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O Cuidar e o Educar na Educação Infantil

Apresentação
Historicamente, a educação infantil surgiu para atender às necessidades das mulheres que estavam
sendo inseridas no mercado de trabalho e precisavam de um lugar para deixar seus filhos. Por conta
disso, durante muitos anos ela foi vista com um caráter assistencialista, no qual as crianças
deveriam ser apenas cuidadas.

As discussões sobre a importância dos primeiros anos de vida para o percurso de desenvolvimento
infantil colocaram em evidência a necessidade de que as instituições voltadas para o atendimento
de crianças não só promovessem o cuidar, mas também o educar.

Nesta Unidade de Aprendizagem, você conhecerá o percurso histórico da constituição da


identidade da educação infantil. Além disso, compreenderá a importância da indissociabilidade do
cuidar e de educar, assim como refletirá sobre o papel do professor nesse processo.

Bons estudos.

Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

• Examinar a importância do legado histórico sobre o cuidar e o educar na educação infantil até
os dias atuais.
• Reconhecer a indissociabilidade do cuidar e do educar na educação infantil.
• Definir o papel do professor no que tange ao cuidar e ao educar na educação infantil.
Desafio
Historicamente, a educação infantil surgiu com o objetivo de oferecer cuidados às crianças, de
modo que suas mães pudessem se inserir no mercado de trabalho. Estudos realizados, sobretudo
pela Psicologia, demonstraram a importância dessa etapa do desenvolvimento das aprendizagens
humanas. Com isso, a educação infantil reviu seu papel, passando a ter como objetivos o cuidar e o
educar, de maneira integrada.

Para auxiliar Mariana, responda:

a) Qual é o papel do professor de educação infantil, no que diz respeito aos cuidados com a higiene
dos educandos? É correto afirmar que cabe ao professor dessa etapa da educação básica apenas
educar as crianças? Por quê?

b) Que sugestões você daria para que a professora desse conta do que foi solicitado pelos pais?
Infográfico
O cuidar e o educar devem fazer parte da rotina das classes de educação infantil. Os cuidados com
as crianças devem ser planejados de forma que, com o tempo, estas possam exercer o autocuidado
de forma autônoma.

Neste Infográfico, você vai encontrar sugestões de como incorporar alguns cuidados na rotina das
classes das creches e pré-escolas.
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Conteúdo do livro
Nem sempre o cuidar e o educar foram vistos como responsabilidade das instituições de educação
infantil. Historicamente, o cuidar antecede o educar, à medida que as instituições voltadas para o
atendimento de crianças pequenas e bem pequenas, surgiram para possibilitar a inserção das
mulheres no mercado de trabalho. A inclusão do educar, como um objetivo desse nível da educação
básica, é mais recente.

No capítulo O cuidar e o educar na educação infantil, da obra A educação infantil e a garantia dos
direitos fundamentais da infância, base teórica desta Unidade de Aprendizagem, você vai aprender a
importância do cuidar e do educar na educação infantil, assim como o papel do professor nesse
processo.

Boa leitura.
A EDUCAÇÃO
INFANTIL E A
GARANTIA DOS
DIREITOS
FUNDAMENTAIS
DA INFÂNCIA

Maria Elena Roman


de Oliveira Toledo
O cuidar e o educar na
educação infantil
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Examinar a importância do legado histórico sobre o cuidar e o educar


na educação infantil até os dias atuais.
 Reconhecer a indissociabilidade do cuidar e do educar na educação
infantil.
 Definir o papel do professor no que tange ao cuidar e ao educar na
educação infantil.

Introdução
Ao longo da história das creches e pré-escolas, o cuidar e o educar
tornaram-se indissociáveis. Neste capítulo, você vai verificar como isso
aconteceu. Além disso, vai estudar essas duas dimensões da educação
infantil, verificando como o professor deve atuar em relação a elas e como
a criança deve ser compreendida nesse contexto.

