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Marco Legal da Primeira Infância

Para Todos

UNIDADE III
III

UNIDADE 3 – Medidas de proteção matizadas pelo


Marco Legal da Primeira Infância
Introdução
Medidas de proteção são aplicadas pela autoridade judicial ou o Conselho Tutelar,
conforme o caso, no intuito de garantir o cuidado e a proteção necessários a crianças e
adolescentes diante de ameaças, violência e/ou violações de direitos decorrentes de ação
ou omissão da sociedade ou do Estado, ou pela inação, omissão ou abuso por parte dos
pais ou responsáveis, ou outros familiares, ou por própria conduta (Lei no 8.069/1990, art.
98).
A aplicação das medidas de proteção, preconizadas no Estatuto da Criança e do
Adolescente (arts. 98 a 102) e matizadas pelo Marco Legal da Primeira Infância, devem
levar em conta as necessidades pedagógicas e os vínculos familiares e comunitários. Assim
como a condição da criança e do adolescente como sujeitos de direitos, a proteção integral
com prioridade absoluta, a responsabilidade compartilhada primária e solidária do poder
público, o superior interesse da criança ou do adolescente, o respeito à privacidade, a
intervenção precoce, mas mínima, pois a intervenção deve ser exercida exclusivamente
pelas autoridades e instituições cuja ação seja indispensável à efetiva promoção dos
direitos e à proteção da criança, a proporcionalidade e atualidade, a responsabilidade
parental, a prevalência da família, a obrigatoriedade da informação, a oitiva obrigatória e a
participação da criança (Lei no 8.069/1990, art. 100).
São exemplos de medidas de proteção a garantia da vaga em creche,
encaminhamento dos pais, a orientação, o apoio e o acompanhamento temporário, o
acolhimento e demais ações indicadas nos artigos 101 e 102 do Estatuto da Criança e do
Adolescente. Além disso, outras medidas que merecem atenção dizem respeito às que são
aplicadas diante de violações de direitos ou penas sofridas pelas mães e/ou pais, tais como
as que estão previstas na Lei Maria da Penha (Lei 13.340/2006, artigos 18 a 24) ou no
Código de Processo Penal (Lei 3.689/1941, artigos 185, 304 e 318), alterado pelo Marco
Legal da Primeira Infância. Estas também impactam a criança, que muitas vezes permanece
sem ter o cuidado necessário diante da pena aplicada a seus pais. É sobre isso que o Marco
Legal da Primeira Infância chama atenção.

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Aula 1: Acesso à educação na primeira infância


Luiz Antônio Miguel Ferreira, Promotor de Justiça
aposentado, Ministério Público do Estado de São Paulo
Colaboração: Raquel John, Coordenadora-Geral de
Educação Infantil do Ministério da Educação

Como vimos ao longo do curso, há convergência entre os pesquisadores e


educadores acerca da importância da Educação Infantil para o desenvolvimento integral
da criança. Assim, é de se esperar que a educação na primeira infância receba uma atenção
especial, principalmente daqueles nomeados pela lei como seus responsáveis, ou seja, o
poder público e a família, com a colaboração da sociedade (BRASIL, 1988, CF, artigo 205).
A família em muitas situações ainda recorre às escolas de Educação Infantil, com
uma finalidade assistencial e não conta com o necessário esclarecimento de aquele local
faz parte do desenvolvimento global da criança. A preocupação é deixar a criança com
alguém para que possa trabalhar ou mesmo realizar outras atividades. Em algumas
situações, é o local onde a criança ainda encontra algo para comer ou tem a atenção de uma
pessoa adulta.
A sociedade por sua vez, com rara exceção, pouca atenção dispensa à educação na
primeira infância. Mobiliza-se para buscar a redução da maioridade penal taxando todo e
qualquer adolescente infrator como marginal. Esquece, porém, que um dia esse
adolescente foi uma criança que não teve seus direitos efetivamente garantidos, fato que
resultou, muitas vezes, na sua iniciação para a atividade criminosa.
E a educação na primeira infância tem sido marcada pela ausência de ações efetivas,
compatíveis com esta importante fase do desenvolvimento da criança. Na verdade, não
obstante o reconhecimento geral do valor da educação na primeira infância, as ações
governamentais e não governamentais são limitadas, atingindo apenas parte da população
infantil.
Há um contrassenso muito grande quando se analisa essa questão, pois apesar do
reconhecimento da importância do tema, o mesmo não se materializa ou não se concretiza
conforme estabelece a legislação, criando um círculo vicioso perverso, pois:
(...)sem a nutrição básica, assistência à saúde e os estímulos necessários à
promoção do crescimento saudável, muitas crianças pobres ingressam
na escola sem estarem prontas para aprender. Estas crianças têm um
mau desempenho na sala de aula, repetem o ano e apresentam altos
índices de evasão escolar. Estão em desvantagem quando ingressam no
mercado de trabalho, ganhando salários mais baixos e, como pais,
transmitem sua pobreza aos filhos. (YOUNG, 2010, p. 2).

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Fatores relacionados às medidas para acesso à educação de qualidade na primeira


infância
Vários são os desafios enfrentados na educação da primeira infância. O principal é
a falta de vagas nas unidades educacionais. Mas, outros são apresentados, como a questão
da formação do professor, da qualidade da educação ofertada, transporte do educando,
alimentação, participação dos pais, permanência e financiamento. Assim como pouca
atuação intersetorial pautada na compreensão de que hoje o cuidar e o educar são dois
aspectos indissociáveis na Educação Infantil.

A falta de vagas na Educação Infantil

Centrando o debate na questão da falta de vagas, constata-se uma dívida social


para com milhões de crianças que são alijadas de um direito fundamental. A realidade
brasileira aponta para um déficit de vagas em instituições de educação infantil que atinge
todas as unidades da federação. Para adentrar em tal questão, se faz necessário
compreender de que maneira a Educação Infantil se organiza no Brasil.
Entendendo as especificidades de cada faixa etária: a Educação Infantil, primeira
etapa da Educação Básica, se constitui a partir da creche, que compreende a faixa etária
dos 0 a 3 anos e 11 meses, e da pré-escola que abrange a faixa etária dos 4 a 5 anos e 11
meses.
Desde a Constituição Federal de 1988, é dever do Estado garantir o atendimento
de crianças em creches e pré-escolas. Entretanto, só após 21 anos de sua promulgação, a
pré-escola foi considerada obrigatória pela Emenda Constitucional nº 59/2009.
A obrigatoriedade forçou com que governos investissem na construção de escolas
e compras de vagas, viabilizando, aos poucos, o acesso à pré-escola, porém, sem considerar
a qualidade do serviço oferecido. E a creche, por não ser obrigatória, não é tratada como
prioridade, de modo a se garantir o acesso de todas as crianças cujas famílias desejam ou
precisam do atendimento, negando o direito de crianças de 0 a 3 anos e 11 meses à
educação infantil. Por consequência, o direito a melhores oportunidades para o seu
desenvolvimento humano integral.
Ao analisar tal questão dentro de uma perspectiva mais abrangente, constata-se
que estamos repetindo com a educação infantil o que ocorreu com o ensino fundamental.
Oliveira e Araújo (2005, p. 08/09) esclarecem que na “década de 1920, mais de 60% da
população brasileira era de analfabetos” e condicionaram a questão da qualidade da
educação à oferta limitada de vagas, de modo que “a partir de 1940 a política de ampliação

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das oportunidades de escolarização concentrou-se, basicamente, na construção de


prédios escolares”. Em outras palavras, nas décadas de 20 a 40, faltavam escolas para os
alunos do ensino fundamental, de modo que não se discutia eventual qualidade, mas sim a
garantia de prédios para que pudessem estudar.
Diante dessa situação, não se pode negar que evoluímos em termos educacionais e
que o ensino obrigatório está sendo universalizado, pelo menos nas matrículas. Mas com
as creches, a situação ainda é precária.
Para a grande maioria das famílias que aguardam por uma vaga, a preocupação não
é com a eventual qualidade do ensino, mas tão somente com a oferta da vaga. De fato, fica
até difícil discutir qualidade da educação infantil quando a dimensão quantitativa ainda
não foi atingida.
Como vencer esse primeiro desafio da educação infantil, propiciando o
desenvolvimento integral na primeira infância? Sem dúvida alguma, obrigando o poder
público a ofertar, de forma regular, educação infantil de qualidade para toda criança cujos
pais pretendam matriculá-la.
Sabe-se que a creche, que compreende a faixa etária dos 0 a 3 anos e 11 meses não
é obrigatória, diferentemente da pré-escola e do ensino fundamental. Contudo, a partir do
momento que a família manifesta a intenção de matricular o(a) filho(a), surge a obrigação
do poder público de ofertar a vaga solicitada. É o que determina a Constituição Federal:
Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:
I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;
Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a
garantia de:
I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17
(dezessete) anos de idade, assegurada inclusive sua oferta gratuita para
todos os que a ela não tiveram acesso na idade própria;
(...)
IV - educação infantil, em creche e pré-escola, às crianças até 5 (cinco)
anos de idade;

Regulamentando a Lei Magna, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei


nº 9.394/96) prevê como obrigação do Estado prover o direito de acesso aos meios
educacionais, estando aí incluído o acesso a creches e pré-escolas:

Art. 4. O dever do Estado com a educação escolar pública será efetivado


mediante a garantia de:
II – educação infantil gratuita às crianças de até 5 (cinco) anos de idade
(Redação dada pela Lei nº 12.796, de 2013).

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A judicialização dessa questão ocorre diante da negativa da vaga, levando os


tribunais a garanti-la à criança com a consequente obrigação do poder público de garantir
oferta. Hoje, tal questão é pacífica nos tribunais, sendo que no Estado de São Paulo foram
editadas súmulas que resumem bem a questão:

Súmula 63. É indeclinável a obrigação do Município de providenciar


imediata vaga em unidade educacional à criança ou adolescente que
resida em seu território.

Súmula 64. O direito da criança ou do adolescente à vaga em unidade


educacional é amparável por mandado de segurança.

Assim, com a proteção judicial ocorre a garantia da vaga bem como a obrigação de
ser oferecida em quantidade suficiente para a demanda reprimida existente. Inclusive, o
acesso deve prever a oferta às diferentes infâncias, conforme indica a a Portaria
Interministerial nº 1 de 04/04/2018, que regulamenta a intersetorialidade no âmbito do
Programa Criança Feliz (BRASIL, 2018):

Apoiar os municípios e o Distrito Federal na ampliação da oferta da


educação infantil gratuita às crianças de até cinco anos de idade,
considerando, quando necessário, as especificidades das populações do
campo, indígenas e quilombolas, de acordo com o Plano Nacional de
Educação(Art. 4º, Inciso IV, item 1).

De fato, a criança tem um nome, e esse nome é hoje. Decisões e mais decisões estão
aguardando o efetivo cumprimento, sendo que as crianças continuam fora do sistema
educacional. E mesmo que se cumpram tais decisões, isso não ocorre de imediato, fazendo
com que dezenas de milhares de crianças fiquem com este direito fundamental tolhido,
posto que irão ultrapassar a idade adequada para o ingresso nas creches.
Assim, deve-se buscar judicialmente esse direito fundamental, mesmo sabendo
que os reflexos serão demorados. Mas, a busca judicial tem que apontar para o
atendimento da demanda como um todo, ou seja, as ações civis públicas, termos de
ajustamento de conduta ou mesmo as políticas públicas desenvolvidas pela
municipalidade, devem ter como principal objetivo não a garantia de um direito
individual (que é indiscutível), mas a efetividade de uma gestão que direcione recursos
para o atendimento da totalidade da demanda, visando zerar as filas de espera (demandas
reprimidas).
Esta é uma questão importante, no sentido de que as ações individuais ou coletivas
atualmente propostas tem apenas o condão de “furar a fila de espera”, passando as
crianças que obtiveram uma decisão judicial à frente de outras que não buscaram a justiça.

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Isto acaba gerando uma nova injustiça, posto que, àquela mãe que não sabe nem mesmo
como buscar seus direitos e que necessita urgentemente de uma vaga, fique na fila de
espera até ser atendida pela administração, sem se socorrer do poder judiciário.
Desta forma, as ações do Ministério Público e da Defensoria Pública deveriam ser
pautadas pela concretude do direito fundamental a todas as crianças e não somente
àquelas que, individualmente, buscam o auxílio dessas instituições ─ ações de natureza
difusa e coletiva que estabeleçam planos de gestão das filas de espera com o atendimento
gradativo a cada ano, possibilitando um equacionamento orçamentário e o atendimento
da demanda em situação de risco social e pessoal (alta vulnerabilidade) de forma
preferencial. Sem contar com a necessária transparência que deve pautar todo esse
processo, divulgando as filas de esperas, até mesmo pelos meios eletrônicos, de forma a
apresentar como a demanda está sendo atendida e a situação daqueles priorizados, pois
assim estabelece o Plano Nacional de Educação.

Colaboração interfederativa

Outra questão que tem pertinência no que diz respeito ao atendimento da


demanda de educação infantil, refere-se ao regime de colaboração. O dever de
fornecimento de creches é do município, mas ele não pode assumir isoladamente todas as
obrigações decorrentes do seu atendimento. Neste caso, devem a União e os Estados
atuarem de forma complementar para atender à regra prevista no artigo 211 da
Constituição Federal, que estabelece:

Art. 211. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios


organizarão, em regime de colaboração, seus sistemas de ensino.
(BRASIL, 1988, CF)

As creches recebem investimento da mesma forma que as pré-escolas. O Programa


Apoio à Manutenção da Educação Infantil busca ampliar o acesso às creches e pré-escolas,
através de apoio financeiro aos municípios e Distrito Federal para garantir a expansão da
oferta e o regular funcionamento das novas matrículas, até que estas sejam computadas
para recebimento de recursos do FUNDEB. Cumpre esclarecer o regime de colaboração,
em que o MEC propicia apoio pedagógico e financeiro, mas os municípios são autônomos
na organização das vagas destinadas à Educação Infantil.
Por derradeiro, registra-se que a falta de prioridade quanto à educação na primeira
infância tem proporcionado um fenômeno perverso, que atinge milhões de crianças. Em

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face da demora no atendimento do fundamental direito à educação, aquelas crianças que


foram privadas de oportunidades educacionais, com reflexos na saúde física, psíquica e
social cresceram, e tornaram-se adultos vitimizados que agora estão gerando filhos
também vitimizados e igualmente excluídos das oportunidades fundamentais na primeira
infância. Esta situação tem proporcionado o atendimento pelas redes de políticas públicas
e judiciais, da segunda geração de excluídos. Um círculo vicioso que somente será rompido
pelo pronto atendimento de todas as crianças e adolescentes em seus direitos
fundamentais, entre os quais, destaca-se a educação na primeira infância.

Qualidade na Educação Infantil

Como discutimos acima, o principal questionamento em relação à educação na


primeira infância centra-se na falta de vagas. As ações, nos âmbitos judicial, extrajudicial e
de políticas públicas são direcionadas, em sua grande maioria, para a obtenção e ampliação
de vagas. Mas não há como negar que esta discussão tem que ser ampliada para abarcar a
qualidade do ensino como um todo. Porque de nada adianta buscar vagas paras as crianças,
se não se preocupar com o desenvolvimento do processo pedagógico, pois haveria uma
verdadeira inclusão excludente.
É certo que o debate sobre a qualidade da educação brasileira não é novo. Trata-se
de um problema que atinge a escola brasileira desde as suas origens. Segundo Almeida
(1989), já em 1889, relatavam-se as mazelas da educação pública brasileira, atribuindo-as
às questões de poucos investimentos financeiros e aos baixos salários dos professores. A
questão da qualidade educacional é ainda hoje motivo de grande insatisfação e não tem
agradado aos docentes e aos alunos das escolas públicas, aos pais, aos pesquisadores, aos
estudiosos em educação e até mesmo ao governo.

[...] a qualidade da educação é um fenômeno complexo, abrangente, que


envolve múltiplas dimensões, não podendo ser apreendido apenas por
um reconhecimento da variedade e das quantidades mínimas de insumos
indispensáveis ao desenvolvimento do processo de ensino-
aprendizagem; nem, muito menos, pode ser apreendido sem tais
insumos. Em outros termos, a qualidade da educação envolve dimensões
extra e intraescolares e, nessa ótica devem se considerar os diferentes
atores, a dinâmica pedagógica, ou seja, os processos de ensino-
aprendizagem, os currículos, as expectativas de aprendizagem, bem
como os diferentes fatores extraescolares que interferem direta ou
indiretamente nos resultados educativos (DOURADO; OLIVEIRA, 2009,
p. 205).

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A partir da Constituição Federal de 1988, a legislação educacional, com destaque


para a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), de 1996, incorporou a
“qualidade do ensino” em seus artigos, indicando a importância da definição de padrões de
qualidade de ensino. Nesse sentido aponta a Constituição Federal:
Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:
(...)
VII - garantia de padrão de qualidade.
Art. 211. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios
organizarão em regime de colaboração seus sistemas de ensino.
§ 1º. A União organizará o sistema federal de ensino e o dos territórios,
financiará as instituições de ensino públicas federais e exercerá, em
matéria educacional, função redistributiva e supletiva, de forma a
garantir equalização de oportunidades educacionais e padrão mínimo de
qualidade do ensino mediante assistência técnica e financeira aos
Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios;

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9.394/96) estabelece:

Art. 3º. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:...
IX - garantia de padrão de qualidade;
Art. 4º. O dever do Estado com educação escolar pública será efetivado
mediante a garantia de:
(...)
IX -padrões mínimos de qualidade de ensino, definidos como a
variedade e quantidade mínimas, por aluno, de insumos indispensáveis
ao desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem.

Aliás, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei nº 9.394/96, vai pontuar
10 vezes o termo “qualidade”, seja como padrão de qualidade, padrão mínimo de qualidade,
avaliação de qualidade, melhoria da qualidade, aprimoramento da qualidade e ensino de
qualidade (Art. 3º, IX; art. 4º, IX; art. 7º, II; art. 9º, VI; art. 47, §4º; art. 70, IV; art. 71, I; art.
74; art. 75, caput; §2º da atual LDB.) (CURY, 2007).
A Lei nº 11.494, de 20 de junho de 2007, que regulamenta o Fundo de Manutenção
e Desenvolvimento da Educação Básica e da Valorização da Educação – FUNDEB também
abordou a questão da qualidade da educação, anotando, em 10 artigos, referências à
qualidade da educação (4º, § 2º, 7º, 8º IV, 12, 13, 14, 30 IV, 36, §1º, 38, 39 e 40). Aliás, no
capítulo da Distribuição dos Recursos estabeleceu, na Seção II, a comissão
intergovernamental de financiamento para a educação básica de qualidade.
Contudo, não obstante toda essa legislação, afirmam Oliveira e Araújo (2005):
[...] essa incorporação não foi suficiente para estabelecer de forma
razoavelmente precisa em que consistiria ou quais elementos
integrariam o padrão de qualidade do ensino brasileiro, o que dificulta
bastante o acionamento da justiça em caso de oferta de ensino de má

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qualidade. Afinal, como caracterizar um ensino com ou sem qualidade, se


não há parâmetros para o julgamento? (p. 17).

O fato é que a legislação contempla a questão da qualidade de ensino, não mais


como uma norma programática e sim como uma norma de eficácia plena, que precisa ser
concretizada. No entanto, a sua efetividade não encontra respaldo apenas no aspecto
jurídico, sendo necessária uma visão multidisciplinar que indique os parâmetros
necessários para que a lei seja cumprida. Em outros termos, a lei garante a qualidade da
educação, mas é fundamental a sua definição para que a mesma seja verificada, e mais, que
seja cobrada. Qualidade mensurada através de exames de avaliação nacional tem sua
importância e relevância, mas não consegue aferir de maneira direta a qualidade da
educação infantil.
Diante dessa situação, na atualidade, discute-se no âmbito do Poder Judiciário a
não qualidade. Isto porque, como diz Oliveira (2005): “na falta de uma noção precisa de
qualidade, é certo que tenhamos acordo, no momento, no que diz respeito à constatação
de sua ausência (2005, p. 55)”.
E a não qualidade, assevera Cury (2007a) é a falta de escolas, é a falta de vagas nas
escolas, são as barreiras excludentes da desigualdade social, inclusive legais, como era o
caso dos exames de admissão, a discriminação que desigualava o ensino profissional, os
limites do ensino não gratuito e a descontinuidade administrativa. A não qualidade se
expressou e ainda está presente nas repetências sucessivas redundando nas reprovações
seguidas do desencanto, da evasão e abandono. Como diz Oliveira (2006): “passávamos da
exclusão da escola para a exclusão na escola".
Considerando o Marco Legal da Primeira Infância, nos deparamos com normativas
que enfatizam a ampliação do acesso à educação na primeira infância de forma qualificada
– destacando como critério a qualificação dos profissionais e reafirmando a importância
do cumprimento da meta do Plano Nacional de Educação:
Art. 16. A expansão da educação infantil deverá ser feita de maneira a
assegurar a qualidade da oferta, com instalações e equipamentos que
obedeçam a padrões de infraestrutura estabelecidos pelo Ministério da
Educação, com profissionais qualificados conforme dispõe a Lei 9.394, de
20 de novembro (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional), e com
currículo a materiais pedagógicos adequados à proposta pedagógica.
Parágrafo único. A expansão da educação infantil das crianças de 0 (zero)
a 3 (três) anos de idade, no cumprimento da meta do Plano Nacional de
Educação, atenderá aos critérios definidos no território nacional pelo
competente sistema de ensino, em articulação com as demais políticas
sociais (Lei 13.257/2016).

