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POBREZA INFANTIL NO BRASIL: 2012-2021

Porto Alegre, 2022

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COMO CITAR

SALATA, André; MATTOS, Ely José de; BAGOLIN, Izete Pengo. Pobreza infantil no Brasil: 2012-2021.
Laboratório de Desigualdades, Pobreza e Mercado de Trabalho – PUCRS Data Social. Porto Alegre,
2022. Disponível em <http://www.pucrs.br/datasocial>

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FICHA TÉCNICA

PESQUISADORES RESPONSÁVEIS
Prof. Dr. Andre Ricardo Salata
Doutor em Sociologia, pesquisador de produtividade do CNPq e professor do Programa de Pós-
Graduação em Ciências Sociais da PUCRS
Prof. Dr. Ely Jose de Mattos
Economista, doutor em Economia Aplicada, professor do Programa de Pós-Graduação em
Economia da PUCRS
Prof.ª Dr.ª Izete Pengo Bagolin
Economista, doutora em Economia Aplicada, pesquisador de produtividade do CNPq e
professora dos Programas de Pós-Graduação em Economia e Serviço Social da PUCRS.

INSTITUIÇÕES ENVOLVIDAS
PUCRS Data Social: laboratório de desigualdades, pobreza e mercado de trabalho
(http://www.pucrs.br/datasocial)

AGRADECIMENTOS
Data Zoom (http://www.econ.puc-rio.br/datazoom/)
IBGE (http://www.ibge.gov.br)

CONTATOS
PUCRS (ASCOM)
imprensa@pucrs.br | ascom@pucrs.br | datasocial@pucrs.br
(51) 3320-3503 | (51) 3320-3603

DISCLAIMER: opiniões expressas neste relatório são de responsabilidade exclusiva dos autores, não
representando necessariamente o posicionamento institucional da PUCRS.

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NOTAS TÉCNICAS

I. Neste estudo utilizamos os microdados provenientes da Pesquisa Nacional por Amostra de


Domicílios Contínua (PNADc), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A
amostragem da PNADc é realizada a partir de um esquema de rotação 1-2(5). Nele, o
domicílio é entrevistado um mês e sai da amostra por dois meses seguidos, sendo esta
sequência repetida cinco vezes. Ou seja, cada domicílio é visitado 5 vezes, em trimestres
distintos. Informações a respeito de outras fontes de rendimento que não o trabalho,
essenciais para o cálculo das taxas de pobreza, são coletadas somente na 1ª visita (desde o
início da série, no ano de 2012) ou na 5ª visita (a partir do ano de 2016), e disponibilizadas
em bases anuais que acumulam os dados da 1ª ou da 5ª visita. Para o período de 2020 e
2021, no entanto, o IBGE disponibilizou apenas os dados anuais acumulados na 5ª visita aos
domicílios. Neste trabalho optamos, então, por utilizar os dados acumulados na 1ª visita
entre 2012 e 2015, e os dados acumulados na 5ª visita entre 2016 e 2021.

II. Para gerar as informações, utilizamos sempre o rendimento domiciliar per capita (habitual
de todos os trabalhos e efetivo de outras fontes), excluindo o rendimento das pessoas cuja
condição na unidade domiciliar era de pensionista, empregado doméstico ou parente do
empregado doméstico. Todos os valores foram deflacionados para preços médios do último
período (2021), a partir de deflatores específicos para cada Unidade da Federação,
fornecidos pelo próprio IBGE junto à PNADc e tendo como base o Índice Nacional de Preços
ao Consumidor Amplo - IPCA.

III. Segundo o Marco Legal da Primeira Infância (Lei n. 13.257/2016), a primeira infância é o
período que abrange os primeiros seis anos completos, ou os primeiros 72 meses de vida da
criança. Por essa razão, neste estudo utilizamos como recorte crianças com até 6 anos de
idade, o que não inclui aquelas que já completaram o sexto ano etário.

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DESTAQUES

O que propomos?

Identificar a incidência de pobreza entre crianças de zero a seis anos de idade no Brasil.

Por que isso é importante?

Porque as privações que são enfrentadas na primeira infância podem ter consequências
irreversíveis que perdurarão por toda a vida, causando prejuízos para o futuro das crianças e,
consequentemente, para o potencial de desenvolvimento do país.

Como medimos a pobreza?

Utilizando linhas de pobreza monetária.


▪ Foram consideradas pobres aquelas pessoas (adultos ou crianças) que viviam com menos
de R$ 467,67 por mês.
▪ Foram consideradas extremamente pobres aquelas pessoas (adultos ou crianças) que
viviam com menos de R$ 161,56 por mês.

O que descobrimos?

1. Que em 2021 44,7% das crianças viviam em situação de pobreza, e 12,7% em situação de
extrema pobreza (contra taxas de 28,3% e 8,2% para população geral, respectivamente).

2. Que entre as crianças que viviam no meio rural a taxa de pobreza era de 69,7%, contra
40,2% para as que vivam no meio urbano. Que entre as crianças negras a taxa de pobreza
era quase 68% maior que a das crianças brancas; para a extrema pobreza, ela era quase o
dobro (98% maior). E que, e com exceção do Ceará, todos os Estados do nordeste tinham
mais de 60% das suas crianças classificadas como pobres.

3. Que no período da pandemia, na vigência do Auxílio Emergencial, a taxa de pobreza


infantil, que era de 41,5% em 2019, caiu para 36,1% em 2020, e voltou a subir para 44,7%
em 2021. Em meio à crise econômica provocada pela pandemia de Covid-19, em 2020
houve forte redução (de 5,4 pontos percentuais) da taxa de pobreza infantil. E, no sentido
oposto, em 2021 a incidência da pobreza sobe bruscamente para um patamar ainda mais
elevado (3,2 pontos percentuais acima) do que aquele de 2019.

4. Que a privação monetária é apenas uma das inúmeras dimensões em que as crianças em
situação de pobreza sofrem desvantagens. Entre as crianças cujas famílias estão abaixo da
linha de pobreza, o adulto de referência tinha em média 8,8 anos de estudo (contra 11,9
nas famílias acima da linha de pobreza). E o percentual de adultos de referência com ao
menos Ensino Médio completo era de 35,9% (contra 71,3% nas famílias acima da linha de
pobreza). Além disso, 27,4% das crianças em situação de pobreza, e 39% daquelas em
situação de extrema pobreza, viviam em famílias monoparentais em 2021.

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1 – APRESENTAÇÃO

A pobreza, desde que começou a ser estudada, está associada à capacidade das pessoas
suprirem ou não as suas necessidades essenciais de sobrevivência. É bastante antiga a vinculação da
capacidade de sobrevivência com a quantidade de dinheiro que os indivíduos e suas famílias precisam
para satisfazer tais necessidades.1 A relação direta da pobreza com a quantidade mínima de dinheiro
passou a ser conhecida como linha de pobreza absoluta e é, também, chamada de abordagem
unidimensional ou monetária.
É importante destacar que essa não é a única forma de conceituar, medir ou estudar a pobreza.
A pobreza possui também uma perspectiva relativa e, além disso, já é consenso entre os estudiosos do
assunto que este é um fenômeno multidimensional, complexo e diverso. No entanto, o conceito
associado à insuficiência de dinheiro, conhecida como pobreza monetária e medida por meio de uma
linha de pobreza absoluta ainda é amplamente utilizado em países em desenvolvimento ou não
desenvolvidos.
Apesar de insuficientes para entender toda a complexidade do fenômeno, as medidas baseadas
em linhas de pobreza monetária ajudam a identificar quem está vivendo na pobreza ou na extrema
pobreza. Elas se apresentam como a forma mais simples e direta para se obter o primeiro diagnóstico
ou fotografia no processo de identificação de quais e quantas são as pessoas que vivem em condições
abaixo do mínimo necessário. A identificação de quem é pobre é a primeira etapa da mensuração da
pobreza (Sen, 1976), sendo um elemento fundamental para os passos subsequentes de compreensão
das suas causas e proposição de soluções.
Tendo em mente que as pessoas que vivem abaixo da linha da pobreza não possuem o
suficiente para satisfazerem suas necessidades mínimas, se torna mais fácil perceber as consequências
negativas que essa condição impõe à vida de qualquer indivíduo. Ainda assim, vale destacar que o
mínimo necessário para a sobrevivência está muito abaixo de uma condição adequada, ideal ou digna
de sobrevivência. Mesmo aquelas pessoas que estão um pouco acima da linha de pobreza podem

