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EDUCAÇÃO INFANTIL –

CONTEÚDOS, TENDÊNCIAS E
METODOLOGIAS
AULA 5

Profª Janice Mendes


CONVERSA INICIAL

Olá, aluno. Seja bem-vindo a mais uma aula sobre Educação Infantil,
conteúdos, tendências e metodologias.
Nessa aula, você vai conhecer sobre a importância do brincar para a
formação social da criança, assim como a brincadeira como elemento que
constitui o processo de aprendizagem, desenvolvimento e linguagem.
Saber como a prática docente influencia no processo de aprendizagem é
fundamental para todo educador. Portanto, você vai compreender como a
ludicidade, as brincadeiras como jogo simbólico e as atividades pedagógicas por
meio do brincar estão diretamente ligadas ao processo de ensinar.
Acompanhe!

TEMA 1 – O BRINCAR E A FORMAÇÃO SOCIAL DA CRIANÇA

As práticas pedagógicas da etapa da Educação Básica são construídas


por meio das ações e interações com seus pares e com os adultos, das
brincadeiras, da mediação e das experiências nas quais as crianças constroem
e apropriam seus conhecimentos. Todos esses elementos favorecem e
possibilitam a aprendizagem, desenvolvimento e socialização.
Você sabe a importância da interação da criança durante as brincadeiras?
O brincar representa o cotidiano da infância, e traz consigo a imaginação,
a representatividade da realidade, além de muitas aprendizagens e potenciais
para o desenvolvimento integral das crianças. Brincar desenvolve a identidade e
a autonomia da criança; por isso, é uma das atividades fundamentais dessa fase
da infância.
Quando a criança interage e brinca com seus colegas e também com os
adultos, ela está desenvolvendo e demonstrando afetos, resolução das
frustrações, gerenciando conflitos e a controlando suas emoções. É por meio da
brincadeira que a criança expressa seus sentimentos, conhece a si e ao outro e
explora o ambiente no qual está inserida.
Segundo a BNCC (2017), é na etapa da educação infantil que a criança
amplia seu conhecimento de mundo:

A Educação Infantil precisa promover experiências nas quais as


crianças possam fazer observações, manipular objetos, investigar e
explorar seu entorno, levantar hipóteses e consultar fontes de
informação para buscar respostas às suas curiosidades e indagações.

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Assim, a instituição escolar está criando oportunidades para que as
crianças ampliem seus conhecimentos do mundo físico e sociocultural
e possam utilizá-los em seu cotidiano. (BNCC, 2017)

Vergnhanini (2011) afirma que, ao brincar, a criança amplia seu


vocabulário, nomeia objetos, utiliza e adapta expressões do dia a dia, dialoga
com outras crianças e interage com os brinquedos, estabelecendo assim
relações entre as brincadeiras simbólicas (jogos de faz de conta) e outras formas
de linguagem.
Outras situações que promovem o desenvolvimento da criança por meio
da brincadeira são as situações conflituosas e os desafios que surgem nestes
momentos, como dividir brinquedos, estabelecer papéis em uma
brincadeira, construir um novo brinquedo, entre outros fatores que solicitam da
criança a capacidade de mediar a situação. O que promove o desenvolvimento
e a aprendizagem

1.1 A função social do brinquedo no desenvolvimento infantil

A origem do brincar é explicada através da relação entre a cultura e o


indivíduo. O desenvolvimento e aparecimento do jogo estão ligados às
transformações dos instrumentos, atividades e relações de trabalho. Os objetos
lúdicos têm uma modificação histórica e exigem capacidades múltiplas cada vez
mais refinadas.
Muitos teóricos e estudiosos da educação partem do pressuposto de que
o homem está diretamente ligado à sua cultura e condições sociais que afetam
sua vida. Completando esse conceito, é possível compreender que a atividade
com brinquedos e os jogos também consideram o contexto cultural e social das
crianças.
Para Winnicott (1982), o brincar ultrapassa o sentimento de externalizar a
realidade, ou o que a criança está sentindo, pois é no brincar que a criança
adquire experiência para as situações reais do dia a dia.
Para Leontiev (1978), o brinquedo surge a partir de dois processos:
necessidade da criança e aumento da consciência em relação ao mundo. Com
isso, a criança passa a perceber o mundo adulto e a relação entre eles desperta
a necessidade de realização e apropriação do mundo e dos objetos adultos.
Assim, é possível entender que desenvolvimento infantil ocorre e sobre
influências do brincar e das relações com os outros. Para Rocha (2000), o

