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COMO CITAR
SALATA, André; MATTOS, Ely José de; BAGOLIN, Izete Pengo. Pobreza infantil no Brasil: 2012-2021.
Laboratório de Desigualdades, Pobreza e Mercado de Trabalho – PUCRS Data Social. Porto Alegre,
2022. Disponível em <http://www.pucrs.br/datasocial>
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FICHA TÉCNICA
PESQUISADORES RESPONSÁVEIS
Prof. Dr. Andre Ricardo Salata
Doutor em Sociologia, pesquisador de produtividade do CNPq e professor do Programa de Pós-
Graduação em Ciências Sociais da PUCRS
Prof. Dr. Ely Jose de Mattos
Economista, doutor em Economia Aplicada, professor do Programa de Pós-Graduação em
Economia da PUCRS
Prof.ª Dr.ª Izete Pengo Bagolin
Economista, doutora em Economia Aplicada, pesquisador de produtividade do CNPq e
professora dos Programas de Pós-Graduação em Economia e Serviço Social da PUCRS.
INSTITUIÇÕES ENVOLVIDAS
PUCRS Data Social: laboratório de desigualdades, pobreza e mercado de trabalho
(http://www.pucrs.br/datasocial)
AGRADECIMENTOS
Data Zoom (http://www.econ.puc-rio.br/datazoom/)
IBGE (http://www.ibge.gov.br)
CONTATOS
PUCRS (ASCOM)
imprensa@pucrs.br | ascom@pucrs.br | datasocial@pucrs.br
(51) 3320-3503 | (51) 3320-3603
DISCLAIMER: opiniões expressas neste relatório são de responsabilidade exclusiva dos autores, não
representando necessariamente o posicionamento institucional da PUCRS.
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NOTAS TÉCNICAS
II. Para gerar as informações, utilizamos sempre o rendimento domiciliar per capita (habitual
de todos os trabalhos e efetivo de outras fontes), excluindo o rendimento das pessoas cuja
condição na unidade domiciliar era de pensionista, empregado doméstico ou parente do
empregado doméstico. Todos os valores foram deflacionados para preços médios do último
período (2021), a partir de deflatores específicos para cada Unidade da Federação,
fornecidos pelo próprio IBGE junto à PNADc e tendo como base o Índice Nacional de Preços
ao Consumidor Amplo - IPCA.
III. Segundo o Marco Legal da Primeira Infância (Lei n. 13.257/2016), a primeira infância é o
período que abrange os primeiros seis anos completos, ou os primeiros 72 meses de vida da
criança. Por essa razão, neste estudo utilizamos como recorte crianças com até 6 anos de
idade, o que não inclui aquelas que já completaram o sexto ano etário.
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DESTAQUES
O que propomos?
Identificar a incidência de pobreza entre crianças de zero a seis anos de idade no Brasil.
Porque as privações que são enfrentadas na primeira infância podem ter consequências
irreversíveis que perdurarão por toda a vida, causando prejuízos para o futuro das crianças e,
consequentemente, para o potencial de desenvolvimento do país.
O que descobrimos?
1. Que em 2021 44,7% das crianças viviam em situação de pobreza, e 12,7% em situação de
extrema pobreza (contra taxas de 28,3% e 8,2% para população geral, respectivamente).
2. Que entre as crianças que viviam no meio rural a taxa de pobreza era de 69,7%, contra
40,2% para as que vivam no meio urbano. Que entre as crianças negras a taxa de pobreza
era quase 68% maior que a das crianças brancas; para a extrema pobreza, ela era quase o
dobro (98% maior). E que, e com exceção do Ceará, todos os Estados do nordeste tinham
mais de 60% das suas crianças classificadas como pobres.
4. Que a privação monetária é apenas uma das inúmeras dimensões em que as crianças em
situação de pobreza sofrem desvantagens. Entre as crianças cujas famílias estão abaixo da
linha de pobreza, o adulto de referência tinha em média 8,8 anos de estudo (contra 11,9
nas famílias acima da linha de pobreza). E o percentual de adultos de referência com ao
menos Ensino Médio completo era de 35,9% (contra 71,3% nas famílias acima da linha de
pobreza). Além disso, 27,4% das crianças em situação de pobreza, e 39% daquelas em
situação de extrema pobreza, viviam em famílias monoparentais em 2021.
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1 – APRESENTAÇÃO
A pobreza, desde que começou a ser estudada, está associada à capacidade das pessoas
suprirem ou não as suas necessidades essenciais de sobrevivência. É bastante antiga a vinculação da
capacidade de sobrevivência com a quantidade de dinheiro que os indivíduos e suas famílias precisam
para satisfazer tais necessidades.1 A relação direta da pobreza com a quantidade mínima de dinheiro
passou a ser conhecida como linha de pobreza absoluta e é, também, chamada de abordagem
unidimensional ou monetária.
