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12 de Março de 2014
Sumario
1. Prefácio
3. A resposta Salesiana no trabalho com as crianças e os adolescentes que vivem e trabalham na rua
3.1 O Sistema Preventivo
3.2 Commissão Salesiana “Crianças e adolescentes em perigo”
5. As etapas de acolhimento, protecção, promoção e reinserção social das crianças e adolescentes que
vivem e trabalham na rua
5.1 Primeiro contacto
5.2 Centros de primeiro acolhimento
5.3 Centros de segundo acolhimento
5.4 Centros de formação Integral de Kala Kala e de Cabiri
5.5 Reinserção familiar
5.6 Casas-autonomia
7. Questões Metodológicas
10. Anexos
Anexo 1: Regulamento interno Casas de Primeiro Acolhimento (São Kisito e Magone)
Anexo 2: Regulamento interno Casas famílias
Anexo 3: Regulamento interno Casa Magone
Em todo o mundo existem muitas crianças que são definidas “em situação de rua” porque vivem
ou passam parte de seu tempo neste contexto. Na realidade esta definição abrange tipologia
diferentes de crianças que têm uma relação distinta com a rua. A própria literatura científica tem
dificuldade de conceituar essa população só na base desta única dimensão, por isso foram
elaboradas definições mais específicas que descrevem este grupo na base das actividades que
desenvolvem na rua (buscar renda, dormir, lazer, etc), ou na base dos laços familiares.
Definir claramente o grupo alvo dentro de uma estratégia de intervenção, é um passo
fundamental que permite alcançar os resultados e objectivos previstos. Ao mesmo tempo
etiquetar estas crianças pode contribuir a discrimina-las, por isso desde este ponto houve um
cambio na política de duas organizações importantes como Save the Children e Plan, as quais
decidiram, particularmente na África, de incluir as crianças em situação de rua sob o fenómeno
maior da “criança e jovens em movimento”.
Aqui apresentamos os subgrupos que constituem o grupo das “crianças e adolescentes em
situação de rua”:
Criança na rua: crianças que trabalham ou passam o seu tempo na rua e que têm um
suporte familiar inadequado ou esporádico.
Criança de rua: crianças que moram sozinhas nas ruas onde vivem e trabalham e que já
não mantém laços familiares por motivos diferentes.
Crianças candidatos para a rua: crianças trabalhando ou passando tempo na rua, mas que
ainda vivem com a sua família.
Na realidade estas definições ainda não incluem todas as tipologia de crianças em situação de rua,
porque há mais crianças que vivem circunstâncias diferentes daquelas acima citadas.Os grupos
aqui definidos estão bem delimitados referindo-se àquilo que uma criança faz nas ruas, mas a
criança não recorre à rua apenas para trabalhar como os grupos indicados supõem. Esta
percepção enganosa sobre as crianças em situação de rua tem consequências no modo como a
sociedade e os governos enfrentam o problema. Considerando só este aspecto, se constrói uma
imagem enganosa da realidade destas crianças que são considerados como delinquentes e
perigosos. Isto tem algumas consequências: a primeira é que, dessa forma, o conceito crianças de
rua não se refere àquilo que a realidade é; segundo, é que uma criança com problemas diferentes
(órfãos, com HIV/SIDA, deficientes, etc.) pode não gozar do devido sistema de protecção, porque
segundo a ideia que a sociedade tem ela, não faz parte daquelas crianças que tem direito a isso.
O grupo-alvo deste documento e sujeito do sistema educacional-pedagógico dos SDB é
constituído pela crianças de rua.
Segundo documentos oficiais as crianças de rua são, de modo geral, um fenómeno dos anos ’90 e
em particular do período em que a guerra recomeçou no final do 1992. Antes deste período
parece que não existiam crianças a viver na rua, isso pode ser explicado pelo fato do que a família
angolana era estruturada para o acolhimento da criança sem pais. O fenómeno dos meninos de
rua na vida urbana tornou-se evidente em meados e finais dos anos ‘90, à medida que as
condições sociais se deterioram em consequência da guerra. Uma contagem realizada em 2000
indica um número de 23.752 crianças em situação de rua, em Angola. Hoje em dia não existe uma
Comissão Inspectorial “Crianças e Adolescentes em perigo” 4
fonte estatística oficial que acerta o número dos meninos em risco, o grau de vulnerabilidade, e o
perfil deles.
Através do trabalho desenvolvido por algumas organizações da sociedade civil, foi possível
delinear um perfil das crianças e jovens de rua:
Idade: varia entre os 08 e 20 anos, com uma presença maior de adolescentes com idade
compreendida entre os 12 e 17.
