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COMISSÃO CRIANÇAS E ADOLESCENTES EM PERIGO

PROJECTO EDUCATIVO-PEDAGOGICO PARA REINSERÇÃO DE


CRIANÇAS E ADOLESCENTES DE E NA RUA

12 de Março de 2014
Sumario

1. Prefácio

2. Quem são as crianças e os adolescentes em situação de rua?


2.1 A situação em Angola

3. A resposta Salesiana no trabalho com as crianças e os adolescentes que vivem e trabalham na rua
3.1 O Sistema Preventivo
3.2 Commissão Salesiana “Crianças e adolescentes em perigo”

4. Objectivos e resultados do projecto

5. As etapas de acolhimento, protecção, promoção e reinserção social das crianças e adolescentes que
vivem e trabalham na rua
5.1 Primeiro contacto
5.2 Centros de primeiro acolhimento
5.3 Centros de segundo acolhimento
5.4 Centros de formação Integral de Kala Kala e de Cabiri
5.5 Reinserção familiar
5.6 Casas-autonomia

6. Representação Gráfica do processo de Reinserção Social

7. Questões Metodológicas

8. Plano de compensação e possibilidades de reprodução/extensão (efeitos multiplicadores)

9. Impacto esperado da acção

10. Anexos
Anexo 1: Regulamento interno Casas de Primeiro Acolhimento (São Kisito e Magone)
Anexo 2: Regulamento interno Casas famílias
Anexo 3: Regulamento interno Casa Magone

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1 Prefácio

Através deste documento, elaborado pela Comissão Salesiana ‘Crianças e Adolescentes em


Perigo’,pretende-se ilustrar o trabalho educativo-pedagógico desenvolvido pelos Salesianos de
Dom Bosco na cidade de Luanda com as crianças e adolescentes que vivem e trabalham na rua,
grupo vulnerável da sociedade Angolana. A analise da metodologia de trabalho utilizada visa
identificar linhas guias que se tornem possível marco de referência para desenvolver trabalhos
semelhantes em outras comunidades da Visitadoria Mamã Muxima de Angola, ou em diferentes
províncias do Pais.

Tema central do projecto é a exclusão social de crianças, adolescentes e jovens, fenómeno


historicamente presente em toda sociedade humana, nos Países industrializados e naqueles em
desenvolvimento, mas que afecta com extrema dureza os que vivem em áreas de degrado,
pobreza económica e social, violência familiar. Os acontecimentos da história levaram à remoção
colectiva do fenómeno das crianças abandonadas e desamparadas e, no caso de Angola, à falta de
respostas eficazes em termos de políticas de protecção social. A ideia deste projecto nasce da
exigência de dar respostas concretas e eficazes à este vacum, promovendo percursos sustentáveis
de recuperação e reinserção social.
A nível internacional, recentemente o Conselho dos Direitos Humanos apresentou uma Resolução
em prol da protecção e promoção dos direitos das crianças que trabalham ou vivem na rua. O
Conselho “chama os Países a dar atenção prioritária à prevenção do fenómeno das crianças que
trabalham e/ou vivem na rua, tratando das diversas causas através de estratégias económicas,
sociais, educacionais e de empoderamento” e ainda “a assegurar o cuidado e a protecção
apropriados às crianças que trabalham e/ou vivem na rua sem algum contacto com as famílias,
incluindo medidas de reintegração familiar e, quando esta seja impossível, garantindo um cuidado
alternativo no melhor interesse da criança” (HRC/RES/16/12).

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2 Quem são as crianças e os adolescentes em situação de rua?

Em todo o mundo existem muitas crianças que são definidas “em situação de rua” porque vivem
ou passam parte de seu tempo neste contexto. Na realidade esta definição abrange tipologia
diferentes de crianças que têm uma relação distinta com a rua. A própria literatura científica tem
dificuldade de conceituar essa população só na base desta única dimensão, por isso foram
elaboradas definições mais específicas que descrevem este grupo na base das actividades que
desenvolvem na rua (buscar renda, dormir, lazer, etc), ou na base dos laços familiares.
Definir claramente o grupo alvo dentro de uma estratégia de intervenção, é um passo
fundamental que permite alcançar os resultados e objectivos previstos. Ao mesmo tempo
etiquetar estas crianças pode contribuir a discrimina-las, por isso desde este ponto houve um
cambio na política de duas organizações importantes como Save the Children e Plan, as quais
decidiram, particularmente na África, de incluir as crianças em situação de rua sob o fenómeno
maior da “criança e jovens em movimento”.
Aqui apresentamos os subgrupos que constituem o grupo das “crianças e adolescentes em
situação de rua”:

 Criança na rua: crianças que trabalham ou passam o seu tempo na rua e que têm um
suporte familiar inadequado ou esporádico.
 Criança de rua: crianças que moram sozinhas nas ruas onde vivem e trabalham e que já
não mantém laços familiares por motivos diferentes.
 Crianças candidatos para a rua: crianças trabalhando ou passando tempo na rua, mas que
ainda vivem com a sua família.

Na realidade estas definições ainda não incluem todas as tipologia de crianças em situação de rua,
porque há mais crianças que vivem circunstâncias diferentes daquelas acima citadas.Os grupos
aqui definidos estão bem delimitados referindo-se àquilo que uma criança faz nas ruas, mas a
criança não recorre à rua apenas para trabalhar como os grupos indicados supõem. Esta
percepção enganosa sobre as crianças em situação de rua tem consequências no modo como a
sociedade e os governos enfrentam o problema. Considerando só este aspecto, se constrói uma
imagem enganosa da realidade destas crianças que são considerados como delinquentes e
perigosos. Isto tem algumas consequências: a primeira é que, dessa forma, o conceito crianças de
rua não se refere àquilo que a realidade é; segundo, é que uma criança com problemas diferentes
(órfãos, com HIV/SIDA, deficientes, etc.) pode não gozar do devido sistema de protecção, porque
segundo a ideia que a sociedade tem ela, não faz parte daquelas crianças que tem direito a isso.
O grupo-alvo deste documento e sujeito do sistema educacional-pedagógico dos SDB é
constituído pela crianças de rua.

2.1 A situação em Angola

Segundo documentos oficiais as crianças de rua são, de modo geral, um fenómeno dos anos ’90 e
em particular do período em que a guerra recomeçou no final do 1992. Antes deste período
parece que não existiam crianças a viver na rua, isso pode ser explicado pelo fato do que a família
angolana era estruturada para o acolhimento da criança sem pais. O fenómeno dos meninos de
rua na vida urbana tornou-se evidente em meados e finais dos anos ‘90, à medida que as
condições sociais se deterioram em consequência da guerra. Uma contagem realizada em 2000
indica um número de 23.752 crianças em situação de rua, em Angola. Hoje em dia não existe uma
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fonte estatística oficial que acerta o número dos meninos em risco, o grau de vulnerabilidade, e o
perfil deles.
Através do trabalho desenvolvido por algumas organizações da sociedade civil, foi possível
delinear um perfil das crianças e jovens de rua:

 Idade: varia entre os 08 e 20 anos, com uma presença maior de adolescentes com idade
compreendida entre os 12 e 17.
 Proveniência: a maioria dos meninos são naturais de Luanda, em particular dos bairros
mais pobres e desestruturados da capital, e somente uma pequena percentagem vem das
províncias (entre outras, Malanje, Huambo e Bié, Benguela).
 Causas: 1) desestruturação da família angolana; 2) violências psicológicas e físicas contra a
criança; 3) pobreza.
 Nível de escolaridade: muito baixo, tendo saído de casa antes de poder terminar os estudos
ou até logo depois de ter começado. Em média, os meninos têm uma escolaridade entre 1a
e 5a classe; poucos são os casos de rapazes com escolaridade maior.
 Actividades: pequenos biscates que lhes garantem a possibilidade de comer, de comprar
alguma roupa, lavar-se e alimentar seus vícios/dependências. Os negócios aos quais eles se
dedicam estão, muitas vezes, em conexão estrita com o local onde eles se encontram. Os
mercados são áreas que garantem todo tipo de pequenos trabalhos como vender sacos,
ajudar as pessoas a levar as compras pesadas, limpar peixe. Outras áreas da cidade
facilitam seu empenho em lavar ou cuidar dos carros estacionados, engraxar sapatos, ou
fazer chamadas para os táxis.

Durante os últimos anos, o Governo Angolano tem demonstrado esforços na implementação dos
ODM; mesmo assim permanecem, a nível social, muitos desafios que ainda precisam do apoio dos
actores não estatais. O processo de desenvolvimento económico está a modificar rapidamente o
tecido social sem que sejam contextualmente adoptadas medidas eficazes de prevenção e
protecção para atenuar os fenómenos de exclusão social em acto. A vulnerabilidade de crianças e
adolescentes dos bairros mais marginalizados de Luanda, que em casos extremos termina no
fenómeno de vida na rua, é ainda problemática. Sinais preocupantes se manifestaram já a partir
do 2001, quando estimou-se que somente na capital Luanda o numero de crianças de rua
alcançava os 5.000 (www.streetkidnews.blogsome.com). Desde então foram feitos passos
significativos: hoje em dia está a ser implementada uma estratégia fundamental para a protecção,
a sobrevivência e a participação da criança (11 compromissos). Esta mesma estratégia, porém, não
conseguiu ainda alcançar os objectivos que se propôs, como evidenciado no 5° Fórum Nacional da
Criança de Junho de 2011.

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3 A resposta Salesiana no trabalho com as crianças e os adolescentes que vivem e
trabalham na rua

Os Salesianos de Dom Bosco (SDB) trabalham em Angola desde o 1981 com as faixas mais
vulneráveis e marginalizadas da sociedade. No desenvolvimento das suas actividades, os SDB se
inspiram no modelo e no sistema educativo do próprio fundador São João Bosco.
São João Bosco foi um educador excepcional. Sua inteligência aguda, seu senso comum e sua
profunda espiritualidade levaram-no a criar um sistema de educação capaz de desenvolver a
pessoa em sua totalidade – corpo, coração, mente e espírito. O sistema valoriza devidamente o
crescimento e a liberdade, enquanto coloca o jovem no próprio centro de toda a empresa
educativa.
Para distinguir o seu método em relação ao sistema educativo de repressão, vigente na Itália no
século XIX, deu ao seu método o nome de sistema “preventivo”(existem experiências de
metodologias de sistema preventivo anteriores a Dom Bosco, mas ele o personalizou com um
estilo próprio). Com ele, procura prevenir a falta, o delito, o vicio e em consequência a
necessidade de castigo, salientando sempre os aspectos positivos do jovem capacita-o para ser o
melhor que puder. é uma maneira agradável, amável e integral de abordar a educação.
Cria um clima capaz de tirar de dentro (educere) o melhor de cada educando, que o predisponha a
mostrar-se claramente como é, que ajuda o jovem na aquisição de hábitos que lhe permitirão
optar durante sua vida por tudo o que é bom, saudável, alegre e construtivo.
Antes de prosseguir com este trabalho é necessário entender que o grupo alvo das intervenções
dos SDB são crianças e adolescentes de rua, intendendo com isso crianças e jovens adolescentes
urbanos, tanto no centro como nos subúrbios da cidade, forçadas por causas diferentes ou por sua
própria escolha a sustentar-se e viver na rua sem laço nenhum com os membros da sua família.
Nesta situação de falta de vulnerabilidade as crianças tornam-se vítimas de violações de direitos
fundamentais como o da educação, saúde, proteção e família. Este fenómeno, pela sua natureza
multidimensional, requer intervenções específicas para que as crianças possam gozar dos direitos
humanos aos que eles têm direito.
Os SDB em Angola estão a implementar com sucesso um programa holístico por etapas, baseado
no Sistema preventivo de Dom Bosco que visa a promover o processo de protecção, promoção e
reintegração desta camada. O programa mudou e cresceu nas suas componentes ao longo dos 20
anos através da experiência adquirida no trabalho diário. Estas são as suas componentes
principais:

