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INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO

ISCED- HUÍLA

MESTRADO EM ENSINO DA HISTÓRIA DE ÁFRICA

MÓDULO: ARQUEOLOGIA, MUSEOLOGIA E PATRIMÓNIO AFRICANO

RELATÓRIO FINAL DA ACTIVIDADE DE CAMPO: PROSPEÇÃO E


SONDAGEM DE TESTE NA ÁREA TÚRISTICA DA CASCATA DA HUILA.

Orientadores: Prof. André Filipe de Magalhães Lima Alves Serdoura, Ph.D

Prof. Augusto Joaquim de Carvalho Lança, Ph.D

Estudante: Felisberto Victor Chiumba Luciano

Lubango, Setembro de 2022


ÍNDICE

1. Introdução ……………………………………………………………………….. 2
2. Enquadramento Histórico, Económico e Político da Comuna da Huíla
………….….……………………………………...…………………………….… 3
3. Metodologia do Trabalho Arqueológico ……………………….……………… 6
3.1. Prospecção ……………………………………………….…………………. 6
3.2. Escavação …………………………………………………………..………. 7
3.3. Processamento e Análise da Informação …………………………….….. 8
3.4. Divulgação dos Resultados da Pesquisa ……………………………..… 9
4. Descrição da Actividade de Campo ……………………………………….…. 9
5. Conclusão ………………………………………………………………….….. 15
6. Referências Bibliográficas ………………………………………………..….. 16

1
1. Introdução

O presente relatório resulta de uma actividade de campo, realizada no âmbito do


módulo “Arqueologia, Museologia e Património Africano”, do curso de mestrado
em Ensino da História de África, do Instituto Superior de Ciências da Educação
(ISCED-Huíla), sob orientação dos professores André Filipe de Magalhães Lima
Alves Serdoura e Augusto Joaquim de Carvalho Lança, consubstanciada na
prospecção e sondagem de teste, na área turística da Cascata da comuna da
Huíla, no município do Lubango.

Destarte, cumpre frisar que, a actividade teve como mote aliar a teoria à prática,
como uma espécie de levantamento de sondagem com a escavação em apenas
duas camadas, para ter um perfil estratigráfico da região. E no contexto da
metodologia de trabalho utilizada, dividiu-se a turma do mestrado em dois grupos,
que de forma alternada realizaram estudos botânicos e arqueológicos, pois o
carácter multidisciplinar da Arqueologia, exige-a buscar alguns aportes de outras
áreas científicas, sem as quais não é possível realizarem-se estudos
arqueológicos, no sentido mais rigoroso da palavra.

Portanto, ao longo deste relatório, num primeiro momento, proceder-se-á ao


enquadramento histórico, político e económico da comuna da Huíla, destacando
as suas potencialidades económicas e não só, e na sequência, discutir-se-ão os
pressupostos teóricos da metodologia do trabalho arqueológico, e last but not
least, far-se-á uma descrição objectiva da actividade de campo, terminando com a
conclusão e apresentação da bibliografia que serviu de base para a elaboração
deste relatório.

2
2. Enquadramento Histórico, Político e Económico da Comuna da Huíla

Enquadramento Histórico
No dia 01 de Agosto de 1860, foi fundada a então Alba Nova, tendo sido nomeada
pelo capitão-mor António Rodrigues Algarve chefe fundador e pelo padre
capuchinho Gabriel de Braga1. Antes da colonização, o território da comuna da
Huíla era parte da ombala (sobado) do Lupolo, uma das cidades- Estado do reino
de Humbi-Onene. Fazia sua fronteira na mulola (leito seco de rio) do Mabuie da
Cascata. No momento da chegada dos europeus, o território era controlado por
Canina-io-Hamba, o soba local.

O padre Carlos Duparquet, com um grupo de auxiliares, conseguiu permissão do


soba e instalou-se brevemente como uma missão científica e religiosa em 1866,
mas acabou por ser expulso pelo governante nativo. Não tendo sido efectivada a
primeira empreitada, o plano de uma missão católica foi abandonado.

