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UNIDADE I
UNIDADE I - Avanços e desafios na aplicação da
regra da prioridade absoluta no contexto da primeira
infância
Introdução
Nesta unidade, apresentaremos um panorama das infâncias e adolescências em
nosso país, com foco na primeira infância, um histórico das conquistas de direitos em nossa
legislação, culminando com o significado da construção de uma lei específica para a
primeira infância, seus fundamentos, áreas prioritárias, políticas públicas a ela
relacionadas, importância da parentalidade, do investimento e das estratégias de
financiamento e de intersetorialidade, entre outros.
Entre a lei e sua aplicação, há um caminho que depende de muitas pessoas, grupos
e instituições, incluindo cada um dos profissionais que atuam cotidianamente com as
crianças e suas famílias. Esperamos que os conhecimentos a serem apresentados
contribuam para a compreensão do cenário atual e das perspectivas para a efetiva
promoção da cidadania desde o começo da vida, como propõe o Marco Legal da Primeira
Infância.
A regra da prioridade absoluta é o primeiro ponto de convergência para unirmos
esforços na promoção do desenvolvimento humano na primeira infância, em uma
perspectiva de responsabilidade compartilhada. De fato, a Constituição Federal de 1988
utiliza a expressão prioridade absoluta apenas quando se refere às crianças, aos
adolescentes e aos jovens.
Art. 227 – É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à
criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à
vida, à saúde, à alimentação, à educação, à profissionalização, à cultura, à
dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária,
além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação,
exploração, violência, crueldade e opressão (BRASIL, Constituição
Federal, 1988).
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Segundo pesquisa nacional realizada pelo Datafolha e o Instituto Alana, em 2013, apenas
24% da população brasileira conhecia o termo prioridade absoluta. Nem a sociedade nem a
família conhecem amplamente os direitos de seus filhos (DATAFOLHA, INSTITUTO ALANA,
2013).
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Aula 1: Panorama das infâncias e adolescências no
Brasil: dados socioeconômico-culturais
Atualmente, o Brasil conta com quase 20 milhões de crianças na primeira infância
(PNAD, 2010). Elas representam cerca de 10% da população do País e vivem em contextos
muito diversificados, pois vivemos em um país continental. Algumas se encontram em
melhores condições de desenvolvimento, pois, em várias regiões do Brasil, temos índices
de desenvolvimento humano (IDH) muito elevados. Outras vivem em contextos de
vulnerabilidade e risco social, com difícil acesso a serviços e políticas públicas. Contudo,
mesmo crianças que encontram-se em situação economicamente favorecidas podem
vivenciar contextos de risco, por outros fatores. Por isso, este curso visa ampliar a
implementação de ações e políticas inovadoras, assim como integrar muitas já existentes,
mas ainda não suficientemente articuladas, com vistas a garantir o acesso a direitos para o
desenvolvimento humano integral na primeira infância.
Conhecer a realidade do público com o qual trabalhamos é muito importante para
tomarmos decisões mais eficazes em relação às intervenções que realizamos. Em relação
à primeira infância, nem sempre temos dados específicos, mas iniciativas estão em
andamento, como o Diagnóstico Nacional da Situação de Atenção à Primeira Infância, que
está sendo realizado no âmbito do Pacto Nacional pela Primeira Infância (CNJ, 2019),
entre outras.
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A maior parcela de brasileiros e brasileiras em situação de pobreza ou extrema
pobreza está na faixa da infância e da adolescência, correspondendo a um total de
27.549.850 (CECAD 2.0).
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Dos brasileiros em situação de pobreza ou extrema pobreza, aproximadamente 10
milhões são crianças de até seis anos de idade. Desse modo, 50% das crianças na primeira
infância, no Brasil, estão em potencial risco para o seu pleno desenvolvimento.
Além disso, em 2018, tivemos 2.329.426 de gestantes no Brasil (SINASC/MS,
2020), das quais 851.666 eram beneficiárias do Programa Bolsa Família (PBF), identificadas
no acompanhamento da condicionalidade da saúde. Dessa forma, 36,5% das crianças em
gestação estavam em potencial risco pelo contexto de pobreza de suas mães. Porém,
graças à condicionalidade de saúde do PBF, 99% das gestantes beneficiárias identificadas
nesse programa estavam com o pré-natal em dia, conforme registros do Sistema Bolsa
Família na Saúde (2018).
Mortalidade infantil
De acordo com a pesquisa “Nascer no Brasil” (BRASIL; FIOCRUZ; 2014), nos anos
2011 e 2012, a taxa de mortalidade foi de 11,1 por mil nascidos vivos, com maior incidência
nas classes sociais mais desfavorecidas, nas regiões Norte e Nordeste, assim como
relacionada à precariedade dos serviços de saúde. Essa mesma pesquisa identificou que
aproximadamente metade das mulheres declarou que a gravidez não tinha sido desejada.
No entanto, o Brasil se destacou internacionalmente na redução da mortalidade
infantil, alcançando a meta prevista nos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio antes do
prazo, reduzindo em 2/3 a mortalidade infantil entre 1990 e 2015 (RASELLA e col.,
2013). Essa redução, segundo os mesmos autores, está relacionada às condicionalidades
do Programa Bolsa Família, que elevou o número de acompanhamentos no pré-natal e na
vacinação das crianças, possibilitando também outros benefícios como Benefício Nutriz.
Excesso de cesarianas
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Dentre os vários fatores contrários a essa prática excessiva de cesarianas está a
prematuridade. Victora (2016) observa que “nós temos muitas crianças nascendo antes do
tempo”.
Então, desde o nascimento, a prioridade não tem sido o ritmo da própria criança, de
nascer a termo, principalmente nas classes que não estão em vulnerabilidade econômica.
Gravidez na adolescência
Sub-registro de nascimento
Segundo o Censo do IBGE de 2010, cerca de 600.000 crianças de zero a dez anos
de idade, no Brasil, encontravam-se sem Registro Civil de Nascimento (RCN),
praticamente sem condição de exercer uma relação formal com o Estado Brasileiro.
Pessoas que, embora tenham nome, sobrenome, filiação, naturalidade, nacionalidade, do
ponto de vista formal não existem, tampouco conseguem comprovar quem são e acessar
os serviços a que têm direito.
Filiação paterna
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modo, aproximadamente 173 mil crianças não tiveram o nome do pai inscrito no registro
de nascimento, no ano de 2019. E o que isso repercute em suas vidas?
Famílias monoparentais
Segundo dados do IBGE (2010), 6,7% da população brasileira tem algum tipo de
deficiência grave, das quais aproximadamente 3,5 milhões são crianças de até 14 anos e
quase 30% dessa população está fora da escola . No caso dos beneficiários do Benefício de
Prestação Continuada (BPC), esse acompanhamento tem sido melhor estruturado a partir
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do Programa BPC Escola. O BPC tem 4.655.375 milhões de beneficiários, dos quais 82.769
são crianças na primeira infância (SNAS/SEDS/MC, 2020). O público de crianças
beneficiárias do BPC também é um público prioritário do Programa Criança Feliz,
encontrando-se um total de 8.407 crianças na primeira infância com deficiência que
passaram com suas famílias a contar com acompanhamento intersetorial com visita
domiciliar semanal, visando à promoção de seu desenvolvimento (Prontuário SUAS, 2020).
A partir do Programa Criança Feliz, 8.407 crianças na primeira infância, com
deficiência, e sua família passaram a contar com acompanhamento intersetorial com visita
domiciliar semanal, visando à promoção de seu desenvolvimento (Prontuário SUAS, 2020).
Deficit de crescimento
Outro dado basilar como parâmetro das condições para o desenvolvimento infantil
diz respeito à nutrição e pode ser aferido pelo crescimento adequado à faixa etária.
Segundo dados do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN/MS, 2020), o déficit
de altura em crianças de até 5 anos, acompanhadas pelo Programa Bolsa Família, no Brasil,
apresenta variações regionais significativas:
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Fonte: SISVAN/MS, 2020.
Vacinação
Segundo dados do Sistema Bolsa Família na Saúde, 99,44% das crianças menores de
7 anos, acompanhadas em função das condicionalidades do Programa Bolsa Família, 10
apresentavam vacinação em dia, o que indica que a queda de vacinação na população
brasileira esteja associada a outros fatores vivenciados no contexto das famílias com
crianças de classe economicamente favorecidas.
Acesso à creche
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Crianças afastadas da família por medida de proteção
De acordo com o estudo do Cetic.br (2019), embora venha crescendo a cada ano o
número de usuários da rede de internet no Brasil, há fortes contrastes entre diversas
classes socioeconômicas. Nas classes A e B, 95% dos habitantes já fazem uso regular da
rede mundial de internet, enquanto, nas classes D e E, esse índice não passa de 57%. Entre
outros impactos, o acesso precário reduz a oportunidade de acessar informações e
alcançar benefícios tangíveis e, assim, reproduz a desigualdade social, com implicações
para os filhos dos adultos privados das tecnologias de informação.
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Ao mesmo tempo que as famílias devem contar com acesso de qualidade à rede de
internet e à comunicação cidadã, as crianças entre 0 e 6 anos necessitam de proteção
contra a excessiva exposição a conteúdos de mídia, pois esta limita a interação da criança
com outras pessoas e atividades, como as brincadeiras, a alimentação e o sono. De fato, a
OMS (2019) enfatiza que bebês e crianças até dois anos de idade não deveriam ser
entretidos por meio de telas digitais ou eletrônicas. Além disso, as crianças com mais de
dois anos não deveriam passar mais de uma hora por dia em frente às telas, segundo
pesquisa realizada em 2017 pelo conglomerado Viacom (2017), com foco em crianças de
idades entre 2 e 5 anos de 12 países, que apontou que, no Brasil, elas passavam cerca de
42 horas por semana diante das diversas telas – 50% a mais do que a média global, que é
de 28 horas.
Trabalho infantil
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trabalho dos meninos do que o das meninas, uma vez que formas como o trabalho
doméstico são mais difíceis de serem identificadas. É importante lembrar que essa
pesquisa não mensura algumas das piores formas de trabalho infantil, como a exploração
sexual, o tráfico de crianças e o aliciamento para o tráfico de drogas.
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Figura 3 – Panorama sobre pobreza na infância e na adolescência no Brasil
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Fonte: UNICEF (2018).
Você sabia?
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VÍDEO 1
Para finalizar este tema, assista à pílula do documentário O Começo da Vida sobre
os DIREITOS DAS CRIANÇAS: https://ocomecodavida.com.br/direitos-das-criancas/. E
reflita sobre as condições de desenvolvimento em que se encontram as crianças de seu
território de atuação. Você pode registrar em um portifólio quais situações problemas lhe
chamaram mais atenção a partir da leitura realizada.
Referências bibliográficas:
CNJ. Diagnóstico da Situação de Atenção à Primeira Infância no Sistema de Justiça. Portal do Pacto 16
Nacional pela Primeira Infância. 2019. Disponível em: https://www.cnj.jus.br/programas-e-
acoes/pacto-nacional-pela-primeira-infancia/diagnostico/. Acesso em: 30 set. 2020.
IBGE. Conheça o Brasil, População: Pèssoas com Deficiência, 2010. Disponível em:
https://educa.ibge.gov.br/jovens/conheca-o-brasil/populacao/20551-pessoas-com-
deficiencia.html.
INSTITUTO ALANA; FMCSV (Fundação Maria Cecília Souto Vidigal). Relatório de Atenção dos
Municípios com a Primeira Infância, 2020. Disponível em: https://www.raps.org.br/2020/wp-
content/uploads/2020/07/Guia_Tem%C3%A1tico_RAPS_Primeira_Inf%C3%A2ncia.pdf
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MEC. Relatório do 3º Ciclo de Monitoramento das Metas do Plano Nacional de Educação, 2018,
pp. 32 e 41. Disponível em:
file:///C:/Users/robsonricardo/Downloads/Relat%C3%B3rio%20do%203%C2%BA%20Ciclo%20
de%20Monitoramento%20das%20Metas%20do%20Plano%20Nacional%20de%20Educa%C3%
A7%C3%A3o.pdf.
OMS. Guidelines on Physical Activity, Sedentary Behaviour and Sleep for Children Under 5 Years
of Age. 2019. Disponível em: https://apps.who.int/iris/handle/10665/311664.
PRONTUÁRIO SUAS. Prontuário Eletrônico do SUAS – Sistema Único de Assistência Social. 2020.
Disponível em: https://aplicacoes.mds.gov.br/prontuario/
RASELLA, D.; AQUINO, R.; SANTOS, C.A.T.; PAES-SOUSA, R.; BARRETO, M.L. Effect of a conditional
cash transfer programme on childhood mortality: A national wide analysis of Brazilian municipalities. The
Lancet, 382, 2013, pp. 57-64.
SINASC/MS. Sistema Nacional de Informações sobre Nascidos Vivios. Dados referentes aos anos
de 2018. 2020. Disponível em: https://sisaps.saude.gov.br/sisvan/relatoriopublico/index. Acesso
em: 30 set. 2020.
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https://www2.camara.leg.br/a-camara/estruturaadm/altosestudos/pdf/obra-avancos-do-marco-
legal-da-primeira-infancia
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1.1.2. Panorama dos direitos da criança e do adolescente: a condição
peculiar de desenvolvimento, do menorismo à proteção integral, o melhor
interesse da criança, a prioridade absoluta dos direitos da criança e do
adolescente e a responsabilidade compartilhada
DESENVOLVIMENTO
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discernimento”. Essa compreensão tem respaldo nas ciências humanas e biológicas a
respeito da condição de pessoas em desenvolvimento físico, emocional, cognitivo e
sociocultural, que merecem proteção especial por se encontrarem em um estágio
importante e peculiar da vida. Segundo Gomes (2016), ao interpretar todos os demais
artigos da legislação, esse princípio deve servir como critério:
Ainda sobre esse aspecto, Seda (2018 [1993]) afirma que “(...) qualquer medida
adotada em relação a esta ou àquela criança, qualquer programa coletivo de trabalho,
qualquer política pública formulada, deve sempre, defendendo a criança, defender
também a sociedade”. De acordo com o autor, essa exigência é própria da cidadania, na
qual fazer valer os interesses de cada um envolve também promover a exigência de
preservação do bem comum, da coletividade.
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essas rodas continuaram a funcionar. Em 1825, uma outra roda é instalada na Santa Casa
de Misericórdia de São Paulo” (PASSETI, s/a, p. 10).
Esta roda era uma espécie de dispositivo onde eram colocados os bebês
abandonados por quem desejasse fazê-lo. Apresentava uma forma
cilíndrica, dividida ao meio, sendo fixada no muro ou na janela da
instituição. O bebê era colocado numa das partes desse mecanismo que
tinha uma abertura externa. Depois, a roda era girada para o outro lado
do muro ou da janela, possibilitando a entrada da criança para dentro da
instituição. Prosseguindo o ritual, era puxada uma cordinha com uma
sineta, pela pessoa que havia trazido a criança, a fim de avisar o vigilante
ou a rodeira dessa chegada, e imediatamente a mesma se retirava do
local (PASSETI, s/a, p. 9).
Segundo os registros oficiais, a criança pequena foi, pela primeira vez, objeto de
normatização legal da parte de seus interesses com o advento da Lei do Ventre Livre,
instituída em 1871 – Lei nº 2.040. Em seus artigos 1º e 2º, essa lei assegurou que os filhos
nascidos de escravos seriam pessoas livres, bem como proibiu a venda de crianças com
idade inferior a 12 anos.
Durante os séculos XVIII e XIX, a titularidade das ações de “amparo” às crianças
esteve a cargo das Santas Casas de Misericórdia e das ações de algumas paróquias, em
especial nas metrópoles do Rio de Janeiro e São Paulo. Em 1911, o Governo da República
criou o Instituto Sete de Setembro, na Capital da República, com a finalidade de recolher e
atender as crianças abandonadas nas ruas da cidade, bem como aquelas envolvidas em
delitos, sendo aquele o precursor das ações oficiais do Estado Brasileiro, transformando-
se, posteriormente, no Serviço de Assistência ao Menor (SAM), de 1941, que, por sua vez,
deu origem à Fundação Nacional de Bem-Estar do Menor (FUNABEM), em 1964.
Vale destacar que, na virada do século XIX para o XX, grupos de imigrantes
chegavam ao país, inúmeros negros escravizados foram libertados e as principais cidades
contavam com uma população em crescimento. Como ressaltado por Alvarez (2003, p.
693), “o antigo medo das elites diante dos escravos será [foi] substituído pela grande
inquietação em face da presença da pobreza urbana nas principais metrópoles do país”.
Assim, para dar conta do novo “problema”, as atenções estatais se voltavam para hábitos,
costumes, modos de pensar e relações interpessoais da população. Diante das mudanças
no contexto político e social mencionadas, um grande número de pessoas não integradas
ao novo mundo do trabalho assalariado dos centros urbanos passou a ser percebido pelas
elites enquanto uma “classe perigosa”, tornando-se uma preocupação constante das
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autoridades públicas e policiais (ALVAREZ, 2003). A juventude em situação de
vulnerabilidade torna-se, então, um problema no Brasil:
Vemos pelas ruas mais centrais da cidade inúmeras crianças vagando à
toa, mendigando aos transeuntes, crianças, aliás, dotadas de robustez
física, indicada por sinais que revelam uma boa constituição psicológica,
mas que, entretanto, colocadas em um meio deletério, habituadas à vida
minguada da terra donde partiram, acreditando que neste país a vida
absolutamente nada custa, vivem à toa, à procura de seu destino, como
se neste como em todos os países fosse possível a conquista da vida por
outra lei que não a lei do trabalho (SÃO PAULO, 1893, citado
em:ALVAREZ, 2003, p. 64).
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penal especial para essa parcela da população jovem, a chamada Doutrina da Situação
Irregular (CIFALI, 2019).
O Código previa que a autoridade competente deveria se informar a respeito do
estado psíquico, mental e moral do jovem, além da situação social, moral e econômica de
pais, tutores ou pessoas incumbidas de sua guarda. Não havia uma diferenciação entre
jovens que eram acusados de haver cometido atos contrários à lei e aqueles em situação
de abandono. Além disso, nos casos envolvendo infrações penais, ainda que o jovem fosse
absolvido, poderia ser encaminhado a uma instituição ou ser submetido à liberdade
vigiada. O delito não era tão preponderante como a situação econômica e social do jovem
e de sua família. Os pais, assim como os jovens, eram repreendidos por viverem em
condições miseráveis, isolando-se o jovem em instituições estatais precárias sob o
argumento de que era para o seu próprio bem (CIFALI, 2019).
Já o Código Penal de 1940, em sua exposição de motivos, declarava que: “não
cuida o projeto dos imaturos (menores de 18 anos) senão para declará-los inteira e
irrestritamente fora do direito penal, sujeitos apenas à pedagogia corretiva da legislação
especial”, o Código de Menores (BRASIL, 1940). Ou seja, optou-se por manter a
intervenção estatal sobre os menores de 18 anos em um âmbito especializado. Em seguida,
em 1942, foi criado o SAM (Serviço de Assistência aos Menores), órgão que atuaria como
um equivalente ao sistema penitenciário para a população adolescente, tendo surgido
diante do aumento da população juvenil institucionalizada (SARAIVA, 2005; RIZZINI,
2007).
Em 1964, foi estabelecida a Política Nacional de Bem-Estar do Menor (PNBEM),
executada pela Fundação Nacional de Bem-Estar do Menor (FUNABEM). A PNBEM tinha
um caráter nacional. O Instituto Sete de Setembro, o SAM e a FUNABEM surgiram como
integrantes do Ministério da Justiça, sendo a última transferida para o Ministério da
Previdência Social, de 1972 até 1986.
Com as constituições aprovadas por Vargas, o Código de Menores sofreu pequenas
alterações, porém, prevaleceu na sua essência até 1979, quando o Brasil teve aprovado o
Código Cavaliere, seu segundo Código de Menores Brasileiro. Este foi inspirado na mesma
doutrina do anterior, inaugurada em 1927, embora nesse período outros países já
tivessem iniciado uma outra concepção, representada pela Declaração dos Direitos da
Criança de 1924, a Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 e a Declaração
Universal dos Direitos da Criança de 1959.
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Curiosamente, nesse ano de 1979, a Organização das Nações Unidas (ONU)
instituía, por provocação da Polônia, um grupo ad hoc para percorrer todos os territórios
do planeta, durante 10 anos, visando à construção do texto-base para a Convenção
Internacional dos Direitos da Criança, na perspectiva de avançar a legislação internacional
na direção da Doutrina da Proteção Integral, que veio a ser aprovada na Assembleia Geral
da ONU de 1989.
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A Lei 6.697/79 surgiu em um momento em que a sociedade brasileira e, em especial,
a maioria das pessoas que atuavam na atenção à infância entendiam que o modelo adotado
no país para o atendimento às crianças só havia colecionado sucessivos fracassos, quer
seja no que diz respeito às ações empreendidas pelo poder público, em que as FEBEMs se
constituíam em “carros-chefe”, ou nas ações desenvolvidas pelas Organizações da
Sociedade Civil, impregnadas pelo filantropismo assistencialista. Essa lei foi aprovada em
um contexto de fortes críticas, inclusive internacionais, ao tratamento da questão no Brasil,
sendo uma resposta ainda dentro do contexto do regime militar, que ignorou as discussões
e as propostas que já estavam sendo realizadas, alinhadas às novas concepções de
proteção integral. Dessa forma, em sua vigência, o Código de Menores foi mais objeto de
críticas e contestações do que de apoio e alinhamento pelo conjunto das instituições e das
iniciativas da sociedade.
Por outro lado, o menorismo no Brasil foi invadido por inúmeras iniciativas que
buscavam estabelecer outros parâmetros de atendimento e proteção à infância e à
adolescência, destacando-se projetos como “Alternativas para Atendimento a Meninos e
Meninas de Rua” - cujo processo de mobilização deu origem a uma Organização, o
Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua; as Casas Lares, com o intuito de
reformular o modelo de institucionalização de crianças em pequenas unidades e as
Repúblicas Juvenis, como estratégia para a retirada de meninos e meninas das ruas das
grandes cidades (RIZZINI; PILOTTI, 2009).
Todas as iniciativas nesse período tinham iluminação nos 10 pontos trazidos pela
Declaração Universal dos Direitos da Criança, de 1959, sendo essas as bases para a
discussão do que viria a ser, em 1989, a Convenção Internacional dos Direitos da Criança.
Pode-se inferir que o período de vigência do último Código de Menores (10 anos) foi o
período de efervescência da sua negação, com o amadurecimento da Doutrina da Proteção
Integral.
Até esse período, as ações privadas e públicas de atendimento às crianças
pequenas no Brasil se sustentavam no viés assistencialista e de caráter meramente
compensatório. Inexistia uma política nacional e integrada. Porém, nesse período, ocorreu
uma marcante transformação na concepção sobre a finalidade social da Educação Infantil
enquanto um direito das crianças, ainda que sobre forte influência da vertente do direito
da família cujas mães eram trabalhadoras e que, portanto, deviam portar um direito de 26
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As questões sociais, políticas e econômicas, amplamente constatadas por diversos
segmentos envolvidos na atenção à criança pequena, fizeram com que ganhasse corpo a
organização de um processo de mobilização das instituições públicas e sociais com vista a
se ter garantida na nova Constituição Federal, em construção, a proteção integral aos
direitos humanos de todas as crianças e os adolescentes, liderados pelo Movimento
Nacional Criança e Constituinte.
Figura 5 – As crianças na Constituinte (Fonte: Plenarinho, Câmara dos Deputados)
PREÂMBULO
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Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembléia
Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado
a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a
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segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como
valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem
preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem
interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias,
promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA
REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL.
(...)
VÍDEO 2
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A Lei 12.010/2009 foi de suma importância para uma maior efetividade dos
direitos da criança e do adolescente na realidade concreta. Isso porque, no passado, a
adoção de crianças tinha o único objetivo de suprir as vontades e as necessidades do
adotante. Contudo, com o passar do tempo e o desenvolvimento das ideias democráticas,
o interesse do infante foi sendo priorizado no ordenamento jurídico, de modo que,
atualmente, o papel da adoção não é mais o de conceder uma criança a uma família, mas
uma família para uma criança (GHESTI, 2010; RIBEIRO, 2019).
No que tange ao sistema nacional de socioeducação, este representa um grande
avanço também para a efetivação dos direitos das crianças e dos adolescentes, tendo em
vista que se constitui em uma importante conquista na atenção e na intervenção de
adolescentes autores de atos infracionais. Com o SINASE (Lei 12.594/2012), por meio de
ações articuladas e ações pedagógicas, estabelece-se um potencial para proporcionar a
ressignificação das trajetórias infratoras, visando à não reincidência infracional e à
construção de novos projetos de vida para esses jovens.
A Lei 13.046/2014 contra maus-tratos determina a presença de especialistas em
lugares públicos ou privados que saibam reconhecer suspeitas de maus-tratos.
De acordo com pesquisa “Ocultos à plena luz”, divulgada em 2014 pelo Fundo das
Nações Unidas para a Infância (Unicef), “6 em cada 10 crianças, de 2 a 14 anos de idade, no
mundo, sofrem punições físicas dos cuidadores. Geralmente, o castigo físico vem
acompanhado da agressão psicológica”. Portanto, a implementação dessa lei corroborou e
corrobora para o avanço da efetivação da democracia na realidade, possuindo suma
importância para garantir os direitos das crianças e dos adolescentes no Brasil.
Com essas iniciativas por parte de instituições, segmentos sociais e profissionais,
vem sendo gradativamente pavimentado o caminho para a construção de um passado
marcado por valor, respeito, igualdade de direito e importância pessoal, social e econômica
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da criança cidadã. A construção dessa via bem estruturada é um enorme desafio e sua
realização tem sido gradativa.
Nessa trajetória, destaca-se o Marco Legal da Primeira Infância, que, para se
estabelecer/detalhar como um conjunto de direitos específicos de um segmento etário da
população de crianças, necessitou de um período de maturação da sociedade e das
instituições sobre as normas gerais da cidadania infantojuvenil.
Levando em conta a regra constitucional da prioridade absoluta, quanto mais tenra
a idade da criança, maior deve ser o nível de prioridade dirigida à atenção das suas
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necessidades e interesses – direitos fundamentais, pois é justamente nos primeiros anos
de vida de uma criança, em função de suas naturais condições de maturações físicas,
psíquicas, biológicas e sociais que elas mais necessitam da atuação dos adultos para fazer
valer o direito de ter direitos. Essa concepção se encaixa perfeitamente na reflexão que
Costa nos trouxe em seu texto sobre a Política de Atendimento, publicado no site Pro-
Menino em dezembro de 2012:
Por muitos anos, a prioridade absoluta estabelecida nos Art. 227 da CF e Art. 4º do 30
ECA foi considerada como um princípio para efetivação dos direitos da criança e do
adolescente e, mesmo depois de três décadas, ainda são amplamente desconhecidos por
grande parte da população e, por outros, incompreendidos ou mesmo contestados.
Uma nova compreensão tem sido trazida a partir de ações desenvolvidas, por
exemplo, pelo Programa Prioridade Absoluta, promovido pelo Instituto Alana, que difunde
que não se trata de um princípio, mas de uma regra. Destaca-se, ainda, que em nenhum
outro trecho da CF se fala em prioridade absoluta. Essa visão convoca a necessária
mobilização para o cumprimento de nossa Constituição Cidadã, que, magistralmente,
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reconhece que nada é mais importante para uma nação do que cuidar, com absoluta
prioridade, dos cidadãos crianças, adolescentes e jovens.
Além disso, a regra da prioridade absoluta, na CF (art. 227) e no ECA (art.4º), iguala
e nomina quem deve cumpri-lo: “...é dever da família, (comunidade) sociedade do poder
público garantir com absoluta prioridade a efetivação dos direitos...”. Para quem lê o caput
desses dois artigos, não resta dúvida de que todos, absolutamente todos, devem garantir
com absoluta prioridade a efetivação dos direitos. Trata-se de uma responsabilidade de
todos, uma responsabilidade compartilhada entre a família, a sociedade e o Estado.
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Diante, então, da realidade repleta de tradições que se organizam de forma avessa
(contrária do lado direito), prevalecendo o absolutismo das velhas prioridades, o que
fazer? A tentativa de resposta exige resgatar a tríade destacada por Antônio Carlos
Gomes: é preciso promover mudanças na forma de ver, pensar e agir em relação às
crianças. Não é impossível, porém pouco provável, que se possa atuar priorizando a
efetivação dos direitos de crianças, agindo sob a égide daquelas tradições que não
conseguem reconhecer o valor humano e a condição especial, peculiar, singular das 31
pessoas nessa faixa de idade.
Prosseguindo nos ditames legais, é preciso resgatar a amplitude estabelecida na
legislação sobre o que compreende a regra da prioridade absoluta. Isso fica expresso no
Art. 4º do ECA, parágrafo único. A garantia de prioridade compreende:
a) primazia de receber proteção e socorro em quaisquer circunstâncias;
b) precedência de atendimento nos serviços públicos ou de relevância
pública;
c) preferência na formulação e na execução das políticas sociais públicas;
d) destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas
com a proteção à infância e à juventude. (BRASIL, Estatuto da Criança e
do Adolescente, 1990, art. 4º)
30
31
Então, se levarmos em conta o que a ciência e as boas práticas de políticas públicas
produziram no Brasil e no mundo, tão logo surge uma vida: a uma criança deve ser
reservado o melhor que o poder público e a sociedade têm para garantir o seu pleno
desenvolvimento. Embora não exista hierarquia na destinação de recursos específicos na
efetivação da cidadania dessa ampla faixa que compreende crianças e adolescentes, é
certo que quão mais cedo se puder atender a plenitude de direitos, demandas e
necessidades, menos se terá o que compensar nos anos vindouros.
31
32
nas situações que lhes dizem respeito e que envolvem possíveis conflitos aos seus
interesses.
A menoridade criminal e civil e a ausência de condição de defender, administrativa
ou judicialmente, os seus interesses, não anula o direito de crianças e adolescentes se
manifestarem em qualquer situação, administrativa ou judicial, no que diga respeito aos
seus direitos.
(...) a participação da criança e do adolescente no processo de decisão
sobre seu melhor interesse afigura-se essencial e obrigatória, em
observância aos valores positivados pelo legislador e, em especial, para a
concretização da dignidade que se realiza pela concepção da criança
como sujeito de direito e não apenas como objeto de proteção
(GONÇALVES, 2020).
Esse direito, critério e condição de efetivação são ainda mais detalhados no Marco
Legal da Primeira Infância, quando, em seu artigo 4º, prevê que também se deve incluir a
participação da criança – mesmo na primeira infância – na definição das ações que lhe
digam respeito, em conformidade com suas características etárias e de desenvolvimento.
Essa é a forma de “promover sua inclusão social como cidadã”, reconhecendo-se que a
participação da criança e sua escuta requerem a atuação de profissionais qualificados em
processos de escuta adequados às diferentes formas de expressão infantil (Lei
13.257/2016).
● A RESPONSABILIDADE COMPARTILHADA
33
No caso dos direitos assegurados a todas as crianças brasileiras pelo Art. 227 da
CF, cabe ao Estado, à Sociedade e à Família o dever de cumpri-los. Trata-se, assim, de uma
responsabilidade compartilhada. Ao contrário da doutrina anterior, que responsabilizava
apenas as famílias pelas condições das crianças e dos adolescentes, as novas disposições
vêm trazer a responsabilidade de toda a sociedade, assim como do Estado, no cuidado e na
atenção à infância e à adolescência.
Assim, cada um possui seu papel para efetivar os direitos constitucionais,
estatutários e do Marco Legal da Primeira Infância. Este, mais ainda, prevê também a
responsabilidade do setor empresarial, por meio do “conceito de responsabilidade social e
investimento social privado” (BRASIL, Marco Legal da Primeira Infância, 2016, art. 12). No
32
33
entanto, para exercer a responsabilidade é necessário ter conhecimento dela e de como
exercê-la.
Você sabia?
Segundo pesquisa do Instituto Datafolha, “oitenta e um por cento (81%) dos brasileiros não
se consideram informados o suficiente sobre os direitos das crianças previstos na
Constituição Federal e no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)” (DATAFOLHA;
INSTITUTO ALANA, 2013).
33
34
É certo que leis, normas e regras, por si, não alteram a realidade, senão pelo seu uso
cotidiano. Isso exige uma mudança interna, que vai do particular/individual para o
geral/coletivo. Exige aceitação e reconhecimento da maneira como temos agido no
particular e no geral e, mais ainda, percepção do que fazemos sob a influência de velhas
tradições – aquelas que ignoram a condição de igualdade, respeito, dignidade que as
crianças portam naturalmente na sua existência.
Para que o novo se estabeleça como real, várias transformações são necessárias,
iniciando pela percepção de que o que se tinha precisa ser alterado e aquilo de que se
dispõe são instrumentos/ferramentas para a construção do novo. Então? Fazemos o novo
– a nova realidade da cidadania da criança, usando as velhas tradições ou introduzindo
novas tradições? Percebe-se, inclusive, que, com o advento do dever constitucional,
algumas tradições foram construídas na direção da negação da responsabilidade, dando
origem ao chamado “encaminhamento”, ou seja, a velha e conhecida transferência de
responsabilidade.
Referências Bibliográficas
34
35
BRASIL. Lei 6.697, de 10 de outubro de 1979. Código de Menores. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/1970-1979/L6697impressao.htm. Acesso em: 16 set.
2020.
BRASIL. Lei 8069, de 13 de julho de 1990. Estatuto da Criança e do Adolescente. 13 de julho 1990.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm. Acesso em: 16 set. 2020.
BRASIL. Lei 13.267, de 8 de março de 2016. Marco Legal da Primeira Infância. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-
2018/2016/Lei/L13257.htm#:~:text=1%C2%BA%20Esta%20Lei%20estabelece%20princ%C3%
ADpios,e%20diretrizes%20da%20Lei%20n%C2%BA. Acesso em: 16 set. 2020.
DATAFOLHA; INSTITUTO ALANA. Pesquisa Legislação sobre os Direitos das Crianças. 2013.
Disponível em: https://prioridadeabsoluta.org.br/wp-content/uploads/2014/07/pesquisa_data-
folha_prioridade-absoluta-v2.pdf.