1
Desde antiga Lei dos Pobres, que foi inspirada na Speenhamland System de 1795, um programa de transferência de renda
implementado na Inglaterra em Berkshire. Neste programa “os residentes da classe trabalhadora local receberiam uma
renda básica fixada ao custo de três galões de pães por semana para um homem adulto, com um subsídio extra de um
galão e meio de pão para cada dependente (esposa adulta ou filhos). O valor monetário era indexado ao preço do pão.”
(Ravallion e Martin, 2016, p.33).

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enfrentar muitas carências e ter dificuldades para satisfazer todas as necessidades que o padrão de
vida da sociedade impõe.
Se para uma pessoa adulta e saudável a condição de pobreza é prejudicial, humilhante e
incapacitante, ela é ainda mais grave para as crianças que estão na primeira infância (de zero até seis
anos de idade), fase de maior desenvolvimento das suas capacidades físicas, psicológicas e intelectuais.
Muitas das privações que são enfrentadas na primeira infância podem ter consequências irreversíveis
que perdurarão por toda a vida. Por essa razão, as consequências da pobreza para as crianças que a
enfrentam, e para a sociedade, têm recebido muita atenção dos pesquisadores de diversas áreas do
conhecimento. Por exemplo, um estudo recente mostrou que privações nutricionais, mesmo que
transientes, podem provocar danos permanentes no cérebro de crianças e adolescentes,
comprometendo irreversivelmente a saúde física e mental (Lin et al., 2022).
No livro “Dando às Crianças uma oportunidade justa”, Heckman (2013) reúne evidências de
diversos estudos que testaram os efeitos das privações enfrentadas na infância em diversas dimensões
da vida das pessoas. A partir destas evidências o autor afirma que o “acidente” do nascimento é
determinante. Segundo ele, crianças nascidas em ambientes desfavorecidos estão em muito maior
risco de adquirirem baixa qualificação ao longo da vida e, consequentemente, rendimentos mais
baixos. Além disso, as pessoas submetidas a privações na infância são mais propensas a enfrentar
questões pessoais e sociais como, por exemplo, problemas de saúde, gravidez na adolescência e
envolvimento em atividades criminais. Portanto, esse poderoso impacto do nascimento nas
oportunidades ao longo da vida traz efeitos deletérios tanto para os indivíduos nascidos em
desvantagem quanto para a sociedade - que perde o potencial de contribuição de uma parcela
importante da população (Heckman, 2013).
Em que pese representem um terço da população global, crianças e adolescentes compõem
aproximadamente metade do contingente de pessoas em situação de extrema pobreza no planeta,
assim mensurado a partir dos critérios adotados pelo Banco Mundial descritos a seguir. Podemos
afirmar, desse modo, que em termos etários as crianças e adolescentes são a parcela da população
mais vulnerável à (extrema) pobreza (UNICEF, 2022).
Tendo em mente a gravidade dos problemas que a pobreza infantil pode causar no futuro das
crianças e, consequentemente, no potencial de desenvolvimento do país, o objetivo desse estudo é
identificar a incidência de pobreza entre crianças de zero a seis anos de idade no Brasil. Para isso, serão
utilizadas as linhas de pobreza e extrema pobreza definidas pelo Banco Mundial. Apesar de existir uma
linha oficial de pobreza para o Brasil, esta foi definida a partir de critérios políticos administrativos
(Osório et al., 2011). A linha de pobreza utilizada pelo Banco Mundial, por sua vez, segue critérios

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internacionalmente estabelecidos e comparáveis. As linhas definidas pelo Banco Mundial também são
utilizadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE para o cálculo de alguns dos
indicadores sociais anuais (IBGE, 2021).
Para o acompanhamento da pobreza global, as Nações Unidas e o Banco Mundial
estabeleceram a chamada Linha de Pobreza Internacional (LPI) em US$ 1,00 PPC2 por dia, ainda na
década de 1990. Este valor tem sido atualizado constantemente, e hoje está em US$1,90 PPC.3 Tal
patamar se justifica por estar ancorado nas linhas de pobreza dos países mais pobres do globo, se
constituindo, portanto, como um mínimo a ser perseguido por todo e qualquer país (Ravallion et al.,
1991). Essa importante medida foi utilizada nos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio – ODM – e
está presente na Agenda 2030 para os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável – ODS.
Mais recentemente, a partir do ano de 2007, o Banco Mundial adicionou duas outras opções
de linhas de pobreza em suas publicações. A primeira delas se aplica aos países de renda média-baixa
e tem o valor de US$ 3,20 PPC; a segunda, por sua vez, é sugerida para os países de renda média-alta
e seu valor é de US$ 5,50 PPC (World Bank, 2020).4 O Brasil é classificado como país de rendimento
médio-alto5 e, por essa razão, a linha de pobreza de US$ 5,50 PPC tem sido utilizada com frequência
nos estudos nacionais, inclusive pelo IBGE (2021).
Nesta publicação, trabalharemos com duas linhas: US$ 5,50 PPC para pobreza e US$ 1,90 PPC
para a extrema pobreza. Para tanto, os valores foram primeiro convertidos em reais (R$) a partir da
Paridade de Poder de Compra (PPC) de 2017; posteriormente, foram mensalizados e, então,
deflacionados para valores médios de 2021, por meio do IPCA6. Em valores de 2021, a linha de pobreza
é de R$ 467,67 (quatrocentos e sessenta e sete reais e sessenta e sete centavos), por mês, e a linha de
extrema pobreza é de R$ 161,56 (cento e sessenta e um reais e cinquenta e seis centavos) por mês.
Ou seja, moradores de domicílios cuja renda per capita mensal se encontra abaixo de tais valores serão
classificados como pobres e/ou extremamente pobres.
A seguir, na seção 2, apresentamos os resultados que mostram a incidência de pobreza e
extrema pobreza entre as crianças de zero a seis anos de idade e na população em geral. Além disso,

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Paridade de Poder de Compra (PPC). Elaborada a partir de uma pesquisa mundial de preços de bens e serviços, a taxa de
câmbio medida em PPC permite a comparação do valor real das moedas em determinado momento. A fim de garantir a
comparabilidade da série histórica, o Banco Mundial continua adotando o PPC revisado de 2011. Aqui, no entanto, dado
que trabalhamos com informações de 2012 até 2021, preferimos utilizar a atualização do PPC feita em 2017.
3
Pouco antes da publicação deste relatório, em setembro de 2022, o Banco Mundial começou a adotar o valor de U$2,15
PPC. Como estamos utilizando dados até 2021 e o IBGE tem utilizado a linha anterior, optamos por mantê-la.
4
Pouco antes da publicação deste relatório, em setembro de 2022, o Banco Mundial começou a adotar os valores de
U$3,65 PPC e U$6,85 PPC. Como estamos utilizando dados até 2021 e o IBGE tem utilizado a linha anterior, optamos por
mantê-la.
5
https://datahelpdesk.worldbank.org/knowledgebase/articles/906519
6
Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo.

