Você está na página 1de 14

EDUCAÇÃO INFANTIL –

CONTEÚDOS, TENDÊNCIAS E
METODOLOGIAS
AULA 1

Profª Janice Mendes


CONVERSA INICIAL

Você já parou para pensar nos elementos que envolvem a infância e como
os conceitos e práticas foram se constituindo ao longo dos tempos? De que
forma os espaços formais e as práticas pedagógicas interferem nos
pressupostos teóricos e metodológicos dessa etapa de ensino?
Nesta aula, vamos compreender um pouco mais sobre os aspectos
fundamentais da educação infantil, no contexto cultural e histórico, e como as
mudanças legais influenciaram no processo de ensino e aprendizagem dessa
fase.

TEMA 1 – EDUCAÇÃO INFANTIL: ASPECTOS FUNDAMENTAIS DA INFÂNCIA

Como primeira etapa da Educação Básica, a Educação Infantil é o


início e o fundamento do processo educacional. A entrada na creche
ou na pré-escola significa, na maioria das vezes, a primeira separação
das crianças dos seus vínculos afetivos familiares para se
incorporarem a uma situação de socialização estruturada. Nas últimas
décadas, vem se consolidando, na Educação Infantil, a concepção que
vincula educar e cuidar, entendendo o cuidado como algo indissociável
do processo educativo. Nesse contexto, as creches e pré-escolas, ao
acolher as vivências e os conhecimentos construídos pelas crianças
no ambiente da família e no contexto de sua comunidade, e articulá-
los em suas propostas pedagógicas, têm o objetivo de ampliar o
universo de experiências, conhecimentos e habilidades dessas
crianças, diversificando e consolidando novas aprendizagens, atuando
de maneira complementar à educação familiar – especialmente
(quando se trata da educação dos bebês e das crianças bem
pequenas, que envolve aprendizagens muito próximas aos dois
contextos (familiar e escolar), como a socialização, a autonomia e a
comunicação. (Brasil, 2017)

Com isso, para ampliar o processo de aprendizagem e o desenvolvimento


das crianças, o diálogo, a autonomia e o compartilhamento de responsabilidades
entre a instituição escolar e a família, é preciso conhecer e trabalhar com as
culturas plurais, dialogando com a riqueza/diversidade cultural das famílias e da
comunidade (Brasil, 2017)
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC), ao falar sobre o
compromisso com a educação integra das crianças, define que:

Significa, ainda, assumir uma visão plural, singular e integral da


criança, do adolescente, do jovem e do adulto – considerando-os como
sujeitos de aprendizagem – e promover uma educação voltada ao seu
acolhimento, reconhecimento e desenvolvimento pleno, nas suas
singularidades e diversidades. Além disso, a escola, como espaço de
aprendizagem e de democracia inclusiva, deve se fortalecer na prática
coercitiva de não discriminação, não preconceito e respeito às
diferenças e diversidades. (Brasil, 20017.)

2
Assim, é possível compreender a criança um sujeito histórico e de direitos,
por isso é fundamental pensar que a fase da infância é o momento da vida que
integra a categoria geracional da infância e, para além do pertencimento etário,
a criança é um ator social que pertence a uma sociedade, um gênero, uma
raça/etnia e um espaço geográfico e cultural.
Corsaro (2002) explica com clareza a ação da criança como ator social: A
ação da criança como um ator social competente vai ao encontro da abordagem
denominada reprodução interpretativa, que representa a socialização com base
na da adaptação passiva da criança.
Mas atenção ao utilizar o termo reprodução! É preciso entender que as
crianças não apenas se apropriam da cultura em que estão inseridas, mas
também participam das mudanças culturais.
Já o termo interpretativa refere-se aos aspectos inovadores da sua
participação na sociedade e na cultura que está inserida, pois as crianças criam
e participam da cultura de pares, entendida como “um conjunto estável de
atividades ou rotinas, artefatos, valores e interesses que elas produzem e
compartilham na interação com seus pares” (Corsaro, 2009, p. 30).
Agora que você já compreendeu os aspectos fundamentais da infância,
vamos seguir os estudos compreendendo a trajetória histórica da educação
infantil!