DEL PRIORI, M. História da criança no Brasil. In: PASSETI, E. As crianças brasileiras: um pouco de
sua história. Texto mimeografado [S.I: s.n].
RIZZINI, I. O século perdido: raízes históricas das políticas públicas para a infância no Brasil. São
Paulo: Editora Cortez, 2007.
RIZZINI, I.; PILOTTI, F. A Arte de Governar crianças: a história das políticas sociais, da legislação e
da assistência à infância no Brasil. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2009.
35
36
SARAIVA, J. B. C. Adolescente em conflito com a lei. Da indiferença à proteção integral. Uma
abordagem sobre a responsabilidade penal juvenil. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2005.
SÊDA, E. Construir o passado ou como mudar hábitos, usos e costumes tendo como instrumento
o Estatuto da Criança e do Adolescente. São Paulo: Malheiros, 2018, Edição revista de 1993..
37
36
37
Aula 2: A Era dos Direitos Positivos: esforço histórico
do Marco Legal da Primeira Infância
Na trajetória de desenvolvimento dos direitos da criança no Brasil, você está sendo
convidado a mobilizar diversos conhecimentos, buscar saberes especializados e integrar
redes intersetoriais para contribuir na implementação de uma lei inédita no mundo, que é
o Marco Legal da Primeira Infância. Esta nova legislação busca reforçar as conquistas
anteriores construídas especialmente no Artigo 227 da Constituição Federal e no Estatuto
da Criança e do Adolescente, ancorados na Convenção sobre os Direitos da Criança.
Parte-se da compreensão de que ao se promover atenção específica no começo da
vida se oportuniza com mais plenitude o desenvolvimento como um todo, possibilitando
de fato a cidadania na infância. De fato, todos passam pela primeira infância, esta fase
impacta a adolescência, a juventude, a vida adulta e a terceira idade.
O Marco Legal da Primeira Infância compõe-se de 17 artigos específicos e outros
que alteram outras leis, trazendo maior visibilidade às crianças na primeira infância:
Disto se observa que as crianças brasileiras contam agora com uma lei que
reconhece seu direito ao desenvolvimento integral, desde o início da vida. Com este
objetivo, o Marco Legal da Primeira Infância estabeleceu princípios e diretrizes para a
37
38
formulação e a implementação de políticas públicas voltadas às crianças de 0 a 6 anos no
País.
Ao trazer o foco para um momento da vida em que ações podem ser promovidas
mais oportunamente e com mais intencionalidade antes que o agravo ou a violação já
tenham ocorrido, com vistas à promoção do desenvolvimento humano integral da pessoa,
podemos considerar que estamos diante da oportunidade de construção de uma Era de
Direitos Positivos.
38
39
1.2.1 As infâncias, as crianças e a era do direito
Todos profissionais que estão participando deste curso devem ter acesso a
conhecimentos inerentes às infâncias e vivências junto a crianças, a começar da própria
criança que já fomos um dia.
Como podemos efetivamente garantir uma atuação que supere o senso comum,
que não se restrinja apenas ao atendimento das necessidades básicas imediatas das
crianças, mas que as levem a viverem experiências promotoras de desenvolvimento
humano integral, a conhecerem e a explorarem os espaços sociais em que vivem, de
maneira a apropriarem-se de referências cognitivas, afetivas e sociais para – em muitos
casos – superarem, com o apoio dos adultos, as condições de vulnerabilidade em que
muitas vezes se encontram? E a sentirem-se valorizadas em toda sua riqueza enquanto ser
humano único e protagonista de sua própria história, em seu contexto cultural igualmente
próprio e de valor intangível? Em uma Nação que se dispõe a ser “dos filhos deste solo, mãe
gentil”?
O ponto de partida pode ser ter a clareza das concepções de infâncias e de crianças
que permeiam os diversos contextos em que cada um atua e então fazer prevalecer
concepções que se sustentam no reconhecimento das crianças como sujeitos de direitos,
cidadãs.
A perspectiva que se apresenta é de superação da visão tradicional das crianças
como receptáculos vazios, vistas como tábulas rasas ou como devir (NASCIMENTO, 2008).
Essa perspectiva manteve-se presente nos processos formativos durante muitas décadas,
mas os contributos da Sociologia da Infância (CORSARO, 2002; DELGADO; MÜLLER,
2005; PINTO; SARMENTO, 2005) tem auxiliado na superação dessa visão reduzida sobre
39
40
as infâncias e as crianças. Apresenta novos conceitos, a partir de perspectivas teóricas que
reconhecem que:
Categoria Categoria da
INFÂNCIA social história
geracional humana
Período da
INFÂNCIAS vida (+- 0 a 12
anos)
40
41
O reconhecimento do protagonismo social das crianças dá-se exatamente quando
as incluímos em seus contextos de vida, valorizamos e respeitamos os seus discursos e suas
ações e nos dispomos a apoiá-las em seu desenvolvimento, considerando sua centralidade
e superior interesse. É importante reconhecê-las como cidadãs, sujeitos de direitos, seres
pensantes, ativos, criativos e capazes. Dessa maneira, poderemos reconhecer a
pluralidade das concepções de crianças que vivem as diversas infâncias, conforme
expresso neste esquema:
Sujeito de
CRIANÇA Cidadã
direitos
Produtora de
CRIANÇAS cultura e
conhecimento
41
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SEU NOME É HOJE
Esta poesia é muito profunda, pois além de nos remeter ao fato de que o tempo da
criança é hoje, também explicita que a criança é a protagonista do seu tempo e da sua
História, a quem nos cabe ser afetuosamente responsivos, encorajadores, apoiadores,
educadores, cuidadores, inspiradores. Por isso, o Marco Legal da Primeira infância nos traz
a importância da escuta e o princípio do respeito ao ritmo de desenvolvimento de cada
criança (Lei 13.257/2016, artigo 4º, III). Não nos cabe impor nosso ritmo de
desenvolvimento, mas responder diante de sua prontidão e redimensionar o papel do
adulto, da família e da comunidade na interação com a criança enquanto pessoa hoje, não
apenas no futuro.
§ 1º Os programas que se destinam ao fortalecimento da família no
exercício de sua função de cuidado e educação de seus filhos na primeira
infância promoverão atividades centradas na criança, focadas na família
e baseadas na comunidade. (BRASIL, 2016, Lei 13.257/2016, art. 14).
A abordagem positiva não pode prescindir da atuação dos diversos profissionais,
que se disponham a assumir papel ativo na implementação da regra da prioridade absoluta,
42
43
de maneira a promover processos sensíveis às necessidades e interesses das crianças na
primeira infância, sem nunca deixar de promover as oportunidades possíveis para seu
desenvolvimento integral.
43
44
Todas essas iniciativas contribuem para dar visibilidade ao Marco Legal da
Primeira Infância e, especialmente, às ações que devem ser empreendidas para sua
implementação, de tal modo que cumpra seu papel, levando os diversos atores sociais a
deixarem o campo do discurso e a tomarem decisões efetivas para a garantia dos direitos
das crianças.
Saiba mais sobre o papel da Frente Parlamentar da Primeira Infância ouvindo o áudio
que se segue e consultando o site: https://frentedaprimeirainfancia.com.br/blog/
https://www.camara.leg.br/radio/programas/559554-leandre-pv-pr-frente-
parlamentar-em-defesa-da-primeira-infancia/
44
45
De fato, não se pode falar em uma legislação de promoção de direitos sem um
processo de monitoramento de sua implementação (PAES DE BARROS, COUTINHO,
MENDONÇA, 2016). As crianças vivem no mundo real, de modo que a lei de fato existe
para elas quando se traduz em ações concretas.
Saiba mais sobre a atuação da Rede Nacional Primeira Infância e também sobre as
Redes Estaduais da Primeira Infância em: http://primeirainfancia.org.br/
45
46
E em abril de 2020 foi lançado o Pacto Nacional pela Primeira Infância, por
iniciativa do Conselho Nacional de Justiça, com base no Projeto “Justiça começa na Infância:
Fortalecendo a atuação do Sistema de Justiça na promoção do desenvolvimento humano
Integral”, do qual o presente curso é uma das ações.
Para saber maiores detalhes, acesse o Portal do Pacto Nacional pela Primeira
Infância: https://www.cnj.jus.br/programas-e-acoes/pacto-nacional-pela-primeira-
infancia/
1.2.2. Como o Marco Legal da Primeira Infância coloca o Brasil na Era dos Direitos
Positivos?
46
47
queremos começar a promover, a ajudar. Isso é o que chamamos de direito positivo”
(idem).
Nessa perspectiva, compreendemos a mudança de paradigma representada pelo
Marco Legal da Primeira Infância como a passagem da era dos direitos negativos, tais como
não morrer prematuramente, não passar fome, não ser vítima de maus tratos ou
negligência para a era dos direitos positivos, tais como o direito ao brincar, a ser estimulada
de acordo com sua faixa etária, a desenvolver seu potencial físico, emocional, social e
cognitivo.
Esta distinção também representa a passagem de ações como proteger, defender,
prevenir, para ações mais construtivas como promover oportunidades para se
desenvolver, promover condições para poder efetivamente usufruir das oportunidades
oferecidas e estimular o aproveitamento das oportunidades disponíveis (BARROS, 2018).
Outra mudança de paradigma nesta concepção é a compreensão do recurso
destinado às ações para primeira infância como “investimentos”, não como “gastos”.
Finalmente, Paes de Barros (2018) aponta que um dos fatores que geram
diferenças entre países é justamente que os mais enriquecidos são os que investem nos
direitos positivos e assim se fortalecem. Enquanto os países com economias menos
sustentáveis despendem muitos gastos com direitos negativos, os quais não oferecem
significativo retorno e desenvolvimento nem para os indivíduos nem para a Nação. O
processo de criar mecanismos para investimento na atenção à primeira infância coloca o
Brasil na era dos direitos positivos, conforme se observa:
47
48
48
49
1.2.3 As crianças e o Marco Legal da Primeira Infância: história e políticas
Um breve histórico
49
50
ECA
Lei 8.069/1990
POLÍTICAS Código de
PÚBLICAS Processo Penal
PARA A
PRIMEIRA Dec.-Lei
INFÂNCIA 3.689/1941
Marco Legal da
Primeira Infância
Lei 13.257/2016
Declaração de
CLT
Nascido Vivo
Dec.-Lei
Lei
5.452/1943
12.662/2012
EMPRESA
CIDADÃ
Lei
11.770/2008
50
51
✓ O apoio à participação das famílias nas "redes de proteção e cuidado" da criança
em seus contextos sociofamiliar e comunitário visando, entre outros objetivos, a
formação e o fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários, com
prioridade aos contextos que apresentem riscos ao desenvolvimento da criança e
às famílias em condição de vulnerabilidade;
✓ A necessidade de ampliação da oferta de educação infantil de qualidade para
crianças de 0 (zero) a 3 (três) anos, assim como a criação de espaços lúdicos que
propiciem o bem-estar, o brincar e o exercício da criatividade em locais públicos e
privados onde haja circulação de crianças, bem como a fruição de ambientes livres
e seguros em suas comunidades.
✓ A prisão domiciliar em caso de gestantes ou mães cumprindo prisão preventiva, de
modo a não se comprometer as condições de desenvolvimento da criança.
✓ Entre muitos outros dispositivos que propiciam condições positivas para o
desenvolvimento da criança, no momento oportuno.
Trata-se, portanto, de um artefato legal instituído no sentido de promoção de
condições para o desenvolvimento integral da pessoa em sua fase mais oportuna, que é a
primeira infância. Reforça-se que as crianças tem direito a serem tratadas com afetividade,
respeito e estímulos apropriados ao desenvolvimento de todas suas competências.
Deste modo, temos uma lei que nos proporciona melhores concepções e
dispositivos para se efetivar a plena garantia dos direitos da criança, que historicamente
reclama especial atenção do Poder Público e da sociedade civil. Esta ressalta estratégias
desde o planejamento à implementação de ações específicas, voltadas ao atendimento
qualificado das necessidades e interesses das crianças, em um momento tão relevante da
vida e que, por certo, trará repercussões positivas em toda sua existência, assim como na
sociedade como um todo.
51
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camara/estruturaadm/altosestudos/pdf/obra-avancos-do-marco-legal-
da-primeira-infancia
VÍDEO 3
Vídeo sobre a Lei do Marco Legal da Primeira Infância, produzido pelo Senado Federal.
Disponível em:https://www.youtube.com/watch?v=jTxb1w7F9jo
Referências Bibliográficas:
ALMEIDA, Ordália Alves de. O Marco Legal da Primeira Infância: quais infâncias, quais crianças?
Em: Caderno de trabalhos e debates da Câmara Federal. Brasília, 2016, p. 133 a 140.
52
53
SARMENTO, Manoel J. Gerações e alteridade: interrogações a partir da sociologia da Infância.
Revista Educação e Sociedade, Campinas, v. 26, n. 91, p. 361-78, mai./ago, 2005.
53
0
54
Aula 3: Teorias do Desenvolvimento e a Neurociência da
Primeira Infância
54
55
➢ Harry Harlow (1905-1981) observou, a partir de um experimento com primatas não
humanos, que a necessidade de segurança e afeto sobressaía-se à necessidade de
alimento.
➢ John Bowlby (1907-1990) e Donald Woods Winnicott (1896-1971) desenvolveram a
Teoria do Apego, observando a importância da relação inicial que se desenvolve entre
o bebê e seu cuidador principal – geralmente a mãe. Notaram, ainda, que o vínculo
afetivo, denominado apego, oferece a segurança necessária para a criança explorar o
ambiente e assim aprender, como estabelece o padrão de relacionamentos
subsequentes.
➢ René Spitz (1887-1974) e Françoise Dolto (1908-1988) contribuíram para a
compreensão das correlações entre o desenvolvimento, o apego e o ambiente,
identificando efeitos da situação de privação afetiva, como a depressão anaclítica em
bebês, o hospitalismo e a importância da comunicação com os bebês.
➢ Wilhelm Reich (1897-1957) trouxe a compreensão da autorregulação do
comportamento pela própria criança como importante aspecto de desenvolvimento
humano.
➢ A antropóloga Margaret Mead (1901-1978) iniciou o debate sobre o papel do
aprendizado social na formação da identidade, questionando a crença em
comportamentos instintivos e trazendo a compreensão do papel da cultura no
desenvolvimento humano desde a infância.
➢ Albert Bandura (1925-) iniciou a Teoria Social Cognitiva, ampliando a abordagem
behaviorista para consideração dos aspectos sociais de aprendizado pela imitação.
➢ Henri Wallon (1879-1962) observou que o desenvolvimento motor precede o
cognitivo, enfatizando a importância da afetividade e dos aspectos físicos para a
construção da inteligência. A Teoria de Wallon foi muito importante para os trabalhos
relacionados à psicomotricidade, e ele foi precursor da superação da dicotomia entre
natureza e cultura, ao considerar que “o ser humano é um ser biologicamente social”.
➢ O psicólogo russo Lev Vygotsky (1896-1934) postulou a Teoria Sócio-histórica,
observando que as crianças aprendem ativamente e através de experiências práticas,
e cunhou o conceito de zona de desenvolvimento proximal, que é o espaço entre o que
a criança pode fazer com ajuda e o que ela pode fazer por conta própria.
➢ Interessando-se pela gênese do pensamento, a partir da observação de seus próprios
filhos, Jean Piaget (1896-1990) desenvolveu a Teoria dos Estágios de
55
56
Desenvolvimento Infantil (sensório-motor, pensamento operacional, pensamento
formal e formal) e também inaugurou o estudo científico do desenvolvimento moral.
➢ A partir de sua experiência no cuidado de crianças institucionalizadas em Lóczy,
Budapeste, a médica austríaca Emmi Pikler (1902-1984) observou a importância do
movimento livre e do cuidado realizado por figuras de referência para a promoção do
desenvolvimento autônomo da criança. A Abordagem Pikler tem especial relevância
para compreensão da importância do respeito à individualidade e ao ritmo de
desenvolvimento de cada criança.
➢ Ampliando a compreensão de como o contexto influencia o desenvolvimento, Urie
Bronfenbrenner (1917-2005) criou a Teoria Ecológica do Desenvolvimento Humano,
definindo que este é um processo de mudanças e continuidade das características
biopsicológicas dos indivíduos, no curso da vida e das gerações, em função de quatro
elementos que interagem: o processo, a pessoa, o contexto e o tempo (PPCT).
➢ Após atender cerca de 25 mil crianças, o pediatra do Hospital de Boston, Thomas Berry
Brazelton (1918-2018) elaborou a Teoria dos Momentos Críticos do
Desenvolvimento (Touchpoints), considerando que o período mais decisivo do
desenvolvimento humano seria até os três anos. Ele observou que nessa fase, por um
breve espaço de tempo, o comportamento da criança se desestrutura e, sem
compreender esses processos, muitos pais ou cuidadores também se desestabilizam,
56
57
destacando então a importância de ajudar os pais a entenderem o que acontece com
seus filhos (BRAZELTON, 2002).
➢ Abraham Maslow, em 1943, identificou uma hierarquia de necessidades humanas
básicas que orientam a motivação dos adultos, destacando as necessidades de
segurança e auto-realização.
➢ Seguindo essa inspiração, Brazelton e seu colega Greenspan (2002) buscaram
identificar as Necessidades Essenciais das Crianças para crescer, aprender e se
desenvolver, identificando as seguintes:
• Relacionamentos sustentadores contínuos.
• Proteção física, segurança e regras.
• Experiências que respeitem as diferenças individuais.
• Experiências adequadas ao desenvolvimento.
• Estabelecimento de limites justos, organização e expectativas.
• Comunidades estáveis, amparadoras e de continuidade cultural.
De acordo com esses autores, “a privação emocional pode causar tanto estrago
quanto a privação física e nutricional. Em alguns aspectos, o impacto da privação
emocional é ainda mais devastador devido à dor e à desorganização que ele causa”
(BRAZELTON; GREENSPAN, 2002, p. 179). Mas há intervenções reparadoras, que, por
meio da plasticidade cerebral e da resiliência, podem restaurar o curso do
desenvolvimento. Eles enfatizam, ainda, que “apenas indivíduos bem-alimentados e
educados são capazes de unir-se e abraçar uma ética mais ampla, de humanidade
compartilhada” (BRAZELTON; GREENSPAN, 2002, p.182).
57
58
VÍDEO 4
Assista ao vídeo “A Odisseia da Vida” para experimentar as novas possibilidades de
conhecimento sobre o processo de geração e nascimento de uma criança, que se tornaram
possíveis a partir dos avanços tecnológicos e científicos. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=TajhWjYGADs>
Embora no Brasil a primeira infância tenha sido consensuada como o período que
vai até os seis anos de idade, em outros países ela vai até os oito anos (FUJIMOTO, 2016).
E na própria primeira infância há períodos ainda mais sensíveis, conhecidos como
Primeiríssima Infância e Estratégia dos 1.000 dias. Cesar Victora, ex-presidente da
Sociedade Internacional de Epidemiologia e professor emérito da Universidade Federal de
Pelotas, destaca um período mais determinante dentro da primeira infância, que são os
1.000 primeiros dias de vida, que vão da gestação até os dois anos de idade.
“Os primeiros mil dias de vida determinam a saúde e o capital humano do adulto”,
explica Victora (2016). Por capital humano entende-se “a criança atingir a altura para a
qual tem o potencial genético, atingir o nível de inteligência, avançar na escola, ser
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economicamente produtiva como adulto e ter filhos saudáveis também” (idem). Deste
modo, “os primeiros dois anos são muito mais críticos que o terceiro, o quarto e o quinto
ano. São todos importantes, mas o começo da vida é mais crítico ainda” (VICTORA, 2016).
Esta afirmação se dá a partir de estudos longitudinais, nos quais Victora e sua equipe
acompanham o desenvolvimento de grupos de crianças de Pelotas-(RS desde o
nascimento até a vida adulta. Seus primeiros estudos de Coorte iniciaram em 1982 e lhe
permitiram correlacionar diversas variáveis, como aleitamento materno e quociente de
inteligência na vida adulta.
O dado mostra que aquela criança que foi amamentada por mais tempo,
pelo menos por nove meses, tem o QI de 3 a 5 pontos mais alto aos 30
anos de idade. Isso porque o leite materno é essencial para a formação do
cérebro humano. O tipo de ácido graxo que forma a infraestrutura do
cérebro só é encontrado no leite materno (VICTORA, 2016).
Você sabia?
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60
Os avanços das neurociências no campo do desenvolvimento humano na primeira
infância
60
61
Figura 3 – Mudanças nas proporções corporais do 2º mês fetal à idade adulta (AQUINO, 2011).
61
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Desenvolvimento sináptico
Mensagem básica
VÍDEO 5
Para visualizar a formação da arquitetura cerebral nos primeiros anos de vida, assista ao
vídeo “Arquitetura do Cérebro – Arquitetura Cerebral”, pílula do documentário: “O
Começo da Vida”. Disponível em:
<https://ocomecodavida.com.br/arquiteturadocerebrocc/>.
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Janela de oportunidades
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Figura 6 – Habilidades de funções executivas construídas nos primeiros anos da vida adulta
(CENTER FOR DEVELOPING CHILD, 2013b).
Funções executivas
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Conhecimento aplicado
Estresse tóxico
65
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tempo. Quanto mais experiências adversas na infância, maior a probabilidade de atrasos
no desenvolvimento e problemas de saúde posteriores, incluindo doenças cardíacas,
diabetes, abuso de substâncias e depressão, pois o elevado nível de cortisol no sangue por
ativação prolongada do sistema de resposta ao estresse repercute sobre o sistema
neuroendocrinoimunológico e pode destruir a ligação entre as sinapses que forma a
arquitetura cerebral, ou mesmo os próprios neurônios.
Apesar de o estresse ser algo indesejado, é importante saber que nem todo
estresse é tóxico. Shonkoff (2016) reconhece que situações de estresse fazem parte da
vida e que o sistema de resposta a ele existe nos animais para prepará-los para luta ou fuga,
em um mecanismo de sobrevivência e evolução da espécie. O hipotálamo, que está na
região central do cérebro, produz e secreta o hormônio adrenocorticotrópico (ACTH), que,
ao cair no sangue, estimula a produção do cortisol, também conhecido como “hormônio do
estresse”. Quando ocorre um estímulo adverso, este sistema é ativado, mas cessado o
estímulo, os níveis de cortisol retornam aos níveis normais, promovendo processos de
adaptação e formando resiliência.
66
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Estresse positivo
Experiências estressantes são muito comuns durante a infância, como receber uma
vacina, ter ansiedade para ir à escola ou enfrentar a ausência temporária da mãe nos
primeiros meses de vida. Estes são casos de estresse leve a moderado, em que a criança se
recupera logo, porque o sistema de resposta volta a seu nível inicial.
Quando a criança experimenta relacionamentos protetivos com a presença de
adultos afetuosos e responsivos bem como ambientes seguros, o estresse positivo pode
contribuir para o crescimento e desenvolvimento, desde que o estímulo não seja excessivo
ou dure muito tempo, excedendo a capacidade de adaptação da criança às situações. Estes
desafios são oportunidades para aprender diante de experiências negativas e adversas,
desenvolvendo assim a capacidade de resiliência.
O estresse é tolerável quando a criança responde a situações em que a exposição a
experiências ou estímulos apresentam um nível mais elevado de ameaça ao indivíduo, mas
em níveis toleráveis. Diante da perda de um membro da família, uma doença grave ou
desastres naturais, o impacto para a criança pode ser moderado ou reduzido se ela estiver
em ambientes protegidos ou amparada por um adulto.
O estresse fisiológico do organismo da criança pode ser minimizado ou amortecido
quando o ambiente promove alguma resposta que transmita à criança sentido de poder
contar com um adulto que a ajude a compreender o que está acontecendo, ao favorecer
uma sensação de controle sobre a situação. Isso facilita respostas adaptativas às
experiências adversas.
VÍDEO 6 e FÓRUM 1
Assista ao filme “O estresse tóxico prejudica o desenvolvimento saudável”, do Núcleo
Ciência Pela Infância (NCPI), disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=Wczs5QAyxQ0>.
Em seguida, reflita sobre alguma situação em sua vida pessoal ou profissional que ilustre
os diferentes níveis de vivência do estresse e os fatores protetivos que estavam
disponíveis para minimizar seus efeitos negativos.
67
68
Epigenética: a conexão entre a genética e o ambiente = superação da dicotomia
entre o inato e o adquirido
SAIBA MAIS!
Para compreender como a experiência pode moldar a genética e ser transmitida de uma
geração à outra, acesse o link e descubra o que é epigenética:
<https://developingchild.harvard.edu/translation/o-que-e-epigenetica/>.
VÍDEO 7 (opcional)
Assista ao Episódio 1 do Filme “O Começo da Vida”. O primeiro episódio da série, “O Bebê
Fantástico”, explora a importância das interações humanas nos primeiros anos de vida, que
se tornam um começo extraordinário para que os bebês alcancem seu verdadeiro
potencial.
Disponível em: https://www.videocamp.com/pt/movies/the-beginning-of-life-the-series-
fantastic-baby
68
69
aprender com a televisão, não podem aprender a partir de vídeos
educacionais. Eles aprendem a partir da interação com as pessoas, e
interação precisa ter resposta e apoio. O que a ciência tem a dizer é que
se deve cuidar das crianças que não estejam em ambiente protegido,
previsível e estável, que não estejam falando ou recebendo comunicação.
O que elas mais ouvem é “não”, “não” e “não”, em vez de “olhe essa
florzinha aqui”, ou “com que você quer brincar? (SHONKOFF, 2016).
• A depressão materna.
• A violência contra a criança ou a negligência.
• O abuso de substâncias psicoativas pelos pais.
VÍDEO 8
Assista ao filme “Construindo as competências do adulto” sobre desenvolvimento ativo de
competências, do Núcleo Ciência Pela Infância (NCPI), para consolidar a importância de
apoio aos adultos para interação positiva com as crianças.
Disponível em: <https://www.fmcsv.org.br/pt-BR/biblioteca/construindo-
competencias/?s=construindo,compet%C3%AAncias>.
69
70
Apesar dos importantes aportes trazidos pela Neurociência, é importante lembrar
que a hegemonia sobre certo modelo de desenvolvimento pode resvalar em um
reducionismo neurocientífico, restrito ao cérebro, como um dia foi hegemônico o
paradigma biomédico.
Cada vez mais, a Primeira Infância, terreno fértil para disputas, precisa estar
transversalmente distribuída pela via interdisciplinar e interinstitucional para escapar da
negação da diversidade humana e manter-se sensível às reivindicações de justiça social e
econômica que permitam igualdade de oportunidade para todos e para toda integralidade
que compõe o ser humano.
O novo Modelo de Desenvolvimento Humano que está em curso e tem sido
balizado pela valorização das especificidades de cada momento do desenvolvimento, que
ocorre de forma integrada, representa antes um convite ao fortalecimento da
intersetorialidade das Políticas Públicas e da parceria entre o Estado, a Sociedade e a
Família, considerando sua interdependência com o campo dos Direitos e da Justiça Social.
O que os novos achados da Neurociência, da Epigenética e das pesquisas
longitudinais trazem como contribuição fundamental é que devemos de fato começar pelo
começo, garantindo que os direitos sejam humanos e ecológicos, sem reducionismos, com
mais igualdade de oportunidades para o desenvolvimento de meninos e meninas logo no
começo da vida, em uma construção convergente entre os avanços das ciências e do
principal valor da Primeira Infância, que é o direito ao desenvolvimento do pleno potencial
humano, que tão bem se coaduna com o direito justíssimo à plena cidadania.
Considerações finais
70
71
responsivos no início da vida trazem resultados para todas as fases posteriores do
desenvolvimento humano.
A maior janela de oportunidades para o desenvolvimento integral está na primeira
infância. Sendo assim, sem ter a oportunidade de contar com um adulto de referência para
apoiar seu desenvolvimento por meio de um relacionamento afetivo, estável e
apropriadamente estimulante para cada fase, a criança perde uma importante e
fundamental chance de desenvolver suas competências.
71
72
Recapitulando os fundamentos do desenvolvimento humano na primeira
infância
72
73
de cada criança depende do cuidado responsivo às suas necessidades
de desenvolvimento (SOUZA; VERÍSSIMO, 2015).
Continuidade e mudança
73
74
Esta belíssima contradição dialética desperta os sentidos para a inexistência de
um desenvolvimento linear ou mecânico, nos quais as peças vão se encaixando em uma
visão reducionista do desenvolvimento e da criança. O desenvolvimento acontece em
várias direções, ao mesmo tempo. Certas habilidades desenvolvem-se em tempos
diferentes para crianças diferentes, um apelo à valorização da diversidade.
❖ Por esse motivo, é fundamental atender com prioridade a primeira infância, sendo
definido como 4º princípio do Marco Legal da Primeira Infância: “reduzir as
desigualdades no acesso aos bens e serviços que atendam aos direitos da criança
na primeira infância, priorizando o investimento público na promoção da justiça
social, da equidade e da inclusão sem discriminação da criança” (Lei 13.257/2016,
Art. 4º, inciso IV).
Toda criança é cidadã e exerce um papel social, com leis que estabelecem seus
direitos e deveres, em constante tutela dos seus responsáveis e do Estado. Porém,
dependendo das concepções de infância operantes em cada núcleo da sociedade, a
criança pode perder espaço de atuação e ver limitado o seu potencial de
desenvolvimento. Por isso, é fundamental que ela conte com condições de exercício de
seu protagonismo social.
74
75
O período pré-natal e os primeiros anos de vida são decisivos
❖ Neste ponto, o artigo 14º do Marco Legal da Primeira Infância merece ser lido na
íntegra, pois traz a previsão de políticas públicas específicas para promoção da
75
76
responsividade, por meio de programas governamentais de apoio às gestantes e
famílias com crianças na primeira infância.
Referências Bibliográficas
76
77
BRANCO, M. S. S.; LINHARES, M. B. M. The toxic stress and its impact on development in the
Shonkoff’s Ecobiodevelopmental Theorical approach. Estudos de Psicologia, Campinas, v. 35, n. 1,
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Conferência proferida com tradução simultânea no II Seminário Internacional do Marco Legal da
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Fontes, 2004.
78
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tradução simultânea no II Seminário Internacional do Marco Legal da Primeira Infância. 7 mai.
2014], 2016. Disponível em: <https://www2.camara.leg.br/a-
camara/estruturaadm/altosestudos/pdf/obra-avancos-do-marco-legal-da-primeira-infancia>.
Acesso em: 21 set. 2020.
79
80
Aula 4: As áreas prioritárias do Marco Legal da
Primeira Infância
Como vimos até aqui, o desenvolvimento humano na primeira infância é
multidimensional e abrange várias questões, requerendo ações associadas a vários
direitos estabelecidos em nossa legislação.
Ao planejar ações e políticas para promoção do desenvolvimento integral, nos cabe
então perguntar: - Quais são as áreas em que a criança e sua família precisam de mais
atenção?Podemos começar a pensar em relação às ações de responsabilidade
compartilhada que cabem ao Estado. Quais são as áreas prioritárias de atuação das
políticas públicas para o cuidado no começo da vida?
Segundo o Marco Legal da Primeira Infância (BRASIL, Lei 13.257/2016):
80
81
4.1. Saúde
A saúde é uma área prioritária pois ela é condição para a própria vida e para o bem-
estar em geral. Na primeira infância, vários aspectos do cuidado com a saúde configuram
um continuum do cuidado integral, entre as quais se destacam a Saúde da Gestante e da
Criança, que se desenvolvem em três grandes momentos:
• O Pré-natal – acompanhamento da gestação.
• O Parto e o Nascimento.
• A Puericultura – acompanhamento do crescimento e desenvolvimento da
criança.
Nestes processos, os grandes protagonistas são a mulher, a criança e seus
familiares, especialmente o pai ou parceiro. Os aspectos emocionais e sociais da gestação,
crescimento e desenvolvimento estão sendo cada vez mais difundidos em uma perspectiva
ampliada de atenção à saúde. Esses cuidados não são restritos ao que acontece no corpo
gravídico durante o pré-natal nem às medidas de crescimento (antropometria), como
pesar e medir o tamanho da criança.
A atenção à gestante e à criança deve ser dispensada por uma rede integrada que
ofereça o cuidado integral, respeitando a pessoa em suas dimensões físicas, psíquicas e
sociais. Esta perspectiva ampliada do cuidado deve ser centralizada na família e numa rede
integrada de serviços, que dê conta das adaptações necessárias à chegada da criança na
família.
81
82
O Pré-natal e a Puericultura são cada vez mais desempenhados por uma equipe
multiprofissional e interdisciplinar, uma vez que envolve médicos, enfermeiros, técnicos
de enfermagem, agentes comunitários de saúde (caso da Estratégia Saúde da Família),
fisioterapeutas, dentistas, terapeutas ocupacionais, psicólogos e outros.
Seria possível falar em um Pré-natal e uma Puericultura intersetoriais?
Acreditamos que sim, indicando algumas interfaces.
Cada vez mais profissionais da Educação Infantil se dão conta de que podem
desempenhar um grande papel interessando-se pelas mulheres grávidas e puérperas com
seus desafios para a conquista do pré-natal e maternagem efetivos. Por exemplo, a
chegada de um segundo bebê afeta o comportamento do filho mais velho, que não raro
externaliza comportamentos desadaptativos enquanto frequenta os centros de educação
infantil. Do mesmo modo, os profissionais da Educação podem acolher a mãe que leva a
criança à creche e não deseja interromper a amamentação, precisando assim de espaço
físico e incentivo para assegurar o direito do bebê a uma alimentação saudável, incluindo
a amamentação em seus dois primeiros anos de vida. Também no Ensino Médio, muitas
adolescentes grávidas e puérperas precisam de apoio para não abandonarem os estudos e
conciliarem a amamentação e os cuidados do bebê com a vida escolar.