De regresso à região, em 1881, os padres Duparquet e José Maria Antunes


negociaram com o novo soba uma área de 2000 hectares de terreno para o
estabelecimento da "Missão Católica da Huíla" e de uma vila agrária indexada à
ombala. A missão religiosa foi basilar para que se estabelecessem em suas
proximidades às colónias de São Januário da Humpata (1882), de Sá da
Bandeira (1885) e de São Pedro da Chibia (1885).

Fig. 001- Missão Católica da Comuna da Huíla (Google, 2022).

1
Fonte: https://www.facebook.com/ComunadaHuila2020

3
Enquadramento Político

A comuna da Huíla constitui-se numa das quatro comunas adstritas ao município


do Lubango, capital da província da Huíla. A sua população encontra-se estimada
em cerca de 55.000 habitantes, e é constituída fundamentalmente por indivíduos
pertencentes ao grupo étnico Muila, e alguns luso-descendentes. Tendo no topo
da hierarquia político-administrativa um administrador comunal2, auxiliado por um
administrador comunal-adjunto3, a Administração Comunal da Huíla é um órgão
desconcentrado da Administração Municipal do Lubango, responsável pela
materialização das políticas públicas gizadas ao nível do governo central
(nacional, provincial e municipal), com o fito de promover o desenvolvimento
social e económico das populações daquela localidade.

Fig. 002- Edifício da administração comunal da Huíla (Fonte: Página oficial do Facebook da
administração comunal da Huíla, 18 de Agosto, 2022).

Enquadramento Económico

Localizada a 20 km do município sede do Lubango, aquela circunscrição territorial


tem na agricultura (de sequeiro) e pecuária a base da sua economia. Na
agricultura, produz-se essencialmente leguminosas, com destaque para o feijão, a
soja, favas, ervilha, o grão-de-bico e o amendoim; ainda alguns tubérculos como,
2
Cargo actualmente exercido pelo senhor Hermínio da Silva Gomes.
3
Cargo ocupado pelo senhor Óscar Benvindo Baptista Cassule.

4
a batata-rena, batata-doce e beterraba, bem como cereais como, o milho e o
massango4.

A agricultura nesta localidade é também marcada pela existência de nakas, que


são sobretudo zona de horticultura (cultura em bordadura), onde produz-se
fundamentalmente, a couve, alho, alface, cebola, cenoura, pimenta, etc.

Fig. 003- Da esquerda à direita, campo de massango e zona de horticultura do Senhor Zé Manel,
um agricultor da localidade (Foto: Leonardo Chiengo, 2022).

Já a pecuária, centra-se sobretudo na criação de gado bovino. Cumpre frisar que,


as actividades produtivas naquela localidade, são afectadas não só pela escassez
de água, devido à seca que se abate sobre a região, como também pela falta de
ferramentas e tecnologias modernas que condicionam as produções agrícolas e
pecuárias. Sobre as actividades económicas, há ainda a realçar as trocas
comerciais, que se realizam artesanalmente, em mercados e feiras, sendo
relançadas por iniciativas privadas ou particulares.

4
Conhecido pelo nome científico Pennisetum glaucum, da família das Poaceae, este é um cereal
nativo do continente africano, importante na agricultura de subsistência e adaptado aos climas
desérticos-quentes, provavelmente, num futuro breve desempenhará um papel importantíssimo na
agricultura mundial e para a sobrevivência humana, por causa da escassez de chuvas decorrentes
das alterações climáticas (Lança, 2022).

5
Fig. 004- Uma manada (bois e vacas) do senhor Zé Manel em pasto livre (Foto: Leonardo
Chiengo, 2022).

3. Metodologia do Trabalho Arqueológico

Segundo Ki-Zerbo (2010), “Os métodos científicos utilizados pela Arqueologia têm
o mérito de serem universais. Podem ser aplicados tanto na África como na
Europa, Ásia ou América, embora a maneira de aplica-los possa variar de um
lugar para outro” (214).