 Sistema Preventivo e o papel do educador


 A Comissão Salesiana “Crianças e Adolescentes em Perigo”
 Etapas de reinserção social

3.1 O Sistema Preventivo

O Sistema Preventivo é uma metodologia pedagógica caracterizada:

 pela vontade de estar entre os jovens compartilhando sua vida, olhando com simpatia o seu
mundo, atentos às suas verdadeiras exigências e valores;
 pela acolhida incondicionada que se faz força promocional e capacidade incansável de
diálogo;

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 pelo critério preventivo que crê na força do bem presente em todo jovem, também no mais
carente, e procura desenvolvê-la mediante experiências positivas de bem;
 pela centralidade da razão, que se torna bom senso das exigências e das normas, flexibilidade
e persuasão nas propostas. Da religião, entendida como desenvolvimento do sentido de Deus
congénito a toda pessoa e esforço de evangelização cristã; da bondade, que se expressa como
amor educativo que faz crescer e cria correspondência;
 por um ambiente positivo tecido de relações pessoais, vivificado pela presença amorosa e
solidária, animadora e activadora dos educadores e do protagonismo dos próprios jovens;
 com um estilo de animação, que crê nos recursos positivos do jovem.

✓ como pastoral
Esta proposta original parte do encontro com os jovens lá onde eles se encontrem, valorizando o
património natural e sobrenatural que todo jovem traz em si, num ambiente educativo carregado
de vida e rico de propostas; ele é actuado através de um caminho educativo que privilegia os
últimos e os mais pobres; promove o desenvolvimento dos recursos positivos que têm, e propõe
uma forma particular de vida cristã e de santidade juvenil.

✓ como espiritualidade
O Sistema Preventivo encontra sua fonte e centro na experiência da caridade de Deus, que
antecede toda criatura com a sua Providência, acompanha-a com sua presença e salva-a dando a
vida.
Essa experiência dispõe o educador a acolher a Deus nos jovens, convencido de que neles Deus lhe
oferece a graça do encontro com Ele, chamando-o a servi-lo neles, reconhecendo a sua dignidade,
renovando a confiança em seus recursos de bem e educando-os à plenitude da vida.
A caridade pastoral cria uma relação educativa na medida do adolescente e do adolescente pobre,
fruto da convicção de que qualquer vida, mesmo a mais pobre, complexa e precária, traz em si,
pela presença misteriosa do Espírito, a força do resgate e a semente da felicidade.

✓ O educador
No trabalho de reinserção social das crianças de rua, é necessário sublinhar a importância da
figura do educador quanto ao êxito ou fracasso do trabalho de equipa. O educador, para
desempenhar o seu trabalho segundo as directrizes de dom Bosco,tem que ser uma pessoa
paciente e persistente, que saiba escutar, disponível (na presença, na partilha, no estar com),
atencioso (preocupado com a criança), dedicado, humilde, capaz de sentir o que o menino sente
para entender o seu comportamento. Mais ainda uma pessoa que abra visão, que acompanhe,
que aconselhe, que visite, que motive, que seja carinhoso, simples e que saiba fazer a diferença,
uma pessoa que, partilhando a fé, possa acompanhar os meninos no desenvolvimento de seu
sentido religioso. Ele tem que tornar-se um modelo de comportamento.
Para tornar cada vez mais eficaz o trabalho de acolhimento e acompanhamento das crianças, os
SDB pensaram criar um regulamento interno não só para as crianças mas também para os
educadores. Respeitar o regulamento significa respeitar o trabalho da Instituição, partilhar os
objectivos educativos, pedagógicos e pastorais, e sobretudo significa ter sempre em consideração
o fim ultimo deste trabalho, ou seja o bem das crianças acolhidas nos centros.
No regulamento constam os requisitos necessários para ser admitido como educador, as normas a
cumprir e os comportamentos e atitudes éticas que o educador deve ter em conta de forma a ser
exemplo para os meninos.

✓ Uma palavra sobre os castigos

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Nos primeiros e segundos centros de acolhimento, nas casas famílias e nos centros de formação
integral dos SDB seguem-se os ensinamentos de Dom Bosco também no que diz respeito aos
castigos e punições:
Que norma seguir para dar castigos? ― Por quanto possível, jamais se faça uso de castigos.
Quando, porém, a necessidade o exige, observe-se quanto segue:
1. O educador entre os alunos procure fazer-se amar se quer fazer-se respeitar. Nesse caso, a
subtracção da benevolência é um castigo que desperta emulação, infunde coragem sem deprimir.
2. Entre os meninos é castigo o que se faz passar por castigo. Observou-se que um olhar não
amável produz para alguns maior efeito que uma bofetada. O elogio quando uma acção é bem
feita. a repreensão quando há desleixo, é já um prémio ou castigo.
3. Salvo raríssimos casos, as correcções, os castigos, nunca se dêem em público, mas em particular,
longe dos companheiros, e empregue-se a máxima prudência e paciência para que o aluno
compreenda a sua falta, à luz da razão e da religião.
4. Bater, de qualquer modo que seja, pôr de joelhos em posição dolorosa, puxar orelhas, e outros
castigos semelhantes, devem-se absolutamente banir, porque são proibidos pelas leis civis, irritam
sobremaneira os jovens e desmoralizam o educador.
5. Torne o director bem conhecidas as regras, os prémios e os castigos sancionados pelas leis
disciplinares, a fim de que o aluno não possa desculpar-se dizendo: “Eu não sabia que isso era
mandado ou proibido”.

Se em nossas casas se puser em prática este sistema, creio poderemos alcançar grande resultado,
sem recorrermos a pancadarias, nem a outros castigos violentos. Há quarenta anos, mais ou
menos, que trato com a juventude, não me lembra ter usado castigo de espécie alguma. Com o
auxílio de Deus, não só obtive sempre o que era de dever, mas ainda o que eu simplesmente
desejava, e isso daqueles mesmos meninos dos quais se havia perdido a esperança de bom
resultado.

E’ necessário sublinhar como as crianças e adolescentes que participam no processo pedagógico-


educativo do SDB são meninos que, vivendo na rua, perderam o habito de obedecer a
determinados regulamentos e normas. Por esta razão há possibilidade de que nos centros os
meninos manifestem comportamentos perturbadores e problemáticos. Nestes casos a gravidade
dos comportamentos vai ser avaliada individualmente, e serão tomadas medidas educativas para
que o menino possa reflectir acerca de seu comportamento, de forma que o “erro” possa se
tornar um momento de crescimento. As medidas educativas vão ser decididas pelos educadores e,
nos casos mais delicados, pelo encarregado salesiano. E’ responsabilidade constante dos
educadores fazer com que os meninos possam crescer e desenvolver comportamentos
respeitosos, sendo eles mesmos exemplos aos quais os meninos possam se inspirar.

3.2 Comissão Salesiana “Crianças e Adolescentes em perigo”

A Comissão Inspectorial ‘Crianças e Adolescentes em Perigo’ (CICAP), instituída no 2009, é um


órgão interno da Delegação da Pastoral dos Salesianos de Dom Bosco de Angola. A CICAP foi
instituída com o objectivo de coordenar o trabalho das diferentes obras que formam a REDE
SALESIANA, para individuar e acompanhar as crianças e adolescentes que entram nesta caminhada
educativa, num processo de reintegração social, desenvolvimento humano pleno e de promoção
integral.
Ela tem como objectivos:
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 Definir, de acordo com o Projecto Educativo Pastoral salesiano (PEPS) , os objectivos a curto,
meio e longo prazo das obras, as finalidades e avaliar os processos, apresentando tais
resultados ao Conselho Inspectorial da Visitadoria Mamá Muxima;
 Estabelecer procedimentos internos e critérios de monitoria e avaliação comuns nas obras;
 Partilhar informações e boas práticas a nível interno e externo (parceiros das instituições
governamentais e ONG);
 Trabalhar em coordenação com os outros sectores da Obra Salesiana (educação formal
informal, formação profissional, saúde, tempo livre) para por em comum material educativo,
estruturas, pessoal;
 Avaliar em conjunto novos projectos e estratégias;
 Monitorar a situação das crianças e adolescentes em situação de perigo.

A Comissão, que reúne-se mensalmente, está composta pelos seguintes membros:


 Superior da Congregação dos Salesianos de Dom Bosco de Angola
 Delegado da Pastoral Juvenil Nacional
 Coordenador da CICAP
 Delegado Salesiano da CICAP na obra salesiana (São Paulo – Mota; São José de Nazaré: Distreito
do Sambizanga. Kala – Kala; Cabiri: Catete)
 Coordenadores pedagógicos de cada Obra
 Psicologa da Rede
 Um representante da ONG VIS, parceira dos Salesianos de Dom Bosco.

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4 Objectivos e resultados do projecto

O objectivo geral deste projecto é contribuir para a promoção dos processos de igualdade e
inclusão social e para a melhoria das condições de vida do grupo mais vulnerável da sociedade
angolana: as crianças, os adolescentes e os jovens.
O facto de abordar os grupos de meninos mais isolados e pobres da população ajuda o País todo
no seu processo de desenvolvimento global e constitui também um passo indispensável para
atingir os 11 Compromissos de protecção da criança, assumidos pelo Governo Central no III Fórum
Nacional sobre a Criança realizado em 2007 em Luanda. A falta de protecção das crianças, dos
adolescentes e jovens e das famílias excluídas do desenvolvimento da sociedade impede o alcance
do bem-estar de todos.

Os objectivos específicos deste projecto são:


- Criar medidas e oportunidades concretas de reinserção social de crianças, adolescentes e jovens
de rua e ex. da rua da província de Luanda (cidade de Luanda e Catete)
- Promover o diálogo entre os actores institucionais e da sociedade civil sobre a questão da
protecção social da infância, adolescência e juventude em risco, reforçando o papel da juventude
no processo.

Os resultados esperados da acção prevista são:


1. Melhorada a qualidade do programa de recuperação e reinserção para crianças, adolescentes e
jovens na rua, em risco de exclusão social ou actualmente em situação de exclusão social.
2. Fortalecido o serviço para crianças, adolescentes e jovens de/na rua e encaminhados processos
de reinserção social, entrada na rede de protecção dos Salesianos de Dom Bosco e em outros
canais de recuperação
3. Começadas novas medidas de reintegração social, laboral e de vida autónoma para ex meninos
de rua (over 18)
4. Fortalecidas as parcerias do parceiro local com as autoridades institucionais e as organizações
da sociedade civil e delineados modelos-piloto de serviços sociais básicos para crianças,
adolescentes e jovens de /na rua.