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segmentamos a incidência de pobreza entre áreas rurais e urbanas, unidades da federação e entre
brancos e não brancos. Na seção 3 mostramos como a pandemia e os programas de transferência de
renda impactaram a pobreza infantil e geral e, na seção 4, relacionamos a pobreza infantil com outras
desvantagens que são enfrentadas pelas crianças.

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2 – INCIDÊNCIA DA POBREZA INFANTIL

Conforme discutido na seção anterior, o entendimento da pobreza é complexo. Se, de um lado,


sabemos que a pobreza é multifacetada, envolvendo diversos aspectos da vida das pessoas – saúde,
educação, relações sociais etc. – de outro, está claro que a renda, ainda que incorrendo em algum
reducionismo, é um elemento analítico central. Está bem estabelecido na literatura especializada que
observar o rendimento das pessoas oferece direcionamento relevante para estudar pobreza,
especialmente por ser uma variável de fácil mensuração e processamento estatístico. Além disso,
parte significativa das políticas de combate à pobreza no Brasil são balizadas por mensurações
baseadas em renda.

Levando-se em consideração, então, uma abordagem monetária, partimos da observação da


renda média. A Figura 1 traz o comportamento da renda domiciliar per capita (RDPC) mensal desde
2012 (primeiro ano da PNAD Contínua) até 2021 (último dado divulgado). Como estamos focados em
resultados para a infância (crianças de 0 a 6 anos), utilizamos a população geral como parâmetro de
comparação. Observa-se que ao longo de todo o período a renda per capita média da população
geral foi 48% maior do que a RDPC quando se considera apenas as crianças.

11
Figura 1: Média da renda domiciliar per capita – Brasil, 2012-2021

1.509,20
1.503,56

1.484,56

1.472,92
1.462,53

1.455,21

1.452,80
1.415,46

1.409,91

1.350,82
Renda dom. per capita (R$) 1.600,00

1.400,00

1.088,15
1.010,86
1.009,41

995,12
993,93
1.200,00

970,84
969,10

928,31
926,64
912,06
1.000,00

800,00

600,00
2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021

Ano de referência
População geral Crianças (0-6 anos)

Fonte: IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua 2012-2021.


Nota: calculado a partir da renda total mensal domiciliar per capita (preços constantes de 2021 - IPCA).

Esta diferença pode ser explicada pelo fato de que existe concentração maior de crianças em
domicílios de renda menor quando comparados àqueles de renda mais elevada. Segundo os dados
da PNAD 2021, 64,8% das crianças de zero até seis ano de idade vivem em domicílios que estão entre
os 40% mais pobres do país, e somente 4,4% moram nos domicílios que compõem o estrato dos 10%
mais ricos. Ou seja, as crianças estão mais concentradas na base da pirâmide social.

Este resultado deixa claro que o contingente de crianças vivendo em domicílios que dispõem
de menor aporte de recursos é alto. O ano de 2020, quando foi distribuída a maior parte do Auxílio
Emergencial, corrobora esta conclusão: temos um incremento significativo na renda das crianças,
enquanto na população total não se observa tal efeito.

Os resultados para a pobreza e extrema pobreza apontam na mesma direção. A partir das linhas
consideradas, e que foram apresentadas na seção anterior, as Figuras 2 e 3 trazem a proporção de
pobres e extremamente pobres, respectivamente.

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Figura 2: Polução vivendo em situação de pobreza – Brasil, 2012-2021 (%)

50,0

44,7
43,2

42,3

41,7

41,7

41,5
41,1
45,0

39,7
37,9

36,1
40,0

35,0

28,3
26,3
%

25,0

24,9

24,8
30,0

24,5
24,5

23,7

23,1
22,7
25,0

20,0

15,0

10,0
2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021
Ano de referência

População geral Crianças (0-6 anos)

Fonte: IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua 2012-2021.


Nota (1): calculado a partir da renda total mensal domiciliar per capita (preços constantes de 2021 - IPCA).
Nota (2): linha de pobreza de U$5,50 PPC por dia, ou R$467,67 por mês
Nota (3): PPC = Paridade do poder de compra. Taxa de conversão da paridade de poder de compra para
consumo privado, de R$2,327 para US$ 1,00 PPC 2017, tornados mensais e inflacionados pelo IPCA para 2021.

Figura 3: Polução vivendo em situação de extrema pobreza – Brasil, 2012-2021 (%)

12,7
14,0
11,7
11,6
10,6

12,0
10,4
9,6

10,0
8,6

8,4

8,2
8,0
7,6
%

8,0
6,7
6,7
6,3
5,7
5,5

5,3
5,0

6,0
4,8
4,4

4,0

2,0
2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021
Ano de referência
População geral Crianças (0-6 anos)

Fonte: IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua 2012-2021.


Nota (1): calculado a partir da renda total mensal domiciliar per capita (preços constantes de 2021 - IPCA).
Nota (2): linha de extrema pobreza de U$1,90 PPC por dia, ou R$161,56 por mês
Nota (3): PPC = Paridade do poder de compra. Taxa de conversão da paridade de poder de compra para
consumo privado, de R$2,327 para US$ 1,00 PPC 2017, tornados mensais e inflacionados pelo IPCA para 2021.

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Fechamos 2021 com uma proporção de pobres de 28,3% e de extremamente pobres de 8,2%
para população geral – valores recordes para o período analisado. No caso das crianças, estes
números saltam para 44,7% e 12,7%, respectivamente, também sendo os maiores níveis registrados
desde 2012. Em toda a série a pobreza infantil é consideravelmente maior do que a pobreza média
da população: para 2021, a pobreza infantil era 1,57 vezes a pobreza geral; no caso da extrema
pobreza a relação é de 1,55 vezes. Ainda que a diferença tenha se reduzido ao longo dos anos, o
registro de que os níveis de pobreza infantil ultrapassam em mais de 50% os números da população
geral é algo que merece particular atenção.

Em números absolutos, em 2021 identificamos 7,8 milhões de crianças em situação de pobreza


e 2,2 milhões em extrema pobreza. De 2020 para 2021, 1,4 milhão de crianças a mais passaram a ser
consideradas pobres e outras 800 mil passaram a engrossar a conta da extrema pobreza. Para que se
tenha uma ideia de escala da pobreza infantil, considere que o contingente de crianças pobres era
maior do que a população de Santa Catarina; e que o número de crianças em extrema pobreza
excedia a população de capitais como Curitiba ou Porto Alegre.

O ano de 2020, que trouxe severas restrições econômicas em função da pandemia e seus
desdobramentos, apresentou redução nos níveis de pobreza em relação a 2019. Essa redução está
associada à concessão do Auxílio Emergencial, conforme mostraremos na seção seguinte. É possível
perceber que a redução na pobreza infantil é mais acentuada do que para a população geral, o que
é explicado pelo mesmo raciocínio desenvolvido acima: a concentração de crianças nas faixas mais
baixas de renda, onde também ocorreu maior concentração no recebimento de auxílio.

No entanto, tão logo o auxílio extraordinário se esgotou, os níveis de pobreza e extrema


pobreza voltaram a subir. Em 2021, porém, estão ainda mais altos do que em 2019, período pré-
pandemia. O resultado faz sentido quando se considera que o suporte via transferência de renda
emergencial não tem papel estruturante, mas assistencial. Quando o suporte foi retirado, as pessoas
passaram a enfrentar uma conjuntura socioeconômica mais deteriorada do que aquela de antes do
auxílio – conforme demonstramos na próxima seção.

Os números agregados dão indicativos da gravidade da situação. Ainda assim, a segmentação


por local de moradia (rural ou urbano), por raça e por Unidade da Federação (UF) merece análise
mais detida. As Figuras 4 e 5 trazem os resultados para incidência da pobreza e extrema pobreza
segmentados entre áreas urbana e rural.