1.1 Educação infantil e seus aspectos históricos

Você sabia que a etapa da educação infantil nem sempre teve um lugar
de destaque na formação da criança pequena?
A etapa da educação infantil surgiu nas décadas de 1970 e 1980 como
uma instituição assistencial com objetivo de atender as crianças e de ocupar, em
muitos aspectos, o lugar da família.
Até a década de 1980, a educação infantil era vista como educação não
formal. Utilizava-se no Brasil expressão pré-escolar, etapa anterior,
independente e preparatória para a escolarização, que só teria seu começo no
ensino fundamental.
A Constituição Federal de 1988 apresentou novas compreensões sobre o
conceito, concepção e atendimento em creche e pré-escola, pois, a partir dessa
época, o processo escolar de crianças de 0 a 6 anos de idade torna-se dever do
Estado.
3
Em 1996, com a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional, Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996 (LDB, 1996), a educação
infantil passa a integrar a educação básica, juntamente com o ensino
fundamental e o ensino médio.
Em 2006, outras mudanças aconteceram na etapa da educação infantil,
pois essa etapa passou a atender crianças de 0 a 5 anos de idade. As
modificações inseridas na Lei n. 11.274 de 6 de fevereiro de 2006 anteciparam
o acesso ao ensino fundamental para os 6 anos de idade, e a educação infantil
passa a atender a faixa etária de zero a 5 anos.
É preciso lembrar que, somente após a Emenda Constitucional n.
59/2009, a matrícula na etapa da educação infantil passa a ser obrigatória para
as crianças de 4 e 5 anos e reconhecida como direito de todas as crianças e
dever do Estado. Essa mesma emenda determina a obrigatoriedade da
educação básica dos 4 aos 17 anos (Brasil, 2009).
Agora que você já compreendeu um pouco sobre a evolução histórica da
educação infantil, acompanhe a linha do tempo em seus aspectos históricos
conceituais:
No Brasil, os jardins de infância surgiram de acordo com a necessidade
do mercado de trabalho, com ênfase na Revolução Industrial, marcado devido
ao capitalismo.
As mulheres começaram ocupar o mercado de trabalho, e por meio da
reivindicação dos operários, de um lugar para deixarem seus filhos, surgiram os
jardins de infância. As creches preenchiam a necessidade para a classe
trabalhadora feminina, firmando-se, assim, o cuidar como atividade principal
dessas instituições.
Na década de 1980, a educação infantil teve um avanço, pois houve a
produção de pesquisas e estudos de relevante interesse nessa área. Havia
ênfase sobre a função da creche/pré-escola na vida escolar e no
desenvolvimento das crianças. Com base nisso, entendeu-se que a educação
da criança pequena é fundamental, além de ser uma demanda social básica.
Outro momento importante na história da educação infantil é a Constituição de
1988, que definiu a creche e a pré-escola como direito de família e dever do
Estado em oferecer esse serviço não apenas em sua forma assistencialista, mas
com sua função pedagógica. Além disso, a educação infantil ficou assegurada

4
como parte do Sistema de Ensino da Educação Básica e também das políticas
públicas.
Foi somente a partir do marco legal da Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional n. 9.394 de 20 de Dezembro de 1996 que há a
complementaridade entre as instituições de educação infantil e a família; a
preocupação sobre a formação do profissional da educação infantil e da
avaliação dessa etapa de ensino, que assumiu um caráter de acompanhamento,
e não de reprovação.
Após a LDB, Lei n. 9.394/96, muitas outras normativas direcionaram o
papel da educação infantil no contexto educativo. É possível perceber, com a
trajetória histórica, que o atendimento às crianças e o desenvolvimento das
instituições de educação infantil no Brasil estiveram fortemente ligadas aos
ideais capitalistas e de modernização do país.
Continuando nossos estudos sobre educação infantil, é preciso
compreender a cultura escolar presente na educação infantil, e relacioná-la ao
desenvolvimento infantil.