A situação dos beneficiários será assim melhorada:

1. Os educadores e operadores sociais dos centros de acolhimento e de outras instituições vão


adquirir conhecimentos e capacidades para melhorar a sua profissionalidade, assim como a
intervenção educativa que desenvolvem junto dos meninos. As famílias aumentarão suas
competências familiares que vão facilitar à resolução pacífica dos conflitos familiares e prevenir o
abandono.
2. As crianças, adolescentes e jovens que ainda vivem nas ruas de Luanda terão a possibilidade de
participar em actividades lúdicas e de utilizar serviços dedicados à saúde, acompanhamento no

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processo de nascimento, oportunidades de saída da vida de rua. Estes serviços são necessários
para a dignificação da pessoa humana e a melhoria da qualidade de vida actual e futura.
3. Os jovens que terminam um curso de formação profissional vão ser acompanhados numa nova
etapa do processo de reinserção social, ou seja a inserção laboral e a aquisição de capacidades de
vida autónoma, através da experiencia de vida de grupo em casas – autonomia. As acções dentro
deste âmbito irão garantir o direito ao emprego e, de consequência, a diminuição da pobreza,
tornando os destinatários cidadãos responsáveis e comprometidos.
4. Através da criação de modelos – piloto na área de formação de educadores sociais que
trabalham com crianças e jovens de/na rua e a difusão do modelo Salesiano de protecção social
dos menores vulneráveis, seja a sociedade civil como as autoridades locais vão poder desenvolver
sua participação activa na definição de medidas de protecção social e vão consequentemente
contribuir no alcance dos 11 Compromissos de protecção da criança.

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5 Etapas de acolhimento, proteção, promoção e reinserção social das crianças e
adolescentes de rua e na rua

A metodologia utilizada pelos Salesianos de Dom Bosco, no trabalho de acolhimento e reinserção


social das crianças de rua, compreende diferentes etapas. A resposta tem que ser diferenciada
porque a mudança radical da vida que esta criança escolhe empreender é tão profunda que
precisa ser gradual, de forma que ela possa empenhar-se e encontrar novas motivações cada vez
que enfrenta uma situação nova e mais pretensiosa e regular daquela anterior.
Desta forma o percurso programado para uma criança que vive na rua prevê estas fases:

1) primeiro contacto na rua;


2) centros de primeiro acolhimento;
3) centros de segundo acolhimento/casas famílias;
4) centros de formação integral de Kala Kala e Cabiri;
5) casas autonomia.

Destaca-se que desde a segunda etapa começa o processo de localização da família, que tem
como objectivo a reintegração voluntária do menino no seio do ambiente familiar, assim que ele e
a família estiverem prontos para voltar a acolher-se mutuamente.

5.1 Primeiro contacto

Localização: Largo Primeiro de Maio, Mercado de São Paulo, Rua dos Combatentes, Parque dos
Coqueiros, Parque da Independência, Mercado dos Congoleses, Área Ex Roque Santeiro e
Miramar.

Grupo Alvo: criança de rua com menos de 15 anos de idade.


Objectivos: criar um ambiente de confiança e instaurar um dialogo aberto com as crianças de rua
para ajuda-los a ter uma convivência pacífica e solidária entre eles e para fazer conhecer a
possibilidade de deixar a rua para começar um novo caminho de vida escolhendo de participar nas
etapas do percurso educativo-pedagógico pensado para eles.
No caso de jovens maiores (mais velhos), com impossibilidade de entrar no programa estabelecido
a causa da idade, tratar de dignificar a própria vida mesmo na rua e procurar juntos outras saídas.

A Equipa de Rua, actualmente operativa no processo de reintegração social dos Salesianos de Dom
Bosco, é formada por esses membros: um responsável da comunidade salesiana, educadores e
voluntários que se dedicam, no seu tempo livre, a esse tipo de actividade social. Vista a
importância nevrálgica do trabalho de sensibilização na rua, de onde começa todo o processo de
educação, reabilitação e reinserção familiar e social dos meninos, no início do projecto, vai ser
criada uma nova equipa e vai ser reforçada a equipe existente com a inserção de alguns
profissionais. O coordenador, o enfermeiro e o operador social especializado garantirão maior
impacto ao trabalho desenvolvido com os beneficiários na estrada, favorecendo um planeamento
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mais organizado das actividades e do tempo, aumentando a eficácia de cada encontro e
acompanhando as demandas específicas de cada um dos meninos.
O contacto é feito nas áreas onde se reúnem a maioria dos meninos de rua em Luanda. A tarefa da
equipe é de aproximar os meninos e estabelecer com eles uma relação de confiança por meio de
actividades de entretenimento. Estes encontros são feitos semanalmente e têm como objectivo
sensibilizar os jovens sobre questões pertinentes à sua condição de vida, e propor caminhos que
levem à recuperação mediante a inserção em estruturas de reabilitação, educação e formação
profissional, bem como para casos específicos, como o tratamento das dependências. O
fortalecimento será também garantido pela compra de algum equipamento que possa facilitar as
actividades educativas, de sensibilização e recreativas durante as sessões de partilha, tornando-as
mais eficazes.

Actividades:

Organização e Realização de sessões de sensibilização e prevenção (VIH / SIDA, consumo, vícios,


violência, saúde, etc.) e actividades lúdico-recreativo na rua
As duas equipas de rua funcionam em horário nocturno com frequência semanal, em sessões de
aproximadamente duas horas de duração. São desenvolvidos jogos e dinâmicas educacionais,
projecção de filmes, pequenos trabalhos de artesanato e trabalho em grupo, com o objectivo de
estimular a reflexão sobre temáticas que se relacionam com questões educacionais sensíveis à
vida nas ruas: a prevenção de comportamentos de risco, a difusão de valores positivos como a
solidariedade, a amizade, o respeito mútuo e a resolução pacífica de conflitos. Ressalta-se que a
metodologia de desenvolvimento dos temas de sensibilização, não pode ser do tipo “frontal”,
tendo em conta as características das crianças envolvidas; estes, muitas vezes durante o dia
abusam do álcool e consomem drogas e, consequentemente, têm pouca capacidade de atenção e
assimilação de conceitos. Por esta razão, os conceitos transmitidos são simples e desenvolvidos
com uma metodologia participativa.
Os temas tratados em momentos de sensibilização incidem sobre: a importância da família, as
consequências do uso de drogas, higiene e saúde, HIV/AIDS e doenças sexualmente transmissíveis,
a violência, a importância da educação, etc....
Além das reuniões semanais são organizadas saídas de grupo, onde os meninos podem ficar longe
do tamanho esmagador e oprimente da cidade e viver um dia sem preocupações. Mesmo nessas
ocasiões é solicitada a reflexão sobre a importância de planejar o próprio futuro com a
possibilidade de deixar a vida de rua para tomar um caminho diferente.

Organização e realização de actividades de apoio sanitário de base


Um dos maiores problemas enfrentados pelas crianças, adolescentes e jovens que vivem na rua é
no que diz respeito às questões de saúde. Devido às características da vida de rua, os jovens estão
constantemente expostos à situações de falta de higiene, ma alimentação, infecções e feridas, que
em muitos casos dificultam em sarar devido à falta de cuidados médicos, levando até casos de
extrema urgência e gravidade. O operador social e o enfermeiro trabalham em sinergia para
detectar situações médicas que necessitam de acompanhamento, definir a melhor estratégia de
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intervenção e tomar as medidas mais apropriadas prestando todo o apoio necessário para o
tratamento adequado (incluindo o acompanhamento da medicação ou tratamento inicial com um
kit de primeiros socorros) ou encaminhando e acompanhando o menino para um centro de saúde
parceiro da Rede para receber o tratamento necessário nos casos mais problemáticos.
O serviço de cuidados médicos é dirigido também aos meninos acolhidos nos vários centros de
acolhimento salesianos, assim como nos que estão nos centros de Kala Kala e Cabiri, alcançando
uma média de 150-200 pessoas por ano.

Acompanhamento no processo de documentação pessoal (registo de nascimento e bilhete de


identidade)
Outro problema crucial na vida das crianças e adolescentes de rua é a falta de documentação
pessoal. Esta actividade quer apoiar as crianças, os adolescentes e os jovens beneficiários da acção
para a implementação do seu direito à identidade. Realizado com o apoio da Delegação provincial
da Justiça e do Instituto Nacional da Criança (INAC), que garantem os contactos com as
conservatórias de referência, o acompanhamento para a obtenção do documento, seja ele a
Cédula de Nascimento ou o Bilhete de Identidade, é realizado pelos operadores sociais.
Prioridade é dada às crianças, adolescentes e jovens que estão estudando, participando dos cursos
de formação profissional ou que estão à procura de um emprego, vista a urgência do assunto, até
alcançar uma média de 80 pessoas por ano. Os operadores sociai actuam como mediadores com
os organismos públicos de referência, a fim de facilitar os processos, geralmente complicados por
uma gestão burocrática difícil e uma discriminação geral contra os meninos a causa de sua
condição de vida.

Desafios:
- presença de jovens drogados e bêbados, que dificulta a realização das actividades
- falta de um lugar adequado onde desenvolver as actividades
- falta de pessoal especializado no tratamento de dependências tóxicas e a taxa de
desistência
- presença de jovens-adultos incapacitados de iniciar o percurso ordinário
- Necessidade de espaço onde hospedar a noite os jovens, maiores de 15 anos, para
exigências de dormir, de limpeza pessoal e alimentação.

5.2 Centros de primeiro acolhimento

Os centros de primeiro acolhimento (CPA) hospedam de dia e noite as crianças que vivem na rua.
A entrada e permanência no centro é regulamentada por normas internas, instrumento
fundamental para melhorar a organização das casas, com o objectivo de tornar o acolhimento
cada vez mais eficaz, responsável e sensível às necessidades de todos. A entrada, permanência ou
saída dos centros é decidida pela equipe educativa que lá trabalha e, em última instância, pelo
encarregado salesiano.

Comissão Inspectorial “Crianças e Adolescentes em perigo” 14


Localização: Centro Infantil Comunitário São Kisito e Casa Magone – Sambizanga.
Destaca-se que há uma diferencia metodológica entre os dois centros: as duas estruturas utilizam
horários diferentes de acordo com as exigência das crianças para conseguir, na forma mais
eficiente, a progressiva separação da rua e da sua rotina.
Grupo Alvo: criança de rua de 8 a 15 anos de idade (têm precedência as crianças mais pequenas).
Estas crianças têm que aceitar as regras dos centros (não fazer uso de bebidas, drogas nos
mesmos, ajudar nas tarefas da casa, participar as actividades educativas e lúdicas)
Objectivos: oferecer um ambiente protegido e familiar onde as crianças começam a deixar maus
hábitos próprios da rua para aceitarem regras que já não fazem parte da sua vida diária, mas que
asseguram uma certa estabilidade psicológica e emocional. Através deste processo, eles começam
entender que tem uma alternativa viável e um apoio humano além da rua.

