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NA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA
2022
REALIZAÇÃO
Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF)
Índice
Youssouf Abdel-Jelil – Representante do UNICEF no Brasil Para cada criança e adolescente, direitos....................... 5
Liliana Chopitea – Chefe de Políticas Sociais, Monitoramento
e Avaliação do UNICEF no Brasil Introdução......................................................................... 7
Sonia Yeo – Chefe de Comunicação e Advocacy do UNICEF no
Brasil Revisão da Literatura..................................................... 10
NÚCLEO EDITORIAL
Metodologia.................................................................... 12
Santiago Varella – Especialista em Políticas Sociais do UNICEF
no Brasil
Resultados....................................................................... 15
Boris Diechtiareff – Especialista em Monitoramento e
Avaliação do UNICEF no Brasil Educação e Renda...................................................... 16
Willian Wives – Oficial de Monitoramento e Avaliação do
UNICEF no Brasil Desigualdades Regionais............................................ 18
Tatiana Santiago – Oficial de Monitoramento e Avaliação do
UNICEF no Brasil Resultados por Cor/Raça............................................ 21
Elisa Meirelles Reis – Oficial de Comunicação do UNICEF no
Brasil Resultado por Dimensão............................................ 22
PESQUISA
Educação.................................................................... 25
Daniel Vasconcellos Archer Duque – Pesquisador
Pobreza Alimentar....................................................... 30
Projeto gráfico, capa e diagramação – Victor Malta
Foto de capa – ©UNICEF/BRZ/Erico Hiller Conclusão........................................................................ 35
Outubro, 2023
4 UNICEF 5
Para colocar luz sobre esse tema, o UNICEF desenvolveu este estudo. Os da-
dos mostram que, mesmo com a pandemia da covid-19, nos últimos anos, o
Brasil conseguiu reduzir, de forma lenta, a maioria das privações a que crian-
ças e adolescentes estão expostos. O percentual de meninas e meninos na
pobreza multidimensional caiu de 62,9%, em 2019, para 60,3%, em 2022.
Tal percentual corresponde a 31,9 milhões de crianças e adolescentes brasi-
leiros privados de um ou mais direitos, de um total de 52,8 milhões no País.
Introdução
A pobreza na infância e na adolescência tem múltiplas dimensões, que vão
além da monetária. É o resultado da interrelação de privações e exclusões,
além das diferentes vulnerabilidades a que meninas e meninos estão expos-
tos e que impactam seu bem-estar. Considerando tais aspectos, o UNICEF
decidiu refletir sobre as dimensões da pobreza, realizando um estudo que foi
publicado em 2018, com dados de 2015, para estimar o quantitativo de crian-
ças e adolescentes privados de seus direitos, considerados em situação de
pobreza multidimensional. Aquele relatório foi atualizado em 2023, utilizando
dados até 2019 para diversas dimensões, e até 2021 para Educação, Renda
e Alimentação1.
Pontos principais:
• A divergência entre pobreza geral e alimentar resulta de uma alta dos pre-
ços dos alimentos maior do que a variação da cesta geral de consumo.
©UNICEF/BRZ/Diego Souza
10 UNICEF POBREZA MULTIDIMENSIONAL NA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA 11
©UNICEF/BRZ/Erico Hiller
Revisão da Literatura
A abordagem multidimensional da pobreza é um tema cada vez mais fre- particularmente útil para dados ordinais, e oferece uma série de propriedades
quente na literatura acadêmica, movendo-se para além da avaliação exclu- desejáveis, incluindo a decomposição.
siva de renda ou consumo per capita como medidas de privação. Atkinson
Em contrapartida, Ravallion (2011) oferece uma crítica ponderada às tentativas
(2003) levanta questões fundamentais sobre como entender a interação en-
de sintetizar a pobreza em índices multidimensionais únicos. O autor sugere
tre diferentes dimensões da pobreza. O autor propõe um desafio: devemos
que, ao invés de um único índice multidimensional, devemos desenvolver um
nos preocupar com a união daqueles que são privados em pelo menos uma
conjunto credível de múltiplos índices, abrangendo as dimensões da pobreza
dimensão, ou com a intersecção daqueles que são privados em todas as di-
mais relevantes para um contexto específico. Esse autor ressalta que, quando
mensões? Este trabalho estabelece um arcabouço comum para abordagens
necessários, os pesos para a agregação não devem ser definidos exclusiva-
diferenciadas, e discute sua relação com conceitos de bem-estar social.
