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UNIVERSIDADE ABERTA ISCED

FACULDADE DE DIREITO
LICENCIATURA EM DIREITO

ANÁLISE DO TRABALHO INFANTIL EM TEMPOS DA COVID-19. CASO DO


CONSELHO MUNICIPAL DA VILA DE MILANGE NA PROVÍNCIA DA ZAMBÉZIA,
2020-2021.

Juvêncio Mário Oitava

Quelimane, Agosto de 2022


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Índice

Capítulo I. Introdução ................................................................................................................. 2

1.1. Contextualização ................................................................................................................. 2

1.2. Problematização................................................................................................................... 4

1.3. Objectivo Geral.................................................................................................................... 5

1.3.1. Objectivos Específicos ..................................................................................................... 5

1.4. Hipóteses ............................................................................................................................. 5

1.4.1. Hipótese Primária ............................................................................................................. 5

1.4.2. Hipótese Secundária ......................................................................................................... 6

1.5. Justificativa .......................................................................................................................... 6

1.6. Delimitação do tema ............................................................................................................ 7

Referências Bibliográficas .......................................................................................................... 8


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Capítulo I. Introdução

1.1. Contextualização

O presente projecto tem como tema: Análise do Trabalho Infantil em Tempos da


COVID-19. Caso do Conselho Municipal da Vila de Milange na Província da Zambézia,
2020-2021. Neste contexto, nas últimas duas décadas foram dados passos significativos na
luta contra o trabalho infantil. Mas a pandemia da Covid-19 representa riscos muito reais de
retrocesso. As tendências positivas podem vacilar e verificar-se um agravamento do trabalho
infantil, sobretudo em locais onde houve uma resistência à mudança. Estes riscos exigem uma
acção urgente para evitar e mitigar o fardo que a pandemia representa para as crianças e as
suas familiares.

Portanto, muitas foram as incertezas em relação ao verdadeiro impacto e duração da


crise, assim como à adaptação das populações. Mas parte das repercussões desta crise já é
óbvia. A pandemia aumentou a insegurança económica, provocou uma profunda disrupção
das cadeias de abastecimento e interrompeu a produção. As condições mais restritivas na
concessão de crédito afectam os mercados financeiros em muitos países. Os orçamentos
públicos estão sob pressão e com dificuldades em acompanhar os desenvolvimentos. Assim,
quando estes e outros factores resultam numa diminuição do rendimento dos agregados
familiares, as expectativas de que as crianças contribuam financeiramente podem intensificar-
se. Mais crianças podem ser forçadas a trabalhos perigosos ou abusivos. Aqueles que já
trabalham poderão ter de o fazer durante mais horas ou em piores condições. As
desigualdades de género podem agravar-se ainda mais nas famílias, sendo esperado que as
raparigas tenham de realizar mais tarefas domésticas e trabalho agrícola. O encerramento
temporário das escolas pode exacerbar estas tendências, pois as famílias procuram novas
formas de ocupar o tempo das crianças.

O estudo feito por James Akena (2020), mostrou que a cidade de Maputo liderou o
trabalho infantil no sector do comércio com 74,4%, seguido por Maputo província, com
38,8% e que cerca de 82% das crianças trabalham para aumentar as receitas e ajudar as suas
famílias. Esta situação tende a tornar-se cada vez pior no período do Estado de Emergência
associada a acções de requalificação dos mercados (como medida para mitigar a propagação
da Covid-19, factor que obrigou Pais, Mães e outros cuidadores de menores a ficar em casa e,
portanto, sem nenhuma fonte de sustento. Ora, não havendo fontes de renda em casa, as
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crianças são usadas como recurso para buscar o que comer, obrigando-as a fazer-se a rua,
muitas vezes desprotegidas. Contudo, o trabalho infantil reforça a pobreza intergeracional,
ameaça as economias nacionais e mina os direitos garantidos pela Convenção sobre os
Direitos da Criança. Contrariamente às actividades que ajudam as crianças a desenvolverem-
se, tal como ajudar nas tarefas domésticas durante algumas horas por semana ou ter um
trabalho durante as férias escolares, o trabalho infantil interfere na educação e é prejudicial
para o desenvolvimento físico, mental, social e/ou moral das crianças.
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1.2. Problematização

Nos períodos de 2020 à 2021 o mundo viveu um momento histórico e trágico com a
pandemia da Covid-19¸ pois os impactos foram evidentes em várias dimensões da vida social,
económica, e cultural em escala mundial e Moçambique não é excepção. Em Moçambique as
restrições e recomendações do confinamento social afectaram a vida das pessoas de diferentes
formas e vem agravar as desigualdades e exclusão social, a fragilidade das políticas públicas e
a lentidão do governo para responder a demanda no que concerne ao garante do direito
fundamental e a protecção social dos moçambicanos, especialmente das crianças.

