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03/05/2023, 14:27 UNINTER

POLÍTICAS PÚBLICAS PARA


EDUCAÇÃO DE JOVENS E
ADULTOS
AULA 2

Prof.ª Vania Andretta Ratto

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CONVERSA INICIAL

Ao apresentar a trajetória de vida de Paulo Freire, podemos acompanhar as suas grandes

contribuições ao longo de sua vida para a Educação de Jovens e Adultos na América Latina, o que

possibilita compreender a ampliação do conceito de educação enquanto processo constante de

criação do conhecimento e de busca da transformação social.

Ele foi uma das principais referências da educação brasileira, cujos pensamentos foram
amplamente discutidos, estudados e aplicados na Educação de Jovens e Adultos na América Latina,

principalmente por ter criado um método de ensino inovador capaz de transformar a sociedade.

TEMA 1 – PAULO FREIRE: EDUCADOR, FILÓSOFO E ESCRITOR

Considerando a influência de Paulo Freire, educador e filósofo brasileiro, no cenário educacional

do país como precursor da Educação de Jovens e Adultos – EJA, faz-se necessário destacar a

importância relevante de seu trabalho na alfabetização de jovens e adultos, suas contribuições para o
Brasil e a América Latina, bem como na defesa da autonomia intelectual de seus alunos, pois

considerava que essa era a chave do processo educacional.

Paulo Reglus Neves Freire nasceu em 19 de setembro de 1921, na cidade de Recife-PE. Cresceu

junto de seu pai Joaquim Temístocles Freire, capitão da Polícia Militar de Pernambuco, e de sua mãe

Edeltrudes Neves Freire, Dona Tudinha, da sua irmã, Stela, e dos seus dois irmãos, Armando e

Temístocles.

Sua história de vida foi marcada também pelos seus irmãos. Temístocles havia entrado para o

Exército; Armando havia abandonado os estudos aos 18 anos, não chegando sequer a concluir o

curso ginasial, e era funcionário da prefeitura, e Stela era professora primária do Estado.

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Os irmãos começaram a trabalhar muito jovens para ajudar na manutenção da casa e assim

possibilitar que Paulo Freire continuasse estudando o curso ginasial no Colégio 14 de Julho, no

centro de Recife. Com 13 anos, eles perderam o pai e coube à mãe a responsabilidade de sustentar

todos os quatro filhos.

Por ter vivenciado a crise de 1929, que teve como causa a forte recessão econômica que atingiu

o capitalismo internacional no final da década de 1920, Paulo Freire experimentou a pobreza e a

fome durante a infância, que marcaram profundamente sua vida – preocupando-se com os mais

pobres, ajudando assim a construir seu revolucionário método de alfabetização que inspirou muitas
gerações de docentes, especialmente na América Latina e na África.

Sem condições de continuar pagando a escola, sua mãe pediu ajuda ao diretor de Colégio

Oswaldo Cruz, que lhe concedeu matrícula gratuita e o colocou como auxiliar de disciplina, passando

a ser posteriormente professor de Língua Portuguesa.

Em 1943, Paulo Freire ingressou na Faculdade de Direito de Recife, e, depois de formado,

continuou atuando como professor de Português no colégio em que iniciara os estudos, atuando

também como professor de Filosofia da Educação na Escola de Belas Artes da Universidade Federal

de Pernambuco.

Em 1944, Paulo Freire casou-se com Elza Maria Costa de Oliveira, professora primária, com quem

teve cinco filhos; após a morte dela, se casou com Ana Maria Araújo Freire, conhecida como Nita

Freire, que era uma aluna que ele havia conhecido no Colégio Oswaldo Cruz, com quem permaneceu

até a sua morte, em 1997.

Em 1947, foi nomeado diretor do setor de Educação e Cultura do Serviço Social da Indústria, e,

em 1955, juntamente com outros educadores fundou, no Recife, o Instituto Capibaribe, uma escola

que inovou e atraiu muitos intelectuais da época, e que continua em plena atividade.

Com seu grande talento como escritor, conquistou muitos pedagogos, cientistas sociais,

teólogos e militantes políticos, quase sempre ligados a partidos de esquerda, já que, de acordo com

o próprio autor:

Sou professor a favor da luta constante contra qualquer forma de discriminação, contra a
dominação econômica dos indivíduos ou das classes sociais. Sou professor contra a ordem
capitalista vigente que inventou esta aberração: a miséria na fartura. Sou professor a favor da
esperança que me anima apesar de tudo. (Freire, 2011)

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Em 1959, Paulo Freire passou a assumir a cadeira de História e Filosofia da Educaçãona Escola de

Belas Artes da Universidade de Recife, com a tese “Educação e atualidade brasileira”.