É importante destacar que essa não é a única forma de conceituar, medir ou estudar a pobreza.
A pobreza possui também uma perspectiva relativa e, além disso, já é consenso entre os estudiosos do
assunto que este é um fenômeno multidimensional, complexo e diverso. No entanto, o conceito
associado à insuficiência de dinheiro, conhecida como pobreza monetária e medida por meio de uma
linha de pobreza absoluta ainda é amplamente utilizado em países em desenvolvimento ou não
desenvolvidos.
Apesar de insuficientes para entender toda a complexidade do fenômeno, as medidas baseadas
em linhas de pobreza monetária ajudam a identificar quem está vivendo na pobreza ou na extrema
pobreza. Elas se apresentam como a forma mais simples e direta para se obter o primeiro diagnóstico
ou fotografia no processo de identificação de quais e quantas são as pessoas que vivem em condições
abaixo do mínimo necessário. A identificação de quem é pobre é a primeira etapa da mensuração da
pobreza (Sen, 1976), sendo um elemento fundamental para os passos subsequentes de compreensão
das suas causas e proposição de soluções.
Tendo em mente que as pessoas que vivem abaixo da linha da pobreza não possuem o
suficiente para satisfazerem suas necessidades mínimas, se torna mais fácil perceber as consequências
negativas que essa condição impõe à vida de qualquer indivíduo. Ainda assim, vale destacar que o
mínimo necessário para a sobrevivência está muito abaixo de uma condição adequada, ideal ou digna
de sobrevivência. Mesmo aquelas pessoas que estão um pouco acima da linha de pobreza podem
1
Desde antiga Lei dos Pobres, que foi inspirada na Speenhamland System de 1795, um programa de transferência de renda
implementado na Inglaterra em Berkshire. Neste programa “os residentes da classe trabalhadora local receberiam uma
renda básica fixada ao custo de três galões de pães por semana para um homem adulto, com um subsídio extra de um
galão e meio de pão para cada dependente (esposa adulta ou filhos). O valor monetário era indexado ao preço do pão.”
(Ravallion e Martin, 2016, p.33).
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enfrentar muitas carências e ter dificuldades para satisfazer todas as necessidades que o padrão de
vida da sociedade impõe.
Se para uma pessoa adulta e saudável a condição de pobreza é prejudicial, humilhante e
incapacitante, ela é ainda mais grave para as crianças que estão na primeira infância (de zero até seis
anos de idade), fase de maior desenvolvimento das suas capacidades físicas, psicológicas e intelectuais.
Muitas das privações que são enfrentadas na primeira infância podem ter consequências irreversíveis
que perdurarão por toda a vida. Por essa razão, as consequências da pobreza para as crianças que a
enfrentam, e para a sociedade, têm recebido muita atenção dos pesquisadores de diversas áreas do
conhecimento. Por exemplo, um estudo recente mostrou que privações nutricionais, mesmo que
transientes, podem provocar danos permanentes no cérebro de crianças e adolescentes,
comprometendo irreversivelmente a saúde física e mental (Lin et al., 2022).
No livro “Dando às Crianças uma oportunidade justa”, Heckman (2013) reúne evidências de
diversos estudos que testaram os efeitos das privações enfrentadas na infância em diversas dimensões
da vida das pessoas. A partir destas evidências o autor afirma que o “acidente” do nascimento é
determinante. Segundo ele, crianças nascidas em ambientes desfavorecidos estão em muito maior
risco de adquirirem baixa qualificação ao longo da vida e, consequentemente, rendimentos mais
baixos. Além disso, as pessoas submetidas a privações na infância são mais propensas a enfrentar
questões pessoais e sociais como, por exemplo, problemas de saúde, gravidez na adolescência e
envolvimento em atividades criminais. Portanto, esse poderoso impacto do nascimento nas
oportunidades ao longo da vida traz efeitos deletérios tanto para os indivíduos nascidos em
desvantagem quanto para a sociedade - que perde o potencial de contribuição de uma parcela
importante da população (Heckman, 2013).
Em que pese representem um terço da população global, crianças e adolescentes compõem
aproximadamente metade do contingente de pessoas em situação de extrema pobreza no planeta,
assim mensurado a partir dos critérios adotados pelo Banco Mundial descritos a seguir. Podemos
afirmar, desse modo, que em termos etários as crianças e adolescentes são a parcela da população
mais vulnerável à (extrema) pobreza (UNICEF, 2022).
Tendo em mente a gravidade dos problemas que a pobreza infantil pode causar no futuro das
crianças e, consequentemente, no potencial de desenvolvimento do país, o objetivo desse estudo é
identificar a incidência de pobreza entre crianças de zero a seis anos de idade no Brasil. Para isso, serão
utilizadas as linhas de pobreza e extrema pobreza definidas pelo Banco Mundial. Apesar de existir uma
linha oficial de pobreza para o Brasil, esta foi definida a partir de critérios políticos administrativos
(Osório et al., 2011). A linha de pobreza utilizada pelo Banco Mundial, por sua vez, segue critérios
8
internacionalmente estabelecidos e comparáveis. As linhas definidas pelo Banco Mundial também são
utilizadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE para o cálculo de alguns dos
indicadores sociais anuais (IBGE, 2021).