TEMA 2 – CULTURA ESCOLAR PRESENTE NA EDUCAÇÃO INFANTIL

A cultura desenvolve-se naturalmente, faz parte da ação humana, que


está em constante evolução. As pessoas, ao verem o mundo através das lentes
da sua cultura, usam-na como referência para sua conduta. Há mudanças em
cada meio cultural, por isso é importante perceber as diferenças que ocorrem
dentro de uma mesma cultura.

A cultura denota um padrão de significados transmitidos


historicamente, incorporado em símbolos, um sistema de concepções
herdadas expressas em formas simbólicas. Por meio delas, os
indivíduos e grupos formadores de uma nova geração apreendem a
cultura, reproduzem-na e a transformam. Os fatos nascem e evoluem
numa reprodução espontânea e despercebida pelos sujeitos. A cultura
é, pois, um fenômeno social, cuja sua manutenção e transmissão
dependem dos sujeitos sociais. (Geertz, 1978)

Para iniciar os estudos sobre cultura escolar presente na educação


infantil, vamos compreender o significado de cultura escolar. A escola é um
espaço formal de desenvolvimento dos sujeitos, assumindo um papel particular
na socialização, na preservação e na transmissão de valores e herança cultural.
A escola é o espaço de aprendizagens e saberes, gerados em função do
resultado do fazer pedagógico e dos significados construídos pelos sujeitos

5
envolvidos, ou seja, a escola é campo de expressão e produção humana,
portanto receptora e formadora de cultura.
Assim, compreendemos que a escola é a instituição responsável pela
mudança e desenvolvimento do homem, consequentemente produtora de
cultura, pois está imersa em um momento histórico, social, econômico e político.
Esse conjunto de fatores influencia diretamente na formação cultural do sujeito.
Portanto, como afirma Carvalho (2006, p. 3):

não havendo educação que não esteja imersa na cultura e,


particularmente, no momento histórico em que se situa, não se podem
conceber experiências pedagógicas e metodologias organizativas,
promotoras dessas modificações, de modo “desculturalizado”.

Para Sarmento e Cerisara (2004, p. 23), a criança vive num mundo


heterogêneo, pois está em contato direto com inúmeras realidades (escola,
igreja, família, atividades sociais, os seus pares), permitindo, assim, a formação
da sua identidade pessoal e social, levando-se em conta a cultura de seus pares.
Você já ouviu falar em cultura de pares?
A cultura de pares se estabelece quando as crianças compartilham do
mesmo espaço e se relacionam entre elas, promovendo o desenvolvimento
integral e favorecendo a aprendizagem.
A interação entre pares é um dos fatores culturais da infância, pois
“demonstra que a criança é um ser conotativo e atuante que realiza suas
atividades sempre de uma forma distinta das culturas dos adultos sendo
necessário que viva em contato com realidades distintas” (Sarmento; Cerisara,
2004, p. 23).

Além da interação com seus pares, é importante também promover a


construção de um ambiente que favoreça todos os tipos de interações
e possibilite à criança se desenvolver dentro de um espaço satisfatório
para a sua inserção no mundo e expressão de suas riquezas e
realidades, considerando o contexto cultural inserido. Todos os
contextos e espaços são fundamentais para a criança atuar na
perspectiva da interatividade, e da construção cultural. A cultura
direciona o comportamento humano. Uma realidade em constante
transformação e exigências culturais, enfatiza a construção e aquisição
de novos conhecimentos, gerando assim valores e princípios, próprios
daquela cultura. E, por meio da educação escolar, projetos educativos
e sociais são delineados, disseminando valores que promovem
sentidos no cotidiano das pessoas, aqui representadas pelos
professores. As pessoas produzem, no interior da escola, modos de
pensar e de fazer que proporcionam a todos os envolvidos estratégias
e práticas para, dessa maneira, executar as finalidades da instituição
escolar. (Curitiba, 2020)