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Desta forma, além da falta de vagas, que centraliza o debate na educação infantil,
há necessidade de se discutir qual educação está sendo oferecida para nossas crianças na
primeira infância. O problema não é somente de quantidade, mas também de qualidade. A
educação infantil, ofertada na primeira infância é de qualidade? Propicia o regular
desenvolvimento da criança? Ou, está ocorrendo um retorno à origem da educação infantil
com uma visão puramente assistencialista, como um depósito de crianças carentes?
Algumas referências são importantes para se buscar a qualidade do ensino infantil,
como:

a) Parâmetros Nacionais de Qualidade para as Instituições de Educação Infantil


(Volume nº 2 – Brasília: MEC, 2006 - Atualizado em 2018),
b) Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil – Resolução
CNE/CEB nº 01 de 07/04/99; a revisão Parecer nº 20/09; a Resolução nº 5, de
17/02/2009 do CNE e a Resolução nº 4, de 13/07/2010, que define as
Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica; e a
c) Base Nacional Comum Curricular para Educação Infantil, de 2017, que
estabelece direitos e objetivos de desenvolvimento e aprendizagem, conforme
estabelece o artigo 26 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei
nº9.594/1996).

Pode-se constatar em relação à educação infantil que avançamos quanto ao


reconhecimento da creche no âmbito educacional e o seu financiamento através do
FUNDEB. No entanto, é um avanço ainda limitado, posto que há necessidade de se
oferecer vagas em creches em quantidade suficiente e de qualidade. Especificamente em
relação à qualidade, que não pode ser medida por testes padronizados, e o que não se
concebe é essa busca frenética pela vaga sem se preocupar com a qualidade do ensino que
será ministrado.

A Família e a Educação na Primeira Infância


Luiz Antônio Miguel Ferreira, Promotor de Justiça
aposentado pelo MPSP, texto adaptado do artigo Educação
Infantil e a Família - Perspectiva Jurídica desta Relação na
Garantia do Direito à Educação (FERREIRA; GARMS,
2009/2011).

A relação entre a família e a educação infantil na primeira infância deve ser


analisada com especial atenção em face das múltiplas relações que iniciam com a questão
da socialização primária/secundária, passando pela efetiva participação da família na
instituição educacional (governança).

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É consenso entre os pesquisadores o papel que os pais desempenham como


primeiros educadores de seus filhos, sendo pares indispensáveis no processo de educação
da criança (SCHAEFER, 1991; GOMES, 1994; SEEFELDT e cols., 1998, citado em
SAMBRANO, 2006).A família é a mediadora primordial do desenvolvimento humano, isto
porque ela favorece, entre outros, a construção das bases da subjetividade, da
personalidade e da identidade.
O “tornar-se social” não é algo genérico. Trata-se de uma criança concreta, em uma
família constituída por pessoas concretas, nascida em um grupo social, que será socializada.
Reconhece-se, portanto, a enormidade da tarefa socialmente atribuída às famílias,
sobretudo às mais pobres. Sem dúvida, é direito da família educar os filhos. Contudo, é
importante considerar que “na creche, a criança pequena pobre brasileira pode, ainda,
entrar, com os dois pés, no mundo da cultura (LEFRÈVRE,2000, p. 3)”. Consequentemente,
as famílias pobres não podem enfrentar por mais tempo, sós e desamparadas, a
responsabilidade da construção do futuro de seus filhos. Nesse sentido, agrega-se como
fator primordial a educação infantil.
E, segundo consta do Plano Nacional de Educação, aprovado pela Lei nº
10.172/2001, o:
[...] atendimento de qualquer criança num estabelecimento de educação
infantil é uma das mais sábias estratégias de desenvolvimento humano,
de formação da inteligência e da personalidade, com reflexos positivos
sobre todo o processo de aprendizagem posterior. Por isso, no mundo
inteiro, esse segmento da educação vem crescendo significativamente e
vem sendo recomendado por organismos e conferências internacionais
(BRASIL, 2001).

A educação infantil tem uma função de complementação e não de substituição da


família como muitas vezes foi entendido. Ela deverá integrar-se com a família e com a
comunidade para que juntas possam oferecer o que a criança necessita para seu
desenvolvimento e para sua felicidade.
...apesar de apresentarem obrigações diferentes, a família e a instituição
educacional têm um objetivo comum: o desenvolvimento infantil e uma
relação entre esses dois contextos tem de ser vista como complementar
e não encarada como forças distintas e separadas (SAMBRANO, 2006, p.
148).

Numa perspectiva macrossocial, as instituições de cuidado e educação infantil têm


sido indicadas como um dos meios mais positivos para conciliar responsabilidades
familiares, ocupacionais e sociais, contribuindo para a ascensão da igualdade de
oportunidades entre homens e mulheres e amparando a família no seu papel parental.

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Nessa direção, uma forte propensão em debate é fazer sobressair a função socializadora
das instituições de educação infantil. Permitindo-nos compreender a educação infantil
como espaço de promoção do direito à convivência comunitária.
A relação que se firma entre educação infantil e a família na ação socializadora e
educacional da criança requer disponibilidade, não podendo ficar limitada a contatos
formais (como reunião de pais) e conhecimento, no sentido de extrair os maiores
benefícios dessa relação. Família e instituição de educação infantil são parceiros
necessários nas ações educacionais e socializadoras, ou seja, têm objetivos comuns, mas
cada uma agindo de acordo com as suas especificidades, família é família e instituição de
educação infantil é instituição, sendo a criança o elo que as une.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional referenda o que foi exposto,
estabelecendo:
Art. 12 – Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns
e as do seu sistema de ensino, terão a incumbência de:
(...)
VI – Articular-se com as famílias e a comunidade, criando processos de
integração da sociedade com a escola.

Essa articulação necessária representa um novo modelo de gestão denominado de


governança educacional, que tem uma relação cooperativa e de colaboração e que busca a
atuação da sociedade civil como ator político para a boa performance da máquina estatal.
O município pode instituir, planejar, organizar e gerir o seu próprio sistema de
ensino (CF, art. 211; LDB, art. 8), sendo o responsável direto pelas creches. Para tanto, é
preciso que crie ou organize sua estrutura administrativa objetivando atender essas novas
exigências, devendo observar o princípio constitucional da gestão democrática do ensino
público e da participação da família.
A família entra neste novo modelo de gestão, não como um favor, mas como um
direito, como bem destacou o Estatuto da Criança e do Adolescente quanto à
responsabilidade dos pais e responsáveis em relação aos filhos ou pupilos em idade escolar
(especificamente em relação à educação infantil), estabelecendo: a) o direito de ter ciência
do processo pedagógico; b) participar da definição das propostas educacionais (Lei
8.069/1990, art. 53, parágrafo único).
Assim, a relação firmada entre a família e o direito à educação na primeira infância
apresenta-se da seguinte maneira: “... cabe aos pais atuar em duas frentes: a) participação
nos mecanismos de cogestão da escola; b) atuação junto aos seus próprios filhos, através

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do desenvolvimento de atitudes favoráveis ao sucesso escolar das crianças e adolescentes”


(COSTA, 2008, p. 104).
Quanto ao relacionamento da escola com a família deve ser uma “relação
plenamente participativa, onde os pais são chamados a compartilhar decisões e
responsabilidades com os educadores da equipe escolar, atuando de maneira cooperativa
no encaminhamento de solução para os problemas levantados.” (COSTA, 2008, 106).
Aliás, quanto a este relacionamento, Costa (2008) apresenta de maneira didática,
como têm sido as configurações relacionais da escola com a família. Vale destacar as
hipóteses citadas:

a) Relação burocrático-formal: os pais matriculam seus filhos, pedem


transferência, são chamados para receber reclamações ou convocados
para alguma atividade regimental. As autoridades locais, vez por outra,
são convidadas a participar de alguma cerimônia, em ocasiões especiais.
b) Relação de natureza tutelar: os pais são vistos pela escola como uma
extensão dos seus filhos, isto é, também como educandos. São alvos, pela
escola, de um trabalho constante de informação, esclarecimento,
motivação, orientação, de modo a se tornarem mais cooperativos no
processo de educação escolar de seus filhos.
c) Relação pragmático-utilitária: A escola vê, na comunidade e nas
famílias, fontes de bens e serviços destinados a suprir suas deficiências e
necessidades. Pais e lideranças comunitárias são envolvidos em mutirões,
campanhas, quer- messes e promoções de todo tipo, visando melhorar as
condições de funcionamento da escola (COSTA, 2008, p. 105).

Neste sentido, a Portaria Interministerialnº1 de 04/04/2018, que regulamenta a


intersetorialidade no âmbito do Programa Criança Feliz (BRASIL, 2018), indica a seguinte
ação de fomento da interação da escola com a comunidade e a família da criança na
primeira infância:
Sensibilizar os gestores sobre a importância da parceria entre escola e
comunidade, de forma a ocupar criativamente o espaço escolar,
inclusive nos finais de semana, com atividades educativas, culturais e
de fortalecimento de vínculos entre família e comunidade escolar (Art.
4º, Inc. IV, item 7, grifo nosso).

Considerações finais

Não há como negar que a educação é vista por todos como um instrumento de
mudança social, que busca equalizar as pessoas de modo a garantir-lhes as mesmas
oportunidades. E mais. A educação tem uma ligação direta com os fundamentos e objetivos
da República Federativa do Brasil, pois representa um instrumento de cidadania e

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15
III

dignidade da pessoa humana, garantindo o desenvolvimento nacional e contribuindo para


erradicar a pobreza e a marginalização, reduzindo as desigualdades.
Sem o efetivo atendimento da demanda e com qualidade, não se pode afirmar que
a educação seja um direito de todos. Continuará a ser um direito para alguns privilegiados.
Também não se pode esquecer o papel da família nos mecanismos de gestão e de
participação do desenvolvimento da criança, atuando de maneira participativa e de
corresponsabilidade com a instituição educacional. Este papel é de fundamental
importância, independente da forma como a família se constitui. Por outro lado, na creche
a criança deixa de depender exclusivamente do capital cultural da família para ingressar
na educação de maneira organizada e regular.
Todas estas questões, principalmente no aspecto legislativo, encontram um
direcionamento satisfatório. Porém, a realidade está bem distante da lei. Há um
distanciamento muito grande entre o legal e o real.
Há uma dívida social muito grande com a primeira infância. Esta dívida proporciona
uma geração de excluídos, sendo que a oferta irregular de educação infantil na primeira
infância acaba por constituir o alicerce da construção social da desigualdade, que tem
como reflexos perversos o analfabetismo, a repetência, a evasão escolar e a violência.
Estudos apontam para esse caminho:
No Brasil, as crianças pobres que frequentaram um ano de pré-escola
permaneceram em média 0,4 ano mais na escola primária do que as
crianças que não a frequentaram (BARROS & MENDONÇA, 1999, citado
em YOUNG, 2010, p. 7).

Uma consideração social fundamental é que as crianças que têm um início


deficiente correm um risco maior de apresentar comportamento antissocial, o que
potencialmente resulta em um aumento da criminalidade e da violência na sociedade
(MUSTARD, 2010, p. 57).
Qual o melhor encaminhamento a fazer na área educacional? A resposta é simples
e objetiva: investir na primeira infância. Políticas públicas garantidoras de direitos e que
superem as desigualdades, pois se as experiências positivas nesta fase repercutem para
toda a vida, de nada adiantará investimentos no ensino fundamental ou médio se a base já
vem corroída pela falta de oportunidade. Nesse sentido, desnecessária a elaboração de
novas leis, mas sim a necessidade do cumprimento efetivo do que já vem estampado na
Constituição Federal: todos são iguais perante a lei e a educação de qualidade é um direito
de todos. Para tanto, mostra-se extremamente importante que todas as instituições, em

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III

especial o Ministério Público, Defensoria Pública, Tribunal de Contas e o próprio Poder


Judiciário se sensibilizem para esta questão, posto que como guardiões da Constituição
Federal podem contribuir eficazmente para este novo olhar. Um olhar para o presente
cercado de desigualdade e de falta de oportunidade, com vista a um futuro mais justo e
com equidade, pois escola para poucos não é um direito, e sim um privilégio.

Aula 2: O afastamento do convívio familiar e os


cuidados às crianças na primeira infância em serviços
de acolhimento
Juliana M. Fernandes Pereira, Secretaria Nacional de
Assistência Social, Secretaria Especial do
Desenvolvimento Social, Ministério da Cidadania.
Contribuições: Sylvia Nabinger, Doutora em Direito de
Família, Universitè de Lyon III.

Nesta aula você poderá conhecer melhor as especificidades do atendimento às


crianças na primeira infância em serviços de acolhimento e entender as consequências do
afastamento do convívio familiar e da institucionalização: Em que medida a
institucionalização afeta o desenvolvimento das crianças e quais cuidados são necessários
para a que a medida de acolhimento seja de fato reparadora e não revitimizadora?
Como vimos na Unidade 1, a convivência familiar e comunitária é um direito
fundamental da criança e do adolescente, sendo amplamente reconhecida a importância
dos vínculos afetivos. Os avanços científicos também constituem a base dos dispositivos
do ECA sobre a medida protetiva de acolhimento prevista no Art. 101 (Lei no 8.069/1990),
incluindo: o caráter excepcional e provisório da medida e da priorização, nestes casos, do
acolhimento familiar (Lei no 8.069/1990, art. 34).
Os serviços de acolhimento fazem parte do Sistema Único de Assistência Social
(SUAS), coordenado nacionalmente pela Secretaria Nacional de Assistência Social. No
âmbito dos Estados, Distrito Federal e Municípios, a execução destes serviços é
coordenada pelo órgão gestor da Assistência Social - Secretarias de Assistência Social ou
correlatas. Estes serviços podem ser público-estatais ou público não-estatais, prestados
por Organizações da Sociedade Civil (OSC).

2 16
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III

Figura 1: Quadro síntese com descrição dos Serviços de Acolhimento para Crianças e Adolescentes, públicos
e parâmetros para recursos humanos (Fonte: SNAS/SEDS/Ministério da Cidadania).

As vivências que levam à aplicação da medida protetiva de acolhimento


representam intenso sofrimento psíquico, sobretudo quando estes eventos ocorrem nos
primeiros anos de vida. Assim, quando a medida for necessária, é fundamental que a
criança possa contar com cuidados nos serviços de acolhimento que, além de suas
necessidades básicas, proporcionem a construção de vínculos afetivos seguros e
significativos com os cuidadores diretos e experiências favorecedoras de seu
desenvolvimento. Além disso, é importante que possam conviver em comunidade e
construir vínculos comunitários significativos e o sentimento de pertencimento.
Diversas pesquisas já mostraram que o ambiente familiar saudável, com vínculos
afetivos estáveis e seguros, é o melhor lugar para o desenvolvimento da criança e do
adolescente. No entanto, muitas vezes o ambiente familiar representa risco, ensejando a
aplicação da medida protetiva de acolhimento. Por outro lado, as pesquisas também
evidenciaram que os cuidados massificados em instituições totais não são capazes de
atender às necessidades emocionais e de desenvolvimento, sobretudo nos primeiros anos
de vida.

Efeitos da institucionalização

No contexto da Segunda Guerra Mundial diversos estudos mostraram a


importância dos vínculos afetivos nos primeiros anos de vida e os possíveis impactos ao
desenvolvimento, em decorrência da institucionalização prolongada marcada por
cuidados massificados e privações afetivas.

2 17
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III

O estudo “Órfãos da Romênia”, realizado por Charles Nelson, Charles Zeanah e


Natan Fox, a partir de 2000, corroborou o que já havia sido apontado no século XX por
autores como Bowlby, Winnicott e Spitz. O estudo consistiu em uma pesquisa longitudinal
com 136 crianças entre 6 meses e 2,5 anos, sem problemas neurológicos ou genéticos,
acolhidas em instituições na Romênia nos primeiros anos de vida. Metade dessas crianças
foi transferida para cuidados em famílias acolhedoras que foram preparadas e
acompanhadas. A pesquisa contou, ainda, com um grupo controle de 72 crianças que
viviam com suas famílias e não passaram pela experiência da institucionalização.
Por meio do estudo, os pesquisadores acompanharam o desenvolvimento das
crianças e constataram que o atendimento em instituições superlotadas e com pouco
estímulo físico e/ou social pode impactar o desenvolvimento, com efeitos de longo prazo,
em nível emocional, cognitivo, da linguagem, do crescimento físico, nas condições para
lidar com o estresse, entre outros. Especialmente nos primeiros 2 anos de vida, que
identificaram ser um período crítico do desenvolvimento humano.
Por outro lado, a retomada do convívio em ambiente familiar favorável, nessa fase
– e o quanto antes - pode contribuir para a preservação do desenvolvimento, conforme
constatado a partir do acompanhamento do desenvolvimento das crianças que foram
transferidas para famílias acolhedoras (GERAÇÃO AMANHÃ, 2019).

VÍDEO 1– Você pode assistir à pílula do filme “O Começo da Vida” sobre o estudo
Órfãos da Romênia. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=QmKggL2oJeo

Saiba mais sobre este estudo pelo site:


http://www.bucharestearlyinterventionproject.org/.

Proteção ao Desenvolvimento Infantil durante o Acolhimento

Quando a medida protetiva de acolhimento é necessária para assegurar proteção,


as vinculações positivas com cuidadores diretos podem funcionar como elementos de
proteção ao desenvolvimento das crianças e adolescentes, até que seja possível a
retomada da convivência familiar, por meio da reintegração ao convívio com a família de
origem ou, na sua impossibilidade, por meio da adoção. Para as crianças na primeira

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19
III

infância, nestas situações, o atendimento em Serviços de Acolhimento em Famílias


Acolhedoras pode ser particularmente benéfico à proteção a seu desenvolvimento integral.
A seguir serão abordados alguns aspectos importantes a serem observados na
organização e oferta dos serviços de acolhimento (institucional e familiar) para a proteção
ao desenvolvimento das crianças na primeira infância e a seus direitos, como o direito de
brincar e pode crescer e se desenvolver em uma família. Tais aspectos devem orientar a
elaboração do Plano Individual de Atendimento (PIA) de cada criança.
O PIA deve prever, necessariamente, ações que possam ser desenvolvidas pelo
próprio serviço de acolhimento- por meio da atuação da equipe técnica, dos
educadores/cuidadores e das famílias acolhedoras, dos demais componentes da rede
socioassistencial e das demais políticas públicas e, ainda, pelas equipes interprofissionais
da Justiça da Infância e da Juventude e de outros órgãos do Sistema de Justiça.

3.2.1. Oferta de cuidados de qualidade e proteção ao


desenvolvimento integral das crianças na primeira infância durante o
período de acolhimento

Juliana M. Fernandes Pereira, Secretaria Nacional de


Assistência Social, Secretaria Especial do
Desenvolvimento Social, Ministério da Cidadania. Texto
extraído da publicação Orientações Técnicas para
Elaboração do Plano Individual de Atendimento (PIA) de
Crianças e Adolescentes em Serviços de Acolhimento (BRASIL,
2016), com adaptações para a abordagem do acolhimento
às crianças na primeira infância.

As crianças na primeira infância podem ser encaminhadas a serviços de


acolhimento por razões diversas, como a entrega voluntária pela mãe em adoção (até que
se formalize o consentimento para acolhida por habilitados para adotar) ou pelo
afastamento do convívio familiar mediante a aplicação da medida protetiva de
acolhimento.
Um papel fundamental dos serviços de acolhimento é assegurar cuidados
personalizados e de qualidade que possam ser responsivos às demandas das crianças na
primeira infância e proporcionar-lhes novas experiências de vinculação seguras e
significativas, oportunizando um ambiente favorável para o desenvolvimento integral
durante o período de acolhimento.

2 19
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III

Art. 31. O art. 92 da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 , passa a vigorar


acrescido do seguinte § 7º :
“Art. 92. .....................................................................
.............................................................................................
§ 7º Quando se tratar de criança de 0 (zero) a 3 (três) anos em
acolhimento institucional, dar-se-á especial atenção à atuação de
educadores de referência estáveis e qualitativamente significativos, às
rotinas específicas e ao atendimento das necessidades básicas, incluindo
as de afeto como prioritárias.” (NR) (Lei nº 13.257/2016)

Quando o acolhimento é necessário, deve-se buscar preservar e fortalecer os


vínculos com a família de origem e os vínculos comunitários preexistentes. Os serviços
devem desenvolver um trabalho em rede, envolvendo o Centro de Referência
Especializado de Assistência Social (CREAS), a equipe interprofissional do Sistema de
Justiça e outros atores relevantes da rede, de modo a viabilizar a reintegração familiar
segura, junto a familiares com vínculos afetivos. Na impossibilidade da reintegração ao
convívio com a família de origem com vínculos, a criança deve ser encaminhada para
adoção.
O trabalho com o acompanhamento da situação familiar é imprescindível para
que a medida protetiva de acolhimento não se prolongue para além do necessário. Em
todo este percurso, os cuidados à criança e o acompanhamento de sua situação familiar
deve ser orientado pelo Plano Individual de Atendimento (PIA).
A oferta de cuidados de qualidade no serviço de acolhimento e o trabalho efetivo
com o acompanhamento de sua situação familiar para subsidiar a tomada de decisão pela
autoridade judiciária, exigem, essencialmente, articulações em rede, uma vez que esta
responsabilidade extrapola a função do serviço de acolhimento e da própria política de
Assistência Social. Por isso, devem constar do PIA os compromissos firmados com a rede e
ancorados, sempre que possível, em fluxos, acordos e outras estratégias definidas
localmente para assegurar a intersetorialidade no atendimento às necessidades e aos
direitos de crianças e adolescentes em serviços de acolhimento.

As especificidades da primeira infância e a singularidade de cada criança

É importante que a equipe técnica, os demais profissionais do serviço de


acolhimento e as famílias acolhedoras tenham conhecimento sobre o desenvolvimento na
primeira infância: demandas de cuidados, apoio e estímulos, desafios e aquisições próprias
a esta etapa, etc. Este conhecimento contribui para uma compreensão sensível caso a caso
e para a provisão de cuidados personalizados e de qualidade durante o acolhimento.