14
Figura 4: Crianças (0-6 anos) vivendo em situação de pobreza, por local de moradia –
Brasil, 2012-2021 (%)

72,7
80,0

70,5

70,5

70,3

69,8

69,7
69,0
68,3
66,7
70,0

60,5
60,0

50,0

40,2
36,9

36,7

36,6
36,5

36,3
34,9
%

34,0
32,3

31,7
40,0

30,0

20,0

10,0
2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021

Ano de referência
Urbano Rural

Fonte: IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua 2012-2021.


Nota (1): calculado a partir da renda total mensal domiciliar per capita (preços constantes de 2021 - IPCA).
Nota (2): linha de pobreza de U$5,50 PPC por dia, ou R$467,67 por mês
Nota (3): PPC = Paridade do poder de compra. Taxa de conversão da paridade de poder de compra para
consumo privado, de R$2,327 para US$ 1,00 PPC 2017, tornados mensais e inflacionados pelo IPCA para 2021.

Figura 5: Crianças (0-6 anos) vivendo em situação de extrema pobreza, por local de
moradia – Brasil, 2012-2021 (%)
35,0
28,6
28,0

26,1
30,0
25,2
24,9

24,5
22,5

21,5

25,0
19,3

16,8

20,0
%

15,0
10,4
8,7

8,6
7,8
7,6

10,0
6,4
6,3

5,8
5,7

5,3

5,0

0,0
2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021

Ano de referência

Urbano Rural

Fonte: IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua 2012-2021.


Nota (1): calculado a partir da renda total mensal domiciliar per capita (preços constantes de 2021 - IPCA).
Nota (2): linha de extrema pobreza de U$1,90 PPC por dia, ou R$161,56 por mês
Nota (3): PPC = Paridade do poder de compra. Taxa de conversão da paridade de poder de compra para
consumo privado, de R$2,327 para US$ 1,00 PPC 2017, tornados mensais e inflacionados pelo IPCA para 2021.

15
Enquanto a pobreza infantil agregada alcançou 44,7% em 2021, para as crianças que vivem no
meio rural este percentual foi de 69,7% – ou seja, 7 em cada 10 crianças do rural brasileiros podiam
ser consideradas pobres. E quase 3 em cada 10 foram classificadas como extremamente pobres neste
mesmo ano (26,1%). Para áreas urbanas os números são sensivelmente menores: 40,2% para
pobreza e 10,4% para extrema pobreza.

Esta diferença marcada entre pobreza rural e urbana é reconhecida nos estudos brasileiros
sobre pobreza há bastante tempo (Mattos e Bagolin, 2017, 2018). Ao contrário do que o senso
comum pode sugerir, a pobreza no meio rural costuma ser, além de mais extensa, mais profunda (a
distância das pessoas para a linha de pobreza é maior). Isso ocorre, em geral, porque a rede
assistencial e os mecanismos de política pública (e de mercado) que auxiliam no combate à pobreza
costumam operar com maior dificuldade no campo.

Situação similar ocorre na segmentação das estatísticas por raça – veja Figuras 6 e 7. Entre as
crianças negras, a pobreza foi quase 68% maior em 2021; para a extrema pobreza, quase o dobro
(98% maior). Elas pertencem à parcela da população que é sabidamente mais empobrecida (UNICEF,
2022). Aqui, também se nota que em 2020, com o pagamento do Auxílio Emergencial, a queda nos
números foi relevante – e, assim que suspenso, as taxas de pobreza e extrema pobreza pularam para
patamares ainda maiores do que os de antes.

16
Figura 6: Crianças (0-6 anos) vivendo em situação de pobreza, por Cor ou Raça – Brasil,
2012-2021 (%)

54,9

54,3
60,0

53,1
52,7

52,2
52,2

52,1
50,6
49,2

45,0
50,0

40,0

32,4
30,0

29,3

28,7
28,6
28,4

28,4
%

27,1

25,7
25,4
30,0

20,0

10,0
2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021
Ano de referência

Brancos Negros
Fonte: IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua 2012-2021.
Nota (1): calculado a partir da renda total mensal domiciliar per capita (preços constantes de 2021 - IPCA).
Nota (2): linha de pobreza de U$5,50 PPC por dia, ou R$467,67 por mês
Nota (3): PPC = Paridade do poder de compra. Taxa de conversão da paridade de poder de compra para
consumo privado, de R$2,327 para US$ 1,00 PPC 2017, tornados mensais e inflacionados pelo IPCA para 2021.

Figura 7: Crianças (0-6 anos) vivendo em situação de extrema pobreza, por Cor ou Raça –
Brasil, 2012-2021 (%)
20,0
16,3
15,8
15,7

18,0
14,0
13,8

16,0
13,0

12,3

14,0
11,6
10,8

10,3

12,0
%

8,2

10,0
6,6
6,5
6,3
6,3

8,0
5,7

5,3
4,7
4,6

6,0
4,0

4,0
2,0
0,0
2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021
Ano de referência
Brancos Negros

Fonte: IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua 2012-2021.


Nota (1): calculado a partir da renda total mensal domiciliar per capita (preços constantes de 2021 - IPCA).
Nota (2): linha de extrema pobreza de U$1,90 PPC por dia, ou R$161,56 por mês
Nota (3): PPC = Paridade do poder de compra. Taxa de conversão da paridade de poder de compra para
consumo privado, de R$2,327 para US$ 1,00 PPC 2017, tornados mensais e inflacionados pelo IPCA para 2021.

17
As Figuras 8 e 9 trazem os números por Unidade da Federação. Mais do que os diferenciais
entre UFs, é bastante marcada a discrepância de incidência da pobreza entre as grandes regiões do
Brasil. Tanto para pobreza quanto para extrema pobreza, a região nordeste se destaca por apresentar
os piores indicadores. Para 2021, no Maranhão, Piauí, Pernambuco e Bahia, pelo menos 1 em cada
quatros crianças estava em situação de extrema pobreza; e com exceção do Ceará, todos os Estados
do nordeste tinham mais de 60% das suas crianças classificadas como pobres.

Logo depois da região nordeste, a região Norte também apresenta números altos, ainda que
com heterogeneidade intrarregional mais marcada. A região Sul se destaca por ter, em média, as
menores taxas de pobreza – ainda assim, se identificam taxas de pobreza de 30% no Paraná, 24% no
Rio Grande do Sul e 17,6% em Santa Catarina.

Estas diferenças significativas nas taxas de pobreza entre as diferentes regiões estão associadas
à fatores de diversas ordens. Desde questões de formação histórica dos territórios até aspectos de
gestões de políticas públicas regionais, passando pelo volume e pela distribuição de recursos
econômicos em cada localidade. Adentrar em explicações detalhadas para cada UF é algo que não
está no escopo deste trabalho, uma vez que demanda abordagens e detalhamento analíticos
específicos.

18
Figura 8: Crianças (0-6 anos) vivendo em situação de pobreza, por Unidades da Federação
– Brasil, 2012-2021 (%)
%
0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0 60,0 70,0 80,0
35,5
Rondônia 38,7
48,9
59,4
Acre 62,4
64,3
61,9
Amazonas 66,9
66,8
43,9
Roraima 49,9
60,5
54,6
Pará 61,0
60,5
51,5
Amapá 55,0
61,6
47,3
Tocantins 36,9
49,6
68,0
Maranhão 70,1
71,8
60,6
Piauí 66,0
68,7
61,2
Ceará 59,6
61,9
58,2
Rio Grande do Norte 55,6
64,9
61,1
Paraíba 61,5
64,5
52,4
Pernambuco 57,8
67,4
64,5
Alagoas 67,6
70,8
56,1
Sergipe 59,7
66,6
54,7
Bahia 62,8
68,9
34,3
Minas Gerais 36,8
38,1
34,1
Espírito Santo 38,9
43,4
30,6
Rio de Janeiro 36,4
37,9
18,4
São Paulo 25,3
30,0
19,0
Paraná 25,4
29,0
13,8
Santa Catarina 15,2
17,6
23,6
Rio Grande do Sul 24,3
24,0
28,6
Mato Grosso do Sul 26,2
31,9
31,0
Mato Grosso 24,2
32,1
27,3
Goiás 28,7
36,9
25,7
Distrito Federal 25,0
25,0

2014 2019 2021

Fonte: IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua 2012-2021.


