Você está na página 1de 63

Instituição: UFCG

Curso:Psicologia
Disciplina Psicologia Social II
Docente: Anderson Scardua

Unidade:

Exclusão Social
Este material foi desenvolvido para
o uso exclusivo na disciplina
Psicologia social II do curso de
Psicologia da UFCG, sendo
direcionado apenas para os alunos
matriculados na mesma.
Comecemos com algumas
perguntas

Quando você pensa em exclusão social
o que lhe vem à mente?

Que fatores você leva em consideração
para pensar neste fenômeno?

Você se considera atingido por este
processo?
Comecemos com algumas
perguntas

Em relação ao Brasil ou mesmo ao mundo, você
acha que em termos de exclusão a população
está mais ou menos excluída do que há décadas
ou um século atrás?

Há muitos fatores a serem considerados, mas
indicarei alguns: Expectativa de vida; acesso ao
sistema de saúde; acesso à educação formal;
acesso ao sistema social associado ao
emprego/desemprego; acesso ao saneamento
básico; acesso ao emprego; acesso a bens em
geral; renda familiar.
Comecemos com algumas
perguntas

De uma maneira geral, pode-se constatar que há
melhora em todos estes fatores.

Mas não é simples usar apenas estes dados
objetivos para falar de exclusão. Esta deve ser
pensada considerando o seu contexto social e
histórico. Avançamos muito nestes pontos
objetivos, mas a desigualdade e a diferença de
acessos se mantém com outros tipos de bens e
direitos que vamos desenvolvendo na sociedade.
Comecemos com algumas
perguntas

Uma outra forma de se perguntar sobre isso
pode incluir o plano subjetivo, estamos com
mais bem-estar ou com mais sofrimento?

Veremos que vários desses fatores fazem
parte das discussões sobre o processo de
exclusão social. Mas antes de iniciarmos a
parte teórica, vejamos alguns dados que
estão associados a este tema.
Renda domiciliar per capita
no Brasil

A renda média do Brasil diminuiu em 2021 em relação ao ano de
2020, voltando a indicar crescimento em 2022. Porém, deve-se
observar que vários estados tinham renda inferior ao salário
mínimo em todos os anos, incluindo 2022 (R$ 1.212,00). Alguns
exemplos do país e por estados estão a seguir:
2020 2021 2022

BRASIL: R$ 1.380,00 R$ 1.367,00 R$ 1.625,00

PARAÍBA: R$ 892,00 R$ 876,00 R$ 1.096,00

DF (o mais alto): R$ 2.475,00 R$ 2.513,00 R$ 2.913,00

MARANHÃO (o mais baixo): R$ 676,00 R$ 635,00 R$ 814,00

SÃO PAULO: R$ 1.814,00 R$ 1.836,00 R$ 2.148,00

Fonte:IBGE
-https://ftp.ibge.gov.br/Trabalho_e_Rendimento/Pesquisa_Nacional_por_Amostra_de_Domicilios_conti
nua/Renda_domiciliar_per_capita/Renda_domiciliar_per_capita_2020.pdf -
-https://ftp.ibge.gov.br/Trabalho_e_Rendimento/Pesquisa_Nacional_por_Amostra_de_Domicilios_conti
nua/Renda_domiciliar_per_capita/Renda_domiciliar_per_capita_2021.pdf
Renda domiciliar per capita no
Brasil

Distribuição percentual das pessoas residentes em domicílios
particulares, por classes de rendimento domiciliar per capita
Brasil (2015).

Observem que cerca de 85% da população vivia em domicílios
com renda inferior a 2 salários mínimos (2015), como indicam
os dados abaixo:


9,2% recebiam até ¼ de salário mínimo

17,8% recebiam mais de 1/4 até ½ de salário mínimo

30,3 % recebiam mais de 1/2 até 1 salário mínimo

24,7% recebiam mais de 1 até 2 salários mínimos

15% recebiam mais de 2 salários mínimos

2,8% não tinham rendimentos ou não tinham declaração

Fonte: IBGE - Síntese de indicadores sociais: uma análise das condições de vida da população
brasileira: 2016 / IBGE
Riqueza no mundo

Cerca de 87% da população mundial em 2022 tinha
riqueza (bens e não renda: casa, carro, aplicações
etc.) de até 100.000 dólares (R$ 527.000,00). Sendo
que 52,5% tinha riqueza de até 10.000 dólares (R$
52.700,00)*.