Para o acompanhamento da pobreza global, as Nações Unidas e o Banco Mundial
estabeleceram a chamada Linha de Pobreza Internacional (LPI) em US$ 1,00 PPC2 por dia, ainda na
década de 1990. Este valor tem sido atualizado constantemente, e hoje está em US$1,90 PPC.3 Tal
patamar se justifica por estar ancorado nas linhas de pobreza dos países mais pobres do globo, se
constituindo, portanto, como um mínimo a ser perseguido por todo e qualquer país (Ravallion et al.,
1991). Essa importante medida foi utilizada nos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio – ODM – e
está presente na Agenda 2030 para os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável – ODS.
Mais recentemente, a partir do ano de 2007, o Banco Mundial adicionou duas outras opções
de linhas de pobreza em suas publicações. A primeira delas se aplica aos países de renda média-baixa
e tem o valor de US$ 3,20 PPC; a segunda, por sua vez, é sugerida para os países de renda média-alta
e seu valor é de US$ 5,50 PPC (World Bank, 2020).4 O Brasil é classificado como país de rendimento
médio-alto5 e, por essa razão, a linha de pobreza de US$ 5,50 PPC tem sido utilizada com frequência
nos estudos nacionais, inclusive pelo IBGE (2021).
Nesta publicação, trabalharemos com duas linhas: US$ 5,50 PPC para pobreza e US$ 1,90 PPC
para a extrema pobreza. Para tanto, os valores foram primeiro convertidos em reais (R$) a partir da
Paridade de Poder de Compra (PPC) de 2017; posteriormente, foram mensalizados e, então,
deflacionados para valores médios de 2021, por meio do IPCA6. Em valores de 2021, a linha de pobreza
é de R$ 467,67 (quatrocentos e sessenta e sete reais e sessenta e sete centavos), por mês, e a linha de
extrema pobreza é de R$ 161,56 (cento e sessenta e um reais e cinquenta e seis centavos) por mês.
Ou seja, moradores de domicílios cuja renda per capita mensal se encontra abaixo de tais valores serão
classificados como pobres e/ou extremamente pobres.
A seguir, na seção 2, apresentamos os resultados que mostram a incidência de pobreza e
extrema pobreza entre as crianças de zero a seis anos de idade e na população em geral. Além disso,
2
Paridade de Poder de Compra (PPC). Elaborada a partir de uma pesquisa mundial de preços de bens e serviços, a taxa de
câmbio medida em PPC permite a comparação do valor real das moedas em determinado momento. A fim de garantir a
comparabilidade da série histórica, o Banco Mundial continua adotando o PPC revisado de 2011. Aqui, no entanto, dado
que trabalhamos com informações de 2012 até 2021, preferimos utilizar a atualização do PPC feita em 2017.
3
Pouco antes da publicação deste relatório, em setembro de 2022, o Banco Mundial começou a adotar o valor de U$2,15
PPC. Como estamos utilizando dados até 2021 e o IBGE tem utilizado a linha anterior, optamos por mantê-la.
4
Pouco antes da publicação deste relatório, em setembro de 2022, o Banco Mundial começou a adotar os valores de
U$3,65 PPC e U$6,85 PPC. Como estamos utilizando dados até 2021 e o IBGE tem utilizado a linha anterior, optamos por
mantê-la.
5
https://datahelpdesk.worldbank.org/knowledgebase/articles/906519
6
Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo.
9
segmentamos a incidência de pobreza entre áreas rurais e urbanas, unidades da federação e entre
brancos e não brancos. Na seção 3 mostramos como a pandemia e os programas de transferência de
renda impactaram a pobreza infantil e geral e, na seção 4, relacionamos a pobreza infantil com outras
desvantagens que são enfrentadas pelas crianças.
10
2 – INCIDÊNCIA DA POBREZA INFANTIL
11
Figura 1: Média da renda domiciliar per capita – Brasil, 2012-2021
1.509,20
1.503,56
1.484,56
1.472,92
1.462,53
1.455,21
1.452,80
1.415,46
1.409,91
1.350,82
Renda dom. per capita (R$) 1.600,00
1.400,00
1.088,15
1.010,86
1.009,41
995,12
993,93
1.200,00
970,84
969,10
928,31
926,64
912,06
1.000,00
800,00
600,00
2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021
Ano de referência
População geral Crianças (0-6 anos)
Esta diferença pode ser explicada pelo fato de que existe concentração maior de crianças em
domicílios de renda menor quando comparados àqueles de renda mais elevada. Segundo os dados
da PNAD 2021, 64,8% das crianças de zero até seis ano de idade vivem em domicílios que estão entre
os 40% mais pobres do país, e somente 4,4% moram nos domicílios que compõem o estrato dos 10%
mais ricos. Ou seja, as crianças estão mais concentradas na base da pirâmide social.