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brinquedo se constitui o mais alto nível do desenvolvimento infantil, pois a
criança se desenvolve, essencialmente, por meio da atividade do brinquedo.
Sobre as experiências adquiridas por meio do brinquedo e da brincadeira,
Winnicott (1982):

A criança adquire experiência brincando. A brincadeira é uma parcela


importante da sua vida. As experiências tanto externas como internas
podem ser férteis para o adulto, mas para a criança essa riqueza
encontra-se principalmente na brincadeira e na fantasia. Tal como as
personalidades dos adultos se desenvolvem através de suas
experiências da vida, assim as das crianças evoluem por intermédio de
suas próprias brincadeiras e das invenções de brincadeiras feitas por
outras crianças e por adultos. (Winnicott, 1982, p. 163)

Agora que você compreendeu sobre a importância do brincar, chegou a


hora de entender o conceito de jogo e brinquedo! Acompanhe!
O jogo é um elemento fundamental no desenvolvimento psíquico da
criança, assumindo um papel central na hominização. Essa atividade foi
investigada por Vygotsky, Leontiev e Elkonin de uma maneira sistematizada.
Para Vygotsky, o brinquedo está relacionado ao desenvolvimento das
funções psicológicas superiores e sobre o papel da linguagem no mesmo,
investigando o que motiva a ação da criança no brinquedo (Camargo et al.,
2021).
Elkonin (1998), apoiado em Vygotsky, busca entender através de um olhar
antropológico que permite observar diferentes culturas e sociedades,
explicitando a relação das mudanças sociais com a mudança nas atividades
lúdicas.
Já Leontiev (1988) analisa os brinquedos e os jogos como potenciais
influenciadores no desenvolvimento e nas modificações do psiquismo humano,
além de entender as ações e operações humanas sobre ele.
Você sabia que os primeiros objetos lúdicos foram construídos como
réplicas de instrumentos e ferramentas de trabalho? O que diferenciava do objeto
real era o tamanho e a finalidade do uso desse objeto. Com essa apresentação
histórica, é possível perceber que, ao longo da história, a criança aprendia a
repetir, no cotidiano, as práticas vivenciadas pelos adultos.
Mas, ao longo do tempo, os brinquedos foram criando diferentes formas,
havendo distanciamento entre os objetos lúdicos e os de trabalho. Os objetos
lúdicos se tornam cada vez mais atrativos, dinâmicos, criativos e simbólicos,
gerando as condições para o aparecimento do jogo e das brincadeiras de faz de
conta.
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Camargo (et al., 2021) apresenta três categorias para a atividade lúdica:
o objeto, a ação e a mediação social, cada uma delas com suas influências:

A ação da criança no objeto está relacionada com a cultura na qual


está inserida. A presença do outro na relação da criança com o
brinquedo é fundamental, já que esta apresenta o objeto à criança,
disponibilizando-o e agindo com a criança. (Camargo et al., 2021, p. 1)