Actividades:

Inserção nas estruturas de acolhimento dos Salesianos de Dom Bosco (centros infantis diurnos e
nocturnos e casas de família)
Esta actividade, dedicada a crianças menores de 15 anos, prevê a inclusão de crianças nos Centros
de Acolhimento: Casa São Kizito e Casa Magone. Isto acontece gradualmente, para evitar a criação
de desequilíbrios com aqueles que já são residentes e para que se torne mais aceitável o respeito
de algumas regras básicas, tais como: não roubar, tomar parte das actividades oferecidas,
respeitar os horários de entrada e saída, não levar consigo substâncias proibidas (é uma prática
muito comum a de cheirar cola ou gasolina entre as crianças de rua) ou objectos perigosos.
Depois de um período adequado nos CIC - Centros de acolhimento semi – residenciais, os meninos
têm a oportunidade de serem incluídos numa CF – Casa de Família, centros de acolhimento
residenciais (de forma permanente ou semi - permanente).
As actividades dos CIC são diferenciadas, de acordo com o tipo e da idade daqueles que estão
alojados, e da localização dos espaços livres disponíveis.
Em geral a actividade insere uma média de 50 meninos por ano.
 A Casa São Kizito, centro diurno e nocturno, é um espaço de aprendizagem flexível, aberto de
manhã das 8h de modo a permitir que as crianças satisfaçam as suas necessidades básicas
(higiene, saúde, alimentação). São oferecidas actividades lúdico - recreativas, seleccionados com
base no programa pedagógico-educacional, como jogos em grupo, desportos, filmes, actividades
de alfabetização e de formação. E’ oferecido um serviço de apoio psicológico, graças à presença
periódica de pessoal especializado.
A partir das 18 horas, as crianças encontram um lugar seguro durante as horas da noite, onde
possam satisfazer às necessidades básicas de saúde, higiene e alimentação, bem como possuir
uma área de jogo protegida. Neste centro são convidados e admitidos os jovens que participam
das actividades diárias.
 Na Casa Magone, centro diurno e nocturno, as actividades são realizadas como para os centros
acima descrito. Esta tipologia de acolhimento semi-residencial, dividida entre acolhimento diurno

Comissão Inspectorial “Crianças e Adolescentes em perigo” 15


e nocturno, responde às necessidades das crianças, que, estando habituados a uma vida na
estrada, têm dificuldade em ser inseridos imediatamente em um contexto estável 24/24 horas.
 Para além da realização das actividades básicas diárias, os gestores e educadores, funcionários
de cada CIC são responsáveis pela actualização dos dados informativos de cada criança e do centro
em geral, responder às necessidades de saúde das crianças, graças ao acompanhamento do
enfermeiro, bem como coordenar e supervisionar as actividades dos animadores / voluntários.

Elaboração de um plano de vida para os meninos


Na maioria dos centros de acolhimento para crianças desamparadas, vulneráveis ou de rua
presentes na Rede Salesiana existe um plano educativo-pedagógico ao qual os meninos têm que
se adaptar no momento em que acedem ao centro. E’ normalmente definido com base nas
necessidades do grupo de beneficiários acolhidos e das prioridades educativas do mesmo centro e
pretende fornecer este serviço adicional, garantindo a definição de um Plano de Vida, ou seja um
projecto educativo pessoal, delineado em forma participativa com base nas características
próprias de cada criança, adolescente e/ou jovem. A ideia que está na base da elaboração desta
actividade é que não tenha que ser o menino a se uniformizar às necessidades da estrutura, mas,
ao contrário, que seja a rede de protecção e reinserção a pôr-se ao serviço do menino, utilizando
uma abordagem baseada nos direitos humanos, onde o beneficiário não é o simples fruidor de um
serviço, mas o protagonista do seu futuro.
Para cada beneficiário é preparada uma ficha individual, simples e com dados sintéticos, com
todas as informações relativas ao seu percurso de reinserção social, ou seja dados pessoais, data
de entrada no centro, desenvolvimento psicossocial a nível de aprendizagem, capacidade de
relacionamento com os outros, situação familiar, etc... e é constantemente actualizado com as
informações recolhidas ao longo do projecto. A ficha vai ademais incluir a definição da medida de
reinserção escolhida. A recolha e actualização destas fichas vão permitir a criação de um arquivo
de todos os meninos acolhidos nos centros Salesianos, garantindo a troca de informações e o
fortalecimento da rede interna. A actividade, de facto, quer atingir os meninos acolhidos em todos
os centros e aqueles de rua que beneficiam do serviço de acompanhamento psicossocial, por um
total de quase 800 entre crianças, adolescentes e jovens por ano.

Realização de actividades de formação, sensibilização e prevenção do abandono com as famílias


de origem das crianças do programa de recuperação dos Salesianos e outras famílias em risco de
Luanda e Catete
A família tem um papel fundamental no desenvolvimento integral da criança, ela é a primeira e
mais importante instituição responsável pela educação e pelo cuidado das crianças. Embora
historicamente a família sempre soube como educar seus filhos, é preciso considerar que,
especialmente em um ambiente de extrema pobreza, como aquele onde é implementada a acção,
constata-se uma perda de identidade da família e consequentemente aumenta a probabilidade de
abandono ou de violência dentro do seio familiar.
As actividades formativas propostas nesta acção visam acompanhar as famílias mais vulneráveis
das crianças, adolescentes e jovens acolhidos nos centros de acolhimento, nas casas famílias, nos
centros de Kala Kala e Cabiri, nas casas-autonomia, assim como as familias que pedem apoio a
comunidade salesiana, num percurso de aprofundamento de conhecimentos sobre a educação, o
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desenvolvimento e o cuidado das crianças. O objectivo é fortalecer as competências familiares e
desenvolver conhecimentos e capacidades práticas das famílias de prevenção, protecção,
desenvolvimento e participação das crianças e dos adolescentes. Este ciclo de sensibilização e
formação acompanha também o processo de reeducação das famílias e dos meninos, facilitando a
reflexão acerca de temas cruciais para o alcance da meta final de reinserção definitiva do menino
dentro do núcleo familiar de origem.
As actividades formativas e de sensibilização são ademais desenvolvidas com famílias vulneráveis
da cidade de Luanda e Catete com finalidade de prevenção ao abandono. Através da abrangência
destes diferentes grupos alvos, ao longo das acções pretende-se alcançar um total de 2.000
famílias.
Os encontros de formação têm cadência periódica e tratam, entre outros, dos seguintes temas: o
papel da família, violência domestica, relação entre escola e família, educação aos Direitos
Humanos e direitos da criança, HIV e doenças sexualmente transmissíveis, Higiene e Saúde,
importância do registo de nascimento, saúde e nutrição, desenvolvimento físico, emocional e
psicológico da criança, papel da família, da escola, da comunidade e da sociedade no cuidado da
criança, o Sistema Preventivo de Dom Bosco.

Desafios:
- Melhorar a qualidade dos educadores para atender as demandas
- Acrescentar o número de profissionais na área de psicologia e social para garantir o apoio
psicossocial individual para as crianças e as familias
- Melhorar a qualidade dos encontros formativos a nível de material e de palestrantes.

5.3 Centros de segundo acolhimento

Os centros de segundo acolhimento (CSA) abrigam apenas as crianças que cumpriram uma
primeira etapa no Centro Infantil Comunitário São Kisito e Casa Magone e que manifestaram a
intenção de deixar a rua e os seus hábitos. Depois de um processo de “estabilização” nos CPA, as
crianças que saem do Centro São Kisito são dirigidas nas casas famílias, enquanto os que saíram da
casa Magone mudam para a casa Margarida. As realidades das casas famílias e casa Margarida são
distintas, aqui em seguida são apresentadas as características das duas realidades.

1) Casas famílias: nas casas-família implementam-se os princípios reconhecidos na Convenção


dos Direitos da Criança, na qual, no seu Preâmbulo, reconhece que “a criança, para o
desenvolvimento harmonioso da sua personalidade, deve crescer num ambiente familiar,
em clima de felicidade, amor e compreensão”, principio que é normalmente negado às
crianças que se encontram na rua e que é um dos pilares da metodologia de intervenção
dos Salesianos de Dom Bosco.

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Localização: Casa Familia S. Zeferino Namucurà, Boa Vista – Ingombota; Casa Familia Domingo
Savio, Mabubas – Sambizanga.
Grupo Alvo: criança de rua com menos de 15 anos de idade. São aceite só as crianças que tem
passado antes num dos CAP e para os quais não foi ainda possível realizar um reunificação
familiar. Numero máximo de usuários: 42 (São Kizito: 22, Boa Vista: 10, Mabubas: 10).
Objectivos: oferecer as crianças e adolescentes uma condição de vida estável num contexto
familiar para voltar a ter uma vida ‘normal’ e uma rotina marcada por actividades escolares,
familiares, lúdicas. Tudo isso ajuda a promover um desenvolvimento integral da criança e a sua
reinserção na sociedade.

Actividades:
Dentro das famílias os pais, com o apoio dos educadores sócias dos SDB e os voluntários,
preocupam-se da:
 Educação e a monitoria da frequência escolar das crianças e dos adolescentes;
 O tempo livre e extra-escolar;
 Inserção na comunidade cristã através da catequese e dos grupos juvenis da Paróquia;
 A alimentação adequada e higiene pessoal;
 Processo de reintegração e reunificação familiar.

As casas famílias também seguem um regulamento interno que visa organizar melhor a entrada,
permanência e saída dos meninos, assim como as dinâmicas internas com objectivo a melhorar o
acolhimento e o clima familiar.

2) Casa Margarida: a Margarida é estruturada como um internado onde, embora as crianças


não vivam verdadeiramente numa família, podem contar com a presença de educadores e
voluntários que sabem criar um ambiente familiar, “em clima de felicidade, amor e
compreensão”, princípio que é um dos pilares da metodologia de intervenção dos
Salesianos de Dom Bosco. Destaca-se também que a casa Margarida está localizada na
Comunidade do Bom Pastor onde os SDB têm uma rede de serviços em prol da
comunidade (centro desportivo, centro de formação profissional, catequese) e onde as
crianças e adolescentes de rua são inseridos e acolhidos.

Localização: Casa Margarida – Mota, Sambizanga.


Grupo Alvo: criança de rua com menos de 15 anos de idade. São aceite só as crianças que tem
passado antes num dos CAP e para os quais não foi ainda possível realizar um reunificação
familiar. Número máximo de usuários: 50 (Casa Margarida: 30, Casa Magone: 20)

Objectivos: oferecer as crianças e adolescentes uma condição de vida estável num contexto
comunitário para voltar a ter uma vida ‘normal’ e uma rotina marcada por actividades escolares,
comunitárias e lúdicas. Tudo isso ajuda a promover um desenvolvimento integral da criança e a
sua reinserção na sociedade.

Comissão Inspectorial “Crianças e Adolescentes em perigo” 18


Actividades:
Os educadores sociais em conjunto com os voluntários e as crianças e adolescentes são
responsáveis destas actividades:

 Educação e a monitoria da frequência escolar das crianças e dos adolescentes;


 Organização do tempo livre (as actividades são obrigatórias);
 Actividades de aconselhamento e acompanhamento individual;
 Inserção na comunidade cristã através da catequese e dos grupos juvenis da Paróquia;
 Alimentação adequada e higiene pessoal;
 Processo de reintegração e reunificação familiar.

A Casa Margarida também segue um regulamento interno que visa organizar melhor a
entrada, permanência e saída dos meninos, assim como as dinâmicas internas com objectivo a
melhorar o acolhimento e o clima familiar.

Desafios:
- Educadores motivados mas sem as capacidades e qualificações técnicas necessárias para
desenvolver o trabalho na forma adequada
- Necessidade de poder adquirir nos nossos quadros pessoal com uma preparação escolar
especifica mais adequada.