2 20
21
III

Neste sentido, os educadores/cuidadores e as famílias acolhedoras precisam ser


preparados para lidar com o histórico de cada criança e ter acesso às informações que
sejam relevantes para proporcionar uma compreensão mais sensível para um melhor
manejo no cuidado cotidiano. Estes conhecimentos podem favorecer uma interação
positiva no contexto do acolhimento entre pares e entre acolhidos e cuidadores.
No caso de crianças com necessidades específicas, como deficiência, questões de
saúde e outras, é importante que o serviço de acolhimento possa contar com o suporte da
rede para o atendimento, com orientações sobre cuidados e modos de interação
específicos no cotidiano do acolhimento.
O olhar para as singularidades da primeira infância nos serviços de acolhimento
deve contemplar outras especificidades, ainda, como adolescentes grávidas ou com filhos
pequenos, em serviços de acolhimento, grupo de irmãos e pertencimento a povos e
comunidades tradicionais. Neste último caso, antropólogos e representantes de povos e
comunidades tradicionais podem apoiar a compreensão das especificidades e a oferta de
atendimento culturalmente adequado.
O PIA deve conter ações voltadas ao apoio da adolescente gestante e mãe para
cuidar e proteger o seu filho por meio de atenções no serviço e fora dele. Nos termos do
Art. 19 do ECA, §5º e §6º, será garantida a convivência integral da criança com a mãe
adolescente que estiver em acolhimento institucional, devendo esta última contar com
assistência de equipe multidisciplinar, salvo em situações em que a manutenção do
convívio seja prejudicial à proteção e ao desenvolvimento do filho. No caso dos
adolescentes pais, devem ser incluídas no PIA ações com o objetivo de promover a
paternidade responsável e o contato contínuo com a criança.

Infraestrutura e organização do serviço de acolhimento

No caso de crianças na primeira infância, é muito importante que tenham um


espaço para brincar e que os brinquedos estejam acessíveis a seu alcance. No caso dos
bebês, deve-se evitar que fiquem em berços ou carrinhos sozinhos, sem nenhum estímulo
e com possibilidades limitadas de movimentarem-se. A organização de espaços com
tapetes e brinquedos acessíveis pode estimular o brincar livre e os movimentos
espontâneos.
Na organização do ambiente, tanto no acolhimento institucional quanto no familiar,
deve-se atentar, ainda, para: a segurança e a adoção de medidas de prevenção de acidentes

2 21
22
III

domésticos, o quantitativo de acolhidos por quarto, a acessibilidade, a disponibilização de


espaços para atividades pedagógicas, a guarda de materiais de uso pessoal e espaços
individualizados para os pertences próprios.

Atitude receptiva e acolhedora no momento da chegada da criança

Deve-se dar especial atenção ao momento de chegada da criança ao serviço, esta


acolhida que deve ser realizada de forma respeitosa, acolhedora e afetuosa. O momento
do afastamento do convívio familiar e da chegada no serviço de acolhimento pode ser
particularmente doloroso para as crianças. Muitas podem desconhecer ou não
compreender o motivo pelo qual foram afastadas do convívio familiar, o que pode
desencadear reações emocionais e levá-las a interpretar o acolhimento como uma espécie
de punição (BRASIL, 2009).
É importante que as crianças na primeira infância, inclusive os bebês, possam ter
acesso a informações sobre o que se passou e porquê foram afastadas da família. Os bebês,
embora não verbalizem, possuem percepções sobre a situação e podem ficar
particularmente angustiados se ninguém lhes explicar o que aconteceu. Estas conversas
devem ser conduzidas de modo adequado ao estágio de desenvolvimento da criança, por
pessoas preparadas para esta abordagem, para que sejam de fato benéficas à criança.
Nos momentos iniciais no serviço de acolhimento, pode-se, gradativamente,
apresentar à criança– inclusive aos bebês - o espaço e as pessoas com quem conviverá e
explicar as regras de convívio adotadas, com meios adequados a seu estágio de
desenvolvimento.

Atendimento personalizado e individualizado

O respeito à singularidade e o fortalecimento da identidade da criança podem ser


favorecidos por atividades como a comemoração do seu aniversário, o contar com objetos
de uso pessoal e de espaços para guardar seus pertences, e a realização de registros
fotográficos, com a montagem de um livro com sua história de vida. Este livro pode conter
informações, lembranças e fotografias, e deve ser periodicamente atualizado. Este tipo de
registro é particularmente importante para as crianças na primeira infância que, em razão
das características próprias a esta fase do desenvolvimento, não guardarão muitas
memórias deste período. Esta atividade deve ser realizada com o apoio dos
educadores/cuidadores, da família acolhedora ou de outra pessoa preparada e autorizada
para tanto, assegurando-se que a criança participe do processo.

2 22
23
III

Vínculos no serviço de acolhimento

É importante planejar ações que possam favorecer a construção de uma relação


afetiva e de confiança entre a criança, a família acolhedora ou os educadores/cuidadores e
entre pares.
No caso de crianças na primeira infância, os momentos de cuidados – troca de
fraldas, banho, alimentação e sono – são privilegiados para a interação com o cuidador
direto e a construção de vínculos afetivos seguros e de confiança. Estes cuidados devem
ser prestados com delicadeza, sem movimentos abruptos. É importante que os cuidadores
diretos olhem as crianças nos olhos, conversem com elas e expliquem o que vai ser feito,
sobretudo para os bebês ou crianças recém-chegadas ao acolhimento, para que possam se
sentir mais seguras. As interações e os vínculos afetivos construídos nos serviços de
acolhimento podem favorecer a construção do senso de identidade, pela criança, e de um
sentimento de pertencimento.

O educador/cuidador e a família acolhedora devem ter clareza


quanto a seu papel de vincular-se afetivamente às
crianças/adolescentes atendidos e contribuir para a construção
de um ambiente familiar, evitando, porém, “se apossar” da criança
ou do adolescente e competir ou desvalorizar a família e origem ou
substituta. O serviço de acolhimento, não deve ter a pretensão de
ocupar o lugar da família da criança ou adolescente, mas contribuir
para o fortalecimento dos vínculos familiares, favorecendo o
processo de reintegração familiar ou o encaminhamento para
família substituta, quando for o caso (BRASIL, 2009, p. 53).

Porque priorizar o Acolhimento Familiar

Quando a criança é acolhida por uma família acolhedora, assegura-se a


continuidade do desenvolvimento em ambiente familiar, com vínculos mais estáveis, ainda
que em uma família transitória. Além disso, a criança tem a oportunidade de participar da
vida comunitária, junto à família acolhedora.
No caso dos serviços de acolhimento institucional, o modelo de casas-lares é mais
semelhante ao ambiente familiar. Todavia, nos abrigos institucionais, o regime de
revezamento por turnos dos educadores/cuidadores e a rotatividade destes profissionais
dificulta o estabelecimento de vínculos afetivos seguros. Assim, quando o acolhimento de
crianças na primeira infância for necessário, deve-se priorizar seu encaminhamento para
famílias acolhedoras.

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III

Art.91, § 7º - Quando se tratar de criança de 0 (zero) a 3 (três) anos


em acolhimento institucional, dar-se-á especial atenção à atuação
de educadores de referência estáveis e qualitativamente
significativos, às rotinas específicas e ao atendimento das
necessidades básicas, incluindo as de afeto como prioritárias. (Lei
8.069/1990. Incluído pela Lei nº 13.257/2016 – Marco Legal da
Primeira Infância)

O brincar e a autonomia

O brincar é um direito e uma atividade fundamental na primeira infância que


contribui para a expressão de sentimentos e para o desenvolvimento da autonomia, da
aprendizagem, da criatividade, da linguagem e da socialização; etc. As crianças devem ter
oportunidades para brincar, com brinquedos e brincadeiras apropriadas à cada idade, de
movimentar-se e interagir, nestes momentos, com os cuidadores, com outras crianças e
com o ambiente. É importante que possam também brincar de forma livre e autônoma,
explorando os brinquedos e o ambiente com curiosidade, à sua maneira; ouvir leituras de
livros e “brincar” de ler; ouvir e cantar músicas infantis; e brincar de faz-de-conta, usando
a imaginação; e ter contato com a natureza.
Nos primeiros anos de vida a autonomia pode ser estimulada de forma gradativa
por meio do brincar, do autocuidado - para se alimentar e se vestir de forma autônoma - do
incentivo para organizar gradativamente seus objetos pessoais e guardar seus brinquedos;
da realização das atividades escolares; e das escolhas e tomada de decisões, como, por
exemplo, escolher entre uma brincadeira e outra. Para incentivar a autonomia deve-se
buscar aquisições gradativas – das mais simples às mais complexas - sempre observando o
que é apropriado ao estágio de desenvolvimento de cada criança.
As crianças devem ser incentivadas a participar das decisões coletivas no serviço
de acolhimento, como melhorias na organização do ambiente ou construção das regras de
convívio, o que pode ser viabilizado por meio de “assembleias” ou de outras atividades
lúdicas. Podem também participar de atividades rotineiras e domésticas que sejam
apropriadas à sua faixa etária e que não prejudiquem seus estudos e o brincar.
É importante que as crianças acessem serviços da rede e outros recursos da
comunidade que possam favorecer o brincar e o desenvolvimento da autonomia, de
potencialidades, da socialização e de aquisições próprias a esta faixa etária. Assim, é
importante que sejam oportunizadas experiências como ir à creche e à escola, brincar em
parques e praças da comunidade, andar de bicicleta, fazer passeios, acompanhar pequenas
compras no comércio, ter oportunidades de observar como se lida com dinheiro, etc.

2 24
25
III

Informação e participação da criança e da família na tomada de decisão

Deve-se assegurar a escuta e o olhar individualizado para a criança, a fim de


conhecer suas expectativas, desejos, medos e opiniões. É fundamental que sejam
oportunizados momentos nos quais possam ter acesso a informações sobre sua situação
jurídica e familiar, demonstrar o que esperam, se expressar e, portanto, participar das
decisões que impactem no seu desenvolvimento e trajetória de vida. Essa participação
deverá estar sempre associada à avaliação quanto aos riscos à sua integridade física e
psíquica e à proteção aos direitos assegurados pelo ECA.
É importante que a escuta e a participação da criança na tomada de decisão sobre
sua trajetória sejam conduzidas de forma cuidadosa, por meio de estratégias adequadas a
seu estágio de desenvolvimento, como atividades lúdicas, construção de histórias,
desenhos e outras, sempre respeitando seu tempo e limites. É importante que os bebês
também sejam informados sobre sua situação e sobre possíveis decisões sobre suas vidas.
Nesses momentos é importante observar suas reações emocionais e ser responsivo a elas,
com abordagem afetuosa.
Os cuidadores/educadores do serviço de acolhimento, a família acolhedora e até
mesmo pessoas da comunidade com vínculo significativo com a criança também devem ser
ouvidos e orientados para apoiar a escuta adequada da criança. Isto porque a relação de
proximidade e confiança estabelecida pode favorecer a expressão da criança, além do
conhecimento de suas necessidades, expectativas e desejos.
É imprescindível que a família de origem seja também sempre informada, incluída
e ouvida. Sua opinião precisa ser considerada para a tomada de decisões. É importante que
suas expectativas, motivações, potencialidades, dificuldades, necessidades e desejos
sejam conhecidos e que possam opinar, sobretudo quanto às ações capazes de apoiar uma
possível retomada do convívio com a criança. Em casos de colocação em família substituta,
esta deve, igualmente, participar desse processo e ser escutada para a adequada
preparação para o desligamento da criança.

Capacitação dos educadores/cuidadores

Ações de capacitação e de educação permanente para as famílias acolhedoras e os


educadores/cuidadores devem contemplar a importância da construção de vínculos
afetivos seguros com as crianças, que são fundamentais para o desenvolvimento saudável.
Estas ações podem ser organizadas com vários formatos que vão desde a capacitação por

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26
III

intermédio do acesso a cursos, até a incorporação no cotidiano dos serviços de atividades


simples, como rodas de conversas sistemáticas da equipe com os cuidadores, grupos de
estudos a partir da discussão de algum caso ou filme, treinamentos em serviço, etc.
Famílias acolhedoras experientes podem participar de atividades, compartilhando suas
vivências e aprendizados com outras famílias que estejam sendo preparadas ou
acompanhadas.

A capacitação deve ser sempre planejada como um percurso e conduzida de forma


gradativa. É importante que contemple o conhecimento sobre o desenvolvimento na
primeira infância e a preparação para observar, escutar e abordar com a criança questões
mais sensíveis, como o afastamento do convívio familiar, o acolhimento e o desligamento,
quando for o caso, em razão da reintegração familiar ou encaminhamento para adoção.

Temporalidade
Durante o acolhimento, um aspecto que não se pode perder de vida é a questão do
tempo. A previsão no ECA de que a permanência no serviço de acolhimento institucional
não deve se prolongar por mais de 18 (dezoito) meses, salvo nos casos em que for
necessária para atender ao superior interesse da criança ou adolescente, tem como
objetivo, justamente, evitar possíveis impactos ao desenvolvimento, em razão do
prolongamento desnecessário da privação do convívio em ambiente familiar,
especialmente na primeira infância. Além disso, deve-se considerar que a percepção da de
tempo da criança não é a mesma do adulto.

Fortalecimento dos vínculos e do convívio saudável com a família de origem

O investimento na preservação e no fortalecimento dos vínculos familiares deve


ser buscado sempre que não houver determinação judicial em contrário e considerar a
motivação da família e da criança para a manutenção dos vínculos e a retomada do convívio.
Deve abranger ações voltadas a:
• contato, (re)aproximação, presença e participação da família na vida da criança;
• construção da relação de confiança entre crianças e suas famílias e destas com os
profissionais do serviço de acolhimento;
• identificação de convívio prévio e de vínculos significativos na família extensa, com
ações que viabilizem o fortalecimento de tais vínculos;
• acompanhamento da família (natural ou extensa), em parceria com a rede, visando
a potencialização da capacidade de proteção e cuidados e o fortalecimento das

2 26
27
III

redes sociais de apoio que possam favorecer a retomada do convívio e apoiar os


cuidados com a criança, no caso de reintegração familiar.

O fortalecimento de vínculos e do convívio saudável da criança com sua família de


origem deve contemplar, necessariamente, ações voltadas às:
• questões subjetivas: relativas ao campo relacional, envolvendo vinculações
e afeto; motivações para a retomada do convívio; expectativas, sonhos e
desejos; fortalecimento da autonomia; identificação de potencialidades das
crianças e suas famílias; empoderamento e ampliação das competências
relacionais da família; construção de novos projetos de vida que envolvam a
retomada do convívio; mudanças em padrões de relacionamento;
conscientização por parte da família acerca dos motivos que levaram ao
acolhimento e de sua função junto à criança; compromissos assumidos frente
à perspectiva da retomada do convívio (acesso a serviços convivência e
fortalecimento de vínculos, PAIF, etc);
• questões objetivas: relativas à ampliação de acessos a recursos das diversas
políticas públicas que possam impactar as condições concretas de vida e
apoiar a família no desempenho do cuidado e proteção da criança (acesso a
programas de transferência de renda, a benefícios, oportunidades de
preparação e participação do mundo do trabalho, moradia, etc).

As ações voltadas a responder às vulnerabilidades objetivas são fundamentais para


apoiar as famílias, ampliar o acesso a recursos, suportes e apoios das diversas políticas
públicas e reduzir o estresse e as tensões advindos da própria condição de exclusão, de não
acesso e dificuldades reais para conciliar cuidados e sobrevivência do núcleo familiar. Na
mesma direção, as ações voltadas às questões subjetivas são fundamentais para
empoderar a família, construir novos padrões de relacionamento, evitar agravamentos e
reduzir vulnerabilidades e riscos, buscando a efetiva superação das situações que tenham
motivado o afastamento da criança ou adolescente.
Considerar essas duas dimensões é fundamental para que a reintegração familiar
seja exitosa e não ocorra a necessidade de novos afastamentos. Para contemplar estas
duas dimensões no trabalho com as famílias, o PIA deve prever, necessariamente, ações
nessa direção que possam ser desenvolvidas pelo próprio serviço de acolhimento, por

2 27
28
III

meio da atuação da equipe técnica e dos educadores/cuidadores, assim como pela rede
socioassistencial mais ampla e as demais políticas públicas.

A convivência comunitária

Toda criança que esteja em serviço de acolhimento deve ter o seu direito à
convivência comunitária resguardado. De acordo com o ECA, o acolhimento, quando
necessário, deve ocorrer em serviço o mais próximo possível da residência dos pais ou
responsáveis, como objetivo de facilitar o contato da criança e preservar vínculos
comunitários já existentes (amigos, vizinhos, pessoas com vínculos significativos na
comunidade, etc.). Nessa direção, as Orientações Técnicas: Serviços de Acolhimento para
Crianças e Adolescentes (CNAS e CONANDA, 2009) recomendam que, sempre que possível,
as crianças sejam mantidas na mesma creche ou escola e nas demais atividades que
costumavam frequentar antes do acolhimento (esportivas, culturais, religiosas, dentre
outras).
Quando uma criança é acolhida, é importante que se busque identificar pessoas da
comunidade com vínculos significativos e se avalie o benefício de propiciar, desde o início,
a manutenção destes contatos. No caso de crianças originárias de povos e comunidades
tradicionais, a preservação da convivência e dos vínculos com sua comunidade de origem
são fundamentais para reduzir os impactos do acolhimento.
Durante o acolhimento as crianças devem ter a oportunidade de construir novos
vínculos comunitários. É importante que participem da vida diária da comunidade
(festividades, eventos, etc.) e se relacionem com crianças e adolescentes da comunidade. É
recomendado, ainda, que atividades esportivas, culturais e de lazer sejam realizadas de
modo individualizado, para facilitar o contato e o estabelecimento de vínculos com outras
crianças da comunidade, considerando, ainda, o interesse, as habilidades e o estágio de
desenvolvimento de cada criança.
Garantidas restrições essenciais à sua segurança, crianças e
adolescentes devem circular pela comunidade de modo semelhante
àqueles de sua mesma faixa etária – caminhando, usando o transporte
público ou bicicletas – contando com a companhia de
educadores/cuidadores ou outros responsáveis quando o seu grau de
desenvolvimento ou a situação assim exigir. No convívio com a
comunidade deve ser oportunizado que crianças e adolescentes possam
tanto receber seus colegas nas dependências do serviço como participar,
por exemplo, de festas de aniversário de colegas da escola. (BRASIL,
2009, p.57).

2 28
29
III

3.2.2. Acompanhamento da situação familiar, preparação para o


desligamento e acompanhamento após o desligamento

O desligamento do serviço deve ser planejado como uma etapa que envolve o
trabalho com a situação familiar, a identificação da melhor medida para o desligamento, a
preparação dos envolvidos, o desligamento em si e o acompanhamento após o
desligamento.
No caso das crianças na primeira infância, o desligamento pode ser motivado pela
possibilidade da reintegração familiar segura - com a família natural ou extensa com
vínculos; ou da colocação em família adotiva. É importante que todos os envolvidos sejam
preparados para o desligamento e que sejam realizados rituais para despedida, de forma
gradativa, do ambiente do acolhimento, da família acolhedora, do educador/cuidador, dos
demais profissionais e das outras crianças e adolescentes com os quais se tenha construído
vínculos durante o acolhimento.
O trabalho de acompanhamento da situação familiar e de preparação para o
desligamento é essencial para se prevenir situações de retorno ao serviço de acolhimento
após tentativa mal sucedida de reintegração familiar ou adoção, as quais podem ser ainda
mais traumáticas, sobretudo, para crianças na primeira infância que já vivenciaram
experiências anteriores de separações e rupturas de vínculos.
O serviço de acolhimento precisa estar sensível e contemplar ações para o
acolhimento das angústias e reações que podem emergir nas crianças e adolescentes que
permanecem no serviço, a cada um que se desliga com a perspectiva de colocação em uma
família definitiva.
Desde o planejamento do desligamento, devem-se vislumbrar ações que serão
desenvolvidas na etapa seguinte, ou seja, de acompanhamento após o desligamento, o que
deve ser assegurado pelo período de pelo menos 6 (seis) meses em quaisquer destes casos.

a. Reintegração Familiar

Entende-se por reintegração familiar todo o percurso que abrange os


investimentos nas possibilidades de retorno ao convívio com a família de origem (natural
ou extensa com vínculo afetivo). Este percurso, que pode se iniciar logo após o Estudo da
Situação, estende-se até o acompanhamento após o desligamento do serviço de
acolhimento.