TEMA 2 – MÉTODO PAULO FREIRE

No ano de 1961, Paulo Freire assumiu o cargo de diretor do Departamento de Extensões

Culturais, da Universidade de Recife, o que possibilitou que ele realizasse as primeiras experiências

mais amplas no ensino para adultos e culminou na experiência de Angicos. Esta certamente foi uma

das maiores realizações de Paulo Freire no Brasil, quando, em 1963, ele passou a coordenar uma

equipe de professores que criaram uma escola de alfabetização em uma pequena cidade do sertão

do Rio Grande do Norte, chamada Angicos.

Essa cidade tinha uma alta taxa de trabalhadores pobres e analfabetos, onde Paulo Freire

selecionou 300 adultos, cortadores de cana, que em apenas 45 dias de estudo e com baixo custo

foram alfabetizados e estimulados a pensar de maneira política e filosófica, possibilitando desse

modo que eles tivessem melhores condições de serem inseridos na sociedade, de maneira mais

exitosa, já que poderiam ingressar no mercado de trabalho em novos empregos mais salubres,

garantindo, assim, no ensino, os direitos do cidadão, e, principalmente, o direito ao voto, que era

restrito aos alfabetizados na época.

O método é composto inicialmente pela etapa de investigação, que consiste na busca conjunta

entre professor e aluno de palavras e temas mais significativos na vida do aluno, dentro de seu

universo vocabular e da comunidade em que ele está inserido.

Na sequência, na etapa de tematização, é o momento da tomada de consciência do mundo, por

meio da análise dos significados sociais dos temas e das palavras, seguido assim para a etapa de

problematização, que ocorre quando o professor desafia e inspira o aluno a superar a visão mágica

e acrítica do mundo para uma postura conscientizada.

Desse modo, por meio de conversas informais, o educador observa os vocábulos mais usados

pelos alunos e a comunidade, e assim seleciona as palavras que servirão de base para as lições.

A quantidade de palavras geradoras pode variar entre 18 e 23, aproximadamente; depois, são

apresentadas em cartazes com imagens, em que começam os círculos de cultura. Por meio de uma

discussão, essas palavras passam a ter significado na realidade daquela turma.

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Quando as palavras são identificadas, cada palavra geradora passa a ser estudada por meio da

divisão silábica, semelhantemente ao método tradicional, em que cada sílaba se desdobra em sua

respectiva família silábica com a mudança da vogal, por exemplo: BA-BE-BI-BO-BU.

O que se segue é a formação de novas palavras e, assim, a conscientização, que é o ponto

fundamental do método, em que ocorre a discussão sobre os diversos temas surgidos com base nas

palavras geradoras.

Dessa forma, para Paulo Freire, alfabetizar não podia se restringir aos processos de codificação e

decodificação de palavras, mas sim deveria promover no adulto a conscientização acerca dos

problemas cotidianos, a compreensão do mundo e o conhecimento da realidade social.

Freire (1976, p. 9), em seu livro Ação cultural para a liberdade e outros escritos, menciona que

“estudar não é um ato de consumir ideias, mas de criá-las e recriá-las”.

A proposta de aplicação de seu método era composta de cinco fases:

1.ª fase – apuração do universo vocabular dos discentes;

2.ª fase – escolha das palavras selecionadas, seguindo os critérios de riqueza ou dificuldades

fonéticas;

3.ª fase – criação de situações existenciais características do grupo;

4.ª fase – criação das fichas para roteiro de debates;

5.ª fase – criação de fichas de vocábulos para a decomposição das famílias fonéticas

correspondentes às palavras geradoras.

Tal método chegou a inspirar o Plano Nacional de Alfabetização, que começou a ser fomentado

pelo Ministério da Educação e Cultura – MEC ainda no governo de João Goulart, pois poderia levar o

letramento a até seis milhões de brasileiros, o que significaria seis milhões de novos eleitores fora das

classes dominantes que poderiam passar a votar.