mente por um analista, mas, tanto quanto possível, devem ser consistentes
Bourguignon & Chakravarty (2009) argumentam pela necessidade de uma com escolhas bem-informadas feitas pelos próprios indivíduos pobres.
definição prática de pobreza que integre várias dimensões. Para eles, a maio-
Alkire et al. (2015) consolidam o rápido desenvolvimento na medição e na
ria das tentativas existentes ainda recai na agregação de vários atributos em
análise da pobreza multidimensional. O livro é dirigido a estudantes de pós-
um único índice, o que, na prática, mantém a pobreza como um conceito uni-
-graduação em ciências sociais quantitativas, pesquisadores de medição da
dimensional. Sugerem, então, que cada dimensão da pobreza deve ter sua
pobreza e pessoal técnico em governos e agências internacionais. Os auto-
própria linha de pobreza, e que uma pessoa deve ser considerada pobre se
res oferecem uma visão completa de várias técnicas multidimensionais, e
estiver abaixo de pelo menos uma dessas linhas. Este artigo explora formas
abordam questões pré e pós-estimativas, como escolhas normativas e tes-
de combinar essas várias linhas de pobreza em medidas multidimensionais.
tes de robustez.
Alkire & Foster (2011) vão além, e propõem uma nova metodologia para a
Em resumo, enquanto existe um consenso sobre a necessidade de abordar a
mensuração da pobreza multidimensional. Seu método utiliza dois tipos de
pobreza de forma multidimensional, ainda há debates sobre a melhor manei-
corte: um dentro de cada dimensão, para determinar se uma pessoa está
ra de medir, agregar e interpretar as diferentes dimensões. A literatura revela
privada naquela dimensão; e outro entre dimensões, para identificar as pes-
uma progressão desde a conceitualização teórica até a aplicação prática, mas
soas pobres por meio da “contagem” das dimensões em que estão priva-
aponta também para a necessidade de cautela e reflexão crítica ao avançar
dos. A agregação é feita usando as medidas FGT (Foster-Greer-Thorbecke),
nessa direção.
devidamente ajustadas para acomodar a multidimensionalidade. O método é
12 UNICEF POBREZA MULTIDIMENSIONAL NA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA 13
Além de excluir a dimensão do Trabalho Infantil, este Criança/adolescente de 0-17 Criança/adolescente de 0-17
relatório utiliza a PNADC Anual da primeira entrevista, anos em casa com banheiro de anos em casa com banheiro Criança/adolescente de 0-17 anos
PNADC 1ª Entrevista,
diferentemente do relatório anterior, que conectava
SANEAMENTO uso exclusivo e fossa séptica compartilhado com pessoas de em casa sem banheiro ou com
2016,17,18,19,22
ou descarga na rede coletora ou fora do domicílio ou com fossa vala a céu aberto.
as PNADC Anuais da primeira e da quinta entrevistas.
pluvial. rudimentar.
Assim sendo, não haverá dados de privação geral para
2020 e 2021, anos em que não foram realizadas as PNADC 1ª Entrevista,
Criança/adolescente de 0-17 anos Criança/adolescente de 0-17 anos Criança/adolescente de 0-17 anos
edições da primeira entrevista. No entanto, é possível 2016,17,18,19,22;
em casa na qual a renda familiar em casa na qual a renda familiar em casa na qual a renda familiar
obter esses dados usando as edições da quinta entre- RENDA
se encontra acima da linha de se encontra abaixo da linha de se encontra abaixo da linha de
PNADC 5ª Entrevista,
vista para as dimensões de educação e renda que serão pobreza monetária. 2
pobreza monetária. pobreza monetária extrema3.
2016,17,18,19,20,21,22
apresentadas.
