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Pontifícia Universidade Católica de Goiás

Isabella de Sousa Inaba Lima

A importância do brincar na educação infantil

Goiânia
2019
Resumo

Quando se refere ao brincar existe a impressão de algo recreativo e divertido,


porém, para psicologia, vai além das linhas do recreativo. O brincar ocupa um
valor significativo no desenvolvimento humano. Neste trabalho tentou-se
mostrar a importância do brincar na vida de crianças, usando uma pesquisa
com análise qualitativa dos dados. Participaram 15 crianças entre 5 e 7 anos,
de uma “escola dominical” em uma igreja X. Realizou-se entrevistas
semiestruturadas. Foi observado que as crianças utilizam à relevância do
brincar para combater à ociosidade, destacando a importância de um espaço
lúdico, adaptado às necessidades e ao tempo (3 horas), dentro de uma sala
que é separada dos adultos. A atuação da professora, (a quem denominei “LS”)
com certeza pode ser visto como um diferencial neste contexto.

Palavras-chave: Brincar, Desenvolvimento Infantil, Crianças.


A importância do brincar na educação infantil

A brincadeira é uma atividade que a criança começa desde o


nascimento, inicialmente, ela não tem um objetivo de aprendizagem pré-
definido. Alguns autores afirmam que ela é desenvolvida pela própria criança
para seu prazer e recreação, mas também permite a ela interagir com os pais e
outros adultos, bem como explorar o meio ambiente.
Como a criança é um ser que está em desenvolvimento, sua brincadeira
vai se estruturando com base no que ela é capaz de fazer em cada momento.
Ou seja, desde os seis meses até seus três anos de idade ela tem a
possibilidade de expressão, comunicação e relacionamento com o ambiente
sociocultural no qual se encontra. Ao longo desse desenvolvimento, portanto,
as crianças vão construindo novas e diferentes competências, no contexto das
práticas sociais, que irão lhes permitir compreender e atuar de forma mais
ampla no mundo.

Um outro aspeto importante do brincar é o desenvolvimento do


raciocínio, da imaginação e da criatividade, na medida em que as brincadeiras
trazem novas linguagem e ajudam a criança a pensar. O brincar desempenha
um papel igualmente importante na socialização da criança, permitindo-lhe
aprender a partilhar, a cooperar, a comunicar e a relacionar-se, desenvolvendo
a noção de respeito por si e pelo outro, bem como sua auto-imagem e auto-
estima.