Já para a Assistência Social, o atendimento às famílias grávidas e com crianças de
até seis anos é mais comum, sendo as medidas de proteção social, concessão de benefícios
específicos (Ex.: Auxílio Nutriz, Auxílio Natalidade, Bolsa Maternidade), prevenção de
agravos ou atuação contra a violação de direitos parte do corpo prático de ações dos
Centros de Referência em Assistência Social (CRAS) e dos Centros Especializados de
Referência em Assistência Social (CREAS), assim como também dos Serviços de
Acolhimento de adolescentes grávidas e recém-nascidos. A partir do Marco Legal da
Primeira Infância, uma atuação ainda mais específica tem sido ofertada a partir do
Programa Criança Feliz, que realiza apoio às gestantes e às famílias com crianças na
primeira infância, por meio de visitas domiciliares sistemáticas, em articulação com a rede
intersetorial.
Os operadores do Direito e os profissionais do Sistema de Justiça também
desempenham um papel essencial na garantia dos direitos da família grávida e com
crianças de até seis anos, sendo fundamentais para a atenção holística uma rede integrada
82
83
de Primeira Infância e outras entidades que atuam no Sistema de Garantia de Direitos,
como Conselhos Tutelares e organizações da sociedade civil.
VÍDEO 9
83
84
O parto é uma das ações primordiais da atenção integral à saúde na primeira infância,
envolvendo questões que podem não atender ao interesse superior da criança e da mãe.
Nesse sentido, recomendamos assistir ao documentário “O Renascimento do Parto”
Versão reduzida disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=3B33_hNha_8
Considerações finais
84
85
Em prol da atenção prioritária à primeira infância, no campo dos direitos à saúde, à
alimentação e à nutrição, é importante:
• Reconhecer que a saúde da criança começa no planejamento reprodutivo, na
saúde pré-concepcional e no pré-natal.
• Apoiar as ações do Pré-natal, da Humanização do Parto e Nascimento bem
como da Puericultura em todos os seus âmbitos, principalmente imunização de
gestantes, parceiros e crianças, alimentação saudável e combate à desnutrição
e à obesidade da gestante e da criança, numa visão intersetorial,
multiprofissional e interdisciplinar, sendo assim uma tarefa de todos.
• Realizar a vigilância do estado de saúde da criança.
• Promover sempre e garantir, de acordo com sua governabilidade e liderança,
os direitos das famílias grávidas e/ou com crianças de até seis anos, pois isso
permite o desenvolvimento integral da criança com repercussões na saúde, no
aprendizado e no comportamento para toda a vida.
85
86
3. Atenção Integral à Saúde da Criança (2016).
Disponível em:
https://ares.unasus.gov.br/acervo/html/ARES/9258/1/livro_saude_crianca.pdf
Referências Bibliográficas
ANDRADE; LIMA, 2004. O Modelo Obstétrico e Neonatal que defendemos e com o qual
trabalhamos. Em: Humanização do Parto e Nascimento. Caderno Humaniza SUS. Caderno 4, 2014.
BRASIL. Atenção ao pré-natal de baixo risco – Cadernos da Atenção Básica. 2012. Disponível em:
<http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/cadernos_atencao_basica_32_prenatal.pdf>. Acesso
em: 6 out. 2020.
86
87
ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE. Manual para vigilância do desenvolvimento
infantil no contexto da AIDPI. 2005. Disponível em: <https://www.paho.org/spanish/ad/fch/ca/si-
desenvolvimento.pdf>. Acesso em: 6 out. 2020.
SANTOS, M. D.; MARICONDI, A. M. Conversando sobre puerpério. Caderno da Equipe “Toda Hora
é Hora de Cuidar”, p. 20-23, 2013. Disponível em:
<http://www.ee.usp.br/site/dcms/app/webroot//uploads/arquivos/caderno_equipe.pdf>. Acesso
em: 6 out. 2020.
87
88
4.3. Educação Infantil
88
89
Intencionalmente planejadas e permanentemente avaliadas, as práticas que
estruturam o cotidiano das instituições de Educação Infantil devem considerar a
integralidade e indivisibilidade das dimensões expressivo-motora, afetiva, cognitiva,
linguística, ética, estética e sociocultural das crianças, apontar as experiências de
aprendizagem que se espera promover às crianças e efetivar-se por meio de modalidades
que assegurem as metas educacionais de seu projeto pedagógico.
A Base Nacional Comum (BNCC) para a etapa da Educação Infantil, fixada pela
Resolução 02/2017 do Conselho Nacional de Educação, considerando os princípios
definidos pelas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil MEC/2009),
organiza-se a partir dos direitos de aprendizagem e desenvolvimento, dos campos de
experiências e dos objetivos de aprendizagem e desenvolvimento, elementos esses que se
integram na articulação entre necessidades, interesses, experiências e curiosidades das
crianças de 0 a 5 anos e os patrimônios artístico, cultural, ambiental, científico e
tecnológico.
A educação infantil no Brasil registrou muitos avanços nos últimos anos. O direito
à educação a todas as crianças pequenas desde seu nascimento representa uma conquista
importante para a sociedade brasileira. Porém, para que esse direito se traduza realmente
em melhores oportunidades educacionais para todos e em apoio significativo às famílias
com crianças de até cinco anos de idade, é preciso que as creches e as pré-escolas garantam
um atendimento de boa qualidade, destaque esse feito pelo Marco Legal da Primeira
Infância:
89
90
reconhecimento de seus direitos de frequentar um local que garanta as interatividades
pedagógicas promovidas pelos professores. Estes por sua vez, na medida em que planejam
os espaços e tempos, devem oportunizar às crianças a construção e desconstrução do seu
brincar, bem como de suas pesquisas corporais e sonoras, possibilitando convivências
diversas nestes espaços educacionais.
Referências bibliográficas
90
91
4.4. Convivência Familiar e Comunitária
91
92
Sobre o Conceito de Família
Para Dalva Gueiros (2010), as famílias das camadas populares que estão mais
comumente organizadas em rede (com participação de outros parentes e vizinhos no
convívio e em prol da sobrevivência) e que têm como foco o sistema de obrigações e ajuda
diferenciam-se das famílias das camadas sociais médias que se organizam em núcleos
centrados no parentesco. Trata-se, portanto, de uma estratégia de sobrevivência e
materialidade histórica (distante do modelo romântico ou idealizado).
Dentre os primeiros espaços e instituições sociais que ampliam a convivência da
criança além da família podemos identificar os parques públicos, os grupos de brincadeiras,
92
93
a creche e a escola. Quando o afastamento da família é necessário e a aplicação da medida
protetiva de acolhimento é inevitável, a manutenção da criança em sua comunidade de
origem (relações de amizade no bairro e na escola) pode ser uma boa estratégia de redução
de danos, razão pela qual o § 7º do Art. 101 do ECA dispõe que “o acolhimento familiar ou
institucional ocorrerá no local mais próximo à residência dos pais ou do responsável”.
Como vimos nas temáticas anteriores, a criança forma memórias a partir do
convívio e do ambiente em que nasce e cresce, o que gera um sentimento de familiaridade
e senso de pertencimento que precisa ser considerado ao se buscar formas de garantir
seus direitos.
93
94
4.5. Assistência Social à Família da Criança
94
95
É MUITO IMPORTANTE ENTENDER A ASSISTÊNCIA SOCIAL COMO UM DIREITO, NÃO COMO UMA
BENESSE. FAMÍLIAS CIDADÃS SÃO FONTE DE CIDADANIA DE SEUS FILHOS.
95
96
3. SUAS hierarquizado por níveis de complexidade, em Proteção Social Básica e a
Proteção Social Especial (de Média e Alta Complexidade), conforme o nível de
agravamento das situações e especificidade do atendimento.
4. Gestão democrática e participativa com instâncias de pactuação interfederativa –
Comissões Intergestores Bipartites (CIBs), com representantes das esferas
estadual e municipal, e Comissões Intergestores Tripartites (CITs), que agregam a
área federal e o controle social – Conselhos de Assistência Social.
96
97
Na perspectiva protetiva, pelo contrário, há centralidade da garantia de direitos
sociais com base nos princípios da universalidade e equidade, pois somente através deles
é possível consolidar a cidadania e caminhar para a equidade e justiça social. Nessa
perspectiva, as políticas públicas são pensadas no sentido de apoiar as famílias e fortalecer
sua capacidade protetiva.
Referências Bibliográficas
97
98
4.6. A cultura, o brincar e o lazer
A cultura é fundadora das ações e dos pensamentos das pessoas a todo o momento
e reflete o modo de vida de cada um de nós (que é construído desde a primeira infância) e
da sociedade. É apenas a partir da garantia do direito à cultura, ao brincar e ao lazer que a
plenitude do desenvolvimento humano terá seu fluxo contínuo e a criança despertará para
a realidade cultural em que está inserida, não apenas como receptora, mas como produtora
de cultura. Com base nesse fundamento, o Marco Legal da Primeira Infância determina
que:
Art. 15. As políticas públicas criarão condições e meios para que, desde a
primeira infância, a criança tenha acesso à produção cultural e seja
reconhecida como produtora de cultura (Lei 13.257/2016).
9*
8/
99
Marco Legal da Primeira Infância quanto à importância de se assegurar às crianças o
direito de acesso à transmissão das crenças e culturas familiares.
Com vistas à efetivação desta área prioritária para o desenvolvimento de todas as
crianças, nos âmbitos familiar, social e institucional, a seguir você terá subsídios para uma
melhor compreensão sobre o direito de brincar, a natureza do brincar e seu papel no
desenvolvimento da criança, os impedimentos à efetivação desse direito, a importância
dos espaços para brincar e o papel do adulto, destacando a necessidade de capacitação
ampla sobre o tema. Lembrando que a criança é fruidora e produtora de cultura por meio
do brincar. O lúdico é fonte de confiança e autonomia à medida que a criança conhece os
valores culturais de sua comunidade e cria formas de ver o mundo por meio desse brincar.
O direito de brincar
Sob o ponto de vista da legislação brasileira, o direito ao brincar e ao lazer são
assegurados pelas seguintes legislações:
99
100
• Marco Legal da Primeira Infância (2016), Arts. 5º e 17. No seu artigo 5º assinala
que: “Constituem áreas prioritárias para as políticas públicas pela Primeira Infância
a saúde, (...) o brincar e o lazer (...)” e no seu artigo 17 especifica que:
100
101
O que é o Brincar?
O brincar é caracterizado pelos seguintes atributos: diversão, incerteza, desafio,
flexibildade e não produtividade. O Comentário Geral nº 17 sobre o CDC, na sua página
5, parágrafo 14C, oferece uma definição do brincar que é amplamente reconhecido por
especialistas das mais diversas áreas:
101
102
• Livro “A descoberta do brincar”, de Maria Ângela Barbato Carneiro e Janine Dodge.
102
103
• “Apostila brincar: Propostas práticas para brincadeiras inclusivas na educação infantil”
produzido pela Fundação Volkswagen em parceria com a Associação Nova Escola.
Disponível em: https://www.fmcsv.org.br/pt-BR/biblioteca/apostila-brincar-
propostas-praticas-brincadeiras-inclusivas-educacao-infantil/
• Vídeos “O Jogo de Ação e Reação Modela os Circuitos do Cérebro” e “Ação e Reação”,
produzidos pelo Centro para o Desenvolvimento da Criança da Universidade de
Harvard. Disponíveis em:
https://developingchild.harvard.edu/translationcategory/pt/
• Entrevista com a Profa. Tizuko Morchida, da Faculdade de Educação da USP, “Na
Íntegra – Tizuko Morchida – O brincar na educação infantil”. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=09w8a-u-AUU (parte 1) e
https://www.youtube.com/watch?v=QomXuPFJc8c (parte 2).
• Entrevista com a psicóloga Rita Góes Bezerra de Moraes. Disponível em:
https://lunetas.com.br/para-lidar-com-criancas-e-preciso-observa-las-diz-psicologa/
Os impedimentos ao Brincar
VÍDEO 10
Série de vídeos “Infância e Tecnologia” produzidos pelo Instituto Alana.
103
104
Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=eKMTzYmuW0g&list=PLwtaWcfcrGsbDAJ
SXxCghgg3j30CaqI6b&index=1
104
105
espaços tradicionais oferecidos para brincar, como parques e playgrounds. Podem
também ser contemplados espaços informais e cotidianos, incluindo, por exemplo,
mudanças ao nível da rua (sinalização, regulamentação do trânsito, procedimentos
acessíveis para o fechamento de rua, intervenções de agentes do brincar, proteção de
pequenos terrenos abandonados) e engajamento da comunidade (defesa de direitos,
audiências públicas sobre o brincar, capacitação ampla sobre o papel do adulto no brincar)
(LESTER; RUSSELL, 2008).
VÍDEO 11
• Sobre espaços e materiais não estruturados para brincar:
o Vídeo “Scrapstore PlayPods – Early Years”, com legenda em português.
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=bKuzWd5eSx8
VÍDEO 12
• Sobre brincar na natureza:
o Conheça brincadeiras jogadas ao ar livre nas produções visuais do
Território do Brincar. Disponível em:
https://territoriodobrincar.com.br/videos-categorias/
• “A última criança na natureza: resgatando nossas crianças do transtorno do
déficit de natureza”, de Richard Louv (2009).
• Sobre brincar no contexto urbano:
o MARTINS, Edna. O brincar educa? A brincadeira como prática educativa
na família. São Paulo: PUC-SP, 2003. Disponível em:
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o LESTER, Stuart; RUSSELL, Wendy. Play for change. Play, policy and
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60892013000200346&lng=en&nrm=iso
105
106
O brincar é um direito da criança, mas a oferta das oportunidades para brincar é
um dever dos adultos, já que as crianças dependem deles para ter esse direito assegurado.
Mas, para isso, precisam primeiro reconhecer e valorizar a importância do brincar.
Pesquisa Nacional de 2017 mostra que apenas 17% dos pais brasileiros concordaram que
brincar e passear/ receber carinho e afeto é importante para o desenvolvimento das
crianças na primeira infância. Aparentemente, o conhecimento dos brasileiros sobre a
importância do brincar não mudou significativamente em mais de uma década. Em 2006,
apenas 14% dos pais brasileiros de crianças de seis a doze anos espontaneamente
reconheciam o brincar como importante para o desenvolvimento de seus filhos
(CARNEIRO; DODGE, 2007). Sem sensibilizar os pais para o assunto, não há como esperar
engajamento deles no tema, muito menos ação efetiva para mudar a realidade atual.
A demanda por conhecimento, informações qualificadas e práticas efetivas sobre
o brincar é muito grande. Além dos pais, há necessidade de sensibilizar, informar e
capacitar todos aqueles que cuidam das crianças, incluindo jovens, idosos, profissionais e
gestores públicos das mais diversas áreas que trabalham com ou para as crianças, sobre o
brincar. Há cinco anos, juntamente com a organização Terre des Hommes e em parceria com
o Centro Paula Souza (SP), a IPA Brasil ofereceu o primeiro curso de qualificação
profissional sobre o brincar no Brasil. O curso, já na décima quarta turma, vem sendo o mais
procurado na ETEC Parque da Juventude em SP, onde é oferecido: são mais de sete
candidatos interessados por vaga. A demanda por conhecimento, informações
qualificadas e práticas efetivas sobre o brincar é muito grande. Porém, ainda há muito a se
fazer para sensibilizar os brasileiros.
106
107
4.7. O Espaço e o Meio Ambiente
As crianças, assim como todos nós, vivem no espaço constituído pelo ambiente
natural e pelo ambiente construído. A organização do ambiente tem especial impacto para
o desenvolvimento da criança.
Os espaços urbanos em geral não são planejados para o tamanho da criança nem
para sua segurança. Diante dessa observação, a Fundação Bernard van Leer desenvolveu
o projeto “Urban 95”, sendo que 95 refere-se a 95 centímetros, que é a altura aproximada
de uma criança de três anos de idade. Como uma criança de três anos vive, percebe e
experimenta os espaços de sua casa, de sua escola, de sua cidade?
Entre os desafios observados para a primeira infância no contexto urbano estão a
falta de locais para brincar e descansar, o distanciamento da natureza, a poluição sonora, a
poluição do ar, as distâncias entre os vários locais que devem ser frequentados pela criança
e sua família, o risco da solidão e do isolamento, devido ao modo como são construídas as
habitações, sem espaços de convivência comunitária como praças, por exemplo.
Este direito ao espaço e ao meio ambiente relaciona-se intimamente com a
importância da construção de cidades e comunidades sustentáveis. É na primeira infância
que a criança desenvolve as competências para uma relação amigável e sustentável com o
meio ambiente e a natureza, a partir das experiências que tiver oportunidade de vivenciar
no espaço em que vive.
Uma das diretrizes do Estatuto da Cidade, que dialoga com a filosofia do Marco
Legal da Primeira infância é a “(...) garantia do direito a cidades sustentáveis, entendido
como direito à terra urbana, à moradia, ao saneamento ambiental, à infraestrutura urbana,
ao transporte e aos serviços públicos, ao trabalho e ao lazer, para as gerações presentes e
as futuras (Estatuto da Cidade, art., 2º, inciso I).
Nesta área, portanto está incluída a atenção à garantia e qualidade do espaço de
moradia, com saneamento básico e acesso ao transporte e à rede de serviços. A casa é um
107
108
espaço essencial para o desenvolvimento humano, especialmente na primeira infância.
Contudo, ainda precisamos avançar nas políticas de moradia vinculadas ao apoio às
famílias para promoção do desenvolvimento integral na primeira infância.
Referências:
BRASIL. Estatuto da Cidade. Lei 10.257, de 10 de julho de 2001. Estabelece diretrizes gerais da
política urbana e dá outras providências. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/LEIS_2001/L10257.htm
REDE NACIONAL PRIMEIRA INFÂNCIA (RNPI) e CONANDA. Plano Nacional pela Primeira
Infância. 2010. Disponível em: http://primeirainfancia.org.br/wp-content/uploads/2015/01/PNPI-
Resumido.pdf
108
109
4.8. A proteção da criança contra toda forma de violência
109
110
(GILBERTI, 2010). E um dos piores efeitos da violência é fragilização do vínculo de
confiança necessário para um desenvolvimento saudável..
Do latim violentia, o termo violência pode ser definido como o ato de violar outrem
ou de se violar. Refere-se a “algo fora do estado natural, algo ligado à força, ao ímpeto, ao
comportamento deliberado que produz danos físicos, tais como ferimentos, tortura, morte
ou danos psíquicos, que produz humilhações, ameaças, ofensas” e que expressa atos
contrários à liberdade e à vontade de alguém (PAVIANI, 2016). Trazendo para o campo da
Primeira Infância, a Lei 13.431/2017, em seu segundo artigo, ao referir-se ao gozo da
criança e do adolescente dos direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, diz que
para preservação da saúde física e mental e para o desenvolvimento moral, intelectual e
social são necessárias oportunidade e facilidades para a proteção integral e para viver sem
violências. Nos termos da citada legislação, são formas de violência:
110
111
b) o ato de alienação parental, assim entendido como a interferência na
formação psicológica da criança ou do adolescente, promovida ou
induzida por um dos genitores, pelos avós ou por quem os tenha sob sua
autoridade, guarda ou vigilância, que leve ao repúdio de genitor ou que
cause prejuízo ao estabelecimento ou à manutenção de vínculo com este;
c) qualquer conduta que exponha a criança ou o adolescente, direta ou
indiretamente, a crime violento contra membro de sua família ou de sua
rede de apoio, independentemente do ambiente em que cometido,
particularmente quando isto a torna testemunha;
III – violência sexual, entendida como qualquer conduta que constranja a
criança ou o adolescente a praticar ou presenciar conjunção carnal ou
qualquer outro ato libidinoso, inclusive exposição do corpo em foto ou
vídeo por meio eletrônico ou não, que compreenda:
a) abuso sexual, entendido como toda ação que se utiliza da criança ou do
adolescente para fins sexuais, seja conjunção carnal ou outro ato
libidinoso, realizado de modo presencial ou por meio eletrônico, para
estimulação sexual do agente ou de terceiro;
b) exploração sexual comercial, entendida como o uso da criança ou do
adolescente em atividade sexual em troca de remuneração ou qualquer
outra forma de compensação, de forma independente ou sob patrocínio,
apoio ou incentivo de terceiro, seja de modo presencial ou por meio
eletrônico;
c) tráfico de pessoas, entendido como o recrutamento, o transporte, a
transferência, o alojamento ou o acolhimento da criança ou do
adolescente, dentro do território nacional ou para o estrangeiro, com o
fim de exploração sexual, mediante ameaça, uso de força ou outra forma
de coação, rapto, fraude, engano, abuso de autoridade, aproveitamento
de situação de vulnerabilidade ou entrega ou aceitação de pagamento,
entre os casos previstos na legislação;
IV – violência institucional, entendida como a praticada por instituição
pública ou conveniada, inclusive quando gerar revitimização (BRASIL, Lei
13.431/2017, art. 4º).
111
112
Trabalho Infantil
Outro tipo de violência é o trabalho infantil. Atualmente, por lei, o trabalho é
permitido a partir dos 16 anos, desde que não seja em situação insalubre, perigosa ou no
horário noturno. Aos 14, é permitido o ingresso como aprendizes. Na medida em que
aumenta a vulnerabilidade das famílias, com a perda de renda, as crianças saem para ajudar
no orçamento familiar. As consequências são o aumento da evasão escolar e danos físicos
e emocionais, com grande prejuízo para o desenvolvimento da criança e do adolescente
com menos de 14 anos. A consequência disso é a perpetuação ciclo da pobreza.
O que se percebe hoje, em virtude do alto número do desemprego e da retração da
economia, em virtude da pandemia, é um aumento do trabalho infantil, seja para o
complemento da renda, seja pela ajuda no trabalho doméstico, conforme pesquisa
realizada pelo UNICEF, em um levantamento com 52,7 mil famílias em São Paulo (MELLO,
2020).
112
113
Legislação e Sistema de Garantia de Direitos
113
114
Para saber mais:
• Ouça a música Semente de Emicida que de modo poético trata de um tema delicado
como o trabalho infantil. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=C7l0AB--I3c>
• O filme “Um Crime entre nós” é um olhar ousado e provocativo para a luta pelo fim da
exploração sexual de crianças e adolescentes. Disponível em:
https://www.videocamp.com/pt/movies/um-crime-entre-nos>
• Sobre o aumento da violência no contexto da Pandemia da COVID-19:
<https://nacoesunidas.org/unicef-criancas-e-adolescentes-estao-mais-expostos-a-
violencia-domestica-durante-pandemia/>
Referências bibliográficas
BRASIL. Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. Disque 100. 2020. Disponível
em: <https://www.gov.br/mdh/pt-br/acesso-a-informacao/disque-100-1>. Acesso em: 17 set.
2020.
BRASIL. Constituição Federal. Título VIII. Capítulo VII. Da Família, da Criança, do Adolescente, do
Jovem e do Idoso. Disponível em:
<https://www.senado.leg.br/atividade/const/con1988/con1988_06.06.2017/art_227_.asp>.
Acesso em: 17 set. 2020.
BRASIL. Marco Legal da Primeira Infância. Lei 13.257 de 8 de março de 2016. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2016/lei/l13257.htm
BRASIL. Lei Menino Bernardo. Lei 13.010 de 26 de junho de 2014. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2014/Lei/L13010.htm
114
115
BRASIL. Lei da Escuta Protegida. Lei 13.431 de 4 de abril de 2017. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2017/lei/l13431.htm
CORALINA, Cora. Vintém de cobre: meias confissões de Aninha. 2. ed. Goiânia: Editora da
Universidade Federal de Goiás, 1984.
GILBERT K. L. et al. Childhood Adversity and Adult Chronic Disease – An Update from Ten States
and the District of Columbia. 2010. Disponível em: <https://www.ajpmonline.org/article/S0749-
3797(14)00512-1/pdf>. Acesso em: 17 set. 2020.
MELLO, Daniel. Aumenta incidência de trabalho infantil em São Paulo durante pandemia. Agência
Brasil. 2020. Disponível em: <https://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2020-
08/aumenta-incidencia-de-trabalho-infantil-durante-pandemia-em-sao>. Acesso em: 17 set. 2020.
PAVIANI, G. Conceitos e formas de violência. Conceitos e formas de violência. Caxias do Sul, RS:
Educs, 2016. Disponível em: <https://www.ucs.br/site/midia/arquivos/ebook-conceitos-
formas_2.pdf>. Acesso em: 17 set. 2020.
UNICEF. Violência contra crianças é crime e deixa traumas para toda a vida. Disponível em:
<https://www.unicef.org/brazil/comunicados-de-imprensa/violencia-sexual-contra-criancas-e-
crime-e-deixa-traumas-para-toda-a-vida>. Acesso em: 17 set. 2020.
115
116
4.9. A prevenção de acidentes
O que é acidente?
Quase três mil e seiscentas crianças de até 14 anos morrem anualmente e outras 111 mil são
hospitalizadas no Brasil. As crianças são mais vulneráveis a uma série de perigos porque suas
habilidades sensório-motoras ainda não se desenvolveram totalmente. Assim, na Primeira
Infância precisam de mais atenção e cuidados para não sofrerem acidentes, porque ainda não
tem muita noção do que é perigo.
116
117
desenvolvimento na prevenção de acidentes, as crianças socialmente mais vulneráveis são
as que mais precisam estar no topo das prioridades da atenção e dos recursos contra
acidentes.
Diversos fatores socioeconômicos se relacionam à ocorrência de acidentes na
Primeira Infância e podem afetar o risco de acidentes de diversas formas, incluindo renda
familiar, educação materna, estrutura familiar, pais solteiros, idade da mãe, número de
pessoas na casa, número de filhos, tipo de moradia, nível de superlotação etc. Em famílias
pobres, os pais podem não ter disponibilidade para cuidar ou supervisionar
adequadamente seus filhos e terão que deixá-los sozinhos ou com irmãos para irem
trabalhar. Comprar equipamentos de segurança, como cadeirinhas para carro, protetores
de tomada e capacetes, pode não ser possível para famílias nessas condições e que em
muitos casos estão expostas a ambientes perigosos.
Figura 1. Distribuição de acidentes entre crianças menores de 1 ano a 14 anos por tipo de
acidente. Disponível em: <https://criancasegura.org.br/dados-de-acidentes/>
117
118
O que trabalhar com as famílias
Alguns cuidados com a criança são essenciais, como mantê-la sempre sob a
vigilância de um adulto, não confiar que ela ainda não é capaz de rolar, evitar que crianças
cuidem de outras, tornar o ambiente seguro, impedir o acesso a locais onde haja risco de
queda, impedir o acesso a líquidos quentes ou inflamáveis, isqueiros, fósforos, fios e
tomadas elétricas, evitar a ingestão de produtos tóxicos, proteger de ferimentos,
afogamento e asfixias, e, principalmente, dar exemplo e ensinar medidas de segurança.
Prevenir acidentes não é retirar a liberdade da criança de descobrir o mundo, mas garantir que
ela possa fazer isto em segurança!
118
119
VÍDEO 13
Assista ao vídeo “Acidentes na Primeira Infância, com isso não se brinca”. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=k3Ra3Hnnppo
119
120
4.10. Proteção da criança contra a pressão consumista
Mas qual é o interesse das empresas ao direcionar suas estratégias comerciais para
o público infantil? As crianças são consideradas fonte de intensa rentabilidade por
empresas de diversos segmentos, em razão de exercerem forte influência sobre os adultos
para aquisição de produtos e serviços no âmbito de seus lares. Segundo pesquisa do
Interscience (2003), as crianças brasileiras influenciam em até 80% as decisões de compras
domésticas. Já estudo de 2019 promovido pelo Instituto Locomotiva aponta que 9 em cada
10 pais/mães são influenciados pelas crianças nas compras do supermercado e 70%
120
121
afirmam gastar mais nas compras quando estão acompanhados dos filhos. Ainda, além de
ser entendida como a consumidora de hoje e promotora de venda dentro do seu círculo
familiar, a criança também é percebida pelo mercado como a consumidora do futuro, visto
que, como são expostas e impactadas por estratégias comerciais desde a mais tenra idade,
tendem a ser mais fiéis a certas marcas e ao próprio hábito consumista que lhes é imposto.
121
122
Resolução ainda considera abusiva a publicidade no interior de creches e instituições de
ensino infantil e fundamental, inclusive em seus uniformes ou materiais didáticos.
Por fim, o Marco Legal da Primeira Infância (Lei nº 13.257/2016), em seu artigo 5º,
estabelece como prioridade na promoção de políticas públicas para a primeira infância a
proteção contra toda a forma de pressão consumista e a adoção de medidas que evitem a
exposição precoce à comunicação mercadológica.
122
123
pertencimento é cruel em relação a elas, em especial em uma sociedade
desigual como a nossa.
123
124
financeiro das crianças ao incutir, desde cedo, uma cultura de consumo excessivo e
endividamento. O texto também aponta que a publicidade direcionada ao público infantil
pode levar ao endividamento das famílias, que, pressionadas a suprir necessidades e
desejos de seus filhos, acabam comprando itens desnecessários (geralmente à custa de
outras necessidades domésticas importantes) que estão além do seu orçamento e sem
levar em conta as consequências financeiras de longo prazo.
124
125
fomentando a reflexão sobre o consumismo infantil por meio de rodas de conversa e
organização de Feiras de Trocas de Brinquedos.
VÍDEO 14
• Documentário “Criança: a alma do negócio”. Disponível em:
https://www.videocamp.com/pt/movies?query=crian%C3%A7a+a+alma+do+neg%C
3%B3cio
VÍDEO 15
• Documentário “Muito Além do Peso”. Disponível em:
https://www.videocamp.com/pt/movies/muito-alem-do-peso
125
126
• Consumismo infantil: na contramão da sustentabilidade. Disponível em:
https://criancaeconsumo.org.br/wp-content/uploads/2013/02/A1.pdf
• O que você precisa saber sobre a decisão do STJ. Disponível em:
https://criancaeconsumo.org.br/noticias/o-que-voce-precisa-saber-sobre-a-decisao-
do-stj/
Referências bibliográficas
BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Guia alimentar para a população brasileira. Brasília: MS, 2014.
Disponível em:
<https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_alimentar_populacao_brasileira_2ed.pdf>.
Acesso em 7 out. 2020.
BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Sistema Nacional de Vigilância Alimentar e Nutricional.
Brasília: MS, 2018.
GRUPO DE PESQUISA DA RELAÇÃO INFÂNCIA, JUVENTUDE E MÍDIA (GRIM). Publicidade
infantil em tempo de convergência. s/d. Disponível em:
<https://www.defesadoconsumidor.gov.br/images/manuais/publicidade_infantil.pdf>. Acesso em
7 out. 2020.
INSTITUTO LOCOMOTIVA. Crianças Brasileiras. 2019. Disponível em:
https://criancaeconsumo.org.br/wp-content/uploads/2019/11/Crian%C3%A7as-brasileiras-
Locomotiva-Dotz-PPT-Outubro-de-2019.pdf>. Acesso em 7 out. 2020.
INTERSCIENCE. Como atrair o Consumidor Infantil, atender expectativas dos Pais e ainda,
ampliar as Vendas. 2003. Disponível em: https://criancaeconsumo.org.br/wp-
content/uploads/2014/02/Doc-09-Interscience-1.pdf>. Acesso em 7 out. 2020.
OFFICE OF THE UNITED NATIONS HIGH COMMISSIONER FOR HUMAN RIGHTS (OHCHR).
UN experts call for regulating advertising directed at children. 9 ago. 2016. Disponível em:
126
127
http://www.ohchr.org/EN/NewsEvents/Pages/DisplayNews.aspx?NewsID=20358&LangID=
E>. Acesso em 7 out. 2020.
SILVA, Ana Beatriz B. Mentes consumistas: do consumismo à compulsão por compras. São Paulo:
Globo, 2014.
127
128
Aula 5: Parentalidade positiva, parentalidade
brincante
O que é Parentalidade?
128
129
proporcionando autonomia para se tornar um adulto pleno, com a possibilidade de
alcançar seu potencial em habilidades física, emocional e cognitiva.
Ampliando a definição sobre o conceito de família hoje, também dizemos que ela é
o espaço mais imediato onde a criança vai ser atendida (ou não) em suas necessidades de
sobrevivência, afeto e socialização, constituindo assim sua principal rede de proteção e
afeto – motivo pelo qual precisamos valorizar o protagonismo da família como principal
responsável pelo desenvolvimento infantil.
Isso não quer dizer que a família tenha que dar conta da tarefa sozinha. Cabe ao
Estado, por meio de políticas públicas, fortalecer as famílias, em especial aquelas que se
encontram em situação de vulnerabilidade, para que possam exercer o seu papel.
Precisamos trabalhar com a perspectiva da responsabilidade compartilhada, oferecendo
suporte social, apoio financeiro, condições dignas de moradia, espaços de aprendizado e
convivência, proporcionando dignidade e reconhecimento de suas competências no
cuidado dos filhos.
Práticas parentais
129
130
• O envolvimento dos pais/cuidadores nas brincadeiras também fortalece os
relacionamentos por meio da afetividade, contribuindo para uma melhor comunicação
entre pais/cuidadores e crianças, favorecendo o sentimento de autoconfiança e
promovendo a habilidade relacionada à resiliência no enfrentamento de desafios.
• O reforço está relacionado ao modo como pais/cuidadores reagem diante de bons
resultados obtidos pela criança. A demonstração de alegria e elogios diante de
comportamentos adequados funcionam como reforço positivo.
• A disciplina adequada envolve diálogo e explicações diante de comportamentos e
atitudes indevidas da criança. Contribui para que ela compreenda as consequências de
suas ações sobre si mesma e sobre os outros. Entre os muitos métodos disciplinadores,
aqueles que têm maior impacto são os que promovem consciência - como retirar
liberdade, não fazer elogios e chamar a atenção para os impactos da atitude e do
comportamento errado sobre os outros e sobre si mesma – em vez daqueles centrados
na privação de objetos e privilégios.
• Maus tratos físicos (bater, empurrar, puxar orelha etc.) e psicológicos (gritar, ameaçar,
humilhar etc.) que têm impacto negativo no crescimento, no desenvolvimento e na
aprendizagem da criança, ocasionando problemas psicológicos, emocionais, sociais e
cognitivos ao longo da vida.
• Disciplina relaxada: quando pais/cuidadores colocam regras e não as fazem cumprir.
Consiste na falta de imposição de limites e ausência de correções em circunstâncias de
mau comportamento. Essa prática pode levar as crianças a concluírem que regras não
precisam ser cumpridas e que não devem respeito às autoridades.