2 R$ 541 mensais por pessoa em áreas urbanas e R$ 386 em áreas rurais, a preços médios de 2022
3 R$ 220 mensais por pessoa em áreas urbanas e R$ 180 em áreas rurais, a preços médios de 2022
14 UNICEF POBREZA MULTIDIMENSIONAL NA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA 15
0 a 17 anos 9 a 17 anos
68% 67,8%
66,1% 65,8% 65,8%
64,3% 63,8%
% 62,9%
60,3% 60,5%
60
50
40
20
10
0
2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022 ANO
O Gráfico 01 mostra que até 2019 havia cerca de 63% do universo de crianças
e adolescentes de 0 a 17 anos com alguma privação; e pouco mais de 64%,
©UNICEF/BRZUeslei Marcelino
Educação e Renda Os dados mostram que 2021 foi o ano com o maior percentual de crianças
Como discutido anteriormente, o período de aplicação da metodologia é sig- e adolescentes com alguma privação – de 48,2% para a faixa de 0 a 17 anos
nificativamente afetado pela falta de disponibilidade de dados para as dimen- de idade, e 48,6% para a faixa de 9 a 17 anos de idade. No entanto, no ano
sões. Por conta dos desafios impostos pela pandemia, o IBGE não divulgou seguinte esse percentual caiu significativamente – para 42,4% em ambas as
a primeira entrevista dos anos 2020 e 2021. Para realizar esta análise de faixas etárias –, alcançando um nível mais baixo do que o registrado em 2019,
Educação e Renda em 2020 e 2021, optou-se, então, por utilizar a PNADC porém ainda mais alto do que em 2020.
Anual 5ª Entrevista. Os dados desta sessão (Educação e Renda) apresentam
O Gráfico 03 a seguir separa o anterior nas duas dimensões disponíveis –
algumas diferenças em relação ao restante da publicação, portanto só po-
educação e renda. Grande parte das variações é explicada pela dimensão
dem ser comparados entre si.
Renda – até 2019, cerca de 40% do total de crianças e adolescentes de 0 a
O Gráfico 02 a seguir mostra o percentual de crianças e adolescentes vítimas 17 anos sofriam privação de renda. Esse índice caiu para pouco mais de 36%
de alguma privação nas dimensões Educação e Renda, cuja disponibilidade no ano seguinte, crescendo novamente para quase 44%, em 2021, e caindo
de dados segue continuamente até 2022 nas edições da quinta entrevista. novamente em 2022, agora para 38%. No caso da Educação, havia em 2019
Apesar da tendência de baixa até 2020, houve grande aumento em 2021, menos de 9% do total de crianças e adolescentes em situação de privação.
quando o número de indivíduos privados de algum direito nessas dimensões Esse percentual subiu para 10,4% em 2021, caindo para 9,4%, em 2022 –
foi maior do que em 2017, no início do período. percentual ainda maior do que o registrando antes da pandemia.
Gráfico 02 Gráfico 03
Percentual de crianças e adolescentes com alguma privação (educação ou renda) Percentual de crianças e adolescentes com alguma privação, por dimensão (0 a 17 anos)
30 6 30
20 4 20
10 2 10
0 0
2017 2018 2019 2020 2021 2022 2017 2018 2019 2020 2021 2022 2017 2018 2019 2020 2021 2022 2017 2018 2019 2020 2021 2022
ANO ANO
Fonte: Elaboração própria com base na PNADC Anual 5ª Entrevista Fonte: Elaboração própria com base na PNADC Anual 5ª Entrevista
18 UNICEF POBREZA MULTIDIMENSIONAL NA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA 19
Desigualdades Regionais Esse Quadro de Mapas 01 mostra uma grande diferença regional relativa-
Os mapas 01 e 02, a seguir mostram, por unidade da Federação, o percentual mente à pobreza multidimensional. Destaca-se que, em 2022, quatro dos 27
de crianças e adolescentes sofrendo qualquer privação. Os números refe- estados apresentavam mais de 90% de crianças e adolescentes sofrendo
rem-se a 2022, último ano com informação para todos os indicadores. privação de algum de seus direitos fundamentais – todos nas regiões Norte
(Pará e Amapá) e Nordeste (Maranhão e Piauí). Por outro lado, apenas nos es-
tados do Sudeste e no Distrito Federal encontram-se percentuais de crianças
Mapas 01 e 02
Percentual de crianças e adolescentes com alguma privação, por estado e adolescentes inferiores a 50%, e apenas dois deles abaixo de 40% - São
2019 Paulo e a própria Capital Federal.
85,4%
No entanto, grande parte da privação dos direitos pode ser reflexo direto
94,9%
das condições econômicas regionais, com crianças e adolescentes vivendo
abaixo da linha de pobreza monetária em estados com menor PIB per capita.
86,4% 93,2% O Mapa 03 a seguir mostra o percentual de crianças e adolescentes que so-
92,4% 81% 90,4%
80,3% frem privação de qualquer direito mencionado anteriormente, com exceção
97,1% 77%
84,7%
de rendimento (dimensão Renda).