Na perspectiva de Ribeiro (2001, p. 20), pode-se considerar quatro grandes


pilares no processo de investigação arqueológica, nomeadamente: a
prospecção, a escavação, o processamento e análise de informação e a
divulgação. Malgrado uma abordagem mais detalhada e extensiva sobre cada
um destes pilares não caber na economia deste trabalho, ainda assim, a seguir
passamos a descrevê-los brevemente.

3.1. A Prospecção

O conceito de prospecção arqueológica tem conhecido sucessivas alterações à


medida que o próprio conceito de Arqueologia tem evoluído. No entanto, as
técnicas de prospecção começaram a desenvolver-se nos anos 70 do século XX

6
e deram origem a outros ramos da Arqueologia, como a Arqueologia Extensiva,
Especial ou da Paisagem. Importa referir que, segundo Torres (2001, p. 10) a
prospecção arqueológica tem que ver com a procura de fontes. Este método foi
desenvolvido inicialmente na América do Norte e Europa mas é aplicável em
todas as regiões do mundo.

E de acordo Ribeiro (2001, p. 20), a prospecção visa essencialmente a


identificação de sítios arqueológicos a partir de vestígios, indicadores dos
mesmos. Para tal são usadas técnicas variadíssimas assimiladas de outras
ciências como Geologia, Geografia ou a Ecologia, bem como aperfeiçoadas as
técnicas de identificação, que vão desde a prospecção sistemática da superfície à
prospecção aérea, baseada na foto-interpretação, passando por um amplo
conjunto de técnicas de análise cartográfica.

Entre estas técnicas encontram-se igualmente aquelas referentes ao estudo do


subsolo por meios geofísicos, geomagnéticos e electromagnéticos. Destes
métodos destacam-se ainda os geoeléctricos, tratando-se da prospecção da
resistividade electromagnética e georadar. É ainda importante dizer que para a
realização de um trabalho de prospecção, objectivando localizar os sítios
arqueológicos, deve proceder-se a um rigoroso e exaustivo estudo de toda
informação disponível sobre a área em estudo, podendo cruzar-se as seguintes: a
análise das fontes históricas (documentos, inclusive as fontes orais), a foto-
interpretação, a prospecção geofísica, a prospecção directa no terreno e a
sondagem prospectiva arqueológica (Ribeiro, p. 221-22).

Destarte, importa dizer que, a prospecção arqueológica, tendencialmente não


intrusiva, inclui um conjunto de acções que têm como fim último, caracterizar em
termos patrimoniais, uma determinada área de forma não invasiva, visando a
minimização de impactes sobre o eventual património arqueológico e deve ser
realizado previamente à fase de intervenção no terreno.

3.2. A Escavação

Reina quase plena unanimidade entre os arqueólogos que, a escavação é um dos


pilares mainstream da prática arqueológica, constituindo o procedimento

7
fundamental de recuperação dos testemunhos arqueológicos do passado. Na
perspectiva de Frédéric, (1980):

Actualmente, a escavação é vista como a exumação sistemática dos


depósitos arqueológicos estratificados, que se encontram total ou
parcialmente enterrados, sendo tomado como o procedimento de
recuperação de testemunhos materiais do passado (p. 11).

Cabe frisar que, quando falamos de escavação, não estamos a nos referir
simplesmente à um processo de exumação de artefactos, mas acima de tudo do
percurso e da história dos homens nos diferentes lugares em que viveram, tal
como disse Sir. Mortimer Wheeler, na sua bem-sucedida tentativa de derrube da
visão materialista do objectivo da escavação arqueológica, ao proferir aquela que
viria a ser considerada uma das mais famosas e citadas frases em Arqueologia,
segundo a qual “the archaeologica excavator is not digging up things but peoplel”.