• A disciplina de contingência coercitiva caracteriza-se pelo uso de gritos, violência física,
ameaças ou privação de privilégios e afeto. Em geral não leva à compreensão do erro
pela criança.
• Punição inconsistente acontece quando pais/cuidadores castigam as crianças de
acordo com seus estados emocionais. Podem ignorar ou exagerar nas punições
conforme o humor do momento. Esta prática leva a criança a ter dificuldade na
identificação do certo e do errado, com possível prejuízo para sua autoestima.
130
131
• Monitoria negativa acontece quando o controle é exercido de modo excessivo e
estressante. Induz a criança a comportamento agressivo, ansiedade e depressão.
• Excesso de críticas e ausência de elogios gera comunicação negativa entre a criança e
os pais/cuidadores. Provoca desconfiança, insegurança, frustração e agressividade.
Estilo Parental
• Participativos: ocorre quando existe uma comunicação aberta e de escuta entre pais e
filhos. O controle também se baseia na empatia, com orientações claras e consistentes.
Os pais se tornam um suporte emocional para os filhos.
• Autoritários: caracteriza-se por uma relação de exigência em relação ao cumprimento
de regras e normas rígidas, com muita punição e pouca empatia. Os pais não oferecem
suporte emocional, levando ao distanciamento entre pais e filhos.
• Permissivos: neste padrão, os pais muitas vezes são dominados pelos filhos, realizam
todos os desejos e acatam todas as ações sem assumirem o papel de orientação e de
imposição de limites.
• Negligentes: ocorre quando os pais não se fazem presentes na vida dos filhos e
demonstram baixo nível de aceitação, de suporte e de controle.
Os estilos parentais também servem como orientação. Seres humanos são muito
diferentes entre si, e a presença ou predominância de determinado comportamento está
condicionada a muitas variáveis, como as características dos filhos de acordo com seu
desenvolvimento, gênero, temperamento etc., assim como a maneira que os pais tendem a
reproduzir ou modificar comportamentos recebidos.
131
132
autoritários e permissivos favorecem um baixo rendimento (MACANA;
COMIM, 2015).
Parentalidade Desenvolvimental
Parentalidade Brincante
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133
Quadro 1 – Esquema de Parentalidade Brincante (CAMARGO, 2020).
VÍDEO 16
Assista ao vídeo “Como brincar na rotina”.
Disponível em:<https://www.tempojunto.com/2018/07/20/10-atitudes-brincantes-
para-voce-adotar-ja-e-ter-um-dia-a-dia-muito-melhor/>
• “Ser pai e mãe é quase sinônimo de culpa”, diz Vera Iaconelli sobre parentalidade nos
dias de hoje.
Disponível em: <https://paisefilhos.uol.com.br/familia/ser-pai-e-mae-e-quase-
sinonimo-de-culpa-diz-vera-iaconelli-sobre-parentalidade-nos-dias-de-hoje/>
• Processo de parentalidade na construção da família contemporânea e seus reflexos
jurídicos.
Disponível em: <https://conteudojuridico.com.br/consulta/Artigos/53489/o-
processo-de-parentalidade-na-construo-da-famlia-contempornea-e-seus-reflexos-
jurdicos>.
133
134
VIDEO 17
Tornar-se Pai, Tornar-se Mãe.
Disponível em: <https://ocomecodavida.com.br/tornando-pais-ep-02/>.
• Avaliação dos benefícios de Políticas para a Primeira Infância para apoio à
parentalidade.
Disponível em: <http://primeirainfancia.org.br/wp-
content/uploads/2017/01/sintese_primeira_infancia_nov_16.pdf>.
Considerações finais
Os programas de cuidado oferecidos pelas políticas públicas não são capazes de suprir
integralmente as lacunas do desenvolvimento infantil no ambiente familiar. Trata-se,
portanto, de um trabalho integrado entre família, sociedade e poder público, em que as
práticas parentais como mediadoras do cuidado são de grande importância.
Referências bibliográficas
134
135
Aula 6: A situação da parentalidade no Brasil:
contexto, impacto e perspectivas
Diante da importância da interação da criança com suas figuras de apego primárias,
que são as figuras materna e paterna, cabe perguntar: “Como é ser mãe e pai em nosso
País?”, “Qual é o contexto para o exercício da maternidade e da paternidade no Brasil?”,
“Quais impactos o Marco Legal da Primeira Infância tem trazido em prol dessa experiência
fundamental?” e “Quais perspectivas temos à frente?”.
Anteriormente tratamos sobre a maternidade, e agora vamos discutir sobre o
papel do pai na vida da criança, já que é de extrema importância, apesar de sabermos que
historicamente se atribuía apenas à mulher a função de cuidar dos filhos. Neste sentido, o
Marco Legal da Primeira Infância cumpre um importante papel ao destacar que a
responsabilidade pelo cuidado e educação dos filhos é tanto da mãe quanto do pai, sendo
assim uma responsabilidade compartilhada:
135
136
se recuperar, e por essa razão entendeu-se que o pai precisava permanecer pelo menos
cinco dias prestando o auxílio que se julgava necessário. A Constituição Federal de 1988
foi promulgada com a determinação de cinco dias de licença-paternidade e 120 dias de
licença-maternidade (art. 7º).
O Equilíbrio Trabalho e Família é um dos âmbitos de políticas voltadas para famílias e
também para a primeira infância. O equilíbrio trabalho e família consiste em síntese em um
problema de escassez de tempo pela qual passa a maioria das famílias. Pais e mães enfrentam
no dia a dia inúmeros desafios para arcar com suas diversas funções: profissionais e familiares
(que incluem as funções de cuidado e o trabalho doméstico). Pode-se questionar se essa não é
uma questão essencialmente de cunho privado das famílias. Porém, reconhecendo o impacto
que a ausência dos pais tem nos primeiros anos de vida da criança e o impacto sobre a
produtividade de muitos trabalhadores - dada a insatisfação e a ansiedade gerada por se
sentirem incapazes de atenderem a todas as suas responsabilidades - esse tema emerge como
prioritário na agenda de políticas públicas para a primeira infância.
Dessa forma, os governos devem estimular políticas e programas que incentivem a
adoção de boas práticas de equilíbrio trabalho e familia, tais como: teletrabalho, banco de horas,
flexibilização do horário de trabalho, redução de jornada, licenças, incluindo licenças parentais,
dentre outras. O objetivo principal de politicas nesse âmbito é aumentar a disponibilidade de
tempo para que os pais possam se dedicar ao cuidado integral dos filhos especialmente nessa
fase de intenso desenvolvimentos infantil. Tal objetivo só poderá ser concretizado a partir da
promoção de um modelo de corresponsabilidade tanto no nível social (governo, empresas,
sociedade civil e famílias) como no nível familiar (com a promoção de uma maior participação
do pai nas funções de cuidado e doméstica).
O impacto positivo do maior envolvimento dos homens na paternidade – sejam
eles pais biológicos ou não – vem sendo comprovado, especialmente, para a saúde
materno-infantil, o desenvolvimento cognitivo das crianças, o empoderamento das
mulheres, a saúde e o bem-estar dos próprios homens (PROMUNDO BRASIL, 2016).
Nesse contexto, a fim de viabilizar condições para o exercício da paternidade de
forma mais presente e equitativa, o Marco Legal promoveu o aumento da licença
paternidade para mais quinze dias, resultando agora em 20 dias. De fato, antes do Marco
Legal da Primeira Infância, indiretamente o Estado passava aos pais a mensagem de que
sua principal função era apenas de provedor, sendo o mais importante voltar logo às
136
137
atividades laborais, enquanto que a mulher ficava sozinha como responsável pelos
cuidados diretos do recém-nascido e de si mesma.
A licença-paternidade estendida foi possível apenas para os trabalhadores
vinculados ao Programa Empresa Cidadã, devido à dificuldade das empresas como um
todo para conceberem a licença-paternidade como um investimento na promoção do
desenvolvimento humano em vez de considerá-lo como um gasto.
Diante da alçada do Estado sobre os servidores públicos e considerando a
responsabilidade compartilhada também do Estado em relação à prioridade absoluta,
este direito foi concedido a todos os servidores públicos imediatamente após a
promulgação da Lei 13.257/2016. Assim, o aumento da licença paternidade foi o primeiro
ato de implementação do Marco Legal da Primeira Infância em larga escala.
137
138
campo da paternidade e cuidado, integrando ações da sociedade civil, do governo e do
setor privado, assim como da integração desse campo com a promoção da equidade entre
homens e mulheres.
No entanto, apesar da maior visibilidade e a despeito do que está escrito em nossos marcos
legais, a cobrança pelo cuidado das crianças continua recaindo sobre as mulheres. Para
uma parte significativa da sociedade, persiste certa tolerância relacionada à não
participação, ao abandono ou ao não reconhecimento de filhos por parte dos pais, o que
pode ser ilustrado pela estimativa de que mais de 5.000.000 de estudantes brasileiros
permanecem sem o nome do pai na certidão de nascimento e no documento de identidade
(CNJ, 2015). Por outro lado, também persistem lacunas da responsabilidade
compartilhada do Estado e da Sociedade em relação às condições para efetivação dos
direitos necessários para o exercício pleno da paternidade e da parentalidade. O contexto
de exclusão social que ainda caracteriza nosso país tem impactos também em relação ao
usufruto da licença paternidade, que consistiria em uma estratégia de promoção do
desenvolvimento integral das crianças na primeira infância. Segundo a Pesquisa Nacional
Saúde do Homem Paternidade e Cuidado, realizada pela Coordenação de Saúde do
Homem do Ministério da Saúde, em parceira com ouvidoria do SUS, aproximadamente
metade dos homens cujos filhos nasceram em maternidades públicas não conseguem
usufruir da licença paternidade, sendo que o principal motivo do não usufruto da licença
paternidade é que a maioria dos pais trabalha por conta própria ou sem carteira assinada.
A segunda razão apontada é o fato de estarem desempregados, em gozo de férias ou
afastados pelo INSS no período.
138
139
Parentalidade compartilhada: reflexões e estratégias para os avanços necessários
139
140
VÍDEO 17
Assista no vídeo a seguir o relato de um homem sobre a importância da sua relação com o
filho e a ressignificação da experiência com seu próprio pai, a partir da participação no
Programa P: <https://promundo.org.br/recursos/curta-mencare-brasil/>.
140
141
Como será a participação do homem no pré-natal,
parto e puerperio no âmbito dos serviços de saúde.
Você sabia?
Durante o debate para aprovação do Marco Legal da Primeira Infância, na
Câmara dos Deputados, houve receio de que o aumento da licença-paternidade
gerasse, ao invés de apoio à mulher e à criança, mais sobrecarga decorrente de
demandas do homem em casa. Optou-se, então, por incluir o seguinte dispositivo na
Lei, para promoção da paternidade ativa:
II – será garantida ao empregado da pessoa jurídica que aderir ao
Programa (Empresa Cidadã), desde que o empregado a requeira no
prazo de 2 (dois) dias úteis após o parto e comprove participação em
programa ou atividade de orientação sobre paternidade
responsável (BRASIL, Lei 13.257/2016, art. 38).
141
142
conclusão de 84,5%. É o terceiro curso mais acessado do AVASUS, num rol 245 cursos
disponibilizados pelo Ministério da Saúde.
Caso deseje conhecer o curso e seus depoimentos acesse:
<https://avasus.ufrn.br/local/avasplugin/cursos/curso.php?id=67>.
VÍDEO 18
No vídeo a seguir, disponível na plataforma Viva mais SUS sobre o Pré-Natal do Parceiro,
você pode observar a importância da participação do pai desde o acompanhamento da
gestação:
<http://portalarquivos.saude.gov.br/campanhas/vivamaissus/prenatal_index.html>
1
https://www.ilo.org/wcmsp5/groups/public/---americas/---ro-lima/---ilo-
brasilia/documents/publication/wcms_229658.pdf
142
143
parentais, inclusive de licenças paternidade 2 , com o intuito de aumentar a participação
masculina nas tarefas de cuidado.
No Brasil, foi instalado desde o início de 2020, no âmbito da Comissão Interinstitucional
da Frente Parlamentar da Primeira Infância da Câmara dos Deputados, um grupo de Trabalho
sobre Licença Parental coordenado por Family Talks - uma iniciativa da Associação de
Desenvolvimento da Família, organização da sociedade civil. Dado o contexto de crise
econômica e pandemia que assola o país, um dos motivadores para instalação do GT foi o
aproveitar as lições do momento, sobretudo as novidades nas relações de trabalho, tais como a
ampla adoção do teletrabalho, para pensar alternativas para a configuração de uma licença
parental viável para o Brasil. O GT ainda encontra-se em funcionamento contando com a
participação de diferentes setores do governo, entidades da sociedade civil e organizações
internacionais. Os três principais desafios que vêm sendo debatidos no âmbito do grupo são:
1. A discussão sobre qual deve ser a diretriz prioritária em uma possível licença parental
no Brasil: a expansão do tempo dos pais com a criança, garantindo o direito à
amamentação até os 6 meses de vida, ou a promoção da igualdade de gênero nas
funções de cuidado com o objetivo de reduzir, também, as desigualdades entre homens
e mulheres no mercado de trabalho.
2. Caso a prioridade seja a expansão dos tempos de licença disponíveis para pais e mães,
a discussão se dirige para o campo das fontes de financiamento. Existem também outras
possibilidades para enfrentar o desafio do financiamento nesse momento de crise, tais
como a licença parental optativa não remunerada ou uma licença caracterizada pela
flexibilização da jornada, com a opção de redução da jornada de trabalho, teletrabalho
ou mesmo alternância dos dias de trabalho entre os pais. Outra possibilidade é de não
haver expansão no tempo disponível para as licenças maternidade e paternidade, mas
transformá-las em uma única licença parental, dando maior liberdade às famílias para a
a divisão do trabalho de cuidado.
3. A promoção de um duplo modelo de corresponsabilidade: seja no âmbito social, (entre
governo, sociedade civil e empresas); seja no âmbito familiar, (entre homens e
mulheres). Diante da promoção desse modelo o maior desafio a ser enfrentado é o
envolvimento e convencimento tanto do setor empresarial quanto dos homens, ante os
2
https://undocs.org/A/75/61-E/2020/4. “(d) Invest in a variety of work-family balance policies focused,
inter alia, on expanding childcare services and parental leaves, including paternity leaves”.
143
144
benefícios evidentes da garantia de melhores condições de cuidado para todas as
famílias.
Considerações Finais
Para os Homens:
* Estímulo ao autocuidado com a saúde;
* Redução dos índices de morbimortalidade masculina;
* Incentivo ao exercício de práticas de cuidados;
* Promoção do envolvimento ativo no processo gravídico, com a realização do Pré-Natal do
Parceiro;
* Encorajamento à participação efetiva no momento do parto, com o corte do cordão
umbilical e realização do método canguru quando necessário;
* Ampliação do conhecimento de seus direitos legais em relação à licença paternidade;
* Melhoria da saúde mental e satisfação com a vida e o trabalho;
* Motivação para divisão igualitária das tarefas domésticas e consequente aumento da
equidade de gênero;
* Fomento ao ensino e aprendizado de valores de igualdade de direitos e respeito;
* Estímulo a práticas de cuidado real, como segurar a criança, dar banho, trocar fraldas,
colocar para dormir;
* Promoção do exercício de masculinidades saudáveis.
Para a Sociedade:
144
145
* Fomento de investimentos em estudos relacionados ao exercício da paternidade ativa;
* Incentivo à criação de dispositivos de escuta de pais sobre suas dúvidas e anseios para o
exercício da paternidade ativa, como a formação de grupos de apoio a homens.
Para o Governo:
* Promoção da intersetorialidade para discussão sobre paternidade ativa, garantindo maior
efetividade das políticas públicas;
* Incentivo à qualificação dos trabalhadores de diversas áreas, como saúde, educação, justiça,
desenvolvimento social, sobre a paternidade ativa ;
* Fomento e apoio a ações relacionadas ao desenvolvimento da primeira infância.
* Diminuição de gastos provenientes das violências e acidentes, onde os homens são os
maiores envolvidos.
145
146
• Cartilha: Como envolver o homem trabalhador no planejamento reprodutivo, pré-
natal, parto e desenvolvimento da criança. Disponível em:
<http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/cartilha_trabalhador_envolver_planejamen
to.pdf>.
• Cartilha para pais. Disponível em:
<http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/cartilha_pais_exercer_paternidade_ativa.pd
f>.
• Folder Licença-Paternidade. Disponível em:
<http://portalarquivos2.saude.gov.br/images/pdf/2018/agosto/22/folder-licenca-
paternidade.pdf>.
Referências bibliográficas:
BRASIL. Lei 8069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e
dá outras providências. Brasília: Diário Oficial da União, 1990.
BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Glossário temático: saúde do homem [recurso eletrônico].
Brasília: Ministério da Saúde, 2018. 140 p.
BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Guia do pré-natal do parceiro para profissionais de Saúde.
Brasília: Ministério da Saúde, 2018.
BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem:
princípios e diretrizes. Brasília: Ministério da Saúde, 2009.
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA – CNJ. Pai presente: O reconhecimento que todo filho
espera. 2015. Disponível em: <https://www.cnj.jus.br/wp-
content/uploads/conteudo/destaques/arquivo/2015/04/b550153d316d6948b61dfbf7c07f13ea
.pdf. Acesso em: 29 set. 2020.
PROMUNDO – BRASIL. A Situação da Paternidade no Brasil: Tempo de Agir. Rio de Janeiro:
Promundo, 2016.
SILVA, Michelle Leite da. A paternidade em rede: subsídios para o exercício da paternidade ativa
dos pais/parceiros com base na Pesquisa Nacional Saúde do Homem-Paternidade e Cuidado-Etapa
III no Distrito Federal. Dissertação (Mestrado Profissionalizante em Saúde Coletiva) –
Universidade de Brasília, Brasília, 2019.
146
147
Aula 7: A Importância do investimento na Primeira
Infância e seus reflexos
147
148
americano James Heckman, juntamente com o economista português Pedro Carneiro e o
economista brasileiro Flávio Cunha. Ao estudarem políticas de capital humano que
buscavam a formação de habilidades para inclusão social e produtiva por meio de nutrição,
práticas educativas e orientação parental, Heckman e Carneiro (2003) observaram que o
retorno do investimento era significativamente maior quando as ações se iniciavam na
primeira infância.
A partir de seus estudos, Heckman e Carneiro (2003) concluíram que cada dólar
investido na primeira infância gera um retorno de 7 a 10 dólares no futuro e representa a
melhor estratégia de ruptura do ciclo de pobreza e redução da desigualdade social que
onera em políticas compensatórias a economia de muitos países.
SAIBA MAIS!
148
149
https://heckmanequation.org/resource/perry-preschool-midlife-toolkit/
SAIBA MAIS!
SAIBA MAIS!
149
150
Um terceiro programa de impacto, internacionalmente citado, é o Projeto
Abecedarian, também iniciado nos EUA, que consistiu na oferta de atenção de qualidade na
Educação Infantil, utilizando a abordagem de Vigotsky, para crianças dos 8 meses aos 6 ou
8 anos de idade. O estudo observou que crianças e suas famílias que tiveram igualmente
apoio em nutrição, assistência social e saúde diferenciaram-se significativamente em
medidas de desenvolvimento, incluindo QI, em função de um grupo ter recebido acesso à
pré-escola de qualidade durante 60 meses em tempo integral e o outro grupo não.
Observou-se que as mães também se beneficiaram, muitas que eram adolescentes tiveram
a oportunidade continuar seus estudos.
VÍDEO 19
A seguir, você pode assistir uma breve apresentação desses projetos e seus resultados:
https://ocomecodavida.com.br/tres-exemplos-de-intervencoes-na-primeira-infancia/
150
151
Quadro 1 – Cálculo do retorno do investimento no atendimento integral da criança hospitalizada
(Fonte: INSTITUTO DARA, 2013).
151
152
custos com saúde pública secundária e terciária, assistência social, sistema prisional, entre
outros.
152
153
A amamentação aumenta a inteligência não só na infância, mas também na vida
adulta, portanto é fundamental apoiá-la. Por isso, essa legislação sobre a primeira infância
é tão importante: não é só para fazer a criança mais saudável, mas sim para criar um país
mais rico, mais produtivo e mais equitativo na próxima geração, dando a todas as crianças
a oportunidade de alcançarem o seu potencial de crescimento e desenvolvimento
(VICTORA, 2016).
Shonkoff (2009) destaca que o que ocorre na primeira infância terá repercussões
para toda a vida. Deste modo, recomenda que:
153
154
• O desenvolvimento integral deve ser promovido.
• Deve haver relacionamentos estáveis, responsivos, estimulantes e ricos em
experiências de aprendizagem nos primeiros anos de vida que provêm benefícios
permanentes para a aprendizagem, para o comportamento e para a saúde física e
mental.
• Os avanços da neurociências precisam ser considerados, para evitar desperdício
de recursos que já são escassos.
Reflexos do investimento
Na terceira edição do The Lancet, indicada acima, sobre Primeira Infância, intitulada
“Advancing Early Childhood Development: From Science to Scale” (tradução livre:
“Avanços no Desenvolvimento Infantil: da Ciência a programas em larga escala”) foi
apresentado o modelo de Cuidado Integral multissetorial (Nurturing Care Framework), que
foi indicado como referência para promoção de oportunidades equitativas de
desenvolvimento humano na primeira infância, recomendando que todos os países com
154
155
crianças em situação de risco ao não desenvolvimento implementassem programas
integrados com esse objetivo.
155
156
3. SEGURANÇA - Combater vulnerabilidade de gestantes e crianças a riscos ambientais, incluindo
E PROTEÇÃO poluição do ar e exposição a produtos químicos.
- Proteger a criança de ambientes inadequados, do abandono e das violências
- Garantir a saúde mental dos cuidadores, trabalhando com eles para prevenir
maus-tratos.
- Brincar e falar com a criança, aproveitando os momentos de alimentação e
4. OPORTUNIDAD higiene para interação (o aprendizado começa na concepção).
ES DE
- Cuidados afetuosos e seguros dos adultos em um ambiente familiar com
APRENDIZAGE
M OPORTUNA orientação nas atividades diárias e no relacionamento com os outros.
- O cuidado responsivo inclui observar e responder aos movimentos, sons, gestos
e solicitações verbais das crianças.
5. CUIDADO
RESPONSIVO
- O cuidado responsivo também inclui alimentação responsiva, o que é
especialmente importante para bebês com baixo peso ou doentes.
- Vínculo emocional e interações sociais também estimulam conexões no cérebro.
156
157
2010 – Estudo sobre Determinantes do Desenvolvimento na Primeira Infância no
Brasil (IPEA)
2013 – Projeto de Lei 6.998/2013 (Dep. Osmar Terra, Dep. Carmen Zanotto e
outros)
157
158
Este histórico representa algo muito importante em relação aos avanços que vêm
sendo realizados no Brasil para o justo investimento na primeira infância: um diálogo
continuado, cada vez mais multisetorial e interfederativo.
158
159
Figura 4 – Orçamento investido na Assistência Social a Crianças e Adolescentes – Programa
Criança Feliz 2016-2020 (BRASIL, 2020).
159
160
Equidade, o quarto caminho
Para Jacques van der Gaag (2010), quatro “caminhos” fundamentais vinculam o
desenvolvimento da Primeira Infância (DPI) ao Desenvolvimento Humano (DH): a
Educação (investimento nos primeiros anos de vida afeta positivamente a progressão para
os próximos anos escolares), a Saúde (investimento nos primeiros anos de vida melhora o
capital humano e a saúde a longo prazo), o Capital Social (melhor comportamento
decorrente do investimento nos primeiros anos de vida) e a Equidade (redução da
desigualdade de oportunidades na sociedade). Estes levam ao maior crescimento
econômico e, portanto, ao desenvolvimento humano em ampla escala.
VÍDEO 20
160
161
Para concluir essa reflexão, recomendamos assistr ao clipe “Políticas Públicas” do
documentário “O Começo da Vida”, disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=7M6CoOD9QXU>.
Referências Bibliográficas
BARROS, R.P.; BIRON, L.; CARVALHO, M.; FANDINHO, M.; FRANCO, S.;MENDONÇA,
R.;ROSALÉN, A.; SCOFANO, A.; TOMAS, R.. Determinantes do Desenvolvimento na Primeira
Infância no Brasil. Brasília: Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), março, 2010.
Disponível em:
https://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=5032
BARROS, R. P.; COUTINHO, D.; MENDONÇA, R. Monitoramento e Avaliação: Desenhando e
implementando programas de promoção do desenvolvimento infantil com base em evidências. In:
Avanços do Marco Legal da Primeira Infância. Brasília: Cadernos de Trabalhos e Debates do
Centro de Estudos e Debates Estratégicos da Câmara dos Deputados, 2016. p. 194-201. Disponível
em: https://www2.camara.leg.br/a-camara/estruturaadm/altosestudos/pdf/obra-avancos-do-
marco-legal-da-primeira-infancia
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BARROS, R. P. Ministério da Cidadania. Apresentação realizada na Conferência Internacional "O
Poder do Investimento na Primeira Infância para o Desenvolvimento com Equidade". Brasília:
Ministério da Cidadania, 2018.
BRASIL. Ministério da Saúde. Síntese de evidências para Políticas de Saúde: Promovendo o
Desenvolvimento na Primeira Infância. Brasília: Ministério da Saúde, 2016.
BRASIL. Senado Federal. Siga Brasil Painel Cidadão. Orçamento investido na Assistência Social a
Crianças e Adolescentes – Programa Criança Feliz 2016-2020. Brasília: Senado Federal, 2020.
Disponível em:
http://www9.senado.gov.br/QvAJAXZfc/opendoc.htm?document=senado%2Fsigabrasilpainelcid
adao.qvw&host=QVS%40www9&anonymous=true&Sheet=shOrcamentoVisaoGeral
DARMSTADT, G. Aumento de iniciativas e investimentos na Primeira Infância, em nível mundial.
Em: Lançamento do The Lancet Advancing on Early Childhood Development: From Science to Scale.
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economia. A Equação Heckman. 2017. Disponível em:
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15.pdf>. Acesso em: 21 set. 2020.
HECKMAN, J. Skill Formation and the Economics of Investing in Disavantaged Children. Science, v.
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INSTITUTO DARA. Avaliando a Associação Saúde Criança. Sumário. out. 2013. Disponível em:
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SHONKOFF, J. P. Changing the Narrative for Early Childhood Investment. JAMA Pediatrics, v. 168,
n. 2, fev. 2014.
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THE LANCET. Advancing on Early Childhood Development: From Science to Scale. Series. 4 out.
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YOUNG, M.E. Por que investir na Primeira Infância. Em: Avanços do Marco Legal da Primeira
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da Câmara dos Deputados, 2016. pp. 21-23. Disponível em: https://www2.camara.leg.br/a-
camara/estruturaadm/altosestudos/pdf/obra-avancos-do-marco-legal-da-primeira-infancia
163
164
Aula 8: Políticas Públicas Nacionais para Primeira
Infância
Agora que percorremos a trajetória de conquistas na legislação, os fundamentos e
teorias que evidenciam a importância do cuidado integral na primeira infância, as áreas
prioritárias indicadas no Marco Legal da Primeira Infância e o valor do investimento em
políticas para promoção do desenvolvimento humano nessa fase da vida, vamos conhecer
mais detalhadamente as principais políticas públicas organizadas pelo Estado Brasileiro,
que se relacionam à primeira infância.
164
165
ser promovida e a prevenção dos agravos a fazer parte do planejamento das políticas
públicas. (Fonte: https://pensesus.fiocruz.br/sus)
O atendimento pelo Sistema Único de Saúde (SUS) acontece em três níveis de atenção:
A atenção primária à saúde ou atenção básica é conhecida como a "porta de entrada" dos
usuários nos sistemas de saúde. Seu objetivo é orientar sobre a prevenção de doenças,
solucionar os possíveis casos de agravos e direcionar os mais graves para níveis de
atendimento superiores em complexidade. A APS é capaz de resolver até 85% das
demandas de saúde, sem a necessidade de ir a um serviço de emergência ou pronto-
socorro. A atenção primária funciona, portanto, como um filtro capaz de organizar o fluxo
dos serviços nas redes de saúde, dos mais simples aos mais complexos.
No Brasil, há diversos programas governamentais relacionados à atenção primária, sendo
um deles a Estratégia de Saúde da Família (ESF), que leva serviços multidisciplinares às
165
166
comunidades por meio das Unidades de Saúde da Família (USFs). Consultas, exames,
vacinas, atividades coletivas de promoção da saúde e prevenção de agravos são
disponibilizados aos usuários nas USFs.
A atenção primária também envolve outras iniciativas, como: as Equipes de Consultórios
de Rua, que atendem pessoas em situação de rua; o Programa Melhor em Casa, de
atendimento domiciliar; o Programa Brasil Sorridente, de saúde bucal; o Programa de
Agentes Comunitários de Saúde (PACS), que busca alternativas para melhorar as
condições de saúde de suas comunidades, o Programa Saúde na Escola, etc.
Dentre os equipamentos que compõem a APS estão Unidades de Saúde da Família (USF),
as Unidades de Saúde Fluviais, as Unidades Odontológicas Móveis (UOM), as Academias
de Saúde e os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) que auxiliam as pessoas em
sofrimento mental.
O que é?
A Estratégia Saúde da Família (ESF) busca promover a qualidade de vida da população
brasileira e intervir nos fatores que colocam a saúde em risco, como falta de atividade física,
má alimentação, uso de tabaco, etc. Com atenção integral, equânime e contínua, a ESF se
fortalece como a porta de entrada do Sistema Único de Saúde (SUS).
A proximidade da equipe de saúde com o usuário permite que se conheça a pessoa, a
família, a vizinhança e as condições sociais e ambientais a que estão expostas as famílias de
um determinado território. Isso garante uma maior adesão do usuário aos tratamentos e
às intervenções propostas pela equipe de saúde, bem como amplia o olhar da equipe para
as necessidades da população, reforçando o princípio da integralidade da APS. O resultado
é mais problemas de saúde resolvidos na Atenção Primária, sem a necessidade de
intervenção de média e alta complexidade em uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA
24h) ou hospital.
A Equipe de Saúde da Família está ligada à Unidade de Saúde da Família (USF) local. Esse
nível de atenção é capaz de resolver até 85% dos problemas de saúde da população.
Contudo, se a pessoa precisar de um cuidado de maior complexidade, a ESF é responsável
por realizar este encaminhamento.
166
167
A Estratégia Saúde da Família (ESF) é composta por equipe multiprofissional que possui,
no mínimo, médico generalista ou especialista em saúde da família ou médico de família e
comunidade, enfermeiro generalista ou especialista em saúde da família, auxiliar ou
técnico de enfermagem e Agentes Comunitários de Saúde (ACS). Também há equipe de
Saúde Bucal, composta por cirurgião-dentista generalista ou especialista em saúde da
família, auxiliar e/ou técnico em Saúde Bucal.
O número de ACS deve ser suficiente para cobrir 100% da população cadastrada, com um
máximo de 750 pessoas por agente e de 12 ACS por equipe de Saúde da Família, não
ultrapassando o limite máximo recomendado de pessoas por equipe.
Cada equipe de Saúde da Família deve ser responsável por, no máximo, 4.000 pessoas de
uma determinada área.
167
168
Estudos de impacto indicam que a presença dos ACS tem impacto positivo na redução da
mortalidade infantil e está diretamente relacionada à qualidade do atendimento
realizado). Além da consulta médica e de enfermagem para redução da mortalidade
infantil, salienta-se a importância do papel dos ACS no incentivo ao aleitamento materno,
busca ativa das crianças com esquema vacinal em atraso ou que não foram às consultas de
puericultura, incremento na adesão ao tratamento com sulfato ferroso, consumo de água
potável, reforço dos aconselhamentos sobre acidente na infância e principalmente visitas
domiciliares com ênfase na prevenção de negligências.
VÍDEO 21
168
169
Assista o vídeo do Ministério da Saúde sobre a Política Nacional de Atenção Integrada à
Saúde da Criança, para facilitar a compreensão do que vem a seguir:
<https://youtu.be/rzide7nnUp0 >.
Pré-Natal
Nem toda gestação é inicialmente planejada, embora possa ser desejada. Portanto, o Pré-
Natal deveria ser precedido do Planejamento Reprodutivo, oferecendo dupla proteção
(prevenção da gravidez e de infecções como HIV, sífilis e outras) e pela Avaliação Pré-
concepcional para o bom desenvolvimento da gestação, minimizando o impacto negativo
de doenças e fatores de risco dos genitores sobre o desenvolvimento saudável da criança
na Primeira Infância.
Toda gestante deve iniciar o pré-natal ainda no primeiro trimestre da gestação (captação
precoce da gestante) e realizar o mínimo de seis consultas do pré-natal durante a gestação,
além de participar de grupos educativos e ter acesso à realização de todos os exames e
vacinas deste período. O pré-natal de baixo risco geralmente é realizado nas unidades
169
170
básicas de saúde. Quando há fatores de risco para a saúde do feto e/ou para a gestante
(doenças sistêmicas e/ou obstétricas, condições sociodemográficas desfavoráveis etc.), o
pré-natal é considerado de alto risco e a gestante é acompanhada em unidades de saúde
designadas para este fim.
A Caderneta da Gestante é outro potente instrumento de promoção do desenvolvimento
na primeira infância, além de conter importantes registros do Pré-natal que são muito
utilizados por profissionais das unidades de saúde e das maternidades.
Os direitos trabalhistas, sociais, de entrega para a adoção, da situação da adolescente
grávida, a vinculação a uma Maternidade para o parto, ao acompanhante durante o parto,
prevenção de violência na gravidez são conteúdos deste importante documento, ao lado
de informações sobre o desenvolvimento fetal, cuidados na gravidez, alimentação
saudável, exercícios, sono e sexo durante a gestação.
A evolução da gravidez é avaliada pelo acompanhamento da altura uterina para idade
gestacional, além dos necessários cuidados como imunizações e realizações de exames
laboratoriais, incluindo a ultrassonografia. A saúde bucal da gestante e o cuidado no
puerpério, com incentivo à realização de primeira consulta dentro da primeira semana
após o parto, também são abordadas.