Ou seja, para estar entre os 13% com maior posse de
riqueza no mundo você precisaria ter mais de
100.000 dólares.
Você acha isso muito ou pouco? Pense nos valores
de casas e apartamentos e nos valores de
financiamento do programa Minha casa Minha vida.

Fonte: Relatório Global Wealth Report da Credit Suisse de 2023; * Considerando o valor do dólar no final de
2022.
Educação no Brasil (2018)

Ensino Fundamental (1 e 2)


Cerca de 99,3% da população de 6 a 14
anos frequentava a escola. Ou seja, uma
quase UNIVERSALIZAÇÃO.

40% da população com 25 anos ou mais
não completou o ensino fundamental.
Fonte: IBGE - Síntese de indicadores sociais: uma análise das condições de vida da população brasileira: 2019 /
IBGE
Educação no Brasil (2018)

Ensino médio

88,2% da população com idade de 15 a 17
anos estava frequentando a escola e
32,7% da população com idade de 18 a 24
anos estava estudando.

Cerca de 47% da população com 25 anos
ou mais havia completado o Ensino médio.

Fonte: IBGE - Síntese de indicadores sociais: uma análise das condições de vida da população brasileira: 2019 / IBGE
Educação no Brasil (2018)

Ensino Superior


32,7% da população com idade de 18 a 24
anos estava estudando, mas não se
especifica a quantidade no ensino superior.

Entre os adultos com 25 anos ou mais,
apenas 16,5% tem o curso superior completo.

Fonte: IBGE - Síntese de indicadores sociais: uma análise das condições de vida da população brasileira: 2019 / IBGE
Educação no Brasil (2019)

Taxa de Analfabetismo por categorias (população de 15
anos ou mais):


BRASIL: 6,6%

NORDESTE (mais alta): 13,9%

HOMENS: 6,9%

MULHERES: 6,3%

BRANCOS: 3,6%

NEGROS E PARDOS: 8,9%


Fonte: IBGE – Informativo Educação 2019, PNAD contínua (2020)
Educação no Brasil (2022)

Ensino médio:
– 347 mil (5,3%) matrículas na rede pública
a menos comparado ao ano de 2021.

Ensino Básico:
– 2,07% de matrículas na rede pública a
menos comparado ao ano de 2021.

Fonte:
https://g1.globo.com/educacao/noticia/2022/09/16/mec-divulga-dados-preliminares-da-educacao-basica-em-2022
.ghtml
Baseado nos dados preliminares do Censo escolar da Educação básica (INEP)
Exclusão Social

Poderíamos pensar em outros fatores:
acesso a saneamento básico, à moradia,
à internet; como ocorrem disparidades
entre grupos sociais, entre outros.


Seguiremos agora para a parte teórica
sobre Exclusão social.
Exclusão Social

É um termo amplo, contraditório, polissêmico
que costuma ser utilizado para uma variedade
de fenômenos e situações. Esse uso excessivo
sofre críticas e buscaremos apresentar uma
melhor especificação do mesmo.

Este termo (exclusão) começou a ser usado
como conceito analítico a partir dos anos 70,
alcançando maior inserção nas décadas
seguintes.
Exclusão Social

René Lenoir (1974) foi quem usou o termo pela
primeira vez.

No Brasil o termo aparece na segunda metade dos
anos 80.

Não quer dizer que não existissem fenômenos de
exclusão anteriormente. Mas, inicia-se uma forma
diferente de pensar o processo.
Inicialmente, podemos destacar que :

A exclusão não é uma questão individual, mas
sim Social, associada ao funcionamento das
sociedades atuais.
Exclusão Social

A exclusão passa a ser entendida como fazendo
parte do funcionamento das sociedades

A desigualdade, por exemplo, não é entendida
como algo que será resolvido conforme as
sociedades se desenvolvam.