Assim, a escavação arqueológica pode configurar-se como sondagens prévias


com função de diagnóstico, com vista a recolha de dados preliminares, ou
assumir um carácter abrangente, estendendo-se pela área a ser intervencionada
de modo a caracterizar exaustivamente os contextos nela presentes. De acordo
com Serdoura (2022), as sondagens, que podem ser manuais ou mecânicas,
consistem na abertura de pequenas áreas de escavação para avaliar o risco e
sensibilidade arqueológica do sítio e, eventualmente, caracterizar os níveis
arqueológicos identificados.

3.3. Processamento e Análise da Informação

Depois de concluir-se o processo de escavação, segue-se a fase da investigação


arqueológica tida como a mais morosa e dispendiosa, ou seja, o processamento e
análise da informação. Este é, desde logo, um processo de manipulação dos
vestígios recolhidos na escavação, sejam eles artefactos, ecofactos, registos,
descrições, desenhos ou fotografias, com vista à sua sistematização,
interpretação e transformação em informação a ser divulgada a posteriori
(Ashmore & Sharer, 1995, citado por Ribeiro, 2001).

8
3.4. A Divulgação dos Resultados da Pesquisa

Finalmente, cumpre apresentar este que é considerado por alguns autores, a


semelhança de Ribeiro (2001, p. 37), “o ponto mais alto do processo de
investigação arqueológica, tratando-se, naturalmente, da divulgação dos
resultados, normalmente feita mediante publicação de artigos, teses, relatórios e
exposições”.

Depois de nesta primeira parte do nosso trabalho nos termos dedicado


essencialmente na abordagem teórica sobre a metodologia do trabalho
arqueológico, passaremos em seguida à descrição da actividade de campo
realizada sob orientação do professor André Serdoura.

4. Descrição da Actividade de Campo

A actividade de campo que nos propomos descrever, tal como deixamos dito, foi
integrada numa formação teórico-prática de Arqueologia de campo, que decorreu
no dia 2 de Agosto do corrente ano, na zona turística da Cascata da Huíla, na
comuna com o mesmo nome, sob orientação do professor André Serdoura, que
visou essencialmente iniciar os estudantes do curso de mestrado em Ensino da
História de África, do Instituto Superior de Ciências da Educação (ISCED-Huíla),
ao processo de levantamento de sondagem com escavação em apenas duas
camadas, para ter-se um perfil estratigráfico da região.

Antes de avançarmos aos resultados desta visita sumária, apresentamos


telegraficamente aquilo que até à data presente se sabe destes recintos murados
da Huíla. Assim sendo, importa dizer que na perspectiva de Serdoura &
Guimarães (2015, p. 83), “a região da Huíla já foi identificada, no século passado,
como possuidora de um rico passado histórico e arqueológico”.

E apesar de Ferreira (2013) afirmar que há uma gritante escassez de bibliografia


que fornecem informações sobre as fortificações de pedra, na província da Huíla,
uma visita ao terreno, fundamentalmente na zona turística da cascata da Huíla,
confirmaram a existência de grande parte dos recintos5 indicados nas fontes

5
Segundo Ferreira (2013, p. 87), é provável que existam ao nível da província da Huíla, 28
monumentos de pedra.

9
disponíveis. Sabe-se desde já que aquela zona, pelos vestígios nela encontrados,
terá registado presença humana desde a pré-história. Daí, resulta evidente que
um estudo mais pormenorizado da zona poderá revelar mais sobre os homens
daquele tempo e os seus feitos, com fortes probabilidades de relançamento do
turismo arqueológico na região e assegurar uma melhor consolidação da história
pré-colonial da província da Huíla6.

De volta ao estudo de campo, importa referir que a aventura no terreno começou


com a subida difícil ao local do estudo, numa zona cuja altitude máxima atinge
aproximadamente os 1.747 metros, caracterizada por uma vegetação constituída
principalmente de pequenos arbustos, tendo os estudantes percorrido a pé, vários
quilómetros de distância. Chegados ao local da escavação, sob orientação do
professor André, estes foram informados que deviam antes subir até à parte mais
alta do cerro, para que pudessem observar melhor os recintos murados daquela
zona. Ao longo do percurso, bastante acidentado, foi possível encontrar alguns
utensílios antigos feitos à base de barro (objectos de cerâmica), bem como
observar a existência de covas nas rochas (moinhos), feitos mecanicamente (pois
percebe-se que seja pouco provável que tenham aparecido por desgaste natural
das rochas), usados para moer farinha de milho e massango.