Proveniência: a maioria dos meninos são naturais de Luanda, em particular dos bairros
mais pobres e desestruturados da capital, e somente uma pequena percentagem vem das
províncias (entre outras, Malanje, Huambo e Bié, Benguela).
Causas: 1) desestruturação da família angolana; 2) violências psicológicas e físicas contra a
criança; 3) pobreza.
Nível de escolaridade: muito baixo, tendo saído de casa antes de poder terminar os estudos
ou até logo depois de ter começado. Em média, os meninos têm uma escolaridade entre 1a
e 5a classe; poucos são os casos de rapazes com escolaridade maior.
Actividades: pequenos biscates que lhes garantem a possibilidade de comer, de comprar
alguma roupa, lavar-se e alimentar seus vícios/dependências. Os negócios aos quais eles se
dedicam estão, muitas vezes, em conexão estrita com o local onde eles se encontram. Os
mercados são áreas que garantem todo tipo de pequenos trabalhos como vender sacos,
ajudar as pessoas a levar as compras pesadas, limpar peixe. Outras áreas da cidade
facilitam seu empenho em lavar ou cuidar dos carros estacionados, engraxar sapatos, ou
fazer chamadas para os táxis.
Durante os últimos anos, o Governo Angolano tem demonstrado esforços na implementação dos
ODM; mesmo assim permanecem, a nível social, muitos desafios que ainda precisam do apoio dos
actores não estatais. O processo de desenvolvimento económico está a modificar rapidamente o
tecido social sem que sejam contextualmente adoptadas medidas eficazes de prevenção e
protecção para atenuar os fenómenos de exclusão social em acto. A vulnerabilidade de crianças e
adolescentes dos bairros mais marginalizados de Luanda, que em casos extremos termina no
fenómeno de vida na rua, é ainda problemática. Sinais preocupantes se manifestaram já a partir
do 2001, quando estimou-se que somente na capital Luanda o numero de crianças de rua
alcançava os 5.000 (www.streetkidnews.blogsome.com). Desde então foram feitos passos
significativos: hoje em dia está a ser implementada uma estratégia fundamental para a protecção,
a sobrevivência e a participação da criança (11 compromissos). Esta mesma estratégia, porém, não
conseguiu ainda alcançar os objectivos que se propôs, como evidenciado no 5° Fórum Nacional da
Criança de Junho de 2011.
Os Salesianos de Dom Bosco (SDB) trabalham em Angola desde o 1981 com as faixas mais
vulneráveis e marginalizadas da sociedade. No desenvolvimento das suas actividades, os SDB se
inspiram no modelo e no sistema educativo do próprio fundador São João Bosco.
São João Bosco foi um educador excepcional. Sua inteligência aguda, seu senso comum e sua
profunda espiritualidade levaram-no a criar um sistema de educação capaz de desenvolver a
pessoa em sua totalidade – corpo, coração, mente e espírito. O sistema valoriza devidamente o
crescimento e a liberdade, enquanto coloca o jovem no próprio centro de toda a empresa
educativa.
Para distinguir o seu método em relação ao sistema educativo de repressão, vigente na Itália no
século XIX, deu ao seu método o nome de sistema “preventivo”(existem experiências de
metodologias de sistema preventivo anteriores a Dom Bosco, mas ele o personalizou com um
estilo próprio). Com ele, procura prevenir a falta, o delito, o vicio e em consequência a
necessidade de castigo, salientando sempre os aspectos positivos do jovem capacita-o para ser o
melhor que puder. é uma maneira agradável, amável e integral de abordar a educação.
Cria um clima capaz de tirar de dentro (educere) o melhor de cada educando, que o predisponha a
mostrar-se claramente como é, que ajuda o jovem na aquisição de hábitos que lhe permitirão
optar durante sua vida por tudo o que é bom, saudável, alegre e construtivo.
Antes de prosseguir com este trabalho é necessário entender que o grupo alvo das intervenções
dos SDB são crianças e adolescentes de rua, intendendo com isso crianças e jovens adolescentes
urbanos, tanto no centro como nos subúrbios da cidade, forçadas por causas diferentes ou por sua
própria escolha a sustentar-se e viver na rua sem laço nenhum com os membros da sua família.
Nesta situação de falta de vulnerabilidade as crianças tornam-se vítimas de violações de direitos
fundamentais como o da educação, saúde, proteção e família. Este fenómeno, pela sua natureza
multidimensional, requer intervenções específicas para que as crianças possam gozar dos direitos
humanos aos que eles têm direito.