Porém, o método de Paulo Freire não agradava aqueles que desejavam a submissão dos mais
pobres, principalmente do campo, em benefício de uma classe letrada, fator decisivo para que o

Plano Nacional de Alfabetização fosse cancelado e Paulo Freire, juntamente com outras pessoas

envolvidas no projeto de Angicos, fossem consideradas por muitos conservadores como subversivas,

já que as classes dominantes tinham medo de perder o controle das forças de trabalho, condição

fundamental para que ocorresse a exploração dos trabalhadores.

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Dessa forma, era conveniente manter os angicanos vivendo em um ambiente marcado pelas

condições precárias e deploráveis de trabalho e segurança, isolados dos centros de saúde e de

transporte, marcados pela desigualdade social.

TEMA 3 – EXÍLIO

As ideias do filósofo pernambucano tinham em suas raízes os fundamentos para a criação de um


novo Brasil, mais justo e igualitário. Freire desenvolveu um método inovador de alfabetizar por meio

de suas primeiras observações, em 1963, quando lecionou a 300 cortadores de cana e o resultado foi
que aprenderam a ler e a escrever em 45 dias.

Esse método, capaz de dar autonomia às classes dominadas por meio do diálogo e de uma

educação emancipadora, passou a ser reconhecido internacionalmente, o que ocasionou a


perseguição de Freire pelo regime militar (1964-1985) e resultou em sua prisão por 70 dias e exílio

por 15 anos, por ser considerado “traidor”. Ele teve que partir com a família para o exílio aos 43 anos
de idade.

Em seus 15 anos de exílio, que iniciou na Bolívia, Paulo Freire passou a vivenciar muitas
experiências educativas em vários países dos cinco continentes, como Chile, Estados Unidos, Suíça,

Guiné Bissau, São Tomé e Príncipe, Cabo Verde, Austrália, Itália, Nicarágua, Ilhas Fiji, Índia e Tanzânia.

Em seu exílio no Chile, trabalhou como assessor de Jacques Chonchol no Instituto de Desarrollo
Agropecuario (denominado “Promoción Humana”) assim que chegou. Nessa assessoria, colaborou

com o Ministério de Educação, junto dos trabalhadores da Educação de Jovens e Adultos e também
da Corporación de la Reforma Agraria. Nesse trabalho de assessoria, Freire (1992, p. 41) explica que:

Viajando quase todo o país, acompanhado sempre por jovens chilenos, na sua maioria progressista,
ouvi camponeses e discuti com eles sobre aspectos de sua realidade; debati com agrônomos e
técnicos agrícolas uma compreensão político-pedagógico-democrática de sua prática; debati
problemas gerais de política educacional com os educadores das cidades que visitei.

Paulo Freire no exílio era o mesmo homem que desejava transformar o próprio país: por onde

passava, levava pessoas a refletir por meio da educação de Jovens e Adultos. E, ao refletir, os agora
alfabetizados não conseguiam permanecer no mesmo âmbito que viviam antes; eles questionavam e

buscavam seus direitos. A contribuição de seu trabalho na América Latina também ganhou
notoriedade em outros países, inclusive na Europa.

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Ao chegar no país chileno, atuou durante cinco anos em programas de educação de adultos no

Instituto de Capacitação e Investigação em Reforma Agrária e teve a oportunidade de escrever seu


principal livro, Pedagogia do Oprimido, uma das mais conhecidas obras de Paulo Freire que propõe

uma nova forma de relacionamento entre professor, estudante e sociedade.

Assim, Pedagogia do Oprimido mostra claramente a distinção entre opressores e oprimidos,

estabelecendo as bases de uma sociedade injusta, defendendo que a educação deve possibilitar os
oprimidos que possam recuperar o seu senso de humanidade e, por sua vez, superar a sua condição.

Só que, para que isso ocorra, o indivíduo oprimido precisa desempenhar um papel na sua libertação.

De acordo com Freire (1974, p. 54), “nenhuma pedagogia que seja verdadeiramente libertadora
pode permanecer distante do oprimido, tratando-os como infelizes e apresentando-os aos seus

modelos de emulação entre os opressores. Os oprimidos devem ser o seu próprio exemplo na luta
pela sua redenção”.

O autor ressalta que o método tradicional de ensino desconsidera a bagagem trazida pelos

alunos, em que o professor acaba impondo uma forma de aprendizagem puramente mecânica na
qual os alunos apenas escutam, decoram e reproduzem na sequência, definindo assim a educação

bancária como “um ato de depositar, em que os educandos são os depositários e o educador, o
depositante” (Freire, 1974, p. 80).