O legado histórico sobre o cuidar e o educar


na educação infantil
Para compreender a relação entre o cuidar e o educar na educação infantil,
você precisa conhecer o percurso histórico dessa relação e a legislação que
a ampara. De acordo com o Parecer CNE nº 20/2009 (BRASIL, 2009, docu-
mento on-line):

A construção da identidade das creches e pré-escolas a partir do século XIX


em nosso país insere-se no contexto da história das políticas de atendimento à
infância, marcado por diferenciações em relação à classe social das crianças.
Enquanto para as mais pobres essa história foi caracterizada pela vinculação
2 O cuidar e o educar na educação infantil

aos órgãos de assistência social, para as crianças das classes mais abastadas,
outro modelo se desenvolveu no diálogo com práticas escolares. Essa vincu-
lação institucional diferenciada refletia uma fragmentação nas concepções
sobre educação das crianças em espaços coletivos, compreendendo o cuidar
como atividade meramente ligada ao corpo e destinada às crianças mais
pobres, e o educar como experiência de promoção intelectual reservada aos
filhos dos grupos socialmente privilegiados.

Isso posto, fica claro que as creches foram concebidas com um caráter mais
assistencialista, vinculadas aos cuidados. Já as pré-escolas foram concebidas
vinculadas à educação.
A creche é uma instituição em expansão desde os anos 1970 no Brasil,
quando houve um movimento social intitulado Luta por Creches. O movimento
resultou na ampliação da oferta de vagas para atender à demanda criada pelas
mães inseridas há pouco no mercado de trabalho. Veja:

o histórico de sua implantação é marcado por omissão estatal, filantropia,


ausência de orientação pedagógica, entre tantos outros problemas que con-
tribuíram para que as creches fossem vistas como locais de acolhimento —
guarda e proteção — das crianças carentes, cujas mães eram absorvidas pelo
mercado de trabalho e, portanto, não poderiam assumir a responsabilidade
pelos cuidados com a criança (SPADA, 2005, p. 2).

Antes do surgimento do capitalismo industrial, boa parte das famílias


brasileiras eram patriarcais, cabendo ao homem o papel de provedor e à mulher,
o de cuidadora do lar e das crianças. As mudanças sociais e nas relações de
trabalho demandaram que a mulher saísse de casa para trabalhar e ajudar no
sustento doméstico. Nesse cenário, surgem as creches, com o objetivo principal
de substituir as atividades maternas enquanto as mães trabalhavam. Quando
isso ocorreu, as escolas de educação infantil se voltaram para os cuidados
antes realizados no ambiente doméstico: a alimentação, a higiene e o repouso.
A omissão do Estado no atendimento a essa demanda fez com que a creche
permanecesse, por muitos anos, com caráter assistencialista, dificultando a
construção de uma identidade bem definida. Considere o seguinte:

O uso de creches e de programas pré-escolares como estratégia para combater a


pobreza e resolver problemas ligados à sobrevivência das crianças foi, durante
muitos anos, justificativa para a existência de atendimentos de baixo custo,
com aplicações orçamentárias insuficientes, escassez de recursos materiais;
precariedade de instalações; formação insuficiente de seus profissionais e
alta proporção de crianças por adulto (BRASIL, 1998, p. 17).
O cuidar e o educar na educação infantil 3

A Constituição Federal de 1988 trouxe importantes mudanças em relação


ao conceito e à oferta de atendimento educacional voltado à criança pequena.
Em sua escrita inicial, está posto que as crianças de 0 a 6 anos de idade têm
direito à educação e que é dever do Estado oferecê-la. Como a matrícula
não era obrigatória, a família poderia escolher entre matricular ou não suas
crianças. Todavia, o Estado passou a ter a obrigação de oferecer vagas para o
atendimento desse grupo etário.
A obrigatoriedade de matrícula em todas as etapas da educação básica ficou
estabelecida a partir da promulgação da Emenda Constitucional nº 59, de 11 de
novembro de 2009 (BRASIL, 2009). O art. 208 da Constituição Federal de 1988
garante “[...] educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete)
anos de idade, assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ela não
tiveram acesso na idade própria” (BRASIL, 1988, documento on-line).
Outra mudança significativa presente na Constituição de 1988 diz respeito
à concepção de educação infantil. Enquanto as constituições anteriores viam
essa etapa da escolarização como assistencialista, a nova Constituição garante
que ela seja também educacional. É a partir da Constituição de 1988 que a
criança para a ser reconhecida como um sujeito de direitos.
Essa mudança é reafirmada na Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional (LDB, Lei nº 9.394, de de 20 de dezembro de 1996), que inicialmente
fez referência à educação infantil voltada para o atendimento de crianças de
0 a 6 anos de idade. Atualmente, a LDB destaca a educação infantil voltada
ao atendimento de crianças de 0 a 5 anos de idade.
A Lei nº 12.796, de 4 de abril de 2013, que altera a Lei nº 9.394, assegura,
em seu art. 4º:

I – educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete)


anos de idade, organizada da seguinte forma:
a) pré-escola;
b) ensino fundamental;
c) ensino médio;
II – educação infantil gratuita às crianças de até 5 (cinco) anos de idade;
III – atendimento educacional especializado gratuito aos educandos com
deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou
superdotação, transversal a todos os níveis, etapas e modalidades, preferen-
cialmente na rede regular de ensino;
IV – acesso público e gratuito aos ensinos fundamental e médio para todos
os que não os concluíram na idade própria; [...]
VIII – atendimento ao educando, em todas as etapas da educação básica, por
meio de programas suplementares de material didático-escolar, transporte,
alimentação e assistência à saúde (BRASIL, 1996, documento on-line).
4 O cuidar e o educar na educação infantil

A modificação legal, por si só, não foi suficiente para que houvesse mudan-
ças efetivas nas práticas educativas. Para que isso ocorresse, fez-se necessário
atentar para questões como: a especificidade da educação infantil, a concep-
ção de infância, as relações entre as classes sociais, as responsabilidades da
sociedade e o papel do Estado diante das crianças pequenas.

O movimento Luta por Creches foi um movimento de mobilização da sociedade civil,


sobretudo de mulheres. No final dos anos 1970 e início dos anos 1980, esse movimento
pressionou o poder público para que as crianças brasileiras tivessem o direito ao
atendimento em creches.

O cuidar e o educar: aspectos indissociáveis


na educação infantil
A educação infantil é a primeira etapa da educação básica. Assim, é o início
e a base do processo educacional. Para a maioria das crianças, a entrada na
creche ou na pré-escola significa a primeira separação do seu espaço familiar
para a inserção em uma situação de socialização estruturada.
Desde as mudanças legais introduzidas pela Constituição Federal de 1988,
vem se consolidando, no Brasil, a concepção que compreende o cuidar e o
educar como indissociáveis no processo educativo. Veja:

Nesse contexto, as creches e pré-escolas, ao acolher as vivências e os conhe-


cimentos construídos pelas crianças no ambiente da família e no contexto de
sua comunidade, e articulá-los em suas propostas pedagógicas, têm o objetivo
de ampliar o universo de experiências, conhecimentos e habilidades dessas
crianças, diversificando e consolidando novas aprendizagens, atuando de ma-
neira complementar à educação familiar — especialmente quando se trata da
educação dos bebês e das crianças bem pequenas, que envolve aprendizagens
muito próximas aos dois contextos (familiar e escolar), como a socialização,
a autonomia e a comunicação (BRASIL, 2017, p. 36).

As Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica do Ministério


da Educação (BRASIL, 2010), fixadas pela Resolução nº 5, de 17 de dezembro
de 2009, reforçam a ideia do duplo objetivo da educação infantil: cuidar e
educar, de modo indissociável.
O cuidar e o educar na educação infantil 5

O educar
Nas últimas décadas, debates e pesquisas no cenário educacional do País
têm apontado para a necessidade de que as instituições de educação infantil
desenvolvam práticas educativas que incorporem, de maneira integrada, as
funções de educar e cuidar.
As práticas educativas devem envolver, sempre, padrões de qualidade. A
qualidade, na educação infantil:

[...] advém de concepções de desenvolvimento que consideram as crianças


nos seus contextos sociais, ambientais, culturais e, mais concretamente, nas
interações e práticas sociais que lhes fornecem elementos relacionados às mais
diversas linguagens e ao contato com os mais variados conhecimentos para a
construção de uma identidade autônoma (BRASIL, 1998, p. 23).