Por um lado, em situações de guerra, calamidades e crises como a provocadas pelo


novo coronavírus, mecanismos de assistência e de protecção da criança revelaram-se ainda
mais caóticos e ineficazes, agravando ainda mais a situação de precariedade e vulnerabilidade
em que estes grupos normalmente se encontram. Assim, aumentam as situações de violência
doméstica, de abuso e negligência de menores, de exposição a maus tractos, exploração
sexual, doenças, práticas tradicionais prejudiciais e principalmente o trabalho infantil.

Por outro lado, o trabalho infantil muitas vezes ocorre em virtude das desigualdades
sociais, nas quais a criança ou a adolescente vê-se obrigada a ingressar precocemente no
mercado de trabalho para a sua subsistência ou da sua própria família. A situação do trabalho
infantil em Moçambique é grave e alarmante. Dados publicados indicam que mais de 1 (um)
milhão de crianças estão envolvidas no trabalho infantil e a área que mais se destaca, é a
agricultura, a caça, a pesca e a silvicultura com 79%. Os dados do MICS (INE, 2009)
mostram que a percentagem de crianças que trabalham em Moçambique é superior nas áreas
rurais (25%), do que nas zonas urbanas (15%), e uma em cada cinco crianças com idades
compreendidas entre 5 e 11 anos (21%), e uma em cada quatro crianças entre os 12 e 14 anos
(27%), estão envolvidas no trabalho infantil. A agricultura continua sendo o sector que mais
emprega crianças em Moçambique, seguido do sector doméstico como um factor resultante da
expansão na informalização da economia. (INE, 2009)

Entretanto, outro estudo realizado em Moçambique mostrou que a cidade de Maputo


lidera no trabalho infantil no sector do comércio com 74,4%, seguido por Maputo província,
com 38,8% e que cerca de 82% das crianças trabalham para aumentar as receitas e ajudar as
suas famílias. Esta situação tornou-se cada vez pior no período do Estado de Emergência
associada a acções de requalificação dos mercados (como medida para mitigar a propagação
da Covid-19), factor que obrigou Pais, Mães e outros cuidadores de menores a ficar em casa e,
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portanto, sem nenhuma fonte de sustento (ROSC, 2019). Ora, não havendo fontes de renda
em casa, as crianças são usadas como recurso para buscar o que comer, obrigando-as a fazer-
se a rua, muitas vezes desprotegidas.

Desta feita, o Fundo das Nações Unidades para a Infância – UNICEF e a Organização
Internacional - OIT publicaram um relatório intitulado “Covid-19 e o Trabalho Infantil:
Tempo de Crise e Tempo de agir,” indicou que a crise provocada pela pandemia da COVID-
19 pode conduzir a um aumento da pobreza e a um aumento do trabalho infantil pois, as
famílias usam todos os meios para sobreviver (OIT, 2020). Contudo, o trabalho infantil gera
muitas consequências para as crianças, para a sociedade e, em geral para o País. Pois, hoje
elas estão na rua, no mercado, na padaria, os parques de estacionamentos de viaturas e entre
outros locais. Destrate, não se pode esperar um futuro “brilhante” destas crianças. Uma vez
que, o lugar dela é na escola e no convívio familiar no qual, os seus direitos são respeitados na
plenitude. Distante desta situação problemática, levanta-se a seguinte questão de partida:

 Quais foram as implicações do trabalho infantil em tempos da COVID-19, na vila do


Conselho Municipal da Vila de Milange nos períodos de 2020 à 2021?

1.3. Objectivo Geral

 Analisar o impacto do trabalho infantil em tempos da COVID-19 no Conselho


Municipal da Vila de Milange na Província da Zambézia no período de 2020-2021.

1.3.1. Objectivos Específicos

 Identificar os motivos pelos quais as crianças do CMVM foram submetidas ao


trabalho infantil em tempos Covid-19.