Os SDB em Angola estão a implementar com sucesso um programa holístico por etapas, baseado
no Sistema preventivo de Dom Bosco que visa a promover o processo de protecção, promoção e
reintegração desta camada. O programa mudou e cresceu nas suas componentes ao longo dos 20
anos através da experiência adquirida no trabalho diário. Estas são as suas componentes
principais:
pela vontade de estar entre os jovens compartilhando sua vida, olhando com simpatia o seu
mundo, atentos às suas verdadeiras exigências e valores;
pela acolhida incondicionada que se faz força promocional e capacidade incansável de
diálogo;
✓ como pastoral
Esta proposta original parte do encontro com os jovens lá onde eles se encontrem, valorizando o
património natural e sobrenatural que todo jovem traz em si, num ambiente educativo carregado
de vida e rico de propostas; ele é actuado através de um caminho educativo que privilegia os
últimos e os mais pobres; promove o desenvolvimento dos recursos positivos que têm, e propõe
uma forma particular de vida cristã e de santidade juvenil.
✓ como espiritualidade
O Sistema Preventivo encontra sua fonte e centro na experiência da caridade de Deus, que
antecede toda criatura com a sua Providência, acompanha-a com sua presença e salva-a dando a
vida.
Essa experiência dispõe o educador a acolher a Deus nos jovens, convencido de que neles Deus lhe
oferece a graça do encontro com Ele, chamando-o a servi-lo neles, reconhecendo a sua dignidade,
renovando a confiança em seus recursos de bem e educando-os à plenitude da vida.
A caridade pastoral cria uma relação educativa na medida do adolescente e do adolescente pobre,
fruto da convicção de que qualquer vida, mesmo a mais pobre, complexa e precária, traz em si,
pela presença misteriosa do Espírito, a força do resgate e a semente da felicidade.
✓ O educador
No trabalho de reinserção social das crianças de rua, é necessário sublinhar a importância da
figura do educador quanto ao êxito ou fracasso do trabalho de equipa. O educador, para
desempenhar o seu trabalho segundo as directrizes de dom Bosco,tem que ser uma pessoa
paciente e persistente, que saiba escutar, disponível (na presença, na partilha, no estar com),
atencioso (preocupado com a criança), dedicado, humilde, capaz de sentir o que o menino sente
para entender o seu comportamento. Mais ainda uma pessoa que abra visão, que acompanhe,
que aconselhe, que visite, que motive, que seja carinhoso, simples e que saiba fazer a diferença,
uma pessoa que, partilhando a fé, possa acompanhar os meninos no desenvolvimento de seu
sentido religioso. Ele tem que tornar-se um modelo de comportamento.
Para tornar cada vez mais eficaz o trabalho de acolhimento e acompanhamento das crianças, os
SDB pensaram criar um regulamento interno não só para as crianças mas também para os
educadores. Respeitar o regulamento significa respeitar o trabalho da Instituição, partilhar os
objectivos educativos, pedagógicos e pastorais, e sobretudo significa ter sempre em consideração
o fim ultimo deste trabalho, ou seja o bem das crianças acolhidas nos centros.
No regulamento constam os requisitos necessários para ser admitido como educador, as normas a
cumprir e os comportamentos e atitudes éticas que o educador deve ter em conta de forma a ser
exemplo para os meninos.
Se em nossas casas se puser em prática este sistema, creio poderemos alcançar grande resultado,
sem recorrermos a pancadarias, nem a outros castigos violentos. Há quarenta anos, mais ou
menos, que trato com a juventude, não me lembra ter usado castigo de espécie alguma. Com o
auxílio de Deus, não só obtive sempre o que era de dever, mas ainda o que eu simplesmente
desejava, e isso daqueles mesmos meninos dos quais se havia perdido a esperança de bom
resultado.
O objectivo geral deste projecto é contribuir para a promoção dos processos de igualdade e
inclusão social e para a melhoria das condições de vida do grupo mais vulnerável da sociedade
angolana: as crianças, os adolescentes e os jovens.
O facto de abordar os grupos de meninos mais isolados e pobres da população ajuda o País todo
no seu processo de desenvolvimento global e constitui também um passo indispensável para
atingir os 11 Compromissos de protecção da criança, assumidos pelo Governo Central no III Fórum
Nacional sobre a Criança realizado em 2007 em Luanda. A falta de protecção das crianças, dos
adolescentes e jovens e das famílias excluídas do desenvolvimento da sociedade impede o alcance
do bem-estar de todos.
Destaca-se que desde a segunda etapa começa o processo de localização da família, que tem
como objectivo a reintegração voluntária do menino no seio do ambiente familiar, assim que ele e
a família estiverem prontos para voltar a acolher-se mutuamente.