6
TEMA 3 – PRINCÍPIOS BÁSICOS QUE REGEM A INFÂNCIA

Você sabia que a palavra infância tem origem do latim e significa a


“ausência de fala e dependência”?
Com base nos estudos de Lajolo (2006), desde os primórdios há muitas
concepções de infância, em que a criança era vista como um adulto em
miniatura, depois como um ser diferente do adulto, mas ainda considerado como
uma tábula rasa, predeterminada pelo adulto, pela sociedade. No entanto, o
conceito de infância foi evoluindo ao longo dos anos:

Bebês e crianças se desenvolvem nas interações, nas relações e nas


práticas cotidianas que lhes proporcionamos e naquelas que
estabelecem com os adultos, outros bebês e outras crianças, nos
grupos e contextos culturais nos quais estão inseridos. Nessas
condições, enquanto sujeitos ativos nos processos, ambos interagem,
investigam, brincam, imaginam, desejam, aprendem, observam,
conversam, experimentam, questionam, opinam, criam e dão sentidos
para o mundo e suas identidades pessoal e coletiva. (Curitiba, 2020, p.
14)

A BNCC, ao destacar a educação infantil no contexto da educação básica,


consolida a concepção de educar e brincar, e nessa direção potencializa as
aprendizagens e o desenvolvimento das crianças, assegurando situações em
que a criança possa desempenhar seu papel ativo na sociedade. Com isso,
passou a ser destaque na BNCC os direitos de aprendizagem e desenvolvimento
na educação infantil:

Conviver com outras crianças e adultos, em pequenos e grandes


grupos, utilizando diferentes linguagens, ampliando o conhecimento de
si e do outro, o respeito em relação à cultura e às diferenças entre as
pessoas.
Brincar cotidianamente de diversas formas, em diferentes espaços e
tempos, com diferentes parceiros (crianças e adultos), ampliando e
diversificando seu acesso a produções culturais, seus conhecimentos,
sua imaginação, sua criatividade, suas experiências emocionais,
corporais, sensoriais, expressivas, cognitivas, sociais e relacionais.
Participar ativamente, com adultos e outras crianças, tanto do
planejamento da gestão da escola e das atividades propostas pelo
educador quanto da realização das atividades da vida cotidiana, tais
como a escolha das brincadeiras, dos materiais e dos ambientes,
desenvolvendo diferentes linguagens e elaborando conhecimentos,
decidindo e se posicionando.
Explorar movimentos, gestos, sons, formas, texturas, cores, palavras,
emoções, transformações, relacionamentos, histórias, objetos,
elementos da natureza, na escola e fora dela, ampliando seus saberes
sobre a cultura, em suas diversas modalidades: as artes, a escrita, a
ciência e a tecnologia.
Expressar, como sujeito dialógico, criativo e sensível, suas
necessidades, emoções, sentimentos, dúvidas, hipóteses,
descobertas, opiniões, questionamentos, por meio de diferentes
linguagens.

7
Conhecer-se e construir sua identidade pessoal, social e cultural,
constituindo uma imagem positiva de si e de seus grupos de
pertencimento, nas diversas experiências de cuidados, interações,
brincadeiras e linguagens vivenciadas na instituição escolar e em seu
contexto familiar e comunitário. (Brasil, 2017, p. 40)