Este trabalho tem como objetivo, definir a importância do brincar na


educação infantil, averiguando a sua importância no desenvolvimento
humano, e observar o lugar do brincar conforme proposto em sala de aula.
Para o desenvolvimento desta atividade, foram focadas as análises nos
conceitos desenvolvidos por Lev S. Vygotsky, Sigmund Freud e Winnicott,
percorrendo suas principais contribuições sobre o tema.
Por intermédio da brincadeira, a criança explora e reflete sobre a sua
realidade e cultura, interiorizando-a. A experimentação de diferentes papéis
sociais (o papel de mãe, pai, super-homem) através do faz-de-conta, permite à
criança compreender o papel do adulto e aprender a comportar-se e a sentir
como ele, constituindo-se como uma preparação para a entrada no mundo dos
adultos. A criança procura assim conhecer o mundo e conhecer-se a si mesma.
A teoria do brincar desenvolvida por Winnicott (1975) parte da
consideração que a brincadeira é primária, e não produto dos instintos. É uma
forma básica de viver, universal e própria da saúde, que facilita o crescimento
e conduz aos relacionamentos grupais. O brincar deve ser visto como uma
experiência criativa. Para Winnicott (1975) o brincar é algo que indica a
saúde, do desenvolvimento e do sentimento do bebê. O prazer na brincadeira,
é a garantia de saúde de quem brinca.
Um outro ponto importante dentro da teoria do desenvolvimento infantil
desenvolvida por Winnicott é a questão do self. Segundo o teórico, é apenas
no brincar, que o indivíduo (seja ele criança ou adulto), pode ser criativo e
utilizar sua personalidade integral, ou seja, é somente sendo criativo que o
indivíduo descobre o eu (self). O brincar acontece naquela zona intermediária
entre o mundo interno do bebê e o externo, entre o indivíduo e o ambiente. E
é lá que a experiência criativa necessária para a estruturação
do self  acontece. Sendo assim, compreende-se que tanto o brincar como a
criatividade estão na base do processo psíquico que estrutura o self.
Pode-se dizer que o brincar de Winnicott se situa entre os dois campos
propostos por Freud relacionados a experiência dos indivíduos, um campo
que se refere à experiência psíquica, pessoal e interna de cada um, e outro
que fala da realidade externa e compartilhada socialmente. Winnicott fala de
um campo intermediário, que faz a transição entre os polos freudianos, ele
considera o brincar, como sendo uma ponte entre esse mundo interno
psíquico e externo do sujeito.
Para Freud (1908), quando a criança brinca, ela cria um mundo próprio
ou cria as coisas de seu mundo numa forma que lhe agrada. A criança leva
seu jogo a sério e investe muita emoção nele. Observamos a confirmação
dessa ideia de Freud em sua Obra Além do Princípio do Prazer (1920),
quando ele relata a experiência do seu neto de 1 ano e 6 meses, brincava
com um carretel de madeira e um pedaço de cordão, amarrado em volta dele,
que o fazia desaparecer enquanto a criança expressava “fora”, puxava então
o carretel e o fazia reaparecer exclamando “aqui”; Freud chamou essa
experiência de "Fort-da", sendo interpretado como um jogo que a criança
fazia para suportar a ausência da mãe. Segundo a interpretação de Freud,
essa brincadeira:
[...] se relacionava à grande realização cultural da criança, a renúncia
instintual (isto é, a renúncia à satisfação instintual) que efetuara ao deixar a
mãe ir embora sem protestar. Compensava-se por isso, por assim dizer,
encenando ele próprio o desaparecimento e a volta dos objetos que se
encontravam a seu alcance (FREUD 1920).
Já Lev S. Vygotsky, buscou compreender a origem e o desenvolvimento
dos processos psicológicos ao longo da história da espécie humana, levando
sempre em conta a individualidade de cada sujeito. Para ele, o homem se
constitui enquanto ser social e necessita do outro para se desenvolver. Ao
longo de sua obra, os aspectos da infância são discutidos, destacando-se suas
contribuições acerca do papel que o brinquedo desempenha, referindo-se a
sua capacidade de estruturar o funcionamento psíquico da criança. Vygotsky
fala que o brinquedo ajudara a desenvolver uma diferenciação entre a ação e o
significado. A criança, passa a estabelecer relação entre o seu brincar e a ideia
que se tem dele, deixando de ser dependente dos estímulos físicos, ou seja, do
ambiente concreto que a rodeia. Ao brincar com um cabo de vassoura como se
fosse um cavalo, por exemplo, a criança se relaciona com o significado em
questão, ou seja, a ideia de “cavalo” e não com o objeto concreto, cabo de
vassoura, que tem em suas mãos. A criança é levada a agir num mundo
imaginário, onde a situação é definida pelo significado estabelecido pela
brincadeira e não pelos elementos reais concretamente presentes O brincar
relaciona-se ainda com a aprendizagem. Brincar é aprender; na brincadeira,
reside a base daquilo que, mais tarde, permitirá à criança aprendizagens mais
elaboradas. O lúdico se torna, assim, uma proposta educacional para o
enfrentamento das dificuldades no processo de ensino e aprendizagem.
Método

Participantes
Participaram no estudo 20 crianças, sendo 13 do sexo feminino, com idades
compreendidas entre os 4 e os 5 anos de idade, e 7 do sexo masculino com a
mesma faixa etária. As crianças pertenciam a um nível socioeconómico médio,
de acordo com os padrões nacionais. Todas as famílias foram informadas do
estudo e concordaram com a atividade. Os dados apresentados fazem parte de
um estudo transversal.

Materiais
Para a realização do trabalho foram utilizados: Um questionário com 8
perguntas, um bloco de notas e duas canetas.

Procedimento
O contato com a educadora e as crianças participantes foi feito através de um
contato familiar. Em seguida, a educadora contatou os pais das crianças da
sala de aula e pediram-lhes o consentimento informado para o preenchimento
dos questionários. Finalmente, foi pedido à educadora que respondessem ao
questionário, relativamente às crianças da sua sala cujos pais consentiram a
participação.
Resultado e Discussão

Entrevista com o professor:


Segundo LS, embora a escola dominical não possua uma educação
escolar, a mesma atende aos princípios de uma educação sistematizada, com
uma metodologia que atende as crianças enfatizando acontecimentos
cotidianos e experiências individuais, procurando uma melhor compreensão
dos aspectos que a sociedade adota como “certo” ou “errado” por meio de
brincadeiras pedagógicas e experiências criativas, assim como é proposto por
Winnicott. O brincar pode assumir, para as crianças da igreja, as funções de:
distração; aproximação do cotidiano domiciliar; alívio para o ócio e tédio.