2 29
30
III

Mais do que um reagrupamento físico, a reintegração familiar é um processo


gradativo que envolve contatos iniciais com a família (natural ou extensa com vínculos),
acompanhamento da situação familiar, o trabalho com os vínculos afetivos, suportes à
família para a superação da situação que motivou o acolhimento, compromissos assumidos
pelos pais/responsáveis e a construção apoiada de um projeto conjunto
(criança/adolescente e família) de retomada do convívio e manutenção dos vínculos
afetivos (GRUPO INTERAGÊNCIA DE REINTEGRAÇÃO INFANTIL, 2016). Com base no
ECA, a reintegração familiar deve ser viabilizada nos casos em que se mostrar a melhor
medida para assegurar o superior interesse da criança.
Além de uma avaliação de riscos à integridade da criança, os vínculos afetivos, o
desejo pelo convívio e o comprometimento da família devem ocupar lugar central na
decisão quanto à reintegração familiar, quer seja com a família natural, quer seja com a
família extensa que mantenha vínculo de afeto e convivência com a criança.
Os vínculos afetivos, as expectativas e os desejos pela retomada do convívio,
aliados ao compromisso da família com a responsabilidade de proteção e cuidados, são
aspectos que devem prevalecer sobre o mero vínculo consanguíneo, quando da avaliação
acerca da reintegração familiar representar ou não a melhor medida para a criança. A
família deve ser sempre informada, para que tenha consciência das possíveis decisões do
Juiz da Infância e da Juventude e dos aspectos que serão considerados para tanto.
É preciso que, ao longo do acompanhamento, sejam identificadas as necessidades
da criança e de suas famílias, bem como fortalecidos os recursos (pessoais, familiares e de
acesso à rede e a direitos) que possam contribuir para a superação dos motivos que
levaram ao acolhimento, desempenho da função de cuidado e proteção e fortalecimento
das possibilidades de retomada do convívio.
No decorrer do acompanhamento familiar é preciso identificar, ainda, qual o
contexto mais favorável e protegido para se viabilizar a reintegração familiar. Como
exemplo podemos citar o de uma criança que, antes do acolhimento, vivia com os pais e
sofreu violência do pai e que, posteriormente, é reintegrada ao convívio com a mãe e o avô.
Ao longo de todo este percurso, deve-se assegurar o protagonismo da família e da
criança, com escuta qualificada e atenta às expectativas, angústias e inseguranças, assim
como aos anseios, desejos e medos que emergem não somente da separação do convívio,
mas, também, da possibilidade de sua retomada.
Nesse sentido, é preciso que crianças e famílias:

2 30
31
III

(...) entendam e concordem com as estratégias de reintegração e


apoio. Assim, é importante ser claro sobre os serviços que estão
sendo oferecidos (...), benefícios e riscos – e, em seguida, obter a
permissão do pai/responsável e da criança/adolescente para
continuar. É de extrema importância consultar as
crianças/adolescentes regularmente e verificar continuamente o
seu consentimento. (GRUPO INTERAGÊNCIAS, 2016, p. 16, com
ajustes de tradução)

Pessoas da família extensa e da comunidade que tenham vínculos afetivos


significativos com a criança devem ser identificadas e envolvidas no processo de
reintegração familiar. Isso porque fortalecer as redes familiares e sociais de apoio aos pais
se constitui como ação de suma importância para o suporte no desempenho de seu papel
de cuidado e proteção.
Um processo de reintegração familiar seguro somente pode ser conduzido se
contar com o suporte da rede. O acompanhamento da família pelo PAEFI, articulado ao
serviço de acolhimento, tem papel central nesse sentido. Assim, é importante que esta
parceria seja assegurada desde o planejamento inicial das ações previstas no PIA. Além
disso, deve-se incluir a equipe interprofissional do poder Judiciário, de modo a assegurar
agilidade na comunicação e acompanhamento sistemático dos casos por parte da Justiça.
Realizadas todas as ações necessárias, há dois desfechos possíveis: a conclusão da
possibilidade de reintegração familiar ou a constatação da impossibilidade de reintegração
ao convívio com a família de origem e, portanto, a necessidade de se adotar os
procedimentos necessários ao encaminhamento para adoção. Recomenda-se que esta
conclusão envolva, além do serviço de acolhimento e do CREAS, os profissionais da equipe
interprofissional da Justiça da Infância e da Juventude e da rede que estejam
acompanhando a família e a criança/adolescente.
Sendo concluída a impossibilidade de reintegração familiar, em observância aos
dispositivos legais, o serviço de acolhimento deverá enviar “relatório fundamentado ao
Ministério Público, no qual conste a descrição pormenorizada das providências tomadas e
a expressa recomendação (...) para a destituição do poder familiar, ou destituição de tutela
ou guarda” (ECA, Art. 101, §9º). O ECA prevê, ainda, prazos para o Ministério Público
ingressar com ação de destituição do poder familiar, a partir do recebimento do relatório
e a inclusão no cadastro de crianças e adolescentes em condições de serem adotados (ECA,
Art. 50).
Quando o acompanhamento apontar possibilidades mais concretas de retomada
do convívio familiar, recomenda-se que o serviço de acolhimento discuta o caso com a

2 31
32
III

equipe interprofissional da Justiça da Infância e da Juventude e dê ciência à autoridade


judiciária de que serão iniciadas as medidas para a preparação da família e da criança para
o desligamento e a retomada gradativa do convívio.

De acordo com o Art. 19, § 1o do ECA “Toda criança ou adolescente que estiver inserido
em programa de acolhimento familiar ou institucional terá sua situação reavaliada, no
máximo, a cada 3 (três) meses, devendo a autoridade judiciária competente, com base
em relatório elaborado por equipe interprofissional ou multidisciplinar, decidir de forma
fundamentada pela possibilidade de reintegração familiar ou pela colocação em família
substituta”.

Estas medidas podem incluir, por exemplo, o início de visitas da criança ao lar da
família de origem para passar finais de semana, de modo a viabilizar um retorno gradativo
e as adaptações necessárias. Assim, o acompanhamento da família e da criança durante a
preparação para o desligamento deve apoiar a construção de uma perspectiva de retorno
e contemplar escuta e conversas que contribuam para seu planejamento concreto e
trabalho tanto com questões subjetivas – como inseguranças e expectativas e possíveis
mudanças na dinâmica familiar a partir do retorno, reaproximação afetiva, etc. – como com
questões objetivas – como vaga em creche ou escola no território onde vive a família,
integração dos responsáveis familiares ao mundo do trabalho e acesso à renda,
reorganização da rotina diária da família a partir do retorno da criança, assim como
mudanças na rotina diária da própria criança, compromissos por parte da família, etc.
Autorizado o desligamento pela autoridade judiciária, a criança retornará ao
convívio com a família, sendo recomendado que haja acompanhamento do CREAS, em
parceria com o serviço de acolhimento, durante o período após o desligamento.
No acompanhamento após o desligamento, é importante que os profissionais
envolvidos atuem como mediadores deste processo. Não se trata de “fazer por”, mas de
estar presente e fornecer suportes e mediações para que a família seja a protagonista
deste processo, fortalecendo sua capacidade de tomar decisões, iniciativas, de reorganizar
sua rotina diária, de reestabelecer uma relação de afeto segura com a criança, etc. Isso
contribuirá para o fortalecimento da autoestima e confiança da própria família em suas
capacidades.

2 32
33
III

Os profissionais devem estar disponíveis para trabalhar com questões


socioemocionais. Isso porque, nesse momento, podem emergir, por exemplo, sentimentos
de angústias e reações decorrentes da separação, sobretudo por parte da criança; “mitos”
e “crenças”, por parte da família, de que a criança estaria melhor cuidada no serviço de
acolhimento em razão da ausência de recursos materiais e “choques” gerados pelas
diferenças culturais, de rotina, regras e funcionamento do lar familiar e do serviço de
acolhimento, podendo este risco ser maior nos casos de afastamento mais prolongado.

Você pode ouvir a seguir um relato de uma cuidadora, acerca de um serviço de


acolhimento premiado por boa prática de reintegração familiar: A importância
do cuidar https://anchor.fm/obraseducativas/episodes/A-importncia-do-cuidar---Elma-
en1s1g

O encerramento do acompanhamento pela equipe do serviço de acolhimento não


implica, necessariamente, no desligamento da família de outros serviços que possam estar
acompanhando-a. Assim, pode-se avaliar se a família continua em acompanhamento no
CREAS, no CRAS, em outros serviços da rede, para atender suas necessidades, sem que
isso esteja mais permeado sob a égide da questão legal.

O desligamento do serviço de acolhimento deve estar embasado em informações


confiáveis de que o retorno à família de origem é uma decisão viável e segura no que se
refere à proteção e à garantia do melhor interesse da criança. Apenas quando esgotada
esta possibilidade, deve-se buscar o encaminhamento para família substituta.

b. Adoção: Em alguns casos, as ações do PIA voltadas à promoção da reintegração familiar


poderão levar à identificação da impossibilidade da retomada do convívio com a família de
origem (natural ou extensa), levando a ações e articulações com o Poder Judiciário e o
Ministério Público para subsidiar a tomada de decisão e encaminhamento para colocação
em família substituta, como forma de garantir o direito à convivência familiar. É importante
destacar que esta medida é de competência exclusiva da autoridade judiciária. A adoção
será tratada com mais detalhes na Unidade 4.

2 33
34
III

Figura 2: Quadro síntese do Percurso de trabalho caso-a-caso nos serviços de acolhimento.


Fonte: SNAS/SEDS/MC. Elaboração: Gabinete/SNAS/SEDS/MC

Para saber mais sobre os Serviços de Acolhimento para Crianças e Adolescentes


e o Trabalho de Reintegração Familiar:

• BRASIL. Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de Crianças


e Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária. Brasília, CONANDA e
CNAS, 2006.
• Disponível em:
http://www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/assistencia_social/Cadernos/Pl
ano_Defesa_CriancasAdolescentes%20.pdf

2 34
35
III

• Tipificação Nacional dos Serviços Socioassistenciais (BRASIL, 2009). Resolução


CNAS nº 109, de 11 de novembro de 2009, que reúne os serviços socio
assistenciais que integram o SUAS e sua descrição, inclusive os serviços de
acolhimento para crianças e adolescentes.
• http://www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/assistencia_social/Normativas/
tipificacao.pdf
• Orientações Técnicas: Serviços de Acolhimento para Crianças e Adolescentes”
(BRASIL, 2009). Normativa do SUAS que reúne os parâmetros para a organização,
o funcionamento e o atendimento nesses serviços, em suas diferentes modalidades
de oferta, incluindo desde orientações metodológicas, sobre os recursos humanos,
até o espaço físico.
• http://www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/assistencia_social/Cadernos/ori
entacoes-tecnicas-servicos-de-alcolhimento.pdf
• Orientações Técnicas para Elaboração do Plano Individual de Atendimento (PIA)
de Crianças e Adolescentes em Serviços de Acolhimento (BRASIL, 2009). O
documento reúne orientações para o planejamento caso-a-caso do PIA, com as
ações e atividades a serem desenvolvidas com a criança/adolescente e sua família
durante o período de acolhimento. http://blog.mds.gov.br/redesuas/plano-
individual-de-acolhimento-pia-orientacoes-tecnicas/
• CENSO SUAS: Realizado anualmente pela Secretaria Especial de
Desenvolvimento Social do Ministério da Cidadania, tem a finalidade de coletar
informações sobre os serviços que integram o SUAS. É a maior fonte de
informações do SUAS sobre os serviços de acolhimento para crianças e
adolescentes existentes no país, reunindo dados informados pelos municípios, DF
e Estados.http://aplicacoes.mds.gov.br/snas/vigilancia/index2.php

• Prontuário Suas – Acolhimento Institucional de Crianças e Adolescentes:


Instrumento que visa organizar e qualificar as informações relativas à
criança/adolescentes e de suas relações familiares e afetivas, e que são necessárias
ao diagnóstico, ao planejamento e ao acompanhamento do trabalho
social.Constituído por um conjunto de fichas independentes destinadas ao registro
da rotina individual de cada criança e adolescente em serviço de acolhimento,
o Prontuário SUAS – Acolhimento para Crianças e Adolescentes permite o
acompanhamento da jornada e da história do usuário na sua relação com os

2 35
36
III

serviços socioassistenciais.http://blog.mds.gov.br/redesuas/prontuario-suas-
acolhimento/
• http://blog.mds.gov.br/redesuas/wp-
content/uploads/2019/01/Manual_Prontuario-Eletr%C3%B4nico-do-
SUAS_Acolhimento-de-Crian%C3%A7a-e-Adolescente-1.pdf
• Provimento CNJ n.º 32/2013 do Conselho Nacional de Justiça. Normativa do CNJ
que estabelece a obrigatoriedade da realização das Audiências Concentradas para
reavaliação semestral das medidas de acolhimento, por meio da homologação e
revisão dos PIAS de crianças e adolescentes acolhidos, a serem realizadas sempre
que possível nas dependências das entidades de acolhimento, com a presença dos
atores do Sistema de Garantia de Direitos da criança e do
adolescente.https://atos.cnj.jus.br/atos/detalhar/atos-
normativos?documento=1789
https://geracaoamanha.org.br/orfaos-da-romenia/
• GRUPO INTERAGÊNCIA DE REINTEGRAÇÃO INFANTIL. Diretrizes para
reintegração familiar de crianças e adolescentes, 2016. Disponível em:
https://movimento-
nacional.s3.amazonaws.com/uploads/ckeditor/attachments/149/RG_BrazPortug
uese_digital.pdf
• BRASIL. Serviço de acolhimento para crianças e adolescentes: Proteção integral
e garantia de direitos. Brasília, MDS e Fiocruz, 2018. Disponível em:
http://www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/assistencia_social/Cadernos/20
19/Curso_Serv_%20acolhimento_criancas_adolesc_protecaointegral.pdf
• Guia Prático de Trabalho Social com Famílias. Rio de Janeiro: Associação Terra
dos Homens (Autores: Adriana P.S. Graham e Valéria Brahim), 2013.
• Fazendo Valer um Direito. Grupo de Trabalho Nacional Pró-Convivência Familiar
e Comunitária. Rio de Janeiro: Terra dos Homens, 2008.
• De Volta para Casa: A Experiência da Casa de Acolhida Novella no Fortalecimento
da Convivência Familiar e Comunitária. (Autora: Maria Lúcia C. R. Gulassa). São
Paulo: Fundação ABRINQ, 2007. Disponível em:
https://issuu.com/fundacaoabrinq/docs/de_volta_pra_casa_fadc/35

2 36
37
III

Aula 3: Acolhimento Familiar: desafios e perspectivas


de implementação
Alice Bittencourt, Especialista em Direito da Criança e do
Adolescente pela Escola do Ministério Público do Rio
Grande do Sul, formadora e integrante do Conselho Gestor
do NECA SP

A lei 12.010/2009 instituiu oficialmente, em 3 de agosto de 2009, o acolhimento


familiar como parte do sistema de acolhimento de crianças e adolescentes e dá preferência
ao acolhimento em famílias acolhedoras em detrimento do acolhimento institucional.
Art. 34. § 1º A inclusão da criança ou adolescente em programas de
acolhimento familiar terá preferência a seu acolhimento institucional,
observado, em qualquer caso, o caráter temporário e excepcional da
medida, nos termos desta Lei. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)

Onze anos depois, o número de serviços de família acolhedora, bem como de


famílias acolhendo pouco avançou. Provavelmente pensou-se que, com o tempo, a política
de acolhimento familiar cresceria frente aos evidentes benefícios que o atendimento
personalizado traria para as crianças e adolescentes. Não foi assim.
De acordo com Castro, Melo, Pereira, Carmo (2016, p. 254), “um dos principais
desafios da política de assistência social no que se refere à promoção do direito à
convivência familiar consiste na implantação e qualificação de serviços de acolhimento em
famílias acolhedoras no Brasil”. Este desafio contou com uma nova perspectiva de
implementação a partir do reforço trazido pelo Marco Legal da Primeira Infância, que em
seu artigo 28, alterou o artigo 34 do Estatuto da Criança e do Adolescente:

Art. 28. O art. 34 da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 , passa a vigorar


acrescido dos seguintes §§ 3º e 4º:
“Art. 34. ......................................................................
§ 3º A União apoiará a implementação de serviços de acolhimento em
família acolhedora como política pública, os quais deverão dispor de
equipe que organize o acolhimento temporário de crianças e de
adolescentes em residências de famílias selecionadas, capacitadas e
acompanhadas que não estejam no cadastro de adoção.
§ 4º Poderão ser utilizados recursos federais, estaduais, distritais e
municipais para a manutenção dos serviços de acolhimento em família
acolhedora, facultando-se o repasse de recursos para a própria família
acolhedora.” (NR) (Lei 13.257/2016)

Contudo, “para além das questões inerentes à gestão pública, a implantação destes
Serviços implica a necessidade de uma mudança cultural da sociedade brasileira, para uma

2 37
38
III

maior adesão a essa alternativa de acolhimento” (CASTRO e col., 2016, p. 254). De fato, a
oferta do Serviço de Acolhimento só é possível a partir da disponibilidade de famílias
pertencentes à sociedade acolherem crianças encaminhadas pela Justiça e assumirem
seus cuidados e proteção, no período em que a situação jurídica da criança seja definida,
seja para retorno à família de origem ou para colocação em família por adoção. Neste
sentido, o Serviço de Família Acolhedora representa uma parceria entre o poder público e
indivíduos comuns da sociedade, a fim de oferecer à criança um ambiente familiar, que
possibilite um atendimento individualizado e personalizado, como medida protetiva.
Como vimos, o reconhecimento da importância de cuidados personalizados e
interações afetivas estáveis indica que o ambiente familiar é o mais favorável ao
desenvolvimento na primeira infância. Isso tem mobilizado a oferta da modalidade de
Acolhimento Familiar como medida protetiva mais adequada em casos de necessidade de
afastamento da criança do convívio familiar original.
Apesar da previsão no ECA de priorização da oferta de serviços de acolhimento em
famílias acolhedoras, a imensa maioria dos serviços de acolhimento para crianças e
adolescentes no Brasil ainda segue o modelo institucional. De acordo com o Censo
SUAS2018, apenas 4% das crianças e dos adolescentes estavam acolhidos em famílias
acolhedoras.
A transição do modelo prevalente de acolhimento – do institucional para o familiar
– e a redução do hiato entre o ECA e a realidade é um caminho necessário para a
concretização do direito das crianças e dos adolescentes de serem acolhidos,
prioritariamente, em famílias acolhedoras. E assim seguirem o curso do desenvolvimento
em ambiente familiar, no período em que a medida protetiva de acolhimento for necessária.
O serviço de família acolhedora é um serviço de delicadezas e sutilezas. E
necessário que os candidatos tenham uma formação inicial que contemple entrevistas com
a equipe técnica com os adultos da família, entrevistas com as crianças e adolescentes do
grupo familiar (se houver), entrevistas com o grupo familiar completo, visitas nas
residências dos candidatos para observação da dinâmica familiar. Após isto, inicia-se a
formação grupal dos técnicos (um grupo com adultos e um grupo com os filhos destes
adultos) onde irão observar a dinâmica comportamental de cada grupo e seus integrantes.
Após esta formação inicial, que de preferência deve ter no mínimo de 30 horas de
atividades, a equipe realiza nova conversa com cada grupo familiar onde dará uma
devolutiva. A este grupo novo de famílias habilitadas deve-se somar o antigo grupo de

2 38
39
III

famílias acolhedoras para que cresçam juntos na caminhada de formação com as trocas de
experiências e construindo respostas para dúvidas comuns.
A superação do desafio de oferecer cuidados baseados no interesse superior da
criança, em uma parceria com o poder público, que por sua vez também requer revisão de
conceitos e crenças, exige uma mudança cultural e o envolvimento dos atores chaves para
a implementação do serviço de acolhimento familiar: os gestores da política de Assistência
Social, os juízes da Infância e da Juventude e as famílias da comunidade que se
disponibilizem ao acolhimento.

VÍDEO:
Você pode acompanhar um pouco mais o significado da Família Acolhedora, assistindo ao
vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=w68c24l2g34

Para saber mais:

• VALENTE, Jane. As relações de cuidado e de proteção no serviço de acolhimento,


2013. Disponível em:<https://www.paulus.com.br/assistencia-social/wp-
content/uploads/2014/12/familia-acolhedora.pdf>
• Instituto Fazendo história. Família acolhedora: acolhendo a primeira infância,
2019.Disponível em:
<https://static1.squarespace.com/static/56b10ce8746fb97c2d267b79/t/5d362
2ad42b5000001a80d58/1563828984034/WEB+_LIVRO+FAM%C3%8DLIAS+
ACOLHEDORAS+07+JULHO+2019+FINAL.pdf
• Manual de Acolhimento Familiar. Tribunal de Justiça do Paraná. Disponível em:
https://www.tjpr.jus.br/documents/11900/4588702/Manual+de+Acolhimento+
Familiar+-+Orienta%C3%A7%C3%B5es+Iniciais/c28d62b6-0f50-242b-4f50-
8d3acb0f303c
• E-book gratuito sobre Acolhimento Familiar. Instituto Geração Amanhã.
Disponível em:
https://geracaoamanha.org.br/ebookaf/https://geracaoamanha.org.br/ebookaf/

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III

Plano Individual de Atendimento para Crianças e Adolescentes em


Serviços de Acolhimento (PIA)
Viviane de Souza Ferro, Mestre em Psicologia, Ex-
Coordenadora-Geral de Serviços de Acolhimento da
Secretaria Nacional de Assistência Social, Ministério da
Cidadania.

Ancorado em normativos como o Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, a


Resolução Conjunta nº 1/2009, do Conselho Nacional de Assistência Social – CNAS e do
Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente – CONANDA – que aprovou
as Orientações Técnicas: serviços de acolhimento para crianças e adolescentes e o
Provimento nº 32/2013 do Conselho Nacional de Justiça – CNJ, o Plano Individual de
Atendimento – PIA para crianças e adolescentes em cumprimento de medida protetiva
de acolhimento é definido como:

(...) um instrumento de planejamento que orienta e sistematiza o trabalho


a ser desenvolvido com cada criança e adolescente acolhido e sua família
pelo serviço de acolhimento, em articulação com os demais serviços,
projetos e programas da rede local, durante o período de acolhimento e
após o desligamento da criança ou adolescente do serviço (BRASIL, 2009,
p. 12)

Dada a relevância de sua construção e implementação, o PIA passou a ser um


instrumento obrigatório após a alteração do ECA pela Lei nº 12.010/2009, que no
parágrafo 4º do artigo 101, dispõe que:

(...) imediatamente após o acolhimento da criança ou do adolescente, a


entidade responsável pelo acolhimento institucional ou familiar
elaborará um plano individual de atendimento, visando à reintegração
familiar, ressalvada a existência de ordem escrita e fundamentada em
contrário de autoridade judiciária competente, caso em que também
deverá contemplar sua colocação em família substituta, observadas as
regras e princípios desta Lei.

Esta ferramenta orienta o acompanhamento de cada caso, incluindo as atenções às


necessidades de cada criança/adolescente acolhido, o trabalho com sua família durante o
período de acolhimento e o acompanhamento após o desligamento. Reúne ações
necessárias ao apoio à família para a superação das situações que levaram à aplicação da
medida protetiva de acolhimento, constituindo-se como o fio condutor do processo que
poderá conduzir à reintegração familiar ou, na sua impossibilidade, ao encaminhamento
para a adoção.