Nota (1): calculado a partir da renda total mensal domiciliar per capita (preços constantes de 2021 - IPCA).
Nota (2): linha de pobreza de U$5,50 PPC por dia, ou R$467,67 por mês
Nota (3): PPC = Paridade do poder de compra. Taxa de conversão da paridade de poder de compra para consumo privado, de
R$2,327 para US$ 1,00 PPC 2017, tornados mensais e inflacionados pelo IPCA para 2021.

19
Figura 9: Crianças (0-6 anos) vivendo em situação de extrema pobreza, por Unidades da
Federação – Brasil, 2012-2021 (%)
%
0,0 5,0 10,0 15,0 20,0 25,0 30,0 35,0
7,3
Rondônia 5,8
9,2
15,6
Acre 22,4
22,9
13,2
Amazonas 19,3
24,3
7,3
Roraima 11,5
12,8
13,6
Pará 17,9
21,0
8,7
Amapá 10,8
16,1
6,7
Tocantins 7,9
10,9
22,3
Maranhão 31,0
33,4
15,4
Piauí 23,3
25,0
15,3
Ceará 19,3
18,6
12,4
Rio Grande do Norte 18,3
20,6
11,5
Paraíba 20,4
23,8
14,1
Pernambuco 19,0
26,8
19,1
Alagoas 20,1
24,4
13,3
Sergipe 18,3
19,4
11,8
Bahia 23,3
25,1
5,1
Minas Gerais 6,2
8,4
5,2
Espírito Santo 6,8
11,8
4,9
Rio de Janeiro 6,4
10,6
1,9
São Paulo 5,7
7,3
2,4
Paraná 4,2
3,8
1,1
Santa Catarina 1,9
1,9
3,3
Rio Grande do Sul 3,7
3,7
2,3
Mato Grosso do Sul 3,0
6,0
4,2
Mato Grosso 3,4
4,5
2,6
Goiás 4,3
4,4
2,4
Distrito Federal 3,4
7,8

2014 2019 2021

Fonte: IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua 2012-2021.


Nota (1): calculado a partir da renda total mensal domiciliar per capita (preços constantes de 2021 - IPCA).
Nota (2): linha de extrema pobreza de U$1,90 PPC por dia, ou R$161,56 por mês
Nota (3): PPC = Paridade do poder de compra. Taxa de conversão da paridade de poder de compra para consumo privado, de
R$2,327 para US$ 1,00 PPC 2017, tornados mensais e inflacionados pelo IPCA para 2021.

20
3 – PANDEMIA, TRANSFERÊNCIA DE RENDA E POBREZA INFANTIL

A crise provocada pela pandemia da Covid-19, que no Brasil se fez sentir a partir do segundo
trimestre de 2020, afetou brutalmente os rendimentos provenientes do trabalho (IBGE, 2021; Salata
e Ribeiro, 2020). Como resposta, entre outras medidas,7 houve significativos incrementos nas políticas
de transferência de renda. Nesse âmbito, uma ação relevante foi a implementação do Auxílio
Emergencial (AE).8

Proposto por iniciativa do Congresso Nacional e instituído a partir da Lei n. 13.982/2020, o AE


previa o pagamento de três parcelas de R$ 600, tendo sido posteriormente prorrogado por mais dois
meses, totalizando 5 parcelas com o valor inicialmente estabelecido. Em setembro de 2020 foi
anunciado o pagamento de mais 4 parcelas adicionais, até o final daquele ano, mas no valor de R$
300.9 O AE era destinado aos adultos trabalhadores informais, microempreendedores individuais
(MEI), autônomos e desempregados. Para recebê-lo, era necessário que a renda familiar mensal por
pessoa não ultrapassasse meio salário-mínimo, ou que a renda familiar total fosse de até 3 salários-
mínimos.10 Havia um limite de duas cotas por família, com a mulher provedora de família
monoparental tendo direito a receber as duas.

No ano de 2020 o AE chegou a mais de 68 milhões de beneficiários, o que superava em muito o


número de beneficiários do principal programa de transferência condicionada de renda, o Bolsa
Família (BF), que contava com 14 milhões de famílias beneficiadas no início de 2020 e tinha um
benefício médio de R$ 189. A partir do segundo trimestre de 2020 muitos dos beneficiários do BF
passaram a receber o AE, de modo que em grande medida o segundo se sobrepôs ao primeiro.

7
Através da Lei n. 14.020, de 06.07.2020, foi criado também o Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da
Renda, que visava proteger os vínculos de trabalho formais em meio aos impactos da pandemia. O programa permitia tanto
a redução da jornada de trabalho quanto a suspenção temporária do contrato de trabalho com preservação (parcial) da
renda.
8
Além do Auxílio Emergencial, segundo o estudo Mapa COVID-19 da Fundação Getúlio Vargas (FGV), 23 estados e o Distrito
Federal implementaram algum tipo de auxílio econômico naquele período. Houve, por exemplo, a criação de linhas de
crédito especiais a micro e pequenos empreendimentos, auxílios financeiros a estudantes, vale-alimentação e Bolsa-
Merenda, entre outras medidas.
9
Então denominado de Auxílio Emergencial Residual.
10
Além de estarem na faixa de isenção do imposto de renda em 2018 e 2019, no caso daqueles que fossem elegíveis às
parcelas residuais.

21
Entre janeiro e março de 2021, entretanto, ainda sob fortes efeitos da pandemia de Covid-19 no
mercado de trabalho, o pagamento do AE foi interrompido. As famílias que eram beneficiárias do BF
voltaram automaticamente para aquele programa, e as demais ficaram sem acesso ao AE ou ao BF. A
partir de abril de 2021 o AE voltou a ser pago (Medida Provisória n. 1.039, de 18.03.2021), mas então
com valor muito inferior – R$ 150 para pessoas que moravam sozinhas, R$ 375 para mulheres
responsáveis por famílias monoparentais e R$ 250 para famílias compostas por mais de uma pessoa -
e cobertura bem menor, alcançando aproximadamente 39 milhões de famílias beneficiadas.

Com o fim do AE em outubro de 2021, o governo federal modificou o BF para criar o chamado
Auxílio Brasil (AB). Em sua concepção inicial o programa era bastante semelhante ao BF, com um
pequeno incremento no valor do benefício, além de incluir mais três modalidades de bônus. O AB
começou a ser pago em novembro de 2021, com um valor médio de R$ 224 para aproximadamente
14,5 milhões de famílias. Já em dezembro de 2021, o valor da segunda parcela do AB foi de R$ 400,
garantido pela aprovação da PEC 46/2021.11

Resumindo, até o primeiro trimestre de 2020 o principal programa de transferência de renda era
o BF. A partir de abril de 2020, como resposta à crise provocada pela Covid-19, se inicia o pagamento
do AE, primeiro no valor de R$ 600, e depois no valor de R$ 300. No início de 2021 o pagamento do AE
é interrompido, retornando apenas em abril daquele ano, com cobertura reduzida e benefício de valor
inferior. Em novembro de 2021 é feito o pagamento da primeira parcela do AB, e em dezembro a
segunda parcela – já no valor de R$ 400.