Caderneta da Gestante
https://portalarquivos2.saude.gov.br/images/pdf/2018/agosto/31/Caderneta-da-
Gestante-2018.pdf
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parto, levar o recém-nascido ao contato pele a pele, incentivar a amamentação, cuidar da
criança e, caso a gestação seja de alto risco, com chances do recém-nascido nascer
prematuro e/ou de baixo peso, ele e a mulher podem conhecer a unidade neonatal da
maternidade de referência com antecedência.
VÍDEO 22
Vídeo Pré-natal do Parceiro em:
http://portalarquivos.saude.gov.br/campanhas/vivamaissus/prenatal_index.html
A PNHPN foi criada em 2003 e tem como foco a assistência centrada na mulher e na família,
acesso e acolhimento à família grávida, fortalecimento e participação da mulher na tomada
de decisões, proteção e promoção da gravidez e parto como processos saudáveis e
fisiológicos, uso apropriado da tecnologia e práticas baseadas em evidências científicas.
Com grande repercussão ultimamente, a violência obstétrica vem sendo combatida
principalmente por estudos baseados em evidência e pela luta das mulheres pelo
protagonismo durante o parto e ao lado do seu acompanhante, pai ou companheiro(a).
A gestante tem direito ao acompanhamento pré-natal, à vinculação prévia à maternidade
na qual será realizado seu parto e à maternidade na qual ela será atendida nos casos de
intercorrência pré-natal, a atendimento prioritário, a indicar um acompanhante durante
todo o período de trabalho de parto, parto e pós-parto imediato, a licença maternidade,
inclusive em casos de adoção e direito a dois intervalos, de meia hora cada, durante a
jornada de trabalho, especificamente para a amamentação (CNJ, s/d).
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Hospital Amigo da Criança – IHAC
O que é?
A IHAC é um título de qualidade conferido pelo Ministério da Saúde aos hospitais que
cumprem os 10 passos para o sucesso do aleitamento materno, instituídos pelo Unicef
(Fundo das Nações Unidas para a Infância) e pela Organização Mundial de Saúde (OMS)
além de respeitar outros critérios, como o cuidado respeitoso e humanizado à mulher
durante o pré-parto, parto e o pós-parto, garantir livre acesso à mãe e ao pai (na ausência
deles o responsável legal), permanência deles junto ao recém-nascido internado, durante
24 horas, e cumprir a NBCAL – Norma Brasileira de Comercialização de Alimentos para
Lactentes e Crianças na Primeira Infância.
Bebês que nascem em Hospital Amigo da Criança têm menos chance de sofrer
intervenções desnecessárias logo após o parto, como aspiração das vias aéreas, uso de
oxigênio inalatório e uso de incubadora. O contato pele a pele com a mãe logo após o
nascimento, a amamentação na primeira hora de vida, ainda na sala de parto e o alojamento
conjunto também ocorre com mais frequência em Hospitais Amigos da Criança do que em
maternidades que não têm o título.
Nascer em Hospital Amigo da Criança também faz diferença nos indicadores de
aleitamento materno. A duração média do aleitamento materno exclusivo (oferta apenas
de leite materno para a criança até o 6º mês de vida) em crianças que nasceram nesses
hospitais foi de 60,2 dias, contra 48,1 dias em crianças que não nasceram em Hospital
Amigo da Criança. A pesquisa que mostrou esses dados revelou ainda que nascer em
hospitais com o título aumenta em 9% a chance de o recém-nascido ser amamentado na
primeira hora de vida.
Atualmente, um em cada quatro nascimentos no país ocorre em Hospitais Amigos da
Criança, uma média de 725 mil por ano.
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• Iniciativa Hospital Amigo da Criança: autoavaliação e monitoramento do hospital
(2010)
Passo 1 – Ter uma política de aleitamento materno escrita que seja rotineiramente
transmitida a toda equipe de cuidados de saúde.
Passo 2 – Capacitar toda a equipe de cuidados de saúde nas práticas necessárias para
implementar esta política.
Passo 3 – Informar todas as gestantes sobre os benefícios e o manejo do aleitamento
materno.
Passo 4 – Ajudar as mães a iniciar o aleitamento materno na primeira meia hora após o
nascimento. conforme nova interpretação: colocar os bebês em contato pele a pele com
suas mães, imediatamente após o parto, por pelo menos uma hora e orientar a mãe a
identificar se o bebê mostra sinais de que está querendo ser amamentado, oferecendo
ajuda se necessário.
Passo 5 – Mostrar às mães como amamentar e como manter a lactação mesmo se vierem
a ser separadas dos filhos.
Passo 6 – Não oferecer a recém-nascidos bebida ou alimento que não seja o leite materno,
a não ser que haja indicação médica e/ou de nutricionista.
Passo 7 – Praticar o alojamento conjunto – permitir que mães e recém-nascidos
permaneçam juntos – 24 horas por dia.
Passo 8 – Incentivar o aleitamento materno sob livre demanda.
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Passo 9 – Não oferecer bicos artificiais ou chupetas a recém-nascidos e lactentes.
Passo 10 – Promover a formação de grupos de apoio à amamentação e encaminhar as
mães a esses grupos na alta da maternidade; conforme nova interpretação: encaminhar
as mães a grupos ou outros serviços de apoio à amamentação, após a alta, e estimular a
formação e a colaboração com esses grupos ou serviços.
VÍDEO 23
Iniciativa Hospital Amigo da Criança: https://www.youtube.com/watch?v=i31VEa--XpE
MÉTODO CANGURU
O que é?
Em todo o mundo, nascem anualmente 20 milhões de bebês prematuros e de baixo peso
(menores de 2,5kg). Destes, um terço morre antes de completar um ano de vida.
No Brasil, aproximadamente 10% dos bebês nascem antes do tempo. O avanço da
medicina tem possibilitado que a grande maioria consiga se desenvolver e crescer com
saúde. São considerados prematuros (ou pré-termos), os bebês que vem ao mundo antes
de completar 37 semanas de gestação.
O Método Canguru é considerado a forma mais adequada de atenção ao recém-nascido
(RN) pré-termo ou de baixo peso, especialmente àqueles que necessitaram de internação
em Unidade Neonatal. A Política de Atenção Humanizada ao Recém-Nascido – Método
Canguru constrói uma linha de cuidado que tem início na identificação de risco gestacional
no pré-natal realizado na Atenção Primária. Esse cuidado segue no pré-natal especializado
e, após o nascimento, acompanha o percurso do bebê no serviço de neonatologia, seja
Unidade Neonatal ou alojamento conjunto. Segue até o domicílio, quando, então, passa a
ser acompanhado, se necessário, pelo ambulatório especializado e sempre pela Unidade
Básica de Saúde.
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O Método Canguru é um modelo de assistência que tem início na gravidez de risco e segue
até o recém-nascido atingir 2.500 g. Dessa forma, abrange pré-natal, internação materna,
parto e nascimento, internação do recém-nascido e retorno para casa. Envolve cuidado
humanizado, contato pele a pele entre o recém-nascido e seus pais, controle ambiental,
redução da dor, cuidado com a família e suporte da equipe de saúde. O contato pele a pele,
no Método Canguru, começa com o toque dos pais em seus bebês desde os primeiros
momentos da internação, evoluindo até a posição canguru.
Pilares do Método Canguru:
1. Acolhimento ao bebê e à sua família.
2. Respeito às individualidades do recém-nascido e de seus pais.
3. Promoção do contato pele a pele precoce.
4. Envolvimento da mãe e do pai nos cuidados com o bebê.
Vantagens:
1. Reduz o tempo de separação entre a criança e sua família.
2. Favorece o vínculo pai-mãe-bebê-família.
3. Possibilita maior confiança e competência dos pais.
4. Proporciona estímulos sensoriais positivos.
5. Melhora o desenvolvimento do bebê.
6. Estimula o aleitamento materno.
7. Favorece controle térmico adequado.
8. Reduz o risco de infecção hospitalar.
9. Reduz o estresse e a dor.
10. Melhora a comunicação da família com a equipe de saúde.
VÍDEO 24
Método Canguru na Atenção Básica: Cuidado Compartilhado (BRASIL, 2015).
https://www.youtube.com/watch?v=zed8GTpgtag
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QualiNEO
O que é?
Qualificação da Assistência ao Recém-Nascido de Risco
A promoção de saúde da criança e as estratégias de redução da mortalidade infantil são
eixos centrais nas políticas de saúde do Brasil nas últimas décadas. No Brasil, nascem por
ano, aproximadamente 3 milhões de crianças em 4.705 maternidades (públicas e privadas).
Visando superar o desafio de diminuir a mortalidade neonatal o Ministério da Saúde
apresenta a “Estratégia QualiNEO (EQN)”, que objetiva ofertar apoio técnico de forma
sistemática e integrada às maternidades prioritárias para qualificação das práticas de
gestão e atenção ao recém-nascido a fim de que possam contribuir para a redução da
mortalidade infantil, em especial em seu componente neonatal.
Além disto, esta estratégia pretende promover a integração dos programas estratégicos
do Ministério da Saúde voltados à qualificação da assistência e redução da mortalidade
neonatal, visto que hoje são ofertados e acompanhados de maneira isolada.
Nessa direção, busca-se a formação e qualificação do cuidado e da gestão a partir do
estabelecimento de relações colaborativas nos espaços coletivos de trabalho,
promovendo interações, trocas de experiências e conhecimento. Incorporando também
estratégias e instrumentos de pactuação de compromissos e corresponsabilização com as
práticas sanitárias no campo materno-infantil. No mais, busca ofertar métodos de
monitoramento cotidiano das práticas de atenção neonatal visando à correção de rumos
de modo dinâmica e permanente.
O que é?
A "Estratégia Nacional para Promoção do Aleitamento Materno e Alimentação
Complementar Saudável no SUS – Estratégia Amamenta e Alimenta Brasil (EAAB)",
lançada em 2012, tem como objetivo qualificar o processo de trabalho dos profissionais da
atenção básica com o intuito de reforçar e incentivar a promoção do aleitamento materno
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e da alimentação saudável para crianças menores de dois anos no âmbito do Sistema Único
de Saúde (SUS). Essa iniciativa é o resultado da integração de duas ações importantes do
Ministério da Saúde: a Rede Amamenta Brasil e a Estratégia Nacional para a Alimentação
Complementar Saudável (ENPACS), que se uniram para formar essa nova estratégia, que
tem como compromisso a formação de recursos humanos na atenção básica.
O que é?
A estratégia de Apoio à Mulher Trabalhadora que Amamenta (MTA) consiste em
incentivar nas empresas públicas e privadas uma cultura de respeito e apoio à
amamentação como forma de promover a saúde da mulher trabalhadora e de seu bebê,
trazendo benefícios diretos para a empresa e para o país.
Desde 2010, o Ministério da Saúde e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA)
orientam a implementação das salas de apoio à amamentação nas empresas por meio do
Guia para Implementação de Salas de Apoio à Amamentação para a Mulher Trabalhadora.
O que é?
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A estratégia “Atenção Integrada às Doenças Prevalentes na Infância” (AIDPI) tem por
objetivo diminuir a morbidade e mortalidade de crianças entre zero a 5 anos de idade, por
meio da melhoria da qualidade da atenção prestada à criança por profissionais de saúde,
em especial na Atenção Primária à Saúde, promovendo ações de promoção e prevenção
em saúde infantil, diminuindo a mortalidade por estas doenças, não apenas investindo na
sobrevivência das crianças, mas também no seu pleno desenvolvimento infantil (OPAS,
2005).
A estratégia da AIDPI inclui intervenções curativas e preventivas destinadas a melhorar
as práticas de saúde em unidades de saúde, em casa e na comunidade. Essa estratégia inclui
três componentes principais:
(1) melhoria nas habilidades de gerenciamento de casos da equipe de saúde através do
fornecimento de diretrizes localmente adaptadas sobre AIDPI e atividades para promover
seu uso;
(2) melhoria no sistema geral de saúde necessário para o gerenciamento eficaz de doenças
da infância; e
(3) melhoria nas práticas de saúde da família e da comunidade.
Caracteriza-se pela consideração simultânea e integrada do conjunto de doenças de maior
prevalência na infância, em vez do enfoque tradicional que busca abordar cada doença
isoladamente, como se ela fosse independente das demais doenças que atingem a criança
e do contexto em que ela está inserida.
A Estratégia AIDPI, além de propor melhor organização dos serviços de saúde, ações de
prevenção de agravos e promoção da saúde, há um melhor acompanhamento do
crescimento e do desenvolvimento nos primeiros anos de vida. Estes são primordiais para
criarmos condições que visam garantir futuras gerações de adultos e idosos mais
saudáveis.
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NUTRISUS – Fortificação da Alimentação Infantil com Micronutrientes em pó
O que é?
Lançada oficialmente em março de 2015, a Estratégia de Fortificação da Alimentação
Infantil com Micronutrientes (vitaminas e minerais) em Pó – NutriSUS consiste na adição
de uma mistura de vitaminas e minerais em pó em uma das refeições diárias oferecidas às
crianças de 06-48 meses de idade. Os micronutrientes em pó são embalados
individualmente na forma de sachês (1g).
Implantada inicialmente nas creches participantes do Programa Saúde na Escola, a
iniciativa tem o objetivo de potencializar o pleno desenvolvimento infantil, a prevenção e
o controle da anemia e outras carências nutricionais específicas na infância.
O que são?
Todo bebê que nasce no Brasil tem direito a realizar gratuitamente quatro exames muito
importantes para a sua saúde. São os chamados exames da triagem neonatal:
● Teste do Pezinho: é uma das principais formas de diagnosticar seis doenças que, quanto
mais cedo forem identificadas, melhores são as chances de tratamento. São elas
fenilcetonúria, hipotireoidismo congênito, doença falciforme e outras hemoglobinopatias,
fibrose cística, deficiência de biotinidase e hiperplasia adrenal congênita. O teste do
pezinho é feito gratuitamente na maternidade ou na Unidade de Saúde, entre o 3° e o 5°
dia de vida do bebê. É fundamental ter atenção a esse prazo.
● Teste do Olhinho: É um exame simples, rápido e indolor, que consiste na identificação de
um reflexo vermelho, que aparece quando um feixe de luz ilumina o olho do bebê. O
fenômeno é semelhante ao observado nas fotografias. O “Teste do Olhinho” pode detectar
qualquer alteração que cause obstrução no eixo visual, como catarata, glaucoma congênito
e outros problemas – cuja identificação precoce pode possibilitar o tratamento no tempo
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certo e o desenvolvimento normal da visão. O exame constitui uma das etapas do exame
físico do recém-nascido realizado pelo profissional de saúde nas maternidades até a alta
do recém-nascido. Se isto não ocorrer, o exame deve ser feito logo na primeira consulta de
acompanhamento
● Teste da Orelhinha: Entre os procedimentos realizados ainda na maternidade, logo após
o nascimento do bebê, está a triagem neonatal auditiva ou o teste da orelhinha. Toda
criança deverá ser submetida ao teste da orelhinha preferencialmente nos primeiros dias
de vida (24 a 48h) ainda na maternidade, e, no máximo, durante o primeiro mês de vida,
exceto em casos quando a saúde da criança não permita a realização dos exames. As
crianças que apresentaram alterações nos testes deverão ser submetidas ao reteste em
até 30 dias.
● Teste do Coraçãozinho: Todo bebê tem direito de realizar o teste de coraçãozinho ainda
na maternidade, entre 24h a 48h após o nascimento. O teste é simples, gratuito, indolor e
é feito para identificar cardiopatias congênitas críticas na criança. Consiste em medir a
oxigenação do sangue e os batimentos cardíacos do recém-nascido com o auxílio de um
oxímetro – espécie de pulseirinha – no pulso e no pé do bebê. Caso algum problema seja
detectado, o bebê é encaminhado para fazer um ecocardiograma. Se alterado, é
encaminhado para um centro de referência em cardiopatia para tratamento. Problemas no
coração são a terceira maior causa de morte em recém-nascidos. Por isso, quanto mais
cedo for diagnosticado, melhores são as chances do tratamento.
● Avaliação do frênulo lingual: Sugere-se que a avaliação do frênulo lingual seja realizada
durante o exame físico do recém-nascido, antes da alta hospitalar (entre 24h-48h de vida
do recém-nascido) por profissional de saúde capacitado que realiza assistência ao binômio
mãe e bebê. Sugere-se também que o diagnóstico da anquiloglossia (língua presa) na alta
hospitalar seja realizado por profissional habilitado para tal e amparado segundo o
exercício legal de sua profissão. Nos casos duvidosos, preconiza-se que seja realizada, na
consulta da primeira semana de vida do RN na Atenção Básica, uma avaliação minuciosa
da dinâmica da amamentação.
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REDE CEGONHA
O que é?
Conforme estabelecido na Consolidação n° 03/GM/MS, de 28/09/2017; Anexo II – Rede
Cegonha, Art. 4°: A Rede Cegonha deve ser organizada de maneira a possibilitar o
provimento contínuo de ações de atenção à saúde materna e infantil para a população de
determinado território (região de saúde), mediante a articulação dos distintos pontos de
atenção à saúde, do sistema de apoio, do sistema logístico e da governança da rede de
atenção à saúde a partir das seguintes diretrizes:
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I – Fomentar a implementação de novo modelo de atenção à saúde da mulher e à saúde da
criança com foco na atenção ao parto, ao nascimento, ao crescimento e ao
desenvolvimento da criança de zero aos vinte e quatro meses.
II – Organizar a Rede de Atenção à Saúde Materna e Infantil para que esta garanta acesso,
acolhimento e resolutividade.
III – Reduzir a mortalidade materna e infantil, com ênfase no componente neonatal.
Caderneta da Criança
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Infância engloba não só mais de uma disciplina, mas também diferentes setores como
Saúde, Assistência Social, Educação e Direitos Humanos, entre outros.
Na Caderneta da Criança, a família encontra informações e registros sobre o
desenvolvimento saudável e pode acompanhar o crescimento e o desenvolvimento da
criança.
Todos os profissionais da Primeira Infância podem consultar a Caderneta da Criança. Nela,
inclusive, estão anotadas as informações sobre os Marcos do desenvolvimento (etapas em
que as crianças mais ou menos estão desenvolvendo as habilidades psicomotoras,
emocionais e cognitivas), numa seção dedicada à “Vigilância do Desenvolvimento”.
Outros temas importantes, como prevenção de acidentes, sinais de alarme para doenças
com potencial gravidade, amamentação e alimentação saudável, sem esquecer o tema
das violências, também são abordados. A saúde ocular e a saúde odontológica também
são contempladas, importantes que são para o desenvolvimento saudável. Com a
utilização das recomendações e registros da Caderneta da Criança, crianças com
deficiência poderiam levam menos tempo para obterem diagnóstico, tratamento e
reabilitação
O Plano Nacional de Imunização é uma das mais avançadas estratégias de prevenção dos
agravos à saúde da gestante e da criança e oferecido a toda a população brasileira pelo
Sistema Único de Saúde (SUS). A vacinação evita diversas doenças imunopreveníveis:
varíola (declarada mundialmente erradicada em 1980), a poliomielite/paralisia infantil,
sarampo, tuberculose, rubéola, gripe, hepatite A e B, febre amarela, entre outras. As doses
de vacina recebidas pelas crianças são registradas na Caderneta da Criança, de acordo
com o Calendário Nacional de Vacinação. Crianças indígenas contam com calendário de
vacinação diferenciado, atendendo às suas especificidades e respeitando os aspectos
183
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culturais envolvidos, conforme definições da Portaria nº 1.498, de 19 de julho de 2013.
Crianças comprovadamente infectadas pelo HIV possuem vacinação adaptada às
circunstâncias operacionais e epidemiológicas próprias deste grupo (BRASIL, 2018).
O que é?
O Programa Saúde na Escola (PSE), política intersetorial da Saúde e da Educação, foi
instituído em 2007. Nele, as políticas de saúde e educação voltadas às crianças,
adolescentes, jovens e adultos da educação pública brasileira se unem para promover
saúde e educação integral dos estudantes da rede pública de ensino.
O Programa Saúde na Escola (PSE) visa à integração e articulação permanente da
educação e da saúde, proporcionando melhoria da qualidade de vida da população
brasileira. Como consolidar essa atitude dentro das escolas? Essa é a questão que nos
guiou para elaboração da metodologia das Agendas de Educação e Saúde, a serem
executadas como projetos didáticos nas Escolas.
O PSE tem como objetivo contribuir para a formação integral dos estudantes por meio de
ações de promoção, prevenção e atenção à saúde, com vistas ao enfrentamento das
vulnerabilidades que comprometem o pleno desenvolvimento de crianças e jovens da rede
pública de ensino.
O público beneficiário do PSE são os estudantes da Educação Básica, gestores e
profissionais de educação e saúde, comunidade escolar e, de forma mais amplificada,
estudantes da Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica e da Educação de
Jovens e Adultos (EJA).
As atividades de educação e saúde do PSE ocorrerão nos Territórios definidos segundo a
área de abrangência da Estratégia Saúde da Família (Ministério da Saúde), tornando
possível o exercício de criação de núcleos e ligações entre os equipamentos públicos da
saúde e da educação (escolas, centros de saúde, áreas de lazer como praças e ginásios
esportivos, etc.).
No PSE a criação dos Territórios locais é elaborada a partir das estratégias firmadas entre
a escola, a partir de seu projeto político-pedagógico e a unidade Primária de saúde. O
planejamento destas ações do PSE considera: o contexto escolar e social, o diagnóstico
local em saúde do escolar e a capacidade operativa em saúde do escolar.
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A Escola é a área institucional privilegiada deste encontro da educação e da saúde: espaço
para a convivência social e para o estabelecimento de relações favoráveis à promoção da
saúde pelo viés de uma Educação Integral.
Para o alcance dos objetivos e sucesso do PSE é de fundamental importância compreender
a Educação Integral como um conceito que compreende a proteção, a atenção e o pleno
desenvolvimento da comunidade escolar. Na esfera da saúde, as práticas das equipes de
Saúde da Família, incluem prevenção, promoção, recuperação e manutenção da saúde dos
indivíduos e coletivos humanos.
Para alcançar estes propósitos o PSE foi constituído por cinco componentes:
a) Avaliação das Condições de Saúde das crianças, adolescentes e jovens que estão na
escola pública.
b) Promoção da Saúde e de atividades de Prevenção.
c) Educação Permanente e Capacitação dos Profissionais da Educação e da Saúde e de
Jovens.
d) Monitoramento e Avaliação da Saúde dos Estudantes.
e) Monitoramento e Avaliação do Programa.
Mais do que uma estratégia de integração das políticas setoriais, o PSE se propõe a ser um
novo desenho da política de educação e saúde já que:
(1) trata a saúde e educação integrais como parte de uma formação ampla para a cidadania
e o usufruto pleno dos direitos humanos;
(2) permite a progressiva ampliação das ações executadas pelos sistemas de saúde e
educação com vistas à atenção integral à saúde de crianças e adolescentes; e
(3) promove a articulação de saberes, a participação de estudantes, pais, comunidade
escolar e sociedade em geral na construção e controle social da política pública.
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No âmbito da escola as atividades de planejamento e gestão do coletivo, formulação dos
inventários detalhados e da condução de processos participativos integrados aos estudos
e ao Projeto Político Pedagógico representam uma oportunidade ímpar para os exercícios
de cidadania.
Por meio do diálogo entre comunidade escolar e equipe da Estratégia Saúde da Família, a
Agenda de Educação e Saúde envolve interlocuções entre diferentes setores da sociedade
e dos programas/políticas já em desenvolvimento na escola e com parceiros locais.
O que é?
Os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) nas suas diferentes modalidades são pontos
de atenção estratégicos da RAPS: serviços de saúde de caráter aberto e comunitário
constituído por equipe multiprofissional e que atua sobre a ótica interdisciplinar e realiza
prioritariamente atendimento às pessoas com sofrimento ou transtorno mental,
incluindo aquelas com necessidades decorrentes do uso de álcool e outras drogas, em
sua área territorial, seja em situações de crise ou nos processos de reabilitação
psicossocial e são substitutivos ao modelo asilar.
Modalidades
• CAPS I: Atendimento a todas as faixas etárias, para transtornos mentais graves e
persistentes, inclusive pelo uso de substâncias psicoativas, atende cidades e ou
regiões com pelo menos 15 mil habitantes.
• CAPS II: Atendimento a todas as faixas etárias, para transtornos mentais graves e
persistentes, inclusive pelo uso de substâncias psicoativas, atende cidades e ou
regiões com pelo menos 70 mil habitantes.
• CAPS i: Atendimento a crianças e adolescentes, para transtornos mentais graves e
persistentes, inclusive pelo uso de substâncias psicoativas, atende cidades e ou
regiões com pelo menos 70 mil habitantes.
• CAPS ad Álcool e Drogas: Atendimento a todas faixas etárias, especializado em
transtornos pelo uso de álcool e outras drogas, atende cidades e ou regiões com pelo
menos 70 mil habitantes.
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• CAPS III: Atendimento com até 5 vagas de acolhimento noturno e observação; todas
faixas etárias; transtornos mentais graves e persistentes inclusive pelo uso de
substâncias psicoativas, atende cidades e ou regiões com pelo menos 150 mil
habitantes.
• CAPS ad III Álcool e Drogas: Atendimento e 8 a 12 vagas de acolhimento noturno e
observação; funcionamento 24h; todas faixas etárias; transtornos pelo uso de álcool
e outras drogas, atende cidades e ou regiões com pelo menos 150 mil habitantes.
VÍDEO 24
Linha de Cuidado para a Atenção Integral à Saúde de Crianças, Adolescentes e suas
Famílias em Situação de Violências (BRASIL, 2012). Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=_a0YoTPzra0
O que é?
A Política Nacional de Saúde Bucal, intitulada Brasil Sorridente, pauta-se nos princípios e
nas diretrizes do SUS. Na Atenção Integral à Saúde da Criança essa política se insere de
forma transversal, integral e intersetorial nas linhas de cuidado direcionadas à mulher e à
criança, com o objetivo de promover a qualidade de vida desse público, por meio das ações
de promoção, prevenção, cuidado, qualificação e vigilância em saúde (BRASIL, 2004a).
O acesso à saúde bucal deve ter início no pré-natal e será incorporado no
acompanhamento do crescimento e no desenvolvimento da criança. A equipe de saúde
187
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deve trabalhar de forma articulada, encaminhando a gestante para a consulta
odontológica ao iniciar o pré-natal. Deve-se garantir ao menos uma consulta odontológica
durante o pré-natal, com agendamento das demais consultas, conforme as necessidades
individuais da gestante. A equipe de Saúde Bucal deverá efetuar os registros das ações
realizadas nas Cadernetas de Saúde da Criança e da Gestante (BRASIL, 2004a, 2008b).
Nas ações de saúde direcionadas à criança, recomenda-se que todos os profissionais da
equipe de saúde incorporem, em sua rotina, o exame da cavidade bucal das crianças e
orientações aos pais e responsáveis sobre prevenção de doenças e agravos e de promoção
da saúde bucal, enfatizando a importância do acompanhamento da saúde bucal e
direcionando a criança para as consultas odontológicas periódicas, evitando assim que o
acesso ocorra tardiamente devido à doença já instalada (COMISSÃO NACIONAL SOBRE
DETERMINANTES SOCIAIS DA SAÚDE, 2008).
Para estabelecer um bom vínculo, os profissionais da equipe de Saúde Bucal podem
realizar o primeiro contato por meio de atividades em grupo (ex.: orientações aos pais e
responsáveis e, em seguida, o exame clínico dos bebês), interconsulta (ex.: atendimento
conjunto do médico ou enfermeiro com o cirurgião-dentista) ou consulta sequencial
programada (ex.: estipular o dia da consulta odontológica no mesmo dia e horário da
consulta de acompanhamento médico e de enfermagem).
O que diz o Marco Legal da Primeira Infância sobre isso?
188
189
1.8.2. Políticas Nacionais de Educação
EDUCAÇÃO
Apesar de apenas a Educação Infantil figurar como área prioritária no Marco Legal da
Primeira Infância, apresentamos aqui outras áreas que tangenciam o público de gestantes,
especialmente pelo fato de as pesquisas observarem alta correlação entre a escolaridade
dos pais e o desenvolvimento integral dos filhos.
Educação Infantil
O que é?
A educação infantil é um direito humano e social de todas as crianças até cinco anos de
idade, sem distinção decorrente de origem geográfica, caracteres do fenótipo (cor da pele,
traços de rosto e cabelo), da etnia, nacionalidade, sexo, de deficiência física ou mental, nível
socioeconômico ou classe social. Também não está atrelada à situação trabalhista dos pais
nem ao nível de instrução, religião, opinião política ou orientação sexual. É dever do Estado
garantir a oferta da Educação Infantil pública, gratuita e de qualidade sem requisito de
seleção.
A Educação Infantil, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança em seus
aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da
comunidade (LDB, art.29), e desta forma cumpre um papel importante no
desenvolvimento humano e social. Configura-se como uma das áreas educacionais que
mais retribui à sociedade os recursos nela investidos, contribuindo para a aprendizagem e
o desenvolvimento das crianças.
O currículo da Educação Infantil é concebido como um conjunto de práticas que buscam
articular as experiências e os saberes das crianças com os conhecimentos que fazem parte
do patrimônio cultural, artístico, científico e tecnológico da Humanidade. Tais práticas são
efetivadas por meio de relações sociais que as crianças desde bem pequenas estabelecem
com os professores e as outras crianças, e afetam a construção de suas identidades.
Intencionalmente planejadas e permanentemente avaliadas, as práticas que estruturam o
cotidiano das instituições de Educação Infantil devem considerar a integralidade e
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indivisibilidade das dimensões expressivo-motora, afetiva, cognitiva, linguística, ética,
estética e sociocultural das crianças, apontar as experiências de aprendizagem que se
espera promover para as crianças e efetivar-se por meio de modalidades que assegurem
as metas educacionais de seu projeto pedagógico.
A Base Nacional Comum (BNCC) para a etapa da Educação Infantil, fixada pela Resolução
02/2017 do Conselho Nacional de Educação, considerando os princípios definidos pelas
Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil MEC/2009), organiza-se pelos
direitos de aprendizagem e desenvolvimento, campos de experiências e objetivos de
aprendizagem e desenvolvimento, elementos que se integram na articulação entre as
necessidades, interesses, experiências e curiosidades das crianças de 0 a 5 anos e o
patrimônio artístico, cultural, ambiental, científico e tecnológico. A ideia leva em conta que
bebês e crianças pequenas aprendem e se desenvolvem por meio de experiências do
cotidiano, que devem ser planejadas com intencionalidade pelos professores.
A educação infantil no Brasil registrou muitos avanços nos últimos anos. O direito à
educação a todas as crianças pequenas, desde seu nascimento, representa uma conquista
importante para a sociedade brasileira. Porém, para que esse direito se traduza realmente
em melhores oportunidades educacionais para todos e em apoio significativo às famílias
com crianças até cinco anos de idade, é preciso que as creches e as pré-escolas, garantam
um atendimento de boa qualidade. Este é o destaque feito pelo Marco Legal da Primeira
Infância:
190
191
Pensando na Educação Infantil de qualidade, há que se ter um espaço adequado,
profissionais habilitados, infraestrutura de trabalho, respeito às crianças e o
reconhecimento de seus direitos a frequentar um local que garanta as interatividades
pedagógicas provocadas pelos professores.
Estes por sua vez, na medida em que planejam os espaços e tempos devem oportunizar às
crianças a construção e desconstrução do seu brincar, de suas pesquisas corporais e
sonoras, e lhes possibilitar convivências diversas nestes espaços educacionais. Acolher os
bebês e as crianças pequenas, dar espaço para que elas se sintam acolhidas e adaptem-se
neste outro local de convivência social, com afeto e objetivos educativos, assim como
ludicidade, em que os conteúdos e áreas de conhecimento se entrelaçam e giram em torno
do eixo central que é a brincadeira.
VÍDEO 25
Filme Pequenos Conselheiros, Grandes Ideias, da EMEI D. Leopoldina – São Paulo/SP –
2º lugar no 2° Prêmio Nacional de Projetos com Participação Infantil – 2016. Disponível
em: <https://www.youtube.com/watch?v=YfDSH5GhUtw>.
VÍDEO 26
191
192
Filme Projeto Parques Sonoros, em um CEI da Zona Leste de São Paulo, você pode
conhecer um projeto construído com as famílias. Disponível em:
https://www.tvt.org.br/parques-sonoros-apresentam-os-sons-para-bebes/
A educação da criança de até 6 anos insere-se nas ações do Ministério da Educação (MEC),
que implementa apoio técnico e financeiro à educação infantil a partir dos seguintes
programas suplementares:
O que é?
192
193
É uma das ações do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE) do Ministério da
Educação, visando garantir o acesso de crianças a creches e escolas, bem como a melhoria
da infraestrutura física da rede de Educação Infantil. O programa atua sobre dois eixos
principais, indispensáveis à melhoria da qualidade da educação:
O que é?
O repasse de recursos financeiros foi criado com o objetivo de ampliar a oferta da educação
infantil, e visa prestar apoio financeiro aos Municípios e ao Distrito Federal para garantir a
expansão da oferta e o regular funcionamento das novas matrículas, seja em novos
estabelecimentos (Unidades do Proinfância) ou em novas turmas (Brasil Carinhoso) de
educação infantil, até que estas sejam computadas para recebimento de recursos do
FUNDEB.
Legislação:
- Apoio a Manutenção da Educação Infantil em Novos estabelecimentos (Proinfância):
193
194
Lei nº 12.499, de 29 de setembro de 2011 e resoluções CD/FNDE nº 15, de 16 de maio
de 2013.
- Apoio a Manutenção da Educação Infantil em Novas turmas (Brasil Carinhoso)
Lei nº 12.722, de 03 de outubro de 2012 e Resolução CD/FNDE nº 16, de 16 de maio de
2013.
194
195
O que é?
A Base Nacional Comum Curricular é um documento normativo que define o conjunto de
aprendizagens essenciais que todos os alunos devem desenvolver ao longo das etapas e
modalidades da Educação Básica. Seu principal objetivo é ser a balizadora da qualidade da
educação no País por meio do estabelecimento de um patamar de aprendizagem e
desenvolvimento a que todos os alunos têm direito.