Nas palavras do discente, a educação bancária “é o ato de depositar, de transferir, de transmitir

valores e conhecimentos” (Freire, 1974, p. 82). Não dialoga com a sociedade em que se vive nem
reflete sobre ela: o aluno é meramente um depósito, é apenas um receptor, assim como ocorre em

atividades bancárias.

Com base nessa teoria, é importante ressaltar que uma sociedade democrática não pode ser

movida por uma educação bancária e controladora, pois só com a interação entre professores e
alunos conseguimos fundamentar a base do processo cognitivo de construção do conhecimento,

visto que é por meio dessa relação que as dimensões afetivas e motivacionais são envolvidas e
desenvolvidas.

O estudioso também menciona que “o bom professor é o que consegue, enquanto fala, trazer o

aluno até a intimidade do movimento do seu pensamento” (Freire, 2011, p. 96).

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Dessa forma, impor a metodologia tradicional, bem como seus processos de narração,
transformam os alunos em indivíduos, moldados para receber aquilo que o professor deposita,

elevando a posição do educador, dando continuidade na relação opressor e oprimido.

Após a publicação de Pedagogia do Oprimido, em 1968, o professor pernambucano foi


convidado a ser professor visitante na Universidade Harvard, nos Estados Unidos, e, em 1970, foi

consultor e coordenador emérito do Conselho Mundial de Igrejas (CMI), com sede em Genebra, na
Suíça.

Até o seu retorno ao Brasil, em 1980, Freire visitou mais de 30 países pelo Conselho Mundial de
Igrejas – CMI, prestando consultoria educacional e implementando projetos de educação voltados

para a alfabetização, com o objetivo de minimizar as desigualdades sociais e garantir os direitos dos
cidadãos.

Foi nesse período que o pensador brasileiro implementou importantes projetos de apoio às lutas

por libertação na África, visitando Zâmbia, Tanzânia, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe, Angola e
Cabo Verde. Participou do Movimento Popular de Libertação da Angola – MPLA, da Frente de

Libertação de Moçambique – Frelimo e do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo


Verde (PAIGC), além de desenvolver programas de alfabetização de adultos na Guiné-Bissau, na

Tanzânia e em Angola.

TEMA 4 – RETORNO DO EXÍLIO

Em 1978, a Lei da Anistia permitiu o retorno de exilados políticos, trazendo Freire para o Brasil

em 1980, que passou a lecionar na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e na
Universidade de Campinas (Unicamp).

As ideias de Paulo Freire foram essenciais para a organização popular e para as lutas de massas
no Brasil nos anos 1970 e 1980, ressaltando, assim, a importância do diálogo como base para o

desenvolvimento da consciência crítica.

Como crítico ao sistema capitalista, que explora e domina os corpos e as mentes dos oprimidos,
Freire acreditava que só com um trabalho político difícil, mas essencial, que requer aprendizagem

constante, é que se conseguiria superar a dominação.

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Em sua obra Pedagogia da Esperança, o educador compartilha algumas das experiências

enquanto exilado, descreve o exílio como período que possibilitou “religar lembranças, reconhecer
fatos, feitos, gestos, unir conhecimentos, soldar momentos e reconhecer para conhecer melhor”

(Freire, 1992).

Em Conversa com Frei Betto, extraída do livro Essa escola chamada vida, Freire afirma:

Para mim, o exílio foi profundamente pedagógico. Quando, exilado, tomei distância do Brasil,
comecei a compreender-me e a compreendê-lo melhor […]. Foi tomando distância do que fiz, ao
assumir o contexto provisório, que pude melhor compreender o que fiz e pude melhor me preparar
para continuar fazendo algo fora do meu contexto, e também me preparar para uma eventual volta
ao Brasil. (Freire; Betto, 1985)

Com esse pensamento, a América Latina passou a ser o campo ideal para a Educação de Jovens
e Adultos, já que era uma região do continente americano que reunia nações onde são falados

idiomas derivados do latim, como o espanhol, o português e o francês, além de ser uma região que
foi dominada por impérios coloniais europeus, espanhol e português, em que a desigualdade social

era um dos grandes problemas.

As causas da desigualdade remontam aos tempos coloniais e têm suas origens na exploração
impiedosa da população indígena e no modelo econômico de extrativismo e monoculturas, gerando

uma riqueza absurda de poucos contra a pobreza de muitos.