As instituições de educação infantil devem assumir o seu papel e tornar


acessíveis a todas as crianças elementos culturais que promovam avanços
nos seus processos de desenvolvimento e que ampliem seus instrumentos de
inserção social.
As aprendizagens oportunizadas devem levar em conta uma visão de criança
que participa ativamente do processo de construção de conhecimentos, que
é ativa e pensante, sendo capaz de construir novos saberes na interação com
os objetos de conhecimento disponíveis no meio no qual está inserida. Essa
visão de criança deve ser levada em conta para que ela seja colocada como
protagonista do seu percurso de aprendizagens.
Para que as aprendizagens ocorram, as práticas educativas devem ter como
eixos estruturantes as interações e a brincadeira. Educar significa, nessa
perspectiva, proporcionar situações de cuidados, interações, brincadeiras e
aprendizagens orientadas e que:

[...] possam contribuir para o desenvolvimento das capacidades infantis de


relação interpessoal, de ser e estar com os outros em uma atitude básica de
aceitação, respeito e confiança, e o acesso, pelas crianças, aos conhecimentos
mais amplos da realidade social e cultural (BRASIL, 1998, p. 23).

Nesse processo, a educação escolar oportunizará experiências que auxiliem


o desenvolvimento infantil, no que diz respeito aos aspectos corporais, afetivos,
emocionais, estéticos, éticos e cognitivos.
6 O cuidar e o educar na educação infantil

O cuidar
O cuidado deve ser um dos aspectos contemplados pelas escolas de educação
infantil. Reconhecer essa necessidade significa concebê-lo como parte inte-
grante do processo educativo. Você deve perceber, no entanto, que cuidar de
bebês, crianças bem pequenas e crianças pequenas requer conhecimentos
sobre as especificidades dessas etapas do desenvolvimento.
Como você já viu anteriormente, em um primeiro momento, como as
instituições de educação infantil tinham caráter assistencialista, as pessoas
que atuavam nelas não precisavam ter qualquer tipo de formação específica.
A partir do momento em que o cuidar e o educar passam a ser vistos como
aspectos indissociáveis do processo educativo, eles devem ser realizados por
profissionais qualificados, que tenham conhecimentos específicos sobre essa
etapa do desenvolvimento humano. Assim:

A base do cuidado humano é compreender como ajudar o outro a se desen-


volver como ser humano. Cuidar significa valorizar e ajudar a desenvolver
capacidades. O cuidado é um ato em relação ao outro e a si próprio que possui
uma dimensão expressiva e implica procedimentos específicos.
O desenvolvimento integral depende tanto dos cuidados relacionais, que
envolvem a dimensão afetiva, dos cuidados com os aspectos biológicos do
corpo, como a qualidade da alimentação, e dos cuidados com a saúde quanto
da forma como esses cuidados são oferecidos e das oportunidades de acesso
a conhecimentos variados (BRASIL, 1998, p. 24).

As necessidades, embora comuns, são influenciadas por crenças e valores


em torno da saúde, da educação e do desenvolvimento infantil. Assim, os
cuidados com as crianças podem variar de acordo com o contexto social,
histórico e cultural no qual elas estiverem inseridas.

O papel do professor
A presença de profissionais qualificados trabalhando nos estabelecimentos de
educação infantil no Brasil é relativamente recente. Os docentes estiveram
presentes nas escolas infantis desde os primeiros jardins da infância, sem,
no entanto, nenhuma formação específica. Isso porque o cuidar e o educar
não eram vistos como responsabilidades educacionais, e sim como um direito
assistencial das famílias.
O cuidar e o educar na educação infantil 7

Foi a LDB que trouxe, pela primeira vez, a obrigatoriedade de que pro-
fessores da educação infantil tivessem formação superior. Em seu título VI,
art. 62, essa lei dispõe que:

A formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em nível


superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, em universidades e
institutos superiores de educação, admitida, como formação mínima para o
exercício do magistério na educação infantil e nas quatro primeiras séries
do ensino fundamental, a oferecida em nível médio, na modalidade Normal
(BRASIL, 1996, documento on-line).

O prazo de uma década foi estabelecido para a transição, ou seja, para a


incorporação dos profissionais cuja escolaridade ainda não era a exigida. O
Plano Nacional de Educação estabeleceu metas específicas relacionadas à
formação dos professores em todo o País, partindo do pressuposto de que essa
é uma condição fundamental para a qualidade do ensino.
O Anuário Brasileiro da Educação Básica 2018 (CRUZ, 2018) trouxe da-
dos que demonstram que essa exigência ainda não foi plenamente cumprida
no País (Figura 1). Além disso, os índices de conclusão do curso superior
pelos profissionais da educação têm tido um crescimento bastante lento, com
dificuldades de ultrapassar o patamar dos 80%. A defasagem em relação ao
ideal de 100% é ainda maior na educação infantil. Os números apresentam
diferenças entre os distintos estados e regiões do País.