84% 86,9%
91,7%
76,7% 81,3%
77,3%
38,6% Mapa 03
Percentual de crianças e adolescentes com alguma privação não
60%
monetária em 2022, por estado
47,2%
66,3% 52,9%
41% 64,5%
84,9%
50,9% 49,5%
52,3%
51,6% 73,2% 87,6%
83,5% 61,3%
74,8%
64%
88,3% 51,2%
73,6%
69,1% 69,3%
2022 81,1%
53,6% 61%
68,8%
75,8% 24,5%
91,7%
49,8%
28,8%
80,9% 91,2% 55,1% 37,3%
90,2% 80% 85,5% 21,2%
78,9%
91,6% 73,4%
83,9% 36,9% 32,3%
77,3% 83,8%
85,2%
75,3% 77% 48,4%
74,9%
37,6% 39,2%
59,9%
46,8%
63,3% 53,9%
35,7% Fonte: Elaboração própria com base na PNADC Anual 1ª Entrevista
46,8% 48,5%
Observa-se uma queda destacada para o percentual de crianças e adoles-
53,1% centes nos estados de Pernambuco e Bahia. No entanto, os percentuais em
50%
2022 ainda são significativos. Dois estados – Piauí e Pará – permanecem
com níveis acima de 85%, enquanto apenas São Paulo e o Distrito Federal
Fonte: Elaboração própria com base na PNADC Anual 1ª Entrevista registram percentual abaixo de 30%.
20 UNICEF POBREZA MULTIDIMENSIONAL NA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA 21
Ainda quanto à distinção entre Pobreza Monetária e Não Monetária, a Tabela Resultado por Cor/Raça
02 a seguir mostra a intercessão entre ambas. Em 2022, dos 46,8% de crian- O Gráfico 04 a seguir mostra os resultados discutidos acima por cor/raça. É
ças e adolescentes com alguma privação não monetária, quase 50% sofriam visível a desigualdade racial no quesito “pobreza multidimensional”, mas se
de Pobreza Monetária. Por outro lado, dos 36% de crianças e adolescentes reduzindo ao longo do tempo. Enquanto a diferença entre crianças e adoles-
pobres, cerca de dois terços sofriam alguma Privação Não Monetária. centes brancas e negras era de cerca de 22 pontos percentuais em 2019, em
2022 se reduz para pouco mais de 20 pontos percentuais.
Tabela 02
Relação de crianças e adolescentes (0 a 17 anos) com alguma privação não monetária e
abaixo da linha da pobreza – 2022 Gráfico 04
Percentual de crianças e adolescentes com alguma privação
80
Pobreza Não Monetária 75,9% 75,1%
73,3% 71,9%
2019
Privado ao 68,8%
Não privado Privado Total
Extremo
20
% total 8,7% 7,1% AL 11,94 3,68 6,17 11,01 61,51 55,14 83,8
10,9% 6,4% 39,5% 39,3%
2019 % faixa etária 11,1% 14,0% SE 13,15 3,86 4,73 5,34 53,16 55,3 77
Absoluto 4.647.756 3.810.875 5.821.775 3.403.326 21.079.708 21.009.092 BA 10,91 3,86 5,46 7,39 45,36 53,54 75,3
% total 8,3% 3,1% MG 6,19 1,9 4,29 1,16 19,88 30,15 46,8
9,4% 5,4% 37,0% 36,0% ES 8,21 2,27 7,62 1,16 25,84 31,56 53,9
2022 % faixa etária 10,5% 6,1%
RJ 6,49 2,6 12,9 4,17 14,18 31,93 48,5
Absoluto 4.366.023 1.618.507 4.956.680 2.846.286 19.525.214 19.009.445
Fonte: Elaboração própria com base na PNADC Anual 1ª Entrevista
SP 5 0,88 9,88 1,21 7,8 23,48 35,7
PR 6,4 1,83 5,12 1,15 27,84 19,52 46,8
Verifica-se alta incidência de crianças e adolescentes que vivem com privação
SC 4,71 1,69 5,1 1,57 41,25 12,77 53,1
de Saneamento e Renda adequados – de 37% e 36%, respectivamente, no
último ano. Em seguida, Educação e Moradia são as dimensões com maior RS 7,4 1,36 4,06 1,75 30,06 19,59 50
percentual de crianças e adolescentes em condição de privação – 10,5% e MS 11,35 1,53 7,96 1,52 43,96 26,08 63,3
9,4%, respectivamente, em 2022. As Tabelas 04 e 05 a seguir mostram per-
MT 8,06 1,66 9,04 4,46 63,02 22,54 74,9
centuais, por dimensão, de crianças e adolescentes que vivem em condições
de privação em cada Estado. GO 7,4 1,23 4,59 4,05 41,21 28,25 59,9
DF 6,7 1,44 7,17 0,27 11,44 20,52 37,8
BR 8,27 3,06 8,58 5,39 36,98 36 60,3
Fonte: Elaboração própria com base na PNADC Anual 1ª Entrevista
24 UNICEF POBREZA MULTIDIMENSIONAL NA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA 25
Tabela 05 Educação
Crianças e adolescentes de 0 a 17 anos com privações intermediárias e extremas em
Em relação à educação, as privações são de acesso à escola na idade certa
2022, por estado (em porcentagem)
e alfabetização. A Tabela 06 a seguir expõe a trajetória da primeira privação
Educação Informação Moradia Água Saneamento Renda desta dimensão, de 2016 até 2022.
