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ISCED- HUÍLA
Vivendo apenas com a mãe e mais três irmãos mais novos, em virtude de seu pai
e o irmão mais velho terem ido ao “mato 1” cultivar, conforme referiu Evenilson,
apesar do cansaço físico decorrente da actividade que realiza diariamente, não
deixou de frequentar a Escola, tendo transitado este ano para a 3ª classe, numa
instituição de ensino público, localizada num bairro muito distante da sua casa.
1
Designação equivalente à localidade do interior ou campo, onde a actividade económica principal é a
agricultura e pastorícia.
1
completado 6 anos, sendo que, aquelas cujas idades estão compreendidas entre
os 12 e 14 anos, e que não tenham concluído o ensino primário, beneficiam de
programas específicos de apoio pedagógico para permitir a sua conclusão.
“A minha mãe lava a louça, limpa o chão e cozinha para os cães 2”. É desta forma
que Evenilson descreve as funções de sua mãe, trabalhadora doméstica à dois
anos, numa residência no bairro Casa Verde. É interessante notar que, um dos
traços partilhados das famílias lubanguensses em situação de vulnerabilidade, é o
facto de o seu sustento ser suportado fundamentalmente pelas mulheres, sendo
que, os homens (maridos), sob pretestos vários, entre os quais, a prática da
agricultura nas localidades do interior, acabam deixando aos ombros das
mulheres este pesado encargo.
Evenilson, apesar de iniciar a "vida adulta” muito cedo, tem igualmente sonhos de
menino. Segundo ele, quando for adulto deseja tornar-se padre ou pastor. E tem
clara consciência de que para tal, terá de percorrer um longo caminho, que
naturalmente passará pela formação académica.
2
Conversa com Adriano Jamba “Evenilson” (2022, 3 de Julho).
2
Sem qualquer bilhete de identificação 3 que lhe outorgue direitos enquanto cidadão
nacional, Evenilson sonha um dia ter uma cédula pessoal ou bilhete de identidade
que lhe possa habilitar à plena cidadania e ao gozo dos direitos inerentes à sua
nacionalidade. Apesar de toda propaganda oficial sobre as políticas públicas do
Estado angolano sobre o direito de personalidade e identidade, cuja expressão
maior é o programa de registo à nescença, ainda há um hiato enorme entre as
intenções que tais programas anunciam e a realidade dos factos, sendo que
milhares de angolanos, entre os quais crianças, permanecem sem qualquer
documento de identificação nacional.
3
Até 2019, 14 milhões de angolanos não tinham o bilhete de identidade, constituindo naquela altura, metade
da população (Jornal de Angola, edição do dia 27 de Maio de 2019).
4
Jornal de Angola. Disponível em: https://www.jornaldeangola.ao/ao/noticias/mais-de-tres-mil-criancas-
envolvidas-em-trabalho-infantil/
3
enquanto na segunda parcela do país, a zona fronteiriça de Santa Clara regista
um número enorme de menores na mendicidade e na venda ambulante. Em
relação à Luanda, o director-geral do INAC disse que a situação é, igualmente,
preocupante, tendo em conta que se regista um grande número de crianças no
comércio ambulante, na mendicidade no centro das cidades e envolvidas no
trabalho doméstico.
5
Preferimos usar a expressão frágeis para não transparecer a ideia dum quadro dramático no que concerne às
políticas locais sobre a criança, em Angola. Disponível em: https://www.jornaldeangola.ao/ao/noticias/mais-
de-tres-mil-criancas-envolvidas-em-trabalho-infantil/