Em meio a tantas mudanças bruscas, idas e vindas em torno dos programas de transferência de
renda, houve forte variação na incidência da pobreza infantil no período da pandemia, como mostra a
Figura 10. A taxa de pobreza infantil, que era de 41,5% em 2019, caiu para 36,1% em 2020, e voltou a
subir para 44,7% em 2021. Com efeito, mesmo em meio à crise econômica provocada pela pandemia
de Covid-19, em 2020 houve forte redução (de 5,4 pontos percentuais) da taxa de pobreza infantil. E,
no sentido oposto, em 2021 a incidência da pobreza sobe bruscamente para um patamar ainda mais
elevado (3,2 pontos percentuais acima) do que aquele de 2019.

11
Mais tarde, com a PEC 15/2022 foi garantido um adicional de mais R$ 200 até o final do ano de 2022.

22
Figura 10: Crianças (0-6 anos) vivendo em situação de pobreza, com e sem auxílios – Brasil,
2019-2021 (%)
50,0
47,5
48,0
45,7
46,0 44,7
44,0 43,3
41,5
42,0
%

40,0
38,0
36,1
36,0
34,0
32,0
30,0
2019 2020 2021

Taxa de pobreza Simulação sem Auxílios

Fonte: IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua 2019-2021.


Nota (1): calculado a partir da renda total mensal domiciliar per capita (preços constantes de 2021 - IPCA).
Nota (2): linha de pobreza de U$5,50 PPC por dia, ou R$467,67 por mês
Nota (3): PPC = Paridade do poder de compra. Taxa de conversão da paridade de poder de compra para
consumo privado, de R$2,327 para US$ 1,00 PPC 2017, tornados mensais e inflacionados pelo IPCA para 2021.
Nota (4): simulação sem auxílios realizada a partir a subtração dos rendimentos provenientes de Bolsa Família,
Auxílio Emergencial e/ou de outros programas de transferência de renda.

A fim de melhor compreender o papel do AE nessas variações, fizemos algumas simulações a


partir dos dados. Nessas simulações, calculamos novamente a incidência da pobreza infantil para o
período 2019-2021, mas sem considerar, quando fosse o caso, os rendimentos provenientes de: 1.
programa Bolsa Família;12 2. outros programas sociais do governo, incluindo o AE.13 Como houve,
durante 2020 e 2021, momentos de sobreposição entre os dois programas, sem que tenhamos a
informação de quais beneficiários do AE teriam acesso automático ao BF com o seu encerramento,
não foi possível realizar tais simulações de modo separado. Por essa razão, os resultados apresentados
na Figura 10 mostram o que teria ocorrido com a taxa de pobreza infantil sem o BF, o AE e outros
programas sociais de menor impacto na renda dos mais pobres.14

12
Variável V5002A2 na base de dados da PNADc 2021.
13
Variável V5003A2 na base de dados da PNADc 2021. Apesar de nesta variável os rendimentos do AE estarem diluídos em
meio aos rendimentos de outros programas sociais, sem que seja possível distingui-lo com maior precisão, é importante
mencionar que, em 2020, 95,1% dos beneficiários desses programas recebiam quantias de R$ 300, R$ 600 ou R$ 1.200, o
que sugere forte predominância do AE.
14
Os rendimentos provenientes do Benefício de Prestação Continuada-BPC, de aposentadorias e pensões, seguro-
desemprego e seguro-defeso, não foram subtraídos em nossas simulações.

23
No ano de 2019 já havia uma significativa redução da pobreza infantil com os auxílios, em grande
medida em função do BF. Não fosse essa fonte de rendimentos, a taxa de pobreza subiria de 41,5%
para 43,3%. Em termos absolutos, seria um acréscimo de 277 mil crianças abaixo da linha de pobreza,
conforme consta na Tabela 5A, no anexo. Já em 2020, a distância entre os cenários com e sem auxílios
se amplia radicalmente. Sem os rendimentos daqueles programas a taxa de pobreza infantil teria sido
de 45,7%, em vez dos 36,1% registrados. Tal distância torna manifesto o papel desempenhado pelo AE
na contenção e redução da pobreza infantil no auge da pandemia. Todavia, em 2021, com a
interrupção do pagamento do AE e a posterior retomada com valores e cobertura reduzidos, a pobreza
infantil volta a subir, e a distância entre o cenário real e o simulado é reduzida drasticamente. Ainda
assim, em um cenário simulado sem os auxílios, a taxa de pobreza infantil subiria de 44,7% para 47,5%,
o que em termos absolutos significaria um acréscimo de 506 mil crianças em situação de pobreza.

Na Figura 11 realizamos o mesmo exercício para a extrema pobreza, e os resultados, como


esperado, vão na mesma direção, mas de modo ainda mais acentuado. Num cenário simulado, sem os
auxílios, a taxa de extrema pobreza em 2019 seria de 14,5%, e não de 11,7%. Em 2020 essa distância
entre o que de fato ocorreu, e o que teria ocorrido sem os auxílios, cresce de maneira acentuada. No
cenário simulado, a extrema pobreza infantil teria saltado para 17,1%, atingindo mais de 3 milhões de
crianças (Tabela 5A). Em vez disso, recuou para 8%, ou 1.4 milhões de crianças. Já em 2021 os dois
cenários voltam a se aproximar, apesar da distância ainda muito significativa entre eles. Sem os
auxílios, a taxa de extrema pobreza infantil teria chegado a 16,9%, em vez dos registrados 12,7%.

Logo, as simulações realizadas mostram que: 1. os programas de transferência de renda, em


especial o BF, tinham efeito significativo em prol da redução da pobreza e da extrema pobreza infantis
já antes da pandemia; 2. durante a pandemia, em 2020, o AE não somente conteve o aumento da
incidência da pobreza infantil, como ocasionou sua redução; 3. em 2021, a interrupção do pagamento
do AE, e sua retomada com cobertura mais tímida e valores menores, foi responsável por um grande
salto na incidência da pobreza (extrema) infantil; 4. ainda assim, em 2021 as taxas de pobreza e
extrema pobreza infantis seriam substantivamente mais altas sem os auxílios.

24
Figura 11: Crianças (0-6 anos) vivendo em situação de extrema pobreza, com e sem auxílios
– Brasil, 2019-2021 (%)

18,0 17,1 16,9

16,0
14,5
14,0
12,7
11,7
12,0
%

10,0
8,0
8,0

6,0

4,0
2019 2020 2021

Taxa de ext. pob. Simulação sem Auxílios

Fonte: IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua 2019-2021.


Nota (1): calculado a partir da renda total mensal domiciliar per capita (preços constantes de 2021 - IPCA).
Nota (2): linha de extrema pobreza de U$1,90 PPC por dia, ou R$161,56 por mês
Nota (3): PPC = Paridade do poder de compra. Taxa de conversão da paridade de poder de compra para
consumo privado, de R$2,327 para US$ 1,00 PPC 2017, tornados mensais e inflacionados pelo IPCA para 2021.
Nota (4): simulação sem auxílios realizada a partir a subtração dos rendimentos provenientes de Bolsa Família,
Auxílio Emergencial e/ou de outros programas de transferência de renda.

Portanto, mesmo programas sociais que não têm como foco principal crianças e adolescentes
em situação de (extrema) pobreza, como foi o caso do AE, contribuem para o enfrentamento dessa
questão. Em consequência, variações repentinas nos valores, nas faixas de corte, nos benefícios e na
cobertura desses programas, como vimos, podem ter enormes consequências para o bem-estar de
milhares de crianças em um momento fundamental de seu desenvolvimento, na primeira infância,
com consequências que podem ser irreversíveis para o seu futuro.

25
4 – ACÚMULO DE DESVANTAGENS

Conforme já explicitado, as análises aqui realizadas partem da ideia de pobreza monetária.