5.4 Centros de formação Integral de Kala Kala e de Cabiri

Os meninos que fizeram uma caminhada formativa nos CSA e cuja família não tenha sido
localizada, ou seja tido localizada mas sem completar o processo de reinserção familiar, têm
acesso aos Centros de Formação Integral de Kala Kala e Cabiri. Estes centros são organizados como
internados e acolhem as crianças provenientes dos CSA, mas também crianças vulneráveis das
comunidades de Cabiri e Catete ou de outros centros ou internatos (Experiência da Ir. Domingas
na Viana)

Localização: Kala Kala: Catete – Mazozo, e Cabiri: Catete – Cabiri, província de Luanda.

Grupo Alvo:
Kala Kala: adolescentes ‘internos’ provenientes dos CSA de 14 a 18 anos e crianças e
adolescentes‘externos’das comunidades, de 06 a 16 anos, divididos na educação de base e na
formação profissional.Nivel académico: de 1ª até 6ª classe.

Cabiri: adolescentes de 14 a 18 anos provenientes dos CSA e das áreas rurais das comunidades
das Províncias de Luanda e Bengo. Todos são residentes.
Nivel académico: de 6ª até 9ª classe.

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Objectivos: O objectivo dos centros é de contribuir para a reinserção familiar e social de jovens em
vulnerabilidade social, visando assegurar uma educação integral e profissional de qualidade, num
ambiente criativo, inovador e de respeito ao próximo. Objectivo último dos centros é o de educar
para a vida pela razão, pela religião, pela ciência, pelo trabalho, pela arte e pela convivência,
transformando o sujeito em protagonista da sua vida na sociedade. Os centros visam também a
contribuir no desenvolvimento da comunidade local.

Actividades:

Formação Integral Humana e Profissional na rede dos Salesianos de Dom Bosco (centros de
formação profissional)
Promover a reinserção social dos jovens que vivem em situação de vulnerabilidade e
marginalização significa, em primeiro lugar, fornecer algumas bases sólidas que permitam ao
destinatário reconstruir a sua presença na sociedade.
O direito ao estudo, entendido também como formação profissional, é um elemento essencial que
permite no futuro a aquisição de autonomia e fornece recursos práticos para lidar com a vida
quotidiana ademais de fomentar a auto-estima, o crescimento, o fortalecimento e aprimoramento
de habilidades para a vida.
Para os destinatários da intervenção que manifestam a vontade de aprender um ofício, é,
portanto, garantido um serviço que visa estudar um percurso de reinserção pessoal em instalações
geridas pela contraparte, dependendo das características e idade do beneficiário.
O percurso de orientação, formação e qualificação profissional é, evidentemente, com base na
experiência que a rede Salesiana tem neste campo.
Os jovens que são formados em centros de formação salesiana, passam por uma série de
momentos e experiências de formação que vão reforçar o background da pessoa e as suas
potencialidades como sujeito pró-activo na sociedade, especialmente através da aprendizagem
sobre disciplinas técnicas que podem ser reflectidas no mundo produtivo Angolano.
A actividade, então, prevê a inserção de alguns adolescentes e jovens, mediamente 200 por ano,
nos CFP - Centros de Formação Profissional - geridos pela contraparte. Os cursos oferecidos pelo
CFP são: mecânica, carpintaria, construção civil, electricidade, hidráulica, informática,
secretariado, contabilidade, pastelaria e técnico de frios.
Cada jovem é acompanhado na escolha da disciplina mais adequada, tendo em conta as
características pessoais e da conveniência em termos de carreira futura.
Entram neste tipo de proposta formativa também o Centros de Formação Profissional de Kala Kala
e a Cidadela Jovens de Sucesso de Cabiri, centros em regímen de internado, geridos pelos
Salesianos com o apoio do MAPESS.

Os adolescentes que vem dos CSA têm um plano de estadia nos centros de Kala Kala e Cabiri de
três anos. Durante esse tempo eles vivem dentro da estrutura tendo a possibilidade de
desenvolver, na base da idade, das capacidades e atitudes, estas actividades:
 Educação desde a 1a até a 6a classe em Kala Kala e desde a 6a até a 9a em Cabiri.
 Formação profissional conseguindo titulo de ‘técnico primário’ nestes sectores:
-Agricultura
-Construção Civil
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-Eletricidade (baixa tensão)
-Marcenaria
-Serralharia
-Informática
-Educação a cidadania
 Actividades lúdicas/lazer

Os Centros de Kala Kala e Cabiri também seguem um regulamento interno que visa organizar
melhor a entrada, permanência e saída dos meninos, assim como as dinâmicas internas com
objectivo a melhorar o acolhimento e o clima da estrutura.

Desafios:
 Baixa participação dos pais nos momentos relevantes para o sucesso escolar dos filhos;
 Melhorar o nível dos educadores com capacidade de acompanhar estes adolescentes com
a problemática própria da sua idade e da situação particular;
 Educadores capazes de manter presença salesiana a “tempo pleno” entre os educando do
internato;
 Assegurar os recursos materiais para garantir os ritmos normais da vida e actividades dos
internatos;
 Alunos usuários (eventualmente) de drogas.

5.5 Reinserção familiar

A reintegração familiar é um passo profundo e delicado dentro do processo de acolhimento,


protecção, promoção e reinserção social das crianças e dos adolescentes que vivem e trabalham
na rua e também um dos objectivo principais de todo o processo. Dentro da metodologia de
intervenção dos Salesianos de Dom Bosco, este percurso começa desde o momento em que as
crianças demonstram a vontade de deixar a vida da rua e continua também nos centros de Kala
Kala e Cabiri.

Este processo de acompanhamento envolve a criança e a sua família que, depois de voltar a
encontrar-se, tem que voltar a aceitar-se e respeitar-se apesar das mudanças que tenham
acontecido no período de distância. De facto, depois de ser localizada, a família por sua parte tem
que voltar a conhecer/ reconhecer a criança, entendendo e apreciando o caminho por ela
desenvolvido depois de ter saído de casa. A criança, ao contrário, tem que voltar a sentir-se aceite
dentro do núcleo familiar, a mostrar que mudou os seus maus hábitos e que tem vontade de
voltar definitivamente para casa.

Localização: localidades diferentes da província de Luanda e às vezes outras províncias.

Comissão Inspectorial “Crianças e Adolescentes em perigo” 21


Grupo Alvo: crianças e adolescentes que vivem e trabalham na rua que entram em contacto com
as obras salesianas e que, ao longo da sua caminhada de re-educação, expressam o desejo de
voltar nas suas famílias.
Objectivos: O objectivo desta actividade é permitir a criança ou adolescente de se reunificar com a
sua família, lugar mais indicado para o seu desenvolvimento pleno e saudável.

Actividades:

Realização de um serviço de localização, visitas domiciliares e reintegração familiar (reencontro


com as famílias de origem)
A finalidade do percurso de reabilitação é, de um lado, devolver a criança ao núcleo familiar de
origem e de outro, educar a família para poder acolher novamente estas crianças, cientes que a
família é a principal educadora na sociedade.
Geralmente as crianças que são retiradas da rua em um primeiro momento não querem
encontrar-se com a sua família, por medo e insegurança. É neste momento que a função do
localizador e do operador social se torna fundamental. No trabalho com a criança em situação de
risco o acompanhamento psicossocial e as actividades de ressocialização com as famílias são
indispensáveis e enfrentam o desafio de desenvolver práticas adequadas e pertinentes aos
problemas específicos desse contexto de trabalho e dessas pessoas.
De facto a actividade visa voltar a encontrar os familiares e relacionar-se com eles; sensibiliza-los
no seu papel de responsáveis e educadores dos meninos e em seus deveres de protecção e
cuidado; acompanha-los no reconhecimento das mudanças do menino, fruto do caminho feito e
por em acto um comportamento em linha com a nova realidade do rapaz; e por fim, criar
novamente os laços afectivos, de confiança e aceitação mutua. O localizador tem o papel de
localizar a família, a partir das informações dadas pelo mesmo jovem. Uma vez encontrado algum
familiar, entender, no diálogo, as condições que levaram ao afastamento do menino; analisar as
reacções do menino e da família para entender as dinâmicas relacionais implícitas e explicitadas,
recolher os dados pessoais e eventuais documentos do menino e, com base nas informações
recolhidas, analisar a possibilidade de começar o percurso de reinserção. Caso se encontre esta
condição, o localizador convida a família para visitar o centro e o menino com cadência regular,
organizando as visitas com encontros em presença do coordenador e com momentos pessoais
entre a família e o menino. Estas acções são seguidas por uma reinserção parcial do menino
durante finais de semana ou períodos de férias (onde considera-se possível) avaliando a resposta
ao contexto e à relação novamente estabelecida.
Nos casos em que o menino seja definitivamente reinserido na família, vai se garantir o
acompanhamento periódico para facilitar a gestão das relações e das actividades diárias do
menino (documentos, escola, roupa...) monitorizando constantemente as dinâmicas familiares
reconstruídas e renovadas.
Esta actividade é garantida às crianças, adolescentes e jovens inseridos nos centros de
acolhimento, nas casas famílias, nos centros de Kala Kala e Cabiri e em alguns casos dos jovens
que ainda vivem na rua e que manifestam o desejo de voltar para casa. De facto, na rua
encontram-se situações de pessoas que, tendo alcançado a idade pré-adulta, vendo desvanece-se
lentamente a possibilidade de recuperação, estão decididos a retornar a seus lugares de origem e
Comissão Inspectorial “Crianças e Adolescentes em perigo” 22
famílias, contando com a possibilidade de recomeçar a planear o próprio futuro, indo para longe
dos lugares onde perderam os últimos anos. Muitas vezes, porém, são incapazes de fazê-lo na
ausência de meios adequados. Mesmo um bilhete de transporte público para uma das províncias
de Angola, na verdade, custa em média, significativamente mais do que qualquer menino de rua
pode pagar.
A actividade, por conseguinte, tem também como objectivo desenvolver processos de
acompanhamento na procura/pesquisa da família de origem e a reinserção na mesma.
No desenvolvimento desta actividade, mais uma vez a abordagem participativa é crucial, pois a
reintegração é actuada a partir de informações fornecidas pela própria criança ou adolescente e
da avaliação da efectiva vontade e preparação do jovem. O envolvimento do destinatário, mesmo
neste caso, para promover um sentido de responsabilidade e o papel de cada um é necessário
para o sucesso e a sustentabilidade de escolha. Já há algum tempo existe uma parceria dos SDB
com o Instituto Nacional da Criança (INAC) e com o Departamento de Prevenção à Delinquência
Juvenil da Policia Investigativa (DNIC), que facilita bastante o alcance das familias.