2 40
41
III

“A equipe do serviço de acolhimento é a principal responsável pela coordenação,


elaboração e atualização do PIA” (BRASIL, 2018, p.14). Todavia, deve ser garantida a
participação constante dos demais profissionais do serviço de acolhimento, das
crianças/adolescentes e de suas famílias, além de pessoas da comunidade com vínculo
significativo com o acolhido. É importante lembrar que os cuidadores diretos são
profissionais “chave” que devem participar da elaboração e atualização do PIA, pois
acompanham a rotina dos acolhidos de maneira mais próxima e estabelecem vínculos
afetivos com os mesmos. Escutam relatos privilegiados sobre a vida da
criança/adolescente e sobre as famílias em momentos informais, conseguem captar
histórias, sensações, sentimentos, as formas como se relacionavam em família e, também,
como estão se relacionando no serviço de acolhimento, etc.
De igual forma, a rede de serviços, o Poder Judiciário e os demais operadores do
direito também participam da elaboração e atualização do PIA, elencando ações que
devem ser desenvolvidas de forma intersetorial, acompanhadas e monitoradas, a partir
das informações de cada caso. As Audiências Concentradas - destinadas a promover a
reavaliação periódica da situação jurídica e psicossocial das crianças e adolescentes
acolhidos – tem se caracterizado pela objetividade e resolutividade, e podem contribuir de
forma importante para a implementação das ações do PIA e, portanto, para a
excepcionalidade e a provisoriedade da medida protetiva de acolhimento.
O Provimento nº 32/2013, do Conselho Nacional de Justiça, dispõe sobre a
obrigatoriedade da realização das "Audiências Concentradas", a se realizarem, sempre
que possível, nas dependências das entidades de acolhimento, com a presença dos atores
do Sistema de Garantia dos Direitos da Criança e do Adolescente. Esta ação se beneficia
da utilização do PIA e é de grande importância para reavaliação de cada uma das medidas
protetivas de acolhimento, diante de seu caráter excepcional e provisório, com a
subsequente confecção de atas individualizadas para juntada em cada um dos processos.

PIA como instrumento de atuação intersetorial

O PIA é uma das maiores oportunidades e um dos maiores desafios que as equipes
técnicas dos serviços de acolhimento enfrentam na atuação cotidiana. Isso porque sua
elaboração e o desenvolvimento de seus objetivos e ações exigem articulações com outros
serviços socioassistenciais, das demais políticas públicas, e órgãos do Sistema de Justiça,

2 41
42
III

dentre outros. Para além das articulações, exigem o envolvimento de diversos atores com
responsabilidades junto à concretização das ações necessárias em cada caso.
São fundamentais nesse percurso, a comunicação sistemática e as discussões
periódicas com as equipes interprofissionais dos diferentes órgãos e serviços envolvidos
no acompanhamento de cada caso. Nesse sentido, destaca-se, ainda, a importância de
metodologias, estratégias e instrumentos que podem contribuir para a definição de
responsabilidades e acordos mútuos para o trabalho em rede com cada caso, como, por
exemplo os fluxos, protocolos e as Audiências Concentradas.
As Orientações Técnicas (BRASIL, 2018) apresentam um modelo padronizado de
“Instrumental do PIA de crianças e adolescentes em serviços de acolhimento”, bastante
simples e de fácil utilização no cotidiano do serviço. E propõe que o processo de elaboração
do PIA seja organizado em duas etapas:
• 1ª Etapa: ações para acolhida inicial, identificação de necessidades imediatas,
execução de ações emergenciais e elaboração do Estudo da Situação. Em
cumprimento ao parágrafo 4º do artigo 101 do ECA, recomenda-se o envio do PIA
com as informações desta primeira etapa no prazo de 20 dias.

• 2ª Etapa: elaboração dos objetivos e ações, a partir das informações contidas no


Estudo da Situação, resultando em um Plano de Ação, que sirva como fio condutor da
garantia de direitos e da proteção integral. Recomenda-se que esta etapa seja
encaminhada ao Poder Judiciário no prazo de 45 dias.

Para saber mais consulte:

https://www.mds.gov.br/webarquivos/arq
uivo/assistencia_social/Orientacoestecnic
asparaelaboracaodoPIA.pdf

2 42
43
III

Aula 4: Suporte da rede de proteção às crianças e


adolescentes em situação de rua
Colaboração: Bárbara César Cavalcante, Márcia Pádua
Viana, Eliana Teles do Carmo, Flávia Teixeira Guerreiro,
Ana Angélica Campelo de Albuquerque e Melo, Juliany
Souza dos Santos, Secretaria Nacional de Assistência
Social do Ministério da Cidadania.

O termo utilizado para referir-se às crianças que estão nas ruas modificou-se ao
longo dos anos. Anteriormente ao ECA, o termo utilizado era “menino de rua”, atualmente
utiliza-se a terminologia “criança e adolescente em situação de rua”, designando uma
situação transitória, conforme conceito aprovado pela Resolução Conjunta
CNAS/CONANDA Nº 1, de 15 de dezembro de 2016:

Art. 1º. Definir como crianças e adolescentes em situação de rua os


sujeitos em desenvolvimento com direitos violados, que utilizam
logradouros públicos, áreas degradadas como espaço de moradia ou
sobrevivência, de forma permanente e/ou intermitente, em situação de
vulnerabilidade e/ou risco pessoal e social pelo rompimento ou
fragilidade do cuidado e dos vínculos familiares e comunitários,
prioritariamente situação de pobreza e/ou pobreza extrema, dificuldade
de acesso e/ou permanência nas políticas públicas, sendo caracterizados
por sua heterogeneidade, como gênero, orientação sexual, identidade de
gênero, diversidade étnico-racial, religiosa, geracional, territorial, de
nacionalidade, de posição política, deficiência, entre outros.
§ 1º Utiliza-se o termo “situação” para enfatizar a possível
transitoriedade e efemeridade dos perfis desta população, podendo
mudar por completo o perfil, repentinamente ou gradativamente, em
razão de um fato novo.
§ 2º A situação de rua de crianças e adolescentes pode estar associada a:
I - trabalho infantil;
II – mendicância;
III - violência sexual;
IV - consumo de álcool e outras drogas;
V - violência intrafamiliar, institucional ou urbana;
VI - ameaça de morte, sofrimento ou transtorno mental;
VII - LGBTfobia, racismo, sexismo e misoginia;
VIII – cumprimento de medidas socioeducativas ou medidas de proteção
de acolhimento;
IX - encarceramento dos pais.
§ 3º Pode ainda ocorrer a incidência de outras circunstâncias que levem
crianças e adolescentes à situação de rua, acompanhadas ou não de suas
famílias, existentes em contextos regionais diversos, como as de
populações itinerantes, trecheiros, migrantes, desabrigados em razão de
desastres, alojados em ocupações ou desalojados de ocupações por
realização de grandes obras e/ou eventos. (RESOLUÇÃO CONJUNTA
CNAS/CONANDA Nº 1, de 15 de dezembro de 2016)

2 43
44
III

A maior parte das crianças e adolescentes em situação de rua possui casa, apesar
de passar a maior parte do tempo nas ruas. São múltiplas as causas que levam crianças e
adolescentes a esta vivência de extrema vulnerabilidade. Em nível macro estas crianças,
adolescentes e suas famílias vivenciam processos de exclusão e violências que são o
reflexo das desigualdades, pobreza, não acesso a bens e serviços públicos,
vulnerabilidades relacionais, além de ineficiência na articulação das políticas sociais que
envolvem moradia, educação, saúde, etc. As vulnerabilidades relacionais podem ser de
diversas naturezas e se expressam em conflitos, preconceito e discriminação, abandono,
apartação, confinamento, isolamento e violência (BRASIL, 2013. p. 41).
O contexto macroestrutural interfere nas condições das famílias de exercerem seu
papel de cuidado e proteção. Dessa forma, do ponto de vista da capacidade protetiva das
famílias, é necessário proteger a família para que essa possa proteger seus membros. As
famílias devem ser fortalecidas para, diante das incertezas, das inseguranças e rupturas
decorrentes da complexidade da vida social, serem capazes de evitar situações de
desproteção, fragilização ou rompimento de vínculos familiares, materializadas em
circunstâncias como: negligência, violência intrafamiliar, trabalho infantil, dentre outras.
Desse modo, o Estado tem um papel fundamental de proteção das famílias.
Não raras vezes nos deparamos com famílias onde os vínculos afetivos são
precários, os recursos materiais e habitacionais são insalubres e há a reprodução de
violências de toda natureza, como: física, sexual, psicológica, e negligência. Diante desta
realidade, muitas crianças e adolescentes vão para as ruas praticar mendicância e trabalho
infantil como forma de subsistência. Algumas retornam para casa no final do dia, outras
pernoitam nas ruas por dias e, ainda, uma parcela menor vive literalmente nas ruas e nos
abrigos.
Ressalta-se que o mais comum é que crianças na primeira infância que se
encontrem em situação de rua estejam acompanhadas por familiares, ao contrário das
crianças maiores e adolescentes, que, geralmente, estão desacompanhados de seus pais
e/ou responsáveis. A vivência nas ruas pode levar ao uso de drogas, exposição a outros
riscos e à prática de atos infracionais. Hoje, o uso de drogas na rua é entendido mais como
uma consequência do que propriamente uma causa da situação de vulnerabilidade social.
A complexidade da problemática do uso abusivo de drogas requer uma ação articulada
entre os diversos atores do Sistema de Garantia de Direitos (SGD) com ênfase na política
de saúde mental.

2 44
45
III

Apesar de não haver uma pesquisa censitária (ausência do censo demográfico pelo
IBGE) sobre a população em situação de rua, incluindo crianças e adolescentes, sabe-se
que há milhares de crianças e adolescentes nestas condições no Brasil. Para dar
visibilidade à necessidade desta contagem da população em situação de rua, o Conselho
Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (CONANDA) realizou em 2009 o
primeiro levantamento sobre o número de meninos e meninas que vivem nas ruas em todo
o país. O resultado obtido com este censo possibilitou um diagnóstico da situação das
crianças e adolescentes em situação de rua e impulsionou a demanda por políticas públicas
para o atendimento dessas crianças e adolescentes. E recentemente foi lançada a pesquisa
do Projeto Conhecer para Cuidar: https://www.neca.org.br/wp-content/uploads/Pesquisa-
amostral-sobre-CASR-no-Brasil-Conhecer-para-Cuidar.pdf
Há uma rede que envolve diversas políticas públicas setoriais e demais atores que
compõem o Sistema de Garantia de Direitos (SGD) que prestam atendimento a crianças e
adolescentes.
No âmbito do SUAS, apesar de não haver serviços exclusivos para atendimento de
crianças e adolescentes, destaca-se:

PROTEÇÃO SOCIAL BÁSICA

a. CRAS/PAIF

Atualmente são cofinanciados 7.455 CRAS em 5.529 municípios, havendo8.376


unidades CRAS ativas no CadSUAS (Base do CadSUAS de 09/04/2020), em 5.530
municípios. Também cabe ressaltar que, de acordo com o Censo SUAS, um dos principais
órgãos que possui articulação com o CRAS é o Conselho Tutelar. E 4.971 municípios
recebem cofinanciamento para o Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos
(Censo SUAS, mês de referência: abril/2020). São 8.741 Centros de Convivência ativos no
CadSUAS (Base do CadSUAS de 09/04/2020), em 2.250 municípios. Lembrando que o
SCFV pode ser executado nos CRAS ou nos Centros de Convivência. Segundo o Censo
SUAS – CRAS 2019, há um número significativo de CRAS que ofertam diretamente o
Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos (SCFV) para os seguintes grupos:

2 45
46
III

Grupo Quantidade de CRAS % do total de CRAS


Crianças de 0 a 6 anos de idade 4.020 48,1%
Crianças e adolescentes de 7 a 14 anos 6.417 76,8%
Adolescentes e jovens de 15 a 17 anos 6.009 71,9%

Além disso, a rede referenciada aos CRAS também oferta o SCFV para:

Quant. CRAS que % do total de CRAS


Grupo
referencia o SCFV
Crianças de 0 a 6 anos de idade 1.629 19,5%
Crianças e adolescentes de 7 a 14 anos 3.291 39,4%
Adolescentes e jovens de 15 a 17 anos 2.738 32,8%

De acordo com dados do SISC (Dados extraídos em 20/05/2020) sobre o


quantitativo de crianças e adolescentes (0-17 anos) em situações prioritárias do SCFV
6.124são crianças/adolescentes em situação de rua.

PROTEÇÃO SOCIAL ESPECIAL

b. CREAS/PAEFI

Atualmente são cofinanciados 2.542CREAS, sendo 2.305CREAS municipais em


2.132municípios, 34CREAS Regionais modelo 1 (execução estadual) e 203 CREAS
Regionais modelo 2 (execução municipal). São 2.750unidades CREAS ativas no CadSUAS
(Base do CadSUAS de 09/03/2020). Há cerca de 503 Serviços Especializados em
Abordagem Social e 234 Centro Pop, em 207 municípios.
Em relação aos atendimentos, segundo o RMA CREAS 2019, 280.372 pessoas
vitimadas ingressaram no PAEFI em 2019(novos casos). Destas, 142.273 são crianças e
adolescentes (0-17 anos), ou seja, crianças e adolescentes representam 50,7% de todo o
público que ingressou no atendimento do PAEFI em 2019.
Crianças ou adolescentes em situações de violência ou violações atendidas no PAEFI em
20191:

1Pode haver, em algum grau, uma dupla contagem, considerando que uma criança ou um(a) adolescente pode ser
vítima de mais de um tipo de violência ou violação. É importante destacar, ainda, que aqui são contabilizados os
atendimentos dos casos novos (que ingressaram no atendimento naquele mês/ano) e dos que já estavam em
acompanhamento (que não ingressaram, necessariamente, naquele mês ou ano).

2 46
47
III

Masculino Feminino
Violência / Violação 0-6 7-12 13-17 0-6 7-12 13-17 Total
anos anos anos anos anos anos

Negligência ou
10.359 9.905 8.267 10.468 9.296 8.860 57.155
abandono

Violência
intrafamiliar (física ou 8.309 10.803 7.503 8.035 10.598 10.943 56.191
psicológica)

Abuso sexual 2.391 3.328 1.818 6.059 11.420 11.160 36.176

Exploração sexual 113 239 293 274 652 1.061 2.632

c. Serviços de Acolhimento

Segundo o Censo SUAS Acolhimento 2019(Mês de referência: abril/2020), haviam


30.702 crianças e adolescentes em acolhimento institucional e 1.637 em acolhimento
familiar. Das 49.632 vagas ofertadas em Serviço de Acolhimento para crianças e
adolescentes (institucional e familiar), são cofinanciadas pelo governo federal 28.140, em
1.118 municípios, com o repasse de recursos no montante de R$ 14.070.000,00 (quatorze
milhões e setenta mil reais) por mês(Mês de referência: abril/2020).
Pelos dados registrados nos sistemas de informação da Secretaria Nacional de
Assistência Social sobre o atendimento realizado pelas equipes dos serviços
socioassistenciais, percebe-se que o SUAS atende a um público bastante diversificado, em
diferentes serviços, desde serviços preventivos, como aqueles ofertados pela proteção
social básica, que visam fortalecer a capacidade das famílias, propiciar o fortalecimento de
vínculos comunitários e familiares, até serviços de alta complexidade que atuam,
provisoriamente, ofertando proteção integral (moradia, alimentação, cuidados e proteção)
às famílias e indivíduos. Há ainda serviços de média complexidade que visam proteger as
pessoas quando já há alguma situação de risco, ou violação de direitos, cujo objetivo é
proteger, reparar danos, romper padrões violadores de direitos, entre outros. Um serviço
fundamental nesse processo de atendimento de pessoas em situação de rua, é o Serviço
Especializado em Abordagem Social, cujo objetivo é identificar nos espaços públicos as
pessoas em situação de risco e realizar encaminhamentos para demais serviços.

2 47
48
III

Para proteção de crianças e adolescentes, há a necessidade de prever certa


flexibilidade no atendimento quando estes estiverem desacompanhados, reconhecendo
que são sujeitos em desenvolvimento, com direitos violados e que a criação de vínculos de
confiança com os serviços socioassistenciais e com demais serviços que atendem crianças
e adolescentes em situação de rua é um processo a ser construído. Essa atuação está
disposta da Resolução Conjunta CNAS/CONANDA nº 1/2016, que conta com orientações
sobre os Serviços de Acolhimento para crianças e adolescentes em situação rua, e na
Resolução Conjunta CNAS/CONANDA Nº 1, de 07 de junho de 2017, que estabelece as
Diretrizes Políticas e Metodológicas para o atendimento de crianças e adolescentes em
situação de rua no âmbito da Política de Assistência Social.
Entretanto, ainda é necessário que haja mais clareza quanto às possibilidades de
proteção por parte dos serviços que fazem esse atendimento “intermediário” entre a rua e
o serviço de acolhimento, para que possam ter amparo normativo para realizarem essa
aproximação gradativa, sem o risco de responderem por omissão.
Cabe ressaltar que a problemática da situação de rua envolve uma série de
vulnerabilidades e demandas que precisam ser tratadas em uma rede que vai além da
Política de Assistência Social, devendo envolver necessariamente ações de outras políticas
públicas, com ênfase para o Sistema Único de Saúde (SUS), política de educação, habitação,
trabalho e renda.

Para saber mais:

• Diretrizes nacionais para o atendimento as crianças e adolescentes em Situação


de rua: http://primeirainfancia.org.br/wp-
content/uploads/2017/08/0344c7_4fe2ba1cd6854b649d45d71a6517f80d.pdf
• Resolução Conjunta CNAS/CONANDA Nº 1/2016, que dispõe sobre o conceito e
o atendimento de criança e adolescente em situação de rua e inclui o subitem 4.6,
no item 4, do Capítulo III do documento Orientações Técnicas: Serviços de
Acolhimento para Crianças e Adolescentes: Disponível em:
https://www.in.gov.br/materia/-
/asset_publisher/Kujrw0TZC2Mb/content/id/19113789/do1-2017-06-13-
resolucao-conjunta-n-1-de-7-de-junho-de-2017-19113702
• Instituto Alana, Clínica de Direitos Humanos Luiz Gama. Primeira Infância e
maternidade nas ruas de São Paulo, 2017. Disponível
em:<https://prioridadeabsoluta.org.br/biblioteca/primeira-infancia-e-
maternidade-nas-ruas-de-sao-paulo/>

2 48
49
III

• Capítulo 27 do e-book: Avanços do Marco Legal da Primeira Infância:


https://www2.camara.leg.br/a-camara/estruturaadm/altosestudos/pdf/obra-
avancos-do-marco-legal-da-primeira-infancia
• A pesquisa do projeto Conhecer Para Cuidar: https://www.neca.org.br/wp-
content/uploads/Pesquisa-amostral-sobre-CASR-no-Brasil-Conhecer-para-
Cuidar.pdf
• BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Concepção de
Convivência e Fortalecimento de Vínculos. Brasília: 2013.

3.4.1. Suporte da rede de proteção às mulheres e adolescentes


gestantes ou mães em situação de rua e/ou usuárias de substâncias
psicoativas e seus filhos/as recém-nascidos

Peter Gabriel Molinari Schweikert, Defensor Público do


Estado de São Paulo

Embora inexistam dados estatísticos precisos, sabe-se que, na prática, são


inúmeros os casos de separação de famílias fundamentados em uma narrativa que
pressupõe a situação de rua e o uso de substâncias psicoativas como inconciliáveis com o
exercício da parentalidade, apesar da inexistência de embasamentos científicos
consistentes para tanto.
As mesmas construções sociais presentes no imaginário do senso comum sobre o
uso de drogas e a situação de rua atravessam as práticas judiciárias e do próprio Sistema
de Garantia de Direitos, fazendo com que o acolhimento institucional de filhos(as) de
mulheres usuárias de substâncias psicoativas e/ou em situação de rua sejam uma
constante. Também são frequentes as colocações aceleradas destas crianças em famílias
substitutas.
Tais separações familiares têm como um de seus fundamentos principais a
compreensão generalizada e generalizante de que o uso de drogas pelos genitores, por si
só, consiste em prática negligente nos cuidados com sua prole, além de atentar contra a
moral e os bons costumes. O segundo principal fundamento utilizado para a aplicação das
medidas de acolhimento institucional contra bebês filhos/as de mulheres usuárias de
substâncias psicoativas foi, durante quase duas décadas, o suposto “direito” destas
crianças de serem criados e educados “em ambiente livre da presença de pessoas
dependentes de substâncias entorpecentes” (redação original do art. 19 do ECA). A

2 49
50
III

redação do dispositivo, todavia, sofreu alteração com o advento do Marco Legal da


Primeira Infância (Lei nº 13.257/2016) que suprimiu, definitivamente, referida locução.
Os estigmas da “mulher de rua” ou da “mulher usuária” se tornam, então, sinônimo
de “mulher inapta à maternagem”, ainda que, concretamente, a mãe não tenha praticado
qualquer conduta diretamente dirigida contra seu/sua filho/a.
Em 2017, a Clínica de Direitos Humanos “Luiz Gama”, da Faculdade de Direito da
Universidade de São Paulo, publicou relatório de pesquisa intitulado “Primeira infância e
maternidade nas ruas da cidade de São Paulo”, que, após a escuta das mulheres em
situação de rua e de trabalhadores e trabalhadoras da Rede de Proteção concluiu:
“a destituição do poder familiar em um cenário em que a falta estrutural
de vagas, de condições nos serviços de saúde e assistência municipais são
fundamentos para a judicialização, acarreta em processos institucionais
e judiciais que acabam por compreender que o exercício da maternidade
por essas mulheres, no limite, violaria os direitos das crianças à saúde,
bem-estar, moradia digna. Mulheres vulnerabilizadas pela violência, pela
situação de rua, pela drogadição e outras doenças, de fato, se não
receberem auxílio – estatal ou de seus núcleos de apoio familiar – para
uma reestruturação de suas vidas, terão pouco a ofertar e assegurar em
termos de acesso a direitos para suas filhas”, bem como que “acolher a
mãe para assegurar-lhe condições de subsistência e de construção de sua
autonomia é também acolher e proteger a criança recém-nascida em
condições de vulnerabilidade social. Ao acolhermos as famílias como um
todo, estaremos enxergando os direitos da criança de maneira mais
completa”

Esta conclusão converge com o preconizado por nossa legislação. Sob o prisma do
quanto apresentado neste relatório, entendemos que o melhor interesse da criança reside
em um acompanhamento continuado, pré e pós-natal, com efetivo suporte às famílias,
laudos aprofundados, equipes de apoio multissetorial e a vinculação com a mãe. Apenas
com o suporte à mãe e o acompanhamento caso a caso é que se poderá decidir pela
intervenção estatal no sentido da destituição do poder familiar, sempre sendo colocada
como última opção”.
Bastante ilustrativa, a propósito, é a Nota técnica Conjunta MS e MDS nº 01/16
que estabeleceu “diretrizes e fluxograma para a atenção integral à saúde das mulheres e
das adolescentes em situação de rua e/ou usuárias de crack/outras drogas e seus filhos
recém-nascidos”. Os Ministérios responsáveis pela coordenação das políticas de Saúde e
de Assistência Social, em suma, reconhecem que as necessidades decorrentes do uso de
álcool e outras drogas requerem uma abordagem multisetorial e interdisciplinar, diante da
complexidade das situações apresentadas, que envolvem tanto aspectos relacionados à
saúde quanto à exclusão social.