Fig. 005- Objecto de cerâmica achado no local do estudo (Foto: Leonardo Chiengo, 2022).

6
Bahu, H.P.A. (Angop, 22 de Agosto, 2022).

10
Chegados ao local, os estudantes constataram a existência de um recinto murado
de forma quase circular, constituído por um alongamento de muralhas,
assentados em afloramentos rochosos, que constituíam-se como defesas naturais
contra forças invasoras. Pelo seu formato, estes recintos configuravam núcleos de
povoamento. Alguns troços da muralha não estão muito bem preservados, sendo
que em alguma parte do recinto, a altura do muro não passa de um metro de
altura. De acordo com Serdoura & Guimarães (2015, p. 84) “[…] a probabilidade
de estes muros não terem maior altura deve-se ao facto de, muito possivelmente,
terem sido saqueados (para reutilização de pedra) ou por terem sofrido processos
de destruição natural”.

Fig. 006- Alongamento de muralha destruída (Foto: Leonardo Chiengo, 2022)

Uma das provas mais do que evidentes de que aquelas muralhas não são obras
espontâneas da natureza mas sim o resultado do engenho criador dos indivíduos
que viveram naquela zona em períodos, provavelmente, próximos ao Paleolítico
Superior, é o facto de, ao longo da muralha, na base, poder-se observar a

11
existência de sedimentos rochosos de maior calibre a servirem de base de apoio
à cintura da muralha e sustentarem os blocos mais pequenos, evitando assim o
desabe de todo estrutura. Associado à isto está o facto de, existirem pequenas
aberturas nos muros, feitas, provavelmente, por razões securitárias, usadas para
controlar a aproximação ou chegada de povos invasores.

Fig. 007- Vigia na muralha (Foto: Leonardo Chiengo, 2022).

Na mesma extensão, pode-se observar a existência de outros recintos que,


tomando como suporte estruturas rochosas de grande porte, formam recintos
murados circulares, com uma altura máxima de 1,5 m, apresentando alguns
vestígios de presença humana, ocupando igualmente grandes áreas e de

12
traçados mais caprichosos, visando proteger grandes aglomerações
populacionais7.

Depois de concluída a observação dos recintos amuralhados, os estudantes,


juntamente o professor-orientador do estudo, desceram à zona seleccionada,
após à prospecção, para a realização da escavação. Chegados ao local, para
efectivação do processo de escavação, o professor André, auxiliado pelo
professor Jorge, identificaram a área de intervenção, limparam o local,
implantaram uma sondagem de 2 x 2 m (Sond. 1), montaram a quadrícula, tendo
esta resultado da soma de todos os lados, e em seguida achou-se a raiz da soma,
que passou a configurar o valor da fita no interior da quadrícula, conforme
ilustrado na figura abaixo.

Fig. 008- Sondagem e montagem da quadrícula (Foto: Leonardo Chiengo, 2022).

7
Ferreira, S.S. (2013). Recintos amuralhados da província da Huíla. Africana Studia- Revista
Internacional de Estudos Africanos, Centro de Estudos Africanos da Universidade do Porto, Nº 20,
p. 87.

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Vale destacar que, procedeu-se o registo inicial da informação gráfica mediante
recolha de dados através de fotografia, desenhado à escala, levantamento
fotogramétrico por drone. Fez-se igualmente o levantamento da informação
topográfica, isto é, as coordenadas e altitude da área, tendo como referência o
nível médio do mar.

Fig. 009- Estudante Octaviano Bernardo procedendo ao levantamento fotogramétrico por drone
(Foto: Leonardo Chiengo, 2022).

Em seguida efectuou-se à identificação e remoção das primeiras camadas,


identificação das unidades estratigráficas seguintes e delimitação das mesmas,
sempre acompanhada do competente registo. Importa salientar que, ao longo do
processo de escavação da primeira camada foram recolhidos alguns vestígios de
cerâmica.

