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Os silêncios na Lusofonia
A Lusofonia esconde em seu seio uma barreira invisível que atua no impedimento de
relações sociais mais alargadas e intensas no contexto da Comunidade dos Países de
Língua Portuguesa – CPLP. São temas silenciados nas interações socioculturais. Tais
silêncios, presentes não só nas relações culturais entre as múltiplas comunidades e nações,
mostram-se também nas relações interpessoais e familiares e geram desencontros que
fragilizam a comunicação e a construção de laços humanos balizados por uma ideia de
justiça, equidade e respeito às várias diversidades, de gênero, cultural, econômica, entre
outras.
Posto em pauta o grande silêncio a nos perpassar, podemos adentrar no vasto universo
dos silenciamentos da nossa Lusofonia. No âmbito da religião e política, o exame precisa
trazer à consciência nossos pontos em comum, inicialmente a tratar de como o
cristianismo associado ao poder político prestou o serviço de justificar a barbárie.
Distanciando-se dos seus louváveis propósitos de defesa da dignidade humana. Em que
medida não falar de política e religião, como é mantra na cultura brasileira, não seja para
contribuir com este silenciamento. Sem deixar de também indagar qual foi o efetivo papel
do Reino do Congo (Dom João I – Nizinga a Nkuwu, 1491), convertido ao Catolicismo
Apostólico Romano, na manutenção deste processo que hoje desejamos rememorar para
superar qualquer de seus traços que podem se fazer persistente.
referências, outros “outros”, aqui já referindo-nos aos temas da Filosofia sobre o que seja
o eu e da sua relação estruturantes com o outro (Vicente Ferreira da Silva, 1950). Teriam
sido estas narrativas libertadoras da opressão? Como segunda indagação, como as demais
religiosidades das regiões do continente africano em contato com a lusofonia foram
utilizadas para a manutenção das estruturas de poder colonial escravista? Teriam elas
colaborado de alguma forma para processos longevos de exercício de poder, como os que
se praticaram ao longo de duzentos anos na localidade próxima à hoje Cabinda?
(CONCONE, 1987). Ademais, lembrando a história de Zacimbra, a princesa de Cabinda,
vendida como escrava para um proprietário de terras no atual Espírito Santo, caberia
investigar mais sobre as dinâmicas das guerras e a punição, convenientes, com a
escravidão e como estas dinâmicas, dado os longos períodos de duração, marcaram as
religiosidades dos dois lados do Atlântico.
Em regime de violência não há diálogo, mas silenciamentos. Esta interdição parece ser
replicada e mantida ao longo da nossa história comum. Os vários regimes ditatoriais ao
longo da Lusofonia têm de modos variados cassado o lugar da fala, a praça, aquele lugar
onde real e simbólico que Sócrates abordava os atenienses na Grécia do século V a.C, não
tem muito espaço entre nós. Pelo que nos leva à escassez de recursos para resolução dos
conflitos mais prosaicos em nossas tecituras sociais.
O silenciamento nos gera a falta de intimidade e conexão com os nossos mais próximos,
de modo dissimulado, e mais agudo com os Outros da grande pátria cultural. Temos uma
narração em comum, mas ela é de silenciamentos, e por este silêncio aflora a angústia e
a desconfiança. Gerando o paradoxo de nos atrairmos, pois temos traços comuns que nos
permitem querer conhecer os elementos não-comuns, mas este projeto nunca se
consolida, não consegue ultrapassar as desconfianças e avançar para uma criatividade
cultural coletiva mais alargada. O medo de falar abertamente impede a criação de laços
mais profundos. Sendo ilustrado pelo que Mia Couto (2009) denominou de “meia voz”
ou em “diafonia”, como forma de expressividade da Lusofonia.
finalidade de promover esta aproximação da vida universitária. Hoje, esta é a via mais
factível e salutar de sermos uma comunidade efetiva.