 Mencionar as consequências advindas do trabalho infantil em tempos da Covid-19.

 Propor estratégias na erradicação do trabalho infantil na CMVM.

1.4. Hipóteses

1.4.1. Hipótese Primária

 A prática do trabalho infantil nos tempos da Covid-19 violou os direitos das crianças
da Vila do Conselho Municipal da Vila de Milange.
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1.4.2. Hipótese Secundária

 O trabalho infantil nos tempos da Covid-19 não violou os direitos das crianças da Vila
do Conselho Municipal da Vila de Milange.

1.5. Justificativa

A motivação pessoal para a realização da pesquisa como tema, foi devido a verificação
de crianças diversas no CMVM na prática do trabalho infantil em tempos de Covid-19, pós a
sociedade moçambicana, em particular as comunidades rurais, continuam fortemente
sustentadas pelos costumes e pelas tradições locais, que são continuamente preservados sem
ter em conta, em muitas situações, o valor inalienável dos direitos da pessoa humana e da
criança em particular.

Por um lado, os pais por serem oficialmente responsáveis pelos filhos, tem tido hábito
colocar os menores a buscar rendimento familiar através de pequenas vendas e outras formas
de submissão à exploração do trabalho infantil, conforme testemunhos dados pelas crianças
entrevistadas no âmbito desta pesquisa, que apurou ainda que esta prática está relacionada
com o contexto social em que a criança está inserida e com o baixo nível de renda dos seus
encarregados. Por outro lado, foi pelo facto da Lei do Trabalho em algum momento, não
responder os riscos em que os menores envolvidos no trabalho infantil estão sujeitos, para
além de encontrar desafios na sua implementação, não garantindo que as crianças sejam
integralmente protegidas contra esta prática.

No que refere aos trabalhos perigosos por exemplo, a Lei não é suficientemente
protectora, prevendo apenas que “o empregador não deve ocupar o menor, com idade inferior
a dezoito anos, em tarefas insalubres, perigosas ou as que requeiram grande esforço físico,
definidas pelas autoridades competentes após consulta às organizações sindicais e de
empregadores”. Uma regulamentação da lei neste aspecto seria importante para prevenir e
combater casos de envolvimento de crianças no trabalho infantil perigoso.

Ao nível social o estudo mostrará que o trabalho infantil prejudica o desenvolvimento


pleno e integral de crianças e adolescentes, pois contribui para o afastamento deles da escola,
os expõem a situações de risco e vulnerabilidade e também viola seus direitos, os quais estão
previstos na Lei do Trabalho nº 23/2007, de 20 de Julho. E também dará a conhecer que o
trabalho infantil abrange as actividades que privam a infância das crianças, da oportunidade
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de desenvolverem as suas potencialidades e da sua dignidade, e que prejudicam o seu


desenvolvimento físico e mental.

Ao nível académico, a pesquisa contribuirá com mais um estudo sobre a análise do


trabalho infantil em tempos da Covid-19 no contexto moçambicano, concretamente no
Conselho Municipal da Vila de Milange. É daí que se julga ser importante o estudo em
questão.

1.6. Delimitação do tema

A pesquisa apresenta o seguinte tema delimitado: Análise do Trabalho Infantil em


Tempos da Covid-19. Esta pretende ser desenvolvida no Conselho Municipal da Vila de
Milange, Província da Zambézia, nos períodos de 2020-2021.
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Referências Bibliográficas

INE (2009). Inquérito de Indicadores Múltiplos 2008. Instituto Nacional de Estatística.


Maputo.

Lei do Trabalho nº 23/2007, de 20 de Julho.

OIT (2020). Eliminar as Piores Formas de Trabalho Infantil: Guia Prático da Convenção nº
182. Manual Para Parlamentares n.º 3-2002.

ROSC (2019). Posicionamento do ROSC Alusivo ao Dia Mundial de Luta contra


o Trabalho Infantil. Maputo.

UNICEF (2014). Situação das Crianças em Moçambique 2014. Fundo das Nações Unidas
para a Infância (UNICEF). Maputo.

James Akena, (2020). Em tempos da COVID-19 proteger as crianças do trabalho infantil é


um imperativo. https://www.rosc.org.mz/index.php/noticias/86-em-tempos-da-covid-
19-proteger-as-criancas-do-trabalho-infantil-e-um-imperativo. Consultado no dia 22
de Janeiro de 2023.

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