estado angolano tem jogado na pacificação de África,
fundamentalmente na região dos Grandes Lagos, com particular realce, no
diferendo entre o Ruanda e a RDC. E sobre este último assunto voltaremos a falar
mais a frente.
8
referem Augé & Colleyn (2008, p. 49), “a guerra surge como um termo demasiado
amplo, não permitindo a percepção da diversidade de situações”.
9
respectiva prevenção tem consumido o tempo de várias instituições a nível
mundial, tendo em conta as consequências” que estes podem trazer ao
desenvolvimento económico e social de África e não só.
Assim, empenhados na visão comum de uma África unida e forte, que tem como
substrato fundante o escrupuloso respeito pelos princípios constantes da Carta da
UA, os países membros criaram em 2002, a Arquitectura de Paz e Segurança
Africana (APSA), enquanto resposta estrutural a longo prazo, no que aos desafios
para a paz e segurança no continente africano diz respeito. E para reforçar o
quadro normativo existente, a Conferência da UA, na sua Quarta Sessão
Ordinária, realizada em Abuja, Nigéria, no dia 31 de Janeiro de 2005, adoptou o
Pacto de Não-Agressão e de Defesa Comum da União Africana.
10
resolução de conflitos violentos, porque só com paz intra-africana tais projectos
poderão vingar.
11
conceitos tornaram-se os guias centrais de intervenção internacional para
a resolução de conflitos inter-estatais ou intra-estatais” (p. 10).
Uma das versões mais hard sobre a incapacidade da União Africana no contexto
da prevenção, gestão e resolução de conflitos em África, é defendida por Van-
Dúnem (2007, p. 4), que sugere que, “todas as resoluções da UA para envio de
uma força de manutenção de paz tem pouca adesão dos Estados-membros e os
efectivos disponibilizados estão mal equipados e sub-financiados”. Van-Dúnem
assevera que os fiascos das missões da UA em Darfur, no Sudão, e na Somália
12
são os exemplos mais acabados dos insucessos da Organização no que tange à
resolução de conflitos. Portanto, as missões de paz em África ainda hoje
dependem muito dos financiamentos externos.
5
https://www.eca.europa.eu/Lists/ECADocuments/SR18_20/SR_APSA_PT.pdf
13
política, económica e social de África, defendem que os problemas africanos
carecem duma resposta endógena, ou seja, para estes, os problemas africanos
só terão soluções efectivas, quando estas forem elaboradas e executadas em
África e pelos africanos. Porém, ao contrário destes, Van-Dúnem (2007), defende
que:
Importa lembrar que, o M23 era inicialmente uma milícia formada por tutsis da
RDC que, supostamente, segundo acusações do governo de Kinshasa tem sido
6
Vide. https://www.voaportugues.com/a/luanda-presidentes-da-rdc-e-do-ruanda-chegam-a-acordo-que-pode-
acabar-com-tens%C3%A3o-entre-os-dois-pa%C3%ADses/6647504.html
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apoiada pelos governos de Ruanda e do Uganda. A 23 de Março de 2009, a
milícia assinou um acordo de paz com a RDC que culminou com a incorporação
dos seus membros no exército daquele país. Entretanto, em 2012, os rebeldes se
levantaram contra o Governo da RDC, acusando-o de incumprimento da sua
parte no acordo assinado três anos antes. Nasceu, assim, o M23, em referência à
data em que foi firmado o controverso pacto7.
Portanto, sendo a região dos Grandes Lagos estratégica, tendo presente o facto
de Angola e a RDC partilharem uma extensa fronteira terrestre, e porque mesmo
localizado num Estado, um conflito pode afectar sempre os seus vizinhos e
constituir-se numa séria ameaça à sua estabilidade, dado o carácter
transfronteiriço das deslocações dos refugiados, das redes de tráfico de armas e
das incursões de grupos armados, como sucede na região dos Grandes Lagos,
essa situação tem estimulado a procura à escala regional e continental de
soluções colectivas para os conflitos (M'Bokolo, 2011).