Historicamente, crises como as que afetaram
políticas de Bem-estar social na Europa, o avanço
rápido e desordenado da urbanização,
desenraizamento e homogeneização das culturas,
entre outros, impulsionaram o desenvolvimento
dos estudos que utilizam este conceito.
Exclusão Social

A exclusão não é simplesmente o oposto de
inclusão.

Pensar exclusão é colocá-la numa relação
dialética: inclusão-exclusão (Sawaia, 2001).

Em outras palavras: A exclusão é parte do
sistema.

Os excluídos não estão fora da sociedade, mas
estão incluídos de forma precária.

A exclusão é uma forma de inserção social.
Exclusão Social

Apesar da polissemia do conceito, Sawaia
(2001, pp.8) indica uma perspectiva ético-
psicossociológica para a análise do mesmo.

Considera o compromisso e mudança social,
pensando a articulação entre o individual e o
social.

“É processo sócio-histórico, que se configura
pelos recalcamentos em todas as esferas da
vida social, mas é vivido como necessidade
do eu, como sentimentos, significados e
ações” (Sawaia, 2001, pp.8).
Exclusão Social

3 dimensões da exclusão (Sawaia, 2001):


Objetiva (desigualdade social)

Ética (injustiça social)

Subjetiva (sofrimento)
Exclusão Social

Assim, a dialética exclusão/inclusão constitui diversos
modos de ser, de subjetividade:
– Podemos nos perceber incluídos
– Podemos sentir uma culpabilização individual por não
conseguirmos melhores condições

– Pensem em trabalhadores em situações precárias de


condições de trabalho, como entregadores de aplicativo. Ao
mesmo tempo que têm trabalho, podem em alguns momentos
ganhar mais ou menos, mas se ficarem doentes não têm
direitos trabalhistas que os ajudem a se manter. O quanto essa
situação produz de desamparo, o quanto gera uma cobrança
individual por não conseguirem trabalhar mais?
Exclusão Social

Aspectos relacionados ao emprego, aos fatores
econômicos, ao acesso a serviços e bens sociais, à
políticas de proteção social, acesso à cidadania,
são alguns dos temas mais centrais nas análises sobre
exclusão.

Mas, deve-se considerá-la sempre relacionada ao
contexto histórico, social e cultural em que ela
acontece.

Por exemplo, no Brasil o nosso histórico relacionado à
escravidão e à dizimação de grupos, como os
indígenas, deveria fazer parte dessa análise quando
pensamos a sociedade brasileira como um todo.
Exclusão Social

Vejamos uma definição

“...uma impossibilidade de poder partilhar o que leva a vivência
da privação, da recusa, do abandono e da exclusão inclusive,
com violência, de um conjunto significativo da população, por
isso, uma exclusão social e não pessoal. Não se trata de um
processo individual, embora atinja pessoas, mas de uma lógica
que está presente nas várias formas de relações econômicas,
sociais, culturais e políticas da sociedade brasileira. Esta
situação de privação coletiva é que se está entendendo por
exclusão social. Ela inclui pobreza, discriminação,
subalternidade, não equidade, não acessibilidade, não
representação pública” (Sposatti, 1996 apud Wanderley, 2001).
Exclusão Social

Nesta polissemia do termo, alguns autores
buscaram delimitar formas de conceber a
exclusão social, muitas associadas a autores
franceses. Seguem algumas dessas
perspectivas:

Desqualificação

Desinserção

Desafiliação

Apartação social
DESQUALIFICAÇÃO

De Serge Paugam, tem como ponto central de
análise a integração social pelo emprego.
Considera por um lado a estrutura social dos
empregos, do desemprego e das dificuldades
de se manter nos mesmos e, por outro lado,
considera os mesmos como um problema de
integração social. A desqualificação seria a
não integração. Contudo, considera-se as
políticas para emprego e de assistência,
normalmente praticadas pelos Estados. Neste
sentido, destaca a dialética inclusão-exclusão.
DESQUALIFICAÇÃO

Por exemplo, alguém que perde o emprego, pode estar
assistido pelo auxílio desemprego e por programas de
recolocação profissional. Quer dizer, em sua exclusão está
incluído pelo Estado como assistido. Gera-se grupos de
pessoas que precisam e outras que não precisam de auxílio
do Estado. As políticas públicas são necessárias também
para pensar a coesão do Estado.