Este resultado deixa claro que o contingente de crianças vivendo em domicílios que dispõem
de menor aporte de recursos é alto. O ano de 2020, quando foi distribuída a maior parte do Auxílio
Emergencial, corrobora esta conclusão: temos um incremento significativo na renda das crianças,
enquanto na população total não se observa tal efeito.
Os resultados para a pobreza e extrema pobreza apontam na mesma direção. A partir das linhas
consideradas, e que foram apresentadas na seção anterior, as Figuras 2 e 3 trazem a proporção de
pobres e extremamente pobres, respectivamente.
12
Figura 2: Polução vivendo em situação de pobreza – Brasil, 2012-2021 (%)
50,0
44,7
43,2
42,3
41,7
41,7
41,5
41,1
45,0
39,7
37,9
36,1
40,0
35,0
28,3
26,3
%
25,0
24,9
24,8
30,0
24,5
24,5
23,7
23,1
22,7
25,0
20,0
15,0
10,0
2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021
Ano de referência
12,7
14,0
11,7
11,6
10,6
12,0
10,4
9,6
10,0
8,6
8,4
8,2
8,0
7,6
%
8,0
6,7
6,7
6,3
5,7
5,5
5,3
5,0
6,0
4,8
4,4
4,0
2,0
2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021
Ano de referência
População geral Crianças (0-6 anos)
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Fechamos 2021 com uma proporção de pobres de 28,3% e de extremamente pobres de 8,2%
para população geral – valores recordes para o período analisado. No caso das crianças, estes
números saltam para 44,7% e 12,7%, respectivamente, também sendo os maiores níveis registrados
desde 2012. Em toda a série a pobreza infantil é consideravelmente maior do que a pobreza média
da população: para 2021, a pobreza infantil era 1,57 vezes a pobreza geral; no caso da extrema
pobreza a relação é de 1,55 vezes. Ainda que a diferença tenha se reduzido ao longo dos anos, o
registro de que os níveis de pobreza infantil ultrapassam em mais de 50% os números da população
geral é algo que merece particular atenção.
O ano de 2020, que trouxe severas restrições econômicas em função da pandemia e seus
desdobramentos, apresentou redução nos níveis de pobreza em relação a 2019. Essa redução está
associada à concessão do Auxílio Emergencial, conforme mostraremos na seção seguinte. É possível
perceber que a redução na pobreza infantil é mais acentuada do que para a população geral, o que
é explicado pelo mesmo raciocínio desenvolvido acima: a concentração de crianças nas faixas mais
baixas de renda, onde também ocorreu maior concentração no recebimento de auxílio.
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Figura 4: Crianças (0-6 anos) vivendo em situação de pobreza, por local de moradia –
Brasil, 2012-2021 (%)
72,7
80,0
70,5
70,5
70,3
69,8
69,7
69,0
68,3
66,7
70,0
60,5
60,0
50,0
40,2
36,9
36,7
36,6
36,5
36,3
34,9
%
34,0
32,3
31,7
40,0
30,0
20,0
10,0
2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021
Ano de referência
Urbano Rural
Figura 5: Crianças (0-6 anos) vivendo em situação de extrema pobreza, por local de
moradia – Brasil, 2012-2021 (%)
35,0
28,6
28,0
26,1
30,0
25,2
24,9
24,5
22,5
21,5
25,0
19,3
16,8
20,0
%
15,0
10,4
8,7
8,6
7,8
7,6
10,0
6,4
6,3
5,8
5,7
5,3
5,0
0,0
2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021
Ano de referência
Urbano Rural
15
Enquanto a pobreza infantil agregada alcançou 44,7% em 2021, para as crianças que vivem no
meio rural este percentual foi de 69,7% – ou seja, 7 em cada 10 crianças do rural brasileiros podiam
ser consideradas pobres. E quase 3 em cada 10 foram classificadas como extremamente pobres neste
mesmo ano (26,1%). Para áreas urbanas os números são sensivelmente menores: 40,2% para
pobreza e 10,4% para extrema pobreza.
Esta diferença marcada entre pobreza rural e urbana é reconhecida nos estudos brasileiros
sobre pobreza há bastante tempo (Mattos e Bagolin, 2017, 2018). Ao contrário do que o senso
comum pode sugerir, a pobreza no meio rural costuma ser, além de mais extensa, mais profunda (a
distância das pessoas para a linha de pobreza é maior). Isso ocorre, em geral, porque a rede
assistencial e os mecanismos de política pública (e de mercado) que auxiliam no combate à pobreza
costumam operar com maior dificuldade no campo.