A linguagem é outro fator importante na atividade das crianças com o


brinquedo, pois, ao manipular o objeto, há também da apropriação dos modos
de ação sobre ele formados, fixados e socialmente transmitidos, principalmente
através da palavra.
Quando se pensa no desenvolvimento da criança a partir do objeto
brinquedo, deve-se pensar nas atividades que geram a significado aos objetos e
às ações sobre ele. Sendo assim, é possível entender que a atividade prática e
utilitária do objeto está relacionada às propriedades do objeto e suas funções.
Já a atividade com significação dos objetos está relacionada com a natureza
social do objeto e sua utilização.
Para Elkonin (1998), os objetos satisfazem as necessidades da criança,
num mundo de representações e signos. Ele analisa o aparecimento da atividade
lúdica relacionado aos aspectos biológicos: maturidade visual, controle das
mãos, coordenação entre as ações.
É por meio da atividade lúdica que a criança se apropria do seu próprio
mundo e mundo real, para a construção do sujeito histórico. Na atividade lúdica,
a criança é capaz de se tornar aquilo que, no mundo real, ela não é, agir com
objetos aos quais ela ainda não tem acesso e interagir de acordo com padrões
fora dos que lhe são determinados.
É nesse processo que a criança tem os primeiros contatos com a cultura,
incorporando-a e criando sua própria cultura.
Leontiev (1978) considera a atividade lúdica como a principal atividade da
criança, sendo considerada não a atividade quantitativa, mas aquela com a qual
ocorrem mudanças mais importantes no desenvolvimento, e por meio da qual
ocorrem as transições em direção a um nível mais elevado de desenvolvimento
e a novos tipos de atividade.
Com isso, é possível entender que o brinquedo e a brincadeira tem grande
relevância no desenvolvimento infantil devido a sua função social, pois é na
relação com o brinquedo, dos órgãos dos sentidos, a função sensorial, a função
motora e a emocional que a criança explora e aprende de forma concreta sobre
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o mundo exterior, além de desenvolver as funções intelectuais, o brinquedo cria
oportunidades para a criança elaborar e vivenciar situações emocionais e
conflitos sentidos no dia a dia.

TEMA 2 – O BRINCAR E A FETICHIZAÇÃO DA PRODUÇÃO CULTURAL PARA


A CRIANÇA

Segundo a BNCC (2017), as brincadeiras e interações são eixos


estruturantes do currículo de Educação Infantil. Por isso, o espaço formal de
educação tem o papel de garantir a vivência lúdica em seu interior, incentivando
a produção cultural das crianças.
Mas vale a pena destacar que a brincadeira é resultado da motivação e
interesse da criança. Leontiev (1978) afirma que a motivação da criança frente à
atividade lúdica é fator fundamental para o seu desenvolvimento.
Independentemente do resultado, é o processo é que motiva a criança a brincar.
No entanto, a criança não tem consciência dos fatores que a motivaram a
brincar, mas o desenvolvimento psicológico que é proporcionado pelo momento
da brincadeira ocorre sem a intencionalidade da criança. Brougère (1997) explica
com clareza sobre as relações desenvolvidas a partir da brincadeira.

A criança está inserida, desde o seu nascimento, num contexto social


e seus comportamentos estão impregnados por uma imersão
inevitável. Não existe na criança uma brincadeira natural. A brincadeira
é um processo de relações interindividuais, portanto de cultura. É
preciso partir dos elementos que ela vai encontrar em seu ambiente
imediato, em parte estruturado por seu meio, para se adaptar as suas
capacidades. A brincadeira pressupõe uma aprendizagem social.
Aprende-se a brincar. A brincadeira não é inata, pelo menos nas
formas que ela adquire junto ao homem. (Brougère, 1997)

Com base na afirmação de Brougère (1997), as brincadeiras apresentam


inúmeras possibilidades educativas, pois, por meio da mediação dos adultos ou
pela própria relação entre pares, a brincadeira constrói a diversidade de valores,
crença, formas de composição e criação; consequentemente, a brincadeira
passa a ser uma prática educativa e de produção de culturas.
Mas qual é de fato a relação entre as brincadeiras e a produção de
culturas, quando há essa interação entre as crianças?
As crianças produzem diversas formas de relações sociais, extrapolando
a vida cotidiana. Além disso, Brougère (1997) analisa a relação cultura e

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brincadeira da seguinte forma: a brincadeira assimila e/ou destrói qualquer
distância de culturas.
Fantin (2000) destaca que a base do tripé “dimensões psicológicas,
cognitivas, sociais e culturais” é a brincadeira. Ou seja, a brincadeira é o
elemento da cultura, que está diretamente ligado ao desenvolvimento infantil, a
linguagem e forma de expressão.