Localização: Largo Primeiro de Maio, Mercado de São Paulo, Rua dos Combatentes, Parque dos
Coqueiros, Parque da Independência, Mercado dos Congoleses, Área Ex Roque Santeiro e
Miramar.
A Equipa de Rua, actualmente operativa no processo de reintegração social dos Salesianos de Dom
Bosco, é formada por esses membros: um responsável da comunidade salesiana, educadores e
voluntários que se dedicam, no seu tempo livre, a esse tipo de actividade social. Vista a
importância nevrálgica do trabalho de sensibilização na rua, de onde começa todo o processo de
educação, reabilitação e reinserção familiar e social dos meninos, no início do projecto, vai ser
criada uma nova equipa e vai ser reforçada a equipe existente com a inserção de alguns
profissionais. O coordenador, o enfermeiro e o operador social especializado garantirão maior
impacto ao trabalho desenvolvido com os beneficiários na estrada, favorecendo um planeamento
Comissão Inspectorial “Crianças e Adolescentes em perigo” 12
mais organizado das actividades e do tempo, aumentando a eficácia de cada encontro e
acompanhando as demandas específicas de cada um dos meninos.
O contacto é feito nas áreas onde se reúnem a maioria dos meninos de rua em Luanda. A tarefa da
equipe é de aproximar os meninos e estabelecer com eles uma relação de confiança por meio de
actividades de entretenimento. Estes encontros são feitos semanalmente e têm como objectivo
sensibilizar os jovens sobre questões pertinentes à sua condição de vida, e propor caminhos que
levem à recuperação mediante a inserção em estruturas de reabilitação, educação e formação
profissional, bem como para casos específicos, como o tratamento das dependências. O
fortalecimento será também garantido pela compra de algum equipamento que possa facilitar as
actividades educativas, de sensibilização e recreativas durante as sessões de partilha, tornando-as
mais eficazes.
Actividades:
Desafios:
- presença de jovens drogados e bêbados, que dificulta a realização das actividades
- falta de um lugar adequado onde desenvolver as actividades
- falta de pessoal especializado no tratamento de dependências tóxicas e a taxa de
desistência
- presença de jovens-adultos incapacitados de iniciar o percurso ordinário
- Necessidade de espaço onde hospedar a noite os jovens, maiores de 15 anos, para
exigências de dormir, de limpeza pessoal e alimentação.
Os centros de primeiro acolhimento (CPA) hospedam de dia e noite as crianças que vivem na rua.
A entrada e permanência no centro é regulamentada por normas internas, instrumento
fundamental para melhorar a organização das casas, com o objectivo de tornar o acolhimento
cada vez mais eficaz, responsável e sensível às necessidades de todos. A entrada, permanência ou
saída dos centros é decidida pela equipe educativa que lá trabalha e, em última instância, pelo
encarregado salesiano.
Actividades:
Inserção nas estruturas de acolhimento dos Salesianos de Dom Bosco (centros infantis diurnos e
nocturnos e casas de família)
Esta actividade, dedicada a crianças menores de 15 anos, prevê a inclusão de crianças nos Centros
de Acolhimento: Casa São Kizito e Casa Magone. Isto acontece gradualmente, para evitar a criação
de desequilíbrios com aqueles que já são residentes e para que se torne mais aceitável o respeito
de algumas regras básicas, tais como: não roubar, tomar parte das actividades oferecidas,
respeitar os horários de entrada e saída, não levar consigo substâncias proibidas (é uma prática
muito comum a de cheirar cola ou gasolina entre as crianças de rua) ou objectos perigosos.
Depois de um período adequado nos CIC - Centros de acolhimento semi – residenciais, os meninos
têm a oportunidade de serem incluídos numa CF – Casa de Família, centros de acolhimento
residenciais (de forma permanente ou semi - permanente).
As actividades dos CIC são diferenciadas, de acordo com o tipo e da idade daqueles que estão
alojados, e da localização dos espaços livres disponíveis.
Em geral a actividade insere uma média de 50 meninos por ano.
A Casa São Kizito, centro diurno e nocturno, é um espaço de aprendizagem flexível, aberto de
manhã das 8h de modo a permitir que as crianças satisfaçam as suas necessidades básicas
(higiene, saúde, alimentação). São oferecidas actividades lúdico - recreativas, seleccionados com
base no programa pedagógico-educacional, como jogos em grupo, desportos, filmes, actividades
de alfabetização e de formação. E’ oferecido um serviço de apoio psicológico, graças à presença
periódica de pessoal especializado.
A partir das 18 horas, as crianças encontram um lugar seguro durante as horas da noite, onde
possam satisfazer às necessidades básicas de saúde, higiene e alimentação, bem como possuir
uma área de jogo protegida. Neste centro são convidados e admitidos os jovens que participam
das actividades diárias.