Considerando que, na Educação Infantil, as aprendizagens e o desenvolvimento das
crianças têm como eixos estruturantes as interações e a brincadeira, assegurando-lhes os
direitos de conviver, brincar, participar, explorar, expressar-se e conhecer-se, a organização
curricular da Educação Infantil na BNCC está estruturada em cinco campos de
experiências, no âmbito dos quais são definidos os objetivos de aprendizagem e
desenvolvimento. Os campos de experiências constituem um arranjo curricular que acolhe
as situações e as experiências concretas da vida cotidiana das crianças e seus saberes,
entrelaçando-os aos conhecimentos que fazem parte do patrimônio cultural.
O documento da BNCC pode ser acessado em http://basenacionalcomum.mec.gov.br/a-
base e http://movimentopelabase.org.br/wp-content/uploads/2019/04/Campos-de-
Experi%C3%AAncias-PDF-interativo-2.pdf
195
196
Programa Nacional de Alimentação Escolar – PNAE
196
197
FNDE, pelo Tribunal de Contas da União (TCU), pela Controladoria Geral da União (CGU)
e pelo Ministério Público.
Com a Lei nº 11.947, de 16/6/2009, 30% do valor repassado pelo Programa Nacional de
Alimentação Escolar – PNAE deve ser investido na compra direta de produtos da
agricultura familiar, medida que estimula o desenvolvimento econômico e sustentável das
comunidades.
São atendidos pelo programa os alunos de toda a educação básica (educação infantil,
ensino fundamental, ensino médio e educação de jovens e adultos) matriculados em
escolas públicas, filantrópicas e em entidades comunitárias (conveniadas com o poder
público). Vale destacar que o orçamento do PNAE beneficia milhões de estudantes
brasileiros, como prevê o artigo 208, incisos IV e VII, da Constituição Federal.
Para Saber Mais Acesse: https://www.fnde.gov.br/programas/pnae
197
198
Para Saber Mais:
Acesse: https://www.fnde.gov.br/index.php/programas/programas-do-
livro?view=default
O programa Conta pra Mim, instituído pela portaria MEC nº 421 de 23 de abril de 2020
tem como finalidade orientar, estimular e promover práticas de literacia familiar no Brasil.
Literacia familiar pode ser entendida como o conjunto de práticas e experiências
relacionadas com a linguagem oral, a leitura e a escrita, que as crianças vivenciam com seus
pais ou responsáveis. Sabe-se que tais práticas são fundamentais para o desenvolvimento
de habilidades facilitadoras da alfabetização. Além da contribuição da aprendizagem
cognitiva, tais habilidades possuem grande impacto do ponto de vista emocional. As
práticas de literacia familiar, portanto, além de contribuírem positivamente na vida escolar
dos filhos, melhoram os vínculos afetivos familiares e, consequentemente, o bem-estar de
todos. O programa Conta pra Mim se operacionaliza por meio da promoção de campanhas,
produção de cursos, vídeos, cartilhas, divulgação de materiais para orientação e para
exercício das práticas, distribuição de conteúdo para famílias carentes bem como
estabelecimento de iniciativas intersetoriais diversas. Grande parte do conteúdo do
programa pode ser livremente acessada em
<alfabetizacao.mec.gov.br/contapramim>. Ainda diversas parcerias foram estabelecidas
com outros ministérios — a exemplo do Ministério da Saúde, do Ministério da Cidadania e
do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos — para fornecimento de
cursos, conteúdo, materiais e capacitações. O Conta pra Mim é para todos e tem como
198
199
missão precípua criar, entre os brasileiros, o hábito da leitura em família, que tanto
potencial tem de melhorar a vida de todos.
Criado em 1995, o Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) é uma política pública
educacional implementada pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação
(FNDE), tendo por finalidade prestar assistência financeira, em caráter suplementar, às
escolas públicas municipais, estaduais e distritais da educação básica, às escolas privadas
de educação especial.
O programa objetiva concorrer para o funcionamento e a melhoria da infraestrutura física
e pedagógica dos estabelecimentos de ensino e o reforço da autogestão escolar nos planos
financeiro, administrativo e didático, bem como para a elevação dos indicadores de
desempenho da educação básica. Entre outras finalidades, é possível empregar seus
recursos para adquirir materiais de consumo e permanente, contratar serviços, realizar
reparos no prédio escolar e desenvolver projetos pedagógicos.
Os recursos são transferidos diretamente a entes federativos, sem a necessidade de
convênio, acordo, contrato, ajuste ou instrumento congênere, mediante crédito em contas
bancárias abertas pelo FNDE especificamente para esse fim. Os repasses são efetuados,
anualmente, das seguintes formas:
199
200
50 (cinquenta) alunos e não possuírem Unidade Executora
Própria (UEx);
• à Unidade Executora Própria – UEx (Caixa Escolar, Conselho
Escolar, Associação de Pais e Mestres, etc.) – representativa de
escola pública ou de polo presencial da UAB; e
• à Entidade Mantenedora – EM (Associação de Pais e Amigos dos
Excepcionais, Associação Pestalozzi, etc.), no caso de escola
privada de educação especial.
As EEx, UEx e EM são responsáveis pelo recebimento, gestão e prestação de contas dos
recursos destinados a beneficiar as escolas a elas vinculadas.
Diversos programas e projetos de iniciativa do Ministério da Educação (MEC) passaram a
utilizar o modelo operacional e regulamentar do PDDE para destinar recursos às escolas
públicas do País. Essas transferências financeiras que, no âmbito do PDDE, passaram a ser
designadas de ações agregadas – contribuem para a implementação de políticas do MEC
com objetivos específicos, englobando desde investimentos para adequações de prédios
escolares (a fim de garantir, por exemplo, abastecimento de água potável, esgotamento
sanitário e acessibilidade) a incentivos financeiros para melhoria do Índice de
Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) das escolas.
200
201
Jovens e Adultos – EJA é uma modalidade de ensino criada pelo Governo Federal que
perpassa todos os níveis da Educação Básica do país, destinada aos jovens, adultos e idosos
que não tiveram acesso à educação na escola convencional na idade apropriada.
Permite que o aluno, muitas vezes gestantes, retome os estudos e os conclua em menos
tempo e, dessa forma, possibilitando sua qualificação para conseguir melhores
oportunidades no mercado de trabalho.
Quanto à duração dos cursos presenciais de EJA:
I – para os anos iniciais do Ensino Fundamental, a duração deve ficar a critério dos sistemas
de ensino;
II – para os anos finais do Ensino Fundamental, a duração mínima deve ser de 1.600 (mil e
seiscentas) horas;
III – para o Ensino Médio, a duração mínima deve ser de 1.200 (mil e duzentas) horas.
IV – Para a Educação Profissional Técnica de Nível Médio integrada com o Ensino
Médio, reafirma-se a duração de 1.200 (mil e duzentas) horas destinadas à educação geral,
cumulativamente com a carga horária mínima para a respectiva habilitação profissional de
Nível Médio, tal como estabelece a Resolução CNE/CEB nº 4/2005, e para o ProJovem, a
duração estabelecida no Parecer CNE/CEB nº 37/2006.
201
202
No âmbito Nacional, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio
Teixeira (Inep), realiza exames que certificam saberes adquiridos tanto em ambientes
escolares quanto extraescolares. O Exame Nacional para Certificação de Competências de
Jovens e Adultos (Encceja) pode ser realizado para pleitear certificação no nível de
conclusão do ensino fundamental e ensino médio.
Atualmente, para certificação do ensino fundamental, é preciso ter, no mínimo, 15 anos
completos, e para o ensino médio, 18 anos completos no dia de aplicação da prova. Para
mais informações acesse https://www.gov.br/inep/pt-br/areas-de-atuacao/avaliacao-e-
exames-educacionais/encceja .
Uma vez que cabe a cada instituição de ensino expedir certificados de conclusão de cursos,
e que os sistemas de ensino dispõem sobre a oferta de educação de jovens e adultos
segundo disposto na Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996 – LDB, também é possível
realizar a certificação de conclusão do Ensino Fundamental e Médio nos estados e
municípios.
O que é?
O Cadastro Único é o principal instrumento do estado brasileiro para identificação e
caracterização socioeconômica das famílias de baixa renda em todo território nacional. A
inserção das famílias no Cadastro Único é o primeiro passo para ter acesso aos programas
sociais do Governo Federal como o Bolsa Família – PBF, o Benefício de Prestação
Continuada – BPC, o Programa Cisternas, a Tarifa Social de Energia Elétrica, o Programa
Minha Casa Minha Vida, o Programa Criança Feliz, entre outros. Além disso, pode ser
202
203
utilizado para acesso a programas ofertados pelos governos estaduais, municipais e do
Distrito Federal. Contudo, estar no Cadastro Único não significa a entrada automática
nesses programas, pois cada um deles tem suas regras específicas. O cadastramento
ocorre nos postos de atendimento do Cadastro Único nos municípios, geralmente
localizados no Centro de Referência da Assistência Social (CRAS) do território de
residência da família.
Podem se inscrever no Cadastro Único:
● Famílias com renda mensal de até meio salário mínimo por pessoa.
● Famílias com renda mensal total de até três salários mínimos.
● Famílias com renda maior que três salários mínimos podem se cadastrar, desde
que o cadastramento esteja vinculado à participação em algum programa social
implementado pela União, pelos estados, pelos municípios e pelo DF.
203
204
➢ Transferindo a cada mês uma quantia em dinheiro diretamente às famílias
em situação de pobreza e extrema pobreza do Brasil.
➢ Acompanhando, nas áreas de saúde e educação, as crianças, os adolescentes
e as mulheres grávidas que fazem parte do Programa.
204
205
Figura 2 – Tipos de benefícios transferidos pelo Programa Bolsa Família (Fonte: Secretaria Nacional
de Renda de Cidadania/Secretaria Especial do Desenvolvimento Social/ Ministério da Cidadania, 2020).
✓ Todas as famílias com renda mensal por pessoa de até R$ 89,00, mesmo que
não tenham gestantes, crianças ou adolescentes na família.
✓ As famílias com renda familiar mensal por pessoa de R$ 89,01 até R$ 178,00
que tenham gestantes, crianças ou adolescentes.
205
206
A concessão do benefício depende de quantas famílias já foram atendidas no município, em
relação à estimativa de famílias pobres feita para essa localidade. Além disso, o Governo
Federal precisa respeitar o limite orçamentário do Programa.
Condicionalidades do PBF
Na área de Educação, o Bolsa Família busca garantir que as crianças e os adolescentes
beneficiários do Programa estejam matriculados e frequentando a escola, o que é um
direito social. Para isso, é feito o acompanhamento mês a mês da frequência escolar de
cada um desses estudantes, com a identificação das dificuldades que tenham neste acesso
à escola.
Na área de Saúde, o Programa contribui para o desenvolvimento saudável de meninas e
meninos ao acompanhar, duas vezes por ano, a vacinação, o peso e a altura das crianças
com menos de 7 anos, o que também é direito social. Além disso, acompanha o pré-natal
das gestantes e busca orientar as mulheres em fase de amamentação.
Por meio das Condicionalidades, o Programa Bolsa Família contribui na identificação das
famílias que estão tendo dificuldades no acesso aos seus direitos, para que a área de
assistência social possa fazer o acompanhamento necessário.
206
207
Os dados coletados durante o acompanhamento de condicionalidades pelas áreas da
saúde e da educação têm um grande potencial para se transformar em norteadores de
ações intersetoriais. Eles podem representar situações de vulnerabilidade e risco social
vividos pelas famílias, além de revelar realidades locais nos serviços ou no acesso aos
serviços.
Articulação por meio das condicionalidades
Para conhecer mais sobre o Programa Bolsa Família em sua localidade, acesse o portal
Bolsa Família e Cadastro Único no seu Município:
https://aplicacoes.mds.gov.br/sagirmps/bolsafamilia/
207
208
E ainda:
• https://www.gov.br/cidadania/pt-br/acoes-e-programas/cadastro-unico
• https://www.gov.br/cidadania/pt-br/acoes-e-programas/bolsa-familia
• https://bfa.saude.gov.br/
• http://tutorialpresenca.mec.gov.br/inicio-coordernador-municipal.html
Referências:
BRASIL. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990.
BRASIL. Lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003.
BRASIL. Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015.
BRASIL. Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006.
COLIN, D. R. A e PEREIRA, J. M. F Gestão Integrada de Serviços, Bens e Transferência de Renda:
Alguns Apontamentos Sobre a Experiência Brasileira. In: CRUS, J. F.. et al. (Orgs.). Coletânea de
Artigos Comemorativos dos 20 Anos da Lei Orgânica de Assistência Social. Brasília: Ministério do
Desenvolvimento Social e Combate à Fome, 2013. 248p .
O que é?
208
209
O Programa Criança Feliz (PCF) foi implantado pelo Governo Federal em outubro de 2016
através do Decreto nº 8.869, posteriormente revogado pelo Decreto nº 9.579, de 22 de
novembro de 2018, como um programa de apoio às famílias para promoção do
desenvolvimento integral na primeira infância. Uma de suas referências metodológicas foi
o Primeira Infância Melhor (PIM), implantado no Rio Grande do Sul em abril de 2003 e a
metodologia “Care for Child Development” (tradução: Cuidados para o Desenvolvimento
da Criança – CDC), desenvolvido pelo UNICEF e OMS.
O PCF visa ao fortalecimento das competências familiares. Orientam as famílias, a partir
de sua cultura e experiências, para que promovam o desenvolvimento integral de suas
crianças, da gestação aos 6 anos de vida. As atividades ofertadas pelo Programa se
desenvolvem a partir de visitas domiciliares realizadas semanalmente por Visitadores
capacitados e supervisionados por um Supervisor vinculado ao CRAS. Tem como público
prioritário famílias em situação de risco e vulnerabilidade social cadastradas no Cadastro
Único para Programas Sociais (CadÚnico). Prevê a gestão intersetorial dos casos,
integrando prioritariamente saúde, educação e assistência social, direitos humanos e
cultura.
São objetivos do PCF, respaldados pelo Marco Legal da Primeira Infância:
209
210
• Gestantes, crianças de até três anos e suas famílias beneficiárias do Bolsa Família,
recentemente esse público foi ampliado para todo CadÚnico.
• Crianças de até seis anos e suas famílias beneficiárias do BPC (Benefício de
Prestação Continuada).
• Crianças de até seis anos afastadas do convívio familiar em razão da aplicação de
medida de proteção especial prevista no Estatuto da Criança e do Adolescente.
São seus principais eixos de atividades:
• Visitas domiciliares voltadas a promoção do desenvolvimento infantil.
Integração das Políticas de Atenção à Primeira Infância no território
Figura 5 – Lâmina de apresentação do PIM/PCF (Fonte: Secretaria de Saúde do Rio Grande do Sul,
2020)
Trata-se de um programa de livre adesão dos estados e municípios, cuja avaliação externa
se realiza sob coordenação do Dr. Cesar Victora (UFPel) e um consórcio de universidades
brasileiras.
210
211
Figura 6 – Mapa de adesão ao Programa Criança Feliz
Fonte: Secretaria Nacional de Atenção à Primeira Infância, Ministério da Cidadania, 2020
211
212
integral, prevenção de acidentes e educação sem uso de castigos físicos, nos termos da Lei
nº 13.010, de 26 de junho de 2014 , com o intuito de favorecer a formação e a consolidação
de vínculos afetivos e estimular o desenvolvimento integral na primeira infância.
§ 5º Os programas de visita domiciliar voltados ao cuidado e educação na primeira infância
deverão contar com profissionais qualificados, apoiados por medidas que assegurem sua
permanência e formação continuada.
212
213
POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL
3
BRASIL. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990.
4
BRASIL. Lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003.
5
BRASIL. Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015.
6
BRASIL. Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006.
7
COLIN, D. R. A e PEREIRA, J. M. F Gestão Integrada de Serviços, Benefícios e Transferência de Renda:
Alguns Apontamentos Sobre a Experiência Brasileira. In: CRUS, J. F. et al. Coletânea de Artigos
Comemorativos dos 20 Anos da Lei Orgânica de Assistência Social. Brasília: Ministério do
Desenvolvimento Social e Combate à Fome, 2013. 248p.
213
214
do acesso ao BPC, benefícios eventuais, transferência de renda do PBF e a
outras oportunidades”.
• “Segurança de convívio ou vivência familiar: pautada na centralidade da
família e no reconhecimento do papel do Estado em apoiá-la(...) Contempla a
perspectiva de que vínculos familiares e comunitários são fundamentais para
assegurar condições protegidas de desenvolvimento humano e das relações
familiares”.
• “Segurança de acolhida: voltada à proteção em situações excepcionais, nas
quais seja necessário prover acolhimento provisório em serviços de
acolhimento. Integra também esta segurança, a perspectiva da postura
acolhedora que deve orientar desde a organização da infraestrutura física dos
equipamentos até a postura ética, de respeito à dignidade e não-discriminação,
que deve estar presente no atendimento direto à população”.
214
215
pela política de Assistência Social. O financiamento dos serviços, programas e projetos
socioassistenciais constitui corresponsabilidade dos entes federados, cujos recursos
devem ser alocados nos respectivos fundos de assistência social. No caso dos benefícios, a
União é responsável pelo Benefício de Prestação Continuada (BPC), enquanto a
regulamentação e a concessão dos benefícios eventuais compete aos municípios, com
cofinanciamento também dos Estados.
Com a implementação do SUAS no Brasil, a partir de 2005,as ofertas da política de
Assistência Social passaram a ser norteadas por um comando único no país, com base em
parâmetros nacionalmente definidos, que asseguram uma padronização com certa
flexibilidade para adaptações em âmbito local.
Conforme previsão na LOAS, o SUAS conjuga ofertas públicas-estatais prestadas
diretamente pelo poder público e ofertas públicas não-estatais, executadas pelas
entidades e organizações de Assistência Social. As entidades de assistência social podem
ser isoladas ou cumulativamente de atendimento; de assessoramento; e de defesa e
garantia de direitos. Devem executar suas ações considerando os parâmetros do SUAS,
com inscrição nos Conselhos de Assistência Social, municipais ou do Distrito Federal. Para
que sejam reconhecidas como entidades socioassistenciais, elas também devem estar
cadastradas no Cadastro Nacional de Entidades de Assistência Social (CNEAS). Podem,
ainda, ser certificadas como entidades beneficentes, a partir de procedimentos específicos
para a concessão da Certificação para Entidades Beneficentes da Assistência Social
(CEBAS).
O SUAS conta com instâncias que asseguram transparência, pactuações interfederativas
e controle social. As Comissões Intergestores são os espaços para diálogo e pactuação de
parâmetros nacionais para organização e funcionamento do SUAS, com tomada de decisão
compartilhada e participativa, inclusive sobre critérios para partilha de recursos públicos,
dentre outros aspectos. As Comissões Intergestores Bipartites, de âmbito estadual,
reúnem gestores municipais e estaduais de Assistência Social. A Comissão Intergestores
Tripartite, de âmbito nacional, reúne gestores das diferentes as esferas da federação. Já as
instâncias de controle social são exercidas pelos Conselhos de Assistência Social, órgãos
vinculados ao órgão gestor da Assistência Social no âmbito da União, do Distrito Federal
(DF), dos estados e municípios. Compostos por representação paritária entre o governo e
a sociedade civil (nos diversos segmentos: usuários, trabalhadores do SUAS e entidades),
os Conselhos de Assistência Social possuem atribuições previstas na LOAS, dentre as quais
215
216
a deliberação sobre a política de Assistência Social, a apreciação e aprovação da proposta
orçamentária atual, a aprovação de critérios de partilha de recursos públicos, etc.
Uma função importante do SUAS é a da Vigilância Socioassistencial, que se dedica a apoiar
as atividades de planejamento, gestão, supervisão e execução de serviços
socioassistenciais por meio da produção, sistematização, análise de informações e
construção de diagnósticos territorializados sobre as situações de vulnerabilidade e risco
pessoal e social e ofertas da rede socioassistencial. Contribui, assim, para a formulação e
execução de ações que favoreçam o caráter preventivo da política, a redução de agravos e
a adequação da oferta e cobertura.
A área de Vigilância Socioassistencial é vinculada à Gestão do SUAS e deve estar
estruturada nas diferentes esferas. O SUAS dispõe de um conjunto de ferramentas
voltadas para registro de informações e gestão da informação como, por exemplo, o
Cadastro Único, o Censo SUAS, o CadSUAS, o Sistema de Registro Mensal de
Atendimentos e o Prontuário SUAS. O Censo SUAS é o principal instrumento de
monitoramento e avaliação da implantação e execução das ofertas da Assistência Social
prestadas no país. Reúne questionários com informações referentes aos equipamentos,
serviços, gestão e Conselhos de Assistência Social.
A oferta de serviços, programas, projetos e benefícios socioassistenciais é viabilizada pela
Proteção Social Básica e Proteção Social Especial (de Média e Alta Complexidade) do SUAS, cuja
estruturação considera as especificidades das situações atendidas, segundo sua complexidade e
agravamentos.
A seguir serão apresentadas de forma sintética as ofertas do SUAS, por nível de
complexidade. No que diz respeito especificamente à primeira infância, o SUAS conjuga
tanto ofertas direcionadas à família como um todo, incluindo famílias com gestantes e
crianças na primeira infância – a exemplo do Serviço de Proteção e Atendimento Integral
à Família – como ofertas mais especificamente direcionadas à criança – como o Benefício
de Prestação Continuada (BPC e os Serviços de Acolhimento – cuja provisão pode também
alcançar e ou ter reflexos sobre seu contexto familiar, conforme a especificidade da
provisão e articulações que possa impulsionar.
Saiba mais:
• POLÍTICA NACIONAL DE ASSISTÊNCIA SOCIAL. Resolução CNAS nº 145, de 15 de
outubro de 2004. Disponível em:
216
217
http://www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/assistencia_social/Normativas/PNAS200
4.pdf
• TIPIFICAÇÃO NACIONAL DOS SERVIÇOS SOCIOASSISTENCIAIS. Resolução nº 109, de 11
de novembro de 2009:
http://www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/assistencia_social/Normativas/tipificacao
.pdf
• NORMA OPERACIONAL BÁSICA DO SUAS. Resolução CNAS nº 33 de 12 de dezembro de
2012: http://www.mds.gov.br/webarquivos/public/NOBSUAS_2012.pdf
• A CRIANÇA E SUA FAMÍLIA NO CONTEXTO DOS SERVIÇOS SOCIOASSISTENCIAIS:
Avanci, J. Q., Ferro, V. S. e Jacobina, O. M. P. (Orgs). Fundação Oswaldo Cruz e Ministério do
Desenvolvimento Social, 2018:
http://www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/assistencia_social/Cadernos/2019/Curso
_crianca_fam%C3%ADlia_contexto_servicos_socioassistenciais.pdf
• CONCEPÇÃO DE CONVIVÊNCIA E FORTALECIMENTO DE VÍNCULOS:
http://www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/assistencia_social/Cadernos/concepcao_f
ortalecimento_vinculos.pdf
• ATENÇÃO ÀS FAMÍLIAS DAS MULHERES GRÁVIDAS, LACTANTES E COM FILHAS(OS)
ATÉ 12 ANOS INCOMPLETOS OU COM DEFICIÊNCIA PRIVADAS DE
LIBERDADE:(http://www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/crianca_feliz/Documento%
20mulheres%20encarceradas%20final.pdf
217
218
Figura 7 – Equipamentos do SUAS e público-alvo
(Fonte: Secretaria Nacional de Assistência Social-SNAS/SEDS, Ministério da Cidadania, 2020).
218
219
Figura 8 – Serviços Socioassistenciais e Unidades de Oferta.
(Fonte: SNAS/SEDS, Ministério da Cidadania, 2020).
O que é?
O Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) é a porta de entrada para a política
de Assistência Social. De natureza público-estatal, o CRAS é o principal equipamento de
219
220
referência do SUAS para o atendimento à população, localizado prioritariamente nos
territórios de maior vulnerabilidade social.
Oferta, obrigatoriamente, o Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família (PAIF).
A partir do adequado conhecimento do território, promove articulação com a rede
socioassistencial e das demais políticas, para a atenção às demandas das famílias
atendidas. Assim, apoia o acesso da população aos serviços, benefícios, programas,
projetos de assistência social e de outras políticas e representa uma referência importante
para a população e a rede local, desempenhando um papel relevante na intersetorialidade
e no trabalho em rede.
Conhecendo o território, a equipe do CRAS pode apoiar, ainda, ações comunitárias na
comunidade na construção de soluções coletivas para o enfrentamento de problemas
comuns e a potencialização dos recursos locais.
Nos territórios de grandes extensões, com populações dispersas e isoladas e populações
ribeirinhas, os CRAS podem contar com equipes volantes que se deslocam pelos
territórios.
Serviços ofertados
O CRAS oferta obrigatoriamente o Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família
(PAIF). Pode ofertar o Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos (SCFV) e o Serviço
de Proteção Social Básica no Domicílio para Pessoas com Deficiência e Idosas. Mesmo quando
a oferta desses serviços não é realizada no CRAS, este tem a atribuição de referenciá-las,
o que significa, entre outras coisas, mantê-las integradas ao conjunto de ofertas do SUAS,
por meio do compartilhamento de informações e fluxos de atendimento e
encaminhamentos.
No CRAS, os cidadãos também são orientados sobre o acesso aos benefícios
socioassistenciais e encaminhados para a inclusão em programas e serviços do SUAS ou de
outras políticas. Estes equipamentos representam o principal posto de inclusão da
população no Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal.
Público Atendido:
Famílias em situação de pobreza e vulnerabilidade social; inseridas no Cadastro Único;
beneficiárias do Programa Bolsa Família, com prioridade para aquelas em
descumprimento de condicionalidades; famílias com beneficiários do Benefício de
Prestação Continuada (BPC); atendidas pelo Programa Criança Feliz, dentre outras.
220
221
Formas de Acesso: Demanda espontânea, busca ativa ou encaminhamentos da rede.
O que é?
O Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família (PAIF) é obrigatoriamente
oferecido pelos Centros de Referência da Assistência Social (CRAS) e tem por objetivo
apoiar as famílias em situação de vulnerabilidade social, prevenindo a ruptura de vínculos,
o agravamento das vulnerabilidades e a ocorrência de situações de violência, promovendo
o acesso a direitos e contribuindo para a melhoria da qualidade de vida, a autonomia das
famílias e processos de inclusão social.
O trabalho social com famílias que é realizado no âmbito do PAIF consiste em um conjunto
de procedimentos com o objetivo de contribuir para a convivência, reconhecimento de
direitos e possibilidades de intervenção na vida social de uma família. Este trabalho
estimula as potencialidades das famílias e da comunidade, promove espaços coletivos de
escuta e troca de vivências. Tem por objetivo fortalecer vínculos e a capacidade protetiva
das famílias, prevenir situações de riscos sociais, reduzir vulnerabilidades materiais e
relacionais das famílias e apoiar processos de inclusão social.
221
222
Figura 9 – Atuação do PAIF (Fonte: SNAS/SEDS, Ministério da Cidadania, 2020).
Público Atendido:
Podem participar do PAIF famílias em situação de vulnerabilidade social. São prioritários
no atendimento as famílias beneficiárias do PBF, especialmente aquelas em
descumprimento de condicionalidades; famílias com beneficiários do BPC; e famílias que
atendem os critérios de participação em programas de transferência de renda e benefícios
assistenciais.
Objetivos:
222
223
▪ A promoção do acesso a benefícios, programas de transferência de renda e serviços
socioassistenciais.
▪ O apoio a famílias que possuem, dentre seus membros, indivíduos que necessitam de
cuidados, por meio da promoção de espaços coletivos de escuta e troca de vivências
familiares.
Formas de Acesso:
Para participar do PAIF é necessário procurar o CRAS mais próximo da sua residência.
Além da busca espontânea, as famílias podem ser incluídas no PAIF por meio de ações de
busca ativa ou encaminhamentos da rede ao CRAS.
Atividades:
O PAIF oferece atendimento às famílias, visitas domiciliares, orientações e
encaminhamento a outros serviços, programas e benefícios. O serviço também apoia
ações comunitárias, por meio de palestras, campanhas e eventos, ajudando a comunidade
na construção de soluções coletivas para o enfrentamento de problemas comuns, como
nos casos de falta de acessibilidade, a violência no bairro, o trabalho infantil, a falta de
transporte, a baixa qualidade na oferta de serviços, ausência de espaços de lazer, cultura,
dentre outros.
223
224
• Promover acessos a serviços setoriais, em especial das políticas de educação,
saúde, cultura, esporte e lazer existentes no território, contribuindo para o
usufruto dos usuários aos demais direitos.
• Oportunizar o acesso às informações sobre direitos e sobre participação cidadã,
estimulando o desenvolvimento do protagonismo dos usuários.
• Possibilitar acessos a experiências e manifestações artísticas, culturais, esportivas
e de lazer, com vistas ao desenvolvimento de novas sociabilidades.
• Desenvolver atividades intergeracionais, propiciando trocas de experiências e
vivências, buscando fortalecer o respeito, a solidariedade e os vínculos familiares e
comunitários.
224
225
• Complementar as ações de proteção e desenvolvimento das crianças e o
fortalecimento dos vínculos familiares e sociais.
225
226
http://www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/assistencia_social/Cadernos/Cartilha_
PAIF_1605.pdf
Benefícios Assistenciais
Benefícios eventuais
São benefícios da Política de Assistência Social, de caráter suplementar* e provisório,
prestados aos cidadãos e às famílias em virtude de nascimento, morte, situações de
vulnerabilidade temporária e de calamidade pública. Os Benefícios Eventuais devem ser
prestados com agilidade a todos que dele necessitarem, sem discriminação e sem a
226
227
exigência de qualquer contrapartida ou contribuição por parte de seus usuários. Para
garantir essa agilidade NÃO pode exigir que o requerente esteja no CADASTRO ÚNICO.
Objetivo
Os Benefícios Eventuais visam ao atendimento imediato das necessidades humanas
básicas decorrentes de contingências sociais, ou seja, de situações que fogem ao cotidiano
das famílias e indivíduos.
227
228
Cabe aos estados, aos municípios e ao Distrito Federal a regulamentação acerca da
definição dos critérios da concessão e do valor dos Benefícios Eventuais a serem
oferecidos em seus territórios. Além disso, devem prever recursos para seu financiamento
em suas respectivas leis orçamentárias anuais.
228
229
• Monitoramento do percurso do usuário.
Público do Programa:
Populações urbanas e rurais em situação de vulnerabilidade e risco social com idade entre
14 e 59 anos, com prioridade para usuários de serviços, projetos e programas de
transferência de renda socioassistenciais, em especial:
229
230
abril de 2007, que envolve ações articuladas entre Assistência Social, Educação, Saúde e
Direitos Humanos.
O Programa tem como objetivo garantir o acesso e a permanência na escola de crianças e
adolescentes com deficiência, de 0 a 18 anos, beneficiários do Benefício de Prestação
Continuada da Assistência Social (BPC).
O BPC na Escola se estrutura a partir de quatro eixos principais, que visam: (1) identificar
entre os beneficiários do BPC até 18 anos aqueles que estão na Escola e aqueles que estão
fora da Escola; (2) identificar as principais barreiras para o acesso e a permanência na
Escola das pessoas com deficiência beneficiárias do BPC; (3) realizar estudos e
desenvolver estratégias conjuntas para a superação destas barreiras; e (4) realizar o
acompanhamento sistemático das ações e dos programas dos entes federados que
aderirem ao Programa.
A visitação domiciliar e aplicação do Questionário de Identificação das Barreiras são
importantes estratégias do Programa BPC na Escola.
Este é um programa muito importante para atenção às crianças na primeira infância com
deficiência.
Proteção Social Especial: conjunto de serviços, programas e projetos que tem por objetivo
contribuir para a reconstrução de vínculos familiares e comunitários, o fortalecimento das
potencialidades e aquisições e a proteção das famílias e indivíduos para o enfrentamento
das situações de violações de direitos.
Proteção Social Especial de Média Complexidade: abarca um conjunto de serviços e um
programa que objetivam prover proteção para indivíduos e famílias que vivenciam
situações de risco, violências e outras violações de direitos, com foco na superação de tais
situações, no rompimento do ciclo de padrões violadores de direitos presentes nos
territórios e na restauração e preservação da integridade e das condições de autonomia
das famílias.
PSE de Alta Complexidade: abrange Serviços de Acolhimento para proteção integral
(moradia, alimentação, higiene e trabalho) de famílias e indivíduos afastados
230
231
temporariamente do núcleo familiar e/ou comunitário (crianças e adolescentes; adultos e
famílias; mulheres em situação de violência; pessoas idosas; jovens e adultos com
deficiência). Esses acolhimentos são executados por meio de diversos tipos de
equipamentos e modalidades de acolhimento e sua organização deve considerar as
especificidades de cada segmento populacional, e respeito à legislação vigente. Também
integra este nível de proteção, Serviço do SUAS organizado para atendimento a situações
específicas de Calamidades Públicas e de Emergências.
O que é?
O Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS) é uma unidade
pública-estatal da política de Assistência Social que oferta serviços especializados a
famílias e indivíduos que estão em situação de risco social, com violação de direitos. Estes
equipamentos são implementados pelos municípios e Distrito Federal ou pelos Estados, no
caso de oferta regionalizada para cobertura a pequenos municípios com pouca demanda
de atendimento.
Serviços ofertados
A unidade deve, obrigatoriamente, ofertar o Serviço de Proteção e Atendimento Especializado
a Famílias e Indivíduos (PAEFI), podendo ofertar também o Serviço de Proteção Social a
Adolescentes em Cumprimento de Medidas Socioeducativas de Liberdade Assistida e de
Prestação de Serviços à Comunidade. Pode ofertar ou referenciar, ainda, o Serviço
Especializado em Abordagem Social e o Serviço de Proteção Social Especial para Pessoas com
Deficiência, Idosas e suas famílias.
Realiza o acompanhamento das famílias e indivíduos em situação de risco social; orienta e
encaminha usuários para acesso a benefícios e serviços socioassistenciais e das demais
políticas públicas; realiza orientação jurídica e presta informações sobre órgãos de defesa
231
232
de direitos e como acessá-los; apoia o acesso à documentação pessoal, a inclusão no
Cadastro Único e realiza articulação intersetorial com a rede socioassistencial, das demais
políticas públicas e órgãos de defesa de direitos para atenção às situações atendidas,
visando sua superação e proteção aos usuários.