Dessa forma, a brincadeira permite às crianças instaurarem diversas


formas de comunicação entre pares e/ou com os adultos, tanto no
plano verbal quanto no não verbal. É neste sentido que podemos dizer
que as rotinas do brincar elaboram formas de apropriação e construção
da cultura, de uma cultura compartilhada entre grupos que
estabelecem qualquer tipo de comunicação. Essa apropriação e
construção se dá por meio de múltiplas interações e por isso é
necessário que prestemos atenção nas formas de comunicação das
crianças, ou mesmo, nas suas formas de produções culturais
expressas e significadas pelo coletivo de crianças. (Fantin, 2000)

Considerando os apontamentos da BNCC (2017, p. 42), no Campo de


Experiência, “O eu, o outro e o nós”, “é na interação com os pares e com adultos
que as crianças vão constituindo um modo próprio de agir, sentir e pensar e vão
descobrindo que existem outros modos de vida, pessoas diferentes, com outros
pontos de vista”.
Suas primeiras experiências sociais ocorrem no meio familiar, na
instituição escolar, nos espaços em que vivem e na coletividade, e é com essas
relações que a criança constrói percepções e questionamentos sobre si e sobre
os outros, diferenciando-se e, simultaneamente, identificando-se como seres
individuais e sociais. BNCC (2017, p. 42)

Brincar cotidianamente de diversas formas, em diferentes espaços e


tempos, com diferentes parceiros (crianças e adultos), ampliando e
diversificando seu acesso a produções culturais, seus conhecimentos,
sua imaginação, sua criatividade, suas experiências emocionais,
corporais, sensoriais, expressivas, cognitivas, sociais e relacionais.
(BNCC, 2017)

É na brincadeira que a criança participa das relações sociais, desenvolve


os cuidados pessoais e constroi sua autonomia e senso de autocuidado, de
reciprocidade e de interdependência com o meio. Com isso, é fundamental que,
na Educação Infantil, o corpo docente ofereça oportunidades para que as
crianças entrem em contato com outros grupos sociais e culturais, outros modos
de vida, diferentes atitudes, técnicas e rituais de cuidados pessoais e do grupo,
costumes, celebrações e narrativas (BNCC, 2017).

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Assim, poderão ampliar o modo de perceber a si mesmas e ao outro,
compreender e valorizar a sua identidade e a do outro, reconhecer as diferenças
que nos constituem como seres humanos e respeitar os outros.

TEMA 3 – A DIMENSÃO PEDAGÓGICA DA BRINCADEIRA

Já vimos que a brincadeira é um universo simbólico, criado pela criança e


seus pares, em que são eles que reconstroem e representam sua realidade, suas
fantasias e suam cultura, além de aprender a dividir objetos, compartilhar regras,
criança tem liberdade para agir, e estabelecer inúmeras relações com seus pares
e juntos fazem descobertas e adquirem novos conhecimentos.
Portanto, é possível considerar a brincadeira como eixo fundamental da
dimensão pedagógica! Mas é possível relacionar o currículo da educação infantil
à brincadeira?
A resposta é sim, pois é possível ensinar e desenvolver muitos conteúdos
e conceitos podem ser ensinados por meio da brincadeira e da ludicidade. As
atividades com jogos ou brinquedos ao estarem relacionada aos objetivos
didático-pedagógicos, promovem o desenvolvimento integral do educando.
A brincadeira é um instrumento mediador no processo didático-
pedagógico, e se torna uma importante ferramenta para o desenvolvimento
cognitivo, motor, afetivo, psicológico e social da criança em formação.
A dimensão pedagógica da brincadeira destaca a criação de espaços e
tempos permitindo a realização de jogos, brincadeiras, instituindo estratégias e
a evolução integral da criança.
Veja o que diz Macedo (2003) e Kishimoto (2003) sobre o papel da escola
no contexto da brincadeira:

A escola pode e deve ser um lugar de brincadeiras e jogos (livres ou


dirigidos), de atividades que significativas para a criança, que
estimulem seu pensamento e sua criatividade. (Macedo, 2003)

A escola tem uma natureza própria distinta do jogo e do trabalho.