Mesmo depois de dois séculos após a colonização, ainda observamos a falta de oportunidades

educacionais para as crianças na América Latina, pois a educação é muito cara, o que mostra que os
sistemas políticos contribuem muito para aumentar a desigualdade social, já que são responsáveis
pela elaboração de políticas públicas e programas governamentais em educação, contribuindo assim

para perpetuar essa economia desigual nessa região.

É nesse retorno de Paulo Freire que observamos a influência das suas ideias, sobretudo na

América Latina, pois crianças que não participam de um projeto educacional de qualidade e ficam
fora da escola refletem os alarmantes índices de jovens e adultos, excluídos da sociedade.

Só uma perspectiva de educação popular, crítica e dialógica, voltada para a formação humana e

cidadã, contribuirá para a consolidação da educação popular na América Latina, destacando o seu
método humanizado de alfabetização.

Freire (1993, p. 101) define a educação popular como a que “estimula a presença organizada das
classes sociais populares na luta em favor da transformação democrática da sociedade, no sentido da
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superação das injustiças sociais”. A educação popular freireana, então, consiste em um dos meios,
nessa sociedade de classe, capazes de transformar a realidade.

Sua pedagogia apresenta duas tarefas importantes na América Latina:

1. reconstruir a memória pedagógica por meio de uma “arqueologia da consciência”; e 2. recuperar


as pedagogias silenciadas durante séculos de dominação. “A ‘cultura do silêncio’ denunciada por

Freire nas classes populares também se manifesta nos silenciamentos de práticas educativas
transformadoras” (Streck, 2010, p. 331).

Para Carrillo (2011, p. 29), a obra pedagógica de Freire vai além de seu método de alfabetização,

formando as diretrizes fundantes tanto da educação popular como das pedagogias críticas. A ampla
obra escrita de Freire e suas inumeráveis apresentações públicas configuram um rico universo de

reflexões acerca da educação, da pedagogia e da ética libertadora em toda a América Latina,


especialmente no Brasil. A educação popular se tornou sinônimo de movimentos populares que a

utilizavam como principal estratégia educacional, unindo prática política e processo de


aprendizagem.

Paulo Freire também influenciou programas de alfabetização de jovens e adultos na Nicarágua,


contribuindo para a reconstrução desse país, sobretudo na Cruzada Nacional de Alfabetização. Nela,
“além de obter êxitos estatísticos impressionantes na redução do analfabetismo, se constituiu num

grande movimento de mobilização e de educação, tanto dos alfabetizandos como dos


alfabetizadores que juntos cresceram na leitura da realidade nicaraguense” (Freire, 2018, p. 64).

No Brasil, sua ideologia ganhou notoriedade ao ser convidado para assumir o cargo de
secretário de educação do município de São Paulo pela então prefeita, Luiza Erundina, na época

filiada ao Partido dos Trabalhadores – PT.

Como secretário, Paulo Freire permaneceu no cargo de 1989 até 1991, deixando como legado o
Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos – Mova, importante ação que reunia o estado e as

Organizações da Sociedade Civil para combater o analfabetismo entre jovens e adultos.

Em 1991, foi fundado, em São Paulo, o Instituto de Educação e Direitos Humanos Paulo Freire,
mais conhecido como Instituto Paulo Freire, que surgiu de uma ideia do próprio educador, que tinha

como objetivo reunir o acervo de arquivos relacionados à promoção de uma educação

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emancipadora, com vistas à transformação social e ao fortalecimento da ética, da democracia

participativa e da garantia de direitos.

No dia 2 de maio de 1997, Paulo Freire morreu, aos 76 anos, de um infarto, na cidade de São
Paulo. Seus ensinamentos e ideias são, até hoje, um legado aplicado em escolas e universidades, pois

são estes os espaços usados como mecanismo de transformação social.

TEMA 5 – PRINCIPAIS OBRAS

Entre publicações em vida, publicações póstumas, cartas, entrevistas, ensaios e artigos, somam-
se em sua obra quase 40 livros publicados, sendo os mais importantes Pedagogia do Oprimido (1968),
escrito no início do exílio, quando Freire estava no Chile; Cartas à Guiné-Bissau (1975); Educação

como prática da liberdade (1967); Educação e mudança (1981); Prática e educação (1985), Por uma
pedagogia da pergunta (1985); Pedagogia da Esperança (1992); Professora sim, tia não: carta a quem

ousa ensinar (1993); À sombra desta mangueira (1995); Pedagogia da Autonomia (1997); A importância
do ato de ler em três artigos que se completam (1982) e Política e educação (1993).