Situação similar ocorre na segmentação das estatísticas por raça – veja Figuras 6 e 7. Entre as
crianças negras, a pobreza foi quase 68% maior em 2021; para a extrema pobreza, quase o dobro
(98% maior). Elas pertencem à parcela da população que é sabidamente mais empobrecida (UNICEF,
2022). Aqui, também se nota que em 2020, com o pagamento do Auxílio Emergencial, a queda nos
números foi relevante – e, assim que suspenso, as taxas de pobreza e extrema pobreza pularam para
patamares ainda maiores do que os de antes.
16
Figura 6: Crianças (0-6 anos) vivendo em situação de pobreza, por Cor ou Raça – Brasil,
2012-2021 (%)
54,9
54,3
60,0
53,1
52,7
52,2
52,2
52,1
50,6
49,2
45,0
50,0
40,0
32,4
30,0
29,3
28,7
28,6
28,4
28,4
%
27,1
25,7
25,4
30,0
20,0
10,0
2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021
Ano de referência
Brancos Negros
Fonte: IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua 2012-2021.
Nota (1): calculado a partir da renda total mensal domiciliar per capita (preços constantes de 2021 - IPCA).
Nota (2): linha de pobreza de U$5,50 PPC por dia, ou R$467,67 por mês
Nota (3): PPC = Paridade do poder de compra. Taxa de conversão da paridade de poder de compra para
consumo privado, de R$2,327 para US$ 1,00 PPC 2017, tornados mensais e inflacionados pelo IPCA para 2021.
Figura 7: Crianças (0-6 anos) vivendo em situação de extrema pobreza, por Cor ou Raça –
Brasil, 2012-2021 (%)
20,0
16,3
15,8
15,7
18,0
14,0
13,8
16,0
13,0
12,3
14,0
11,6
10,8
10,3
12,0
%
8,2
10,0
6,6
6,5
6,3
6,3
8,0
5,7
5,3
4,7
4,6
6,0
4,0
4,0
2,0
0,0
2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021
Ano de referência
Brancos Negros
17
As Figuras 8 e 9 trazem os números por Unidade da Federação. Mais do que os diferenciais
entre UFs, é bastante marcada a discrepância de incidência da pobreza entre as grandes regiões do
Brasil. Tanto para pobreza quanto para extrema pobreza, a região nordeste se destaca por apresentar
os piores indicadores. Para 2021, no Maranhão, Piauí, Pernambuco e Bahia, pelo menos 1 em cada
quatros crianças estava em situação de extrema pobreza; e com exceção do Ceará, todos os Estados
do nordeste tinham mais de 60% das suas crianças classificadas como pobres.
Logo depois da região nordeste, a região Norte também apresenta números altos, ainda que
com heterogeneidade intrarregional mais marcada. A região Sul se destaca por ter, em média, as
menores taxas de pobreza – ainda assim, se identificam taxas de pobreza de 30% no Paraná, 24% no
Rio Grande do Sul e 17,6% em Santa Catarina.
Estas diferenças significativas nas taxas de pobreza entre as diferentes regiões estão associadas
à fatores de diversas ordens. Desde questões de formação histórica dos territórios até aspectos de
gestões de políticas públicas regionais, passando pelo volume e pela distribuição de recursos
econômicos em cada localidade. Adentrar em explicações detalhadas para cada UF é algo que não
está no escopo deste trabalho, uma vez que demanda abordagens e detalhamento analíticos
específicos.
18
Figura 8: Crianças (0-6 anos) vivendo em situação de pobreza, por Unidades da Federação
– Brasil, 2012-2021 (%)
%
0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0 60,0 70,0 80,0
35,5
Rondônia 38,7
48,9
59,4
Acre 62,4
64,3
61,9
Amazonas 66,9
66,8
43,9
Roraima 49,9
60,5
54,6
Pará 61,0
60,5
51,5
Amapá 55,0
61,6
47,3
Tocantins 36,9
49,6
68,0
Maranhão 70,1
71,8
60,6
Piauí 66,0
68,7
61,2
Ceará 59,6
61,9
58,2
Rio Grande do Norte 55,6
64,9
61,1
Paraíba 61,5
64,5
52,4
Pernambuco 57,8
67,4
64,5
Alagoas 67,6
70,8
56,1
Sergipe 59,7
66,6
54,7
Bahia 62,8
68,9
34,3
Minas Gerais 36,8
38,1
34,1
Espírito Santo 38,9
43,4
30,6
Rio de Janeiro 36,4
37,9
18,4
São Paulo 25,3
30,0
19,0
Paraná 25,4
29,0
13,8
Santa Catarina 15,2
17,6
23,6
Rio Grande do Sul 24,3
24,0
28,6
Mato Grosso do Sul 26,2
31,9
31,0
Mato Grosso 24,2
32,1
27,3
Goiás 28,7
36,9
25,7
Distrito Federal 25,0
25,0
19