Interme- Interme- Interme- Interme- Interme- Interme-
Extrema Extrema Extrema Extrema Extrema Extrema
diária diária diária diária diária diária Tabela 06
Privação 1: acesso à escola na idade certa (% de crianças e
RO 5.05 2.49 3.27 0.40 4.69 2.51 3.79 1.09 73.96 1.03 21.62 6.15
adolescentes de 4 a 17 anos sem acesso à escola na idade certa)
AC 11.36 4.92 9.66 2.38 8.93 8.28 8.43 11.72 33.60 29.81 37.08 19.20
AM 6.70 3.69 6.69 2.05 10.49 13.62 3.06 10.41 39.79 22.18 37.10 15.29 Sem privação Privação Intermediária Privação Extrema
RR 6.83 3.79 1.86 0.85 10.75 14.26 2.88 3.55 43.82 4.70 35.62 14.41 2016 89.6% 6.3% 4.1%
PA 12.77 2.79 6.35 2.44 8.57 8.20 4.08 10.10 67.20 17.02 32.57 14.43 2017 89.9% 5.9% 3.9%
AP 8.08 3.06 4.42 0.13 9.99 6.08 1.14 2.44 68.72 13.26 36.22 15.93 2018 90.9% 5.5% 3.6%
TO 6.86 1.81 3.46 0.69 5.62 2.26 2.49 2.59 60.93 2.76 32.88 7.70 2019 91.5% 5.0% 3.5%
MA 9.62 2.26 6.38 1.33 5.85 5.68 8.35 6.31 60.34 19.30 35.93 22.45 2022 93.8% 3.4% 2.9%
Fonte: Elaboração própria com base na PNADC Anual 1ª Entrevista
PI 11.18 2.37 4.19 1.00 5.03 1.98 6.68 5.91 71.13 14.23 36.10 16.91
CE 5.99 2.29 3.69 0.40 6.03 3.45 4.70 4.70 44.09 6.03 38.85 17.56 Verifica-se uma leve melhora entre 2016 e 2019, em relação tanto à privação
RN 10.91 2.12 2.60 0.88 4.27 1.48 5.19 3.24 64.42 4.51 36.71 17.31 intermediária quanto à privação extrema. Em 2022, os percentuais caem no-
vamente, especialmente o de privação intermediária – 1,6 ponto percentual
PB 9.22 2.88 4.01 0.24 4.87 1.34 1.98 12.91 48.09 9.35 35.72 18.15
mais baixa em relação a 2019 –, enquanto o de privação extrema cai apenas
PE 6.69 2.48 3.63 0.26 3.12 3.32 2.06 8.50 32.06 8.63 38.26 17.57 0,6 ponto percentual no período.
AL 8.89 3.05 3.21 0.47 4.05 2.12 2.68 8.33 51.39 10.12 40.04 15.10
O Gráfico 05 a seguir, construído com base na quinta entrevista da PNAD
SE 10.68 2.47 3.45 0.41 2.94 1.79 0.51 4.83 46.35 6.81 39.37 15.93 Contínua para cada ano, apresenta o percentual de crianças e adolescentes
BA 8.57 2.34 3.35 0.51 4.65 0.81 2.93 4.46 39.12 6.24 35.17 18.37 com atraso escolar, por idade, mostrando uma redução significativa para ida-
des mais avançadas durante a pandemia, principalmente em 2022.