Entretanto, ao incorporar algumas características tanto do trabalho
como do jogo, a escola cria a modalidade do jogo educativo, destinada
a estimular a moralidade, o interesse, a descoberta, e a reflexão.
(Kishimoto, 2003)

Por isso, as escolas de educação infantil devem ter espaços e recursos


que promovam condições para as crianças brincarem de forma livre e dirigida,
para docentes mediarem condições lúdicas aos educandos.

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Você sabe a diferença entre brincadeira livre e dirigida? E qual sua relação
na dimensão pedagógica?

• Livre: em que a criança se expressa e desenvolve sua criatividade, o


professor não interfere, apenas observa e, nesse brincar espontâneo,
podemos diagnosticar as ações da criança;
• Dirigida: a criança tem uma meta a alcançar, estabelecida pelo professor,
o professor é o orientador, mediador e deve ser parceiro nesse processo.

Mas qual o papel do professor no momento da brincadeira?


Cabe ao professor observar e analisar individualmente os avanços e
necessidades de cada criança, além de analisar sua própria prática, e se
necessário reorganizar sua proposta de trabalho pedagógico, implementando
novas estratégias que contemplem efetiva evolução e desenvolvimento da
criança.

TEMA 4 – A PRÁTICA DOCENTE E A LUDICIDADE DAS INFÂNCIAS

É comum confundir o conceito de brincar com ludicidade. A palavra


ludicidade vai além do significado de brincar. Afinal, neste brincar, estão
incluídos os jogos, brinquedos, imaginações, criações, objetos representativos e
divertimentos livres e dirigidos. É preciso considerar que a conduta da criança
no contexto da ludicidade é ampla e relativa, pois o comportamento de quem
joga difere do comportamento de quem brinca e quem se diverte.
Por sua vez, a função educativa da ludicidade favorece a aprendizagem
do indivíduo, seu saber, seu conhecimento e sua compreensão de mundo.
Wadsworth (1984, p. 44) cita em seus estudos a análise realizada por
Piaget sobre o jogo lúdico:

o jogo lúdico é formado por um conjunto linguístico que funciona dentro


de um contexto social, possui um sistema de regras e se constitui de
um objeto simbólico que designa também um fenômeno. Portanto,
permite ao educando a identificação de um sistema de regras que
permite uma estrutura sequencial que especifica a sua moralidade.

Dessa forma, entende-se que a ação lúdica favorece situações


educativas, cooperativa e interacional, pois, quando a criança está participando
de uma jogada, ela está cumprindo as regras pré-estabelecidas do jogo e, ao
mesmo tempo, ampliando o conhecimento sobre ações de cooperação,

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interação e convivência em grupo. Knaut (2012, p. 24) aponta sobre a ação
lúdica e sua relação com as situações educativas:

Ao pensar na criança, reflete-se no brincar. No entanto, quando se trata


de brincar na Educação Infantil, principalmente com bebês, a
sistematização e o planejamento se tornam um tanto quanto
“desajustados”. Para que a proposta seja encaminhada de forma a
considerar a brincadeira e o jogo como recursos do processo de ensino
e aprendizagem, é importante lembrar que, o que importa é o processo,
e não o resultado. (Knaut, 2012, p. 24)