2 50
51
III

Não se protege necessariamente a criança retirando-a de sua família. Deve-se


proteger a família, garantindo-lhe meios de acesso a bens materiais básicos e às políticas
públicas existentes para que esta possa proteger os seus filhos e garantir-lhes todas as
condições para seu adequado desenvolvimento, observadas as múltiplas formas de
cuidado e a pluralidade de contextos socioculturais que demarcam as trajetórias pessoais
de cada família, sobretudo daquelas historicamente marginalizadas.
Paralelamente, também vêm aumentando os estudos científicos que contestam
os fundamentos apresentados para a prática. ABRUZZI (2011), por exemplo, afirma que
para o processo de constituição da maternidade – que, em si, inicia-se muito antes da
concepção – contribuem diretamente diversos fatores transgeracionais, culturais e
ambientais. A gestação de mulheres usuárias substâncias psicoativas pode ser
experienciada de forma muito semelhante a uma gestação sem riscos aparentes, já que os
sentimentos de ambivalência (rejeição versus aceitação da gestação), as expectativas e a
preocupação com a saúde do bebê e a centralização da mulher no cuidado da criança, são
elementos comuns a qualquer vivência da gestação.
No mesmo sentido, inúmeras etnografias e pesquisas realizadas com mães
usuárias de drogas (ABRUZZI, 2011; CAMARGO, 2014; MACEDO, 2016; VALLIM, 2015)
demonstram que, no exercício da maternagem, estas mulheres acabam por desenvolver
técnicas próprias de cuidado e proteção para com seus filhos, evitando a exposição destes
a situações que possam ser prejudiciais ao seu desenvolvimento, além de evitar transmitir
para a nova geração hábitos relacionados ao consumo de psicoativos. Muitas delas, por
exemplo, relegam consumo da substância apenas após a criança dormir, depois de já tê-la
alimentado e higienizado, o fazem jamais na presença dos filhos ou somente após deixá-los
sob os cuidados de outro familiar que possa suprir suas necessidades básicas.
Vê-se, portanto, que, mesmo em situações de precariedade generalizada, as
mulheres podem desenvolver o estado de preocupação materna primária, quando
asseguradas, pela família, pela comunidade ou pelo Estado, condições mínimas para tal
(por todos, ACHING, 2013). Estas mulheres, “mesmo em situação de desamparo, são
capazes de identificar as necessidades dos filhos, principalmente as físicas, pelas quais
batalham diariamente por sua satisfação. É a mãe possível diante de tantas adversidades” (p.
102).Portanto, por qualquer ângulo que se possa analisar a questão, conclui-se claramente
que não há espaço para a provocação de rupturas familiares única e exclusivamente em
função de eventual uso de substâncias psicoativas pelos genitores, estejam ou não em

2 51
52
III

situação de rua, ao menos sem que se analise de forma mais minuciosa os reais e concretos
fatores de risco existente num dado contexto de convivência.
Não por outro motivo que o próprio Conselho Nacional dos Direitos da Criança e
do Adolescente (CONANDA) se posicionou contrariamente às práticas de retirada
compulsória de bebês de mães usuárias de substâncias psicoativas, entendendo-as como
discriminatórias, desproporcionais, desnecessárias e violadoras dos direitos da criança e
do/a adolescente e reconhecendo que tal medida:

“(...) aprofunda a criminalização e penalização da pobreza e da situação


de vulnerabilidade social em que se encontram as mães usuárias de
substâncias psicoativas, uma vez que a referida determinação (...) não
inclui mães usuárias dos sistemas privados de saúde, tampouco as
usuárias de drogas lícitas, como o álcool e o tabaco, por exemplo,
reforçando, portanto, o estereótipo elitista, conservador e segregatório
que fundamenta a política fracassada de “guerra” às drogas e à população
pobre usuária de substâncias psicoativas ilícitas. Às mulheres nessas
condições, conforme as referidas recomendações e portaria, não é
assegurada a aplicação das medidas protetivas previstas no Art. 101 do
ECA, respeitados os princípios que regem tais medidas estabelecidos no
Art. 100, Parágrafo único, do Estatuto”, bem como que “cada criança e
adolescente possui uma história de vida e que, portanto, não deve ser
privada/o abruptamente desta sem que lhe sejam facultados todos os
esforços, previstos em Lei, para que se garanta a prioridade da
convivência em sua família de origem e/ou extensa e o fortalecimento
dos vínculos familiares e comunitários, resguardando o caráter
excepcional de seu acolhimento, conforme estabelece Art. 19 da Lei
8.069/1990”.

Diante da inexistência de embasamento científico para se concluir


genericamente pela inaptidão à parentalidade por genitores que façam uso de drogas, faz-
se necessário um olhar atento a cada caso concreto para avaliar as condições da família
para prover o cuidado e a proteção necessários ao desenvolvimento saudável da criança
ou adolescente.
Nesses casos, as famílias devem ser encaminhadas para os programas existentes
na rede de proteção, que deve se articular para o oferecimento de políticas públicas
adequadas e para o esgotamento de todas as possibilidades para manutenção na família de
origem. É o que se prevê, por exemplo, nas Diretrizes Internacionais de Cuidados
Alternativos à Criança (ONU, 2009):

Sendo a família o núcleo fundamental da sociedade e o ambiente natural


para o crescimento, o bem-estar e a proteção das crianças, os esforços
devem se voltar primariamente para possibilitar que uma criança
permaneça no seio da família ou retorne aos cuidados dos pais ou,
quando apropriado, de parentes próximos. Ao Estado, cabe a

2 52
53
III

responsabilidade de assegurar que as famílias tenham acesso aos meios


necessários de apoio em sua função de prestadoras de cuidados.
E ainda:
Os Governos devem assegurar que suas políticas ajudem a família a arcar
com suas responsabilidades para com as crianças e que promovam o
direito da criança a manter relações com ambos os pais. Essas políticas
devem abordar as causas fundamentais que levam famílias a abandonar
crianças, a abrir mão delas e a delas se separar, além de assegurar, entre
outras coisas, o direito ao registro de nascimento e o acesso a moradia
adequada, saúde básica, educação e serviços sociais.
Tais políticas devem ainda promover medidas para combater a pobreza,
a discriminação, a marginalização, o estigma, a violência, o abuso sexual
e uso de drogas.

O Estado deve desenvolver e implementar políticas consistentes


voltadas para a família destinadas a promover e fortalecer a capacidade
dos pais de cuidarem de seus filhos.
O Estados deve implementar medidas eficazes para evitar o abandono de
crianças e separação da criança de sua família. As políticas e os
programas sociais devem, entre outras coisas, possibilitar que as famílias
adquiram atitudes, habilidades, capacidades e instrumentos para que
possam zelar adequadamente pela proteção, cuidado e desenvolvimento
dos filhos. Esses esforços devem valer-se complementarmente das
capacidades do Estado e da sociedade civil, inclusive das organizações
não-governamentais e comunitárias, dos líderes religiosos e da mídia,
que devem estar envolvidos para este fim.

O posicionamento do Ministério da Cidadania e do Ministério da Saúde

Em maio de 2016, foi publicada a Nota Técnica nº 01/2016/MDS/MSaúde,


elaborada pelo então Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome em
conjunto com o Ministério da Saúde, que dispõe sobre as diretrizes, Fluxo e Fluxograma
para a atenção integral às mulheres e adolescentes em situação de rua e/ou usuárias de
álcool e/ou crack/outras drogas e seus filhos recém-nascidos.
A Nota reconhece que as necessidades decorrentes do uso de álcool e outras
drogas requerem uma abordagem multisetorial e interdisciplinar, diante da complexidade
das situações apresentadas, que envolvem tanto aspectos relacionados à saúde quanto à
exclusão social. A nota se posiciona no sentido de que:
(...) decisões imediatistas de afastamento de crianças de suas mães, sem
o devido apoio e acompanhamento antes, durante e após o nascimento,
bem como uma avaliação minuciosa de cada situação, violam direitos
básicos, tais como a autonomia das mulheres e a convivência familiar

E conclui:

2 53
54
III

Nesse sentido, o Estado deve assegurar os cuidados que contemplem as


escolhas das pessoas envolvidas, dentre elas a manutenção do convívio
entre mãe e filho, sempre que isso represente o melhor interesse da
criança (...) ao mesmo tempo, é preciso garantir os direitos das mulheres
que decidirem manterem ou não a guarda da criança, não cabendo aos
profissionais qualquer julgamento, mas propiciar o apoio necessário para
uma escolha consciente, desde que seja garantida a segurança e o bem
estar da criança (...) é importante que os gestores propiciem espaços de
acolhida e escuta qualificada para as mulheres e seus (suas) filhos(as)
onde estes estejam cuidados nos momentos de vulnerabilidade durante
a gravidez e após a alta da maternidade. Estes espaços não devem ser
cerceadores de direitos ou punitivos. Devem ser espaços que podem
transitar entre a Saúde e a Assistência Social, promovendo o cuidado
compartilhado da criança com a mulher, caso seja necessário, e
assegurando ações que garantam a proteção desses sujeitos, assim como
a possibilidade das mulheres vivenciarem outras formas de sociabilidade,
caso desejem.

Dentre os fluxos estabelecidos pela rede de proteção, verifica-se a garantia de um


verdadeiro direito de escolha da mãe em entregar ou não seu/sua filho/a para adoção, de
modo que, ao manifestar seu desejo de permanecer com a criança, deve ser encaminhada
à avaliação multidisciplinar que considere a situação atual da mulher e as condições
ambientas em que se encontra inserida.
Caso se conclua que a mulher não reúne condições, naquele momento, para
assumir os cuidados da criança, quer pela gravidade da situação de vulnerabilidade em que
se encontra, quer em razão da extrema fragilização dos vínculos familiares e comunitários,
deve-se avaliar, em acordo com o superior interesse da criança, as alternativas que
garantam o direito à convivência familiar. Dentre os encaminhamentos possíveis estão: a) o
encaminhamento para a família extensa (desde que esta possua o desejo e as condições
adequadas de cuidado e a proteção); b) o encaminhamento da mãe e da criança à uma unidade
da acolhimento (Serviço de Acolhimento do SUAS, Unidade de Acolhimento ou mesmo à
Casa da Gestante, Bebê e Puérpera), de modo a manter o convívio mãe/filho, sem deixar a
criança exposta a riscos ao seus desenvolvimento; ou c) encaminhamento para família
substituta.

O posicionamento do Conselho Nacional de Saúde

Ainda sobre esse tema, o Conselho Nacional de Saúde editou a Recomendação nº


11/2016 para que os Conselhos Estaduais e Municipais de Saúde, gestores do SUS e
profissionais de saúde reconheçam o papel fundamental do SUS na promoção de ações e
nas articulações intersetoriais necessárias, a fim de resguardar o direito das mulheres e

2 54
55
III

das adolescentes em situação de rua e/ou usuárias de crack/outras drogas e de seus


filhos/as recém-nascidos/as, à convivência familiar e comunitária como direito assegurado
pelas normativas nacionais e internacionais, bem como para que sejam estabelecidos
procedimentos específicos para atendimento das mulheres e adolescentes em situação de
rua e/ou usuárias de crack/outras drogas e seus filhos/as recém-nascidos/as por se
encontrarem em situação singular, necessitando um atendimento diferenciado e
humanizado

O posicionamento dos Conselhos de Medicina, Psicologia e Serviço Social

Diversos conselhos de classe têm se manifestado na mesma linha. O Conselho


Regional de Medicina do Estado de São Paulo, por exemplo, após consulta feita pela
Defensoria Pública paulista acerca da viabilidade do exercício da parentalidade por pessoa
que faça uso de drogas, posicionou-se no sentido de que:

A princípio, não há como se dizer que genitores que sejam usuários


recreativos ou com uso nocivo de drogas ou dependentes terão ou não
condições adequadas para o cuidado com seus filhos. Mais
especificadamente, a incapacidade funcional, no caso a inépcia
temporária ou definitiva, parcial ou total, da parentalidade, pode ser
determinada em psiquiatria, obedecendo a critérios clínicos individuais e
nunca generalizados (Consulta nº 139.762/2015).

Já o Conselho Federal de Psicologia, instado a se manifestar sobre o mesmo tema,


apesar de explicar a impossibilidade de se elaborar um parecer técnico sobre a viabilidade
do exercício da parentalidade por pessoas que façam uso de drogas, já que cada caso deve
ser avaliado em sua singularidade, asseverou que:

(...) na execução de seu trabalho na interface com a Justiça, o psicólogo


poderá avaliar as situações onde se coloque questões quanto ao
exercício da parentalidade de forma responsável, baseado na legislação
vigente e nas teorias científicas sobre desenvolvimento infanto-juvenil.
Esclarecemos que, por se tratar de uma situação específica, não existem
diretrizes/recomendações acerca do encaminhamento de recém-nascidos
diretamente do setor de obstetrícia de um Hospital para serviços de
acolhimentos institucionais de crianças e adolescentes (SAICAs).
Reafirmamos que cada situação deve ser avaliada em sua complexidade,
preservando os direitos que competem às crianças e adolescentes e suas
famílias (...) nos problemas referentes ao uso e/ou abuso de drogas, sabemos
que há um universo enorme, onde não é a droga em si o problema, mas as
condições subjetivas e contextos sociais que tornam, ou não, seu uso
problemático e/ou abusivo (Resposta ao Ofício nº 809-P/2016 da
Defensoria Pública).

2 55
56
III

Também o Conselho Regional de Psicologia de São Paulo (6ª Região) emitiu nota
técnica sobre o exercício da maternidade por mães que fazem uso de crack e outras drogas,
preconizando que:

A retirada de recém-nascidos de suas mães ainda na maternidade revela


desconhecimento quando associa o uso de substâncias psicoativas
necessariamente à ocorrência de violências/violações de direito. Supõe-
se, no hospital, que a mãe será incapaz de cuidar do bebê decido ao uso
de drogas, não tendo havido até então nenhuma violação de direitos por
parte dela (...). Além disso, há carência de avaliação adequada sobre as
formas de uso de drogas, sendo fácil haver uma avaliação superficial e
possivelmente moralizante deste contexto. A partir de tais argumentos
sem fundamentação legal, viola-se o direito básico, garantido por lei, da
criança e da mulher à convivência familiar e comunitária.

E arremata:
Dessa forma, é indispensável que se realize a devida avaliação dos casos
individuais pelas equipes dos serviços de saúde e assistência social de
referência, não sendo eticamente possível tomar encaminhamentos com
base em generalizações, preconceitos e estigmas, quando se entende de
antemão que a mãe não tem condições de cuidar do bebê. Observa-se
também que há a penalização da mãe que muitas vezes não teve direitos
garantidos relativos à sua condição de vulnerabilidade e é novamente
prejudicada com a perda do direito de exercer a maternidade (...) tendo
em vista o exposto, vimos alertar para a necessidade de um olhar
fundamentado na promoção de laços sociais e na garantia de direitos da
mãe, da criança e da família, em casos envolvendo mães usuárias de crack,
outras substâncias, e/ou em situação de rua e seus bebês. Assim, a/o
psicóloga/o baseará seu trabalho na promoção da saúde e qualidade de
vida das pessoas, estando impedido de participar ou ser conivente com
violações de direitos, seja por meio de avaliações sem fundamentação ou
produção de documentos decorrentes destas.

Por fim, colacionamos também manifesto assinado pelo Conselho Regional de


Psicologia e pelo Conselho Regional de Serviço Social de Minas Gerais, além de diversas
outras entidades de proteção aos direitos da criança e do adolescente, que, dentre outros
pontos, reivindica:

Que as redes de saúde mental, da mulher e de atenção a criança do


Estado e Municípios sejam acionadas, bem como toda a rede de
assistência à saúde e demais políticas setoriais logo que se identifique o
abuso de álcool e outras drogas, para que se amenize o impacto
criminalizador e excludente das mulheres, pautando em enfrentamentos
completos que deem conta de conciliar os direitos das mulheres e dos
recém-nascidos (...)

que os casos avaliados como de risco tanto para a mulher quanto para os
recém-nascidos sejam encaminhados para acompanhamento e que o
acolhimento institucional, bem como a adoção, só sejam solicitados ao
poder judiciário após esgotadas todas as possibilidades de permanência
da criança junto à família de origem ou família extensa (...)

2 56
57
III

que se diferencie o uso abusivo e a dependência química de álcool e


outras drogas desvinculando da ligação causal estabelecida com
negligência e maus-tratos.

VÍDEO

Para conhecer uma atuação da Defensoria Pública na proteção contra a ruptura do vínculo
familiar em decorrência da vivência em situação de rua, você pode assistir o seguinte
vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=yZh6W31otno&feature=youtu.be

VÍDEO

Reflexão sobre a separação de bebês das mães pelo uso de drogas (Juíza Katy Braun,
AMB): https://www.youtube.com/watch?v=CwAehC2Q8n4&feature=youtu.be

Parâmetros possíveis para o atendimento às mulheres gestantes, lactantes e puérperas


em situação de rua e/ou usuárias de substâncias psicoativas e seus/suas filhos/as
Diante das reflexões trazidas e, especialmente, dos posicionamentos oficiais
acima colacionados, pode-se apresentar um compilado de parâmetros ditos mínimos para
oferecimento de atendimento às mulheres gestantes, lactantes e puérperas em situação
de rua e/ou usuárias de substâncias psicoativas, com o objetivo principal de se evitar
separações indevidas ou prematuras em relação aos seus/suas filhos/as recém-
nascidos/as.

PARÂMETROS MÍNIMOS DE ATENDIMENTO ÀS MULHERES GESTANTES, LACTANTES E


PUÉRPERAS EM SITUAÇÃO DE RUA E/OU USUÁRIAS DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS E
SEUS/SUAS FILHOS/AS

➢ Prioridade do atendimento das demandas das mulheres gestantes, lactantes e


puérperas em situação de rua, com histórico de uso de substâncias psicoativas
(SPA) ou em situação de extrema vulnerabilidade social, sobretudo na disputa de
vagas.

➢ Garantia intransigente da segurança e do bem-estar da criança pela família, pela


sociedade e pelo Estado, em ações complementares e compartilhadas.

➢ Compreensão de que a qualidade do vínculo mãe-bebê no início da vida pós-natal e


o estímulo tátil interferem em benefícios de autorregulação emocional durante
toda a vida e o desenvolvimento do sistema nervoso.

2 57
58
III

➢ Compreensão dos direitos da mulher e da proteção integral destinada à criança na


perspectiva da indivisibilidade, interdependência e interrelacionaridade dos
direitos humanos, evitando-se a elaboração de falsas e prematuras dicotomias, em
atenção à centralidade das famílias e à orientação das políticas públicas no sentido
da proteção e promoção dos vínculos familiares e comunitários.

➢ Garantia da intersetorialidade e integração das políticas de atenção às mulheres


em situação de rua/usuárias de SPA, articuladas prioritariamente pela Atenção
Básica de Saúde (ex. Estratégia de Saúde da Família/Consultórios na Rua) e Serviços
Premissas Especializados de Abordagem Social, sem prejuízo de outros, inclusive mediante
amplo acesso aos sistemas de coleta de dados e registros de
atendimentos/prontuários de todos os demais serviços e equipamentos,
independentemente da secretaria a que estejam vinculados, garantida a
confidencialidade e o sigilo das informações.

A articulação entre as políticas de assistência social e saúde evita que os serviços


trabalhem de modo isolado, além de garantir a avaliação multiprofissional e
interinstitucional na perspectiva da integralidade do cuidado.

➢ Criação de comissões ou redes intersetoriais permanentes nos territórios para


discussão de casos, com o objetivo de planejar, da forma mais precocemente
possível (art. 100, parágrafo único, inciso VI, ECA), o atendimento integral
destinado à mulher em situação de rua e seu(sua)(s) filhos(a)(s), antes, durante e
após o parto, assim como sua trajetória nas políticas públicas, observando-se a
necessidade e adequação das intervenções à situação em que se encontrem no
momento do atendimento (art. 100, parágrafo único, inciso VII, ECA), bem como sua
efetiva participação na construção dos encaminhamentos.

➢ Respeito ao tempo da mulher gestante, lactante e puérpera em situação de rua e/ou


usuária de SPAs, garantindo-se a possibilidade de imediato acolhimento,
encaminhamento e atendimento, independentemente da apresentação de
documentação pessoal e/ou prévio agendamento, tanto para as medidas de
prevenção no acompanhamento da gestação, quanto para eventuais medidas de
urgência/emergência.

➢ Reconhecimento da universalidade dos direitos sexuais e reprodutivos também às


mulheres em situação de rua e/ou usuárias de substâncias psicoativas 2 , sem
discriminações em função do exercício da sexualidade ou de práticas sexuais com
finalidade reprodutiva.

➢ Reconhecimento da autonomia das mulheres em situação de rua e/ou usuárias de


substâncias psicoativas, bem como a garantia de apoio para a elaboração de
escolhas maduras e conscientes, além de um planejamento conjunto e
compartilhado das ações de cuidado, antes, durante e após o parto. Ao se
oportunizar à mulher que desenvolva hábitos e estilo de vida mais saudáveis –
sozinha ou em parceria familiar – as intervenções têm o potencial de implicar a
ressignificação das escolhas sobre o que lhes afeta e o que por elas é desejado (Cf.
Nota Técnica Conjunta MS/MDS 01/2016).

2Sobre o direito ao planejamento sexual e reprodutivo, cf. Declaração e Plataforma de Ação da IV Conferência
Mundial sobre a Mulher (PEQUIM, 1995).