MG 4.22 1.97 1.81 0.09 3.06 1.23 0.89 0.27 15.24 4.64 25.09 5.06
Gráfico 05
ES 5.63 2.58 2.17 0.10 5.10 2.52 0.80 0.36 19.67 6.17 24.09 7.47 Percentual de crianças e adolescentes atrasadas na escola, por idade
%
RJ 4.72 1.77 2.40 0.20 7.05 5.85 3.31 0.86 9.05 5.13 22.81 9.12 50
2017
SP 3.28 1.72 0.82 0.06 6.19 3.69 0.86 0.35 4.76 3.04 19.76 3.72 2018
PR 3.87 2.53 1.63 0.20 3.33 1.79 1.00 0.15 26.47 1.37 15.31 4.21 40 2019
2020
SC 3.07 1.64 1.61 0.08 3.71 1.39 1.43 0.14 39.40 1.85 10.86 1.91 2021
2022
RS 5.33 2.07 1.30 0.06 3.08 0.98 1.50 0.25 28.84 1.22 16.12 3.47 30
MS 7.92 3.43 1.37 0.16 4.28 3.68 1.47 0.05 43.96 0.00 22.06 4.02
MT 5.27 2.79 1.47 0.19 5.90 3.14 3.58 0.88 61.88 1.14 17.53 5.01
20
GO 4.97 2.43 0.98 0.25 2.35 2.24 3.67 0.38 40.88 0.33 23.92 4.33
DF 5.07 1.63 1.32 0.12 4.50 2.67 0.00 0.27 11.27 0.17 16.17 4.35
10
BR 6.03 2.24 2.62 0.44 5.18 3.40 2.45 2.94 30.81 6.17 26.40 9.60
Fonte: Elaboração própria com base na PNADC Anual 1ª Entrevista
0
7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 IDADE
O Gráfico 06 a seguir mostra o percentual de crianças e adolescentes entre 7 Verifica-se que no período de 2016 a 2019 houve um aumento sutil no acesso
e 17 anos de idade com atraso serial na escola, por cor/raça. Verifica-se uma à alfabetização, com redução de 0,1 ponto percentual na proporção de crian-
redução considerável no período da pandemia – especialmente para indiví- ças e adolescentes em Privação Intermediária. No mesmo período, a propor-
duos negros, com queda de dois pontos percentuais, em comparação com ção em privação extrema permaneceu praticamente estável, com redução
apenas um ponto percentual para crianças brancas. de 0,07 ponto percentual.
Gráfico 06 Por outro lado, no intervalo de 2019 a 2022 o cenário apresentou um retro-
Percentual de crianças e adolescentes de 7 a 17 anos com atraso escolar por cor/eaça cesso: o percentual de crianças e adolescentes em Privação Intermediária
%
mostrou aumento de 2,14, um crescimento considerável. Em comparação,
12
11,2% para crianças e adolescentes em Privação Extrema a variação foi mínima,
com um crescimento de 0,02 ponto percentual.
9,9%
10 Em síntese, enquanto o período de 2016 a 2019 foi marcado por uma melhora
9,1%
8,8% discreta no acesso à alfabetização para crianças e adolescentes, o período
8,3%
de 2019 a 2022 foi de regressão nesse cenário, com decréscimo no acesso
8
7,1% pleno à alfabetização e aumento na privação intermediária.
5,6%
O Gráfico 07 a seguir, construído com base na quinta entrevista da PNAD
6
Contínua, apresenta o percentual de analfabetismo por idade ao longo de
5% 4,9% 4,7%
4,4% vários anos.
3,9%
4 Gráfico 07
Percentual de crianças e adolescentes consideradas analfabetas, por idade
%
50
2
2017
2018
2019
40
0
2017 2018 2019 2020 2021 2022 ANO 2020
Brancos Negros 2021
2022
30
Fonte: Elaboração própria com base na PNADC Anual 5ª Entrevista
Tabela 07
Privação 2: analfabetismo (% de crianças e adolescentes de 7 a 17 anos sofrendo privação 10
do acesso à alfabetização)
Pobreza Alimentar
A POF 2017/18 questiona cada família acerca da renda considerada necessá- O Gráfico 09 acima mostra que as linhas de pobreza alimentar variam signifi-
ria para prover os padrões de alimentação correntes. Assim sendo, é possível cativamente entre regiões, sendo menor no Norte e Nordeste Rural e maior
construir uma linha de pobreza no Brasil, com base na relação entre padrões no Sul Urbano, seguindo-se o Sudeste Urbano. Em geral, as linhas ficam
de consumo de alimentos em função de renda e tamanho da família, em- entre as de pobreza extrema e intermediária do Banco Mundial, com exceção
pregando uma metodologia inovadora de Linha Social Subjetiva de Pobreza do Norte Urbano, Sudeste Urbano, Sul Urbano e Centro Oeste Urbano, em
Alimentar (SSFPL). Com esse recurso, estima-se a renda mínima esperada que os valores superam a segunda linha da instituição.