Figura 1. Número de professores da educação infantil por escolaridade.


Fonte: Cruz (2018).

O perfil do professor da educação infantil


O trabalho com crianças de 0 a 5 anos requer que o professor seja polivalente.
Isso significa que ele deve ser capaz de trabalhar com conteúdos de naturezas
8 O cuidar e o educar na educação infantil

diversas, que abarcam desde os cuidados básicos infantis até conhecimentos


específicos, advindos de diferentes áreas do conhecimento.
A atuação docente, nesse contexto, exige uma formação bastante ampla. A
formação inicial constitui-se como um ponto de partida para outras reflexões
e formações continuadas que emergem do cotidiano da sala de aula. São ele-
mentos dessa formação continuada: a constante reflexão do professor sobre
suas ações e os resultados obtidos, a escuta atenta das crianças, a interação
e a troca de saberes com seus pares, bem como a interação com as famílias.
São instrumentos fundamentais para a reflexão sobre a prática docente: a
observação, o registro, o planejamento e a avaliação.

Atuação docente
Cabe ao professor da educação infantil cuidar e educar as crianças inseridas
no contexto escolar. Isso decorre das ações docentes em diferentes espaços e
tempos escolares, de maneira integrada. Considere também o seguinte:

[...] educar não se restringe ao ato de ensinar, este muitas vezes alicerçado
em bases técnicas de ensino ou métodos pedagógicos universais. Distante
disso, está postulado na esfera da relação humana com um caráter artesanal,
pois é uma ação humana e contempla o reconhecimento da individualidade
constitucional de cada criança. Educar/cuidar é também uma experiência
relacional entre adultos e crianças, experiência esta marcada pelas subjeti-
vidades de cada uma dessas pessoas. Nessa relação intersubjetiva, todos e
todas ensinam e aprendem, e a(o) professora(or) tem um papel fundamental
nesse processo educativo de cada criança (SOMMERHALDER, 2015, p. 28).

A atuação docente deve estar comprometida com as necessidades e parti-


cularidades das crianças, tendo em vista suas possibilidades de aprendizagem
e de desenvolvimento. O professor deve oferecer para as crianças experiências
ricas e diversas, em um espaço estruturado para a construção da sua autonomia.
No seu planejamento, o professor deve sempre considerar as interações
e a ludicidade como eixos estruturantes de suas práticas pedagógicas. As
crianças devem conviver com seus pares, com crianças de outras idades e
com adultos. Nas interações, as crianças ampliam seus conhecimentos sobre
as relações sociais, trocam saberes já construídos anteriormente e constroem
novos conhecimentos.
O grau do desafio das atividades propostas deve ser pensado de maneira a
motivar as crianças e a instrumentalizá-las para a generalização dos conheci-
mentos aprendidos, tornando-os aplicáveis a situações diversas.
O cuidar e o educar na educação infantil 9

Para conhecer experiências vivenciadas por professores de creches e pré-escolas, leia


O dia a dia das creches e pré-escolas: crônicas brasileiras (MELLO et al., 2010).