Na infância, o brincar caracteriza o cotidiano da infância e traz consigo


muitas aprendizagens e potenciais para o desenvolvimento integral das crianças
Brasil (2017). Ao observar as interações entre as crianças, e entre crianças e
adultos, é possível identificar expressão como afetos, mediação das frustrações,
resolução de conflitos e regulação das emoções. Os processos de
desenvolvimento motor, social, emocional, cognitivo e linguístico da criança
decorrem da interação entre maturidade biológica e as experiências adquiridas
pelo meio físico e social. As experiências proporcionadas pelos contextos sociais
e físicos constituem oportunidades de aprendizagem, que vão contribuir para o
seu desenvolvimento. Assim, podemos dizer que a aprendizagem influencia e é
influenciada pelo processo de desenvolvimento físico e psicológico da criança,
por isso, desenvolvimento e aprendizagem são indissociáveis na infância. Essa
interligação das características intrínsecas de cada criança (o seu património
genético), do seu processo de maturação biológica e das experiências de
aprendizagem vividas faz de cada criança um ser único, com características,
capacidades e interesses próprios, com um processo de desenvolvimento
singular e formas próprias de aprender.
Portanto, o processo de aprendizagem e desenvolvimento esperados
para uma determinada faixa etária não pode ser compreendida como
predeterminadas e fixas, para todas as idades, pois cada criança passa por
referências que permitem situar um percurso individual e singular de
desenvolvimento e aprendizagem. Mesmo que muitas aprendizagens das
crianças aconteçam de forma espontânea, e em ambientes diversos, em que as
diferentes experiências e oportunidades de aprendizagem têm sentido a ligação
entre si. No contexto da infância sempre existe uma intencionalidade educativa.
Isso deve-se ao fato do ambiente ser culturalmente rico e estimulante, para o
desenvolvimento de um processo pedagógico coerente e consistente.

A criança se desenvolve e aprende não apenas no contexto de


educação infantil, mas em todos os espaços que está inserida,
sobretudo no meio familiar, cujas práticas educativas e cultura
influenciam o seu desenvolvimento e aprendizagem. O
reconhecimento da capacidade da criança para construir o seu
desenvolvimento e aprendizagem supõe encará-la como sujeito e
agente do processo educativo, o que significa partir das suas

8
experiências e valorizar os seus saberes e competências únicas, de
modo a que possa desenvolver todas as suas potencialidades. É papel
do professor apoiar e estimular o desenvolvimento e a aprendizagem,
aproveitando o meio social e as interações que os contextos de
educação de infância possibilitam, de modo a que, progressivamente,
as escolhas, opiniões e perspectivas de cada criança sejam
explicitadas e debatidas. Dessa forma, a criança aprende a defender
as suas ideias, a respeitar as dos outros e, simultaneamente, contribui
para o desenvolvimento e aprendizagem de todos. A primeira infância
vai até aos seis anos de idade, e essa é a fase que além do
crescimento físico e do desenvolvimento motor, as crianças adquirem
capacidades de aprendizado, sociabilidade e afetividade que serão
levadas para toda a vida. (Brasil, 2017)

TEMA 4 – A CRIANÇA DA EDUCAÇÃO INFANTIL: CUIDAR E EDUCAR

O que você entende por cuidar, no contexto da educação infantil?

vem se consolidando, na Educação Infantil, a concepção que vincula


educar e cuidar, entendendo o cuidado como algo indissociável do
processo educativo. Nesse contexto, as creches e pré-escolas, ao
acolher as vivências e os conhecimentos construídos pelas crianças
no ambiente da família e no contexto de sua comunidade, e articulá-
los em suas propostas pedagógicas, têm o objetivo de ampliar o
universo de experiências, conhecimentos e habilidades dessas
crianças, diversificando e consolidando novas aprendizagens, atuando
de maneira complementar à educação familiar – especialmente
quando se trata da educação dos bebês e das crianças bem pequenas,
que envolve aprendizagens muito próximas aos dois contextos (familiar
e escolar), como a socialização, a autonomia e a comunicação.. (Brasil,
2017, p. 38)

Cuidar é um dos elementos essenciais das instituições de caráter


educativo para crianças pequenas, pois, “envolve questões afetivas, biológicas,
como alimentação e cuidados com a saúde e higiene da criança e que não há
como ter educação se não há cuidado, ou seja, o cuidar é parte integrante da
educação” (Brasil, 1998).
É importante dar ênfase aos direitos das crianças, pois são seres ativos
em todo o processo. Deve-se haver eficiência no trabalho ao desenvolvimento
da criança, verificando a necessidade da mesma. E o que envolve educar na
educação infantil?
É preciso acompanhar tanto essas práticas quanto as aprendizagens
das crianças, realizando a observação da trajetória de cada criança e
de todo o grupo – suas conquistas, avanços, possibilidades e
aprendizagens. Por meio de diversos registros, feitos em diferentes
momentos tanto pelos professores quanto pelas crianças (como
relatórios, portfólios, fotografias, desenhos e textos), é possível
evidenciar a progressão ocorrida durante o período observado, sem
intenção de seleção, promoção ou classificação de crianças em “aptas”
e “não aptas”, “prontas” ou “não prontas”, “maduras” ou “imaturas”. .
(Brasil, 2017, p. 40)