necessária para manter um nível de consumo alimentar para as famílias em
No entanto, para usar tais linhas ao longo dos anos, é preciso que estas
situação de segurança alimentar.
sejam reajustadas periodicamente, e corre que as cestas de consumo ali-
Ainda que não seja realizada a mesma pergunta no questionário da PNADC, mentar diferem significativamente entre regiões e áreas. Assim sendo, será
é possível encontrar estimativas médias para diferentes grupos que estejam calculada uma inflação de alimentos para cada um dos dez grupos. A evolu-
também presentes nesta última. Assim, é possível encontrar o percentual de ção dos preços em relação a janeiro de 2018 é apresentada no Gráfico 10, a
crianças abaixo da linha considerada necessária para a alimentação de uma seguir, mostrando que a média da cesta de alimentos, no quarto trimestre
família por cada grupo. de 2022, estava 39% mais cara em áreas urbanas do Norte (menor variação)
e 56% mais cara para famílias vivendo nas áreas rurais do Sudeste (maior va-
Desse modo, na POF 2017/18 são encontradas médias por áreas geográficas
riação). Vale notar que todas essas variações foram superiores ao acumulado
a partir de dois tipos de localidade: grande região (Norte, Nordeste, Sudeste,
do Índice Nacional de Preços ao Consumidor, de cerca de 32%. Tal divergên-
Sul e Centro Oeste) e por tipo de área (Urbana/Rural). Para tanto, o país é se-
cia começou a ocorrer após o início da pandemia, em 2020.
parado em dez grupos, cada qual com uma linha de pobreza alimentar, como
mostrada no Gráfico 09 a seguir. Gráfico 10
Variação de preços dos alimentos desde janeiro de 2018 por área
Gráfico 09
1,7 (a.i.) NO Rural
Linha de pobreza alimentar para famílias com 3 membros
(a.ii.) NO Urbano
1000
1,1
200
Aplicando tal evolução de preços para cada linha de pobreza alimentar em Gráfico 12
cada grupo, é possível avaliar, na edição da Quinta Entrevista da PNADC Anu- Percentual de crianças e adolescentes abaixo de cada linha de pobreza
al, o percentual de crianças em famílias com rendimento abaixo destas linhas 50
a cada ano de 2018 a 2022. O Gráfico 11 a seguir mostra que, no período
Gráfico 11
Percentual de crianças e adolescentes abaixo de linha de pobreza 20
30
25,2% 10
19,7% 20%
20 19,4%
0
16,3%
0 10 20 30 40 50
10,3%
10 9,4%
0
2018 2019 2020 2021 2022
Banco Mundial Alimentar
É válido notar que tal aumento foi desproporcional em relação à pobreza ex-
trema pela linha do Banco Mundial, de US$2,15 por dia, por pessoa. Segundo
aquele critério, em 2022 o aumento estaria em 10,3% - mais de dois pontos
percentuais abaixo do valor de 2019. Essa discrepância decorre do fato de os
alimentos terem tido aumento de preço consideravelmente mais elevado do
que a média da cesta de consumo geral, medida pelo INPC.
Conclusão
O presente estudo, estruturado com base na Pesquisa Nacional por Amostra
de Domicílios Contínua (PnadC) Anual de 2016 a 2022, abordou a comple-
xidade da pobreza multidimensional nos períodos da infância e da adoles-
cência no Brasil. Buscou-se quantificar e entender as diferentes privações
a que essa população está submetida, incluindo os direitos básicos a renda,
educação, informação, água, saneamento e moradia. Adicionalmente, a pes-
quisa considerou a dimensão alimentar, a partir da Pesquisa de Orçamentos
Familiares (POF) de 2017/18, como uma variável independente de análise.
Conforme estimativas da PNADC, a pobreza multidimensional oscilou entre
60% e 64%, envolvendo aproximadamente 31,9 milhões dos 52,8 milhões
de crianças e adolescentes em 2022.