Na Casa Magone, centro diurno e nocturno, as actividades são realizadas como para os centros
acima descrito. Esta tipologia de acolhimento semi-residencial, dividida entre acolhimento diurno
Desafios:
- Melhorar a qualidade dos educadores para atender as demandas
- Acrescentar o número de profissionais na área de psicologia e social para garantir o apoio
psicossocial individual para as crianças e as familias
- Melhorar a qualidade dos encontros formativos a nível de material e de palestrantes.
Os centros de segundo acolhimento (CSA) abrigam apenas as crianças que cumpriram uma
primeira etapa no Centro Infantil Comunitário São Kisito e Casa Magone e que manifestaram a
intenção de deixar a rua e os seus hábitos. Depois de um processo de “estabilização” nos CPA, as
crianças que saem do Centro São Kisito são dirigidas nas casas famílias, enquanto os que saíram da
casa Magone mudam para a casa Margarida. As realidades das casas famílias e casa Margarida são
distintas, aqui em seguida são apresentadas as características das duas realidades.
Actividades:
Dentro das famílias os pais, com o apoio dos educadores sócias dos SDB e os voluntários,
preocupam-se da:
Educação e a monitoria da frequência escolar das crianças e dos adolescentes;
O tempo livre e extra-escolar;
Inserção na comunidade cristã através da catequese e dos grupos juvenis da Paróquia;
A alimentação adequada e higiene pessoal;
Processo de reintegração e reunificação familiar.
As casas famílias também seguem um regulamento interno que visa organizar melhor a entrada,
permanência e saída dos meninos, assim como as dinâmicas internas com objectivo a melhorar o
acolhimento e o clima familiar.
Objectivos: oferecer as crianças e adolescentes uma condição de vida estável num contexto
comunitário para voltar a ter uma vida ‘normal’ e uma rotina marcada por actividades escolares,
comunitárias e lúdicas. Tudo isso ajuda a promover um desenvolvimento integral da criança e a
sua reinserção na sociedade.
A Casa Margarida também segue um regulamento interno que visa organizar melhor a
entrada, permanência e saída dos meninos, assim como as dinâmicas internas com objectivo a
melhorar o acolhimento e o clima familiar.
Desafios:
- Educadores motivados mas sem as capacidades e qualificações técnicas necessárias para
desenvolver o trabalho na forma adequada
- Necessidade de poder adquirir nos nossos quadros pessoal com uma preparação escolar
especifica mais adequada.
Os meninos que fizeram uma caminhada formativa nos CSA e cuja família não tenha sido
localizada, ou seja tido localizada mas sem completar o processo de reinserção familiar, têm
acesso aos Centros de Formação Integral de Kala Kala e Cabiri. Estes centros são organizados como
internados e acolhem as crianças provenientes dos CSA, mas também crianças vulneráveis das
comunidades de Cabiri e Catete ou de outros centros ou internatos (Experiência da Ir. Domingas
na Viana)
Localização: Kala Kala: Catete – Mazozo, e Cabiri: Catete – Cabiri, província de Luanda.
Grupo Alvo:
Kala Kala: adolescentes ‘internos’ provenientes dos CSA de 14 a 18 anos e crianças e
adolescentes‘externos’das comunidades, de 06 a 16 anos, divididos na educação de base e na
formação profissional.Nivel académico: de 1ª até 6ª classe.
Cabiri: adolescentes de 14 a 18 anos provenientes dos CSA e das áreas rurais das comunidades
das Províncias de Luanda e Bengo. Todos são residentes.
Nivel académico: de 6ª até 9ª classe.
Actividades:
Formação Integral Humana e Profissional na rede dos Salesianos de Dom Bosco (centros de
formação profissional)
Promover a reinserção social dos jovens que vivem em situação de vulnerabilidade e
marginalização significa, em primeiro lugar, fornecer algumas bases sólidas que permitam ao
destinatário reconstruir a sua presença na sociedade.
O direito ao estudo, entendido também como formação profissional, é um elemento essencial que
permite no futuro a aquisição de autonomia e fornece recursos práticos para lidar com a vida
quotidiana ademais de fomentar a auto-estima, o crescimento, o fortalecimento e aprimoramento
de habilidades para a vida.
Para os destinatários da intervenção que manifestam a vontade de aprender um ofício, é,
portanto, garantido um serviço que visa estudar um percurso de reinserção pessoal em instalações
geridas pela contraparte, dependendo das características e idade do beneficiário.