Paulo Freire teve seu trabalho reconhecido muito além da América Latina, pois foi um dos mais

notáveis pensadores da história da pedagogia, recebendo vinte e nove títulos de Doutor Honoris

Causa, concedidos por universidades da Europa e da América, além de vários outros prêmios, como o

Educação pela Paz, da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciências e Cultura (Unesco).

Entendemos que a contribuição de Paulo Freire para a Educação de Jovens Adultos na América
Latina foi fundamental para fortalecer os vários segmentos da educação popular e crítica, valorizando

assim as práticas de alfabetização de jovens e adultos em diferentes espaços educacionais, de modo

a garantir o processo de democratização da sociedade.

Um dos aspectos mais marcantes da ideologia de Paulo Freire é que liberdade, educação,

conscientização e diálogo estão intrinsecamente ligados, mostrando a gênese ideológica de seu


pensamento, com bases filosóficas em sua própria vida, em suas experiências.

Mendonça (2006) afirma que a preocupação primordial de Freire volta-se para a ontologia do ser
humano, que está ligada ao exercício da condição de sujeitos dada historicamente. Assim, surge a

práxis humana “como um compromisso histórico que, ao endereçar os sujeitos ao mundo, possibilita,

ao mesmo tempo, a transformação da realidade e dos próprios seres humanos.” (2016, p. 16).

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Dessa forma, pela grande admiração que teve pela América Latina, Paulo Freire contribui
fortemente para fortalecer e valorizar as práticas de alfabetização de jovens e adultos em diferentes

espaços educacionais, bem como para o processo de democratização da sociedade, promovendo a

autonomia dos sujeitos.

NA PRÁTICA

Com base no contexto estudado, escolher uma das possibilidades de organizar o ensino para

jovens e adultos e elaborar um plano de aula justificando essa escolha. Não esquecendo de
caracterizar o público-alvo (ensino fundamental ou médio).

FINALIZANDO

A educação libertadora, proposta por Paulo Freire, grande educador, filósofo e escritor brasileiro,

contribuiu para a formação de professores da Educação de Jovens e Adultos, ressaltando a

importância de uma prática pedagógica que valoriza a autonomia enquanto construção cultural.

O método de alfabetização de adultos criado por ele mostra que o conhecimento acontece na

dialógica entre os sujeitos, pois era na discussão das experiências de vida dos alunos que surgiam as
palavras presentes na realidade deles, que eram decodificadas para a aquisição da palavra escrita e

da compreensão do mundo.

O fato de ter desenvolvido um método inovador de alfabetização, reconhecido

internacionalmente, que oportunizava a analfabetos aprender a ler e escrever em 45 dias, ocasionou

em sua perseguição pela ditadura militar e exílio por 16 anos, por ser considerado “traidor”.

Retornando do exílio para o Brasil, Paulo Freire atuou como professor, ocupou o cargo de
secretário municipal de educação na prefeitura de São Paulo e teve seus conhecimentos ampliados

com a criação do Instituto Paulo Freire.

Finalmente, consideramos importante a leitura de pelo menos algumas das principais obras de

Paulo Freire para que possamos ampliar suas concepções e conceitos de educação para jovens e

adultos, aprimorando assim a sua prática pedagógica.

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REFERÊNCIAS

CARRILLO, A. T. La educación popular: trayectoria y actualidad. Venezuela: El Búho, 2011.

FREIRE, P. Ação cultural para liberdade e outros escritos. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1976.

____. Pedagogia da Autonomia. São Paulo: Paz e Terra, 2011.

____. Pedagogia da Esperança: reencontro com a Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e

Terra, 1992.

____. Pedagogia do Compromisso: América Latina e Educação Popular. São Paulo: Paz e Terra,

2018.

____. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1974.

____. Política e Educação. São Paulo: Cortez, 1993.

____; BETTO, F. Essa escola chamada vida: depoimentos ao repórter Ricardo Kotscho. São Paulo:

Ática, 1985.

MENDONÇA, N. J. A de. A humanização na pedagogia de Paulo Freire. 169 f. Dissertação

(Mestrado em Educação) – Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2006.

STRECK, D. R. Paulo Freire e a consolidação do pensamento pedagógico na América Latina. In:

STRECK, D. R. (Org.). Fontes da Pedagogia Latino-Americana: uma antropologia. Belo Horizonte:


Autêntica, 2010.

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