Figura 9: Crianças (0-6 anos) vivendo em situação de extrema pobreza, por Unidades da
Federação – Brasil, 2012-2021 (%)
%
0,0 5,0 10,0 15,0 20,0 25,0 30,0 35,0
7,3
Rondônia 5,8
9,2
15,6
Acre 22,4
22,9
13,2
Amazonas 19,3
24,3
7,3
Roraima 11,5
12,8
13,6
Pará 17,9
21,0
8,7
Amapá 10,8
16,1
6,7
Tocantins 7,9
10,9
22,3
Maranhão 31,0
33,4
15,4
Piauí 23,3
25,0
15,3
Ceará 19,3
18,6
12,4
Rio Grande do Norte 18,3
20,6
11,5
Paraíba 20,4
23,8
14,1
Pernambuco 19,0
26,8
19,1
Alagoas 20,1
24,4
13,3
Sergipe 18,3
19,4
11,8
Bahia 23,3
25,1
5,1
Minas Gerais 6,2
8,4
5,2
Espírito Santo 6,8
11,8
4,9
Rio de Janeiro 6,4
10,6
1,9
São Paulo 5,7
7,3
2,4
Paraná 4,2
3,8
1,1
Santa Catarina 1,9
1,9
3,3
Rio Grande do Sul 3,7
3,7
2,3
Mato Grosso do Sul 3,0
6,0
4,2
Mato Grosso 3,4
4,5
2,6
Goiás 4,3
4,4
2,4
Distrito Federal 3,4
7,8
20
3 – PANDEMIA, TRANSFERÊNCIA DE RENDA E POBREZA INFANTIL
A crise provocada pela pandemia da Covid-19, que no Brasil se fez sentir a partir do segundo
trimestre de 2020, afetou brutalmente os rendimentos provenientes do trabalho (IBGE, 2021; Salata
e Ribeiro, 2020). Como resposta, entre outras medidas,7 houve significativos incrementos nas políticas
de transferência de renda. Nesse âmbito, uma ação relevante foi a implementação do Auxílio
Emergencial (AE).8
7
Através da Lei n. 14.020, de 06.07.2020, foi criado também o Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da
Renda, que visava proteger os vínculos de trabalho formais em meio aos impactos da pandemia. O programa permitia tanto
a redução da jornada de trabalho quanto a suspenção temporária do contrato de trabalho com preservação (parcial) da
renda.
8
Além do Auxílio Emergencial, segundo o estudo Mapa COVID-19 da Fundação Getúlio Vargas (FGV), 23 estados e o Distrito
Federal implementaram algum tipo de auxílio econômico naquele período. Houve, por exemplo, a criação de linhas de
crédito especiais a micro e pequenos empreendimentos, auxílios financeiros a estudantes, vale-alimentação e Bolsa-
Merenda, entre outras medidas.
9
Então denominado de Auxílio Emergencial Residual.
10
Além de estarem na faixa de isenção do imposto de renda em 2018 e 2019, no caso daqueles que fossem elegíveis às
parcelas residuais.
21
Entre janeiro e março de 2021, entretanto, ainda sob fortes efeitos da pandemia de Covid-19 no
mercado de trabalho, o pagamento do AE foi interrompido. As famílias que eram beneficiárias do BF
voltaram automaticamente para aquele programa, e as demais ficaram sem acesso ao AE ou ao BF. A
partir de abril de 2021 o AE voltou a ser pago (Medida Provisória n. 1.039, de 18.03.2021), mas então
com valor muito inferior – R$ 150 para pessoas que moravam sozinhas, R$ 375 para mulheres
responsáveis por famílias monoparentais e R$ 250 para famílias compostas por mais de uma pessoa -
e cobertura bem menor, alcançando aproximadamente 39 milhões de famílias beneficiadas.
Com o fim do AE em outubro de 2021, o governo federal modificou o BF para criar o chamado
Auxílio Brasil (AB). Em sua concepção inicial o programa era bastante semelhante ao BF, com um
pequeno incremento no valor do benefício, além de incluir mais três modalidades de bônus. O AB
começou a ser pago em novembro de 2021, com um valor médio de R$ 224 para aproximadamente
14,5 milhões de famílias. Já em dezembro de 2021, o valor da segunda parcela do AB foi de R$ 400,
garantido pela aprovação da PEC 46/2021.11
Resumindo, até o primeiro trimestre de 2020 o principal programa de transferência de renda era
o BF. A partir de abril de 2020, como resposta à crise provocada pela Covid-19, se inicia o pagamento
do AE, primeiro no valor de R$ 600, e depois no valor de R$ 300. No início de 2021 o pagamento do AE
é interrompido, retornando apenas em abril daquele ano, com cobertura reduzida e benefício de valor
inferior. Em novembro de 2021 é feito o pagamento da primeira parcela do AB, e em dezembro a
segunda parcela – já no valor de R$ 400.