O percurso de orientação, formação e qualificação profissional é, evidentemente, com base na
experiência que a rede Salesiana tem neste campo.
Os jovens que são formados em centros de formação salesiana, passam por uma série de
momentos e experiências de formação que vão reforçar o background da pessoa e as suas
potencialidades como sujeito pró-activo na sociedade, especialmente através da aprendizagem
sobre disciplinas técnicas que podem ser reflectidas no mundo produtivo Angolano.
A actividade, então, prevê a inserção de alguns adolescentes e jovens, mediamente 200 por ano,
nos CFP - Centros de Formação Profissional - geridos pela contraparte. Os cursos oferecidos pelo
CFP são: mecânica, carpintaria, construção civil, electricidade, hidráulica, informática,
secretariado, contabilidade, pastelaria e técnico de frios.
Cada jovem é acompanhado na escolha da disciplina mais adequada, tendo em conta as
características pessoais e da conveniência em termos de carreira futura.
Entram neste tipo de proposta formativa também o Centros de Formação Profissional de Kala Kala
e a Cidadela Jovens de Sucesso de Cabiri, centros em regímen de internado, geridos pelos
Salesianos com o apoio do MAPESS.
Os adolescentes que vem dos CSA têm um plano de estadia nos centros de Kala Kala e Cabiri de
três anos. Durante esse tempo eles vivem dentro da estrutura tendo a possibilidade de
desenvolver, na base da idade, das capacidades e atitudes, estas actividades:
Educação desde a 1a até a 6a classe em Kala Kala e desde a 6a até a 9a em Cabiri.
Formação profissional conseguindo titulo de ‘técnico primário’ nestes sectores:
-Agricultura
-Construção Civil
Comissão Inspectorial “Crianças e Adolescentes em perigo” 20
-Eletricidade (baixa tensão)
-Marcenaria
-Serralharia
-Informática
-Educação a cidadania
Actividades lúdicas/lazer
Os Centros de Kala Kala e Cabiri também seguem um regulamento interno que visa organizar
melhor a entrada, permanência e saída dos meninos, assim como as dinâmicas internas com
objectivo a melhorar o acolhimento e o clima da estrutura.
Desafios:
Baixa participação dos pais nos momentos relevantes para o sucesso escolar dos filhos;
Melhorar o nível dos educadores com capacidade de acompanhar estes adolescentes com
a problemática própria da sua idade e da situação particular;
Educadores capazes de manter presença salesiana a “tempo pleno” entre os educando do
internato;
Assegurar os recursos materiais para garantir os ritmos normais da vida e actividades dos
internatos;
Alunos usuários (eventualmente) de drogas.
Este processo de acompanhamento envolve a criança e a sua família que, depois de voltar a
encontrar-se, tem que voltar a aceitar-se e respeitar-se apesar das mudanças que tenham
acontecido no período de distância. De facto, depois de ser localizada, a família por sua parte tem
que voltar a conhecer/ reconhecer a criança, entendendo e apreciando o caminho por ela
desenvolvido depois de ter saído de casa. A criança, ao contrário, tem que voltar a sentir-se aceite
dentro do núcleo familiar, a mostrar que mudou os seus maus hábitos e que tem vontade de
voltar definitivamente para casa.
Actividades:
5.6 Casas-autonomia
Após uma avaliação do trabalho levado a frente nos últimos anos, os SDB perceberam que o
processo de acompanhamento das crianças para os quais a reintegração na família não tinha sido
possível, precisavam de um passo a mais para não correr o risco de prejudicar o trabalho de
afastamento da rua. A nova etapa no processo de reintegração social consta na inserção de um
número limitado de jovens (maiores de 18 anos) nas casas-autonomia.
Grupo Alvo: Esta medida de reinserção é garantida aos jovens na faixa etária entre 18 e 21 anos,
para os quais não é possível o retorno às suas famílias de origem e que já terminaram um percurso
educativo e de formação integral passando pelas diferentes etapas acima descritas.
A maioria desses jovens são pessoas que terminaram uma fase formativa num dos centros de
acolhimento ou de formação profissional dos Salesianos de Dom Bosco, em particular o Centro de
Formação Profissional de Kala Kala e a Cidadela Jovens de Sucesso de Cabiri e, avaliando seu Plano
de Vida e a situação familiar, são impossibilitados a voltar para seus núcleos familiares originários
e manifestam a necessidade de serem acompanhados num processo voltado à independizaçao.