Os desqualificados cada vez tem menos condições de
acessar empregos, e este contingente de pessoas têm
aumentado. Além de problemas já conhecidos, tem-se
discutido globalmente a substituição de muitos empregos
humanos por inteligências artificiais. Como integrar essas
pessoas no futuro?
DESINSERÇÃO

De Gaulejac e Leonetti - também vão falar de não
integração e ter o emprego como um dos principais focos
de análise. Mas vão destacar mais as dimensões
simbólicas vividas pelos indivíduos. A desinserção leva a
questionamentos sobre a existência dos indivíduos.

O mundo do emprego vem substituindo a luta de classes
por uma luta por posições e lugares no mundo do
trabalho. Foca-se em questões sobre mérito, por
exemplo. Há uma desarticulação sobre os significados
produzidos nos grupos sociais e culturais com os modos
de trabalho modernos; amplia-se a homogeneização
desses modos, cada vez mais exigentes em termos de
flexibilidade e produtividade.
DESINSERÇÃO

Afeta a identidade das pessoas e como elas
se percebem úteis ou não. Seja com
emprego ou desemprego. Qual o sentido do
trabalho?

Exemplo: Muitos sujeitos tem de migrar para
poder trabalhar, afastando-se de seu grupo
social e de sua cultura, buscando empregos
muito deslocados de seu modo de vida. Qual o
sentido destes trabalhos, como essas pessoas
passam a significar sua vida?
Desafiliação

De Robert Castel - tem como foco também o emprego,
mas vai ser bastante crítico quanto ao uso excessivo da
exclusão. O mesmo se centra analiticamente nas
consequências em termos de perdas de vínculos
sociais.

Vínculos institucionais, vínculos simbólicos, vínculos
relacionais. O sujeito tem menos tempo para família,
para si mesmo, ou se afasta do local de moradia;
afasta-se da coletividade, por exemplo, das instituições
sindicais; desvincula-se das proteções sociais, pois
cada vez mais são mais precárias. O sujeito vai sendo
afastado de estruturas que dão sentido.
Desafiliação

Exemplo: empregos com jornadas de trabalho
cada vez mais amplas, que dificultam a
convivência e vínculo entre os trabalhadores e
entre estes e suas famílias.

Exemplo: população de rua – perda de vínculo
com o trabalho institucional, perda de
reconhecimento social, muitas vezes perda de
vínculo com a família, e, mesmo com a existência
de algumas políticas públicas, há ruptura com o
Estado (com a cidadania).
Síntese

Estas três concepções consideram a dialética
exclusão-inclusão.

Consideram o emprego-trabalho como
ponto central de integração e não integração
na sociedade.

Consideram como foco aspectos estruturais
da forma de organização da sociedade e,
especialmente, daquela do mundo do trabalho
que afetam as relações sociais e os próprios
indivíduos.
Apartação Social

De Cristóvão Buarque

Destaca fenômenos que colocam o
outro como um ser a parte, buscando
considerá-lo como não semelhante; em
muitos casos como não sendo
humanos. Associa-se a formas de
intolerância, afastando o outro de várias
relações e instituições sociais.
Exclusão social

Exclusão ≠ pobreza, mas estão bastante
associadas, especialmente se considerarmos o
cenário brasileiro.

Mas, devemos lembrar de aspectos estruturais
de organização social; cada vez mais temos
menos direitos que garantam segurança.

Reformas trabalhistas que retiram direitos afetam
estruturalmente a todos; mesmo que os impactos
iniciais sejam diferentes nos diversos grupos
sociais.
Exclusão social

Reforma na previdência também afeta
estruturalmente a todos, havendo uma tendência
futura de menores rendimentos para todos,
mesmo que se mantenham distâncias sociais.