Observação:
 A igreja observada possui 8 salas, todas elas que comportam no
máximo 25 crianças. Uma estante de livros e brinquedos em cada sala
e um suporte para guardar os sapatos.

 Em sala foi realizada uma atividade sobre a história de Noé, onde o


objetivo das crianças era montar o par de um animal com o outro.
Logo depois foram feitas dobraduras em forma de barco para que as
crianças pudessem enfeitá-la como bem entendesse. Também teve a
hora da música (onde elas aprendem um verso de uma canção para
cantar na igreja junto com as outras turmas)

 Não existe recreio, pelo fato de ser somente 3 horas de utilização da


sala, porém nos últimos 10 minutos as crianças tinham total liberdade
para interagirem uns com os outros e com os brinquedos que ficam
expostos dentro da sala. Nesses últimos minutos, as crianças
brincavam com fantoches, ou de correr (algo que não era NADA
aprovado pela professora). Essas são brincadeiras
Considerações Finais

Este trabalho possibilitou entender que no contexto estudado, o brincar


auxilia as crianças a enfrentar a ociosidade imposta pela pouca oferta de
atividades no ambiente da igreja e pela constante necessidade de ficarem
sentadas e quietas o tempo todo. Estes serviram como elementos de
criatividade e expressão e são de tamanha importância para as crianças.
Referências

FREUD, S. (1996) Edição standard das obras psicológicas completas de


Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago.
Vygotsky, L. (1998). A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes.
Vygotsky, L. (1984). Pensamento e linguagem. São Paulo: Martins Fontes.

WINNICOTT, D. W. A criança e seu mundo. Rio de Janeiro: Zahar, 1982.

WINNICOTT, D. W. O brincar & a realidade. Rio De Janeiro: Imago, 1975.


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Anexos

 Formação da professora: Pedagogia. Especialização em sociologia


da infância

 Métodos/proposta pedagógica utilizada: A Professora disse que


embora seja uma educação não-escolar, a mesma atende aos
princípios de uma educação sistematizada, com uma metodologia que
atende as crianças enfatizando acontecimentos cotidianos e
experiências individuais, procurando uma melhor compreensão dos
aspectos que a sociedade adota como “certo” ou “errado” por meio de
brincadeiras pedagógicas.

 Rotina das crianças: As crianças são chamadas por turma na igreja e


conduzidas a uma sala de acordo com a sua idade, ao entrar a
professora lê uma história bíblica e o decorrer da aula é em relação à
essa história. Às 09:30 eles fazem um lanche, e antes de comer cada
um agradece por algo e a professora faz uma oração. Depois do lanche
eles catam algumas músicas. Depois fazem uma dobradora com o
tema da história (um barco de papel). Os últimos 15 minutos as
crianças podem interagir entre si e com os brinquedos da sala. Depois
voltam a igreja, onde fazer uma apresentação sobre o que aprenderam.

 Qual a importância do brincar para o desenvolvimento infantil? O


ato de brincar ajuda no processo de aprendizagem da criança, pois
facilita a construção da reflexão, da autonomia e da criatividade, e
estabelece, uma relação entre brincar e aprendizagem.

 Momento de lazer/recreio: O único momento de brincadeiras livre


foram os últimos 15 minutos

 Qual a diferença de objetivo das atividades lúdicas em sala e do


brincar livre? Agindo de forma lúdica, há possibilidade de a criança
assimilar a cultura do seu grupo social e interpretar os modos de vida
adultos de forma participativa e essas atividades lúdicas iram constituir
uma bagagem cultural para a criança.

 Inclusão social nas brincadeiras: Temos um coleguinha que autista,


que vem bem raramente para as aulas, mas quando vem, sempre é
bem recebido pelas crianças e por mim. Focamos mais em músicas,
dança e pinturas a pedido da mamãe dele. As crianças precisam
brincar independentemente de suas condições físicas, sensoriais,
intelectuais ou sociais, pois trata-se de algo e essencial para suas
vidas.
 Qual a relação dos pais com a escola? A maioria tende a ajudar
sempre que possível, porém existem alguns que acham que aqui é
realmente uma escola e que somos obrigadas a ensinar os filhos
coisas que deveriam estar sendo ensinadas em sala de aula, não na
igreja. Mas tirando isso, nosso relacionamento sempre é muito bom!

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