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ISCED-HUÍLA
GRUPO Nº 10
Teresa Maliengue2
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Mestrando em Ensino da História de África pelo Instituto Superior de Ciências da Educação da Huíla
(ISCED-Huíla). Em 2021, frequentou o Curso de Formação Avançada “Desarmar as opressões atuais a
partir das epistemologias do sul: o capitalismo, colonialismo e patriarcado”, realizado em estreita
colaboração da Universidade de Sevilha, do Programa em Epistemologias do Sul do Centro de Estudos
Sociais da Universidade de Coimbra e do Programa Sur-Sur do Conselho Latino Americano de Ciências
Sociais (CLACSO). É Professor de História do II Ciclo do Ensino Secundário desde 2006. Desde 2017 exerce
o cargo de Subdirector Pedagógico no Colégio 1773-IESA. E-mail: felisbertoluciano9@gmail.com.
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Mestranda em Ensino da História de África pelo ISCED-Huíla. Directora Geral do Complexo Escolar “Paula
Franssinetti”, no Lubango. E-mail: tmaliengue@gmail.com.
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Em inglês, Action Research Project on Priorities for Peace-building in Angola.
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fim da guerra civil, que durou 27 anos, cuja paz foi alcançada em Abril de 2002. A
necessidade desta investigação baseou-se no reconhecimento dos vastos
desafios e riscos que Angola enfrenta no reforço do processo de paz, na garantia
da estabilidade do país e no desejo de contribuir positivamente para esse
processo.
Em bom rigor, na sexta secção deste relatório, que de resto constitui o centro
nevrálgico desta recensão crítica, com título “Coesão e tensões no seio das
comunidades na província do Huambo” começou-se, precisamente, por
explorar as tensões subjacentes às referidas comunidades conforme expresso
pelos entrevistados, concluindo com uma análise da organização das
comunidades e níveis de solidariedade no período pós-conflito armado na
província do Huambo.
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aproximava-se mais à um autêntico “cabo eleitoral” em vez de representante de
todos indivíduos na e da comunidade. E isso, naturamente, tem o potencial de
agudizar ainda mais os focos de tensão entre os membros da referida
comunidade, fragilizando e imperrando o processo de contrução da paz e da
realização de projectos de desenvolvimento comunitário.
E pior do que isso, é o facto de ter sido criado um sistema clientelar de fidelização
partidária entre as autoridades tradicionais que resultou numa bipolarização
politíco-partidária nas comunidades rurais e periurbanas do Huambo, tal como
asseverou num outro estudo o investigador Fernando Florêncio4 (2010: 169):
4
Cf. Florêncio, F. (2010). No Reino da Toupeira. Autoridades Tradicionais do M'balundu e o Estado
Angolano, Lisboa: Editora Gerpress, p. 169. ISBN: 978-989-96094-5-7
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Os dois partidos mataram e todos sabem disso (tradução nossa).
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tendenciosa, ou seja, tem sido objecto de alguma manipulação política com fins
eleitoralista que visam tão-somente o reforço e a manutenção do poder da parte
do partido que governa o país. E, a referência recorrente à UNITA como a única
força política que matou os angolanos durante a guerra civil (como se o MPLA
simplesmente tivesse distribuído chocolates e bolachas), além de beirar o ridículo,
configura uma tentativa de branqueamento da história de Angola, que em nada
contribui para o processo de construção de paz ainda em curso.
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Cf. NETO, M. C. (2001). Angola: The Historical Context for Reconstruction In ROBSON, P. (2001).
Communities and Reconstruction in Angola: The prospects for reconstruction in Angola from the
communities perspective, Development Workshop- Occasional paper Nº 1, Canada: Guelph, pp. 34-35.
ISBN: 0-9688768-0-1
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identifica-se com outros partidos políticos angolanos, mormente os na oposição,
sintam-se marginalizados ou não representados pelo governo.
O relatório deixa claro que, só uma comunidade coesa pode desenvolver uma
cidadania comunitária mais activa e comprometida com a paz social que habilita
os indivíduos a viverem e conviverem na diferença, fazendo do passado um
referencial para construção dum futuro baseado no perdão e reconciliação
comunitária genuína e sem laivos de ressentimentos, acusão gratuita ou
imputação de culpa unilateral sobre os erros do passado.
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Finalmente, o relatório em análise, longe de ser uma receita acabada de pronto
consumo, mas sim uma proposta de guião orientador para o governo e demais
organizações que têm nas comunidades seu escopo de acção, o interesse que
desperta é alargado, desde logo, porque permite confrontar diferentes
perspectivas sobre as causas da coesão e tensão nas comunidades angolanas,
particularmente as do planalto central, na província do Huambo e,
simultaneamente, relacionar as causas de tais tensões, identificar factores
propulsores de coesão intra e intercomunitária, cruzar indicadores, complementar
leituras e reiventar metodologias tendentes à prossecução da almejada paz e
desenvolvimento comunitário.