7
Ibidem
15
Nas variadíssimas rondas negociais, Luanda tem sido a placa-giratória das
políticas de gestão e resolução dos conflitos da região, tendo albergado várias
cimeiras que têm contado com as participações dos chefes de Estados e de
governos dos países beligerantes, bem como as respectivas chefias militares e
diplomáticas. Um exemplo suis generis do que acabamos de afirmar é a decisão
recentemente tomada na reunião da Comissão Mista Permanente dos dois
países, que decorreu de 20 a 21 de Julho sob mediação de Angola, no âmbito da
recomendação do Roteiro adoptado na Cimeira
Tripartida entre os Chefes de Estado de Angola, RDC e Ruanda8.
Seria ingênuo pretender que, Angola, com todas as acçoes que tem vindo a
realizar no quadro da sua política externa, tem procurado apenas jogar um papel
de “Bom Samaritano” no contexto da sub-região, sem qualquer intenção de
projectar a sua imagem como uma potência emergente. Apesar de não
subscrevermos integralmente a perspectiva de Bembe (2016), quando este diz
que:
8
https://www.angop.ao/noticias/politica/rdc-e-ruanda-criam-mecanismos-para-normalizacao-das-relacoes/
16
pragmática do equilíbrio dos poderes em África e nas relações Sul-Norte,
a que se aditam os reajustamentos geoestratégicos ditados pela
conjuntura e uma necessária aposta na diversificação de parcerias
estratégicas em todos os continentes, através da diplomacia económica e
da diplomacia de defesa (pp. 48-49).
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3. Conclusão
À guisa de conclusão, vale dar nota que, este ensaio teve como escopo analisar o
papel do Estado angolano na prevenção, gestão e resolução do diferendo que
tem colocado de costas viradas os governos da RDC e Ruanda. Tal como
deixamos claro ao longo desta reflexão, na análise destas questões, recusa-se,
desde logo, a adopção duma perspectiva subjectiva e voluntariamente
apaixonada, sendo que a prudência e a razão sugerem-nos um viés ou linha de
pensamento mais objectivo e coincidente com a realidade dos factos, no terreno
diplomático e militar da região dos Grandes Lagos.
E, last but not least, gostavamos de reforçar que, sem desprimor às posições
defendidas por Rocha (2013), Bernardino (2013) e Bembe (2016), que advogam
para Angola uma posição de potência regional e Estado-director em África, e
malgrado reconhecermos este país como destacado player do xadres
geopolítico da África Subsaariana e Central, desde logo o seu contributo e
voluntarismo na busca de soluções pacíficas para os conflitos entre Ruanda e
Uganda, RDC e Ruanda, na RCA, no Tchad, Sudão do Sul, etc, ainda assim,
julgamos ser mais realista situar Angola na categoria de potência emergente e
não um Estado-director em pleno. E quanto ao sucesso que espera-se da sua
mediação no diferendo entre a RDC e o Ruanda, julgamos que este dependerá
muito mais da vontade dos dois Estados em ultrapassar a situação, do que de
qualquer Agenda ou Roteiro imposto por Angola.
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4. Referências Bibliográficas
Augé, M., & Colleyn, J. (2008). A Antropologia. 2.ª ed., Edições 70, p. 49.
Carneiro, E.M., & Ferreira, M.E. (2011). África Sub-Sahariana, Meio Século
Depois. Edições Colibri, pp. 29-30.
M'Bokolo, E. (2011). África Negra: História e civilização. 2.ª ed., Edições Colibri, p.
611.
Pereira, A.G., & Quadros, F. (2000). Manual de Direito Internacional Público, 3.ª
ed., Revista e Aumentada, Almedina, pp. 19-25
19
Tribunal de Contas Europeu. (2018). Relatório Especial. Arquitetura de Paz e
Segurança Africana: É necessário reorientar o apoio da EU, Nº 20.
https://www.eca.europa.eu/Lists/ECADocuments/SR18_20/SR_APSA_PT.pdf
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- ANEXO 1
Da esquerda para direita, Paul Kagame, presidente do Ruanda; João Lourenço, presidente de
Angola e Félix Tshisekedi, presidente da RDC.
Fonte: www.angop.ao/noticias/politica/antony-blinken-destaca-mediacao-de-angola-na-rdc/
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- ANEXO 2
Fonte: https://www.angop.ao/noticias/politica/rdc-e-ruanda-criam-mecanismos-para-normalizacao-
das-relacoes/
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- ANEXO 3
Fonte: https://www.angop.ao/noticias/politica/rdc-e-ruanda-criam-mecanismos-para-normalizacao-
das-relacoes/
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