Transferência dos casos de vício para programas específicos de tratamento e recuperação


Esta actividade foi concebida para os beneficiários com idade acima de 15 anos, que tem vivido na
rua por um longo período de tempo e que sofrem de dependência de álcool, drogas e substâncias
em geral (gasolina, cola). A proposta aos beneficiários com essas características é a transferência
para um centro que se ocupa do tratamento e recuperação da dependência, único de seu tipo em
Angola, aberto recentemente e com o qual o parceiro local estabeleceu uma boa parceria. Este
centro, denominado "Fazenda da Esperança" está localizado na província do Huambo, a cerca de
600 km da capital, área rural do País.
A ideia da Fazenda é de abandonar a vida passada, tanto os locais como as pessoas que muitas
vezes funcionam como lastro e tornam difícil a mudança, de modo a dedicar-se à reconciliação
consigo mesmos através do trabalho manual na agricultura e da oração.
O projecto da Fazenda, lançado no Brasil em 1983 e, em seguida, desenvolvido em muitos outros
países em todo o mundo (ver www.fazenda.org.br), possui agora uma reputação internacional
para os milhares de jovens recuperados através deste tipo de intervenção. O valor acrescentado
do programa é que os educadores que trabalham na instalação são todas pessoas que
experimentaram em primeira mão a recuperação e, então, demonstram com as próprias vidas os
efeitos positivos do compromisso para a mudança.
Como acima mencionado, a "Fazenda da Esperança" e os Salesianos de Dom Bosco têm
estabelecido um canal de colaboração privilegiada, o que permite inserir os beneficiários
seleccionados do projecto a um custo mais baixo (ver orçamento).
Os beneficiários que demonstram a tenacidade e vontade de empreender percurso de
recuperação, são acompanhados pelo operador social especializado e pelo pessoal da Fazenda, até
a sua colocação definitiva no centro. São de 5 à 7 os jovens que se beneficiam desta actividade
cada ano. O número reduzido deve - se a um compreensível e inicial "fechamento" dos jovens
encontrados na estrada, para este tipo de medida de recuperação. Sendo uma iniciativa piloto
para os meninos de rua em Luanda, considerou-se adequado limitar o número de potenciais
beneficiários, contando de poder replicar a experiência para alcançar e envolver mais jovens no
futuro.
Comissão Inspectorial “Crianças e Adolescentes em perigo” 23
Desafios:
 Muitas vezes a primeira reacção da família ao ver o próprio filho voltar é de rejeitá-lo
totalmente, sem ter a paciência de escutar a proposta de acompanhamento, isso prejudica
a possibilidade da família de voltar a aceitar o menino;
 Para os meninos que não são da província de Luanda é impossível pensar num contacto
constante com a família. Normalmente tenta-se fazer um contacto prévio telefonicamente,
tentando organizar, a partir de longe, as condições mínimas para o menino voltar para a
casa (encontrar uma vaga na escola, ter acesso a actividades extra-escolares). Quando as
condições estiverem preparadas, acompanha-se o menino de volta para casa, continuando
a monitoria à distância;
 Sustentabilidade económica dos localizadores;
 Acompanhamento e monitoramento das familias por parte das instituições públicas;
 Nos casos mais graves, conseguir uma intervenção rápida e estruturada das instituições
governamentais.

5.6 Casas-autonomia

Após uma avaliação do trabalho levado a frente nos últimos anos, os SDB perceberam que o
processo de acompanhamento das crianças para os quais a reintegração na família não tinha sido
possível, precisavam de um passo a mais para não correr o risco de prejudicar o trabalho de
afastamento da rua. A nova etapa no processo de reintegração social consta na inserção de um
número limitado de jovens (maiores de 18 anos) nas casas-autonomia.

Grupo Alvo: Esta medida de reinserção é garantida aos jovens na faixa etária entre 18 e 21 anos,
para os quais não é possível o retorno às suas famílias de origem e que já terminaram um percurso
educativo e de formação integral passando pelas diferentes etapas acima descritas.
A maioria desses jovens são pessoas que terminaram uma fase formativa num dos centros de
acolhimento ou de formação profissional dos Salesianos de Dom Bosco, em particular o Centro de
Formação Profissional de Kala Kala e a Cidadela Jovens de Sucesso de Cabiri e, avaliando seu Plano
de Vida e a situação familiar, são impossibilitados a voltar para seus núcleos familiares originários
e manifestam a necessidade de serem acompanhados num processo voltado à independizaçao.
Outro grupo será composto por jovens que ainda encontram-se desamparados e vivem numa
situação de instabilidade, que já tem acedido ao processo de reinserção social posto em acto pelos
Salesianos de Dom Bosco (cursos profissionais, localização e visita familiares, sensibilização, etc...)
mas que, devido à idade avançada, não puderam ser acolhidos nos centros de acolhimento. Esses
jovens portanto já beneficiaram de um acompanhamento integrado de qualidade acima da média
dos jovens da mesma idade. Esta intervenção è, de momento, a etapa conclusiva.

A inserção na casa-autonomia visa ser uma solução transitória relacionada com a adquisição de
capacidades adequadas, que permitam concluir a passagem para uma vida autónoma. Nesta fase
é garantido o acompanhamento dos jovens segundo a metodologia educativa salesiana, para a
Comissão Inspectorial “Crianças e Adolescentes em perigo” 24
inserção no mundo do trabalho, etapa fundamental no processo de reinserção completa na
sociedade. Quando possível, em paralelo à inserção na casa-autonomia, continuarão as
actividades de contacto com a família de origem (onde possivel) e o serviço de apoio e reforço das
suas competências.
O tipo de solução habitacional que está na base deste processo de reinserção social não pode ser
uma estrutura "artificial" distante da realidade do contexto de intervenção. Isto significa que,
embora naturalmente fornecendo as condições básicas (saneamento e condições de vida em
geral) para uma estadia segura e positiva na instalação, o perfil destas casas-autonomia será na
linha com o padrão ao qual esses jovens podem aspirar para as suas vidas no futuro. Esta decisão
também quer evitar uma abordagem assistencial, promovendo invés um processo de
responsabilização adequado, tanto em termos de compromisso (nos estudos, no trabalho) quanto
financeiros (partilha de custos).
As casas autonomias baseiam-se:

 Na natureza temporária de ajuda para o destinatário: o apoio ao jovem, determinado com


base no projecto educacional individual e na realização dos objectivos intermédios não
será (salvo excepções justificadas) por mais de 24 meses, tempo em que o destinatário,
graças também ao apoio psicossocial e de inserção no mundo laboral e profissional, deve
ser capaz de se sustentar do ponto de vista económico;
 No envolvimento de um máximo de 16 jovens com idade superior a 17 anos;
 Na experimentação da vida independente e comunitária;
 Na presença de operadores sociais preparados para apoiar os jovens em desenvolver as
capacidades de gerir a sua vida independente;
 No acompanhamento para a inserção laboral (definição de CV, contactos com as empresas,
experiências de estagio e/ou trabalho);
 No modelo pedagógico e educacional promovido pelos Salesianos, que os jovens têm
seguido no seu caminho de saída da vida de rua;
 Na aprendizagem e interiorizacção dos mecanismos de convivência social dentro dessa
estrutura, dinâmica que faz parte do processo rumo a independência que o projecto quer
activar;
 Na importância do desenvolvimento nos jovens de “life skills” que favorecem o seu
protagonismo.

Actividades:

Predisposição e preparação de casas autonomia (grupos apartamento), em Luanda e Catete.


A actividade prevê a predisposição e o equipamento de três casas-autonomia, uma na cidade de
Luanda, Município de Sambizanga, bairro de Mabubas, duas na cidade de Catete (incluindo a
possibilidade de alugar outras residências menores para os jovens que necessitem morar mais
próximos ao lugar de trabalho).
Os destinatários destes grupos apartamento estão na faixa etária entre 16 e 21 anos; e pertencem
a duas categorias diferentes de jovens ex de rua. A maioria deles são pessoas que terminam uma
Comissão Inspectorial “Crianças e Adolescentes em perigo” 25
fase formativa num dos centros de acolhimento ou de formação profissional dos Salesianos de
Dom Bosco, em particular o Centro de Formação Profissional de Kala Kala e a Cidadela Jovens de
Sucesso de Cabiri e, avaliando seu Plano de Vida e a situação familiar, são impossibilitados a voltar
para seus núcleos familiares originários e manifestam a necessidade de serem acompanhados
num processo voltado à independência. Outro grupo é composto por jovens que ainda
encontram-se desamparados e vivem numa situação de instabilidade, que já tem acedido ao
processo de reinserção social posto em acto pelos Salesianos de Dom Bosco (cursos profissionais,
localização e visita familiares, sensibilização, etc...) mas que, devido à idade avançada, não
puderam ser acolhidos nos centros de acolhimento. Esta actividade de facto torna-se uma
resposta concreta a uma demanda à qual ainda o VIS e os Salesianos de Dom Bosco não tinham
solução.
A finalidade do serviço é acompanhar as crianças e jovens para a reinserção social plena,
psicológica e à autonomia e independência; a duração do serviço não poderá ser em princípio, a
menos que se apresentem motivos excepcionais, mais de 2 anos por cada jovem.
Como modalidade de auxílio-habitacional e apoio ao processo de independência de jovens que
abandonam o sistema de protecção e recuperação da vida nas ruas, estruturado pelos Salesianos,
a casa autonomia baseia-se:
 Na natureza temporária de ajuda para o destinatário: o apoio ao jovem, determinado com
base no projecto educacional do beneficiário e com base na realização ou não de objectivos
intermédios não será (salvo excepções justificadas) por mais de 24 meses, tempo em que o
destinatário, graças também ao apoio psicossocial e de inserção no mundo laboral e
profissional, deve ser capaz de se sustentar do ponto de vista económico. Este mecanismo visa
à sustentabilidade deste serviço para apoiar os jovens que estão a embarcar em um caminho
de autonomia e ainda não são capazes de viver suas vidas de forma independente, e é um
importante indicador que mede a reinserção social do beneficiário.
 Um máximo de 16 crianças com idade superior a 17 anos.
 Experimentação da vida independente e da vida em comunidade, com todas as dificuldades e
desafios que um adolescente ou jovem tem de enfrentar na vida quotidiana.
 Presença de operadores sociais preparados para apoiar os beneficiários: este apoio não é visto
na perspectiva do assistencialismo, mas como uma peça necessária para o desenvolvimento,
dos jovens, de capacidades que conduzam à autonomia habitacional. O tipo de solução
habitacional que está na base deste processo de reinserção social não pode ser uma estrutura
"artificial" distante da realidade do contexto da intervenção. Isto significa que, embora
naturalmente fornecendo as condições básicas (saneamento e condições de vida em geral)
para uma estadia segura e positiva na instalação, o perfil destas casas - autonomia será em
línea com o padrão ao qual esses jovens podem aspirar para as suas vidas no futuro. Esta
decisão também quer evitar uma abordagem exageradamente assistencial, em base a qual o
jovem acaba por ser um receptor passivo de bens e serviços que são garantidos sem processo
paralelo de responsabilização adequado, tanto em termos de compromisso (nos estudos, no
trabalho) quanto financeiros (partilha de custos).