Público Atendido
Famílias e indivíduos em situação de risco pessoal e social, em situação de violência e
outras violações de direitos, como: violência física, psicológica e negligência; violência
sexual; afastamento do convívio familiar devido à aplicação de medida de proteção;
situação de rua; abandono; trabalho infantil; discriminação por orientação sexual e/ou
raça/etnia; descumprimento de condicionalidades do Programa Bolsa Família em
decorrência de violação de direitos; dentre outras.
Formas de Acesso
Busca espontânea ou encaminhamentos da rede de proteção social e órgãos de defesa de
direitos.
232
233
Serviço de Proteção e Atendimento Especializado a Famílias e Indivíduos – PAEFI
O que é?
Serviço especializado voltado para famílias e pessoas que estão em situação de risco social
ou tiveram seus direitos violados. Oferece apoio, orientação e acompanhamento, de modo
articulado à rede, visando à superação dessas situações por meio do fortalecimento ou da
reconstrução dos vínculos familiares e comunitários, ou do apoio à construção de novas
referências, quando for o caso. Atua para prevenir novas ocorrências, ou agravamento das
situações, contribuindo para romper padrões violadores de direitos. Apoia, ainda, o acesso
a serviços e direitos, como estratégia de suporte a processos de inclusão social, por meio
de encaminhamentos e articulação com outras políticas e sistema de justiça, buscando
minimizar exposição a riscos sociais e violação de direitos e oferecer oportunidades e
apoios para a promoção da cidadania.
Unidade de oferta
O serviço deve ser ofertado, obrigatoriamente, pelo Centro de Referência Especializado
de Assistência Social (CREAS).
Público Atendido
Pessoas e famílias que sofrem algum tipo de violação de direito, como violência física e/ou
psicológica, negligência, violência sexual (abuso e/ou exploração sexual); em situação de
abandono; famílias com crianças e adolescentes com medida protetiva de acolhimento;
trabalho infantil; situação de rua; discriminações por orientação sexual e/ou raça/etnia,
dentre outras.
Objetivos
▪ Contribuir para o fortalecimento da família no seu papel de proteção.
▪ Incluir famílias no sistema de proteção social e nos serviços públicos.
▪ Contribuir para superação de violações de direitos na família.
▪ Prevenir a reincidência de violações de direitos.
Ações/Atividades
Para alcançar os objetivos, o PAEFI desenvolve trabalho social realizado pela equipe
composta por profissionais de diversas áreas, como assistentes sociais, psicólogos e
advogados. Dentre as atividades estão a identificação das necessidades das pessoas que
buscam ou são encaminhadas ao CREAS; atenção especializada; atendimento
233
234
socioassistencial individual, familiar ou em grupo; orientação sobre direitos;
encaminhamento para outros serviços da Assistência Social e de outras políticas, como
saúde, educação, trabalho e renda, habitação; orientação jurídica; acesso à documentação
etc.
Formas de Acesso
Demanda espontânea ou encaminhamento por outros serviços da Assistência Social ou de
outras políticas públicas, como saúde, educação e direitos humanos; por órgãos do Sistema
de Garantia de Direitos, como Conselhos de Direitos, Conselhos Tutelares, Ministério
Público e Defensoria Pública; ou pelo Sistema de Segurança Pública.
Regionalização
A regionalização do PAEFI constitui-se como uma das estratégias de ampliação do
atendimento do Sistema Único de Assistência Social (SUAS), direcionada a assegurar o
acesso ao atendimento nos CREAS Regionais às populações dos municípios com até
20.000 habitantes.
Saiba mais:
Consulte o caderno de orientações técnicas: centro de referência especializado de
assistência social
http://www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/assistencia_social/Cadernos/orienta
coes_creas.pdf
O que é?
O Serviço Especializado em Abordagem Social é ofertado de forma continuada e
programada com a finalidade de assegurar trabalho social de abordagem e busca ativa que
identifique, nos territórios, a incidência de trabalho infantil, exploração sexual de crianças
e adolescentes, situação de rua, dentre outras.
No cotidiano de suas ações deverão ser consideradas praças, entroncamento de estradas,
fronteiras, espaços públicos onde se realizam atividades laborais, locais de intensa
circulação de pessoas e existência de comércio, terminais de ônibus, trens, metrô e outros.
O Serviço deve buscar soluções mais imediatas para promover a inserção na rede de
234
235
serviços socioassistenciais e das demais políticas públicas na perspectiva da proteção,
redução de riscos sociais e acesso a direitos.
O que é?
235
236
Serviço ofertado para pessoas que utilizam as ruas como espaço de moradia e/ou
sobrevivência. Tem a finalidade de assegurar atendimento e atividades direcionadas para
o desenvolvimento de sociabilidades, na perspectiva de fortalecimento de vínculos
interpessoais e/ou familiares que oportunizem a construção de novos projetos de vida.
Oferece trabalho técnico para a análise das demandas dos usuários, orientação individual
e grupal e encaminhamentos a outros serviços socioassistenciais e das demais políticas
públicas que possam contribuir na construção da autonomia, da inserção social e da
proteção às situações de violência. Deve promover o acesso a espaços de guarda de
pertences, de higiene pessoal, de alimentação e provisão de documentação civil.
Proporciona endereço institucional para utilização, como referência, do usuário.
Saiba mais:
Caderno de orientações técnicas: centro de referência especializado para população em
situação de rua – centro pop:
http://www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/assistencia_social/Cadernos/orienta
coes_centro_pop.pdf
O que é?
O Centro-Dia é uma Unidade de oferta do Serviço de Proteção Social Especial para
Pessoas com Deficiência, idosas com algum grau de dependência e suas Famílias, de
abrangência municipal e do DF, podendo ser pública estatal, ou não-estatal. É organizado
por ciclos de vida: Crianças e adolescentes; Pessoas Adultas e Pessoas Idosas.
Tem por objetivo ampliar a capacidade das famílias de cuidar, compartilhando os cuidados
diários, apoiando, orientando e articulando redes de serviços no território, para as devidas
atenções as necessidades das pessoas com deficiência, pessoas idosas e o (a) cuidador (a)
familiar, no acesso a renda e a outros direitos, evitando o isolamento social e promovendo
convívio e ampliação da autonomia. Visa ainda enfrentar a pobreza, a negligência e o
236
237
abandono, que podem prejudicar a independência e a autonomia de pessoas cuidadas e
cuidadores (as).
Saiba mais:
http://www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/assistencia_social/Cadernos/caderno_c
entro_dia_orientacoes_tecnicas2.pdf
O trabalho infantil pode ter repercussões prejudiciais para a saúde física e mental de
crianças e adolescentes, mesmo na primeira infância. O trabalho infantil pode provocar
acidentes, diversas formas de adoecimento e até morte, além de impactos prejudiciais no
desenvolvimento físico-biológico, psicológico-emocional e social.
As Ações Estratégicas do PETI fortalecem o papel de gestão e de articulação da rede de
proteção ao prever a realização de articulação intersetorial para o enfrentamento do
trabalho infantil e prevê cofinanciamento específico para municípios e estados.
São estruturadas em cinco eixos: 1. Informação e mobilização; 2. Identificação; 3.
Proteção;4. Defesa e Responsabilização; e 5. Monitoramento. Os serviços já existentes,
como PAEFI e SCVF fazem o atendimento e o programa fortalece e organiza a rede para o
atendimento dos casos.
Saiba mais:
http://blog.mds.gov.br/redesuas/wp-content/uploads/2019/09/Caderno-de-Orietações-
Técnicas-PETI.pdf.
237
238
PROTEÇÃO SOCIAL ESPECIAL DE ALTA COMPLEXIDADE
O que é?
São serviços que acolhem Crianças e Adolescentes em medidas protetivas de acolhimento,
por determinação judicial, em decorrência de violação de direitos (abandono, negligência,
violência) ou pela impossibilidade de cuidado e proteção por sua família. Estes serviços são
prestados de modo preponderante pelos municípios e Distrito Federal, podendo ser
prestados também pelos Estados, de forma regionalizada.
O afastamento da criança ou do adolescente da família deve ser uma medida excepcional,
aplicada apenas nas situações de grave risco à sua integridade física e/ou psíquica. O
objetivo é viabilizar, no menor tempo possível, o retorno seguro ao convívio familiar,
prioritariamente na família de origem e, excepcionalmente, o encaminhamento para
adoção.
Natureza da oferta
O serviço é de natureza pública estatal ou pública não-estatal, ofertado nas unidades de
serviços de acolhimento institucional ou por Serviços de Acolhimento em Famílias
Acolhedoras.
Oferta Regionalizada
É facultado aos Estados a organização da oferta regionalizada de Serviços de Acolhimento
para Crianças e Adolescentes em municípios abaixo de 50.000 habitantes. Nesse caso, o
estado é quem organiza, estrutura, coordena e oferece a oferta regionalizada. O serviço
regionalizado está em processo de implantação.
238
239
a) Acolhimento Institucional – Crianças e Adolescentes
239
240
O atendimento deverá ser oferecido para um pequeno grupo e garantir espaços privados
para a guarda de objetos pessoais e registros, relacionados à história de vida e
desenvolvimento de cada criança e adolescente.
Como acessar
O acesso ao Acolhimento Institucional para Crianças e Adolescentes se dá
encaminhamento do Poder Judiciário ou Conselho Tutelar. Nesse último caso, a
autoridade judiciária deverá ser comunicada, conforme previsto no Artigo 93 do Estatuto
da Criança e do Adolescente, até 24 horas.
240
241
O que diz o Marco legal da Primeira Infância?
§ 7º Quando se tratar de criança de 0 (zero) a 3 (três) anos em acolhimento institucional,
dar-se-á especial atenção à atuação de educadores de referência estáveis e
qualitativamente significativos, às rotinas específicas e ao atendimento das necessidades
básicas, incluindo as de afeto como prioritárias.” (NR)
Estratégia de atenção à primeira infância: Qualificar os serviços de acolhimento, por
meio da formação profissional sobre cuidado integral e vínculos afetivos
241
242
temporário de crianças e de adolescentes em residências de famílias selecionadas,
capacitadas e acompanhadas que não estejam no cadastro de adoção.
§ 4º Poderão ser utilizados recursos federais, estaduais, distritais e municipais para a
manutenção dos serviços de acolhimento em família acolhedora, facultando-se o repasse
de recursos para a própria família acolhedora.” (NR)
Saiba mais:
• ORIENTAÇÕES TÉCNICAS: SERVIÇOS DE ACOLHIMENTO PARA CRIANÇAS E
ADOLESCENTES. Resolução Conjunta CNAS e CONANDA nº 1/2006.
http://www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/assistencia_social/Cadernos/orientacoes
-tecnicas-servicos-de-alcolhimento.pdf
• ORIENTAÇÕES TÉCNICAS PARA A ELABORAÇÃO DO PLANO INDIVIDUAL DE
ATENDIMENTO (PIA) DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES EM SERVIÇOS DE
ACOLHIMENTO.
http://www.mds.gov.br/webarquivos/arquivo/assistencia_social/Orientacoestecnicaspara
elaboracaodoPIA.pdf
242
243
• PRONTUÁRIO SUAS – SERVIÇOS DE ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL PARA
CRIANÇAS E ADOLESCENTES
http://www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/assistencia_social/prontuario/Prontu%C
3%A1rio_Acolhimento_Vers%C3%A3o_Final_2.4.pdf
• PLANO INDIVIDUAL DE ATENDIMENTO (PIA).
http://www.mds.gov.br/webarquivos/arquivo/assistencia_social/Orientacoestecnicaspara
elaboracaodoPIA.pdf
O que é?
Os Serviços de Acolhimento Institucional (Abrigos Institucionais e Casas de Passagem) e
os Serviços de Acolhimento em República são serviços que integram a Proteção Social
Especial de Alta Complexidade do Sistema Único de Assistência Social – SUAS. A
especificidade desses Serviços está na oferta de atendimento integral que garanta
condições de estadia, convívio, endereço de referência, para acolher com privacidade
pessoas em situação de rua e desabrigo por abandono, migração, ausência de residência
ou pessoas em trânsito e sem condições de autossustento.
A organização dos diferentes Serviços de Acolhimento para Pessoas Adultas e Famílias em
Situação de Rua tem como objetivo principal atender de forma qualificada e personalizada
de modo a promover a construção conjunta com o usuário do seu processo de saída das
ruas, com dignidade e respeito a sua vontade e nível de autonomia. O atendimento
conjunto da família mantém o convívio familiar. Crianças e adolescentes podem ser
atendidos nestes serviços quando estão acolhidas com sua família ou responsáveis.
Abrigo institucional – Unidade que oferece acolhimento provisório, inserida na
comunidade, com características residenciais, e que proporcione ambiente acolhedor e
respeite as condições de dignidade dos seus usuários. Deve ofertar atendimento
individualizado e especializado, com vistas a conhecer a história da pessoa que está sendo
atendida. É importante também que sejam realizadas abordagens coletivas a fim de
favorecer o fortalecimento de vínculos sociais, comunitários e familiares.
Casa de Passagem – Unidade de acolhimento imediato e emergencial para famílias ou
pessoas do mesmo sexo. Trabalha na perspectiva de atender a demanda específica,
verificar a situação apresentada e assim realizar os devidos encaminhamentos. Deverá
conter equipe especializada para atender e receber usuários a qualquer horário do dia ou
243
244
da noite e realizar estudo de caso para encaminhamentos necessário. O Público-alvo são
pessoas adultas do mesmo sexo ou famílias em situação de rua e desabrigo por abandono,
migração e ausência de residência ou ainda pessoas em trânsito.
República – Serviço que oferece proteção, apoio e moradia subsidiada e deve ser
desenvolvido em sistema de autogestão ou cogestão, possibilitando gradual autonomia e
independência de seus moradores. É destinado a pessoas adultas com vivência de rua em
fase de reinserção social, que estejam em processo de restabelecimento dos vínculos
sociais e construção de autonomia.
Oferta Regionalizada
O processo de implementação da regionalização dos serviços de acolhimento para adultos
e famílias ocorre sob a coordenação estadual, visa à implantação de unidades regionais de
acolhimento, com o objetivo de cobrir a demanda em municípios de pequeno porte (com
até 50 mil habitantes), principalmente para migrantes.
Nesse caso, o estado é quem organiza, estrutura, coordena e oferece a oferta
regionalizada. O serviço regionalizado está em processo de implantação.
No que diz respeito à Assistência Social, as atenções no âmbito do SUAS a estas situações
volta-se à proteção de famílias e indivíduos atingidos pela Situação de Emergência Social,
convergindo esforços com outras políticas.
São exemplos de situações de Emergência Social que demandaram atuação da Assistência
Social:
244
245
• Crise humanitária de caráter emergencial em razão do fluxo migratório de
venezuelanos para o Brasil.
O que é?
O Serviço de Proteção em Calamidades Públicas e Emergências é um serviço de proteção
especial do SUAS para enfrentamento de situações de Calamidades Públicas e
Emergências reconhecidas pelo Ministério do Desenvolvimento Regional – MDR. Está
previsto na Resolução CNAS nº 109, de 11 de novembro de 2009, que aprova a Tipificação
Nacional de Serviços Socioassistenciais e é regulamentado pela Portaria MDS nº 90, de 3
de setembro de 2013. O serviço promove apoio e proteção à população atingida por
situações de emergência e calamidade pública, com a oferta de alojamentos provisórios,
atenções e provisões materiais, conforme as necessidades detectadas. Assegura a
realização de articulações e a participação em ações conjuntas de caráter intersetorial
para a minimização dos danos ocasionados e o provimento das necessidades verificadas.
Todos os estados e municípios são elegíveis e podem acionar o Ministério da Cidadania
para este apoio, sempre que se encontrar em situação de calamidade pública ou de
emergência.
Usuários
Famílias e Indivíduos atingidos por situações de emergência e calamidade pública
(incêndios, desabamentos, deslizamentos, alagamentos, dentre outras) que tiveram
perdas parciais ou totais de moradia, objetos ou utensílios pessoais, e se encontram
245
246
temporária ou definitivamente desabrigados; e famílias e indivíduos que foram removidos
de áreas consideradas de risco, por prevenção ou determinação do Poder Judiciário.
Objetivos
• Assegurar acolhimento imediato em condições dignas e de segurança.
• Manter alojamentos provisórios, quando necessário.
• Identificar perdas e danos ocorridos e cadastrar a população atingida.
• Articular a rede de políticas públicas e redes sociais de apoio para prover as
necessidades detectadas.
• Promover a inserção na rede socioassistencial e o acesso a benefícios eventuais.
Saiba mais:
• https://www.gov.br/cidadania/pt-br/noticias-e-conteudos/publicacoes-
1/desenvolvimento-social
• http://blog.mds.gov.br/redesuas/
• http://blog.mds.gov.br/redesuas/apoio-tecnico/#Publicacoes
• http://blog.mds.gov.br/redesuas/regulacao/#1550514555620-8f962e97-3310
• http://blog.mds.gov.br/redesuas/regulacao/#1574791529886-14ae2aaf-70b7
246
247
1.8.4. Políticas de Direitos Humanos, Família e Mulheres
247
248
desempenhadas por agentes privados que atuam como delegatários do Poder Público,
conforme determina o art. 236 da Constituição Federal, regulamentado pela Lei nº 8.935,
de 18 de novembro de 1994.
O Marco Legal da Primeira Infância, inseriu na Lei nº 12.662, de 5 de junho de 2012, a
determinação de que os estabelecimentos de saúde públicos e privados que realizam
partos teriam prazo de um ano para, mediante sistema informatizado, se interligarem com
as serventias de registro civil existentes nas unidades federativas (Lei 13.257/2016, art.
42).
Apesar de terem sido regulamentadas há uma década e de serem legalmente exigíveis
desde março de 2017, ainda é relativamente baixo o número de UIs. Ao final de junho de
2020, havia apenas 608 UIs cadastradas no sistema Justiça Aberta, mantido pelo CNJ, para
um universo superior a 5 mil hospitais que realizam partos no país, dos quais cerca de 2,5
mil integram a rede de atendimento do SUS. De todos os 5.570 municípios brasileiros, as
UIs estavam presentes em apenas 312 deles.
248
249
Para saber mais
Visite: https://www.gov.br/mdh/pt-br/navegue-por-temas/registro-civil-de-nascimento/
Art. 33. O art. 102 da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 , passa a vigorar
acrescido dos seguintes §§ 5º e 6º :
§ 5º Os registros e certidões necessários à inclusão, a qualquer tempo, do
nome do pai no assento de nascimento são isentos de multas, custas e
emolumentos, gozando de absoluta prioridade.
§ 6º São gratuitas, a qualquer tempo, a averbação requerida do
reconhecimento de paternidade no assento de nascimento e a certidão
correspondente.” (NR) (Lei 13.257/2016).
O Disque 100 é um serviço que acolhe denúncias anônimas ou não, sobre violências contra
pessoas vulneráveis, por meio de discagem gratuita, de qualquer terminal telefônico fixo
ou móvel (celular), bastando discar 100. Funciona diariamente, 24 horas por dia, incluindo
sábados, domingos e feriados.
A partir das denúncias são acionados os órgãos competentes, possibilitando em muitos
casos o flagrante e a imediata proteção das vítimas. Após análise a denúncia é
encaminhada aos órgãos de proteção, defesa e responsabilização em direitos humanos,
respeitando as competências de cada órgão.
O Disque 100 recebe, analisa e encaminha denúncias de violações de direitos humanos
relacionadas aos seguintes grupos e/ou temas:
249
250
✓ Crianças e adolescentes
✓ Pessoas idosas
✓ Pessoas com deficiência
✓ Pessoas em restrição de liberdade
✓ População LGBT
✓ População em situação de rua
✓ Discriminação ética ou racial
✓ Tráfico de pessoas
✓ Trabalho escravo
✓ Terra e conflitos agrários
✓ Moradia e conflitos urbanos
✓ Violência contra ciganos, quilombolas, indígenas e outras comunidades
tradicionais
✓ Violência policial (inclusive das forças de segurança pública no âmbito da
intervenção federal no estado do Rio de Janeiro)
✓ Violência contra comunicadores e jornalistas
✓ Violência contra migrantes e refugiados
Para registrar uma denúncia pelo Disque 100 é importante informar: Quem sofre a
violência, qual é o tipo da violência? (violência física, psicológica, maus tratos, abandono),
quem pratica a violência? (suspeito), como chegar ou localizar a vítima/suspeito (endereço
ou ao menos um ponto de referência), há quanto tempo ocorreu ou ocorre a violência, o
horário da ocorrência, entre outros.
Qualquer pessoa pode fazer uma denúncia e o Ministério da Mulher, da Família fornece
número de protocolo para que o denunciante possa acompanhar seu andamento.
Além do Disque 100, é possível utilizar o Aplicativo Direitos Humanos Brasil, Site
(https://ouvidoria.mdh.gov.br/), Telegram (basta digitar "Direitoshumanosbrasil) e E-mail:
ouvidoria@mdh.gov.br.
Em breve será possível fazer denúncias na língua brasileira de sinais – LIBRAS.
250
251
Dados sobre os atendimentos realizados pelo Disque 100: https://www.gov.br/mdh/pt-
br/acesso-a-informacao/ouvidoria/balanco-disque-100
O que é?
Os Conselhos dos Direitos da Criança e do Adolescente são órgãos deliberativos
responsáveis por assegurar, na União, nos estados, Distrito Federal e nos municípios,
prioridade para a infância e a adolescência.
O Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente – CONANDA foi criado em
1991 pela Lei nº 8.242, sendo um órgão colegiado permanente, de caráter deliberativo e
composição paritária, previsto no artigo 88 da lei no 8.069/90 – Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA). Integrante da estrutura do Ministério da Mulher da Família e dos
Direitos Humanos – MMFDH.
Por meio da gestão compartilhada, governo e sociedade civil definem, no âmbito do
Conselho, as diretrizes para a Política Nacional de Promoção, Proteção e Defesa dos
Direitos de Crianças e Adolescentes. Além de contribuir para a definição das políticas para
a infância e a adolescência, o CONANDA também fiscaliza as ações executadas pelo poder
público no que diz respeito ao atendimento da população infanto-juvenil.
A gestão do Fundo Nacional para a Criança e o Adolescente (FNCA) também é uma das
atribuições do Conselho. É ele o responsável pela regulamentação sobre a criação e a
utilização desses recursos, garantindo que sejam destinados às ações de promoção,
proteção e garantia dos direitos de crianças e adolescentes, conforme estabelece o
Estatuto da Criança e do Adolescente.
Outras atribuições do CONANDA:
251
252
• Definir as diretrizes para a criação e o funcionamento dos Conselhos Estaduais,
Distrital e Municipais dos Direitos da Criança e do Adolescente e dos Conselhos
Tutelares.
• Estimular, apoiar e promover a manutenção de bancos de dados com informações
sobre a infância e a adolescência.
• Acompanhar a elaboração e a execução do orçamento da União, verificando se
estão assegurados os recursos necessários para a execução das políticas de
promoção e defesa dos direitos da população infanto-juvenil.
• Convocar, a cada três anos a Conferência Nacional dos Direitos da Criança e do
Adolescente.
• Incentivar os Conselhos de Direitos na consecução do papel de acompanhamento
e monitoramento da política de atendimento a crianças na primeira infância em sua
esfera de competência territorial.
• Promover a implementação dos Planos Estaduais pela Primeira Infância e Plano
Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do Direito da Criança e do Adolescente
à Convivência Familiar e Comunitária.
• Recomendar que os conselhos de direitos destinem recursos de seus fundos para a
consecução dos objetivos das políticas de atendimento de crianças na primeira
infância na sua esfera de competência territorial.
Saiba mais:
https://www.gov.br/mdh/pt-br/acesso-a-informacao/participacao-social/conselho-
nacional-dos-direitos-da-crianca-e-do-adolescente-conanda/conanda
252
253
Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária e as do Plano
Nacional pela Primeira Infância.
§ 2º Os conselhos nacional, estaduais e municipais dos direitos da criança
e do adolescente fixarão critérios de utilização, por meio de planos de
aplicação, das dotações subsidiadas e demais receitas, aplicando
necessariamente percentual para incentivo ao acolhimento, sob a forma
de guarda, de crianças e adolescentes e para programas de atenção
integral à primeira infância em áreas de maior carência socioeconômica
e em situações de calamidade.
O que é?
Segundo o art. 131 do Estatuto da Criança e do Adolescente, Conselho Tutelar é "órgão
permanente e autônomo, não jurisdicional, encarregado pela sociedade de zelar pelo
cumprimento dos direitos da criança e do adolescente". Trata-se de um órgão público
municipal que tem como missão representar a sociedade na proteção e na garantia dos
direitos de crianças e adolescentes, contra qualquer ação ou omissão do Estado ou dos
253
254
responsáveis legais, que resulte na violação ou ameaça de violação dos direitos
estabelecidos pelo ECA.
Conselho Tutelar encontra-se presente em praticamente 100% do território brasileiro,
conforme regulamentação pela Resolução nº 139/2010 – CONANDA. É composto por
cinco membros eleitos pela comunidade para um mandato de 4 anos. É preciso que o
município disponibilize os recursos básicos para seu funcionamento, porém, possui
autonomia frente à prefeitura, ao legislativo municipal, ao poder judiciário e ao ministério
público. Não tem o poder de julgar.
Cabe ao Conselho Tutelar aplicar medidas de proteção, após confirmação de violação de
direitos. A responsabilidade pela execução é das famílias, da sociedade civil e do poder
público. Esse trabalho exige de cada conselheiro sensibilidade e escuta para atuar, de
modo a compreender cada caso em suas particularidades, ouvindo todos os envolvidos,
para se chegar à medida protetiva mais adequada para a criança e o adolescente.
Principais atribuições dos Conselhos Tutelares:
254
250
255
adolescentes. Para tanto, tem por escopo a doação de equipamentos essenciais ao
funcionamento dos Conselhos Tutelares.
A estruturação dos Conselhos Tutelares (CTs) garante o efetivo atendimento de crianças
e adolescentes em situação de violência ou vulnerabilidade em todo o Brasil. Ter um
espaço próprio, veículo para diligências, computadores, refrigerador, bebedouro e demais
insumos impactam diretamente na qualidade do atendimento e contribuem para que os
conselheiros tutelares realizem o trabalho em defesa dos direitos de crianças e
adolescentes, em cada Município brasileiro.
Em 2020, o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH), por meio
da Secretaria Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (SNDCA) realizou, até o
mês de agosto, a entrega de 700 (setecentos) conjuntos de equipagem completos,
fundamentais ao funcionamento e atuação do Conselho Tutelar. O kit completo é
composto por um veículo, cinco computadores, uma impressora, um refrigerador, um
bebedouro, uma cadeira para automóvel para transporte de crianças, uma TV Smart e um
ar-condicionado portátil.
Formação Continuada
Fomentar e apoiar a formação continuada dos Conselheiros Tutelares é compromisso
institucional
da Secretaria Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente e para isso, em 2020, foi
desenvolvida a plataforma digital especializada em direitos da criança e do adolescente, a
ENDICA – Escola Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente.
Os cursos oferecidos são gratuitos, on-line e de alta qualidade, para aprimorar a atuação
dos profissionais do SGD – Sistema de Garantia de Direitos, dos visitadores do Programa
Criança Feliz, de educadores, dos profissionais da Assistência social, do judiciário e outras
pessoas que se interessem pela temática dos direitos humanos de crianças e adolescentes.
Dentre os cursos oferecidos com temas basilares, destacam-se aqueles voltados à primeira
infância e às comunidades tradicionais e indígenas.
255
256
Programa Criança Protegida
Saiba mais:
• http://www.blog.saude.gov.br/index.php/promocao-da-saude/54078-adolescencia-
primeiro-gravidez-
depois#:~:text=Portanto%20todo%20cuidado%2C%20precau%C3%A7%C3%A3o%
20e,preven%C3%A7%C3%A3o%20%C3%A0%20gravidez%20na%20adolesc%C3%
AAncia.
• https://www.gov.br/mdh/pt-br/assuntos/noticias/2020-2/abril/ministerio-lanca-a-
campanha-maio-laranja
• https://t.co/gy3tj0490k?amp=1
• http://prevencaoevida.com.br/
• https://www.gov.br/mdh/pt-br/assuntos/noticias/2020-2/julho/gibi-adapta-
linguagem-do-estatuto-da-crianca-e-do-adolescente-eca-para-publico-
infantil/estatuto_SNDCA_uso_digital_APPeWEBconvertido.pdf
256
257
estabelecer diretrizes para o desenvolvimento de políticas públicas regionalizadas. Em
2020 já foram realizados dois Fóruns:
VIDEOS 27 a 30
• https://www.youtube.com/watch?reload=9&v=GHdFYPyskzM
• https://www.youtube.com/watch?v=fW8VspAHyMo
• https://www.youtube.com/watch?reload=9&v=GHdFYPyskzM
• file:///C:/Users/luciana.oliveira/Downloads/E-
Book%20do%201%C2%BA%20F%C3%B3rum%20Nacional.pdf
• https://www.youtube.com/watch?v=fW8VspAHyMo
257
258
Políticas para Família
Eixos temáticos:
O ONF está estruturado em nove eixos temáticos, entre eles: conciliação família-trabalho
e projeção social e econômica; saúde, demografia e família; direitos humanos, sistema de
proteção social e políticas familiares; a família no contexto da educação; desenvolvimento
e fortalecimento de vínculos familiares e parentalidade contemporânea.
Integram os temas, casamento e conjugalidade; mudanças do ciclo de vida familiar e
relações intergeracionais; políticas de prevenção ao suicídio e autolesão provocada sem
intenção suicida entre adolescentes e jovens; e o impacto da tecnologia nas relações
familiares.
Biblioteca
O Observatório Nacional da Família mantém um acervo com livros, periódicos, vídeos e
materiais didáticos. Os itens estão disponíveis para consultas e reprodução por meio da
aba “Produção”, no endereço eletrônico do ONF. Mais informações podem ser obtidas
pelo e-mail observatorio.onf@www.gov.br/mdh/pt-br, com o título ACERVO.
258
259
Por meio da Secretaria Nacional da Família tem-se realizado ações de acompanhamento e
enfrentamento de situações de automutilação, a fim de direcionar as ações necessárias.
A Campanha Acolha a Vida foi lançada com foco na prevenção ao suicídio e automutilação,
voltada a todas faixas etárias, especialmente crianças, adolescentes e jovens. Segundo a
OMS, de 5,0 a 9,9 mortes por 100 mil habitantes no Brasil tiveram o suicídio como causa
no ano passado e estima-se que, anualmente, a cada adulto que se suicida, pelo menos
outros 20 possuem algum tipo de ideação ou atentam contra a própria vida. Entre os jovens
de 15 a 29 anos, é a segunda principal causa de morte e está aumentando em casos de
crianças também (OMS, 2017).
VÍDEO 31
Assista o vídeo da Campanha Acolha a Vida, disponível em: https://www.gov.br/mdh/pt-
br/assuntos/noticias/2019/abril/ministerio-lanca-a-campanha-201cacolha-a-vida201d-
com-foco-na-prevencao-do-suicidio-e-automutilacao
O Famílias Fortes é uma metodologia de sete encontros semanais para famílias com filhos
entre 10 e 14 anos que visa promover o bem-estar dos membros da família, fortalecendo
os processos de proteção e construção de resiliência familiar e reduzindo os riscos
relacionados a comportamentos problemáticos.
Na primeira hora de cada encontro os pais e responsáveis se reúnem em uma sala e os
filhos de 10 a 14 anos em outra. Os pais são ensinados a esclarecer as expectativas com
base nas normas de desenvolvimento de crianças e adolescentes, a usar práticas
disciplinares apropriadas, a gerenciar emoções fortes em relação aos filhos e a se
comunicar de maneira eficaz. Já os filhos aprendem habilidades para interação pessoal e
social, como, ter metas que deem sentido à vida, seguir regras, reconhecer as dificuldades
e qualidades dos pais, lidar com a pressão dos amigos, saber identificar modelos positivos
e ajudar os outros.
Na segunda hora, pais e filhos se reúnem numa mesma sala onde praticam as habilidades
que aprenderam independentemente, trabalham na resolução e comunicação de conflitos
259
260
e se envolvem em atividades para aumentar a coesão familiar e o envolvimento positivo
dos filhos na família.
Para a condução dos encontros, os facilitadores dispõem de um manual, que detalha todas
as atividades e o tempo de cada uma, e de vídeos que abordam os temas a serem
trabalhados com as famílias.
Por meio da Secretaria Nacional da Família, os municípios recebem apoio para Formação
dos articuladores e facilitadores que irão atuar no Famílias Fortes; disponibilização dos
manuais, cadernos de atividades, cartazes e vídeos.
Objetivos específicos:
• Informar a respeito das novas práticas e das novas tendências virtuais do
comportamento humano;
• Esclarecer a respeito do uso inadequado da tecnologia, assim como seus efeitos a curto,
250
médio e longo prazo para a saúde mental;
260
261
• Informar sobre mecanismos de alerta, controle e regulação comportamental na família e
sociedade.
• Abordar questões do apoio dos recursos tecnológicos em questões de educação e
entretenimento saudável.
• Capacitar pais, professores, profissionais de saúde e a sociedade como um todo a
respeito das melhores formar de utilização da tecnologia.
• Fomentar o uso dos recursos tecnológicos sob a ótica de uma responsabilidade social.
• Informar sobre os perigos da internet, apontando mecanismos de proteção de uso.
• Fomentar a tomada de consciência e uma melhor percepção da importância da família
como o elemento gerador e protetor da saúde mental individual e social, através da
regulação e da supervisão parental.
261
262
Políticas para Mulheres
As beneficiárias diretas são as gestantes e mães de crianças com até 2 (dois) anos de idade,
com prioridade para: gestantes e mães adolescentes de até 19 (dezenove) anos; gestantes
e mães beneficiárias do Programa Bolsa Família; e gestantes e mães de crianças com
deficiências.
As voluntárias do Projeto Piloto "Mães Unidas" precisam preencher os seguintes
requisitos: I. ser mãe, não se diferenciando mães biológicas de mães adotivas; II. ter idade
mínima de 18 anos; III. ter como escolaridade mínima o ensino fundamental completo; IV.
ter concluído e ter sido aprovada no Curso de Capacitação de Voluntárias; e V. assinar
termo de adesão ao projeto.