2 58
59
III

➢ Amplo acesso das mulheres em situação de rua e/ou usuárias de substâncias


psicoativas aos programas de planejamento sexual e reprodutivo disponibilizados
pelo SUS mais adequados às suas particularidades, antes, durante ou pós-
gestação(Cf. Art. 226, §7º, da Constituição Federal e Lei Federal nº 9.263/96 que
trata do planejamento familiar).

➢ Garantia do atendimento da adolescente gestante, independentemente da


presença de seu representante legal3.

➢ Observância intransigente do consentimento informado, inclusive das mulheres


com comprometimento de sua saúde mental, garantindo-se-lhes o direito de
decisão, livre e responsável, sobre o desejo de ter, ou não filhos, e em que momento
Planejamento de sua vida, além do direito de exercer a sexualidade e a reprodução livre de
Sexual e discriminação, imposição e violência.
Reprodutivo
➢ Articulação das estratégias de planejamento familiar com ações e estratégias de
atenção à saúde mental das mulheres em situação de rua e/ou usuárias de
substâncias psicoativas, garantindo-se-lhes o atendimento prioritário.

➢ Amplo e prioritário acesso às políticas socioassistenciais (serviços e benefícios)


disponibilizadas pela rede de proteção básica e especializada das Secretarias
Municipais de Assistência Social, bem como aos programas habitacionais,
provisórios ou definitivos, priorizando-se seu direito à moradia.

➢ Garantia do direito à privacidade, à confidencialidade e ao respeito, bem como às


informações sobre as consequências de seus atos.

➢ Acompanhamento pelo Serviço de Abordagem Social do SUAS, pela rede de


Atenção Básica de Saúde e demais órgãos locais de atenção à saúde da mulher,
garantindo-se a vinculação precoce ao planejamento pré-natal, o
compartilhamento de informações entre serviços e equipamentos das secretarias
de saúde, assistência social e direitos humanos, além das avaliações
multiprofissionais e interinstitucionais.

➢ Realização de busca ativa das mulheres gestantes em situação de rua, em atenção


aos princípios estatutários da intervenção precoce e da atualidade (art. 100,
parágrafo único, incisos Vi e VIII, do ECA).

3No documento intitulado Marco Legal: Saúde, um Direito de Adolescentes (Brasília, 2007), editado pelo Ministério
da Saúde, é previsto que “qualquer exigência, como a obrigatoriedade da presença de um responsável para
acompanhamento no serviço de saúde, que possa afastar ou impedir o exercício pleno do adolescente de seu direito
fundamental à saúde e à liberdade, constitui lesão ao direito maior de uma vida saudável. Caso a equipe de saúde
entenda que o usuário não possui condições de decidir sozinho sobre alguma intervenção em razão de sua
complexidade, deve, primeiramente, realizar as intervenções urgentes que se façam necessárias, e, em seguida,
abordar o adolescente de forma clara a necessidade de que um responsável o assista e o auxilie no acompanhamento.
A resistência do adolescente em informar determinadas circunstâncias de sua vida a família por si só demonstra uma
desarmonia que pode e deve ser enfrentada pela equipe de saúde, preservando sempre o direito do adolescente em
exercer seu direito à saúde. Dessa forma, recomenda-se que, havendo resistência fundada e receio que a
comunicação ao responsável legal, implique em afastamento do usuário ou dano à sua saúde, se aceite pessoa maior
e capaz indicada pelo adolescente para acompanhá-lo e auxiliar a equipe de saúde na condução do caso, aplicando-
se analogicamente o princípio do art. 142 do Estatuto da Criança e do Adolescente”.

2 59
60
III

Pré-Natal ➢ Garantia do atendimento da adolescente gestante, independentemente da


presença de seu representante legal.

➢ Garantia da elaboração de um projeto de parto humanizado

➢ Garantia de assistência jurídica integral e gratuita à mulher e à família, inclusive na


perspectiva da integração operacional com as demais instituições do Sistema de
Justiça (art. 88, inciso VI, ECA).

➢ Ressalvado o desejo da mulher pela entrega voluntária da criança em adoção, deve-


se promover a busca ativa do pai da criança e de membros da família extensa pelos
serviços que promovam o acompanhamento pré-natal, inclusive com o apoio e
suporte da Defensoria Pública, com o objetivo se buscar a ampliação das
estratégias de cuidado compartilhado, incrementando fatores de proteção em
relação à saúde e segurança do/a recém-nascido/a. Em qualquer caso, todavia, deve
ser resguardada a intimidade e garantida a proteção à mulher em situação de rua
que também se encontre em situação de violência doméstica, sobretudo do contato
com o possível agressor.

➢ Atendimento de acordo com a oportunidade e o tempo da gestante em situação de


rua, independentemente de prévio agendamento e/ou apresentação de
documentos pessoais/comprovante de endereço, considerando-se o contexto em
que se encontra inserida e as dificuldades organizacionais por ela apresentadas.

➢ Garantia da vinculação da mulher à maternidade de referência para o parto e/ou


emergências obstétricas.

➢ Garantia de acesso a benefícios e programas de atenção à gestante.

➢ Garantia de acesso pela mulher em situação de rua (com ou sem histórico de uso de
drogas) vítima de violência sexual aos métodos de profilaxia pós-exposição e, se
desejado, aos Centros de Referência à Mulher em situação de violência.

Interrupção da ➢ Acesso amplo e desburocratizado aos Hospitais de referência que realizam a


Gestação e interrupção da gestação nas hipóteses legais (violência sexual, risco de vida à
Entrega gestante, anencefalia).
Protegida
➢ Garantia do encaminhamento à Vara da Infância e Juventude da mulher que
manifeste seu desejo em entregar seu/sua filho em adoção, nos termos do art. 19-
A do ECA, garantindo-se-lhe toda assistência e preparação para o amadurecimento
da ideia.

➢ Garantia de um parto humanizado.

➢ Garantia de acompanhante a sua livre escolha, independentemente do gênero,


durante o pré-parto, o parto e o pós parto imediato (Lei nº 11.108/05).

Parto ➢ Garantia de atenção à criança recém-nascida e a continuidade de atenção à mulher


no puerpério.

2 60
61
III

➢ Seja assegurado o contato pele a pele imediato e contínuo, assim como o


clampeamento tardio do cordão umbilical e amamentação na primeira hora de vida,
salvo recomendação médica contrária, nos termos da Portaria 371/14 do
Ministério da Saúde (art. 4º), respeitando-se, entretanto, eventual desejo da mulher
em sentido contrário.

➢ Garantia de alojamento conjunto da mulher com a criança recém-nascida,


respeitando-se, entretanto, eventual desejo da mulher em sentido contrário.

➢ Garantia da permanência da mãe com o bebê, além de condições para o aleitamento


materno, salvo contraindicação médica, que deverá ser comunicada e explicada à
mulher4.

➢ Garantia do direito à moradia adequada, para acolhimento conjunto entre mãe e


bebê, conforme o caso, mediante:
(i) atendimento habitacional provisório ou definitivo;
(ii) encaminhamento a Unidade de Acolhimento que comporte mãe, bebê, outros
filhos e, se for o caso, seu/sua companheiro/a;
Alta (iii) encaminhamento da mulher e seu/sua(s) filho/a(s) a abrigos sigilosos, nos casos
de mulher em situação de rua, usuária ou não de substâncias psicoativas e em
situação de violência doméstica;
(iv) encaminhamento da mulher e seu/sua(s) filho/a(s) a Unidades de Acolhimento
da Rede de Atenção Psicosocial (RAPS) do SUS, quando adequada aos cuidados em
saúde mental e ao projeto terapêutico singular.

➢ Garantia de transporte para o deslocamento da mulher e seu/sua(s) filho/a(s) aos


serviços e/ou equipamentos para os quais for encaminhada, sobretudo (mas não
apenas) durante o puerpério.

➢ Referenciamento da mulher no CRAS/CREAS do território para articulação com as


políticas públicas disponíveis, bem como na rede de Atenção Básica de Saúde, para
acompanhamento do desenvolvimento da criança, inclusive por meio de visitas
institucionais, domiciliares e/ou consultas periódicas, sem prejuízo da interlocução
com o Conselho Tutelar e/ou outros atores da Rede de Proteção.

➢ Garantia de atendimento nos serviços especializados em saúde mental do SUS


(equipes de saúde mental em UBS, CAPS, CAPS AD etc) e centros de referência
DST/AIDS ou de infectologia do território para onde for encaminhada, para
acompanhamento da mulher e sua família, se for o caso, inclusive com a
possibilidade de atendimento desta pelas equipes daqueles serviços diretamente
nas maternidades.

➢ Prioridade absoluta no fornecimento de vaga em creche ou em estabelecimento de


educação infantil, em turno integral, para os/as filhos/as da mulher com trajetória

4 O Manual do Ministério da Saúde sobre Amamentação e Uso de Medicamentos e Outras Substâncias (BRASÍLIA,
2010) indica que “A Organização Mundial de Saúde considera que o uso de anfetaminas, ecstasy, cocaína, maconha
e opioides não são contraindicados durante a amamentação. Contudo, alertam que as mães que usam essas
substâncias por períodos curtos devem considerar a possibilidade de evitar temporariamente a amamentação. Há
carência de publicações com orientações sobre o tempo necessário de suspensão da amamentação após o uso de
drogas de abuso. Assim, recomenda-se que as nutrizes não utilizem tais substâncias. Se usadas, deve-se avaliar o risco
da droga ‘versus’ o benefício da amamentação para orientar sobre o desmame ou a manutenção da amamentação”
(item 4.22.1).

2 61
62
III

de rua e/ou uso de substâncias psicoativas, preferencialmente até o momento em


que deixe a maternidade, como estratégia de fortalecimento de sua autonomia e
busca por estratégias de geração de renda.

➢ Garantia de que o acionamento da Vara da Infância e Juventude pela Maternidade


se dê em conjunto com toda a rede do território, mediante avaliação
multidisciplinar e intersetorial, demonstrando-se pormenorizadamente o
esgotamento dos esforços para a manutenção do recém-nascido com a mãe ou com
membros da família extensa, evitando-se a instauração de procedimentos
verificatórios ou pedidos de providências para este fim (art. 153, parágrafo único,
ECA).

Encaminha- ➢ Garantia de que os relatórios serão encaminhados à Vara da Infância e Juventude


mento à Vara com dados minuciosos sobre a criança, a mãe, o pai (se conhecido), família extensa
da Infância e ou pessoas significativas que esta houver indicado, além de descrição, por parte dos
Juventude serviços junto aos quais houver sido referenciada, de sua trajetória ao longo da
gestação e análise das condições para oferta de cuidado, proteção e afeto pela
família.

➢ Garantia de que a mulher seja encaminhada à Unidade de referência da Defensoria


Pública para orientação e assistência jurídica.

➢ Garantia de que a mulher seja sempre informada sobre para qual Vara da Infância
e Juventude o relatório conjunto será encaminhado e, se for o caso, em qual serviço
de acolhimento institucional/familiar o bebê eventualmente será acolhido.

➢ Garantia da continuidade do acompanhamento proporcionado à mulher e sua


família pela Rede de Proteção, para além do período do puerpério, e mesmo após
eventual aproximação da criança com família substituta, auxiliando-a a elaborar o
trauma da perda e viver o luto com mais suporte e informação.

Aula 5: Avaliação dos critérios fundamentadores da


suspensão e destituição do poder familiar
Zulmary Jesus Ferreira de Brito, Psicóloga, Mestre em
Educação e Tecnologia pela UFSC

O artigo 1634 do Código Civil (Lei 10.406/2002) enfatiza que é direito e dever de
ambos os pais o pleno exercício do poder familiar em relação aos filhos, tal como criá-los e
educá-los, tê-los sob sua guarda, conceder ou negar consentimento para viajarem ao
exterior, conceder ou negar consentimento para mudança para outra cidade, dentre
outros. Antigamente, este direito era apenas do pai, chamando-se pátrio-poder. Mas a
partir da Lei 12.010/2009, este termo foi ajustado para “poder familiar”, adequando-se à
sua aplicação tanto ao pai como à mãe.

2 62
63
III

O Estatuto da Criança e do Adolescente, no artigo 21, ressalta a igualdade de


condições entre os cônjuges para exercer o poder familiar:
O poder familiar será exercido, em igualdade de condições, pelo pai e pela
mãe, na forma do que dispuser a legislação civil, assegurado a qualquer
deles o direito de, em caso de discordância, recorrer à autoridade
judiciária competente para a solução da divergência (BRASIL, Lei
8.069/1990, art. 21).

Ou seja, o poder familiar é um poder-dever, isto é, o agrupamento de direitos e


deveres imputados aos pais a tudo que se refere aos filhos menores de 18 anos. No entanto,
caso os pais estejam impossibilitados de exercer regularmente o exercício da
parentalidade, cabe ao Estado dar os encaminhamentos necessários para garantir o direito
da criança e do adolescente, podendo suspender ou extinguir o poder familiar em relação
a um ou todos os filhos.
Sobre a suspensão do poder familiar, o Art. 1637 do Código Civil, determina que:

Se o pai, ou a mãe, abusar de sua autoridade, faltando aos deveres a eles


inerentes ou arruinando os bens dos filhos, cabe ao juiz, requerendo
algum parente, ou o Ministério Público, adotar a medida que lhe pareça
reclamada pela segurança do menor e seus haveres, até suspendendo o
poder familiar, quando convenha (BRASIL, Código Civil, 2002, art. 1637).

Para resguardar os direitos da criança e do adolescente serem criados e educados


no seio da família, a suspensão pode ser revista quando não houver mais os fatores que a
provocaram.
A extinção do poder familiar, por sua vez é definitiva e representa o encerramento
da função parental devido à morte dos pais ou do filho, à emancipação do filho, ao
atingimento da maioridade, à adoção do filho por terceiros ou à perda em virtude de
decisão judicial.
Nesse contínuo a perda do poder familiar é a mais grave destituição determinada
por decisão judicial. Até 2017, os motivos que justificavam a perda do poder familiar, de
acordo com o Artigo 1638 do Código Civil (Lei 10.416/2002) eram:
I - Castigar imoderadamente o filho.
II - Deixar o filho em abandono.
III - Praticar atos contrários à moral e aos bons costumes.
IV - Incidir, reiteradamente, nas faltas previstas no artigo antecedente.
Em 2017, a Lei 13.509/2016 acrescentou a este rol de justificativas para perda do
poder familiar, o ato de:

2 63
64
III

V - entregar de forma irregular o filho a terceiros para fins de adoção.

E a partir da Lei 13.715/2018, outros motivos passaram a ser compreendidos como


razões para perda do poder familiar, em virtude de configurarem violências incompatíveis
com o vínculo parental, tal qual a violência contra a mãe da criança e a violência sexual:

Parágrafo único. Perderá também por ato judicial o poder familiar aquele
que: (Incluído pela Lei nº 13.715, de 2018)
I – praticar contra outrem igualmente titular do mesmo poder familiar:
a) homicídio, feminicídio ou lesão corporal de natureza grave ou seguida
de morte, quando se tratar de crime doloso envolvendo violência
doméstica e familiar ou menosprezo ou discriminação à condição de
mulher;
b) estupro ou outro crime contra a dignidade sexual sujeito à pena de
reclusão;
II – praticar contra filho, filha ou outro descendente:

A perda do poder familiar pode ser requerida por qualquer parente ou pelo
Ministério Público, e cabe ao juiz, sempre com o apoio da equipe interdisciplinar e com
pareceres psicossociais, deliberar sobre as melhores medidas que resguardem a segurança
da criança e do adolescente. Esta decisão é respaldada por estudo técnico, em que a criança
deve ser adequadamente ouvida e seu contexto analisado em conjunto com a rede de
atendimento, que é parte fundamental para a tomada de decisão por meio de uma análise
conjunta do caso e da situação da criança.
Art. 157. Havendo motivo grave, poderá a autoridade judiciária, ouvido
o Ministério Público, decretar a suspensão do poder familiar, liminar ou
incidentalmente, até o julgamento definitivo da causa, ficando a criança
ou adolescente confiado a pessoa idônea, mediante termo de
responsabilidade. (Expressão substituída pela Lei nº 12.010, de
2009) Vigência
§ 1 o Recebida a petição inicial, a autoridade judiciária determinará,
concomitantemente ao despacho de citação e independentemente de
requerimento do interessado, a realização de estudo social ou perícia
por equipe interprofissional ou multidisciplinar para comprovar a
presença de uma das causas de suspensão ou destituição do poder
familiar, ressalvado o disposto no § 10 do art. 101 desta Lei, e observada
a Lei n o 13.431, de 4 de abril de 2017 . (Incluído pela Lei nº 13.509, de
2017)
§ 2 o Em sendo os pais oriundos de comunidades indígenas, é ainda
obrigatória a intervenção, junto à equipe interprofissional ou
multidisciplinar referida no § 1 o deste artigo, de representantes do órgão

2 64
65
III

federal responsável pela política indigenista, observado o disposto no §


6 o do art. 28 desta Lei. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)

A destituição do poder familiar só deve ser realizada após atuação da rede na busca
de apoio para enfrentar as dificuldades de cuidado dos filhos pelos pais, como ilustrado a
seguir:https://www.tjdft.jus.br/institucional/imprensa/noticias/2020/julho/pais-
perdem-poder-familiar-por-negligencia-em-cuidados-com-crianca.
Os procedimentos para destituição do poder familiar estão regulamentados nos
artigos 153 a 163 do Estatuto da Criança e do Adolescente. Se houver a chance de
recomposição dos laços de afetividade entre os pais e a criança ou adolescente, a
suspensão do poder familiar deve ser preferida ao invés da perda.
É importante ressaltar que a destituição de poder familiar de um dos responsáveis
não é uma medida punitiva para o infrator, mas uma medida que visa proteger o melhor
interesse da criança e do adolescente.
Ainda, faz-se importante destacar que apesar da negligência ser um dos
fundamentos mais usuais em processos de suspensão ou destituição do poder familiar, ela
não está prevista no Código Civil como hipótese e não pode ser confundida com situações
de privação econômica ou vulnerabilidade social da família, cuja constatação deve ensejar
medidas de apoio e assistência social.
Por fim, ao se determinar a suspensão ou destituição do poder familiar, deve-se
sempre considerar as políticas alternativas de cuidado presentes no território, dando
preferência àquelas que possibilitam um acolhimento em ambiente familiar e menos
institucionalizado, como os programas de famílias acolhedoras ou casa-lar.

VÍDEO
Maiores questões relacionadas aos problemas que levam à destituição do poder familiar
podem ser vistas no vídeo a seguir, na perspectiva do Direito e da Saúde:
https://www.youtube.com/watch?v=xc9-e1XMKDA

2 65
66
III

Aula 6: A Convivência Familiar e Comunitária de


Crianças e Adolescentes com Pais e Mães Privados de
Liberdade
Hugo Zaher, Presidente do Fórum Nacional da Justiça
Protetiva
Raum Batista – Psicólogo, membro da Associação
Brasileira Terra dos Homens/RJ; Ivânia Ghesti, Ex-
assessora da Secretaria Nacional de Assistência Social,
Ministério da Cidadania

Estamos diante de uma população ainda invisível para as políticas


públicas. Mas essa invisibilidade não apaga o fato de que se trata de
uma parcela com direito à prioridade absoluta.
A perda do direito do exercício da maternidade e paternidade não se
encerra quando a pessoa está privada de liberdade bem como a do
direito a convivência familiar e comunitária das crianças/adolescentes
(CAFE´S 2018)

O tema da convivência familiar e comunitária no Brasil, obteve avanços


importantes nos últimos 30 anos. A inclusão do assunto na agenda pública reflete o intenso
esforço para plena implementação dos serviços de atenção as crianças e aos adolescentes
em todas as dimensões e estratégias, seja de promoção, prevenção, proteção e defesa.
As crianças e adolescentes que vivenciam a realidade de ter um de seus pais, ou, até
mesmo ambos, em situação de cárcere, foram, durante muito tempo, negligenciados pelo
Estado. Pesquisas científicas, como o estudo longitudinal realizado por Murray (2006)
chamam atenção para os efeitos colaterais adversos da prisão dos pais sobre os
comportamentos e a saúde mental dos filhos. Vide:
https://www.camara.leg.br/noticias/533285-prisao-domiciliar-dos-pais-reduz-taxa-de-
criminalidade-entre-filhos-de-condenados-diz-pesquisador/
Neste contexto, é importante que passemos a considerar efetivamente as
consequências advindas à criança em função das medidas penais aplicadas aos adultos
significativos para ela. E adotemos, então, medidas para sua proteção e garantia das
condições para usufruto do direito ao desenvolvimento humano integral desde a primeira
infância, também nos casos de privação de liberdade dos pais.
Como vimos ao longo do curso, o direito da criança na primeira infância à
convivência familiar é fundamental, pois o vínculo primário e as interações afetivas com as
figuras maternas e paternas são fonte de segurança para a criança e o maior ingrediente

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do desenvolvimento humano integral. Por isso, a restrição de liberdade dos genitores pela
prática de crimes ou atos infracionais não pode ser determinante para o rompimento ou
enfraquecimento dos vínculos familiares.
O Estatuto da Criança e do Adolescente já preconizava, desde sua alteração em
2014, que devia ser garantida a convivência da criança e do adolescente com a mãe ou o pai
privado de liberdade, por meio de visitas periódicas promovidas pelo responsável ou, nas
hipóteses de acolhimento institucional, pela entidade responsável, independentemente de
autorização judicial (Lei 8.069/1990, art. 19, § 4 o (Incluído pela Lei nº 12.962, de 2014))
A partir do disposto acima, visando concretamente a manutenção dos vínculos
familiares, é direito da criança, inclusive na primeira infância, realizar visitas periódicas ao
pai e/ou à mãe privado de liberdade, cuja responsabilidade recai sobre o responsável pela
criança. E se a criança estiver em serviço de acolhimento institucional, o responsável pelo
acolhimento deve proporcionar essas visitas, abrangendo-as no Plano Individual de
Atendimento (PIA).
Importância dos cuidados diante da permanência dos filhos no cárcere
A gestação vivida no ambiente do cárcere, assim como os primeiros dias e meses de
vida transcorridos neste contexto, também são contrastantes com o reconhecimento da
importância de ambientes saudáveis para formação do ser humano durante a primeira
infância.
Os cuidados com os bebês e as mães no Sistema Penitenciário são um desafio.
Embora o Conselho Nacional de Justiça tenha contribuído nos últimos anos com as
Audiências de Custódia, os avanços consistem em aplicar medidas alternativas à prisão
preventiva, tais como as medidas cautelares e domiciliares para as gestantes e mulheres
com criança na primeira infância. A lei ainda não garante de forma ampla esse direito, de
modo que as crianças afastadas de sua mãe – quando não se trata de prisão preventiva -
carecem de acompanhamento psicossocial, bem como as que estão com elas nas prisões
domiciliares. A estrutura prisional oferta um precário acesso em saúde emergencial, intra
ou extramuros. Neste cenário viola-se o direito das crianças de obterem seus cuidados
básicos de vida e o direito das mães de exercerem a maternidade, em um cenário de
desassistência ao direito à convivência familiar e comunitária.