Portanto, visto que aquela actividade era meramente exploratória, ficou-se apenas
pela escavação e registo da primeira camada, sendo que, um estudo mais

14
aprofundado naquela região, da famosa Huíla (1) e Huíla (2), está já em curso,
numa parceria entre o Centro de Estudos Africanos da Universidade do Porto
(Portugal) e o Instituto Superior de Ciências da Educação (ISCED-Huíla), com
vista o mapeamento dos sítios arqueológicos.

5. Conclusão

A guisa de conclusão, nunca é demais reiterar que este relatório, elaborado como
resultado da actividade de campo, realizada no âmbito do módulo Arqueologia,
Museologia e Património Africano, do mestrado em Ensino da História de África,
do ISCED- Huíla, visou fundamentalmente descrever as acções mais relevantes
da referida actividade. Tal como deixou-se dito, a região da Huíla possui um
enorme potencial arqueológico, e só futuras investigações poderão, no curto
prazo, revelar a história “enterrada” naquela região.

E tal como asseverou (Catalán, 1995, citado por Ribeiro, 2001), muitos são os
produtos da actividade humana do passado que sobreviveram até aos nossos
dias. E é exactamente sobre esses produtos, cujo significado merece uma
resposta informada e rigorosa interpretação, que actua a investigação
arqueológica, pois tais produtos em si mesmos não possuem valor histórico, mas
só o adquirem quando registados e interpretados pela Arqueologia, segundo o
contexto topográfico e estratigráfico em que se encontram.

E porque a Arqueologia, que teve nos seus primórdios um carácter


eminentemente coleccionista, classificatório e tipológico, organizou-se
cientificamente ao longo do século XIX, tendo, desde então, alterado
substancialmente o modo de olhar e compreender o passado, isso resultou num
avanço significativo ao desenvolvimento da História de África (Ribeiro, 2001, p.
38).

Daí que, atribui-se um enorme valor aos diferentes projectos de investigação


arqueológica que estão sendo desenvolvidos nesta região, particularmente na
comuna da Huíla, pois contribuirão grandemente para o desenvolvimento cultural,
científico, económico e social daquela localidade.

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6. Referências Bibliográficas

Ferreira, S.S. (2013). Recintos amuralhados da província da Huíla. Africana


Studia- Revista Internacional de Estudos Africanos, Nº 20, pp. 85-87.

Ki-Zerbo, J. (Ed.). (2010). História geral de África I: Metodologia e pré-história da


África. Comité Científico Internacional da UNESCO para Redacção da História
Geral de África. 2ª ed. rev., Vol. I, 213-214.
http://www.ammapsique.org.br/baixe/historia-da-africa-volume-um.pdf

Lança, A.J.C. (2022, 27 Julho). Etnobotânica. [PowerPoint slides]. ISCED-


Instituto Superior de Ciências da Educação da Huíla.

Ribeiro, M.C.F. (2001). A arqueologia e as tecnologias de informação: Uma


proposta para o tratamento normalizado do registo arqueológico. [Dissertação de
Mestrado em Arqueologia, Universidade do Minho].
https://repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/8603/1/TESE_MESTRADO.p
df

Serdoura, A. (2022, 28 Julho). Arqueologia, Museologia e Património Africano.


[PowerPoint slides]. ISCED- Instituto Superior de Ciências da Educação da Huíla.

Torres, A. (2002). Prospecção terrestre. Ângulo, 1, pp. 8-15.


http://www.cta.ipt.pt/AnguloDownload/revista/Revista_1_Angulo.pdf

Serdoura, A. &., Guimarães, J. (2015). Prospeção no sul de Angola: O caso dos


recintos murados da Huíla. Africana Studia- Revista Internacional de Estudos
Africanos, Nº 24, pp. 83-84.
https://ojs.letras.up.pt/index.php/AfricanaStudia/issue/view/516

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