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Senado


Federal, 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/
Constituicao.htm>. Acesso em: 14 jan. 2019.
BRASIL. Emenda constitucional nº 59, de 11 de novembro de 2009. Acrescenta § 3º ao art.
76 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias para reduzir, anualmente, a partir
do exercício de 2009, o percentual da Desvinculação das Receitas da União incidente
sobre os recursos destinados à manutenção e desenvolvimento do ensino de que
trata o art. 212 da Constituição Federal, dá nova redação aos incisos I e VII do art. 208,
de forma a prever a obrigatoriedade do ensino de quatro a dezessete anos e ampliar a
abrangência dos programas suplementares para todas as etapas da educação básica,
e dá nova redação ao § 4º do art. 211 e ao § 3º do art. 212 e ao caput do art. 214, com
a inserção neste dispositivo de inciso VI. 2009. Disponível em: <http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/Constituicao/Emendas/Emc/emc59.htm>. Acesso em: 14 jan. 2019.
BRASIL. Lei n. 9.394 de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da edu-
cação nacional. 1996. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/
lei9394_ldbn1.pdf>. Acesso em: 14 jan. 2019.
BRASIL. Ministério da Educação. Base nacional comum curricular. Brasília: MEC, 2017.
BRASIL. Ministério da Educação. Diretrizes curriculares nacionais para a educação in-
fantil. Brasília: MEC, 2010. Disponível em: <http://ndi.ufsc.br/files/2012/02/Diretrizes-
-Curriculares-para-a-E-I.pdf>. Acesso em: 10 jan. 2019.
BRASIL. Ministério da Educação. Parecer CNE/CEB n. 20/2009. Disponível em: http://portal.
mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=2097-pceb020-
-09&category_slug=dezembro-2009-pdf&Itemid=30192. Acesso em: 14 jan. 2019.
BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Referencial curricular nacional para a
educação infantil. Brasília: MEC/SEF, 1998.
CRUZ, P. (Org.). Anuário brasileiro da educação básica 2018. São Paulo: Moderna, 2018.
Disponível em: <https://todospelaeducacao.org.br/_uploads/20180824-Anuario_Edu-
cacao_2018_atualizado_WEB.pdf?utm_source=conteudoSite>. Acesso em: 14 jan. 2019.
MELLO, A. M. et al. O dia a dia das creches e pré-escolas: crônicas brasileiras. Porto Alegre:
Artmed, 2010.
10 O cuidar e o educar na educação infantil

SOMMERHALDER, A. (Org.). A educação infantil em perspectiva: fundamentos e práticas


docentes. São Carlos: EdUFSCAR, 2015.
SPADA, A. C. M. Processo de criação das primeiras creches brasileiras e seu impacto
sobre a educação infantil de zero a três anos. Revista Científica Eletrônica de Pedagogia, v.
5, 2005. Disponível em: <http://faef.revista.inf.br/imagens_arquivos/arquivos_destaque/
iG3tNqxQCLnBRLr_2013-6-28-12-6-20.pdf>. Acesso em: 14 jan. 2019.

Leituras recomendadas
BARBOSA. M. C. S. Práticas cotidianas na educação infantil: bases para a reflexão sobre
as orientações curriculares. Brasília: MEC, 2009.
OBSERVATÓRIO DA SOCIEDADE CIVIL. Mini-documentário mostra luta de mulheres pelo direito
à creche. 2014. Disponível em: <http://www.ebc.com.br/infantil/para-pais/2014/11/mini-
-documentario-mostra-luta-de-mulheres-pelo-direito-a-creche>. Acesso em: 14 jan. 2019.
Conteúdo:
Dica do professor
Inicialmente, a educação infantil foi vista como tendo um caráter assistencialista, e não educacional.
Com o passar do tempo, como fruto do conhecimento das particularidades e necessidades dessa
etapa do desenvolvimento, as instituições de educação infantil passaram a ter um caráter
educacional. O cuidar, nessa perspectiva, passou a ser visto de uma nova maneira: como parte
integrante do processo educativo.

Nesta Dica do Professor, você vai refletir sobre as múltiplas dimensões do cuidar no processo
educativo das crianças.

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Exercícios

1) A instituição de educação infantil tem um papel de grande importância no desenvolvimento


infantil. Nesse processo, a mediação do professor se faz fundamental.

Diante do exposto, assinale a alternativa que corresponde ao papel da escola e do professor


na educação infantil.

A) A função da escola e do professor da educação infantil é garantir avanços no percurso de


aprendizagens infantis, sem se preocupar com o bem-estar físico das crianças.

B) A função da escola e do professor da educação infantil é garantir os cuidados físicos das


crianças sob sua responsabilidade, bem como promover avanços no processo de construção
de novos conhecimentos.

C) A função da escola e do professor da educação infantil é oportunizar momentos de


ludicidade, tendo que vista que a socialização infantil é o único objetivo dessa etapa da
escolarização.

D) A função da escola e do professor da educação infantil é preparar as crianças, para que


tenham sucesso na etapa posterior de escolarização.

E) A função da escola e do professor da educação infantil é garantir que as crianças brinquem


livremente, pois essa é a única necessidade dessa etapa do desenvolvimento.