Tomamos como estando em situação de (extrema) pobreza aquelas crianças cujos membros do
domicílio de moradia não conseguem atingir determinado valor de renda. Crianças nessa situação
estão, por definição, em um contexto de privação monetária, que tem consequências para seu bem-
estar no presente e, muito possivelmente, também no futuro. Mas a privação monetária é apenas uma
das inúmeras dimensões em que as crianças em situação de pobreza sofrem desvantagens. Na
verdade, tais desvantagens tendem a se acumular, o que traz consequências extremamente negativas
para o desenvolvimento dessas crianças.
Podemos tomar a pobreza monetária como estando na dimensão da privação de recursos
econômicos. Crianças nascidas e criadas em famílias monetariamente pobres poderão ser privadas de
recursos e oportunidades tais como alimentação adequada, boas condições de moradia, acesso a
serviços básicos, acesso à serviços de educação e saúde de qualidade, menores níveis de insegurança
etc. Essas são as facetas mais evidentes e conhecidas das desvantagens sofridas por uma enorme
parcela das crianças nascidas entre os estratos mais baixos da sociedade brasileira. Mas a elas se
somam outros fatores que, segundo a literatura especializada, poderiam ser tão ou mais importantes
para o desenvolvimento dessas crianças (Heckman, 2013).
Na dimensão dos recursos culturais, o nível educacional dos responsáveis é um dos fatores que
mais têm se mostrado relevantes para a trajetória dos indivíduos, em especial no que tange o sucesso
escolar e profissional. Filhos(as) de mães e pais mais escolarizados tendem a apresentar melhor
rendimento escolar, menores chances de evasão antes de completar o Ensino Médio, e maiores
probabilidades de alcançarem os níveis educacionais mais altos (Brooke e Soares, 2008; Hasenbalg,
2003). O maior nível educacional dos adultos em seu entorno se traduz em uma maior quantidade de
estímulos necessários ao bom desenvolvimento cognitivo e não-cognitivo das crianças, o que irá se
refletir em seu sucesso escolar e, posteriormente, em suas chances no mercado de trabalho.

26
Figura 12: Média de anos de estudo da pessoa de referência do domicílio de moradia da
criança (0-6 anos), por situação socioeconômica – Brasil, 2021
13,0
11,9
12,0

11,0
Anos de estudo (média)

10,0

9,0 8,8
8,3
8,0

7,0

6,0

5,0

4,0
Acima da linha de pobreza Abaixo da linha de pobreza Abaixo da linha de extrema
pobreza

Fonte: IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua 2021.


Nota (1): calculado a partir da renda total mensal domiciliar per capita (preços constantes de 2021 - IPCA).
Nota (2): linha de pobreza de U$5,50 PPC por dia, ou R$467,67 por mês / linha de extrema pobreza de
U$1,90 PPC por dia, ou R$161,56 por mês
Nota (3): PPC = Paridade do poder de compra. Taxa de conversão da paridade de poder de compra para consumo
privado, de R$2,327 para US$ 1,00 PPC 2017, tornados mensais e inflacionados pelo IPCA para 2021.
Nota (4): anos de estudo padronizados para o Ensino fundamental com duração de 9 anos.

Conforme podemos constatar na Figura 12, há uma forte correlação entre a situação
socioeconômica das famílias das crianças e o nível educacional dos responsáveis.15 Entre as crianças
cujas famílias estão acima da linha de pobreza, o adulto de referência tinha em média 11,9 anos de
estudo. Essa média cai para 8,8 entre as crianças cujas famílias estavam abaixo da linha de pobreza, e
desce para 8,3 entre os extremamente pobres.
Os dados de 2021 também mostram que, por exemplo, entre as crianças que vivem em
domicílios que estão acima da linha de pobreza, o percentual de adultos de referência com ao menos
Ensino Médio completo é de 71,3%. Já entre as crianças que estão abaixo da linha de pobreza, esse
percentual cai para 36,9%. E para aquelas em situação de extrema pobreza chega a 29,2%. Destarte,
crianças em situação de (extrema) pobreza tendem a enfrentar privações não somente no que toca os
recursos econômicos, mas também culturais.
Dentro dos estudos sobre pobreza infantil, no entanto, alguns dos mecanismos que têm sido
apontados como grandes responsáveis pelas desvantagens sofridas por crianças em situação de

15
Aqui indicado por meio dos anos de estudo da pessoa de referência no domicílio.

27
pobreza giram em torno da possibilidade de os pais conseguirem dar atenção – com qualidade – aos
filhos, promovendo assim uma maior quantidade de estímulos (Duncan e Magnuson, 2013). A partir
destas evidências, estudos e programas desenvolvidos com o intuito de investigar maneiras de mitigar
os efeitos da pobreza infantil costumam se estruturar por meio de visitas domiciliares de
assistentes/professores com o objetivo de interagir positivamente com as crianças e estimular os pais
a fazê-lo também.16 Isto é, há uma dimensão da privação que é propriamente social, no sentido de que
se encontra nas próprias relações que se estabelecem entre filhos e responsáveis.
Não é trivial mensurar as privações nessa dimensão social. Mas um indicador bastante usado é
a estrutura familiar, em especial a distinção entre famílias monoparentais ou não. Sabe-se que, em
média, crianças que são criadas por pais ou mães sem um(a) parceiro(a) tendem a receber menos
atenção - pelo simples fato de que há menos adultos para dividirem as tarefas entre si, incluindo os
cuidados com a criança. Nesse sentido, não como regra, mas em termos de probabilidade estatística,
a tendência é que crianças de famílias monoparentais sofram maiores desvantagens (McLanahan e
Sandefur, 2009).
A Figura 13 evidencia a relação entre a situação socioeconômica do domicílio das crianças e o
tipo de família em que elas se encontram. Entre as crianças que estão acima da linha de pobreza, 14,4%
vivem em famílias monoparentais. Esse percentual sobre para 27,4% entre as crianças cujas famílias
estão abaixo da linha de pobreza, e chega a 39% entre aquelas em situação de extrema pobreza. Ou
seja, há uma clara tendência de crescimento das formações monoparentais entre as famílias mais
pobres.

16
É o caso, por exemplo, dos conhecidos Perry Preschool Project e do Abecederian Project, nos Estados Unidos da América.
No Brasil, o programa Criança Feliz, instituído por meio do Decreto nº 8.869 de 05.10.2016, tem como principal ação visitas
domiciliares com o intuito de fortalecer os vínculos e as competências de famílias em situação de pobreza para o cuidado
das crianças.

28
Figura 13: Tipo de família, por situação socioeconômica do domicílio de moradia das
crianças (0-6 anos) – Brasil, 2021 (%)

90,0 85,7

80,0 72,6
70,0
61,0
60,0
50,0
%

39,0
40,0
30,0 27,4

20,0 14,4
10,0
0,0
Acima da linha de pobreza Abaixo da linha de pobreza Abaixo da linha de extrema
pobreza
Monoparentais Biparentais

Fonte: IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua 2021.


Nota (1): calculado a partir da renda total mensal domiciliar per capita (preços constantes de 2021 - IPCA).
Nota (2): linha de pobreza de U$5,50 PPC por dia, ou R$467,67 por mês / linha de extrema pobreza de
U$1,90 PPC por dia, ou R$161,56 por mês
Nota (3): PPC = Paridade do poder de compra. Taxa de conversão da paridade de poder de compra para consumo
privado, de R$2,327 para US$ 1,00 PPC 2017, tornados mensais e inflacionados pelo IPCA para 2021.

De modo complementar, os dados de 2021 também mostram que as crianças que estão acima
da pobreza vivem em domicílios que têm, em média, 1,23 crianças de 0 a 6 anos de idade. Essa média
sobre para 1,44 entre as crianças cujas famílias estão abaixo da linha de pobreza, e chega a 1,48 entre
aquelas em situação de extrema pobreza. Assim, além de contarem, com maior probabilidade, com
somente um dos responsáveis, crianças em situação de (extrema) pobreza tendem a precisar dividir a
atenção de seu(s) responsável(eis) com um maior número de irmãos.
Logo, é preciso considerar as privações que vão para além da dimensão monetária. Se as crianças
em situação de (extrema) pobreza tendem a sofrer desvantagens não somente do ponto de vista
econômico, as respostas a esse problema não podem se restringir à dimensão monetária – em que
pese ela seja fundamental. Sopesar a multidimensionalidade das privações sofridas por essas crianças
é condição necessária para o correto enfrentamento da pobreza infantil e de seus efeitos de curto,
médio e longo prazos.