Na elaboração da lista de equipamento padrão da casa autonomia, foram envolvidos os mesmos


meninos em um exercício que visa projectar a sua própria experiência em um futuro próximo.
Comissão Inspectorial “Crianças e Adolescentes em perigo” 26
O resultado que surgiu inclui: Materiais vários, Gerador, Sala de jantar (armário, mesa, cadeiras),
Quarto (beliches, cama de solteiro, guarda-roupa, lâmpada de cabeceira, lençóis, toalhas grandes
e pequenas, mosquiteiros, colchões individuais, mesas de estudo e cadeiras individuais), Cozinha
(arca, frigorífico, fogão, conjunto de pratos, talheres, copos, louças, utensílios de cozinha), Área
comum (sofás, móveis vários (TV, cadeiras). Em termos de dotação estrutural, pensamos em
propriedades com água canalizada e electricidade e, no conhecimento de que esses serviços não
são totalmente garantidos pelo serviço público, proporcionar formas alternativas, como
poços/tanques de água e gerador.
Para o local específico da intervenção, escolheram-se duas realidades com características
diferentes, mas que partilham a necessidade de garantir condições de vida adequadas para o perfil
dos meninos; por isso as estruturas estarão localizadas perto de centros propedêuticos ao
processo de reintegração: as instituições de ensino (escolas formais e profissionais), as empresas /
centros de produção (para o inserção no mundo do trabalho), centros de serviços básicos
(documentação, saúde, segurança) e das comunidades Salesianas.
Uma casa é localizada no Município de Sambizanga, no bairro de Mabubas. A escolha desta
localidade deve-se à proximidade com uma das comunidades Salesiana de maior fervor em
Luanda: a propria comunidade de Mabubas, onde os rapazes vão ter a possibilidade de continuar
seus estudos, aceder facilmente às instalações desportivas e não deixar de ser envolvidos nas
actividades educativas de espírito salesiano. A casa de Mabubas, ademais, tem uma posição
estratégica para o acesso à área economicamente em desenvolvimento de Viana já que encontra-
se em proximidade da linha férrea, garantindo facilidade de deslocação para os jovens que serão
inseridos em estágios ou trabalhos não directamente na cidade de Luanda. Duas casas, ao
contrário, serão localizadas fora da cidade de Luanda, no município de Catete, posição estratégica
em relação aos objectivos do projecto. A área de Catete, de facto, está a viver nos últimos anos
um rápido processo de reurbanização e redefinição administrativa (criação de novos municípios
autónomos). Do ponto de vista das perspectivas, são claras as vantagens num processo de
reintegração.
Destaca-se ainda o papel central no cenário macro económico em Angola, que o município de
Catete e seu adjacente (de Viana, saída Sul este da capital) tomaram recentemente. O impulso que
a economia angolana tem vivido desde o fim do conflito civil em 2002, viu nesta região o
nascimento e uma grande concentração de empresas e locais de produção. Além disso, em termos
políticos, este processo de desenvolvimento tem sido acompanhado por uma série de medidas
para estimular esse crescimento. Tomemos por exemplo a disposição que estabeleceu em Maio de
2011, a "Zona Económica Especial (ZEE)", que goza de privilégios especiais em termos de
investimento económico.

Integração dos jovens seleccionados nas casas-autonomia


A integração na casa autonomia é concordada em sinergia entre os atores envolvidos na dinâmica
do projecto, principalmente, claro, os beneficiários, que devem ser mesmo os protagonistas das
suas próprias escolhas.
Tudo é documentado por um dossiê que irá incorporar as informações gerais do jovem, as razões
que estão por trás da decisão de entrar na estrutura, as principais etapas definidas e os resultados
alcançados gradualmente.
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Elaboração de um plano pedagógico e de um regulamento interno das casas-autonomia
O modelo pedagógico e educacional promovido dentro da casa – autonomia deve recuperar os
pontos-chave da abordagem integrada de recuperação Salesiana, que os jovens têm seguido no
seu caminho de saída da vida de rua, no caso deles agora quase concluída com a transição para a
casa -autonomia.
Aprender e interiorizar os mecanismos de convivência social dentro dessa estrutura faz parte da
dinâmica para independentizar que o projecto quer activar. Assim, é importante que os processos
decisórios, que são o montante da definição de regras de convivência, sejam devidamente
acompanhados por profissionais (fornecidos pelo projecto), mas evitando afectar ou tomar as
decisões com base na teoria, para depois impor a solução encontrada.
O mecanismo é pensado de maneira a definir o regulamento a partir da experiência directa da
casa-autonomia, partindo dos episódios individuais de vida quotidiana; é portanto prioritário
nesta actividade evitar qualquer abordagem de mecanismo vertical, de imposição do alto ao baixo
(top-down approach).

Sessão de formação para a vida autónoma (life skills/ habilidades para a vida)
A fórmula Life Skills é hoje amplamente utilizada e conhecida no contexto de intervenções de
apoio e promoção do desenvolvimento integral de crianças, adolescentes e jovens.
Para se ter uma definição geral, usamos o documento da Organização Mundial da Saúde “Life skills
education in schools”, publicado em 1993, onde as Life Skills (Habilidades para a Vida) são
definidas como “as habilidades que levam ao comportamento positivo e de adaptação que torna o
indivíduo capaz de lidar efectivamente com as exigências e os desafios da vida quotidiana”.
As competências que se qualificam para as Life Skills são inúmeras e sua natureza e definição
podem variar de acordo com a cultura e o contexto. De qualquer maneira, podemos identificar um
conjunto de habilidades que são a base das iniciativas de promoção da saúde e o bem-estar de
crianças e adolescentes. Este núcleo fundamental, identificado pela OMS (Organização Mundial da
Saúde) é constituído por 10 competências: Autoconhecimento, Gerência das emoções, Gerência
do stress, Empatia, Criatividade, Sentido crítico, Solução de Problemas, Tomar Decisões,
Comunicação eficaz, Capacidade de ter relações interpessoais.
Com referência às habilidades para a vida acima mencionadas, os momentos de formação para a
vida independente são traduzidos de diversas maneiras: actividades lúdico - recreativas, dinâmicas
de grupo, encontros individuais, reuniões informais, com um vínculo forte.
Os encontros, destinados a todos os jovens inseridos nas três casas-autonomia, terão uma
cadência mensal para garantir a gradual tomada de responsabilidades e gestão independente por
parte dos inquilinos e melhorar progressivamente a qualidade da vida em cada casa.

Elaboração do perfil vocacional individual (banco de dados) e formação para o trabalho


(currículos, entrevistas, etc...)
O perfil vocacional é de certa forma um componente específico do Plano de Vida individual
descrito na actividade 1.3, que visa definir o ponto de partida para promover a integração laboral
dos jovens na sociedade. Esta actividade consiste em acções direccionadas a todos os beneficiários

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que tenham uma formação profissional e possam de consequência aspirar à ser inseridos no
mundo do trabalho, com metodologias de grupo, mas também secções dedicadas individualmente
a cada destinatário.
Em particular destinatários desta actividade são os jovens inseridos nas três casas-autonomia e os
alunos do último ano dos cursos profissionais dos Centros de Formação Profissional assim como
de Kala Kala e Cabiri, por um total de arredor de 210 jovens ao longo do projecto. A ideia de
abranger nesta actividade também os meninos que frequentam o último ano dos cursos
profissionais nasce da necessidade de habituar os jovens a saber “ler” as oportunidades laborais
conhecendo o mundo empresarial para estar melhor preparados no momento do enfrentamento
com a realidade do emprego em Angola.
Entende-se preparar um banco de dados de fácil uso e consultação para todos os operadores com
base no identikit do jovem e prosseguir com a implementação de acções de formação para o
trabalho. Cada jovem será de facto acompanhado na elaboração do seu curriculum vitae, são
organizadas simulações de entrevistas, discutidos os códigos de conduta no trabalho (higiene,
pontualidade, confidencialidade, etc.), e programadas visitas dedicadas ao conhecimento do
mundo empresarial, as realidades de negócios, métodos de recrutamento e de emprego, etc.
O principal encarregado desta actividade é, naturalmente, o responsável em orientação
profissional e colocação no mundo do trabalho que deve associar o próprio trabalho aos contactos
com os sujeitos económicos da área. Em termos individuais e de recursos mobilizados pelo
projecto, espera-se o processamento de toda a documentação necessária para garantir ao jovem a
satisfação dos requisitos necessários para a entrada no mercado de trabalho.

Coordenação com o escritório Salesiano de encaminhamento ao trabalho activo em Luanda,


troca de metodologias, de documentação, sessões de formação
Na Comunidade Salesiana da Lixeira, uma das maiores de Luanda, está em operação há vários
anos, um escritório de colocação profissional que trabalha principalmente com os jovens que são
formados nos centros de formação salesiana. Graças a sua experiência e aos resultados positivos
de seu trabalho, este escritório é reconhecido pelo Ministério do Trabalho (Mapess) e foi muitas
vezes envolvido em projectos de cooperação para o desenvolvimento, ambos geridos seja pelo VIS
que por outras ONG internacionais, última entre as quais a espanhola JyD (Jovenes y Desarrollo) e
CODESPA (uma das maiores organizações espanholas). O centro de trabalho de Luanda
aperfeiçoou uma variedade de metodologias de intervenção para o serviço que oferece, tanto em
termos de recursos humanos (habilidades e experiência), tanto em termos de práticas,
procedimentos, documentação, modelos, contactos com empresas, etc.
A experiência que se deseja activar com a presente acção baseia-se na partilha de metodologias,
documentos de trabalho e intercâmbio de contactos assim como na organização de sessões de
formação regulares com fim de modelar o processo de encaminhamento ao trabalho utilizado em
Luanda à realidade fora da cidade onde também vai ter um grupo de beneficiários (Catete). Um
sistema integrado deste tipo permite a óptima qualidade do serviço oferecido para os jovens
beneficiários, ademais de possíveis sinergias com a realidade empresarial já utente do escritório.

Desafios:
Comissão Inspectorial “Crianças e Adolescentes em perigo” 29
 Encontrar as estruturas físicas, com condições económicas acessíveis, para poder realizar a
experiência (aluguer das casas)
 Encontrar recursos humanos qualificados para acompanhar pedagogicamente a inserção
dos jovens na sociedade e, sobretudo, no mundo do trabalho
 As carências afectivas que estes jovens arrastam desde a infância e a cultura tradicional no
campo da sexualidade, impulsa-os a acelerar a procura de laços estáveis neste campo sem
ter o amadurecimento humano, psicológico, espiritual suficiente
 Parcerias com empresas e escolas para os jovens entrarem no mundo de trabalho sem
deixar de estudar
 Sustentabilidade (despesas de gestão da casa, renovação periòdica dos equipamentos)

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6 Representação gráfica do processo actual de inserção social

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7 Questões Metodológicas

A metodologia utilizada pelos Salesianos de Dom Bosco no trabalho de acolhimento e reinserção


social das crianças de rua, que tem tomado forma orgânica durante o projecto mencionado há
pouco e que pretende-se reforçar com elementos de novidades durante a intervenção presente,
compreende diferentes etapas. O percurso programado para o menino que se encontra a viver
desamparado na rua e que já, por diferentes motivos, interrompeu os laços afectivos com a família
e origem, prevê um primeiro contacto na rua, necessário para ganhar a confiança do mesmo e
sensibiliza-lo para que escolha um novo caminho de vida; um tempo nos centros de acolhimento,
onde começa a estudar e empenhar-se em actividades lúdico-recreativas, até criar vontade de
experimentar novamente a vida familiar numa casa-família, onde permanece até que possam ser
criadas as condições para ele poder entrar nos centros profissionais de Kala Kala e Cabiri.
Os elementos de novidade deste projecto prevêem o fortalecimento da primeira etapa do
processo, metodologicamente a mais importante, já que o passo mais difícil a ser cumprido para
os menores é a decisão de deixar a rua definitivamente, e com ela os vícios e a vida priva de regras
e empenhos. Devido à natureza vulnerável e mutável dos meninos encontrados nas ruas, as
actividades educativas aqui desenvolvidas são pensadas para serem flexíveis, para poderem ser
ampliadas, modificadas e reorientadas, dependendo das necessidades do grupo-alvo e dos
obstáculos que poderiam impedir-lhes uma participação activa devido às suas condições de vida
precária. Por isto os serviços oferecidos pretendem ter uma qualidade máxima, para garantir a
melhoria das condições de vida e de aceitação social, superar as disparidades com os outros
grupos já inseridos social e economicamente na sociedade e para oferecer aos beneficiários uma
oportunidade concreta de mudar o seu status, de se qualificar e de aprender a se valorizarem
enquanto seres humanos.
Mais ainda, a presente intervenção prevê a criação de uma nova etapa do processo de reinserção.
A metodologia de facto vai ser completada através da instituição de oportunidades concreta de
inserção laboral para os meninos que terminam a formação nos centros de formação profissional
de Kala Kala e Cabiri. Em virtude das diversas condições de cada beneficiário, será activado um
processo individualizado que prevê a reunificação com as famílias de origem ou a inserção numa
das casas-autonomia, como passagem importante para adquirir as competências necessárias para
a vida autónoma. Nesta fase prevê-se garantir o acompanhamento para a orientação profissional e
a inserção laboral. Este tipo de medidas concretas se insere na promoção integral do menino a
serviço de um projecto social; de facto a educação não se reduz à uma acção pedagógica, ela se
insere no processo social, como parte de um todo mais amplo, onde encontramos a sociedade
com seus dinamismos e conflitos. Os Salesianos de Dom Bosco vêem na educação da juventude
um espaço e instrumento de transformação social. A qualidade de qualquer educação, em nível
macro, transparece em sua finalidade social, em sua contribuição efectiva para a construção de
uma sociedade participativa e inclusiva.