Uma outra forma de pensar pode ser pelo
acesso a serviços. Uma pessoa rica no interior
de uma pequena cidade não tem os mesmos
acessos à instituições de saúde em comparação
a uma pessoa que viva em uma capital de
estado.
Exclusão social

Assim,

“Se, de um lado cresce cada vez mais a
distância entre os 'excluídos' e os
'incluídos', de outro, essa distância
nunca foi tão pequena, uma vez que os
incluídos estão ameaçados de perder os
direitos adquiridos” (Wanderley, 2001,
pp.25).
Exclusão social e Brasil

Desde à colônia nos deparamos com temas relacionados à
pobreza e desigualdade

Em relação aos estudos sobre fenômenos relacionados à
exclusão temos uma discussão tardia sobre os mesmos,
com maior desenvolvimento a partir dos anos 60

Esses estudos são mais centrados nos efeitos que
ocorrem no meio urbano, em cidades grandes

A noção de Marginalização é uma das que mais teve
destaque durante algumas décadas. O foco não é na
criminalização, mas a consideração dos indivíduos que
ficam na e à margem das cidades.
Exclusão social e Brasil

Entre os fenômenos mais estudados estão:
– a migração e êxodo rural em direção às cidades
grandes;
– desorganização urbana, pelo excesso de pessoas que
as cidades grandes passam a ter, sem ainda terem
uma estrutura que suporte tanta gente; afinal, boa
parte destes migrantes vieram para contribuir com a
construção e desenvolvimento urbano, que ainda
estava em processo, com a possibilidade (ou seria a
ilusão?) de incluir este contingente de pessoas.
Exclusão social e Brasil

Entre as formas de compreensão da pobreza e da
marginalização estão:

A marginalização é transitória, conforme a cidade se
desenvolva ela vai incluir as diversas camadas sociais.

Funcionalista: a divisão espacial da cidade está
associada às divisões em grupos e classes sociais; os
que tem mais condições financeiras estão mais
próximos dos centros e de locais com mais acesso a
serviços; os mais pobres ficam em locais mais
afastados; operários ficam mais perto de fábricas,
normalmente mais afastadas dos centros.
Exclusão social e Brasil

Cultura da pobreza e do
subdesenvolvimento – estudo e
caracterização dos modos de vida,
especialmente da vida na favela, mas com
considerações destes grupos como não
adaptados à vida urbana.

Modernização e desenvolvimento urbano
– busca por integração e adaptação dos
marginalizados ao modo de vida urbano.
Exclusão social e Brasil

Estas perspectivas trabalhavam, de uma maneira
geral, com dicotomias, tendo como polo positivo de
comparação os modos de organização das
sociedades urbanas modernas:

– Atrasado X Moderno
– Não Integrado X Integrado
– Rural X Urbano
Exclusão social e Brasil

Estudos que associam a pobreza ao modo de
produção capitalista, sendo consequência do
mesmo.
– Início do modo de pensar mais contemporâneo da
exclusão, como um fenômeno dialético entre inclusão-
exclusão, como abordado anteriormente
– Estudos sobre acesso aos serviços e direitos na e à
cidade: moradia, documentação, emprego, alimentação
– Estudos dos modos de vida e resistência nas favelas e
comunidades pobres para sobreviver e ter acesso aos
serviços e direitos na cidade.
Exclusão social e Brasil

A cidadania, a territorialidade e a questão
espacial, começam a ser analisadas nestes
estudos já na década de 70, mas vão ser mais
centrais nas análises a partir dos anos 80.


A urbanização e o espaço passam a ser temas
centrais: o acesso à cidade, distribuição
desigual de serviços e infraestrutura,
dificuldades no transporte.
Exclusão social e Brasil

Habitação: estudos sobre diferentes acessos à moradia, as
condições de moradias, as organizações locais para a
construção de casas, os planos urbanísticos que privilegiam
os mais abastados economicamente. Políticas de acesso à
moradia, como as no BNH (Banco Nacional de habitação),
foram insuficientes.