Para Knaut (2012), a criança começa a brincar desde o momento em que


está no berço, pois, ao mexer seus pés, estes podem se tornar um brinquedo; e
a mesma coisa acontece quando a criança descobre as mãos, e depois o todo o
corpo.
Nessa mesma fase, em que o bebê que está no berço começa a conhecer
o corpo, a criança começa a agir sobre os objetos, e passa a fase de novas
descobertas com intuito exploratório.
De acordo com Knaut (2012), o professor deve deixar um espaço
delimitado na sala, de forma que este fique livre para que as crianças possam
se movimentar. Em seguida, deve disponibilizar nesse espaço vários materiais,
como um dado gigante colorido, uma bola grande, uma caixa de papelão (do
tamanho de uma caixa de sapato), um cesto, um livro, um bambolê e um cone.
Os materiais devem ficar espalhados dentro do espaço delimitado. Então, o
professor deve chamar as crianças e mediar a exploração dos diferentes objetos
por elas.
Na BNCC (2017), a ludicidade da ênfase direitos das crianças, sendo
um deles o brincar, pois:

O brincar cotidianamente de diversas formas, em diferentes espaços e


tempos, com diferentes parceiros (crianças e adultos), ampliando e
diversificando seu acesso a produções culturais, seus conhecimentos,
sua imaginação, sua criatividade, suas experiências emocionais,
corporais, sensoriais, expressivas, cognitivas, sociais e relacionais.

A BNCC (2017) também traz os campos de experiências, sendo que um


deles é corpo, gestos e movimentos:

[...] com o corpo (por meio dos sentidos, gestos, movimentos


impulsivos ou intencionais, coordenados ou espontâneos), as crianças,
desde cedo, exploram o mundo, o espaço e os objetos do seu entorno,
estabelecem relações, expressam-se, brincam e produzem
conhecimentos sobre si, sobre o outro, sobre o universo social e
cultural, tornando-se, progressivamente, conscientes dessa
corporeidade. Por meio das diferentes linguagens, como a música, a

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dança, o teatro, as brincadeiras de faz de conta, elas se comunicam e
se expressam no entrelaçamento entre corpo, emoção e linguagem.

Por meio da brincadeira e da mediação dos adultos, a crianças conhece


as funções de seu corpo e reconhecem as sensações emitidas por ele. A partir
dos seus gestos e movimentos, elas identificam seus limites; ao mesmo tempo,
superam-nos e potencialidades suas habilidades, ou seja, a criança passa a ter
consciência sobre o que é seguro e o que pode ser perigoso.
É na etapa da Educação Infantil que o conhecimento sobre o corpo ganha
centralidade no conhecimento e desenvolvimento das crianças; afinal, é o seu
corpo que está participando ativamente das práticas lúdicas e pedagógicas, do
cuidado físico. Assim, a criança está desenvolvendo a emancipação e a
liberdade.
É por isso que a escola deve oportunizar atividades lúdicas, promovendo
a exploração e a vivência um amplo repertório de movimentos, gestos, olhares,
sons e mímicas com o corpo, para descobrir variados modos de ocupação e uso
do espaço com o corpo (como sentar com apoio, rastejar, engatinhar, escorregar,
caminhar apoiando-se em berços, mesas e cordas, saltar, escalar, equilibrar-se,
correr, dar cambalhotas, alongar-se etc.) (Freitas; Becker, 2020).

TEMA 5 – AS BRINCADEIRAS COMO JOGO SIMBÓLICO E AS ATIVIDADES


PEDAGÓGICAS POR MEIO DO BRINCAR

A origem do jogo, para Vygotsky (1987), considera três processos:


satisfação imediata das necessidades, necessidades não satisfeitas e
transformações operadas na memória.
São essas transformações que permitem à criança registrar e conservar
novas experiências. Esses três processos geram um conflito na criança, que
necessariamente sente vontade de mudar seu comportamento e ampliar suas
possibilidades de conhecimento e domínio sobre o objeto ou sobre o contexto.
Mas o que difere o jogo simbólico dos outros tipos de brincadeira?
O jogo simbólico é a relação entre o mundo real, em que a criança está
inserida, e o mundo imaginário, que ela fantasia, e se permite aproximar, viver e
enfrentar alguns medos e limitações de forma diferente e criativa.
Sobre a função simbólica do jogo, Piaget (1975) destaca que, a partir do
segundo ano de vida da criança, por meio de símbolos, da imaginação e da