Em meio a tantas mudanças bruscas, idas e vindas em torno dos programas de transferência de
renda, houve forte variação na incidência da pobreza infantil no período da pandemia, como mostra a
Figura 10. A taxa de pobreza infantil, que era de 41,5% em 2019, caiu para 36,1% em 2020, e voltou a
subir para 44,7% em 2021. Com efeito, mesmo em meio à crise econômica provocada pela pandemia
de Covid-19, em 2020 houve forte redução (de 5,4 pontos percentuais) da taxa de pobreza infantil. E,
no sentido oposto, em 2021 a incidência da pobreza sobe bruscamente para um patamar ainda mais
elevado (3,2 pontos percentuais acima) do que aquele de 2019.
11
Mais tarde, com a PEC 15/2022 foi garantido um adicional de mais R$ 200 até o final do ano de 2022.
22
Figura 10: Crianças (0-6 anos) vivendo em situação de pobreza, com e sem auxílios – Brasil,
2019-2021 (%)
50,0
47,5
48,0
45,7
46,0 44,7
44,0 43,3
41,5
42,0
%
40,0
38,0
36,1
36,0
34,0
32,0
30,0
2019 2020 2021
12
Variável V5002A2 na base de dados da PNADc 2021.
13
Variável V5003A2 na base de dados da PNADc 2021. Apesar de nesta variável os rendimentos do AE estarem diluídos em
meio aos rendimentos de outros programas sociais, sem que seja possível distingui-lo com maior precisão, é importante
mencionar que, em 2020, 95,1% dos beneficiários desses programas recebiam quantias de R$ 300, R$ 600 ou R$ 1.200, o
que sugere forte predominância do AE.
14
Os rendimentos provenientes do Benefício de Prestação Continuada-BPC, de aposentadorias e pensões, seguro-
desemprego e seguro-defeso, não foram subtraídos em nossas simulações.
23
No ano de 2019 já havia uma significativa redução da pobreza infantil com os auxílios, em grande
medida em função do BF. Não fosse essa fonte de rendimentos, a taxa de pobreza subiria de 41,5%
para 43,3%. Em termos absolutos, seria um acréscimo de 277 mil crianças abaixo da linha de pobreza,
conforme consta na Tabela 5A, no anexo. Já em 2020, a distância entre os cenários com e sem auxílios
se amplia radicalmente. Sem os rendimentos daqueles programas a taxa de pobreza infantil teria sido
de 45,7%, em vez dos 36,1% registrados. Tal distância torna manifesto o papel desempenhado pelo AE
na contenção e redução da pobreza infantil no auge da pandemia. Todavia, em 2021, com a
interrupção do pagamento do AE e a posterior retomada com valores e cobertura reduzidos, a pobreza
infantil volta a subir, e a distância entre o cenário real e o simulado é reduzida drasticamente. Ainda
assim, em um cenário simulado sem os auxílios, a taxa de pobreza infantil subiria de 44,7% para 47,5%,
o que em termos absolutos significaria um acréscimo de 506 mil crianças em situação de pobreza.
24
Figura 11: Crianças (0-6 anos) vivendo em situação de extrema pobreza, com e sem auxílios
– Brasil, 2019-2021 (%)
16,0
14,5
14,0
12,7
11,7
12,0
%
10,0
8,0
8,0
6,0
4,0
2019 2020 2021
Portanto, mesmo programas sociais que não têm como foco principal crianças e adolescentes
em situação de (extrema) pobreza, como foi o caso do AE, contribuem para o enfrentamento dessa
questão. Em consequência, variações repentinas nos valores, nas faixas de corte, nos benefícios e na
cobertura desses programas, como vimos, podem ter enormes consequências para o bem-estar de
milhares de crianças em um momento fundamental de seu desenvolvimento, na primeira infância,
com consequências que podem ser irreversíveis para o seu futuro.
25
4 – ACÚMULO DE DESVANTAGENS
26
Figura 12: Média de anos de estudo da pessoa de referência do domicílio de moradia da
criança (0-6 anos), por situação socioeconômica – Brasil, 2021
13,0
11,9
12,0
11,0
Anos de estudo (média)
10,0
9,0 8,8
8,3
8,0
7,0
6,0
5,0
4,0
Acima da linha de pobreza Abaixo da linha de pobreza Abaixo da linha de extrema
pobreza
Conforme podemos constatar na Figura 12, há uma forte correlação entre a situação
socioeconômica das famílias das crianças e o nível educacional dos responsáveis.15 Entre as crianças
cujas famílias estão acima da linha de pobreza, o adulto de referência tinha em média 11,9 anos de
estudo. Essa média cai para 8,8 entre as crianças cujas famílias estavam abaixo da linha de pobreza, e
desce para 8,3 entre os extremamente pobres.