29
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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2020

31
ANEXOS

Tabela 1A: Crianças (0-6 anos) vivendo em situação de


pobreza e extrema pobreza – Brasil, 2012-2021 (N.)

Ano Pobreza (n.) Extrema pobreza (n.)


2012 7.559.524 1.676.305
2013 7.197.150 1.507.005
2014 6.605.525 1.325.241
2015 6.930.077 1.469.012
2016 6.370.009 1.561.706
2017 6.303.470 1.599.632
2018 6.399.546 1.782.838
2019 6.380.440 1.800.683
2020 6.383.101 1.412.984
2021 7.824.709 2.232.645
Fonte: IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua 2019-2021.
Nota (1): calculado a partir da renda total mensal domiciliar per capita (preços
constantes de 2021 - IPCA).
Nota (2): PPC = Paridade do poder de compra. Taxa de conversão da paridade
de poder de compra para consumo privado, de R$2,327 para US$ 1,00 PPC
2017, tornados mensais e inflacionados pelo IPCA para 2021.

Tabela 2A – Crianças (0-6 anos de idade) vivendo em situação de pobreza e extrema


pobreza, por local de moradia (N.) – Brasil, 2012-2021 (N.)

Pobreza (n.) Extrema pobreza (n.)


Ano
Urbano Rural Urbano Rural
2012 5.337.000 2.222.524 914.325 761.980
2013 5.039.461 2.157.689 819.368 687.637
2014 4.693.052 1.912.473 770.961 554.280
2015 4.954.367 1.975.710 845.966 623.046
2016 4.611.547 1.758.462 950.429 611.277
2017 4.634.174 1.669.296 990.469 609.163
2018 4.760.977 1.638.569 1.130.517 652.321
2019 4.707.111 1.673.329 1.114.394 686.289
2020 4.737.067 1.646.034 955.460 457.524
2021 5.973.146 1.851.563 1.539.357 693.288
Fonte: IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua 2019-2021.
Nota (1): calculado a partir da renda total mensal domiciliar per capita (preços constantes de 2021 - IPCA).
Nota (2): PPC = Paridade do poder de compra. Taxa de conversão da paridade de poder de compra para consumo
privado, de R$2,327 para US$ 1,00 PPC 2017, tornados mensais e inflacionados pelo IPCA para 2021.

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Tabela 3A – Crianças (0-6 anos de idade) vivendo em situação de pobreza e extrema pobreza, por Unidade
da Federação – Brasil, 2012-2021 (N.)

Pobreza (n.) Extrema pobreza (n.)


UFs
2014 2019 2021 2014 2019 2021
Rondônia 55.712 60.138 84.428 11.405 8.976 15.829
Acre 55.743 49.980 61.003 14.608 17.956 21.704
Amazonas 267.896 266.836 278.130 57.035 96.763 80.283
Roraima 22.666 25.954 43.067 3.753 6.662 8.211
Pará 476.180 450.937 532.908 118.898 155.465 157.580
Amapá 47.022 42.613 62.705 7.950 12.454 10.949
Tocantins 75.774 65.825 59.706 10.789 14.500 12.774
Maranhão 497.395 441.042 491.965 162.970 210.321 212.294
Piauí 191.077 167.662 196.755 48.606 59.261 71.507
Ceará 491.130 428.519 455.609 123.022 133.631 142.227
Rio Grande do
169.796 140.120 171.862 36.058 46.078 54.569
Norte
Paraíba 241.606 185.063 227.667 45.546 61.535 83.905
Pernambuco 437.007 418.502 581.631 117.675 137.385 230.931
Alagoas 200.972 183.916 226.262 59.642 63.534 67.228
Sergipe 115.331 108.949 129.110 27.303 33.387 37.553
Bahia 740.350 699.975 833.464 159.847 259.840 303.811
Minas Gerais 559.515 532.927 672.336 82.916 89.547 148.482
Espírito Santo 113.379 120.594 164.725 17.292 21.044 44.929
Rio de Janeiro 371.383 382.620 427.620 59.169 67.402 119.417
São Paulo 622.793 810.451 1.027.692 62.886 184.217 250.500
Paraná 180.063 213.399 272.219 22.951 34.921 35.784
Santa Catarina 71.834 74.277 108.031 5.525 9.505 11.441
Rio Grande do Sul 200.146 189.939 208.824 28.190 28.659 32.460
Mato Grosso do
74.217 58.749 96.918 6.100 6.782 18.094
Sul
Mato Grosso 97.409 66.191 114.975 13.332 12.173 12.344
Goiás 166.631 146.212 230.087 16.007 22.038 27.491
Distrito Federal 62.498 49.050 65.010 5.766 6.647 20.348
Fonte: IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua 2019-2021.
Nota (1): calculado a partir da renda total mensal domiciliar per capita (preços constantes de 2021 - IPCA).
Nota (2): PPC = Paridade do poder de compra. Taxa de conversão da paridade de poder de compra para consumo privado, de R$2,327
para US$ 1,00 PPC 2017, tornados mensais e inflacionados pelo IPCA para 2021.

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Tabela 4A – Crianças (0-6 anos de idade) vivendo em situação de pobreza
e extrema pobreza, por cor ou raça – Brasil, 2012-2021 (N.)

Pobreza (n.) Extrema pobreza (n.)


Ano
Brancos Negros Brancos Negros
2012 2.456.639 5.070.782 467.866 1.200.332
2013 2.374.309 4.787.404 379.956 1.116.542
2014 2.058.855 4.519.233 327.405 990.365
2015 2.198.041 4.711.506 379.860 1.083.636
2016 2.003.691 4.331.878 428.507 1.121.815
2017 1.930.768 4.335.110 424.977 1.166.984
2018 1.956.585 4.401.013 445.490 1.323.391
2019 1.936.751 4.402.160 448.590 1.335.756
2020 2.063.735 4.275.964 422.750 979.611
2021 2.497.035 5.280.180 631.474 1.583.524
Fonte: IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua 2019-2021.
Nota (1): calculado a partir da renda total mensal domiciliar per capita (preços constantes de 2021 -
IPCA).
Nota (2): PPC = Paridade do poder de compra. Taxa de conversão da paridade de poder de compra
para consumo privado, de R$2,327 para US$ 1,00 PPC 2017, tornados mensais e inflacionados pelo
IPCA para 2021.

Tabela 5A – Crianças (0-6 anos de idade) vivendo em situação de pobreza e


extrema pobreza, com ou sem auxílios – Brasil, 2020-2021 (N.)

Pobreza (n.) Extrema pobreza (n.)


Ano
Com auxílios Sem auxílios Com auxílios Sem auxílios
2019 6.380.440 6.658.275 1.800.683 2.227.080
2020 6.383.101 8.083.781 1.412.984 3.025.884
2021 7.824.709 8.331.402 2.232.645 2.968.702
Fonte: IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua 2019-2021.
Nota (1): calculado a partir da renda total mensal domiciliar per capita (preços constantes de 2021 - IPCA).
Nota (2): PPC = Paridade do poder de compra. Taxa de conversão da paridade de poder de compra para
consumo privado, de R$2,327 para US$ 1,00 PPC 2017, tornados mensais e inflacionados pelo IPCA para
2021.
Nota (3): simulação sem auxílios realizada a partir a subtração dos rendimentos provenientes de Bolsa
Família, Auxílio Emergencial e/ou de outros programas de transferência de renda

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