9
Para as crianças pequenas, segundo a BNCC (Brasil, 2017), é preciso
haver uma intencionalidade educativa nas práticas educativas:

Essa concepção de criança como ser que observa, questiona, levanta


hipóteses, conclui, faz julgamentos e assimila valores e que constrói
conhecimentos e se apropria do conhecimento sistematizado por meio
da ação e nas interações com o mundo físico e social não deve resultar
no confinamento dessas aprendizagens a um processo de
desenvolvimento natural ou espontâneo. Ao contrário, impõe a
necessidade de imprimir intencionalidade educativa às práticas
pedagógicas na Educação Infantil, tanto na creche quanto na pré-
escola. (Brasil, 2017, p. 40)

A etapa inicial da Educação infantil, de acordo com a BNCC, contribui para


o processo de desenvolvimento pleno da criança:

Educação Básica, a Educação Infantil é o início e o fundamento do


processo educacional. A entrada na creche ou na pré-escola significa,
na maioria das vezes, a primeira separação das crianças dos seus
vínculos afetivos familiares para se incorporarem a uma situação de
socialização estruturada. (Brasil, 2017, p. 38)

Nesse sentido, e para ampliar a aprendizagem e o desenvolvimento da


criança, o diálogo e a divisão de responsabilidades entre a instituição de
educação infantil e a família são essenciais.
De acordo com a BNCC (Brasil, 2017, p. 39), as práticas pedagógicas
dessa etapa da educação básica devem:

caracterizar o cotidiano da infância, trazendo consigo muitas


aprendizagens e potenciais para o desenvolvimento integral das
crianças. Ao observar as interações e a brincadeira entre as crianças
e delas com os adultos, é possível identificar, por exemplo, a expressão
dos afetos, a mediação das frustrações, a resolução de conflitos e a
regulação das emoções.

A interação da criança com o processo do brincar caracteriza o cotidiano


da infância e traz muitas aprendizagens e potenciais para o desenvolvimento. O
professor ou o adulto, ao observar as interações e a brincadeira entre as
crianças, pode identificar as expressões de afeto, frustrações, conflitos e a
regulação das emoções.

TEMA 5 – DESAFIOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL NA CONTEMPORANEIDADE

Para acompanhar os desafios da educação infantil na


contemporaneidade, o professor precisa refletir, selecionar, organizar, planejar,
mediar e monitorar o conjunto das práticas e interações necessárias para o

10
desenvolvimento da autonomia da crianças, garantindo a pluralidade de
situações que promovam a ampliação do conhecimento das crianças.
Paulo Freire (2002) destaca que:

Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para


a sua própria produção ou a sua construção. Sendo assim, através do
lúdico o educador da educação infantil pode proporcionar essa
produção e construção do conhecimento. (Freire, 2002)

Na contemporaneidade, há muitos desafios, e o professor necessita


trabalhar com alunos criando situações por meio de interação social para ampliar
suas capacidades de apropriação dos conceitos, dos códigos sociais e das
diferentes linguagens, por meio da expressão e comunicação de sentimentos e
ideias, da experimentação, da reflexão, da elaboração de perguntas e respostas,
da construção de objetos e brinquedos.
É necessário o professor dar importância às singularidades das crianças
de diferentes idades, assim como também à diversidade de hábitos, costumes,
valores, crenças, etnias etc. das crianças com as quais trabalha, respeitando
suas diferenças e ampliando suas pautas de socialização.
Nos momentos atuais, o papel do professor é de mediador, e a criança é
a protagonista. É preciso propiciar espaços e situações de aprendizagens que
articulem os recursos e capacidades afetivas, emocionais, sociais e cognitivas
de cada criança aos seus conhecimentos prévios e aos conteúdos referentes
aos diferentes campos de conhecimento humano.