2) Durante muito tempo as instituições de educação infantil foram concebidas como espaço de
cuidados infantis. Essa concepção foi revista a partir das contribuições da psicologia do
desenvolvimento.

Desde então:

A) a ação pedagógica é caracterizada pela integração entre educar e cuidar.

B) o cuidar deixou de ser competência das instituições de educação infantil, sendo substituído
pelo educar.

C) a escola passou a ser vista como o único lugar no qual as aprendizagens infantis ocorrem.

D) a família foi vista como a única responsável pelo cuidar.


E) a ação educativa é pautada pelo educar, não havendo espaço para o cuidar.

3) É papel das instituições de educação infantil o cuidar e o educar.

Sobre a necessidade de integração entre educar e cuidar no cotidiano dessas instituições,


pode-se afirmar que:

A) o trabalho em creche deve desenvolver ações de assistência social e, na pré-escola, deve


preparar as crianças para cursar o ensino fundamental.

B) cabe aos professores realizar atividades pedagógicas e aos técnicos as trocas de roupa, a
alimentação e a higiene.

C) o ato de cuidar deve privilegiar propostas assistencialistas e compensatórias para atender às


especificidades das crianças bem pequenas.

D) as práticas de cuidado e educação devem ser concebidas como ações complementares e


indissociáveis, favorecendo a formação integral da criança.

E) os professores devem se eximir de qualquer responsabilidade aos cuidados com as crianças,


pois sua formação não contempla aspectos relacionados a isso.

4) O trabalho pedagógico nas instituições de educação infantil deve contemplar as dimensões


do cuidar e do educar.

A respeito dessas duas dimensões, assinale a opção correta.

A) As creches, ao atenderem crianças de 0 a 3 anos, devem se preocupar, exclusivamente, com o


cuidar.

B) O cuidar e o educar são duas dimensões indissociáveis das práticas educativas na educação
infantil.

C) A formação inicial dos professores não contempla aspectos relacionados ao cuidar, pois eles
não são necessários às práticas educativas.

D) Os cuidados com as crianças são de responsabilidade exclusiva das famílias.

E) O ato de cuidar, o qual está diretamente ligado à vida e à saúde da criança, proporciona as
condições necessárias para o aprendizado.

5)
Conforme as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (DCNEI), as
instituições de educação infantil devem possibilitar, em suas propostas pedagógicas, práticas
e cuidados que promovam a integração entre os aspectos físicos, emocionais, afetivos,
cognitivo/linguísticos e sociais da criança.

Com relação a esse assunto, assinale a alternativa correta.

A) Com o intuito de promover o desenvolvimento natural da criança, a organização pedagógica


da educação infantil deve ser definida em sala de aula, de forma espontânea.

B) O ato de cuidar, na educação infantil, consiste em uma ação que deve ser planejada para
promover o autoconhecimento da criança, assim como as suas relações sociais.

C) Para estimular o desenvolvimento integral da criança, cada disciplina do currículo da


educação infantil deverá ser trabalhada isoladamente.

D) Os objetivos da educação infantil incluem promover atividades pedagógicas que forcem a


criança a desenvolver as habilidades de leitura e de escrita até o final dessa etapa da
educação básica.

E) Na educação infantil, os conteúdos são livres e, por isso, não necessitam de uma organização
didática para que sejam operacionalizados.
Na prática
Apesar de as discussões de integração entre os aspectos de cuidar e educar na educação infantil
não serem recentes, os professores ainda não se dão conta de como os aspectos relacionados aos
cuidados devem ser contemplados por eles.

Sendo assim, a formação continuada, a qual ocorre no interior das instituições de ensino, tem um
papel importante nessa conscientização.

Veja a seguir.

Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!


Saiba +
Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor:

Minidocumentário mostra luta de mulheres pelo direito à


creche
Para saber mais sobre o movimento Luta por Creches, leia o seguinte texto e assista ao
minidocumentário Lugar de criança: a sociedade civil e o direito à creche.

Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar.

Educação infantil: cuidar, educar e brincar


Para saber mais sobre o brincar, o cuidar e o educar na educação infantil, assista ao vídeo a seguir.

Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar.

Educação infantil: identidade do professor


Qual é o papel do professor na educação infantil? Assista ao vídeo a seguir para saber mais sobre o
professor na promoção do cuidar e do educar na educação infantil.

Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar.

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