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VÍDEO - O documentário “Nascer nos presídios” elenca situações inadequadas que


requerem novas práticas de cuidado e garantia de direitos, pautadas em abordagens mais
humanizadas, à luz do preconizado pelo Marco Legal da Primeira Infância:
https://www.youtube.com/watch?v=vmi6r-M-K0U

O direito à prisão domiciliar incluído no Código de Processo Penal pelo Marco Legal da
Primeira Infância
Diante da importância de proteção da criança no contexto de encarceramento de
seus pais, o Marco Legal da Primeira Infância determinou a possibilidade de substituição
da prisão preventiva pela prisão domiciliar da gestante, da mulher com filho de até doze
anos de idade incompletos e do homem, caso seja o único responsável pelos cuidados do
filho nesta mesma circunstância (art. 318, IV, V e VI, do Código de Processo Penal –
alterado pelo art. 41 da Lei 13.257/2016).
Pois como vimos na Unidade 1, a ciência tem apontado que “experiências
estressantes durante os períodos sensíveis alteram a função e arquitetura de circuitos neurais
específicos, pois esses circuitos adaptam suas propriedades funcionais à adversidade que vem
sendo vivida” (SHONKOFF, 2012, p. 4). Desde a vida intrauterina as condições adversas
podem impactar negativamente na formação do ser humano, de maneira que as interações
e a vivência da gestante em um ambiente seguro e condizente ao atendimento de sua
dignidade nessa fase peculiar da vida já atende alguns marcos de desenvolvimento
ocorridos nessa primeira etapa da vida.
Assim sendo, o Estado deve garantir à criança na primeira infância um ambiente
seguro e afetivo que permita interações com seus pais ou qualquer deles que seja alvo de
uma ação persecutória penal, a fim de que possam aproveitar ao máximo os marcos de
desenvolvimento que esteja experimentando, de maneira que, a princípio, se possibilite o
deferimento da prisão domiciliar em seu favor.
Com isso, o Marco Legal da Primeira Infância procurou ressaltar que a principal
privação que se pretende evitar é a do afeto e a da interação com os filhos, de maneira
que devem ser garantidos meios para o desenvolvimento integral da criança mesmo nas
circunstâncias de seus pais serem alvos da ação persecutória estatal. Justificando-se o
cumprimento da pena em local mais adequado ao exercício da parentalidade,
especialmente na primeira infância.

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III

De fato, em se tratando de prisão preventiva, a promoção da manutenção da mãe


ou do pai em casa, com vistas ao cuidado dos filhos, durante o transcurso do julgamento,
viabiliza um ambiente mais favorável ao desenvolvimento da criança, prevenindo também
a ruptura do contexto familiar mais amplo e também do contexto comunitário. Assim como
previne a exposição da criança às rotinas do ambiente prisional – nesse período em que a
formação de memórias estruturantes é tão forte.

As pessoas em prisão preventiva sofrem grandes tensões pessoais como


resultado da perda de renda e a separação forçada de sua família e
comunidade; ademais, padecem do impacto psicológico e emocional do
próprio fato de estarem privadas de liberdade sem terem sido
condenadas, e, em geral, são expostas a um entorno de violência,
corrupção, insalubridade e condições desumanas presentes nas prisões
da região. Inclusive, os índices de suicídios cometidos em prisões são
maiores entre os presos em prisão preventiva. Daí a especial gravidade
desta medida e a necessidade de cercar a sua aplicação das máximas
garantias jurídicas (CNJ, 2017).

Segundo o relatório do Projeto Conexões Pró Convivência Familiar e Comunitária,


realizado pela Associação Brasileira Terra dos Homens, com apoio de recursos do
CONANDA e da Secretaria Nacional e Direitos da Criança e do Adolescente, no contexto
social brasileiro:
• A privação de liberdade atinge as pessoas em piores condições sociais, reforçando
a desigualdade social.
• Os jovens negros/pardos são historicamente mais impactados pela privação de
liberdade.
• O tempo prolongando da institucionalização afeta substancialmente a estrutura
psicossocial e econômica do apenado e de suas famílias.
• O imaginário do punitivismo como única solução ao conflito com a lei inviabiliza a
prevenção de violações de direitos do encarcerado e de suas famílias, como a perda
do direito à convivência família e comunitária.
• Leis e reformas para o enrijecimento das penas favorecem o afastamento da família
de origem e trazem consequências negativas para a ressocialização da pessoa
privada de liberdade.

É neste cenário de institucionalização que se busca refletir sobre os efeitos nas


famílias e em especial nas crianças e adolescentes filhas de pais e mães encarceradas.

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Segundo o INFOPEN de 2016 “a informação sobre a quantidade de filhos das pessoas


privadas de liberdade no Brasil estava disponível para apenas 9% da população prisional
(ou seja, 63.971 pessoas). Segundo o Departamento Penitenciário Nacional (DEPEN) é
importante se obter dados sobre as configurações familiares das pessoas privadas de
liberdade “como informação estratégica para a formulação de políticas voltadas à garantia
de direitos (INFOPEN, 2016)”
No âmbito do Pacto Nacional pela Primeira Infância, como vimos, este tema
compõe a pesquisa que está sendo realizada para Diagnóstico da Situação de Atenção às
Crianças na Primeira Infância, com previsão de ser concluído em setembro de 2021.
Tal fato já era preocupação para a Organização das Nações Unidas, que em 2011
elaborou um relatório de recomendações na Comissão dos Direitos da Criança com o
tema: “Crianças de Pais Encarcerados”, onde se pontuou também que:

• Existem Impactos duradouros na vida dos bebês e crianças vivendo com suas mães
nas prisões, sobretudo, os efeitos psicológicos da separação.
• Todo o processo da justiça criminal pelos quais os pais passam, geram impactos
psicossociais nas crianças e adolescentes, ainda não mensurados.

O Brasil tem normativas importantes tanto do sistema de execução penal como do


sistema de garantia de direitos que garante a convivência familiar e comunitária. Mas para
implementar é preciso transformar a lei em prática, em sinergia, na intersetorialidade dos
sistemas que poderemos perceber tanto as violações como também as ações que
promovem os direitos.

CPP - Decreto de Lei nº 3.689 de 03 de outubro de 1941 (Art. 318)


Lei 7210/84 - Execução Penal (LEP) (Art.41 X, Art. 72, Art. 112, Art. 117)
Constituição Federal/88 (Art. 5º)
Lei nº 8.069/90 (Art.4º, Art. 7º, Art. 8º, Art. 9º, Art. 19º, Art.87º)
Lei nº 11.942/09
Lei nº 12.106, dez/2009
Resolução CNPCP nº 4 de 15/07/2009
Resolução CNJ Nº213/2015 - Audiência De Custódia (Art. 8º)
Resolução Nº 252 de 04/09/2018
Resolução CNPCP n. 2, de agosto de 2017
Resolução Conanda 210/2018
Resolução CNJ Nº 254 de 04/09/2018
Decisão do supremo Tribunal Federal (2018) HC 143641
Resolução Conjunta Nº 1, de 7 de novembro De 2018 - CNASe CNPCP nº 1

Cabe mencionar a Intersetorialidade prevista na Resolução CNAS Nº 7, de 18 de maio de 2016, a qual contém entre seus principais
objetivos a universalização do Sistema Único da Assistência Social, bem como a garantia de apoio para as crianças na primeira
infância, plena integralidade da proteção socioassistencial e a intersetorialidade.

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Criar pontes entre os sistemas está sendo alternativa viável para a atenção ao
cuidado das crianças, e o direito a maternidade de paternidade. Algumas experiências
estão sendo experimentada em alguns estados brasileiros.

O direito à prisão domiciliar no contexto do Marco Legal da Primeira Infância e a visão


do Supremo Tribunal Federal

Aproximadamente dois anos após a aprovação do Marco Legal da Primeira Infância,


o Supremo Tribunal Federal foi instado a julgar o Habeas Corpus Coletivo n° 143.641,
impetrado em favor de todas as mulheres presas preventivamente, que fossem gestantes,
puérperas ou mães de criança. Bem como em favor das próprias crianças, considerando
que os direitos inaugurados pela Lei 13.257/2016, sobretudo a alteração do art. 318 do
CPP, que não estavam sendo observados pelas instâncias inferiores do Poder Judiciário.
Nessa linha, o Supremo Tribunal Federal entendeu que a concessão de prisão
domiciliar é obrigatória para todas as mulheres presas que sejam gestantes, puérperas e
mães de crianças e de pessoas com deficiência, estendendo os efeitos da decisão às
adolescentes em conflito com a lei nas circunstâncias de internação provisória.
O Supremo Tribunal Federal levou em conta o Marco Legal da Primeira Infância e,
em última análise, o reconhecimento de que o cárcere não apresenta um aporte seguro

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III

para o desenvolvimento humano integral na primeira infância. Em seu voto, o Ministro


Relator reconheceu o fato de que “a privação, na infância, de suporte psicológico e das
experiências comuns às pessoas, produz danos ao desenvolvimento da criança”.
Também foram invocadas para a fundamentação do voto condutor as Regras de
Bangkok, “segundo as quais deve ser priorizada solução judicial que facilite a utilização de
alternativas penais ao encarceramento, principalmente para as hipóteses em que ainda não haja
decisão condenatória transitada em julgado”.
O próprio Supremo Tribunal Federal já havia decidido na Ação de Descumprimento
de Preceito Fundamental n° 347 a ‘inequívoca falência do sistema prisional brasileiro’,
sobretudo em razão da superlotação generalizada, que por sua vez resulta em outras
violações, tais como o espaço propício para rebeliões, vulneração ao núcleo essencial de
direitos fundamentais básicos ligados à dignidade humana, higidez física e integridade
psíquica.
Esta medida, no entanto, deve ser adotada criteriosamente e no HC Coletivo o STF
esclareceu que o direito à conversão da prisão preventiva em domiciliar não se aplica nas
hipóteses em que a mulher praticar o crime mediante violência ou grave ameaça; tiver
praticado crime contra seus descendentes; e também em outras situações
excepcionalíssimas, as quais deverão ser devidamente fundamentadas pelos juízes que
denegarem o benefício.
As duas primeiras hipóteses destacadas pelo STF acabaram sendo alvo de nova
alteração legislativa empreendida pela Lei n° 13.769/2018, que assim dispôs:
Art. 318-A. A prisão preventiva imposta à mulher gestante ou que for
mãe ou responsável por crianças ou pessoas com deficiência será
substituída por prisão domiciliar, desde que:
I - não tenha cometido crime com violência ou grave ameaça a pessoa;
II - não tenha cometido o crime contra seu filho ou dependente.

O Supremo Tribunal Federal nada mencionou sobre o que efetivamente se insere


como situações excepcionalíssimas passíveis de afastar o direito de conversão da prisão
preventiva em domiciliar, fato que ainda tem aberto margem a possíveis restrições
indevidas à implementação deste tópico do Marco Legal da Primeira Infância e,
(in)diretamente, ao direito fundamental de convivência familiar e comunitária da criança
na primeira infância.
Registre-se, por fim, que a 2ª Turma do Supremo Tribunal Federal em 20 outubro
de 2020 estendeu os mesmos condicionamentos do HC n° 143.641/SP aos pais e

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responsáveis por crianças e pessoas com deficiência, conforme decisão proferida no HC


Coletivo n° 165.704/DF, sob relatoria do Ministro Gilmar Mendes.

A intersetorialidade e a proteção integral da criança na primeira infância no contexto do


encarceramento dos pais

A atenção às crianças diante da situação do encarceramento dos pais necessita


intrinsecamente ser abordada de forma intersetorial, requerendo que os órgãos de
segurança e de justiça tenham a abertura cognitiva e operacional necessária para lidar com
a situação criminal de forma célere, como porta de entrada para atenção integral com
vistas à proteção e promoção da criança na primeira infância.
Com efeito, não cabe somente aos operadores do direito e autoridades
vocacionadas institucionalmente ao trabalho com a seara infanto-juvenil tomarem por
base a prioridade absoluta na garantia dos direitos fundamentais da criança e do
adolescente (art. 227 da Constituição Federal), mas sim a todos integrantes da rede de
proteção integral.

Nesse sentido, o Marco Legal da Primeira Infância também alterou, em seu artigo
41, o Código de Processo Penal nos artigos 6°, 185 e 304, propondo estas redações:

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III

Art. 6o Logo que tiver conhecimento da prática da infração penal, a


autoridade policial deverá: (...)
X - colher informações sobre a existência de filhos, respectivas idades e
se possuem alguma deficiência e o nome e o contato de eventual
responsável pelos cuidados dos filhos, indicado pela pessoa presa.
Art. 185. O acusado que comparecer perante a autoridade judiciária, no
curso do processo penal, será qualificado e interrogado na presença de
seu defensor, constituído ou nomeado. (...)
§ 10. Do interrogatório deverá constar a informação sobre a existência
de filhos, respectivas idades e se possuem alguma deficiência e o nome e
o contato de eventual responsável pelos cuidados dos filhos, indicado
pela pessoa presa.
Art. 304. (...) § 4º Da lavratura do auto de prisão em flagrante deverá
constar a informação sobre a existência de filhos, respectivas idades e se
possuem alguma deficiência e o nome e o contato de eventual
responsável pelos cuidados dos filhos, indicado pela pessoa presa.

A coleta pela autoridade policial e também pelo magistrado das informações sobre
a existência de filhos, idades, eventuais deficiências e o contato de eventual outro
responsável é necessário não apenas para preenchimento de dados estatísticos ou
simplesmente se angariar elementos para eventual conversão de prisão preventiva em
domiciliar, mas para promover o princípio da intervenção precoce previsto no art. 100,
parágrafo único, inciso VI, do Estatuto da Criança e do Adolescente. De fato, a primeira
providência é certificar-se de que a criança estará sob os cuidados necessários, diante da
prisão em flagrante de seu(s) responsável(is).
A fim de garantir a imediata tutela da criança, sobretudo na primeira infância, deve-
se antes de tudo pressupor que, observada eventual situação de risco ou vulnerabilidade
decorrente do encarceramento, deve-se saber o passo que necessita ser tomado para a
promoção e proteção dos interesses das crianças indiretamente atingidas pelo ato
conflitante com a lei penal praticado pelos genitores, que resultaram em sua privação da
liberdade.
Deve ser realizada também articulação imediata com a rede socioassistencial local
para que a proteção da família seja empreendida, sobretudo à luz do desenvolvimento
integral da criança que estava sob os cuidados diretos da pessoa que recebe uma medida
de encarceramento.
Nesse sentido, a Resolução n° 02/2017 do Conselho Nacional de Política Criminal
e Penitenciária assinala o dever da autoridade policial em encaminhar uma cópia do auto

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75
III

de prisão em flagrante ao Centro de Referência de Assistência Social (CRAS), ou entidade


equivalente, mais próximo do endereço dos responsáveis pelos cuidados dos filhos, uma
vez sendo realizada a prisão de mulheres gestantes, lactantes ou mães de filhos até 12
(doze) anos incompletos ou com alguma deficiência, providência essa necessária para que
a rede socioassistencial viabilize os meios necessários à superação de vulnerabilidades
apresentadas por esse núcleo familiar.
A exigência do referenciamento ao CRAS ou entidade equivalente permite que os
arranjos da rede se articulem em diversos serviços disponíveis na baixa, média e alta
complexidade, consideradas as peculiaridades de cada caso, sendo certo que o
conhecimento e a comunicação constante das autoridades com toda a rede permite a
fluidez dos encaminhamentos para proteção integral da criança, seja ou não convertida a
prisão preventiva em domiciliar.
Em resposta a esta exigência, a Secretaria Nacional de Assistência Social elaborou
as seguintes orientações técnicas:
http://www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/crianca_feliz/Documento%20m
ulheres%20encarceradas%20final.pdf
Boas práticas identificadas e premiadas no Pacto Nacional pela Primeira Infância
Iniciativas importantes tem ganhado destaque e podem ser multiplicadas ou
inspirarem novas práticas. Destacamos aqui três boas práticas que foram premiadas no
Pacto Nacional pela Primeira Infância, tendo como foco a atenção às crianças e famílias
com pais encarcerados ou em prisão domiciliar (disponíveis no Portal do Pacto Nacional
pela Primeira Infância do CNJ):

• Amparando Filhos – Transformando Realidades com a Comunidade Solidária –


Tribunal de Justiça do Estado de Goiás;
• Proinfância – Proteção à infância e à adolescência – Ministério Público do Estado
do Ceará;
• Promoção de Direitos para as Mulheres Privadas de Liberdade e seus Filhos: a
Experiência do Primeira Infância Melhor (PIM) no Rio Grande do Sul – Primeira
Infância Melhor / Secretaria Estadual da Saúde do Rio Grande do Sul;

Recomendações do grupo de trabalho do projeto “Conexões Pró Convivência Familiar e


Comunitária
A partir de um edital do CONANDA, a Associação Terra dos Homens (ABTH)
realizou o projeto Conexões Pró Convivência Familiar e Comunitária, no qual foi criado um
Grupo de Trabalho reunindo atores do Poder Judiciário, Poder Executivo e da Sociedade
Civil dos Sistemas de Justiça Criminal e de Garantia de Direitos das Crianças e

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III

Adolescentes, com objetivo de criar recomendações de enfrentamento às violações de


direitos das crianças e adolescentes que têm seus pais privados de liberdade. Assim como
elaborar fluxos com foco na garantia da convivência familiar desse público.
No âmbito deste projeto, foi elaborada uma proposta pautada no conceito de
referencial de “gerenciamento dos procedimentos criminais para atenção às crianças e
adolescentes com pais/mães privados de liberdade”, baseada nas normativas vigentes, para
implementação de procedimentos por ambos os sistemas. Segundo o relatório:

A Associação Brasileira Terra dos Homens como forma de esclarecer os


procedimentos propostos utiliza o conceito de “gerenciamento dos
procedimentos criminais para atenção às crianças e adolescentes com
pais/mães privados de liberdade”. Essa concepção visa gerir de forma
global os procedimentos propostos para os Sistemas de Justiça Criminal
e do Sistema de Garantia de Direitos de Crianças e Adolescentes frente
a ações de promoção, proteção e defesa dos direitos das crianças e dos
adolescentes. Não é objetivo apontar, diante da complexidade do
sistema criminal, questionamentos sobre condutas, atos e ações das
pessoas e seu ato criminoso, bem como a dos atores desses sistemas.

Cabe considerar que esta proposta tem como referência a própria


estrutura do sistema da justiça criminal: Segurança pública, Justiça
criminal e execução penal e no modo que se estrutura em sua ações:
preventiva e investigativa (segurança pública ) de julgamento ( tribunal
de justiça criminal) e execução penal. Neste documento entende-se a
porta de entrada (input) as ações da segurança pública e a porta de saída
(output) a execução penal.

A proposta da “gerenciamento dos procedimentos criminais para


atenção às crianças com pais/mães privados de liberdade”será possível
por ações intersetoriais, multiprofissional, de integração entre os
órgãos da Segurança Pública, da Execução Penal e do Sistema de
Garantia de Direitos das Crianças e dos Adolescentes, onde espera-se
ocorrem de forma complementar sendo assimétrica ou não, com objetivo
de garantir os direitos das crianças e adolescentes com genitores no
processo de privação de liberdade

Nos quadros elaborados pela ABTH em conjunto com o Grupo de Trabalho segue
o referencial resultante deste importante projeto:

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Fluxograma: gerenciamento de procedimentos criminais e penal para atenção as


crianças com pais/mães privados de liberdade

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No quadro acima, sobre os Egressos do sistema prisional, as normativas garantem


aos mesmos, acesso a profissionalização, Educação e trabalho, bem como assistência
religiosa. Compreendendo que o egresso, com entrada no regime privado, e beneficiado
com o regime semiaberto perpassa pela reintegração social. Esta reintegração tende a ser
processual, uma vez que o distanciamento prolongando e o retorno é impactado pelas
novas configurações familiares da família de origem, principalmente para as crianças na
primeira infância. Logo, como ocorre no processo de reintegração das crianças e
adolescentes acolhidas, este processo de reinteg.

ração necessita de acompanhamento psicossocial, possibilitando a reintegração


social processual e inclusiva. Diante desta nova perspectiva entende-se o eixo
estruturante Apoio Sociofamiliar como fundamental para esta família na reunificação
saudável de seus membros.

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III

Conclusão

As novas hipóteses de prisão domiciliar estabelecidas pelo Marco Legal da Primeira


Infância visam garantir o exercício pleno da paternidade e/ou da maternidade de um lado
e, de outro, potencializar a proteção e a promoção integral da pessoa na fase crítica de seu
desenvolvimento, qual seja a infância, sobretudo na fase dos 0 aos 6 anos de idade. Para
tanto é necessário observar os recursos das políticas públicas locais disponíveis, visando
atender de forma integral o núcleo familiar em questão, sendo que uma vez estabelecidas
essas pontes na rede de proteção a atuação no âmbito do processo criminal será possível
promover e proteger a criança, sem prejuízo às conclusões puramente criminais – ou
infracionais, em se tratando de adolescente em conflito com a lei – do processo em si.

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