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reprodução da vida cotidiana, representar com a imitação, com imagem mental,
com o jogo simbólico, com a linguagem e com o desenho.
É nesse período que a inteligência será constituída por um pensamento a
ser representado por meio da linguagem (signos coletivos) e símbolos individuais
(imitação diferida, imagem mental e jogo simbólico).
Piaget (1996) explica que ocorre uma assimilação deformante nesse
processo do jogo simbólico. Conforme suas palavras:

Considerada sob esse ângulo social, essa assimilação deformante


consiste em uma espécie de egocentrismo do pensamento tal que este,
ainda insubmisso às normas da reciprocidade intelectual e da lógica,
busca mais a satisfação do que a verdade e transforma o real em
função da afetividade própria. (Piaget, 1996)

Piaget (2002) explica que “entre essas duas formas de pensamentos,


encontra-se a grande maioria dos atos da criança, a qual oscila entre estas duas
direções opostas”.
No início do estágio pré-operatório, predomina a forma de pensamento
egocêntrico, que é representado sob uma forma mais pura por meio do jogo, a
que Piaget (2002) chamou de jogo simbólico.
É no estágio pré-operatório que o jogo simbólico ou jogo de imaginação e
imitação se manifesta como um pensamento único da criança, quase um
pensamento egocêntrico. Para Piaget (1959), esse pensamento é a “absorção
do eu nas coisas e no grupo social, absorção tal que o sujeito imagina conhecer
as coisas e as pessoas por elas mesmas”.
Delval (1998), baseado nas ideias de Piaget, acrescenta que, com o jogo
simbólico, a criança se torna capaz de transformar as situações vividas no seu
cotidiano, situações estas que são controladas pelos adultos, que estão a sua
volta, por meio de normas e regras muito rígidas, as quais, muitas delas, ela não
consegue compreender.
Diante disso, é fato que a escola e o corpo docente devem apresentar
possibilidades que o jogo simbólico proporciona como um meio para expressar
seus desejos e conflitos para poder adaptar-se a esse mundo.

NA PRÁTICA

No decorrer deste tema, discutimos a respeito da importância do lúdico na


educação infantil, suas fantasias e sua cultura, além de aprender a dividir
objetos, compartilhar regras, criança tem liberdade para agir e estabelecer

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inúmeras relações com seus pares e juntos fazem descobertas e adquirem
novos conhecimentos.
Mas será que atualmente as crianças estão estabelecendo relações com
seus pares e fazendo descobertas? Afinal, vivemos em uma época em que as
crianças passam os dias em frente às televisões, aos computadores, tablets,
celulares e jogos eletrônicos.
Construa um catálogo, que possam consultar mais tarde, contendo
brincadeiras e jogos infantis tradicionais ou modernos, que propiciam o
desenvolvimento e a aprendizagem para crianças de 0 a 5 anos, pois, para
conhecer as crianças e desenvolver um bom trabalho com elas, é essencial
conhecer suas brincadeiras.
Destaque as brincadeiras e jogos em que o coletivo e a convivência em
grupo são valorizados em detrimento do individualismo e da competição.

FINALIZANDO

Chegamos ao final de mais uma etapa de estudo. Parabéns por chegar


até aqui!
Nessa caminhada, você aprendeu a respeito da dimensão lúdica no
processo de desenvolvimento das crianças, o processo de brincar, a função
social, o papel do professor e o como a cultura midiática interfere no
desenvolvimento e na aquisição do conhecimento infantil.
Ficou evidente a importância do lúdico para a infância, assim como a
importância de se ofertar a possibilidade de viver e conviver, de trocar
experiências e formar hipóteses a respeito das relações que cada uma
estabelece no sentido em que é pelo brincar que a criança se constitui,
compreende-se e compreende o mundo.
Então, vamos brincar!

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REFERÊNCIAS

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