O programa foi instituído pela Portaria nº 629, de 13 de março de 2020, do Ministério da
Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (https://www.gov.br/mdh/pt-br/navegue-por-
262
263
temas/politicas-para-
mulheres/PORTARIAN629DE13DEMARODE2020DOUImprensaNacional.pdf)
O “Mães Unidas” está em fase de projeto piloto, nos municípios de Goiânia, Aparecida de
Goiânia e Anápolis. Novas adesões serão abertas em dezembro de 2020 e em caso de
interesse, o e-mail para contato é: dpdm@mdh.gov.br
FÓRUM DE DISCUSSÃO
Considerando as politicas, programas e serviços apresentados, discuta no Fórum de
Discussão qual(quais) mais lhe chamaram atenção e em que medida já se encontram
acessíveis às crianças na primeira infância de sua área de atuação. Você pode incluir na
discussão quais medidas poderiam estar a seu alcance para ampliar o acesso das crianças
a estas políticas.
263
264
Aula 9: Financiamento público das políticas para a
primeira infância
O financiamento público de políticas e programas governamentais é uma
ação que apoia a solução de problemas que a sociedade considera de pública
relevância. Os bens e os serviços produzidos deverão ser devidamente justificados
em relação aos fins a que se destinam, por meio de atos jurídicos e administrativos,
de acordo com uma agenda que reflita os anseios da sociedade pela resolução de
problemas coletivos e difusos que afetam as condições de vida das pessoas, das
famílias e das empresas. Sobre o gasto público realizado, é exigida a prestação de
contas não só dos pontos de vista financeiro e legal, mas também de
responsabilização e transparência para com a sociedade, que efetivamente
financia as políticas e os programas públicos.
Os problemas vinculados ao tema da Infância e Adolescência e, em
particular, da Primeira Infância são considerados de pública relevância, portanto,
demandam políticas públicas para as quais o Estado brasileiro deve voltar sua
atenção, independentemente de governos. No entanto, as diversas estratégias de
enfrentamento e o papel do poder público em nível nacional, estadual e municipal
ainda precisam ser melhor articulados quanto às diferentes formas de
financiamento de uma política pública que é abrangente e complexa em seus
variados aspectos técnicos, sociais e econômicos. Ainda é uma tarefa árdua
rastrear o apoio financeiro do tema em nível federal, por exemplo.
O processo de despesas públicas para os temas da criança e da adolescência,
incluindo a Primeira Infância, é similar no âmbito da União e dos entes subnacionais
e segue uma lógica de gasto como qualquer outra despesa pública, ou seja, é
definido por meio de ritos legais e administrativos, mas com algumas
especificidades em nível federal, como veremos adiante. Anualmente, Ministérios,
Secretarias Estaduais e Municipais são consultados por órgãos internos dos
sistemas de planejamento e orçamento dos seus respectivos poderes executivos,
quanto a novas iniciativas governamentais a serem financiadas. Depois de uma
264
265
análise acurada das despesas realizadas e não realizadas, assim como das receitas
(ingresso de recursos por meio de tributos) nos últimos três anos (Lei 4320/64), são
previstas novamente as receitas e fixadas as despesas para o ano seguinte. Nesse
momento, são avaliadas as propostas de gastos, que são, em seguida, apreciadas e
autorizadas pelas casas legislativas (Congresso Nacional, Assembleias e Câmaras
Legislativas), que legitimarão a alocação dos recursos de acordo com as demandas
da sociedade.
Em nível federal, as despesas públicas para a infância e a adolescência têm
algumas especificidades, como já mencionamos. Seus dispêndios podem ser
realizados ora por meio de fonte especial de recursos, ora por meio de despesas
genéricas de uma forma mais difusa, pois são despesas que incluem a infância e a
adolescência no seu bojo, porém, no âmbito de outras iniciativas públicas que estão
alocadas em uma grande variedade de ações orçamentárias. No primeiro caso,
podemos citar a existência do Fundo Especial para a Infância e Adolescência (FIA),
definido no inciso IV da Lei nº 8.069/90, com algumas receitas definidas
diretamente para fomentar esse Fundo. O FIA é atualmente gerido pelo Conselho
Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente - CONANDA.
No segundo caso, temos duas possibilidades. Na primeira, pode-se apoiar
financeiramente as políticas e os programas finalísticos, tendo como fontes outros
fundos, tais como, por exemplo, o Fundo Nacional de Assistência Social (FNAS), o
Fundo Nacional de Saúde (FNS) e o Fundo Nacional de Desenvolvimento da
Educação (FNDE), que financiam os respectivos sistemas de gestão
descentralizados pela União a Estados e Municípios (Sistema Único de Assistência
Social – SUAS –, Sistema Único de Saúde – SUS –, Sistema Nacional de Educação –
SNE – etc.). Nessa possibilidade, o tema da criança e da adolescência é apoiado
financeiramente para entregar bens e serviços à sociedade, como educação e
saúde infantil, creches, alimentação escolar, assistência social e outros serviços
previstos que também alcançam a Primeira Infância direta ou indiretamente.
A segunda possibilidade se refere ao aporte direto por meio do orçamento
fiscal da União e dotações orçamentárias estaduais e municipais para programas
265
266
finalísticos. Os programas podem ser desenhados e financiados para alcançar as
crianças e os adolescentes, podendo focar a Primeira Infância de uma forma mais
direcionada, visando mudar a realidade por meio de uma ou mais soluções para
problemas específicos. Ainda nessa possibilidade, as intervenções são organizadas
e os financiamentos são definidos por leis orçamentárias que criam os planos
plurianuais (PPA) a cada quatro anos e as peças orçamentárias a cada ano. No caso
federal, a Lei 13.971, de 2019, que criou o PPA, trata especificamente do tema da
Primeira Infância em seu Art. 10, parágrafo único, a saber:
266
267
projetos, de forma integrada, visando à universalização do acesso e à
descentralização dos recursos de forma coordenada.
Por fim, o financiamento público deve considerar como regra, e não como
exceção, a natureza intersetorial e transversal das políticas sociais para crianças e
adolescentes e para a Primeira Infância. O financiamento sempre deve observar a
integralidade das ações e as especificidades do tema por se tratar de uma política
diferenciada, complexa e com muitas incertezas. Nesses moldes, o financiamento
deve ser estruturado para ampliar e aperfeiçoar a rede de proteção e promoção
social e de garantia de direitos, conforme os marcos regulatórios vigentes assim o
exigem e a sociedade assim espera.
Tudo isso é muito importante, porque é investindo na primeira infância hoje
que teremos mais cidadania e mais economia no futuro. Por isso, o Marco Legal da
Primeira Infância determina que:
Art. 11. As políticas públicas terão, necessariamente, componentes de
monitoramento e coleta sistemática de dados, avaliação periódica dos
elementos que constituem a oferta dos serviços à criança e divulgação
dos seus resultados. (...)
267
268
• Manual Técnico do Plano Plurianual do Governo Federal – PPA 2020-2023.
Disponível em: https://www.gov.br/economia/pt-br/centrais-de-
conteudo/publicacoes/guias-e-manuais/manual_tecnico_ppa20202023.pdf/view.
268
269
Aula 10: o Fundo da Infância e da Adolescência como
política pública complementar na concretização dos
direitos da criança na primeira infância
O Marco Legal questiona: Como garantir a cidadania infanto-juvenil e a prioridade
absoluta previstas no art. 227 da Constituição Federal?
A busca pela garantia dos direitos infanto-juvenis, mais especificamente na
primeira infância, nos direciona para várias ações, destacando-se entre elas o Fundo dos
Direitos da Criança e do Adolescente.
Quando se trata de criança e adolescente, a ideia central é a de que a
responsabilidade pelo futuro destas gerações é de todos nós, principalmente dos adultos,
pois são civilmente incapazes e suas vontades são geralmente representadas pelos desejos
e pelas ações dos adultos. Ocorre, porém, que a promoção das ações para o
desenvolvimento integral tem um custo/investimento, razão pela qual há necessidade de
recursos para financiar projetos que alimentem uma expectativa de vida melhor para esta
parcela da comunidade.
A Lei, pensando nesta questão, de maneira inovadora, criou um fundo para catalisar
os recursos que são destinados à criança e ao adolescente. Assim, o Estatuto da Criança e
do Adolescente estabeleceu como política de atendimento a manutenção de fundos
nacional, estaduais, municipais e distritais, vinculados aos respectivos conselhos dos
direitos da criança e do adolescente (art. 88, IV).
Com essa iniciativa, a Lei busca garantir uma autonomia financeira tendo em vista
uma independência gradativa dos recursos oficiais. Não que estes não sejam bem-vindos
ou que o poder público não deva cumprir o seu papel. Muito pelo contrário.
Independentemente das iniciativas financiadas pelos Fundos da Infância e da
Adolescência, sempre haverá a cobrança da responsabilidade estatal quanto à efetivação
dos direitos fundamentais das crianças e dos adolescentes previstos na Constituição
Federal, no Estatuto da Criança e do Adolescente bem como no Marco Legal da Primeira
Infância. Ou seja, as receitas dos Fundos não excluem a obrigação do poder público de
contemplar no orçamento verbas para a garantia dos direitos fundamentais.
O fato a considerar é que a responsabilidade é de todos nós, poder público e
comunidade em geral. A obrigação do poder público decorre de lei, e a ação da comunidade
269
270
está embasada no que se denomina “cultura cívica”, que envolve a ideia de pertencimento,
engajamento e confiança nas instituições. Ideia de pertencimento implica que a ação está
direcionada para uma comunidade a qual pertence, ou seja, quando se destina o imposto
de renda ao Fundo da Infância e da Adolescência, faz-se um investimento na própria
comunidade na qual está incluído. Ao melhorar essa sociedade, também melhora-se o
meio social em que se convive.
A outra questão refere-se ao engajamento e à confiança nas instituições. Estamos
muito descrentes nas instituições, porém a cultura cívica requer essa confiança. A
comunidade e as instituições, principalmente o Poder Judiciário, o Ministério Público e os
Conselhos (Federal, Estadual, Municipal ou Distrital), devem procurar dar as respostas
adequadas às demandas que envolvem crianças e adolescentes, no estado, município ou
Distrito Federal.
Percebe-se que o aumento gradativo da arrecadação do Fundo tem uma relação
direta com a confiança nestas instituições. Dessas ações resulta que não podemos ter um
conceito de cidadania deformado ou deturpado, em que a “participação política é baseada
na dependência e ambição pessoal, a coisa pública não diz respeito a cada cidadão, a
corrupção é a norma e as leis são feitas para serem desobedecidas”. Devemos pensar em
cidadania com essa cultura cívica que acaba por mudar a realidade social vivida,
principalmente quando se refere à criança e ao adolescente. Devemos pensar a cidadania
com a dimensão de uma solidariedade social, em que “o acordo social é pensado de forma
impessoal e com o princípio fundante da dignidade dos indivíduos”.
Quando se busca a destinação de parte do imposto de renda ao Fundo da Infância
e Adolescência, todos esses conceitos estão presentes, já que provém das ideias de
cidadania ativa, cultura cívica, pertencimento coletivo, solidariedade social, dignidade da
pessoa humana, de fortalecimento da sociedade civil organizada e do exercício da
democracia, trazendo uma mudança de postura individualista e egoísta, na qual o nós
substitui o eu.
Este é o caminho da mudança social. Não basta esperar ações de terceiros. Há
necessidade de agir. Assim, se podemos contribuir para esta mudança, por que não fazer?
Como entender o Fundo da Infância e da Juventude?
O que é o Fundo?
270
271
O Fundo da Infância e da Adolescência constitui-se de recursos arrecadados para
o atendimento de projetos voltados para ações complementares de promoção, proteção e
defesa dos direitos fundamentais de crianças e adolescentes. São recursos públicos
mantidos em contas bancárias específicas que têm a finalidade de receber repasses
orçamentários e depósitos de doações efetuadas por pessoas físicas ou jurídicas. Cada
estado ou município deve manter uma única conta ou Fundo, que se constitui de recursos
geridos pelos Conselhos dos Direitos da Criança e do Adolescente. Apesar de ser uma
conta pública, não integra o caixa do estado ou município, tanto que não é o chefe do
executivo que delibera a respeito de sua aplicação, mas sim o Conselho, que é o órgão
gestor do fundo – exemplo típico de democracia participativa.
Os recursos devem ser destinados exclusivamente para execução das políticas públicas
sociaispara a criança e o adolescente. São projetos que visam garantir os direitos
fundamentais da criança e do adolescente, como vida, saúde, educação, lazer,
profissionalização e convivências familiar e comunitária.
O que diz o Marco Legal da Primeira Infância (Lei 13.256/2016, art. 35):
271
272
integral à primeira infância em áreas de maior carência socioeconômica
e em situações de calamidade. (Lei 13.257/2016)
Como ajudar?
272
273
Merece destaque a questão das doações das pessoas físicas e jurídicas. Como regra
geral, as pessoas físicas podem efetuar doação (destinação) de até 6% da sua receita
tributável, e as jurídicas, até 1%. Tal destinação não acarretará nenhum ônus ao doador,
visto que se refere à parte do valor do IR que deveria ser pago à Receita Federal. Assim, ao
invés de destinar 100% do seu imposto para o Tesouro Nacional, a pessoa física destina
94% e o restante (6%) fica para o município ou estado.
Podem contribuir as empresas optantes pela tributação pelo Lucro Real. Neste
caso, deve-se observar os períodos de apuração do IR: empresas que fecham o período
trimestralmente podem destinar a cada fechamento, e as empresas que fecham o período
anualmente podem realizar a destinação no fim do ano.
A pessoa física tem duas oportunidades para fazer a destinação. A regra geral é
destinar 6% do imposto sobre a renda apurada na declaração de ajuste anual, ou seja,
recolhe este valor até dezembro e na entrega da declaração no ano seguinte faz o devido
ajuste, descontando o valor pago. No entanto, a pessoa física pode optar pela doação de
3% do imposto apurado na declaração quando da entrega.
Ao destinar recursos a esses Fundos, os cidadãos e as empresas têm uma
oportunidade de exercer participação social cidadã, pois decidem conscientemente que
uma parte de seu IR será direcionada para ações definidas pela CF/88 como prioritárias,
cuja execução e cujos resultados poderão acompanhar. Há de se despertar esse civismo
tributário dos contribuintes, eis que o dever de pagar impostos transforma-se em ato de
participação democrática no processo de execução de políticas públicas (CONSELHO
NACIONAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO, 2020, p. 15).
Mensagem básica:
273
274
Saiba mais:
274
275
Aula 11: Intersetorialidade: atenção integrada como
estratégia para promoção do desenvolvimento
integral na primeira infância
VÍDEO 32
275
276
Veja no vídeo a seguir o modelo de intersetorialidade desenvolvido pela Associação Saúde
Criança (ex-Associação Renascer, atual Instituto Dara), que tem se tornado referência
internacional: https://www.youtube.com/watch?v=4jJaaTv3620
Desde a criação do Marco Legal da Primeira Infância, várias iniciativas têm sido
realizadas nesse intento, destacando-se a Portaria nº 1, de 4 de abril de 2018, elaborada
pelo Comitê Gestor do Programa Criança Feliz, que factualmente representava a instância
nacional de coordenação prevista no art. 6º. Esta Portaria regulamenta a
Intersetorialidade no âmbito do Programa Criança Feliz, visto ser este um programa de
caráter intersetorial, mas seu conteúdo também é útil para articulação nas demais ações
indicadas no Marco Legal da Primeira Infância. Nesta regulamentação indica-se 60 ações
276
277
próprias dos Ministérios da Saúde, Desenvolvimento Social, Educação, Direitos Humanos
e Cultura, assim como ações compartilhadas para atuação integrada.
Em seu artigo 7º, o Marco Legal da Primeira Infância indica a formação de comitês
intersetoriais como espaços oportunos para que se formulem e fomentem a execução de
planos – em níveis nacional, estadual e municipal/distrital – para a atenção integral e
integrada à primeira infância. Mesmo antes da promulgação do Marco Legal da Primeira
Infância, o Brasil já contava com um Plano Nacional pela Primeira Infância, de iniciativa da
Rede Nacional Primeira Infância (RNPI), aprovado pelo CONANDA, em 2010, que reúne
áreas e metas fundamentais para atuação integrada.
Os planos intersetoriais pela primeira infância são considerados como um dever do
Estado e uma forma de se conseguir operacionalizar a regra da prioridade absoluta
prevista no Art. 227 da Constituição Federal:
277
278
participação da criança está prevista desde a Convenção sobre os Direitos da Criança e o
Marco Legal da Primeira Infância a ressalta desde a primeira infância (Lei 13.257/2016, art.
4º, Inciso II).
Deste modo, a intersetorialidade do atendimento e a integração operacional dos
órgãos de proteção da criança na primeira infância permitem a união de esforços dos entes
públicos, segundo suas competências, a partir do diálogo interinstitucional que aponte a
cada qual seu papel e racionalize a atuação, inclusive em termos de organização do espaços,
equipamentos e estruturas públicas necessárias. De fato, a intersetorialidade não
descaracteriza as competências de cada setor, mas nos remete a uma Governança
Colaborativa e traz à tona que, além de suas atribuições específicas, todas possuem um
mesmo objetivo, decorrente da responsabilidade compartilhada determinada no art. 227
da CF e suas regulamentações.
Deve-se desconstruir – se é que existe ainda essa visão parcial – o mito de que a
existência de atribuições específicas de cada órgão resulta na independência da atuação
interprofissional. A visão integral das linhas de ação em prol da proteção e promoção dos
direitos da pessoa desde a primeira infância qualifica compreensão das atribuições como
interdependentes. Não há dúvidas de que o acúmulo de atividades de cada setor pode
fomentar a crença limitante de que não há qualquer possibilidade de ocupação de seu
espaço na rede. Mas, sem o acoplamento estrutural interinstitucional, a atuação será
sempre limitada e, a longo prazo, onerará ainda mais o próprio setor.
Por fim, o Marco Legal da Primeira Infância assinala como estratégia para o avanço
da intersetorialidade a integração com as instituições de formação profissional (Lei
13.257/2016, art. 9º), e a própria noção de “universidade” merece ser potencializada para
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279
desde o princípio os profissionais serem fortalecidos com a visão da integralidade do
desenvolvimento humano, na área específica se especializem. Ele estipula também o
direito à capacitação pelos profissionais responsáveis por sua implementação, destacando
que, juntamente com o tema da especificidade da primeira infância, a intersetorialidade é
também fundamental em sua formação:
Art. 10º - Os profissionais que atuam nos diferentes ambientes de
execução das políticas e programas destinados à criança na primeira
infância terão acesso garantido e prioritário à qualificação, sob a forma
de especialização e atualização, em programas que contemplem, entre
outros temas, a especificidade da primeira infância, a estratégia da
intersetorialidade na promoção do desenvolvimento integral e a
prevenção e a proteção contra toda a forma de violência contra a criança.
Trabalho em rede
A habilidade de trabalhar em rede é fundamental para implementação da atuação
integrada com as crianças na primeira infância e suas famílias. A assistente social Lia
Sanicola (2015) desenvolveu uma abordagem de trabalho em rede, por meio da qual
conseguiu reunir cerca de seis mil famílias acolhedoras, na Itália. Segundo ela, redes sociais
podem ser compreendidas de várias formas, entre as quais:
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280
• REDES PRIMÁRIAS se constituem por força da história dos sujeitos, não podem ser
criadas nem produzidas por força de lei, mas são geradas no tempo, pelos próprios
sujeitos em seu contexto social. Podem ser reconhecidas, promovidas e orientadas.
Elas se organizam com base no princípio da responsabilidade em relação ao outro
(sentido do cuidado primário) e suas relações são caracterizadas pelo afeto e a
lealdade (confiança).
• REDES SECUNDÁRIAS são formadas por força da lei e compostas por instituições,
organizações da sociedade civil, empresas, governo. Organizam-se sob a base da
igualdade e o princípio dos Direitos Humanos: “Todos são iguais perante a lei”. Seu
método baseia-se na redistribuição de recursos e na troca fundada no Direito,
primeiramente da Cidadania, por isso suas relações são caracterizadas pela
exigibilidade.
Esta distinção ajuda a não perdermos de vista o papel de cada ator no contexto
de implementação do Marco Legal da Primeira Infância, especialmente da família
enquanto rede primária fundamental e dos serviços enquanto atores da rede
secundária, que não devem sobrepor-se à família, mas sim apoiar e complementar as
redes primárias, e não concorrer com elas. A partir do esquema de redes sociais a
seguir, podemos visualizar as várias possibilidades de conexões para um trabalho em
rede:
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281
Figura 1 – Mapa de Redes na Comunidade (Fonte: Sanicola, 2015)
Como método de trabalho em rede, Sanicola (2015) propõe que o primeiro passo é
a exploração dos atores da rede primária da criança, assim como da rede secundária de seu
território, que são identificados e representados a partir de mapas de rede, como ilustrado
acima. Essa é a configuração da estrutura da rede. Em seguida, analisa-se os tipos de
vínculo que existem entre esses atores da rede primária e da rede secundária, que
configurarão a dinâmica da rede
Em relação à intersetorialidade, é útil fazer o mapa dos serviços e representar
(segundo modelo indicado a seguir) o tipo de relação existente entre eles, que favorecem
ou dificultam a atuação integrada. Assim, tem-se norteadores para trabalhar a
funcionalidade da rede e a distribuição das ações de cada ator para o trabalho integrado.
281
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283
Figura 2 – Esquema de diagramação dos vínculos entre os atores da rede (Fonte: Sanicola,
2015)
Mensagem básica
Apesar de não ser tarefa fácil devido a uma série de contingências subjetivas e
culturais, além da forma como se organizou cartesianamente a sociedade, a articulação
intersetorial resgata a possibilidade de um olhar holístico pelos profissionais envolvidos e
proporciona diferentes formas de aprendizagem, construção do conhecimento e
integração das ações em rede, trazendo um salto de qualidade ao serviço.
283
284
Ao buscar efetivamente a priorização do interesse da criança, o que se propõe
antes de tudo é favorecer o acesso dessa criança e de sua família aos serviços que
respondem à garantia de seus vários direitos, de forma coordenada, superando a
dificuldade sofrida pelos cidadãos de terem que buscar uma parte em cada lugar, em
diferentes setores, muitas vezes distantes, e, não raro, muitas vezes contraditórios entre
si.
Como o que é bom para a criança também traz benefícios para o todo, a integração
dos serviços também leva a melhores resultados, evita sobreposição de ações e reduz os
gastos públicos. Conclui-se, então, que a intersetorialidade é uma ação inteligente, que a
longo prazo facilita a vida dos profissionais e dos usuários.
Referências bibliográficas
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Aula 12: O desafio da Interseccionalidade:
marcadores de gênero, de deficiência, de renda e
étnico-racial no agravamento da vulnerabilidade da
primeira infância
Interseccionalidade é um conceito que nos permite discutir as consequências
estruturais e dinâmicas da interação entre dois ou mais eixos, e suas implicações na vida
dos sujeitos, na construção da identidade e nas formas de tratamento pela sociedade, pelas
políticas públicas e pelo sistema de justiça e de garantia de direitos. No campo da primeira
infância, isso nos permite compreender como as posições subjetivas e identitárias das
crianças são produto das relações estabelecidas a partir de determinadas categorias,
como:
✓ povos e comunidades tradicionais,
✓ raça,
✓ sexualidade/gênero,
✓ geração,
✓ deficiência,
✓ classe e
✓ escolaridade dos pais.
285
286
1. A compreensão de que existem múltiplas formas de se conceber e vivenciar
a(s) infância(s), sempre de forma interseccional.
2. A consciência de que o reconhecimento das diferenças está relacionado ao
reconhecimento do direito à diferença – normatizado no Brasil e em âmbito
internacional em diversos documentos jurídicos – cuja finalidade é obrigar
a adequação dos serviços e o tratamento igualitário por parte da sociedade
e do Estado.
3. A importância de trabalhar as diferentes expressões sociais do ser criança,
com atenção às injustiças históricas geradoras de iniquidades que as
afetam e presentes no próprio atendimento dos órgãos da rede de proteção,
produzindo diferentes facetas da violência institucional, que têm no seu
âmago a dificuldade de lidar com as diversidades.
Há muitos elementos sociais, teóricos, normativos e institucionais necessários para
a compreensão das primeiras infâncias desde uma perspectiva interseccional até suas
implicações para as políticas públicas de atendimento às crianças. Um percurso formativo
nesta área deve abranger: concepção teórico-prática da interseccionalidade e de suas
implicações para a primeira infância; história social das infâncias plurais e suas
invisibilizações nos direitos das crianças; crianças de povos e comunidades tradicionais e
as perspectivas para o atendimento culturalmente adequado às primeiras infâncias;
racismo, negritude e suas implicações para as políticas públicas; implicações da igualdade
de gênero e da sexualidade nas políticas da primeira infância; o debate da acessibilidade e
da inclusão social de crianças com deficiência; e os desafios do atendimento interseccional
da primeira infância. Neste sentido, disponibilizamos trabalhos científicos para maior
aprofundamento sobre esta importante realidade, caso seja de seu interesse:
286
287
https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-
98932019000500310
• O trabalho familiar extrativista sob a influência de políticas públicas.
Disponível em:
https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-
20032014000600010
• O contexto das brincadeiras das crianças ribeirinhas da Ilha do Combu.
Disponível em:
https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-
79722008000300005&lng=en&nrm=iso&tlng=pt#:~:text=As%20atividades%20das
%20crian%C3%A7as%20ribeirinha,lazer%20e%20nas%20atividades%20religiosas.
• Primeira Infância Ribeirinha.
Disponível em:
https://idis.org.br/wp-content/uploads/2016/05/publi-Primeira-Infancia-
Ribeirinha.pdf
VÍDEOS 33 a 36
Garantia de direitos das crianças indígenas: https://youtu.be/CS1jDG7KWYo
Campanha da Funai – Abril Indígena 2017: https://youtu.be/cqmTMFIsp7w
#Menos preconceito, mais índio – https://youtu.be/uuzTSTmIaUc
Pisa Ligeiro https://www.youtube.com/watch?v=FseTLA9D4jg
287
288
Conhecer é muito importante para cuidar e endereçar as políticas públicas de
direito. Neste sentido, esforços também têm sido feitos para dar maior visibilidade às
crianças romani (assim chamadas as crianças ciganas). Neste caso, nunca houve um Censo
que respeitasse essa identidade étnica, por isso os únicos dados existentes são relativos à
primeira infância cadastrada no CadÚnico, sendo assim bastante subdimensionado,
refletindo que é necessário elaborar marcadores para aprimorar as políticas e ampliar a
busca ativa.
Até agosto de 2020, os dados do CadÚnico apresentavam 1.550 meninas e 1.760
meninos com idade de 0 a 6 anos nos registros. Os estados com maior nascimento são
Bahia, Minas Gerais e Goiás. Já os estados do Acre, Amapá, Mato Grosso e Roraima não
apresentam cadastro de crianças “ciganas” nessa faixa etária.
Quando enfrentamos esse desafio na prática, vemos que, além de serem
interseccionais, alguns desses marcadores sociais são indissociáveis, como é o caso de
gênero, etnia e classe.
Isso significa que, ao olhar para cada criança precisamos de fato considerar a
combinação de fatores, como o pertencimento a uma determinada classe social, agregado
a seu lugar de moradia e vivência, suas culturas, sua condição econômica e gênero para
compreensão da realidade vivenciada. Como esses marcadores podem determinar
desigualdades, que serão a base da vida dessas infâncias?
288
289
Art. 4º. III – respeitar a individualidade e os ritmos de desenvolvimento
das crianças e valorizar a diversidade da infância brasileira, assim
como as diferenças entre as crianças em seus contextos sociais e
culturais.
Saiba mais:
http://www.escoladeconselhospe.com.br/site/escolinha-de-conselhos-de-pernambuco/
http://www.escoladeconselhospe.com.br/site/plano-decenal-comissao-e-cronograma-
principios-e-diretrizes-marcos-conceitual-legal-e-situacional/
http://www.escoladeconselhospe.com.br/site/plano-decenal-plano-de-acao-
acompanhamento-monitoramento-e-avaliacao/
Mensagem básica:
VÍDEO 37
Para exemplificar essa questão, vejamos a experiência infantil expressa nessa campanha
feita na Espanha em 2015 e replicada no Brasil em 2016. #NoSoyTrapacero
#NãoSouTrapaceiro: https://www.youtube.com/watch?v=uvE9DGHXEsY
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290
Avanço regulatório para o respeito às diferentes infâncias
http://amsk.org.br/imagem/dialogos/AMSK-Cartilha-Dialogos.pdf
http://amsk.org.br/imagem/dialogos/AMSK-Relatorio-Dialogos2019.pdf
Quem é a Funai?
290
291
A Fundação Nacional do Índio – Funai é o órgão federal responsável pela política
indigenista. Criada por meio da Lei nº 5.371, de 5 de dezembro de 1967, vinculada ao
Ministério da Justiça, é a coordenadora e principal executora da política indigenista do
Governo Federal, bem como o órgão de referência para a qualificação de políticas
públicas. Sua missão institucional é proteger e promover os direitos dos povos indígenas
no Brasil. A atuação da Funai orienta-se pelo o reconhecimento da organização social,
do direito originário, costumes, línguas, crenças e tradições dos povos indígenas.
Para saber mais: acesse o link: http://www.funai.gov.br/
291
292
equívocos culturais. Também é importante pontuar que em algumas situações pode ser
necessária a participação de intérpretes, com o objetivo de viabilizar os processos de
tradução e proporcionar devidamente compreensão e participação da pessoa indígena.
O Ministério Público é a instituição responsável por fiscalizar o cumprimento e a
garantia dos direitos indígenas.
Atenção para algumas situações
A Funai editou a Instrução Normativa nº 1 de 13 de maio de 2016, voltada à
promoção e proteção dos direitos de crianças e jovens indígenas. Esse normativo tem
como princípios básicos a promoção do direito às convivências familiar e comunitária, e
a proteção de crianças e jovens indígenas em circunstância de iminente ou consumado
afastamento do convívio familiar ou comunitário, e de violação aos direitos garantidos.
Assim, é preciso buscar por meio da atuação dos Conselhos Tutelares e da Funai,
garantir que crianças ou jovens indígenas nessas circunstâncias sejam imediatamente
reinseridas em suas famílias e na sua comunidade, caso haja essa possibilidade, sempre
levando em conta o paradigma da proteção integral, o fortalecimento dos vínculos
familiares e comunitários, e o superior interesse da criança, preconizados pelo Estatuto
da Criança e do Adolescente e originalmente pelo texto da Convenção Internacional das
Nações Unidas Sobre os Direitos da Criança.
Em casos de efetiva necessidade de afastamento da criança do convívio com
seus pais, a rede de proteção deve optar pelo acolhimento emergencial, que deve se dar
na mesma família nuclear, extensa, parentela, comunidade, povo ou terra indígena,
constituindo-se em uma ação que visa fortalecer a identidade sociocultural específica
da criança ou do jovem em relação ao pertencimento ao seu povo, de modo a preservar
as práticas tradicionais de proteção e cuidado, para que não haja rompimento de seus
vínculos étnicos, comunitários e tradicionais. O que se busca é que, antes de ser retirada
do cotidiano na aldeia, sejam esgotadas todas as demais possibilidades, analisando a
possibilidade de inserção da criança em seu núcleo familiar, por avós ou tios, ou em uma
família acolhedora. A infância longe de casa se torna ainda mais complexa quando se
trata de crianças indígenas, devido ao rompimento com seu modo de vida, seu
pertencimento e sua língua.
292
293
Para saber mais:
VÍDEOS 38 e 39
O Abraço da
Serpente:https://www.youtube.com/watch?v=xD96yLs4fsE&has_verified=1
Índio Cidadão?: https://www.youtube.com/watch?v=Ti1q9-eWtc8
VÍDEOS 40 a 42
Filme-Bicicletas de Nhanderú: https://www.youtube.com/watch?v=edKtJmY65wM
O que as crianças aprendem ficando presas?: https://lunetas.com.br/ailton-krenak/
293
294
Das crianças Ikpeng para o mundo: https://www.youtube.com/watch?v=MNIeHjdfvJg
O Marco Legal da Primeira Infância, em seus artigos 11, 18, 21 e 41, também
representa um importante respaldo para criar programas, serviços e iniciativas que
promovam o desenvolvimento infantil de crianças com deficiência pertencentes a
comunidades indígenas, quilombolas, migrantes, refugiadas, ribeirinhas, romani, dentre
outras.
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“É muito difícil ser pai preto, pois além de todos os desafios que um pai encontra
normalmente, eu ainda preciso educar meus filhos para conviverem com o
racismo.” (relato de um pai participante de uma oficina sobre Paternidades e Cuidado em
2019)
Eu me pego aqui olhando para Laura (minha filha de 5 meses) e pensando que muitos
homens pretos não terão a possibilidade de serem pais. Entendo que eu sou privilegiado.
Um privilégio ameaçado a cada minuto, pois sou um homem preto. A cada 23 minutos
uma criança preta fica sem pai ou a cada 23 minutos um homem jovem negro não se
tornará pai, de acordo com o Mapa da Violência de 2017. Se o homem preto sobrevive
para paternar, ele tem outros desafios para vivenciar esta paternidade como, por
exemplo, ser obrigado a criar um repertório maior comparado aos pais brancos para
empoderar seus filhos e suas filhas para se desenvolverem numa sociedade que se
relaciona pautada no racismo.
O racismo estrutural não permite ao homem preto exercer a paternidade pelo fato dele
ter sido sequestrado para o ocidente para ser somente uma força de trabalho
escravizada. Não é fácil.
Mensagem básica:
Respeitar as diferenças é construir pontes e garantir que nenhuma criança fique para trás.
O desconhecimento gera o preconceito que alimenta a discriminação.
Sabia mais:
http://www.escoladeconselhospe.com.br/site/category/publicacoes/
http://www.movimentodeemaus.org/
https://radiomargarida.org.br/
https://www.unipop.org.br/
http://www.propaz.pa.gov.br/
OAB/PA:
295
296
https://www.facebook.com/comissao.dca
https://www.instagram.com/comissaodca.oab/?utm_source=ig_profile_share&igshid=1j1
e56ccssg2r
https://www.facebook.com/saudeealegria/
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