NA PRÁTICA

Agora você já conhece os aspectos fundamentais da infância e da


educação infantil, além da forma como ocorre o processo de constituição da
cultura nesse espaço, os pressupostos teóricos e metodológico que embasam o
fazer pedagógico.
Com base nos estudos realizados nesta aula, reflita sobre a forma como
o professor de educação infantil poderá desenvolver um trabalho em sala que
auxilie na formação de sujeitos mais colaborativos e éticos no trato consigo, com
o outro e com a natureza, considerando os princípios do cuidar, educar e brincar.
Considerando que vivemos em uma sociedade que prima pela formação
individualista e meritocrática, você acredita que isso realmente é possível?

11
Destaque exemplos de atividades e brincadeiras que possam auxiliar
nessa transformação e trazer à tona uma formação mais humanista e
preocupada com o próximo.

FINALIZANDO

Finalizamos esta aula. Durante nossas discussões, você conheceu um


pouco mais a respeito da educação infantil, principalmente no que se refere aos
aspectos da infância, à cultura que orienta e organiza essa etapa do ensino e a
seus princípios do cuidar, brincar e educar.
Esses conteúdos são fundamentais para sua formação, pois embasam o
conhecimento dos demais conceitos que estão por vir, além de auxiliá-lo em sua
prática com a educação infantil.
Esses conhecimentos podem ajudar você a compreender realidade
escolar, as relações estabelecidas, sejam elas políticas, econômicas, sociais,
culturais, históricas, éticas ou estéticas. Esperamos que tenha gostado!
Aguardamos você numa próxima etapa com um pouquinho mais sobre a
educação infantil, sua realidade e o desenvolvimento de seu trabalho.

12
REFERÊNCIAS

BRASIL. Emenda Constitucional n. 59, de 11 de novembro de 2009. Diário


Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 12 nov. 2009.

_____. Lei n. 9.394, 20 de dezembro de 1996. Diário Oficial da União, Poder


Legislativo, Brasília, DF, 23 dez. 1996.

BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília:


Ministério da Educação, 2017. Disponível em:
<http://www.basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_ve
rsaofinal_site.pdf>. Acesso em: 10 ago. 2021.

BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria da Educação


Fundamental. Departamento de Política da Educação Fundamental.
Coordenação Geral de Educação Infantil. Referencial Curricular Nacional para
a Educação Infantil. Brasília: MEC, 1998.

CARVALHO. R. G. Cultura global e contextos locais: a escola como instituição


possuidora de cultura própria. Revista Ibero Americana de Educação, v. 39, n.
2, 2006.

CORSARO, W. A. A reprodução interpretativa no brincar ao “Faz de Conta”


das crianças. Porto: Educação Sociedade & Culturas, 2002.

CURITIBA. Currículo da Educação Infantil: diálogos com a BNCC. Curitiba:


Prefeitura Municipal de Curitiba, Secretaria Municipal da Educação,
Superintendência de Gestão Educacional, Departamento de Educação Infantil,
2020.

FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa.


17. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2002 (Coleção Leitura).

GEERTZ, C. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: Zahar, 1978.

LAHIRE, B. A cultura dos indivíduos. Porto Alegre: Artmed, 2006.

LAJOLO, M. Do mundo da leitura para a leitura do mundo. 6. ed. São Paulo:


Ática, 2008.

NÓVOA, A. As organizações escolares em análise. Lisboa: Nova


Enciclopédia, 1998.

13
SARMENTO, M. J.; CERISARA, A. B. Crianças e miúdos: perspectivas
sociopedagógicas da infância e educação. Lisboa: Asa Editores S.A., 2004.

VIGOTSKI, L. S. Psicologia pedagógica. Porto Alegre: Artmed, 2003.

14

Você também pode gostar