Os dados de 2021 também mostram que, por exemplo, entre as crianças que vivem em
domicílios que estão acima da linha de pobreza, o percentual de adultos de referência com ao menos
Ensino Médio completo é de 71,3%. Já entre as crianças que estão abaixo da linha de pobreza, esse
percentual cai para 36,9%. E para aquelas em situação de extrema pobreza chega a 29,2%. Destarte,
crianças em situação de (extrema) pobreza tendem a enfrentar privações não somente no que toca os
recursos econômicos, mas também culturais.
Dentro dos estudos sobre pobreza infantil, no entanto, alguns dos mecanismos que têm sido
apontados como grandes responsáveis pelas desvantagens sofridas por crianças em situação de
15
Aqui indicado por meio dos anos de estudo da pessoa de referência no domicílio.
27
pobreza giram em torno da possibilidade de os pais conseguirem dar atenção – com qualidade – aos
filhos, promovendo assim uma maior quantidade de estímulos (Duncan e Magnuson, 2013). A partir
destas evidências, estudos e programas desenvolvidos com o intuito de investigar maneiras de mitigar
os efeitos da pobreza infantil costumam se estruturar por meio de visitas domiciliares de
assistentes/professores com o objetivo de interagir positivamente com as crianças e estimular os pais
a fazê-lo também.16 Isto é, há uma dimensão da privação que é propriamente social, no sentido de que
se encontra nas próprias relações que se estabelecem entre filhos e responsáveis.
Não é trivial mensurar as privações nessa dimensão social. Mas um indicador bastante usado é
a estrutura familiar, em especial a distinção entre famílias monoparentais ou não. Sabe-se que, em
média, crianças que são criadas por pais ou mães sem um(a) parceiro(a) tendem a receber menos
atenção - pelo simples fato de que há menos adultos para dividirem as tarefas entre si, incluindo os
cuidados com a criança. Nesse sentido, não como regra, mas em termos de probabilidade estatística,
a tendência é que crianças de famílias monoparentais sofram maiores desvantagens (McLanahan e
Sandefur, 2009).
A Figura 13 evidencia a relação entre a situação socioeconômica do domicílio das crianças e o
tipo de família em que elas se encontram. Entre as crianças que estão acima da linha de pobreza, 14,4%
vivem em famílias monoparentais. Esse percentual sobre para 27,4% entre as crianças cujas famílias
estão abaixo da linha de pobreza, e chega a 39% entre aquelas em situação de extrema pobreza. Ou
seja, há uma clara tendência de crescimento das formações monoparentais entre as famílias mais
pobres.
16
É o caso, por exemplo, dos conhecidos Perry Preschool Project e do Abecederian Project, nos Estados Unidos da América.
No Brasil, o programa Criança Feliz, instituído por meio do Decreto nº 8.869 de 05.10.2016, tem como principal ação visitas
domiciliares com o intuito de fortalecer os vínculos e as competências de famílias em situação de pobreza para o cuidado
das crianças.
28
Figura 13: Tipo de família, por situação socioeconômica do domicílio de moradia das
crianças (0-6 anos) – Brasil, 2021 (%)
90,0 85,7
80,0 72,6
70,0
61,0
60,0
50,0
%
39,0
40,0
30,0 27,4
20,0 14,4
10,0
0,0
Acima da linha de pobreza Abaixo da linha de pobreza Abaixo da linha de extrema
pobreza
Monoparentais Biparentais
De modo complementar, os dados de 2021 também mostram que as crianças que estão acima
da pobreza vivem em domicílios que têm, em média, 1,23 crianças de 0 a 6 anos de idade. Essa média
sobre para 1,44 entre as crianças cujas famílias estão abaixo da linha de pobreza, e chega a 1,48 entre
aquelas em situação de extrema pobreza. Assim, além de contarem, com maior probabilidade, com
somente um dos responsáveis, crianças em situação de (extrema) pobreza tendem a precisar dividir a
atenção de seu(s) responsável(eis) com um maior número de irmãos.
Logo, é preciso considerar as privações que vão para além da dimensão monetária. Se as crianças
em situação de (extrema) pobreza tendem a sofrer desvantagens não somente do ponto de vista
econômico, as respostas a esse problema não podem se restringir à dimensão monetária – em que
pese ela seja fundamental. Sopesar a multidimensionalidade das privações sofridas por essas crianças
é condição necessária para o correto enfrentamento da pobreza infantil e de seus efeitos de curto,
médio e longo prazos.
29
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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30
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WORLD BANK. Poverty and Shared Prosperity 2020 : Reversals of Fortune. Washington, DC: World Bank,
2020
31
ANEXOS
32
Tabela 3A – Crianças (0-6 anos de idade) vivendo em situação de pobreza e extrema pobreza, por Unidade
da Federação – Brasil, 2012-2021 (N.)
33
Tabela 4A – Crianças (0-6 anos de idade) vivendo em situação de pobreza
e extrema pobreza, por cor ou raça – Brasil, 2012-2021 (N.)
34
35