Referências Bibliográficas
Alkire, S., Foster, J. Counting and multidimensional poverty measurement.
Journal of Public Economics 95, no. 7-8 (2011): 476-487.
Alkire, S., Foster, J., Seth, S., Santos, M. E., Roche, J. M., Ballon, P. Multidi-
mensional Poverty Measurement and Analysis, Oxford (2015), https://
doi.org/10.1093/acprof:oso/9780199689491.001.0001
©UNICEF/BRZ/Matheus Rodrigues
Anexo
Crianças e adolescentes de 0 a 17 anos com privações intermediárias e extremas em 2022,
por estado (em milhares)
**Os dados contidos nessa tabela não podem ser somados, visto que uma mesma criança ou
adolescente pode ter mais de uma privação.
RO 24.6 12.1 15.9 2.0 22.9 12.2 18.4 5.3 360.4 5.0 105.3 29.9
AC 33.1 14.3 28.2 6.9 26.0 24.1 24.6 34.2 98.0 86.9 108.1 56.0
AM 89.0 49.1 88.9 27.2 139.4 181.0 40.6 138.4 528.6 294.7 493.0 203.1
RR 13.0 7.2 3.6 1.6 20.5 27.2 5.5 6.8 83.5 9.0 67.9 27.5
PA 339.5 74.3 168.7 64.9 227.8 217.9 108.4 268.4 1786.1 452.3 865.6 383.6
AP 22.4 8.5 12.3 0.4 27.7 16.9 3.1 6.8 190.6 36.8 100.5 44.2
TO 30.4 8.0 15.4 3.0 24.9 10.0 11.0 11.5 270.3 12.2 145.8 34.2
MA 210.8 49.5 139.9 29.1 128.2 124.6 183.1 138.3 1322.7 423.2 787.7 492.1
PI 100.2 21.2 37.5 9.0 45.1 17.7 59.9 53.0 637.5 127.5 323.5 151.6
CE 138.9 53.2 85.6 9.3 139.9 80.2 109.1 108.9 1022.9 139.9 901.4 407.5
RN 96.5 18.8 23.0 7.7 37.8 13.1 45.9 28.6 569.9 39.9 324.8 153.1
PB 100.7 31.5 43.8 2.6 53.2 14.7 21.6 141.0 525.2 102.2 390.1 198.2
PE 167.4 62.1 90.7 6.6 78.0 82.9 51.6 212.4 801.4 215.8 956.5 439.2
AL 84.8 29.1 30.6 4.4 38.6 20.3 25.6 79.5 490.4 96.5 382.0 144.1
SE 70.5 16.3 22.8 2.7 19.4 11.8 3.4 31.9 305.9 44.9 259.9 105.1
BA 327.8 89.6 128.2 19.4 177.9 31.0 112.0 170.6 1496.9 238.9 1345.8 702.8
MG 215.6 101.0 92.8 4.5 156.3 63.1 45.5 13.8 779.1 237.4 1282.9 258.9
ES 60.1 27.6 23.2 1.1 54.4 26.9 8.5 3.8 209.9 65.9 257.1 79.7
RJ 171.7 64.4 87.3 7.2 256.5 212.8 120.4 31.1 329.2 186.6 829.6 331.8
SP 345.3 181.0 86.3 6.7 651.2 388.2 89.9 37.1 500.8 319.6 2077.5 391.5
PR 109.3 71.4 45.9 5.7 94.0 50.4 28.1 4.2 746.3 38.5 431.6 118.7
SC 54.1 29.0 28.3 1.4 65.3 24.5 25.2 2.4 694.2 32.6 191.4 33.6
RS 133.5 51.8 32.6 1.6 77.2 24.5 37.5 6.2 722.6 30.4 403.9 87.0
MS 59.9 25.9 10.4 1.2 32.4 27.9 11.1 0.4 332.6 0.0 166.9 30.4
MT 53.5 28.3 14.9 1.9 59.9 31.9 36.3 9.0 628.6 11.5 178.1 50.9
GO 90.9 44.5 17.9 4.5 43.0 40.9 67.0 7.0 747.0 6.1 437.0 79.2
DF 40.0 12.9 10.4 1.0 35.5 21.0 0.0 2.2 88.9 1.3 127.6 34.3
BR 3183.6 1182.4 1384.9 233.6 2733.2 1797.9 1293.5 1552.8 16269.4 3255.8 13941.4 5068.1
Fonte: Elaboração própria com base na PNADC Anual 1ª Entrevista