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8 Impacto esperado da acção

A intervenção tem um impacto em primeiro lugar no grupo alvo directamente envolvido nas
acções. O beneficiário será protagonista e sujeito promotor das medidas de reinserção. È
garantida então a plena participação e a apropriação dos processos. Elaborar e acompanhar
medidas concretas de reinserção tem também um evidente impacto nas vidas das pessoas
envolvidas e das respectivas famílias: oferece possibilidades efectivas de melhorar as condições de
vida e em termos de reducção da pobreza. A promoção do protagonismo juvenil (através também
do associacionismo), além disso, é outro elemento que favorece a criação de mecanismos novos e
sólidos na sociedade civil.
É de destacar em fim a importância do diálogo e colaboração com as instituições públicas e os
actores da sociedade civil: estão previstas acções para fortalecer esta relação na perspectiva
também de apresentar metodologias de bom êxito para ser tomadas em conta na definição das
políticas públicas.

9 Plano de compensação e possibilidades de reprodução/extensão (efeitos


multiplicadores)

As boas prácticas e metodologias de protecção social e recuperação implementadas no projecto (e


também sistematizadas e publicadas) poderão ser adoptadas também em outros contextos no
País. Todas as competências adquiridas com esta acção terão uma difusão ampla tendo em conta:
a capilaridade da presença dos Salesianos de Angola em 6 Províncias Angolanas através de
diferentes realidades: escolas, centros de saúde, centros profissionais, comunidades, grupos
diversos.
A acção foi estudada com a finalidade de obter efeitos multiplicadores no curto e longo prazo:
-a recaída das actividades de formação e sensibilização para as famílias em diferentes sectores
terá um efeito directo nas pessoas mas também nas comunidades às quais as famílias pertencem;
-o fortalecimento da colaboração do parceiro com os actores institucionais permitirá a troca de
boas práticas;
-a acção funcionará de referência a nível local com as suas actividades e ligações com as
autoridades locais.
Os efeitos multiplicadores dos resultados da acção serão também garantidos pelas actividades
especificas de intercâmbio e partilha das lições aprendidas.

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10 Anexos

Anexo 1: Regulamento interno Casas de Primeiro Acolhimento (São Kisito)

REGRAS PARA A PERMANÊNCIA NA CASA


Está proibido:
 Drogar-se
 Fumar
 Beber bebidas alcoólicas
 Roubar
 Bater os colegas
 Ofender os outros
 Ter em posse MP3, rádios, telefones, dinheiro.
 Estar em posse qualquer arma (faca etc.) ou algo que possa provocar feridas
 Qualquer tipo de imoralidade
 Deve-se participar das aulas e das outras actividades formativas
 Está proibido guardar dinheiro durante o período de permanência na casa. O dinheiro será
entregue, no momento da entrada, ao educador responsável, que assinará um recibo com
o qual vai poder-se levantar, no momento da saída, a quantia deixada.

SERVIÇOS OFERECIDOS:
 Banho
 Lavagem de roupa
 Guardar com os educadores algumas das suas pertenças mais valiosas
 Lugar para dormir, comer, ajudar a estudar e crescer espiritualmente e humanamente

DEVERES:
 Higiene pessoal, lavar-se todos os dias
 Higiene da roupa
 Higiene dos ambientes da casa, ordem da casa
 Momentos de trabalhos da casa
 Estudo na escola e pessoal
 Catequese e momentos comuns
 Respeito aos mais velhos

Anexo 2: Regulamento interno Casas famílias

REQUISITOS PARA INGRESSAR NA CASA (Qualquer excepção a estes critérios resolve-se a nível de
coordenação e, em última instância, pelo encarregado salesiano):

 Ter frequentado ao menos seis meses num centro de primeiro acolhimento


 Ter menos de 15 anos
 Ter sido realizado o trabalho de localização da família da criança
 Não ter possibilidade, no momento, de reintegração familiar
 Assinar um termo de compromisso

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REGRAS DE PERMANÊNCIA NA CASA
Está proibido:
 Usar expressões que ofendam os outros
 Envolver-se em lutas ou em grupos violentos
 Levar amigos ou qualquer pessoa sem o consentimento do casal responsável pela casa
 Apropriar se das coisas dos outros (se encontrar algum objecto que não lhe pertence deve
entregar ao casal)
 Roubar ou usar os pertences da casa sem autorização do casal
 Possuir objectos cortantes e/ou pontiagudos tais como: agulhas, lâminas picos, vidros de
garrafa etc.
 Usar qualquer tipo de droga
 Vender ou danificar roupas ou qualquer bem pessoal ou da casa

SERVIÇOS OFERECIDOS:
 Ter um casal responsável que o acompanhe
 Receber alimentação, moradia, assistência médica e psicológica
 Ter acesso á escolas e catequese
 Receber formação humana e religiosa
 Receber visitas dos familiares periodicamente
 Ser respeitado e bem tratado pelos mais velhos e colegas

DEVERES:
 Estudar e fazer tarefas designadas na escola
 Demonstrar vontade de estudar e trabalhar
 Cuidar dos livros, cadernos e de outros materiais escolar
 Cuidar e proteger o património
 Ser pontual e assíduo em todas as actividades
 Cumprir com as tarefas que lhe são confiadas
 Respeitar e participar dos momentos de oração
 Respeitar os mais velhos que cuidam da casa assim como os da comunidade
 Respeitar os colegas e ter bom relacionamento com todos
 Comprometer-se em abandonar os vícios adquiridos na rua (roubo, droga agressividade
etc.)
 Tomar banho todos os dias, escovar os dentes depois das refeições, engomar a roupa e
apresentar – se limpo
 Ajudar manter limpa e organizada a casa
 Ser sincero e jamais usar mentiras

RESPONSABILIDADES DO CASAL:
 Acompanha as crianças todos os dia na escola, nas actividades e em casa. Elas devem
contar sempre com a assistência de alguém responsável e jamais ficarem só
 Informar mensalmente à coordenação do andamento das crianças na escola, e em outras
actividades da comunidade que participam (catequese, grupos etc.)
 Manter as fichas de acompanhamento das crianças actualizadas
 Participar dos encontros de formação oferecidos pelo centro
 Reunir mensalmente com a coordenação para informar sobre os progressos, retrocessos
ou dificultadas das crianças

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 Saber aconselhar, dialogar com as crianças para ultrapassar situações difíceis. (Os castigos
físicos ás crianças ou ofensas morais são proibidos)
 Cuidar da alimentação e saúde das crianças
 Cuidar da boa apresentação da casa, da limpeza e ordem dos diversos ambientes. (tarefas
que são realizadas conjuntamente com as crianças)
 Cuidar dos bens matérias da casa (quando acontecer uma avaria, danificação o
desaparecimento de algum objecto, desvio de alimento deve informar a coordenação)
 Não fazer discriminação entre as crianças nem demonstrar preferências
 Motivar as crianças a participarem das aulas, catequese, missa
 Manter sempre diálogo com os catequistas, professores ou outro agente que influi na
educação da criança
 Oferecer formação humana e religiosa as crianças

Anexo 3: Regulamento interno Casa MaRGARIDA

Este regulamento aplica-se na casa Margarida desde o dia 25 de Novembro 1996 e foi actualizado
no ano 2011.
TODA A CRIANÇA deve conhecer as normas de convivência, seus direitos e obrigações.
Neste regulamento constam os requisitos para ingressar na casa, as normas que tem-se cumprir
para permanecer nela, os serviços aos que tem direitos e os deveres a cumprir, assim como os
avisos e motivos pelos quais a criança ou adolescente fica afastado da casa, permanentemente o
por um tempo.

REQUISITOS PARA INGRESSAR NA CASA

 Tem que ser criança até os 15 anos


 Qualquer excepção ao ponto será tratada pela comunidade salesiana responsável da casa
 Tem que ser criança que mora na rua
 Dar-se-à preferência as crianças mais pequenas
 É preciso fazer uma caminhada previa ao ingresso que requer um tempo de conhecimento
da parte dos educadores e em ultima instância a decisão pelo encarregado salesiano
 Participar nas actividades organizadas pela casa
 Bom comportamento, não usar drogas, não fumar, não beber bebidas alcoólicas, não
roubar, não usar linguagem da rua
 Participar dos trabalhos de casa

REGRAS PARA A PERMANÊNCIA NA CASA


 Só quem decide a ENTRADA, PERMANECIA OU SAÍDA é O ENCARREGADO salesiano

Não pode-se:
 Drogar
 Fumar
 beber bebidas alcoólicas
 roubar
 bater os colegas
 ofender os outros
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 ter em posse MP3, rádios, telefones, dinheiro.
 É proibido ter qualquer arma (faca etc.) ou algo que possa provocar feridas
 Está proibido qualquer tipo de imoralidade
 Devem participar das aulas, da catequese e outras actividades formativas
 Qualquer falta contra o regulamento será castigada com o castigo apropriado de acordo
com a gravidade da falta. Os castigos SÃO DADOS PELO ENCARREGADO
 Se a falta será grave poderá castigar-se-ao com o afastamento parcial ou total da casa
 AS CRIANÇAS SERÃO CONTINUAMENTE AVISADAS PARA EVITAR QUALQUER FALTA

SERVIÇOS OFERECIDOS:
 Tomar banho
 Lavar roupa
 Guardar com os educadores algumas das suas pertencias mais valiosas
 Lugar para dormir, comer, ajuda a estudar e a crescer espiritualmente e humanamente.

OBRIGAÇÕES:
 Higiene pessoal, lavar-se todos os dias
 Higiene da roupa
 Higiene dos ambientes da casa, ordem da casa
 Momentos de trabalhos da casa
 Estudo na escola e pessoal
 Catequese e momentos comuns
 Respeito aos mais velhos

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