A perda ao direito de permanecer no lugar e a memória
associada a ele também é significativo: Políticas de
desenvolvimento e de urbanização expulsam grupos de seus
bairros (até dos de classe alta); e, também, de regiões
inteiras, mudando modos de vida (como a expulsão e
realocação de grupos ribeirinhos e indígenas em grandes
obras de hidrelétricas no interior da Amazônia).
Exclusão social e Brasil

Pode-se fazer uma associação das políticas do
BNH com as mais recentes relacionadas ao
Programa Minha casa, Minha vida.
– Temos uma maior inclusão de pessoas em termos de
acesso a moradia, mas em que condições? São
conjuntos residencias construídos, na maioria das
vezes, distantes da cidade e de seu centro, com
pouco ou nenhum acesso a serviços. Pode-se notar a
dialética inclusão-exclusão.
– Como ilustração da questão e para reflexão, segue a
indicação de um um vídeo reportagem da TV FOLHA.
– https://www.youtube.com/watch?v=oZ60HeisJcE
Exclusão social e Brasil

Em termos de organização popular, mais recente,
pode-se indicar a organização de grupos, como o
MTST (Movimento dos trabalhadores sem teto), que
buscaram estratégias para construir seus próprios
empreendimentos habitacionais, através do programa
minha Casa Minha, Vida, muitas vezes com custos
mais baixos do que os feitos por grandes empresas.

Segue o link para uma reportagem da CartaCapital
para ilustração e reflexão

https://www.cartacapital.com.br/sociedade/moradia-pelas-proprias-maos-2178/
Exclusão social e Brasil

A democratização e a cidadania: direito ao acesso
à condições que tragam dignidade, que permitam
usufruir de direitos, passa a ser um dos pontos
fundamentais dos estudos.

A discussão sobre o não acesso à cidadania (junto
à abertura democrática gradual) estimula estudos
focados também sobre as organizações populares
em busca de direitos:
– Sindicatos, movimentos sociais do campo e sobre
diversas questões
Exclusão social e Brasil


Nos anos 90 em diante, a questão da
cidadania continua sendo central,
especialmente a partir de discussão de
Não acesso a direitos, serviços,
espaços; e de Não representatividade
na esfera política e pública.
Exclusão social e Brasil

Entre algumas contribuições desse período temos
a de José Martins de Souza:

Ele critica o uso excessivo do termo exclusão
– Considera que há uma coisificação da exclusão e dos
excluídos (preocupação mais conceitual)
– Deveria haver uma preocupação mais prática, de como
resistir e sobre os efeitos nos sujeitos
– Deveria haver uma busca por uma “Fenomenologia dos
processos sociais excludentes” (Véras, 2001, pp.39)
Exclusão social e Brasil

Entre alguns destes efeitos temos:
– Um processo de adequação da população aos modos de
reprodução social.
– Uma ilusão de inclusão, ou seja, uma inclusão precária; não
se perceber como excluído.
– Ilusão de que poderemos mudar as condições de modo
individual; basta nos esforçarmos e agarrarmos as
oportunidades (em termos mais contemporâneos usa-se
muito os termos do mérito individual e do
empreendedorismo); mas não se percebe que elas não são
iguais.
– Inclusão pelo consumo; sociedade da imitação, dos
padrões dos ricos.
Exclusão social e Brasil

Sintetizando algumas dessas ideias:

“...atribui ao 'excluído' o fato de estar em
situação de carência material, mas, sobretudo,
(…) 'ser aquele que não é reconhecido como
sujeito, que é estigmatizado, considerado
nefasto ou perigoso à sociedade'. Martins
considera, entretanto, que 'uma categoria social
ou grupo não pode ser reconhecido como
sujeito, se não se reconhece a si mesmo como
sujeito e não atua como sujeito'” (Martins, 1997
apud Véras, 2001, pp.48).
Exclusão social e Brasil

De forma complementar, Francisco de
Oliveira vai enfatizar na análise a
organização do Estado associada às
políticas econômicas internacionais e suas
consequências para a classe de excluídos.

Assim, como boa parte das perspectivas
anteriores, situa a sua análise no capitalismo
e, mais especificamente, no neoliberalismo.
Exclusão social e Brasil

Neste sistema, o Estado vem perdendo a sua
capacidade regulatória, frente ao poder do
mercado, especialmente o financeiro.