Outro grupo será composto por jovens que ainda encontram-se desamparados e vivem numa
situação de instabilidade, que já tem acedido ao processo de reinserção social posto em acto pelos
Salesianos de Dom Bosco (cursos profissionais, localização e visita familiares, sensibilização, etc...)
mas que, devido à idade avançada, não puderam ser acolhidos nos centros de acolhimento. Esses
jovens portanto já beneficiaram de um acompanhamento integrado de qualidade acima da média
dos jovens da mesma idade. Esta intervenção è, de momento, a etapa conclusiva.
A inserção na casa-autonomia visa ser uma solução transitória relacionada com a adquisição de
capacidades adequadas, que permitam concluir a passagem para uma vida autónoma. Nesta fase
é garantido o acompanhamento dos jovens segundo a metodologia educativa salesiana, para a
Comissão Inspectorial “Crianças e Adolescentes em perigo” 24
inserção no mundo do trabalho, etapa fundamental no processo de reinserção completa na
sociedade. Quando possível, em paralelo à inserção na casa-autonomia, continuarão as
actividades de contacto com a família de origem (onde possivel) e o serviço de apoio e reforço das
suas competências.
O tipo de solução habitacional que está na base deste processo de reinserção social não pode ser
uma estrutura "artificial" distante da realidade do contexto de intervenção. Isto significa que,
embora naturalmente fornecendo as condições básicas (saneamento e condições de vida em
geral) para uma estadia segura e positiva na instalação, o perfil destas casas-autonomia será na
linha com o padrão ao qual esses jovens podem aspirar para as suas vidas no futuro. Esta decisão
também quer evitar uma abordagem assistencial, promovendo invés um processo de
responsabilização adequado, tanto em termos de compromisso (nos estudos, no trabalho) quanto
financeiros (partilha de custos).
As casas autonomias baseiam-se:
Actividades:
Sessão de formação para a vida autónoma (life skills/ habilidades para a vida)
A fórmula Life Skills é hoje amplamente utilizada e conhecida no contexto de intervenções de
apoio e promoção do desenvolvimento integral de crianças, adolescentes e jovens.
Para se ter uma definição geral, usamos o documento da Organização Mundial da Saúde “Life skills
education in schools”, publicado em 1993, onde as Life Skills (Habilidades para a Vida) são
definidas como “as habilidades que levam ao comportamento positivo e de adaptação que torna o
indivíduo capaz de lidar efectivamente com as exigências e os desafios da vida quotidiana”.
As competências que se qualificam para as Life Skills são inúmeras e sua natureza e definição
podem variar de acordo com a cultura e o contexto. De qualquer maneira, podemos identificar um
conjunto de habilidades que são a base das iniciativas de promoção da saúde e o bem-estar de
crianças e adolescentes. Este núcleo fundamental, identificado pela OMS (Organização Mundial da
Saúde) é constituído por 10 competências: Autoconhecimento, Gerência das emoções, Gerência
do stress, Empatia, Criatividade, Sentido crítico, Solução de Problemas, Tomar Decisões,
Comunicação eficaz, Capacidade de ter relações interpessoais.
Com referência às habilidades para a vida acima mencionadas, os momentos de formação para a
vida independente são traduzidos de diversas maneiras: actividades lúdico - recreativas, dinâmicas
de grupo, encontros individuais, reuniões informais, com um vínculo forte.
Os encontros, destinados a todos os jovens inseridos nas três casas-autonomia, terão uma
cadência mensal para garantir a gradual tomada de responsabilidades e gestão independente por
parte dos inquilinos e melhorar progressivamente a qualidade da vida em cada casa.
Desafios:
Comissão Inspectorial “Crianças e Adolescentes em perigo” 29
Encontrar as estruturas físicas, com condições económicas acessíveis, para poder realizar a
experiência (aluguer das casas)
Encontrar recursos humanos qualificados para acompanhar pedagogicamente a inserção
dos jovens na sociedade e, sobretudo, no mundo do trabalho
As carências afectivas que estes jovens arrastam desde a infância e a cultura tradicional no
campo da sexualidade, impulsa-os a acelerar a procura de laços estáveis neste campo sem
ter o amadurecimento humano, psicológico, espiritual suficiente
Parcerias com empresas e escolas para os jovens entrarem no mundo de trabalho sem
deixar de estudar
Sustentabilidade (despesas de gestão da casa, renovação periòdica dos equipamentos)
A intervenção tem um impacto em primeiro lugar no grupo alvo directamente envolvido nas
acções. O beneficiário será protagonista e sujeito promotor das medidas de reinserção. È
garantida então a plena participação e a apropriação dos processos. Elaborar e acompanhar
medidas concretas de reinserção tem também um evidente impacto nas vidas das pessoas
envolvidas e das respectivas famílias: oferece possibilidades efectivas de melhorar as condições de
vida e em termos de reducção da pobreza. A promoção do protagonismo juvenil (através também
do associacionismo), além disso, é outro elemento que favorece a criação de mecanismos novos e
sólidos na sociedade civil.