Isto afeta as formas de investimento e de
aplicação de políticas públicas, especialmente as
associadas à proteção social

O discurso sobre o Estado mínimo cresce cada
vez mais e passa a ser reverberado pela classe
trabalhadora.
Exclusão social e Brasil

As políticas de inclusão e de proteção social são vistas
como CUSTO BRASIL e não como investimento

Aqueles que necessitam delas são vistos como um
estorvo; uma população que não produz e não se esforça

Vai-se criando a ideia de desnecessidade do PÚBLICO

Assim, em um de seus efeitos perversos, pobres
desconfiam de pobres, a classe trabalhadora desconfia
da classe trabalhadora.

Os excluídos, passam a ser, então, um perigo e uma
ameça à ordem social
Exclusão social e Brasil

Esta linha de discussão permanece nos
estudos sobre a exclusão até os dias de hoje.

Os efeitos das políticas econômicas sobre o
emprego e sobre a cidadania ainda são um
dos pontos centrais.

Mas alguns outros temas passaram a ganhar
mais espaço nesta discussão, como:
– O impacto em grupos minoritários, como Negros e
indígenas;
– O aumento e as implicações das violências.
Sintetizando

Resgatarei alguns pontos e termos centrais da
discussão:

Processo de exclusão-inclusão

Inclusão precária, ilusão de inclusão

Este processo afeta as dimensões: objetiva,
ética e subjetiva

Trabalho-emprego como um dos pontos
centrais de análise sobre o processo exclusão-
inclusão
Sintetizando


Não acesso e não representatividade

Cidadania

Ataques às Políticas relacionadas à
cidadania e à proteção social

A desconfiança da classe trabalhadora
sobre si mesma
Sintetizando

Exclusão ≠ pobreza - Exemplos:

A mudança trabalhista afeta a todos os
trabalhadores (de forma distinta). As mudanças
nas formas de contratação de trabalho estão
precarizando as condições de trabalho,
especialmente através do processo que tem
sido chamado de Uberização do trabalho.
Segue o link de uma reportagem da
CartaCapital que aborda este processo:

A uberização das relações de trabalho (CartaCapital)
https://www.cartacapital.com.br/justica/a-uberizacao-das-r
elacoes-de-trabalho/
Exclusão ≠ pobreza


A mudança nas regras de previdência afeta a
todos no futuro, com uma tendência de diminuir
os rendimentos.

Pensem em quantas pessoas você já soube
que mesmo com ensino superior tem
dificuldade de encontrar um emprego ou estão
desempregadas ou recebendo salários baixos.
Exclusão ≠ pobreza


Pensem em quantas pessoas não podem
comprar uma casa e em quantas outras
estão com seus orçamentos comprometidos
por pelo menos 30 anos, sem garantias de
uma sociedade que gere e mantenha
empregos e direitos.

Quantas reclamações de piora de serviços
privados (para quem pode pagar) tem
havido nos últimos anos: como na telefonia,
na internet, nos planos de saúde.
Referências

SAWAIA, B. (org.) As artimanhas da exclusão:
Análise psicossocial e ética da desigualdade social.
Petrópolis: Vozes, 2001.
– Introdução: SAWAIA, B. Exclusão ou Inclusão
perversa?
– Capítulo 1: WANDERLEY, M.B. Refletindo sobre a
noção de exclusão
– Capítulo 2: VÉRAS, M. Exclusão social: um
problema brasileiro de 500 anos (notas preliminares)
Questões para o estudo da
Unidade

Quais as dimensões da exclusão?

Qual o tema central de análise principal
nas considerações sobre a exclusão?

Pense em uma situação que você acha
que pode indicar um processo de
apartação social?

OBSERVAÇÃO: para os exemplos da questão anterior e das demais
tente não usar um caso isolado, no sentido de uma exceção, mas em
uma situação que tende a se repetir com vários indivíduos, como um
problema social e estrutural que se repete de formas similares.
Questões para o estudo da
Unidade

Pense em um exemplo de inclusão precária e tente
explicar o mesmo.

Pense em uma situação que possa se referir a um
processo de exclusão-inclusão e tente explicá-lo
articulando às perspectivas de desqualificação,
desinserção e de desafiliação.

Como pensar o papel do Estado em relação aos
processos de exclusão-inclusão?

Pense em uma situação de não acessibilidade a algum
tipo de direito ou serviço e tente identificar suas
implicações nas dimensões objetiva, ética e subjetiva.

Você também pode gostar