É de destacar em fim a importância do diálogo e colaboração com as instituições públicas e os
actores da sociedade civil: estão previstas acções para fortalecer esta relação na perspectiva
também de apresentar metodologias de bom êxito para ser tomadas em conta na definição das
políticas públicas.
SERVIÇOS OFERECIDOS:
Banho
Lavagem de roupa
Guardar com os educadores algumas das suas pertenças mais valiosas
Lugar para dormir, comer, ajudar a estudar e crescer espiritualmente e humanamente
DEVERES:
Higiene pessoal, lavar-se todos os dias
Higiene da roupa
Higiene dos ambientes da casa, ordem da casa
Momentos de trabalhos da casa
Estudo na escola e pessoal
Catequese e momentos comuns
Respeito aos mais velhos
REQUISITOS PARA INGRESSAR NA CASA (Qualquer excepção a estes critérios resolve-se a nível de
coordenação e, em última instância, pelo encarregado salesiano):
SERVIÇOS OFERECIDOS:
Ter um casal responsável que o acompanhe
Receber alimentação, moradia, assistência médica e psicológica
Ter acesso á escolas e catequese
Receber formação humana e religiosa
Receber visitas dos familiares periodicamente
Ser respeitado e bem tratado pelos mais velhos e colegas
DEVERES:
Estudar e fazer tarefas designadas na escola
Demonstrar vontade de estudar e trabalhar
Cuidar dos livros, cadernos e de outros materiais escolar
Cuidar e proteger o património
Ser pontual e assíduo em todas as actividades
Cumprir com as tarefas que lhe são confiadas
Respeitar e participar dos momentos de oração
Respeitar os mais velhos que cuidam da casa assim como os da comunidade
Respeitar os colegas e ter bom relacionamento com todos
Comprometer-se em abandonar os vícios adquiridos na rua (roubo, droga agressividade
etc.)
Tomar banho todos os dias, escovar os dentes depois das refeições, engomar a roupa e
apresentar – se limpo
Ajudar manter limpa e organizada a casa
Ser sincero e jamais usar mentiras
RESPONSABILIDADES DO CASAL:
Acompanha as crianças todos os dia na escola, nas actividades e em casa. Elas devem
contar sempre com a assistência de alguém responsável e jamais ficarem só
Informar mensalmente à coordenação do andamento das crianças na escola, e em outras
actividades da comunidade que participam (catequese, grupos etc.)
Manter as fichas de acompanhamento das crianças actualizadas
Participar dos encontros de formação oferecidos pelo centro
Reunir mensalmente com a coordenação para informar sobre os progressos, retrocessos
ou dificultadas das crianças
Este regulamento aplica-se na casa Margarida desde o dia 25 de Novembro 1996 e foi actualizado
no ano 2011.
TODA A CRIANÇA deve conhecer as normas de convivência, seus direitos e obrigações.
Neste regulamento constam os requisitos para ingressar na casa, as normas que tem-se cumprir
para permanecer nela, os serviços aos que tem direitos e os deveres a cumprir, assim como os
avisos e motivos pelos quais a criança ou adolescente fica afastado da casa, permanentemente o
por um tempo.
Não pode-se:
Drogar
Fumar
beber bebidas alcoólicas
roubar
bater os colegas
ofender os outros
Comissão Inspectorial “Crianças e Adolescentes em perigo” 36
ter em posse MP3, rádios, telefones, dinheiro.
É proibido ter qualquer arma (faca etc.) ou algo que possa provocar feridas
Está proibido qualquer tipo de imoralidade
Devem participar das aulas, da catequese e outras actividades formativas
Qualquer falta contra o regulamento será castigada com o castigo apropriado de acordo
com a gravidade da falta. Os castigos SÃO DADOS PELO ENCARREGADO
Se a falta será grave poderá castigar-se-ao com o afastamento parcial ou total da casa
AS CRIANÇAS SERÃO CONTINUAMENTE AVISADAS PARA EVITAR QUALQUER FALTA
SERVIÇOS OFERECIDOS:
Tomar banho
Lavar roupa
Guardar com os educadores algumas das suas pertencias mais valiosas
Lugar para dormir, comer, ajuda a estudar e a crescer espiritualmente e humanamente.
OBRIGAÇÕES:
Higiene pessoal, lavar-se todos os dias
Higiene da roupa
Higiene dos ambientes da casa, ordem da casa
Momentos de trabalhos da casa
Estudo na escola e pessoal
Catequese e momentos comuns
Respeito aos mais velhos